Este documento discute os conceitos de paródia, paráfrase e estilização como formas de relação intertextual. A paródia se refere à transformação de um texto original com o objetivo de satirizá-lo ou criticá-lo, enquanto a paráfrase recria o texto mantendo seu significado e a estilização mantém as ideias do texto mas com estilo próprio. Vários exemptos literários ilustram essas formas de intertextualidade.
1. A ficção nas
mídias
Marcelo Magalhaes
Bulhões
Por Ana Paula R. Ferro
2. Marcelo Magalhaes
Bulhões
É livre-docente pela UNESP, doutor em Literatura
Brasileira e mestre em Teoria Literária e Literatura
Comparada, ambos os títulos pela USP;
Nesta obra, aborda o universo da ficção
midiática em suas distintas manifestações
narrativas de filmes, seriados, novelas de TV, em
animações e games, esclarecendo o que está
em jogo subjetivamente quando nos vemos
diante desse tipo de ficção.
3. O universo da ficção
midiática
é um campo de permanentes intercâmbios;
As tecnologias se acoplam e se fundem,
formando maquinismo híbridos.
4. Há nas mídias uma disposição para troca de
processos que nega qualquer atitude de
isolamento. Contudo, as “velhas narrativas” não são
descartadas, estas circulam e remodelam-se
participando do transito de intercambio;
O longa-metragem tanto reafirma uma tradição
cinematográfica, quanto incorpora a marca de
outra linguagem, como a do videoclipe, que
também prende feições típicas dos games;
5. Os games por sua vez, incorporam e ajustam aos
seus domínios recursos narrativos típicos do
cinema, que também mantem vestígios
acelerados dos jogos.
6. Esse movimento de intercâmbios de códigos e
cruzamentos de processos narrativos audiovisuais
faz com que reconheçamos uma permanente
circulação de referencias claras do universo
narrativo ficcional midiático;
O ficcional midiático recolher seu próprio
repertorio tantas vezes já testado e isso é
substancial para se reciclar;
Metalinguagem: linguagem que trata de si
mesma;
Na artes plástica esse recurso de linguagem
ocorre quando a arte de volta para ela mesma, o
código verbal ou visual é utilizado para se auto
esclarecer.
7. Intertextualidade explicita: ocorre quando um
texto deixa transparecer suas relações com outro
texto, quando interage explicitamente.
8. O ficcional midiático acaba atingindo um
patamar em que a própria ficção narrativa passa
a ser o assunto principal.
A ficção midiática parece olhar-se no espelho,
mostrando-se ciente de si mesma como um ator
que retira a maquiagem em pleno espetáculo,
um mágico que revela como funcionam seus
truques de ilusionista, revelando seus bastidores;
Escritores e artistas modernos como: Pablo
Picasso, James Joyce, Marcel Duchamp, Osvaldo
de Andrade e Cortaza, lançaram-se em um jogo
arriscado consigo mesmos, tematizando-se e
testando-se dramaticamente suas fronteiras
formais, atingindo um patamar que revela seus
bastidores estéticos e discursivos,
desmascarando-se.
9. A arte e a literatura questionam sua própria
validade e apontam para a possibilidade de
esgotamento das formas artísticas.
A metalinguagem da narrativa midiática é cínica,
sua atitude revela os bastidores dos truques
narrativos;
A intertextualidade e a metalinguagem no filme
de Tarantino acolhe as histórias em quadrinhos
com base nos mangás japoneses, explicitando o
parentesco formal que essa linguagem mantém
com o cinema.
10. A ficção nas mídias
Continuará nos convidando a participar do seu
jogo de seduzir e envolver, a cair sem culpa nas
engrenagens que promovem a ilusão.
12. Conhecendo o autor
Affonso Romano de Sant´Anna, nasceu em Belo
Horizonte, em 27 de março de 1937. É um escritor
brasileiro, diplomomado em Letras Neolatinas, na
Faculdade de Letras da Universidade Federal de
Minas Gerais;
Em 1965 lecionou na Califórnia (Universidade de
Los Angeles - UCLA), e em 1968 participou do
Programa Internacional de Escritores da
Universidade de Iowa.
13. Em 1969 doutorou-se pela
Universidade Federal de Minas Gerais e, um ano
depois, montou um curso de pós-graduação em
literatura brasileira na PUC do Rio de Janeiro. Foi
Diretor do Departamento de Letras e Artes da
PUC-RJ, de 1973 a 1976, realizando então a
"Expoesia", série de encontros nacionais de
literatura;
Ministrou cursos na Alemanha (
Universidade de Colônia), Estados Unidos (
Universidade do Texas, UCLA), Dinamarca (
Universidade de Aarhus), Portugal (
Universidade Nova) e França (Universidade de
Aix-en-Provence).
14. Paródia
Intertextualidade acontece quando há uma
referência explícita ou implícita de um texto em
outro. Também pode ocorrer com outras formas
além do texto, música, pintura, filme, novela etc.
Toda vez que uma obra fizer alusão à outra
ocorre a intertextualidade.
15. A Intertextualidade apresenta-se explicitamente
quando o autor informa o objeto de sua citação.
Num texto científico, por exemplo, o autor do
texto citado é indicado, já na forma implícita, a
indicação é oculta. Por isso é importante para o
leitor o conhecimento de mundo, um saber
prévio, para reconhecer e identificar quando há
um diálogo entre os textos. A intertextualidade
pode ocorrer afirmando as mesmas ideias da
obra citada ou contestando-as. Há duas formas:
a Paráfrase e a Paródia.
16. O autor começa a redefinir paródia traçando
uma breve história do termo e observando como
este se aprofunda na modernidade;
O termo paródia tornou-se institucionalizado a
partir do século 17, contudo, Aristóteles já
comentava o termo definido por Hegemon Thaso
no século 5ª.C, como origem musical;
Hipponax de Éfeso (séc.6. a.C) é considerado o
pai da paródia;
No dicionário de literatura de Brewer, ele define
paródia como uma ode que perverte o sentido
de outra ode. (poema para ser cantado).
17. Shipley em seu dicionário descrimina três tipos de
paródia:
Verbal: Com alteração de uma e outra palavra;
Formal: em que o estilo e os efeitos técnicos de
um escritor são usados como forma de zombaria;
Temática: em que se faz a caricatura da forma
do espirito de um autor;
Modernamente a paródia se define através de
um jogo intertextual.
18. Paródia e estilização:
paralelos
O conceito paródia tornou-se mais sofisticado a
partir de Tynianov, que fez estudou
paralelamente o termo com o conceito de
estilização;
Para Tynianov, a estilização está próxima da
paródia. Uma e outra vivem de uma vida dupla,
além da obra há um segundo plano estilizado ou
parodiado.
19. Para Bakhtin, quando o autor emprega a fala de
outro; as vozes na paródia não são apenas
distintas e emitidas de uma para a outra, mas se
colocam antagonistamente;
A paródia é feita com o intuito de ridicularizar,
satirizar as ideias do texto original, mas pode servir
apenas para apresentar uma ideia contrária,
distinta daquela que o original defende. Quase
sempre essa contradição é feita através do
humor.
20. Paródia
Minha terra tem palmares
onde gorjeia o mar
os passarinhos daqui
não cantam como os de lá.
(Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”).
O nome Palmares, escrito com letra minúscula,
substitui a palavra palmeiras, há um contexto
histórico, social e racial neste texto, Palmares é o
quilombo liderado por Zumbi, foi dizimado em 1695,
há uma inversão do sentido do texto primitivo que
foi substituído pela crítica à escravidão existente no
Brasil.
21. A relação harmônica é feita através
da paráfrase ou da estilização. São dois processos
parecidos e diferentes, então, fiquem atentos.
Retornando à marca “Assolan”, sua reformulação em
cima de “Festa no apê – Latino” foi a seguinte:
Original
“Hoje é festa lá no meu apê, pode aparecer, vai rolar
bundalelê ...
...Chega aí, pode entrar, quem ta aqui, ta em casa
é festa lá no meu apê, pode aparecer, vai rolar bundalelê
...”
Paródia
“A família não para de crescer, usou, passou, limpou, é
Assolan fenômeno
Lã de aço, têm esponjas, panos multiuso, saponáceos
Hoje é festa na casa e no apê, usou, passou, limpou, é
Assolan fenômeno (bis)”
22. Paráfrase
A paráfrase origina-se do grego “para-phrasis”
(repetição de uma sentença). Assim, parafrasear
um texto, significa recriá-lo com outras palavras,
porém sua essência, seu conteúdo permanecem
inalterados;
Sant'Anna nos leva a crer que na paráfrase as
palavras são mudadas, porém a ideia do texto é
confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para
atualizar, reafirmar os sentidos ou alguns sentidos
do texto citado. É dizer com outras palavras o
que já foi dito.
23. Na paráfrase existe uma concordância com o
texto matriz que faz com que suas ideias e formas
sejam reproduzidas e respeitadas. Quando
usamos citações para validar um argumento,
num texto, fazemos uma paráfrase. Uma espécie
de paráfrase são as adaptações;
Exemplo: Quando um livro é tido como complexo
e alguns especialistas o adaptam para leitores
mais jovens, se ele for fiel (dentro dos limites do
possível, para seu objetivo) à forma como o texto
original foi concebido, temos uma paráfrase. Se
ele usar um estilo próprio, temos a estilização.
24. Como percebido, a estilização, é um tipo
especial de paráfrase. Nela a concordância com
o texto original se dá em linhas mais gerais, no
campo das ideias, mas a forma
de expressão dessas ideias é tão particularizada
que dizemos que ela há um “estilo” próprio.
25. Texto Original
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá.
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).
Paráfrase
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de Andrade, “Europa, França
e Bahia”).
26. Este texto de Gonçalves Dias, “Canção do Exílio”,
é um exemplo de paráfrase e de paródia, aqui o
poeta Carlos Drummond de Andrade retoma o
texto primitivo conservando suas ideias, não há
mudança do sentido principal do texto que é a
saudade da terra natal.
Podemos notar que o poeta modernista Carlos
Drummond de Andrade faz somente uma
recriação daquilo que Gonçalves Dias já havia
criado na era romântica, portanto o parafraseia.
Já a paródia é um exemplo de recriação
baseada em um caráter contestador, às vezes
até utilizando-se de uma certa dose de ironia e
sarcasmo. Este recurso foi muito utilizado pelos
poetas modernistas com o objetivo de criticar os
“moldes” de outras escolas literárias.
27. Paráfrase e tradução
Desde Wlater Benjamin, R. Jakobson e Octavio
Paz, a paráfrase foi tratada como tradução e
transcrição.
Na literatura, a aproximação entre tradução e
paráfrase aparece explicitamente em John
Dryden (1631-1700, poeta, dramaturgo e crítico
inglês), quem afirma que o tradutor assume
liberdade, não apenas de variar de palavra e
sentido, mas até de abandonar ambos quando
há oportunidade.
28. A liberdade assumida na recriação do poema faz
transparecer o conceito de paráfrase como um
processo que não pretende reproduzir, mas
produzir algo diferente, sem perder de vista o
poema que o motivou.
29. Conclusão
Paráfrase, paródia e estilização são as
classificações que damos às relações
intertextuais (entre textos) intencionais. Isso
significa que alguém, ao escrever seu texto,
estabelece, propositadamente, uma ponte, um
elo, com um texto anterior, que chamamos de
texto matriz. Esta relação pode ser harmônica (o
texto derivado e o matriz têm ideologias
semelhantes) ou desarmônica (o texto derivado
diverge do texto matriz).
30. Referências
SANT’ANNA, Affonso Romano de.
Paródia, paráfrase & Cia. São Paulo:
Ática, 1991
http://www.youtube.com/watch?
v=oTgOchYHYDU
http://letras.terra.com.br/latino/101382/