O documento descreve memórias da infância da autora vivida em uma casa simples sem água encanada ou luz elétrica. Ela conta sobre a lembrança mais antiga de verem cavando um poço e trazendo água. Também descreve o ritual diário de ir à casa do avô e ouvir histórias assustadoras à luz de lamparinas a óleo enquanto comiam ovo com cerveja.
2. Guardo muitas lembranças da minha infância, vivida de forma muito intensa . Sou filha mais velha de quatro irmãos. Nasci e vivi por 18 anos na mesma casa no bairro de Americanópolis, zona sul da capital de São Paulo, sendo que minha família foram os primeiros moradores da rua.
3. Lembro-me, que quando era muito pequena por volta dos 4 anos, não tínhamos luz elétrica, nem água encanada, a casa era muito simples, quarto-cozinha-banheiro e nos fundos do mesmo quintal moravam meus tios solteiros, com meus avós maternos.
4. Minha lembrança mais remota é dos meus tios juntamente com meu pai, furando um poço no meio do terreno, carregando baldes e baldes de terra, e a água aparecendo....minha mãe rodando a manivela, a corda sendo enrolada e trazendo à tona a tão preciosa água...
5. Todas as tardes quando meu avó chegava do serviço, eu corria para casa dele e assistia a um ritual que perdurou durante muitos anos, e até hoje ao lembrar-me de tais fatos, me emociono, pois são memórias que trazem o cheiro, gosto, e emoções positivas da minha infância.
6. Meu avô trabalhava fazendo lamparinas de querosene, com latas velhas de óleo...
7. Ao entardecer acendia varias lamparinas pelo pequeno cômodo que lhe servia de quarto e cozinha, (e o ar se enchia com o odor do querosene), como não tinha cadeiras ou sofá, ele esticava pelo chão de cimento rústico um cobertor “Parahyba” cinza, no qual eu me sentava,
8. ele ligava um radinho de pilhas para ouvir o resultado da loteria esportiva tupi, (eu gostava tanto de ouvir uma voz de zebrinha dando “jogo um: coluna do meio”).
9. Enquanto era cantado o resultado da loteria, muitas vezes meu avô batia uma gemada de ovo com cerveja Caracu, para tomarmos juntos. Depois de apreciarmos a maravilhosa iguaria, e já com a noite a iluminar o quintal, meu avô sob a luz das lamparinas, me contava estórias horripilantes de terror, daquelas de mula sem cabeça, homens do saco enfim estórias que criança ama mas morre de medo.
10. Lembro-me que para descer para minha casa, eu sentia tanto medo que às vezes precisava ser levada por ele. Sei que hoje, muito do meu prazer pelo mundo da leitura se deve ao prazer que eu sentia pelas estórias contadas pelo meu avô, quando eu era pequena.
11. Meu avô morreu a poucos anos atrás, e eu fui responsável por vestir seu corpo e ajudar a colocá-lo no caixão. Meu avô foi responsável pela minha educação hoje relembro e guardo muitas memórias na qual ele estava presente.
12. Editado por Bárbara e Daniele 7.ª A Aluno-monitores 2008