Coletânea de Atividades – 4a série
Coletânea de Atividades
4a série
capa coletânea de atividades 4a serie.indd 1 12/28/09 9:34 AM
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DA EDUCAÇÃO
FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO
Coletânea de Atividades
4a série
ALUNO(A): _________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
TURMA: ___________________________NÚMERO DA CHAMADA: ___________________
PROFESSOR(A): ____________________________________________________________
___________________________________________________________________________
São Paulo, 2010
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Governo do Estado de São Paulo Prefeitura da Cidade de São Paulo
Prefeito
Governador
Gilberto Kassab
José Serra
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
Vice-Governador Alexandre Alves Schneider
Alberto Goldman Secretário
Célia Regina Guidon Falótico
Secretário da Educação Secretária-Adjunta
Paulo Renato Souza DIRETORIA DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA
Regina Célia Lico Suzuki
Secretário-Adjunto Elaboração e Implantação do
Guilherme Bueno de Camargo Programa Ler e Escrever – Prioridade na Escola Municipal
Iara Gloria Areias Prado
Chefe de Gabinete
Fernando Padula Concepção e Elaboração deste Volume
Angela Maria da Silva Figueredo
Coordenadora de Estudos e Normas Pedagógicas Armando Traldi Júnior
Aparecida Eliane de Moraes
Valéria de Souza
Carlos Ricardo Bifi
Dermeval Santos Cerqueira
Coordenador de Ensino da Região Metropolitana
Ivani da Cunha Borges Berton
da Grande São Paulo
Jayme do Carmo Macedo Leme
José Benedito de Oliveira
Leika Watabe
Márcia Maioli
Coordenador de Ensino do Interior
Margareth Aparecida Ballesteros Buzinaro
Rubens Antônio Mandetta de Souza
Marly Barbosa
Sílvia Moretti Rosa Ferrari
Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação
Regina Célia dos Santos Câmara
Fábio Bonini Simões de Lima
Rogério Ferreira da Fonseca
Rogério Marques Ribeiro
Diretora de Projetos Especiais da FDE
Rosanea Maria Mazzini Correa
Claudia Rosenberg Aratangy
Suzete de Souza Borelli
Tânia Nardi de Pádua
Coordenadora do Programa Ler e Escrever
Iara Gloria Areias Prado Consultoria Pedagógica
Shirlei de Oliveira Garcia Jurado
Célia Maria Carolino Pires
Editoração
Fatima Consales
Ilustração
Didiu Rio Branco / Robson Minghini / André Moreira
Os créditos acima são da
publicação original de fevereiro de 2008.
Agradecemos à Prefeitura da Cidade de São Paulo por ter cedido esta obra à
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo para atender aos objetivos do Programa Ler e Escrever.
Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas
São Paulo (Estado) Secretaria da Educação.
S239L Ler e escrever: coletânea de atividades – 4ª série / Secretaria
da Educação, Fundação para o Desenvolvimento da Educação; adaptação do
material original, Marisa Garcia, Andréa Beatriz Frigo. - São Paulo : FDE, 2010.
244 p. : il.
Obra cedida pela Prefeitura da Cidade de São Paulo à Secretaria da
Educação do Estado de São Paulo para o Programa Ler e Escrever.
Publicação complementar ao “Guia de Planejamento e Orientações
Didáticas – 4ª série”.
Documento em conformidade com o Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa.
1. Ensino Fundamental 2. Ciclo I 3. Alfabetização 4. Atividade Pedagógica
5. Programa Ler e Escrever 6. São Paulo I. Fundação para o Desenvolvimento
da Educação. II. Garcia, Marisa III. Frigo, Andréa Beatriz. IV. Título.
CDU: 372.4(815.6)
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Prezada professora, prezado professor
Esta coletânea integra o Programa Ler e Escrever, sendo complemen-
tar ao Guia de Planejamento e Orientações Didáticas – 4ª série. As ativi-
dades estão organizadas na sequência em que aparecem no Guia, o que
não quer dizer que obedecem a uma ordem ou hierarquia prévia, mas que
deverão ser utilizadas de acordo com o seu planejamento. Note que as
páginas são destacáveis, pois este material não é e nem deve ser tratado
como um livro didático.
Na abertura de cada bloco há indicações das páginas onde podem
ser encontradas no Guia as orientações didáticas específicas e os objeti-
vos de aprendizagem.
Para um melhor aproveitamento desta publicação, sugerimos:
j Acompanhar os avanços de seus alunos em relação às hipóteses
de escrita para escolher as atividades com mais critério.
j Como muitas atividades requerem a organização dos alunos em
duplas, estas devem ser formadas de modo a proporcionar boas
interações, isto é, de maneira que haja troca de saberes entre os
alunos e ambos aprendam.
j Ler as orientações do Guia antes de utilizar qualquer uma das pro-
postas.
j Checar se os objetivos das atividades estão afinados com os de
seu planejamento.
j Quando tiver dúvidas, discuti-las com seu professor coordenador e
com seus colegas de 2a série.
j Lembrar-se que algumas atividades são para alunos que ainda
não leem. Ou seja, é preciso, sempre, explicar para eles do que se
trata. Isso não quer dizer que aqueles que já sabem ler consigam
compreender, sozinhos, a comanda das atividades. Auxilie-os tam-
bém quando for preciso.
j Não é necessário que a classe toda faça sempre a mesma ativida-
de. Você pode propor atividades variadas para grupos diferentes,
simultaneamente.
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Esperamos que este material seja útil, mas não único. Aqui está
contemplada apenas uma parte das atividades que devem compor a roti-
na de sala de aula: análise e reflexão sobre o sistema de escrita, análise
e reflexão sobre questões ortográficas, matemática. As demais propos-
tas, relacionadas à produção de texto, comunicação oral e outras, não
foram incluídas aqui, pois não comportam uma formatação como essa. É
fundamental, entretanto, que aconteçam na sua rotina. Para tanto, há no
Guia muitas propostas que fornecem orientação nesse sentido.
Bom trabalho!
Equipe do Programa Ler e Escrever
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Sumário
Atividades do projeto didático “Uma lenda, duas lendas, tantas lendas” ....9
Atividades do projeto didático “Universo ao meu redor” .................. 37
Coletânea de textos da sequência didática “Caminhos do verde” ....... 73
Coletânea de textos da sequência didática
“Lendo notícias para ler o mundo” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
Atividades da sequência didática “Estudo de pontuação” . . . . . . . . . . . . . . . . 111
Atividades da sequência didática “Estudo da ortografia” . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
Atividades de Matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
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Projeto didático
“Uma lenda, duas lendas,
tantas lendas”
As orientações didáticas das atividades constam no
Guia de Planejamento e Orientações Didáticas – 4a série.
Estão divididas da seguinte forma:
Páginas do Guia
Orientações gerais para o projeto didático
“Uma lenda, duas lendas, tantas lendas” _____________________________ 38
Etapa 1 – Levantando conhecimentos prévios sobre o gênero ____________ 42
Etapa 2 – Compartilhando o projeto __________________________________ 45
Etapa 3 – Ampliando os saberes sobre lendas _________________________ 47
Etapa 4 – Selecionando as lendas, reescrevendo-as e revisando os textos __ 82
Etapa 5 – Edição e preparação final da coletânea ______________________ 90
Etapa 6 – Avaliação final do trabalho desenvolvido ______________________ 94
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ATIVIDADE 1: PAR A INÍCIO DE CONVERSA
NOME ___________________________________________ DATA _____ / _____ / _____
Acompanhe com atenção a leitura do texto que seu professor fará.
O DONO DA LUZ
No princípio, todo mundo vivia nas trevas. Os waraos procuravam o que comer
na escuridão, e a única luz que conheciam provinha do fogo que obtinham da
madeira. Não existiam então nem o dia nem a noite.
Um dia, um homem que possuía duas filhas ficou sabendo que existia um jo-
vem que era dono da luz. Então, chamou a filha mais velha e disse-lhe:
– Vá até onde se encontra o jovem dono da luz e traga-o para mim.
Ela fez sua trouxa e partiu. Mas encontrou pela frente muitos caminhos e aca-
bou tomando um que a levou até a casa do veado. Ali conheceu o animal e
acabou se distraindo a brincar com ele.
Em seguida, voltou à casa do pai, porém sem trazer a luz.
Então o pai decidiu enviar a filha mais nova.
– Vá até onde se encontra o jovem dono da luz e traga-o para mim.
A jovem tomou o caminho certo e, depois de muito andar, chegou à casa do
dono da luz e disse-lhe:
– Vim para conhecê-lo, ficar um pouco com você e obter a luz para meu pai.
O dono da luz lhe respondeu:
– Eu já esperava por você. Agora que chegou, viverá comigo.
Então o jovem pegou um baú de junco que tinha a seu lado e, com muito cui-
dado, abriu-o. A luz iluminou imediatamente seus braços e seus dentes bran-
cos. Iluminou também os cabelos e os olhos negros da jovem.
Foi assim que ela descobriu a luz. O jovem, depois de mostrar a luz à moça,
voltou a guardá-la.
Todos os dias, o dono da luz a tirava do baú para que se fizesse a claridade e ele
pudesse se distrair com a jovem. E assim foi passando o tempo. Até que a moça
se lembrou de que tinha de voltar para casa e levar ao pai a luz que viera buscar.
O dono da luz, que já tinha ficado amigo da moça, deu a ela, de presente, a luz.
– Tome a luz, leve-a para você. Assim poderá ver tudo.
A jovem regressou à casa do pai e entregou-lhe a luz fechada no baú de jun-
co. O pai pegou o baú, abriu-o e pendurou-o num dos paus que sustentavam
a palafita em que moravam. De imediato, os raios de luz iluminaram a água
do rio, as folhas dos mangues e os frutos do cajueiro.
COLETÂNEA DE ATIVIDADES - 4 a SÉRIE 9
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Quando, nos vários povoados do delta do rio Orinoco, espalhou-se a notícia
de que existia uma família que possuía a luz, os waraos começaram a vir
conhecê-la. Chegaram em suas ubás do rio Araguabisi, do rio Mánamo e do
rio Amacuro. Eram ubás e mais ubás, cheias de gente e mais gente.
Até que chegou um momento em que a palafita já não podia aguentar o peso
de tanta gente maravilhada com a luz. E ninguém ia embora, pois ninguém
queria continuar vivendo na escuridão, já que com a claridade a vida era mui-
to mais agradável.
Por fim, o pai das moças não pôde mais suportar tanta gente dentro e fora de
sua casa.
– Vou pôr um fim nisto – disse. – Todos querem a luz? Pois lá vai ela!
E com um soco quebrou o baú e atirou a luz ao céu. O corpo da luz voou para
o leste, e o baú, para o oeste. Do corpo da luz fez-se o sol, e do baú em que
ela estava guardada surgiu a lua, cada um de um lado.
Mas, como eles ainda estavam sob o impulso da força do braço que as lança-
ra longe, sol e lua andavam muito rápido. O dia e a noite eram, assim, muito
curtos, e a cada instante amanhecia e anoitecia.
Então o pai disse à filha mais nova:
– Traga-me uma tartaruga.
Quando a tartaruga chegou às suas mãos, esperou que o sol estivesse sobre
sua cabeça e lançou-a a ele, dizendo-lhe:
– Tome esta tartaruga. É sua, é um presente que lhe dou. Espere por ela.
A partir desse momento, o sol ficou esperando a tartaruguinha. E, no dia se-
guinte, ao amanhecer, viu-se que o sol caminhava lentamente, como a tarta-
ruga, exatamente como anda hoje em dia, iluminando até que a noite chegue.
(Fonte: Como surgiram os seres e as coisas, Coedição latino-americana, 1987.)
Agora, converse com seus colegas:
Vocês já conheciam essa história ou outra parecida com essa?
Qual é o tema dessa história?
Como ela explica o surgimento do dia e da noite?
Essa é uma explicação científica ou fantástica?
Quem são os personagens que a compõem?
Onde se passa toda a trama?
Por que você acha que os venzuelanos contavam essa história uns aos outros?
Você já ouviu falar na palavra LENDA? Sabe o que significa?
10 COLETÂNEA DE ATIVIDADES - 4 a SÉRIE
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ATIVIDADE 3A: CONHECENDO UM POUCO MAIS AS
LENDAS (1)
NOME ___________________________________________ DATA _____ / _____ / _____
1. Acompanhe a leitura que seu professor fará da lenda intitulada “Santo Tomás
e o boi que voava”.
Sabendo que é uma lenda e conhecendo o seu título, de que você acha que
esse texto tratará? Converse com seu professor e demais colegas a esse
respeito.
SANTO TOMÁS E O BOI QUE VOAVA
Contam os fastos da ordem de São Domingos que, achando-se Santo Tomás
de Aquino na sua cela, no convento de São Jacques, curvado sobre obscuros
manuscritos medievais, ali entrou, de repente, um frade folgazão, que foi ex-
clamando com escândalo:
– Vinde ver, irmão Tomás, vinde ver um boi voando!
Tranquilamente, o grande doutor da igreja ergueu-se do seu banco. Deixou a
cela e, vindo para o átrio do mosteiro, pôs-se a olhar o céu, protegendo os
olhos com as mãos. Ao vê-lo assim, o frade jovial desatou a rir com estrondo.
– Ora, irmão Tomás, então sois tão crédulo a ponto de acreditardes que um
boi pudesse voar?
– Por que não, meu amigo? – tornou o santo. E com a mesma singeleza, fora
da sabedoria: – Eu preferi admitir que um boi voasse a acreditar que um reli-
gioso pudesse mentir.
(Machado, Irene. Literatura e redação. São Paulo: Scipione, 1994. p. 97.)
2. Converse com seu professor e demais colegas sobre as seguintes questões:
Essa lenda se parece com as lendas que você conhecia? Em quê? Explique.
De que época você acha que é essa lenda?
Qual você acha que é a finalidade dela?
3. Agora, acompanhe a leitura que seu professor fará de outra lenda, intitulada
“Beowulf e o dragão”.
Comente com seus colegas: Você já ouviu falar nessa lenda? Quando? Co-
nhece a história?
Acompanhe a leitura a partir do texto apresentado a seguir.
COLETÂNEA DE ATIVIDADES - 4 a SÉRIE 11
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BEOWULF E O DRAGÃO
Havia um rei dinamarquês que era valente na guerra e sábio nos tempos de
paz. Vivia num castelo esplêndido. Recebia muitos convites e dava festas ma-
ravilhosas. Mas tudo isso era bom demais para durar eternamente.
Um dia, no final de uma festa, todos ouviram um ruído estranho. Era o dragão
Grandel, que saíra do lago e entrara no castelo. Engoliu o primeiro homem
que encontrou e gostou tanto do sangue humano que atacou muitos outros.
Deixou um rastro vermelho como marca de sua passagem.
Desse dia em diante, a vida no castelo mudou completamente. O terrível
Grandel aparecia todas as noites, matava os homens, bebendo seu sangue, e
carregava o corpo para o lago.
Nem mesmo os guerreiros mais fortes conseguiam vencê-lo, e o castelo aca-
bou sendo abandonado.
Depois de doze anos, esta história chegou aos ouvidos de Beowulf, um ca-
valeiro jovem e corajoso, capaz de vencer trinta homens ao mesmo tempo.
Quando soube da desgraça que tinha se abatido sobre os súditos do rei dina-
marquês, ficou comovido e não pensou duas vezes. Escolheu catorze comba-
tentes e partiu para a Dinamarca.
– Quem é você? – perguntou-lhe o rei.
– Sou Beowulf, viemos libertá-lo do terrível Grandel.
O rei sentiu o coração encher-se de esperança. Deu uma grande festa.
Enquanto todos celebravam, um estranho assobio atravessou o castelo.
As portas de ferro caíram por terra e o terrível Grandel entrou pela sala.
Os olhos brilhavam, a boca cuspia fogo e as garras eram espadas que rasga-
vam o chão. Mas antes que ele conseguisse engolir um guerreiro, sentiu uma
dor insuportável.
Beowulf havia se lançado na direção do dragão e apertava sua garganta com
uma força igual a de trinta homens. Grandel se retorceu, urrou, mas não con-
seguiu se soltar. Foi empurrado por Beowulf até o lago e morreu.
O rei agradeceu ao herói e a vida voltou para o castelo. Mas no fundo do lago,
uma velha feiticeira, a mãe de Grandel, resolveu vingar a morte de seu filho.
Penetrou na grande sala do castelo e aprisionou o conselheiro do rei.
– Caro Beowulf – disse o rei –, preciso novamente de sua ajuda.
Nesse mesmo dia, Beowulf e o rei montaram a cavalo e foram até o lago.
Boiando sobre as águas, estava a cabeça ensanguentada do conselheiro.
Beowulf mergulhou imediatamente, até que chegou no antro dos monstros.
Viu uma mulher horrorosa sentada em cima de ossadas humanas.
Era a mãe de Grandel. A bruxa se atirou sobre ele. Beowulf foi mais rápido.
Sua espada cortou a garganta da velha. Mas ela continuou a atacá-lo.
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Nisso, o cavaleiro avistou uma espada gigantesca. Agarrou-a e arrancou a
cabeça da velha. Foi só então que ele viu, ao lado, o corpo monstruoso de
Grandel. Beowulf também lhe cortou a cabeça e carregou-a até a superfície.
Mas depois que Beowulf libertou a Dinamarca desse monstro sinistro, sentiu
muitas saudades de seu próprio país. Seu tio havia acabado de morrer. E
como ele era o único herdeiro, foi coroado rei. Governou durante cinquenta
anos com sabedoria e justiça.
Foi quando novamente recebeu notícias de que um dragão incendiava a Dinamar-
ca. Não perdeu tempo. Convocou sua tropa e viajou para enfrentar o monstro.
O animal o esperava. De sua garganta saíam chamas envenenadas e uma
fumaça verde. Os cavaleiros de Beowulf apavoraram-se e fugiram; Beowulf
viu-se só diante do monstro. Mas havia alguém a seu lado: Wiglaf, o mais jo-
vem dos homens de sua tropa.
Esquecendo-se da espada, Beowulf atacou o dragão com tanta força que nem
parecia que havia envelhecido. O monstro grunhiu e o sangue escorreu do
ferimento de sua garganta. Mesmo assim Beowulf foi atingi-lo com o golpe
mortal e percebeu que sua espada havia se partido ao meio.
Estava condenado. Então ouviu uma voz:
– Estou a seu lado, meu rei.
Era Wiglaf, que imediatamente atacou o dragão, ferindo-o mortalmente.
O dragão estendeu a pata e atingiu o rei com suas garras venenosas. Beowulf
sentiu o veneno penetrar nas profundezas de seu corpo. Antes que a vida o
deixasse, disse:
– Eu te nomeio rei, fiel Wiglaf. E como prova disso, aqui está o meu anel.
Estas foram as últimas palavras do célebre matador de dragões, Beowulf.
Ele morreu tranquilo, porque sabia que seu sucessor era o mais corajoso de
todos os homens, o melhor de todos os guerreiros, e que reinaria com justiça,
trazendo felicidade a seu povo.
(Machado, Irene. Literatura e redação. São Paulo: Scipione, 1994. p. 99-100.)
4. Converse com seu professor e demais colegas sobre as seguintes questões:
Essa lenda é mais parecida com as que você já conhecia? Em quê? Explique.
Em que essa lenda se parece com a que foi lida antes?
De que época você acha que é essa lenda?
De onde vem essa lenda? De que povo?
Qual você acha que é a finalidade dessa lenda?
5. Agora, acompanhe a leitura da “Lenda da vitória-régia”.
Comente com seus colegas e professor: Você já conhece essa lenda? De que
ela trata?
COLETÂNEA DE ATIVIDADES - 4 a SÉRIE 13
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A LENDA DA VITÓRIA-RÉGIA
A enorme folha boiava nas águas do rio. Era tão grande que, se qui-
sesse, o curumim que a contemplava poderia fazer dela um barco.
Ele era miudinho, nascera numa noite de grande temporal. A primei-
ra luz que seus pequeninos olhos contemplaram foi o clarão azul
de um forte raio, aquele que derrubara a grande seringueira, cujo
tronco dilacerado até hoje ainda lá estava.
“Se alguém deve cortá-la, então será meu filho, que nasceu hoje”, fa-
lou o cacique ao vê-la tombada depois da procela. Ele será forte e ve-
loz como o raio e, como este, ele deverá cortá-la para fazer o ubá com
que lutará e vencerá a torrente dos grandes rios...”
Talvez, por isso, aquele curumim tão pequenino já se sentisse tão corajoso
e capaz de enfrentar, sozinho, os perigos da selva amazônica. Ele caminhava
horas, ao léu, cortando cipós, caçando pequenos mamíferos e aves; porém,
até hoje, nos seus sete anos, ainda não enfrentara a torrente do grande rio,
que agora contemplava.
Observando bem aquelas grandes folhas, imaginou navegar sobre uma delas,
e não perdeu tempo. Pisou com muito cuidado – os índios são sempre muito
cautelosos – e, sentindo que ela suportava o seu peso, sentou-se devagar, e
com as mãozinhas improvisou um remo. Desceu rio abaixo.
É verdade que a correnteza favorecia, mas, contudo, por duas vezes quase caiu.
Nem por isso se intimidou. Navegou no seu barco vegetal até chegar a uma pe-
quena enseada onde avistou a mãe e outras índias que, ao sol, acariciavam os
curumins quase recém-nascidos embalando-os com suas canções, que falam
da lua, da mãe-d’água do sol e de certas forças naturais que muito temem.
Saltando em terra, correu para junto da mãe, muito feliz com a façanha que
praticara:
“Mãe, tenho o barco. Já posso pescar no grande rio?”
“Um barco? Mas aquilo é apenas um uapê; é uma formosa índia que Tupã
transformou em planta.”
“Como, mãe? Então não é o meu barco? Você sempre me disse que eu um
dia haveria de ter meu ubá...”
“Meu filho, o teu barco, tu o farás; este é apenas uma folha. É Naia, que se
apaixonou pela lua...”
“Quem é Naia?”, perguntou curioso o indiozinho.
“Vou contar-te... Um dia, uma formosa índia, chamada Naia, apaixonou-se
pela lua. Sentia-se atraída por ela e, como quisesse alcançá-la, correu, cor-
reu, por vales e montanhas atrás dela. Porém, quanto mais corriam, mais lon-
ge e alta ela ficava. Desistiu de alcançá-la e voltou para a taba.
“A lua aparecia e fugia sempre, e Naia cada vez mais a desejava.
14 COLETÂNEA DE ATIVIDADES - 4 a SÉRIE
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“Uma noite, andando pelas matas ao clarão do luar, Naia se aproximou de um
lago e viu, nele refletida, a imagem da lua.
“Sentiu-se feliz; julgou poder agora alcançá-la e, atirando-se nas águas cal-
mas do lago, afundou.
“Nunca mais ninguém a viu, mas Tupã, com pena dela, transformou-a nesta lin-
da planta, que floresce em todas as luas. Entretanto uapê só abre suas petalas
à noite, para poder abraçar a lua, que se vem refletir na sua aveludada corola.
“Vês? Não queiras, pois, tomá-la para teu barco. Nela irás, por certo, para o
fundo das águas.
“Meu filho, se se sentes bastante forte, toma o machado e vai cortar aquele
tronco que foi vencido pelo raio. Ele é teu desde que nasceste.
“Dele farás o teu ubá; então, navegarás sem perigo.
“Deixa em paz a grande flor das águas...”
Eis aí, como nasceu da imaginação fértil e criadora de nossos índios, a histó-
ria da vitória-régia, ou uapê, ou iapunaque-uapê, a maior flor do mundo.
(Machado, Irene. Literatura e redação. São Paulo: Scipione, 1994. p. 105-106.)
6. Agora, converse com seu professor e demais colegas sobre as seguintes
questões:
E essa lenda, é mais parecida com alguma das que você já conhecia? Em quê?
Explique. Com a ajuda de seus colegas e também do professor, preencha o qua-
dro a seguir.
SANTO TOMÁS E O BEOWULF E A LENDA DA
BOI QUE VOAVA O DRAGÃO VITÓRIA-RÉGIA
Época a qual
se refere
Origem
Propósito
COLETÂNEA DE ATIVIDADES - 4 a SÉRIE 15
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ATIVIDADE 3B: CONHECENDO UM POUCO MAIS AS
LENDAS (2)
NOME ___________________________________________ DATA _____ / _____ / _____
Para realizar esta atividade, você lerá novamente, com seu professor, as lendas
da aula anterior.
Depois, reúna-se com seu colega e procure descobrir o que as três histórias têm
em comum e quais são as diferenças entre elas. A seguir, converse com ele e organi-
zem, na tabela abaixo, as informações levantadas.
QUADRO COMPARATIVO DAS TRÊS LENDAS
O QUE AS LENDAS TÊM EM COMUM? O QUE AS LENDAS TÊM DE DIFERENTE?
16 COLETÂNEA DE ATIVIDADES - 4 a SÉRIE
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ATIVIDADE 3C: AMPLIANDO O REPERTÓRIO DE LENDAS
NOME ___________________________________________ DATA _____ / _____ / _____
1. Vocês lerão “A lenda do papagaio Crá-Crá”. Trata-se de uma lenda de origem
indígena – tupi – e, à medida que foi sendo contada, acabou incorporada e
transformada pelo povo, circulando, depois, pelo Brasil todo. Esse modo de
contar, a linguagem presente nessa versão da lenda, é mais típico das regiões
Sul e Sudeste do país.
A LENDA DO PAPAGAIO CRÁ-CRÁ
Conta a lenda que, antigamente, morava em um vilarejo um menino muito
guloso. Tudo que via, queria comer, e a gula era tanta, a pressa de comer era
tamanha, que ele tinha costume de engolir a comida sem mastigá-la.
Uma vez sua mãe encontrou frutos de batoí e assou-os na cinza.
O filho, sem querer esperar, comeu todos os frutos, tirando-os diretamente do
fogo e, como sempre, engoliu-os sem pestanejar.
Os frutos do batoí são frutos cuja polpa viscosa se mantém quentíssima por
muito tempo. Comendo-os tão quentes, sapecaram-lhe a garganta, de forma
que doía muito e queimavam-lhe o estômago.
O menino, tentando vomitar os frutos comidos, começou a fazer força para
expulsá-los. Arranhava a garganta grunhindo crá-crá-crá! Mas os frutos não
saíam... e entalaram na garganta, sufocando-o.
No mesmo momento, cresceram-lhe as asas e as penas e ele tornou-se um
papagaio. Voou pra longe. Até hoje pode-se ouvi-lo vagando pelas matas do
lugar, voando e gritando “crá-crá-crá”!
(Machado, Irene. Literatura e redação. São Paulo: Scipione, 1994. p. 105-106.)
2. Retome o quadro com as características das lendas analisadas e comente
com seu professor e colegas: essa lenda contém as características comuns
às demais lendas até o momento? Para explicar, procure responder às ques-
tões no quadro da página seguinte.
COLETÂNEA DE ATIVIDADES - 4 a SÉRIE 17
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ANALISANDO “A LENDA DO PAPAGAIO CRÁ-CRÁ”
ASPECTOS INFORMAÇÕES OBSERVADAS
O que essa lenda procura explicar?
Esta lenda revela um aspecto da
cultura do povo brasileiro.
Qual é ele?
Quem são os protagonistas?
São pessoas comuns?
Os fatos narrados são tratados
como episódios comuns da vida
das pessoas? Explique.
Há outros aspectos importantes
a ser considerados?
3. Com seus colegas e com a ajuda de seu professor, releia “A lenda do papa-
gaio Crá-Crá” observando as expressões que foram utilizadas para contar a
história. Anote-as em seu caderno.
4. Agora, sente-se com sua dupla de trabalho e procurem, em seu livro, as len-
das que foram lidas. Escolha duas delas para fazer a mesma análise, anotan-
do, cada um em seu caderno, as expressões interessantes que encontrarem.
Depois, compartilhe o trabalho com os demais colegas da turma.
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ATIVIDADE 3D: RODA DE LEITUR A
NOME ___________________________________________ DATA _____ / _____ / _____
Agora você irá participar de uma roda de leitura. Você já sabe que, nesses momen-
tos, deve comentar o que leu, recomendando – ou não – para seus colegas.
Neste momento, estamos estudando lendas, e a sua tarefa foi selecionar uma
obra na sala de leitura ou biblioteca pública e comentá-la, de maneira que essa
obra possa, por um lado, compor nosso inventário de lendas e, por outro, ser indi-
cada para compor a coletânea que a classe organizará.
Segue abaixo um roteiro de indicação de leitura para que você se oriente para
executar essa atividade.
ROTEIRO PARA INDICAÇÃO DE LEITURA
1. Apresente a obra que você leu, informando:
a. título;
b. autor;
c. editora;
d. como a obra se organiza (só lendas brasileiras, só apresenta uma lenda etc.).
Nesse momento você pode até dar uma lida rápida no índice, se achar inte-
ressante para os colegas; não se esqueça de mostrar-lhes o livro também;
e. se tem ilustrações, de que tipo são – observe se são pinturas, gravuras, fo-
tografias; se são coloridas, se explicam ou não informações do texto (mos-
tre-as para seus colegas) e dê sua opinião sobre elas.
2. Comente a lenda que você leu, informando:
a. título;
b. origem da lenda (se houver informação sobre isso no livro);
c. em que região costuma circular;
d. tema, ensinamento ou fenômeno que explica;
e. personagens;
f. se constam ilustrações da lenda;
g. se há relações que se possa estabelecer com alguma lenda do inventário
da classe ou outra que você mesmo conheça.
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3. Apresente um pequeno resumo da lenda, comentando:
a. se gostou ou não e por quê;
b. se recomendaria – ou não – para compor a coletânea da classe, explicando
o motivo de sua afirmação ou negação;
c. se quiser, pode ler um trecho da lenda também ou, pelo menos, aquele que
você considerou mais interessante ou bonito. Ao final da apresentação, não
esqueça de registrar a lenda lida no inventário da classe, caso ela tenha
sido recomendada para compor a coletânea.
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ATIVIDADE 3E: LENDAS DE OUTROS TEMPOS
E LUGARES
NOME ___________________________________________ DATA _____ / _____ / _____
1. Leia, silenciosamente, a lenda sobre um conhecido personagem da mitologia
grega chamado Narciso.
NARCISO
Mitologia grega
Há muito tempo, na floresta, passeava Narciso, o filho do sagrado rio Kiphis-
sos. Era lindo, porém tinha um modo frio e egoísta de ser. Era muito conven-
cido de sua beleza e sabia que não havia no mundo ninguém mais bonito
que ele.
Vaidoso, a todos dizia que seu coração jamais seria ferido pelas flechas de
Eros, filho de Afrodite, pois não se apaixonava por ninguém.
As coisas foram assim até o dia em que a ninfa Eco o viu e imediatamente se
apaixonou por ele.
Ela era linda, mas não falava; o máximo que conseguia era repetir as últimas
sílabas das palavras que ouvia.
Narciso, fingindo-se de desentendido, perguntou:
– Quem está se escondendo aqui perto de mim?
– … de mim – repetiu a ninfa assustada.
– Vamos, apareça! – ordenou. – Quero ver você!
– … ver você! – repetiu a mesma voz em tom alegre.
Assim, Eco aproximou-se do rapaz. Mas nem a beleza e nem o misterioso bri-
lho nos olhos da ninfa conseguiram amolecer o coração de Narciso.
– Dê o fora! – gritou, de repente. – Por acaso pensa que eu nasci para ser um
da sua espécie? Sua tola!
– Tola! – repetiu Eco, fugindo de vergonha.
A deusa do amor não poderia deixar Narciso impune depois de fazer uma coisa
daquelas. Resolveu, pois, que ele deveria ser castigado pelo mal que havia feito.
Um dia, quando estava passeando pela floresta, Narciso sentiu sede e quis
tomar água.
Ao debruçar-se num lago, viu seu próprio rosto refetido na água. Foi naquele
momento que Eros atirou uma flecha direto em seu coração.
Sem saber que o reflexo era de seu próprio rosto, Narciso imediatamente se
apaixonou pela imagem.
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Quando se abaixou para beijá-la, seus lábios se encostaram na água e a ima-
gem se desfez. A cada nova tentativa, Narciso ia ficando cada vez mais de-
sapontado e recusando-se a sair de perto da lagoa. Passou dias e dias sem
comer nem beber, ficando cada vez mais fraco.
Assim, acabou morrendo ali mesmo, com o rosto pálido voltado para as
águas serenas do lago.
Esse foi o castigo do belo Narciso, cujo destino foi amar a si próprio.
Eco ficou chorando ao lado do corpo dele, até que a noite a envolveu. Ao desper-
tar, Eco viu que Narciso não estava mais ali, mas em seu lugar havia uma bela
flor perfumada. Hoje, ela é conhecida pelo nome de “narciso”, a flor da noite.
Agora, comente essa lenda com seus colegas, observando:
De que trata a lenda?
Quem são os personagens?
Onde se passa a história?
O que a lenda procura explicar?
Que outros comentários poderiam ser feitos a respeito dessa lenda?
Agora, acompanhe, com atenção, a leitura que seu professor fará dessa lenda.
A seguir, prepare-se para recontá-la a colegas de outras turmas.
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ATIVIDADE 3F: AS LENDAS E O FANTÁSTICO UNIVERSO
INDÍGENA
NOME ___________________________________________ DATA _____ / _____ / _____
1. Acompanhe a leitura que seu professor fará de “A lenda da Lagoa das Guaraíras”
Trata-se de uma história da época da colonização brasileira, do tempo em que os
portugueses aqui chegaram. Com eles vieram os padres jesuítas, que começa-
ram a catequizar os índios. Você sabe o que é “catequizar”?
Catequização: instrução que os jesuítas – padres portugueses que vieram para o
Brasil assim que foi descoberto – davam aos índios, para ensinar-lhes a religião
cristã. Essa instrução era dada oralmente, por meio de histórias bíblicas.
No processo de catequização, os portugueses pretendiam que os índios aban-
donassem traços de sua cultura e assumissem os costumes portugueses. Essa
lenda fala um pouco disso: da ameaça que representava para os portugueses a
antropofagia, que era o costume de os índios comerem carne humana, e de como
consideravam importante que esse traço cultural fosse eliminado.
A LENDA DA LAGOA DAS GUARAÍRAS
Certo índio da aldeia de Guaraíra, em momento de retorno sen-
timental à vida selvagem, esquecido das lições que recebia,
matou uma criança. Matou e comeu.
O povo e os parentes da pequena vítima reagiram veementemen-
te. Não preocupavam, àquela altura, se prejudicariam o trabalho
paciente, mas superficial, dos padres da Companhia Jesuítica. A
família queria que fossem tomadas providências para terminar
com a tradição cultural da antropofagia, que recomeçara sem
que se esperasse, ameaçando a cultura branca europeia.
O superior da Missão não pôde se omitir na circunstância, mas não podia
usar de violência, segundo a norma invariavelmente adotada nos métodos da
catequese dos discípulos de Santo Inácio. Tinha, porém, que impor o castigo
exigido. E mandou que o índio, farto das carnes da criança, ficasse dentro
d’água até que fosse chamado.
Assim, o índio ficou lá, mas quando procurado não foi encontrado. Foi quan-
do começou a aparecer nas águas da lagoa um peixe-boi indo e vindo de um
lado para o outro. Alta noite, o que se ouvia, subindo das águas salgadas da
lagoa, era o gemido pavoroso de tremer, horripilante, dolorido, inesquecível.
O castigo devia perdurar por muitos anos, segundo sentença do missionário.
Os pescadores iam pescar e voltavam; a rede, enxuta, sem peixe nenhum.
Antes mesmo de eles lançarem a rede, o peixe-boi aparecia varejando a ca-
noa com toda a velocidade possível.
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De lá de baixo subia o gemido cortante, agoniado e rouco, como se alguém
estivesse afogando. Era o índio que devorara a criança. Os gemidos eram
mais feios, mais lancinantes, pungentes, mais magoados nas noites de luar.
E quando a mareta se erguia, via-se ao reflexo da lua o dorso do peixe-boi
que subia à superfície.
O pior era a incerteza. O peixe-boi aparecia em toda a parte. Uma noite
estava lá no canto do Borquei. Outra, no córrego das Capivaras. Na Barra
do Tibau, em especial, vinham aos ouvidos os urros tremendamente feios,
medonhos, apavorantes!!! Singular destino dessa lagoa. Quando menos se
espera, o mar a devolve. Depois retoma. Tudo é um precioso mistério. Em
Tibau do Sul, Rio Grande do Norte, na Lagoa das Guaraíras.
(Adaptado de “Crônicas” por Hélio Galvão (Derradeiras cartas da praia). Disponível
em: <http://ifolclore.vilabol.uol.com.br/lendas/index.htm>. Acesso em: 27 dez. 2007.
Gravuras de Hans Stadem, Viagens ao Brasil. Marburgo, 1556.)
2. Pense e converse com seus colegas: Esta lenda contém as características co-
muns às demais lendas lidas até o momento? Por que isso acontece?
3. Agora, sente-se com sua dupla de trabalho e, juntos, façam a descrição do
peixe-boi. Vocês podem consultar as imagens para realizar a tarefa.
O PEIXE-BOI
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ATIVIDADE 3H: COMPAR ANDO VERSÕES DE UMA LENDA
NOME ___________________________________________ DATA _____ / _____ / _____
1. Seu professor lerá para você uma lenda intitulada “O Negrinho do Pastoreio”.
Trata-se de uma lenda meio africana, meio cristã, muito contada no final do sécu-
lo XIX pelos brasileiros que defendiam o fim da escravidão. É muito popular no Sul
do Brasil, em especial no Rio Grande do Sul.
O NEGRINHO DO PASTOREIO
No tempo dos escravos, havia um estancieiro muito ruim, que levava tudo por
diante, a grito e a relho. Naqueles fins de mundo, fazia o que bem entendia,
sem dar satisfação a ninguém.
Entre os escravos da estância havia um negrinho, encarregado do pastoreio
de alguns animais, coisa muito comum nos tempos em que os campos de
estância não conheciam cerca de arame; quando muito, havia apenas alguma
cerca de pedra erguida pelos próprios escravos, que não podiam ficar para-
dos, para não pensar bobagem... No mais, os limites dos campos eram aque-
les colocados por Deus Nosso Senhor: rios, cerros, lagoas.
Pois de uma feita, o pobre negrinho, que já vivia as maiores judiarias nas
mãos do patrão, perdeu um animal no pastoreio. Pra quê! Apanhou uma bar-
baridade atado a um palanque e, depois, cai-caindo, ainda foi mandado pro-
curar o animal extraviado. Como a noite vinha chegando, ele agarrou um to-
quinho de vela e uns avios de fogo, com fumo e tudo, e saiu campeando. Mas
nada! O toquinho acabou, o dia veio chegando e ele teve que voltar para a
estância.
Então, foi outra vez atado ao palanque e dessa vez apanhou tanto que mor-
reu, ou pareceu morrer. Vai daí, o patrão mandou abrir a “panela” de um for-
migueiro e atirar lá dentro, de qualquer jeito, o pequeno corpo do negrinho,
todo lanhado de laçaço e banhando em sangue.
No outro dia, o patrão foi com a peonada e os escravos ver o formigueiro.
Qual não é a sua surpresa ao ver o Negrinho do Pastoreio: ele estava lá, mas
de pé, com a pele lisa, sem nenhuma marca das chicotadas. Ao lado dele, a
Virgem Nossa Senhora, e mais adiante o baio e os outros cavalos.
O estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu.
Apenas beijou a mão da santa, montou no baio e partiu conduzindo a tropilha.
Desde aí, o Negrinho do Pastoreio ficou sendo o achador das coisas extra-
viadas. E não cobra muito: basta acender um toquinho de vela, ou atirar num
canto qualquer naco de fumo.
(Domínio público)
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2. Converse com seu professor e colegas:
Qual é o tema dessa história?
Como ela explica o surgimento desse ícone religioso?
Essa é uma explicação científica, fantástica ou de fé?
Eles conhecem alguma outra lenda similar?
Quem são os personagens que a compõem?
Onde se passa a trama?
3. Agora você lerá outra versão dessa mesma história. Fique atento e observe
semelhanças e diferenças entre elas, considerando que podem ser de conteú-
do ou na linguagem, isto é, as histórias podem trazer informações divergentes
ou dizer o mesmo de outro modo.
Depois, você registrará suas descobertas no caderno.
NEGRINHO DO PASTOREIO
Era o tempo da escravidão, e um menino negrinho, pretinho que nem carvão,
humilde e raquítico era escravo de um fazendeiro muito rico, mas por demais
avarento. Se alguém necessitasse de um favor, não se podia contar com este
homem. Não dava um níquel a ninguém e seu coração era a morada de uma
pedra, não nutria qualquer sentimento por ninguém, a não ser por seu filho,
um menino tão malvado quanto seu pai, pois, afinal, a fruta nunca cai muito
longe da árvore. Estes dois eram extremamente perversos e maltratavam o
menino-escravo desde o raiar do dia, sem lhe dar trégua. Este jovenzinho não
tinha nome, porque ninguém se deu sequer o trabalho de pensar algum para
ele; assim, respondia pelo apelido de “Negrinho”.
Seus afazeres não eram condizentes com seu porte físico, não parava o dia
inteiro. O sol nascia e lá já estava ele ocupado com seus afazeres e mesmo
ao se pôr, ainda se encontrava o Negrinho trabalhando. Sua principal ocupa-
ção era pastorear. Depois de encerrar seu laborioso dia, juntava os trapos
que lhe serviam de cama e recebia um mísero prato de comida, que não era
suficiente para repor as energias perdidas pelo sacrificado trabalho.
Mesmo sendo tão útil, considerado mestre do laço e o melhor peão-cavaleiro
de toda a região, o menino era inúmeras vezes castigado sem piedade.
Certa vez, o estanceiro atou uma carreira com um vizinho que se gabava de
possuir um cavalo mais veloz que seu baio. Foi marcada a data da corrida, e o
Negrinho ficou encarregado de treinar e montar o famoso baio, pois sabia seu
patrão não haver ninguém mais capaz que ele para tal tarefa.
Chegando o grande dia, todos os habitantes da cidade, vestindo suas roupas
domingueiras, se alojaram na cancha da carreira. Palpites discutidos, apostas
feitas, inicia-se a corrida.
Os dois cavalos saem emparelhados. Negrinho começa a suar frio, pois sabe
o que lhe espera se não ganhar. Mas, aos poucos, toma a dianteira e quase
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não há dúvida de que seria vencedor. Mas eis que o inesperado acontece:
algo assusta o cavalo, que para, empina e quase derruba Negrinho. Foi tempo
suficiente para que seu adversário o ultrapassasse e ganhasse a corrida.
E agora? O outro cavalo venceu. Negrinho tremia feito “vara verde” ao ver a
expressão de ódio nos olhos de seu patrão. Mas o fazendeiro, sem saída,
deve cobrir as apostas e põe a mão no lugar que lhe é mais caro: o bolso.
Ao retornarem à fazenda, o Negrinho tem pressa para chegar à estrebaria.
– Aonde pensa que vai? – pergunta-lhe o patrão.
– Guardar o cavalo, sinhô! – balbuciou bem baixinho.
– Nada feito! Você deverá passar trinta dias e trinta noites com ele no pasto
e cuidará também de mais trinta cavalos. Será seu castigo pelo meu prejuízo.
Mas ainda tem mais. Passe aqui que vou lhe aplicar o devido corretivo.
O homem apanhou seu chicote e foi em direção ao menino:
– Trinta quadras tinham a cancha da corrida, trinta chibatadas vais levar no
lombo e depois trate de pastorear a minha tropilha.
Lá vai o pequeno escravo, doído até a alma levando o baio e os outros ca-
valos a caminho do pastoreio. Passou dia, passou noite, choveu, ventou e
o sol torrou-lhe as feridas do corpo e do coração. Nem tinha mais lágrima
para chorar e então resolveu rezar para a Nossa Senhora, pois como não
lhe foi dado nome, dizia-se afilhado da Virgem. E foi a “santa solução”, pois
Negrinho aquietou-se e então, cansado de carregar sua cruz tão pesada,
adormeceu.
As estrelas subiram aos céus e a lua já tinha andado metade de seu caminho
quando algumas corujas curiosas resolveram chegar mais perto, pairando no
ar para observar o menino. O farfalhar de suas asas assustou o baio, que se
soltou e fugiu, sendo acompanhado pelos outros cavalos. Negrinho acordou
assustado, mas não podia fazer mais nada, pois ainda era noite e a cerração,
como um lençol branco, cobria tudo. E, assim, o negrinho-escravo sentou-se
e chorou...
O filho do fazendeiro, que andava pelas bandas, presenciou tudo e apressou-se
em contar a novidade ao seu pai. O homem mandou dois escravos buscá-lo.
O menino até tentou explicar o acontecido para o seu senhor, mas de nada
adiantou. Foi amarrado no tronco e novamente açoitado pelo patrão, que de-
pois ordenou que ele fosse buscar os cavalos. Ai dele que não os encontrasse!
Assim, Negrinho teve que retornar ao local do pastoreio e para ficar mais fácil
sua procura, acendeu um toco de vela. A cada pingo dela, deitado sobre o
chão, uma luz brilhante nascia em seu lugar, até que todo lugar ficou tão claro
quanto o dia e lhe foi permitido, desta forma, achar a tropilha. Amarrou o baio
e, gemendo de dor, jogou-se ao solo desfalecido.
Danado como ele só e não satisfeito com o que já fizera ao escravo, o filho
do fazendeiro aproveitou a oportunidade de praticar mais uma maldade: dis-
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persar os cavalos. Feito isso, correu novamente até seu pai e contou-lhe que
Negrinho havia encontrado os cavalos e os deixara fugir de propósito. A histó-
ria se repete, e dois escravos vão buscá-lo, só que dessa vez seu patrão está
decidido em dar cabo dele. Amarrou-o pelos pulsos e surrou-o como nunca. O
chicote subia e descia, dilacerando a carne e picoteando-a como guisado. Ne-
grinho não aguentou tanta dor e desmaiou. Achando que o havia matado, seu
senhor não sabia que destino dar ao corpo. Enterrá-lo lhe daria muito trabalho
e, avistando um enorme formigueiro, jogou-o lá. As formigas acabariam com
ele em pouco tempo, pensou.
No dia seguinte, o cruel fazendeiro, curioso para ver de que jeito estaria o cor-
po do menino, dirigiu-se até o formigueiro. Qual sua surpresa quando o viu em
pé, sorrindo e rodeado pelos cavalos e o baio perdido. O Negrinho montou-o e
partiu a galope, acompanhado pelos trinta cavalos.
O milagre tomou o rumo dos ventos e alcançou o povoado, que se alegrou
com a notícia. Desde aquele dia, muitos foram os relatos de quem viu o Negri-
nho passeando pelos pampas, montado em seu baio e sumindo em seguida
por entre nuvens douradas. Ele anda sempre à procura das coisas perdidas,
e quem necessitar de seu ajutório, é só acender uma vela entre as ramas de
uma árvore e dizer:
Foi aqui que eu perdi
Mas Negrinho vai me ajudar
Se ele não achar
Ninguém mais conseguirá!
(Disponível em: <http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendanegrinhopastoreio.html>.)
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ATIVIDADE 3J: ANALISANDO ASPECTOS LINGUÍSTICOS
DAS LENDAS
NOME ___________________________________________ DATA _____ / _____ / _____
1. Retome as lendas lidas até o momento e analise o modo como as narrativas
começaram, assim como o tema central que cada uma aborda. Para organizar
melhor as informações, preencha o quadro a seguir.
TÍTULO DA LENDA COMO INICIA TEMA CENTRAL
O dono da luz
Santo Tomás e o boi que voava
Beowulf e o dragão
A lenda da vitória-régia
A lenda do papagaio Crá-Crá
A lenda de Narciso
A lenda da Lagoa das Guaraíras
O Negrinho do Pastoreio
2. Apresente as observações do grupo para os demais colegas e o professor,
discutindo-as. A seguir, elaborem, coletivamente, um registro que sintetize as
observações gerais sobre as lendas e as dicas para serem utilizadas na pos-
terior reescrita das lendas.
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ATIVIDADE 3K: ANALISANDO O DISCURSO NAS LENDAS
NOME ___________________________________________ DATA _____ / _____ / _____
1. Acompanhe, com atenção, a leitura que seu professor fará da lenda “Maria
Pamonha”. Depois, faça o que se pede.
MARIA PAMONHA
Lenda latino-americana
Certo dia apareceu na porta da casa-grande da fazenda uma menina suja e
faminta. Nesse dia, deram-lhe de comer e de beber. E no dia seguinte tam-
bém. E no outro, e no outro, e assim sucessivamente.
Sem que as pessoas da casa se dessem conta, a menina foi ficando, ficando,
sempre calada e de canto em canto.
Uma tarde, os garotos da fazenda perguntaram-lhe como se chamava e ela
respondeu com um fiozinho de voz:
– Maria.
E os garotos, às gargalhadas, fecharam-na numa roda e começaram a debo-
char dela:
– Maria, Maria Pamonha, Maria, Maria Pamonha…
Uma noite de lua cheia, o filho da patroa estava se arrumando para ir a um
baile, quando Maria Pamonha apareceu no seu quarto:
– Me leva no baile? – pediu-lhe.
O jovem ficou duro de espanto.
– Quem você pensa que é para ir dançar comigo? – gritou. – Ponha-se no seu
lugar! Ou quer levar uma cintada?
Quando o rapaz saiu para o baile, Maria Pamonha foi até o poço que havia no
mato, banhou-se e perfumou-se com capim-cheiroso e alfazema. Voltou para
casa, pôs um lindo vestido da filha da patroa e prendeu os cabelos.
Quando a jovem apareceu no baile, todos ficaram deslumbrados com a beleza
da desconhecida. Os homens brigavam para dançar com ela, e o filho da pa-
troa não tirava os olhos de cima da moça.
– De onde é você? – perguntou-lhe, por fim.
– Ah, eu venho de muito, muito longe. Venho da Cidade de Cintada – res-
pondeu a garota. Mas o rapaz a olhava tão embasbacado que não percebeu
nada.
Quando voltou para casa, o jovem não parava de falar para a mãe da beleza
daquela garota desconhecida que ele vira no baile. Nos dias que se seguiram,
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procurou-a por toda a fazenda e pelos povoados vizinhos, mas não conseguiu
encontrá-la. E ficou muito triste.
Uma noite sem lua, dez dias depois, o jovem foi convidado para outro baile.
Como da primeira vez, Maria Pamonha apareceu no seu quarto e disse-lhe
com sua vozinha:
– Me leva no baile?
E o jovem voltou a gritar-lhe:
– Quem você pensa que é para ir dançar comigo? Ponha-se no seu lugar! Ou
quer levar uma espetada?
Logo que o jovem saiu, Maria Pamonha correu para o poço, banhou-se, perfu-
mou-se, pôs outro vestido da filha da patroa e prendeu os cabelos.
De novo, no baile, todos se deslumbraram com a beleza da jovem desconheci-
da. O filho da patroa aproximou-se dela, suspirando, e perguntou-lhe:
– Diga-me uma coisa, de onde é você?
– Ah, ah, eu venho de muito, muito longe. Venho da Cidade de Espetada – res-
pondeu a jovem. Mas ele nem se deu conta do que ela estava querendo lhe
dizer, de tão apaixonado que estava. Ao voltar para casa, não se cansava de
elogiar a desconhecida do baile.
Nos dias que se seguiram, procurou-a por toda a fazenda e pelos povoados
vizinhos, mas não conseguiu encontrá-la. E ficou mais triste ainda.
Uma noite de lua crescente, dez dias depois, o rapaz foi convidado para outro
baile. Pela terceira vez, Maria Pamonha apareceu em seu quarto e disse-lhe
com aquele fiozinho de voz:
– Me leva no baile?
E pela terceira vez ele gritou:
– Quem você pensa que é para ir dançar comigo? Ponha-se no seu lugar! Ou
quer levar uma sapatada?
Outra vez, Maria Pamonha vestiu-se maravilhosamente e apareceu no baile. E
outra vez todos ficaram deslumbrados com sua beleza.
O jovem dançou com ela, murmurando-lhe palavras de amor, e deu-lhe de pre-
sente um anel. Pela terceira vez, ele lhe perguntou:
– Diga-me uma coisa, de onde é você?
– Ah, ah, ah, eu venho de muito, muito longe. Venho da Cidade de Sapatada.
Mas como o rapaz estava quase louco de paixão, nem se deu conta do que
queriam dizer aquelas palavras.
Ao voltar para casa, ele acordou todo mundo para contar como era bela a
jovem desconhecida. No dia seguinte, procurou-a por toda a fazenda e pelos
povoados vizinhos, sem conseguir encontrá-la.
Tão triste ele ficou que caiu doente. Não havia remédio que o curasse, nem
reza que o fizesse recobrar as forças. Triste, triste, já estava a ponto de morrer.
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Então Maria Pamonha pediu à patroa que a deixasse fazer um mingau para o
doente. A patroa ficou furiosa.
– Então você acha que meu filho vai querer que você faça o mingau, menina?
Ele só gosta do mingau feito por sua mãe.
Mas Maria Pamonha ficou atrás da patroa e tanto insistiu que ela, cansada,
acabou deixando.
Maria Pamonha preparou o mingau e, sem que ninguém visse, colocou o anel
dentro dele.
Enquanto tomava o mingau, o jovem suspirava:
– Que delícia de mingau, mãe!
De repente, ao encontrar o anel, perguntou, surpreso:
– Mãe, quem foi que fez este mingau?
– Foi Maria Pamonha. Mas por que você está me perguntando isso?
E antes mesmo que o jovem pudesse responder, Maria Pamonha apareceu no
quarto, com um lindo vestido, limpa, perfumada e com os cabelos presos.
E o rapaz sarou na hora. E casou-se com ela. E foram muito felizes.
2. Em seu caderno, copie os trechos sublinhados transformando o discurso dire-
to em indireto e vice-versa. Lembre-se de usar dois-pontos, parágrafo e traves-
são quando necessário!
3. Ao terminar, compartilhe com seu professor e colegas o modo como foi cons-
truindo os diálogos entre os personagens.
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ATIVIDADE 4B: REESCREVENDO TRECHOS
DE UMA LENDA
NOME ___________________________________________ DATA _____ / _____ / _____
1. Junto a sua dupla de trabalho, releia silenciosamente “A lenda do papagaio
Crá-Crá”.
A LENDA DO PAPAGAIO CRÁ-CRÁ
Conta a lenda que, antigamente, morava em um vilarejo um menino muito gu-
loso. Tudo que via, queria comer, e a gula era tanta, a pressa de comer era
tamanha, que ele tinha costume de engolir a comida sem mastigá-la.
Uma vez sua mãe encontrou frutos de batoí e assou-os na cinza.
O filho, sem querer esperar, comeu todos os frutos, tirando-os diretamente do
fogo e, como sempre, engoliu-os sem pestanejar.
Os frutos do batoí são frutos cuja polpa viscosa se mantém quentíssima por
muito tempo. Comendo-os tão quentes, sapecaram-lhe a garganta, de forma
que doía muito e queimavam-lhe o estômago.
O menino, tentando vomitar os frutos comidos, começou a fazer força para
expulsá-los. Arranhava a garganta grunhindo crá-crá-crá! Mas os frutos não
saíam... e entalaram na garganta, sufocando-o.
No mesmo momento, cresceram-lhe as asas e as penas e ele tornou-se um
papagaio. Voou pra longe. Até hoje pode-se ouvi-lo vagando pelas matas do
lugar, voando e gritando “crá-crá-crá”!
(Machado, Irene. Literatura e redação. São Paulo: Scipione, 1994. p. 105-106.)
2. Observem que o início dessa lenda está em negrito. Esse trecho deverá ser
reescrito por vocês de dois modos diferentes. Para isso, utilizem a folha pau-
tada entregue por seu professor.
3. Fiquem atentos às possibilidades de escrita que já foram abordadas em aula,
lembrando-se de que as lendas começam remetendo-se ao passado, mas
sem definir um tempo específico. Vocês poderão optar pelo discurso direto ou
indireto quando acharem mais apropriado, e podem enriquecer a lenda com
descrições de personagens e ambientes.
4. Quando terminarem, façam uma boa revisão do texto, observando se faltam
informações ou se há erros de gramática ou ortografia.
5. Finalmente, escolham a versão que lhes pareceu mais interessante para ler
para os colegas.
COLETÂNEA DE ATIVIDADES - 4 a SÉRIE 33
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