[1] O documento apresenta o enredo de um bloco carnavalesco chamado "Amigos do Bom Viver" para o Carnaval de 2014. [2] O enredo é dividido em três atos que descrevem a imagem, o espírito e a fraternidade do gaúcho. [3] O último ato celebra a união entre gaúchos e catarinenses através da música e dança típicas das tradições gaúchas e do samba.
2. Amigos do Bom Viver – Carnaval 2014
Gaita-ponto com cuíca, bombo leguero e pandeiro... só pra ver como é que fica esse canto gauchesco e
brasileiro!
INTRODUÇÃO
Exaltar a figura do gaúcho é romper com preconceitos regionais latentes e
infundados. É mostrar que nesta Santa Catarina – que é como coração de mãe, pois
sempre cabe mais um – vivem irmanados diversos povos e aqui estão semeadas,
brotadas e enraizadas as tradições dos irmãos do meridião.
Na Grande Florianópolis, a presença em grande número e tamanho dos
centros de tradições gaúchas (CTGs) é dado contundente da importância desses
laços culturais. Alvo de estudos acadêmicos, sua visibilidade social e relevância
cultural não pode ser ignorada. Em toda Santa Catarina, as tradições gaúchas estão
disseminadas, seja de maneira consistente nos CTGs, seja de maneira mais sutil,
em hábitos como o trato com os cavalos ou o consumo de chimarrão.
Além das tradições propriamente ditas, o Rio Grande do Sul tem enorme
importância histórica para o Brasil e, neste aspecto, também suas relações com
Santa Catarina se destacam. Muitos gaúchos deixaram sua marca na história e seu
legado exerce inegável influência sobre nós.
Este enredo tem como narrador o gaúcho. Não escolhemos um personagem
específico, mas sim a figura do gaúcho, de maneira genérica, procurando abrigar
neste personagem abstrato todas as características típicas que pretendemos
ressaltar. Este narrador contará sua história ao longo do dia, culminando numa
grande festa típica à noite. Alguns poemas e canções serão citados, por vezes
incorporados ao texto, destacados em itálico para fins didáticos. O enredo será
dividido em três partes – chamadas de atos - para um desenvolvimento artístico que
facilite sua leitura.
O primeiro ato, chamado “A imagem do gaúcho”, se passa durante o dia de
trabalho e traz a descrição física do gaúcho e suas principais práticas no campo. O
segundo ato recebeu o nome “O espírito gaúcho”. Esta parte do enredo se passa no
início da noite e o gaúcho contará ao redor de uma fogueira algumas façanhas de
expoentes do Rio Grande do Sul e mostrará como essas figuras traduzem o “ser
gaúcho”. No terceiro e último ato, intitulado “A fraternidade gaúcha”, chega a
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Gaita-ponto com cuíca, bombo leguero e pandeiro... só pra ver como é que fica esse canto gauchesco e
brasileiro!
madrugada e numa grande festa há o congraçamento de gaúchos e catarinenses
unidos pelas tradições.
SINOPSE DO ENREDO
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Gaita-ponto com cuíca, bombo leguero e pandeiro... só pra ver como é que fica esse canto gauchesco e
brasileiro!
PRIMEIRO ATO – A IMAGEM DO GAÚCHO
Vou-me embora, vou-me embora
Prenda minha
Tenho muito que fazer
Tenho de ir para o rodeio
Prenda minha
No campo do bem-querer...
Acordo cedo. O canto do galo me desperta antes que a luz do sol inunde a
coxilha. É dia de lida no campo, a estância tem uma rotina a ser cumprida.
Desperto ao sabor do chimarrão. A infusão da erva-mate – que nos trouxe
prosperidade lá nos tempos das Missões! – é uma marca cultural.
O dia vai ser difícil. Nem sempre o pastoreio é manso, nem sempre a
colheita é boa. Negrinho do Pastoreio, acendo esta vela pra ti...
No pescoço, trago o lenço vermelho. Além de uma proteção, sua presença
mantém viva a memória das lutas de meu povo. Visto a minha identidade, a vida no
campo, a lida com o gado: a bota, a espora, o gibão.
Se a fartura está na mesa, bom churrasco e chimarrão. Quem quiser pode
chegar, pois sou bom anfitrião. Conto histórias do meu povo... a tarde se esvai e o
minuano sopra melodias em meu ouvido.
Acendo a fogueira. Pego meu acordeon e acompanho o canto do vento.
Ouça a milonga que derramo de meu coração, que pulsa num galope incessante e
faz da vida seu cavalo encilhado...
SEGUNDO ATO – O ESPÍRITO GAÚCHO
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Gaita-ponto com cuíca, bombo leguero e pandeiro... só pra ver como é que fica esse canto gauchesco e
brasileiro!
Buenas e me espalho!
Nos pequenos dou de prancha
E nos grandes dou de talho!
Começa a noite de festa na querência amada. Ressoa o bombo leguero,
tambor ancestral que embala meu espírito guerreiro. Ouvido a léguas em plagos
distantes, evoca este canto gauchesco e brasileiro a esta terra que eu amei desde
guri.
Sou filho do Rio Grande. Trago nas veias o sangue quente desta gente que
nunca se curvou às injustiças e fez seu grito ecoar pelo Brasil: verás que um filho teu
não foge à luta! Sou um pouco Bento Gonçalves, um pouco Corte Real. Sou Sepé
Tiaraju, eternizado por Basílio da Gama em “O Uraguay”, o bravo índio resistindo à
invasão: esta terra tem dono!
Minha alma é farroupilha, de um povo irmanado por uma bandeira de três
cores, de um povo unido por três ideais. Queremos a liberdade, que nos permite
buscar a igualdade entre nossos irmãos! A igualdade, pois também somos
brasileiros! A humanidade, equiparando todos os homens aquerenciados no garrão
da pátria. Sou Rio Grande, mas também sou todo o Brasil. E todo o Brasil é Rio
Grande também!
Sou um pouco Mário Quintana, a palavra também é meu canhão. Meu
espírito destemido se traduz em seus versos: Todos estes que aí estão
atravancando o meu caminho... eles passarão. Eu passarinho! Sou também
Veríssimo, autêntico em minhas ideias, perspicaz no pensamento.
Sou líder, busco a justiça social e a igualdade entre os homens. Se, na
Revolução Farroupilha, eu ergui minha voz contra a escravidão, hoje carrego em
minhas veias o mesmo sangue que Getúlio Vargas derramou em defesa do
trabalhador. Se preciso for, me sacrifico por um ideal e saio da vida para entrar pra
história.
Sirvam nossas façanhas de modelo a toda a Terra!
TERCEIRO ATO – A FRATERNIDADE GAÚCHA
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Gaita-ponto com cuíca, bombo leguero e pandeiro... só pra ver como é que fica esse canto gauchesco e
brasileiro!
Noite escura, noite escura
Prenda minha
Toda noite me atentou...
Quando foi de madrugada
Prenda minha
Foi-se embora e me deixou...
Para ser gaúcho, não precisa nascer nesta terra. Basta carregar na alma seu
espírito de guerra... feito Giuseppe, feito Anita, daquela história de amor tão bonita!
Assim a madrugada adentra e vão chegando meus irmãos de coração, que
carregam no peito o nosso torrão. São os centros de tradições gaúchas (CTGs)
espalhados pelo Brasil e pelo mundo. O laço cultural é elo inquebrável e transpõe as
fronteiras geográficas.
De Santa Catarina, esse estado logo acima, chegam belas prendas e
estancieiros, bravos peões e suas chinas. Somos vizinhos, somos do sul... a nossa
terra tem o mesmo céu azul, que abraça os dois estados e faz ecoar a tradição. A
arte nativa ecoa em cada passo, pois dançar é viver! Toda essa gente diz no pé, ao
som do bugio, da rancheira, do chamamé...
De uma cidade encravada nesta bela terra, chega um som diferente. Vêm de
Biguaçu os Amigos do Bom Viver. Ouço o batuque do samba e a festa está
completa. Fiz um vanerão sambado, este samba vanerado que até hoje ninguém
viu. Só pra ver como é que fica gaita-ponto com cuíca... olha só o que saiu!
Quem eu sou? Apenas mais um gaúcho... da fronteira, da capital, do Rio
Grande ou do Brasil, do Chuí ao Oiapoque. Se quiseres me encontrar, segue o rumo
do teu próprio coração, pois eu seguirei o meu. A prenda minha, onde estará?
Talvez esteja em Jaraguá, Joinville ou Blumenau, lá por Santa Catarina...
Willian Tadeu
Autor do enredo