O documento discute as pedras preciosas incolores usadas em jóias portuguesas dos séculos XVIII e XIX, incluindo quartzo, topázio e berilo. Explica que pontos negros nas pedras incolores eram na verdade tinta colocada para dar efeito. Também descreve a descoberta de topázios incolores de alta qualidade em Minas Gerais, Brasil, no início do século XIX.
Marcofilia no Algarve - Carimbos Comemorativos no Concelho de Albufeira (de 1...
Pedras Preciosas Arte Sacra
1. foi dito alguns parágrafos atrás sobre a cor das culatras nos diamantes-brilhantes, nota-se o mesmo
efeito nestas pedras incolores, mas, ao contrário dos diamantes, o efeito aqui resulta da colocação
de tinta negra na faceta. Esta situação está bem evidente nas pedras incolores que acompanham os
topázios imperiais numa guarnição de corpete da segunda metade de Setecentos, onde, a meio de
cada uma destas pedras, se consegue ver um ponto negro bem definido. d
Antes da expressão “minas novas” estar difundida, a estas gemas incolores chamavam-se “cristais”,
sendo a sua grande maioria quartzos incolores, ou cristais de rocha, havendo também topázios inco-
lores e goshenitas (berilos incolores). Acontece que, na primeira década do século xix, foi descoberto
um jazigo de topázios incolores com grande qualidade e brilho na região de Minas Novas, no actual
estado de Minas Gerais, chegando a Portugal pedras desta procedência com a designação “minas
novas”. Desde aí que, porventura por desconhecimento ou pouca aptidão gemológica, a designação
“minas novas” se estendeu às referidas gemas incolores, como o quartzo e o berilo. Em quase todos
os capítulos passados se aludiu a cada uma destas variedades incolores nos seus mais variados con-
textos tipológicos, tendo ficado a ideia de que, neste particular, o quartzo é, dentro das três, a mais
d utilizada, logo seguido do topázio e, por fim, do berilo incolor. Ilustre-se aqui, a título de comple-
Cinco trémulos em prata com pedras coloridas
(granadas, ametistas, topázio, cristal de rocha). mento, uma custódia do terceiro quartel de Setecentos com o viril decorado com uma dupla cerca-
Os trémulos tornaram-se muito populares como
acessórios de usar na cabeça, no geral, presos dura de topázios incolores em talhe rectangular e de elevado brilho. d Cumpre, por fim, referir que
a ornamentos de toucado variados.
a ideia popular de que uma jóia com “minas novas” é rara e valiosa deve decorrer da sua antiguidade
Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese
de Beja, Igreja de N.ª Sr.ª das Salas, Sines e autenticidade como peça de época e não das suas gemas, tal como é pensamento corrente.
O rol de pedrarias de cor que chegou do Brasil neste período em apreço inclui outras variedades
gemológicas que foram pontualmente aludidas ao longo dos capítulos anteriores, designadamen-
te o quartzo ametista, o citrino, a água-marinha e a granada. Os alfinetes de cabelo, uma tipologia
comum no final do século xviii e que foi criativamente decorada com pedrarias de todas as cores,
constituem uma boa montra para a exposição da quase totalidade de gemas coloridas brasileiras
da época. O tesouro da Igreja de Nossa Senhora das Salas, em Sines, reúne um invulgar número
destes ornamentos oferecidos como ex-votos a esta imagem de grande devoção das gentes desta
cidade. d Aqui se podem observar, por exemplo, quartzos ametistas, cristais de rocha, granadas e d
Ornamento de corpete em prata, totalmente decorado
com topázios imperiais e amarelos, desenhando motivos
topázios. Não raras vezes estas aplicações eram construídas na forma de trémulos, ou seja, de peças florais. O uso do topázio imperial é tido como de grande
prestígio logo a partir de meados do séc. xviii.
que, por meio de uma espiral em metal, adquiriam movimento, promovendo um maior brilho ao
Museu de Évora
conjunto. Foto: IMC /DDF / José Pessoa
Do Profano ao Religioso 135