1. AMF PRÉ-VESTIBULAR - APOSTILA DE SOCIOLOGIA
Prof. Vinícius Reccanello de Almeida
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA SOCIOLOGIA
SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA
A sociologia objetiva compreender a sociedade a
partir de um conjunto de conclusões coerentemente
estruturadas sobre a realidade social. Ela busca uma
abordagem científica da realidade. Dessa forma, a
sociologia (como ciência) pretende explicar racionalmente
os acontecimentos que têm suas origens na sociedade.
Em outras palavras, a sociologia, como toda
ciência, parte da observação sistemática de casos
particulares para daí chegar à formulação de
generalizações sobre a vida social. Portanto, a observação
sistemática dos fatos da sociedade é uma condição sem a
qual não há possibilidade de se produzir o conhecimento
sociológico.
OBJETO DE ESTUDO DA SOCIOLOGIA
O objeto de Estudo da sociologia são os problemas
sociais. A sociologia surgiu da busca por soluções
racionais, científicas, de acordo com a pretensão de Aguste
Comte, para os problemas sociais provocados pela
Revolução Industrial e pela decomposição da ordem social
aristocrática na França do início do século XIX.
O problema da falta de moradia urbana, por
exemplo, pode ser considerado um problema social por ter
conseqüências sociais.
É importante salientar que a sociologia, por outro
lado, não tem por escopo solucionar os problemas sociais,
mas tão somente explicá-los, sobretudo as suas causas. Os
problemas sociais são de interesse do sociólogo porque
são fenômenos sociais possíveis de serem observados e
compreendidos cientificamente.
No entanto, a realidade que nos circunda é
complexa. Nesse caso, para estudar os fenômenos sociais
é necessário classificá-los, como assinalou René Descartes
em sua obra Discurso do Método: “para compreender e
resolver um problema é necessário, antes de mais nada,
dividi-lo em tantas parcelas quantas pudessem ser e
fossem exigidas”.
CARACTERÍSTICAS DA SOCIOLOGIA:
OBJETIVIDADE: a sociedade deve ser observada
objetivamente, de forma científica e analítica. A
subjetividade pode não trazer consigo a verdade social,
mas o “achismo” do analisador.
NEUTRALIDADE: a sociologia, ao contrário de ética, por
exemplo, não é valorativa e, portanto, não julga o que é
bom ou mau na sociedade; nem é normativa, pois não dita
normas para as relações sociais.
TRANSITORIEDADE: A sociologia não almeja explicar tudo
o que ocorre na sociedade, mas apenas o que é de algum
modo observável nas relações sociais. O que não é
observável poderá vir a sê-lo no futuro. A ciência é um
processo de pesquisa contínua e de ininterrupta
reformulação de teorias.
SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA
O século XVIII tornou-se um marco importante para
a história do pensamento ocidental, dadas as
transformações econômicas, políticas e culturais que se
aceleraram nesse período e que apresentaram problemas
inéditos para as sociedades.
A Revolução Industrial, um dos fatos que
contribuíram para o início da sociologia, não se restringiu à
introdução de máquinas e aperfeiçoamento dos modos de
produção. Também representou o triunfo da indústria,
comandada pelo empresário capitalista que, pouco a pouco,
concentrou a propriedade das máquinas, das ferramentas e
das terras, transformando populações inteiras em
trabalhadores despossuídos e recrudescendo o aumento da
desigualdade social.
A Revolução Francesa também merece destaque,
visto que trouxe reformas sociais. A França forneceu as
idéias, o vocabulário do nacionalismo e os temas da política
liberal para a maior parte do mundo. As exigências da
burguesia foram delineadas na Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão de 1789. O desejo primordial foi a
formação de uma sociedade democrática e igualitária.
Entretanto, ao final da Revolução Francesa, os
anseios de igualdade social viram-se frustrados, pois a
burguesia conservava a hegemonia política e, por esse
motivo, impunha os interesses de sua classe social. A
igualdade política ficou comprometida, pois os direitos de
votar e ser votado ficaram, de fato, restritos à elite
econômica.
A partir do Iluminismo ocorreu uma transformação
que promoveu uma progressiva substituição das crenças
pela indagação racional como explicação para os
fenômenos naturais. Os iluministas, pensadores dessa
corrente, acreditavam que o uso sistemático da razão
levaria o ser humano à compreensão de todas as áreas do
conhecimento e, por esse motivo, pregavam o uso da razão
pura que será.
Já o Positivismo, escola também surgida no final
do século XVIII, propõe a infalibilidade, a objetividade e a
exatidão da ciência. O positivismo estabeleceu critérios
rígidos para a ciência e propõe que toda afirmação e toda
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lei deve apoiar-se na observação dos fatos, nas provas
recolhidas pelos pesquisadores. Quando o pensamento
sociológico se organizou, adotou o positivismo para definir o
objeto, estabelecer conceitos e uma metodologia de
investigação para a sociologia. Comte foi seu principal
representante e é considerado o fundador da sociologia
como ciência. Os positivistas apresentaram um esforço
concreto de análise científica da sociedade.
2 A SOCIOLOGIA CLÁSSICA
Auguste Comte
Comte foi fundador da sociologia, preocupou-se
com a compreensão dos problemas sociais resultantes das
transformações econômicas, sociais, políticas e culturais
trazidas pela Revolução Industrial e pela Revolução
Francesa. Foi, assim, o primeiro a mencionar a
necessidade de se estabelecer uma ciência responsável
pela compreensão da sociedade. Em seu curso de filosofia
positiva, em 1839, recorreu à utilização do termo sociologia
para se referir ao estudo da sociedade.
“Física Social”
As ciências, no decurso da história, não se tornaram
"positivas" na mesma data, mas numa certa ordem de
sucessão que corresponde à célebre classificação:
matemáticas, astronomia, física, química, biologia,
sociologia.
Das matemáticas à sociologia a ordem é a do mais
simples ao mais complexo, do mais abstrato ao mais
concreto e de uma proximidade crescente em relação ao
homem.
Assim, no topo da pirâmide das ciências estaria a
sociologia, a qual foi denominada por Auguste Comte como
a “física social”. Todo ser humano deveria ter conhecimento
dessa disciplina tão importante para o desenvolvimento da
sociedade.
Lei dos Três Estados
O espírito humano, em seu esforço para explicar o
universo, passa sucessivamente por três estados:
ESTADO TEOLÓGICO OU "FICTÍCIO": explica os fatos
por meio de vontades análogas à nossa (a tempestade, por
exemplo, será explicada por um capricho do deus dos
ventos, Eolo). Este estado evolui do fetichismo ao
politeísmo e ao monoteísmo.
ESTADO METAFÍSICO: substitui os deuses por princípios
abstratos como "o horror ao vazio", por longo tempo
atribuído à natureza. A tempestade, por exemplo, será
explicada pela "virtude dinâmica" do ar. Este estado é no
fundo tão antropomórfico quanto o primeiro (a natureza tem
"horror" do vazio exatamente como a senhora Baronesa
tem horror de chá). O homem projeta espontaneamente sua
própria psicologia sobre a natureza. A explicação dita
teológica ou metafísica é uma explicação ingenuamente
psicológica. A explicação metafísica tem para Comte uma
importância, sobretudo histórica como crítica e negação da
explicação teológica precedente. Desse modo, os
revolucionários de 1789 são "metafísicos" quando evocam
os "direitos" do homem - reivindicação crítica contra os
deveres teológicos anteriores, mas sem conteúdo real.
ESTADO POSITIVO: é aquele em que o espírito renuncia a
procurar os fins últimos e a responder aos últimos "por
quês". A noção de causa (transposição abusiva de nossa
experiência interior do querer para a natureza) é por ele
substituída pela noção de lei. Contentar-nos-emos em
descrever como os fatos se passam, em descobrir as leis
(exprimíveis em linguagem matemática) segundo as quais
os fenômenos se encadeiam uns nos outros. Tal concepção
do saber desemboca diretamente na técnica: o
conhecimento das leis positivas da natureza nos permite,
com efeito, quando um fenômeno é dado, prever o
fenômeno que se seguirá e, eventualmente agindo sobre o
primeiro, transformar o segundo. ("Ciência donde previsão,
previsão donde ação").
Herbert Spencer
Spencer foi o primeiro sociólogo inglês. Ele
acreditava, assim como Comte, que os agrupamentos
humanos podiam ser estudados cientificamente. Em sua
obra “Os princípios da sociologia”, ele desenvolveu uma
teoria de organização do homem, apresentando uma vasta
série de dados históricos e etnográficos para fundamentá-
la. Para Spencer, todos os domínios do universo – físico,
biológico e social – desenvolvem-se segundo princípios
semelhantes. A tarefa da sociologia é aplicar esses
princípios ao que ele denominou de campo
superorgânico.
Para Spencer a evolução da sociedade engloba o
crescimento e a complexidade que é gerenciada pela
interdependência e pelo poder. Se os padrões da
interdependência e as concentrações de poder falham ao
surgir a sociedade, ou são inadequados à tarefa, ocorre a
dissolução e a sociedade se desmorona.
Funções-chave em uma sociedade complexa
As sociedades complexas revelam divisões e
padrões de especialização:
Operacional (reprodução e produção);
Distribuidora (fluxo de materiais e informação);
Reguladora (concentração de poder para regular
e coordenar);
Teoria do funcionalismo
Essa teoria expressa a idéia de que tudo o que
existe em uma sociedade contribui para o seu
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funcionamento equilibrado; tudo que nela existe tem um
sentido, um significado.
Emile Durkhein
Esse sociólogo positivista se empenhou para
conferir à sociologia o status científico. A objetividade e a
identidade na análise da vida social foram questões
fundamentais na sua proposição do método sociológico.
Para Durkheim, a sociedade não é a “simples soma
de indivíduos”; ela constitui um sistema que representa
determinada realidade com características próprias. Para
que exista o coletivo, as consciências individuais devem
estar associadas de algum modo.
Assim, a teoria dos fatos sociais é o ponto de
partida dos estudos de Durkheim. Três características
distinguem os fatos sociais:
COERÇÃO SOCIAL: liga-se à força que os fatos sociais
exercem sobre os indivíduos e que os levam a conformar-
se às regras da sociedade em que vivem,
independentemente de sua escolha ou vontade.
EXTERIORIDADE: os fatos sociais existem e atuam sobre
os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua
adesão. As regras sociais, os costumes e as leis já existem.
GENERALIDADE: é social todo fato que é geral, que se
aplica a todos os indivíduos ou à maioria deles. Na
generalidade encontra-se a natureza coletiva dos fatos
sociais, seu estado comum ao grupo.
A educação para Durkheim
Cabe à educação, seja ela formal ou não, a
importante tarefa da conformação dos indivíduos à
sociedade em que vivem. As regras devem ser aprendidas,
internalizadas e transformadas em hábitos de conduta.
Toda sociedade tem que educar os indivíduos para que
aprendam as regras necessárias à organização da vida
social.
Solidariedade Mecânica e Solidariedade Orgânica
A solidariedade é formada pelos laços que unem
cada indivíduo ao grupo.
A solidariedade é chamada de mecânica quando
liga diretamente o indivíduo à sociedade, sem nenhum
intermediário (o indivíduo não se pertence), constituindo-se
em um conjunto mais ou menos organizado de crenças e
sentimentos comuns a todos os membros do grupo: é o
chamado tipo coletivo.
Durkheim, ainda sobre a solidariedade mecânica,
diferencia a densidade moral da densidade material: a
primeira é resultado da generalização das relações sociais
que se tornam mais numerosas e se estendem. Já a
segunda corresponde à concentração da população, à
formação de cidades, ao aumento da natalidade e das vias
de comunicação e transmissão rápidas e em quantidade,
suprimindo ou diminuindo os vazios que separavam os
segmentos sociais.
A solidariedade orgânica se acentua à medida
que a divisão do trabalho aumenta, gerando um processo
de individualização. Sendo essa sociedade um sistema de
funções diferentes e especiais, onde cada órgão tem um
papel diferenciado, a função que o indivíduo desempenha é
o que marca seu lugar na sociedade.
Livro: “O suicídio”
Para Durkheim, a sociedade age sobre o indivíduo.
Cada grupo social tem uma inclinação para o suicídio, e
desta derivam as inclinações individuais. Trata-se das
correntes de “egoísmo”, de “altruísmo” e de “anomia” que
afligem a sociedade.
SUICÍDIO EGOÍSTA: é causado pela decepção, pela
melancolia e pela sensação de desamparo moral,
provocadas pela desintegração social. Atualmente, isso
pode ser compreendido no mundo capitalista, cada vez
mais individualista, em que as pessoas valorizam mais o
“ter” do que o “ser”.
SUICÍDIO ALTRUÍSTA: é mais freqüente em “sociedades
inferiores”, chamadas também de primitivas. São exemplos:
enfermos ou pessoas que chegam ao limiar da velhice,
viúvas por ocasião da morte do marido, etc.
SUICÍDIO ANÔMICO: é aquele que se deve a um estado
de desregramento social no qual as normas estão ausentes
ou perderam respeito. Como exemplo, podemos citar como
fatos que provocam a anomia: corrupção praticada por
políticos e funcionários públicos, a frieza da sociedade
moderna, bem como sua falta de diálogo coletivo, o divórcio
etc.
Karl Marx
Sua obra “O Capital” é considerada sua obra-prima,
centro de seu pensamento. Marx teve como objetivo
analisar o funcionamento do capitalismo e prever sua
evolução. Contudo, seu esforço foi concentrado para
demonstrar cientificamente a evolução do regime
capitalista, inevitável, segundo sua opinião.
Enquanto o positivismo se preocupa com a
manutenção da ordem capitalista, o marxismo elabora uma
crítica radical ao capitalismo, evidenciando seus
antagonismos e suas contradições.
RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO: constituem a base
de toda estrutura social. São elas que definem os dois
grupos da sociedade capitalista: de um lado os
trabalhadores, aqueles que nada possuem além do corpo e
da disposição para o trabalho, também chamados de
proletários ou operários; do outro, os capitalistas, que
possuem os meios de produção necessários para
transformar a natureza e produzir mercadorias.
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MAIS VALIA: o capitalista paga um salário ao trabalhador e,
no final da produção, fica com o lucro, valor a mais que não
retorna ao operário, incorpora-se na mercadoria e é
apropriado pelo capitalista. Esse valor excedente produzido
pelo operário é a Mais Valia. A história da humanidade é,
para Marx, a história da luta de classes, da luta constante
entre interesses que se opõem, embora esse conflito nem
sempre se manifeste de forma clara.
MATERIALISMO HISTÓRICO: as relações materiais que os
homens estabelecem, o modo como produzem seus meios
de vida formam a base de todas as suas relações. Mas
esse modo de produção não corresponde à mera
reprodução da existência física dos indivíduos. A forma
como os indivíduos manifestam sua vida reflete muito
exatamente aquilo que são. O que são coincide, portanto,
com a sua produção, isto é, tanto com aquilo que produzem
como com a forma como produzem.
Ao adquirirem novas forças produtivas, os homens
mudam seu modo de produção e com o modo de produção
mudam as relações econômicas, que não eram mais que as
relações necessárias daquele modo concreto de produção.
IDEOLOGIA: segundo o materialismo dialético marxista, as
idéias devem ser compreendidas no contexto histórico
vivido pela comunidade. No entanto, Marx vai além,
mostrando que muitas vezes esse conhecimento aparece
de maneira distorcida, como ideologia, ou seja, como
conhecimento ilusório que tem por finalidade mascarar os
conflitos sociais e garantir a dominação de uma classe
sobre outra, quando se vive em uma sociedade dividida em
classes, com interesses antagônicos.
Para Marx, as concepções filosóficas, éticas,
políticas, estéticas, religiosas da burguesia são estendidas
para o proletariado, perpetuando os valores a elas
subjacentes como verdades universais. E desse modo,
impedem que a classe submetida desenvolva uma visão do
mundo mais universal e lute por sua autonomia.
PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO: Um primeiro pressuposto
de toda existência humana e, portanto, de toda história, é
que os homens devem estar em condições de poder viver a
fim de fazer a história. Mas, para viver, é necessário, antes
de tudo, beber, comer, ter um teto onde se abrigar, vestir-se
etc. O processo de produção e reprodução da vida através
do trabalho é, para Marx, a principal atividade humana,
aquela que constitui sua história social; é o fundamento do
materialismo histórico, o método de análise da vida
econômica, social política e intelectual.
INFRA-ESTRUTURA E SUPERESTRUTURA: A infra-
estrutura é o conjunto de forças produtivas e das relações
sociais de produção. É a base sobre a qual se constituem
as demais instituições sociais. Já as ideologias políticas, as
concepções religiosas, os códigos morais e estéticos, os
sistemas legais, de ensino, de comunicação, o
conhecimento filosófico e científico, as representações
coletivas etc, constituem a superestrutura.
Max Weber
Para Weber, a pesquisa histórica é essencial para a
compreensão das sociedades. Para esse autor, é a
pesquisa baseada em fontes documentais e no esforço de
interpretá-las que permite a compreensão das diferenças
sociais. O conhecimento histórico é um poderoso
instrumento para a sociologia. Por isso os seguidores de
Weber são chamados de weberianos ou historicistas.
DIFERENÇA ENTRE DURKHEIM E WEBER:
Durkheim pretendia fazer da Sociologia uma
ciência tão racional e objetiva quanto à Física ou
a Biologia. Mas, como fazer isso, se a Sociologia
lida com seres humanos que mudam a todo
momento, que têm sentimentos, emoções, idéias
e vontade própria, ao contrário dos fenômenos
físicos ou biológicos?
Durkheim tentou resolver esse complexo
problema postulando como princípio fundamental
da Sociologia que os fatos sociais devem ser
considerados como coisas, assim como uma
reação química é uma “coisa” para um químico,
isto é, algo objetivo, capaz de ser estudado,
analisado, compreendido e explicado
racionalmente.
Os fatos sociais seriam, assim, coisas externas e
objetivas, que não dependem da consciência
individual das pessoas para existir.
Os fatos sociais, dizia Durkheim, são “maneiras
coletivas de agir ou de pensar” que podem ser
reconhecidas pelo fato de exercerem uma
“influência coercitiva sobre as consciências
particulares”. Ou seja, os fatos sociais têm
existência própria e são capazes de obrigar
(influência coercitiva) as pessoas a se comportar
desta ou daquela maneira.
Para Weber, os métodos e investigação da
Sociologia não deveriam seguir o caminho aberto
pelas Ciências Naturais, como queria Durkheim.
Isso porque os fatos humanos têm também uma
dimensão subjetiva – formada pela consciência
pelas intenções das pessoas - o que não ocorre
com os fenômenos da natureza.
AÇÃO SOCIAL: Weber definia a sociologia como “uma
ciência voltada para a compreensão interpretativa da
ação social e, por essa via, para sua explicação causal
no seu transcurso e nos seus efeitos”. Por ação social
Weber entendia uma modalidade de conduta dotada
de sentido e voltada para a ação de outras pessoas.
Contudo, nem toda espécie de ação constitui uma
ação social. Por exemplo, não há contato social no fato
de duas pessoas se cruzarem em uma rua. Haveria,
apenas, no caso dessas pessoas se cumprimentarem.
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TIPOS DE AÇÃO SOCIAL: São quatro os tipos de
ação social:
- Ação racional com relação a um objetivo: é
definida pelo fato de que o indivíduo concebe seu
objetivo com base em seus conhecimentos e combina
os meios possíveis para atingi-lo. Exemplos: a ação do
engenheiro ao construir um edifício.
- Ação racional com relação a um valor:
corresponde ao indivíduo que age racionalmente para
permanecer fiel à sua idéia de honra. É, por exemplo,
a ação do capitão que afunda com seu navio.
- Ação emocional ou afetiva: é ditada pelo estado de
consciência ou humor do indivíduo. É o soco dado por
um jogador de futebol que perdeu o controle durante a
partida. Pode ser também o grito de gol da torcida.
- Ação tradicional: é aquela estabelecida pelas
crenças, pelos hábitos e pelos costumes. Exemplo: o
ato de ir à Igreja.
Livro: “A ética protestante e o espírito do capitalismo”
Nesse livro Weber chamou a atenção para a
relação entre uma ética que valorizava o trabalho árduo e o
espírito de poupança, a ética calvinista, ou puritana – um
ramo da religião protestante -, e o espírito racional da
burguesia dos séculos XVI e XVII. O espírito de certo
protestantismo ajusta-se à adoção d determinada atitude
em relação à atividade econômica, que é adequada ao
espírito do capitalismo.
Classes, Estamentos e Partidos
Para Weber, as classificações que ocorrem na
sociedade (classes, estamentos, partidos) são
conseqüências da distribuição de poder; para ele tudo é
influenciado pelo poder, principalmente o poder econômico,
mesmo este não sendo reconhecido (geralmente) como
base de honras sociais, a forma que essas honras são
distribuídas é chamada de ordem social.
Para uma pessoa estar numa classe ela deve se
encontrar numa situação de classe comum às outras
pessoas da classe. Porém, as classes não devem ser
confundidas com comunidades, pois a ação comunitária
que cria a situação de classe é uma ação entre membros
de classes diferentes. As principais categorias para se
classificar alguém numa situação de classe é a
“propriedade” ou a “falta de propriedade”. As propriedades
se distinguem pelo seu tipo e pelo tipo de serviço prestado,
quem não tem propriedade se diferencia pelo tipo de
serviço que presta e pela forma que faz uso deste serviço,
como isso é uma situação de mercado, nesse caso a
situação de classe é uma situação de mercado.
Os estamentos são diferentes das classes pois
eles são comunidades e são determinados pela honra e
não pela situação econômica. Um estamento pode evoluir
para uma “casta” fechada, mas só chegam a esse ponto
quando há grandes diferenças “étnicas”. As classes se
estratificam de acordo com suas relações com a produção
e aquisição de bens enquanto os estamentos se
estratificam de acordo com os princípios de seu consumo
de bens, representado por estilos de vida especiais.
Os partidos vivem sob o signo do “poder” e tem em
oposição às classes e ao estamento que suas ações
significam sempre uma socialização e a meta dessa ação
pode ser uma causa ou ser pessoal; sua reação é orientada
para a aquisição de poder e pretendem influenciar o
domínio existente. Os partidos podem representar situações
classistas ou estamental.
Assim, Weber definiu os termos com base nas
relações econômicas e de poder, fala pouco sobre luta de
classes (só faz um pequeno resumo cronológico de como
essas lutas vem evoluindo no decorrer do tempo), , dá
impressão que ele pensa como um cientista e não como
uma pessoa da sociedade como nos textos de Marx que
foram lidos.
Monopólio da força legítima
Para Weber, o Estado é a instituição social que
dispõe do monopólio do emprego da força legítima sobre
um determinado território. A expressão “força legítima”
pressupõe que o Estado tem o direito de recorrer à força
sempre que isso seja necessário, e que esse direito é
reconhecido pela sociedade sobre a qual esse Estado
exerce seu poder. É diferente, por exemplo, da violência
utilizada por malfeitores, considerada ilegítima.
Nas democracias modernas, a lei confere ao Estado
o direito de recorrer a várias formas de pressão, inclusive a
violência, para que suas decisões sejam obedecidas.
O poder do Estado
Segundo ainda Max Weber, o termo poder, em
sentido amplo, designa “a probabilidade de impor a própria
vontade dentro de uma relação social, mesmo contra toda
resistência”. Poder significa, assim, a probabilidade de
alguém se fazer obedecer por outra pessoa.
Nas democracias representativas, o poder do
Estado tem por base uma Constituição livremente
elaborada e aprovada por uma assembléia de pessoas
eleitas com essa finalidade, a Assembléia Constituinte.
ASPECTOS GERAIS SOBRE A SOCIEDADE HUMANA
A espécie humana (homo sapiens sapiens) sempre
se constituiu por meio de grupos. Uma de suas
características é a comunicabilidade humana. O homem
transmite idéias, sentimentos, sons, interesses, emoções, e
essa capacidade evoluiu ao longo do tempo, passando de
gestos e sinais ao desenvolvimento da linguagem e às
primeiras manifestações artísticas – ainda no período
paleolítico (190000 a.C. – 8000 a.C.) – e à escrita, criadas
em diferentes regiões do planeta.
A tendência do ser humano a viver em grupo pode
ser comprovada de forma positiva pela experiência
empírica, cotidiana: seja na escola, na família ou no país,
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fazemos parte de um conjunto mais amplo de pessoas
ligado a um conjunto ainda maior, a sociedade em que
vivemos.
SOCIALIZAÇÃO
É na vida em grupo que as pessoas se tornam
realmente humanos. A sociabilidade, capacidade natural da
espécie humana para viver em sociedade, desenvolve-se
pelo processo de socialização. Para os sociólogos Brigitte
Berger e Peter Berger, a socialização “é o processo pelo
qual o indivíduo aprende a ser membro da sociedade”.
Ou seja, a socialização é um processo pelo qual o
mundo social, com seus significados, hábitos de vida e
valores, penetra na mente da criança e passa a fazer parte
de seu mundo interior. E a socialização varia de sociedade
para sociedade ou mesmo de grupo para grupo. Têm-se
como exemplo os contrastes existentes entre os padrões de
vida no Oriente Médio e no mundo Ocidental.
Com a globalização e o advento de novas
tecnologias de comunicação, o tempo histórico se acelerou
e profundas transformações começaram a ocorrer em todas
as esferas da sociedade. Nos grandes centros urbanos, o
tribalismo se tornou uma das formas de expressão dos
novos tipos de sociabilidade. Exemplos desses novos
grupos são os punks, os skinheads, as torcidas organizadas
de futebol e as gangues da periferia urbana.
ISOLAMENTO SOCIAL
Por outro lado, a ausência de contatos sociais
caracteriza o isolamento social. As comunidades amish nos
EUA, por exemplo, vivem em situação de relativo
isolamento social em relação à sociedade norte-americana.
Trata-se, nesse caso, de um autoisolamento, pois os amish
rejeitam os valores da sociedade industrial.
As atitudes de ordem social podem envolver
diferenças culturais, como as de costumes e de hábitos de
vida, entre dois grupos, ou a impossibilidade de
comunicação em razão das diferenças de língua. Outra
causa de isolamento podem ser vários tipos de preconceito
(racial, religioso, de sexo etc), tendo como exemplo o
antissemitismo (contra judeus) e o apartheid (contra negros
– África do Sul).
Segundo o sociólogo Karl Mannheim, a timidez, o
preconceito e a desconfiança também podem levar o
indivíduo a um isolamento semelhante ao dos deficientes
físicos, muitas vezes segregados dentro do seu próprio
grupo primário.
INTERAÇÃO E INTERATIVIDADE
A interação social supõe, assim, a existência de
reciprocidade nas ações entre indivíduos. Entretanto, com o
desenvolvimento dos meios de comunicação, novos tipos
de contato social vêm se afirmando. Para explicá-los
teoricamente, foi criado o conceito de interatividade.
Interatividade é a troca simultânea de informações e
o acesso imediato a qualquer parte do mundo; ela traduz,
particularmente, uma qualidade técnica das chamadas
“máquinas inteligentes”.
Em seu livro Cibercultura (1997), Pierre Lévy se
refere a diferentes tipos de interatividade:
MENSAGEM LINEAR: se dá por intermédio de
meios de comunicação como a imprensa, o rádio, a TV,
o cinema e até as conferências eletrônicas.
MENSAGEM PARTICIPATIVA: é aquela que utiliza
dispositivos como os videogames, redes de
computadores, sites de busca, endereços eletrônicos
etc.
RELAÇÕES SOCIAIS
A relação social tem por base um comportamento
recíproco entre duas ou mais pessoas. Nos termos de Max
Weber, essa reciprocidade é dotada de um sentido comum
às pessoas envolvidas. As relações de autoridade-
obediência, por exemplo, são relações sociais, pois
envolvem pessoas que exercem a autoridade e pessoas
que obedecem, as quais se submetem às vezes a
contragosto.
Em uma perspectiva diferente, Karl Marx
considerava que as relações sociais eram decorrentes das
relações de produção, ou seja, das relações desenvolvidas
no processo produtivo, material, da sociedade. Um exemplo
típico dessas relações seria a existente entre o dono da
fábrica e seus empregados. Ainda, para Marx, as relações
sociais também se constituem na sala de aula, nos laços
familiares, nos vínculos entre as instituições etc.
PROCESSOS ASSOCIATIVOS E DISSOCIATIVOS
Os processos associativos estabelecem formas de
cooperação, convivência e consenso no grupo. Geram,
portanto, laços de solidariedade. Já os dissociativos estão
relacionados a formas de divergência, oposição e conflito,
que podem se manifestar de modos diferentes. São
responsáveis por tensões no interior da sociedade. Os
principais processos sociais associativos são a
cooperação, a acomodação e a assimilação. Os
principais processos dissociativos são a competição e o
conflito.
COOPERAÇÃO: são exemplos: reunião de vizinhos
para limpar a rua, ou de pessoas para fazer uma festa;
sociedades cooperativas, etc.
COMPETIÇÃO: é uma forma de interação que
envolve luta ou disputa por bens limitados ou escassos.
Contudo, a competição tende a excluir o uso da força.
Isso porque ela constitui um tipo de interação regulada
por normas, por leis, ou mesmo pelos costumes.
Quando a competição viola essas normas, transforma-
se em conflito.
CONFLITO: Quando a competição assume
características de elevada tensão social, sobrevém o
conflito. O conflito social é um tipo de interação que se
desenrola no tempo e provoca mudanças na sociedade.
Exemplos: combates na Colômbia entre tropas do
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governo e guerrilheiros ou narcotraficantes; ocupações
de fazendas pelo MST no interior do Brasil, ás vezes
seguidas de assassinatos; terrorismo.
ACOMODAÇÃO: em alguns casos, o derrotado no
conflito pode aceitar as condições impostas pelo
vencedor para fugir à ameaça da destruição. A
escravização de povos vencidos, comum na
Antiguidade, é um caso típico de acomodação.
ASSIMILAÇÃO: é a solução definitiva e mais ou
menos pacífica de um conflito social. Trata-se de um
processo de ajustamento pelo qual os indivíduos ou
grupos antagônicos tornam-se semelhantes. Um
exemplo de assimilação é o do imigrante que se integra
inteiramente à sociedade que o acolhe.
COMUNIDADE
As comunidades possuem características comuns
que as identificam:
NITIDEZ: são os limites territoriais da comunidade, ou
seja, onde ela começa e onde termina do ponto de vista
espacial-geográfico.
PEQUENEZ: a comunidade é uma unidade de
pequenas dimensões, limitando-se quase sempre a
uma aldeia ou conjunto de aldeias.
HOMOGENEIDADE: as atividades desenvolvidas por
pessoas de mesmo sexo e faixa de idade, assim como
suas expectativas, são muito parecidas entre si; o modo
de vida de uma geração é semelhante ao da
precedente.
RELAÇÕES PESSOAIS: em uma comunidade, as
pessoas se relacionam por meio de vínculos pessoais,
diretos e geralmente de caráter efetivo ou emocional.
Predominam, portanto, os contatos primários sobre os
secundários.
São exemplos de comunidades: punks, hippies,
skinheads, gays, além das novas comunidades virtuais
como o Orkut, o Facebook, o MSN, etc.
Assim, a comunidade é um tipo de agrupamento
humano no qual se observa um elevado grau de intimidade
e coesão entre seus membros. Nela predominam os
contatos sociais primários e a família tem um papel
especial. A sociedade, em contrapartida, é formada por um
conjunto de leis e regulamentos racionalmente elaborados.
É o que ocorre, por exemplo, nas grandes sociedades
urbanas industriais. Portanto, a expressão sociedade
designa agrupamentos humanos que se caracterizam pelo
predomínio de contatos sociais secundários e
impessoais, havendo complexa divisão do trabalho e o
Estado é sustentado pelo forte aparato burocrático.
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA
Algumas características da sociedade
contemporânea atuam no sentido de desagregar valores
cultivados não só nas antigas comunidades, mas também
na própria sociedade societária até meados do século XX.
Entre esses valores estão a solidariedade, a vida familiar, a
igualdade de oportunidades, a participação política, etc.
Entretanto, no interior da própria sociedade
societária moderna existem forças que se opõem
fortemente a essas tendências desagregadoras. Isso
acontece porque as sociedades pós-industriais são
geralmente sociedades democráticas.
O regime democrático se caracteriza pela liberdade,
pelo respeito aos direitos humanos, pelo “império da lei”
(todos são iguais perante a lei, ninguém está acima dela),
pela pluralidade de partidos, pelo voto livre e universal e
pela alternância no poder. Nessas condições, ele favorece
a participação política e estimula a associação de pessoas
em torno de interesses comuns, como sindicatos,
organizações estudantis, associações de bairro,
movimentos reivindicatórios, etc. Ambas as tendências, por
sua vez, favorecem o estreitamento dos laços entre os
participantes, a solidariedade e a agregação de interesses.
Um dos fundamentos do regime democrático é o
conceito de cidadania. Segundo o sociólogo Herbert de
Souza (Betinho), “cidadão é um indivíduo que tem
consciência de seus direitos e deveres e participa
ativamente de todas as questões da cidade. Tudo o que
acontece no mundo, acontece comigo. Então eu preciso
participar das decisões que interferem na minha vida. Um
cidadão com um sentimento ético forte e consciente da
cidadania não deixa passar nada, não abre mão desse
poder de participação (...).”
“Cidadania” – afirma o jornalista e escritor Gilberto
Dimenstein – “é o direito de se ter uma idéia e poder
expressá-la. É poder votar em quem quiser sem
constrangimento. É processar um médico que cometa um
erro. É devolver um produto estragado e receber o dinheiro
de volta. É o direito de ser negro sem ser discriminado, de
praticar uma religião sem ser perseguido.
Há detalhes que parecem insignificantes, mas que
revelam estágios de cidadania: respeitar o sinal vermelho
no trânsito, não jogar papel na rua, não destruir telefones
públicos. Por trás desse comportamento está o respeito à
coisa pública.”
ESTRATIFICAÇÃO E MOBILIDADE SOCIAL
Por estratificação social entendemos a distribuição
de pessoas e grupos em camadas hierarquicamente
superpostas dentro de uma sociedade. Essa distribuição se
dá pela posição social dos indivíduos, das atividades que
eles exercem e dos papéis que desempenham na estrutura
social.
Podemos dizer que, em certas sociedades, as
pessoas a elas pertencentes estão distribuídas entre as
camadas alta (classe A), média (classe B) ou inferior
(classe C), que correspondem a graus diferentes de poder,
riqueza e prestígio.
Podemos ressaltar desde já que estratificação
social não é sinônimo de desigualdade social.
São tipos de estratificação:
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Estratificação Econômica: definida pela posse de
bens materiais, cuja distribuição pouco equitativa faz
com que haja pessoas ricas, pobres e em situação
intermediária.
Estratificação Política: estabelecida pela posição de
mando na sociedade (grupos que têm poder e grupos
que não têm). Geralmente, as pessoas mais ricas
detêm também mais poder.
Estratificação Profissional: baseada nos diferentes
graus de importância a cada profissional pela
sociedade. Por exemplo, em nossa sociedade a
profissão de médico é muito mais valorizada do que a
de pedreiro.
SOCIEDADES ESTRATIFICADAS
O sistema de castas
Nesse tipo de sociedade não há mobilidade social.
A posição social é atribuída ao indivíduo por ocasião do
nascimento, independentemente de sua vontade. A pessoa
carrega consigo, pelo resta da vida, esse status social
herdado de seus ancestrais.
As castas são grupos fechados, cujos integrantes
devem se comportar de acordo com normas
preestabelecidas de origem religiosa. Em certas regiões da
Índia o casamento só é permitido entre pessoas da mesma
casta.
Pode-se esquematizar a estratificação social
indiana por meio da seguinte hierarquia, que apresenta
apenas as castas principais, já que existem na Índia mais
de 2 mil castas:
BRÂMANES: são os sacerdotes da religião hinduísta e os
mestres da erudição sacra. Segundo sua crença, a eles
compete preservar a ordem social, estabelecida por
orientação divina.
XÁTRIAS: são os guerreiros que formam a aristocracia
militar.
VAIXÁS: é formada pelos comerciantes, artesãos e
camponeses.
SUDRAS: formam a base da pirâmide. Eles executam
trabalhos manuais e diversas tarefas servis. São uma casta
depreciada, tendo o dever de servir as três castas
“superiores”.
Fora do sistema de castas estão os párias, também
chamados de intocáveis. Eles são desprovidos de direitos e
não tem profissão definida. São eles que executam as
tarefas consideradas “sujas”, como coletar o lixo, limpar
fossas e lavar cadáveres. Os párias não podem banhar-se
nas águas sagradas do Rio Ganges, nem ler os Vedas, que
são os livros sagrados dos hindus.
Apesar de a Constituição indiana ter abolido o
sistema de castas há mais de 50 anos, a divisão social
baseada nas crenças do hinduísmo ainda persiste na Índia,
que tem hoje mais de 2 mil castas e 20 mil subcastas.
Mesmo assim, na segunda metade do século XX, reformas
sociais e mudanças na economia da Índia, impulsionadas
pela industrialização, começaram a romper o sistema de
divisão em castas. Assim, nos grandes centros urbanos do
país, como Nova Délhi, Bombaim e Calcutá, a abolição do
sistema vem ocorrendo gradativamente. Entretanto, ele
ainda perdura na maior parte da Índia rural.
A sociedade estamental
O grande exemplo de sociedade estratificada em
estamentos foi o modo de produção feudal, vigente na
Idade Média. Para o sociólogo alemão Max Weber, o
conceito de estamento está ligado a certos valores, como
honra e prestígio social, que por sua vez expressam
determinados estilos de vida.
O estamento é uma camada social semifechada. A
posição social de uma pessoa nesse regime também lhe é
atribuída desde o nascimento. Na sociedade estamental, a
mobilidade social é difícil, mas não impossível, ao contrário
do que ocorre na sociedade estratificada de castas.
Na sociedade feudal, a ascensão era possível. Por
exemplo: os servos poderiam ser emancipados por seus
senhores; o rei poderia conferir um título de nobreza a um
homem do povo; a filha de um comerciante poderia se
casar com um nobre, etc.
A pirâmide feudal era assim hierarquizada: nobreza
e alto clero, comerciantes, artesãos, camponeses livres e
baixo clero, servos.
A sociedade de classes
Marx dizia que a história da humanidade é “a
história da luta de classes”. As classes sociais eram para
Marx a burguesia e o proletariado. Ainda, para esse filósofo,
os conflitos constituem o principal fator de mudança social.
Por outro lado, as classes sociais mudam ao longo
do tempo, conforme as circunstâncias econômicas, políticas
e sociais. As contradições que mantêm entre si forjam e
estruturam a própria sociedade. Quando os conflitos
chegam a um ponto insuportável, ocorre uma revolução que
transforma a sociedade, modificando o modo de produção.
No sistema de classes há grande mobilidade social.
As pessoas que integram o estrato de baixa renda (classe
C), podem eventualmente ascender ao estrato de renda
média (classe B) ou, mais raramente, ao de alta renda
(classe A), como ocorreu com o empresário Sílvio Santos.
A mobilidade social pode ser vertical ou horizontal.
A vertical varia de acordo com a renda. O sujeito sofre
ascensão social quando melhora sua posição no sistema de
estratificação social, passando a integrar um grupo
econômico superior. Por outro lado, se a posição do
indivíduo piora economicamente (perda do emprego, perda
de um cargo importante, falência de uma empresa), há
queda social.
Quando a pessoa experimenta alguma mudança de
posição social, mas que, apesar disso, permanece no
mesmo estrato social (mesma classe), então a mobilidade é
chamada de horizontal. É o caso da família que se muda do
interior para a capital e passa a conhecer novos serviços,
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nova cultura, novos lugares, mas continua pertencendo à
classe C, por exemplo, pois possui a mesma renda.
CULTURA
A cultura é a nossa herança social.
Independentemente de qualquer definição adotada, todos
os estudiosos concordam que a aquisição e a perpetuação
da cultura é um processo social, resultante da
aprendizagem. Cada sociedade transmite às novas
gerações o patrimônio cultural que recebeu de seus
antepassados.
Cada sociedade elabora sua própria cultura ao
longo da história. Todas as sociedades, desde as mais
simples até as mais complexas, têm sua própria cultura.
Não há sociedade sem cultura.
A cultura pode ser definida como um estilo de vida
próprio, um modo de vida particular que todas as
sociedades desenvolvem e que caracteriza cada uma
delas. Assim, os indivíduos que compartilham a mesma
cultura apresentam o que se chama de identidade cultural.
Multiculturalismo
São características do multiculturalismo:
reconhecimento da filiação de cada pessoa a um grupo
cultural; destaque à herança cultural de cada grupo, para
que os demais possam apreciá-la e respeitá-la; afirmação
da equivalência dos vários grupos étnico-culturais de uma
dada sociedade; postulação do direito dos grupos sociais
manterem sua singularidade cultural; enaltecimento da
diversidade.
Nos Estados Unidos, o multiculturalismo tomou
vulto nos últimos dez anos, em resposta às atitudes racistas
e xenófobas contra os imigrantes latinos pela população
branca.
Na Europa, o problema da diversidade étnico-
cultural é mais antigo e complexo. As migrações de países
da África e da Ásia ocorridas nas décadas de 1970 e 1980,
motivadas por conflitos étnicos, guerras, fenômenos sociais
e físicos (fome, seca), criaram a categoria dos “refugiados”.
A educação antirracista, ideário que se declarou
concomitante ao multiculturalismo em escolas européias, foi
a primeira a apontar as contradições do multiculturalismo.
Ou seja, a exposição pura e simples da diversidade cultural
e a celebração da diferença não problematizam os conflitos
e as contradições das relações étnico-raciais assimétricas;
não aprofundam a discussão do racismo, do sexismo e da
xenofobia.
A educação antirracista, ao contrário do
multiculturalismo, compreende o racismo como elemento
estrutural das sociedades modernas, como um conjunto de
políticas, concepções institucionais e práticas da vida
cotidiana que reiteram a primazia de um grupo
pretensamente superior sobre outros.
Padrão cultural
É um conjunto de normas que regem o
comportamento dos indivíduos de determinada cultura ou
sociedade. Quando os membros de uma sociedade agem
de uma mesma forma estão expressando os padrões
culturais do grupo. Por exemplo, o casamento monogâmico
é um dos padrões culturais da sociedade brasileira.
Subcultura
No interior de uma cultura podem aparecer
diferenças significativas, caracterizando a existência de
uma subcultura. Assim, por exemplo, há comunidades no
Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, nas quais
certos costumes e valores se diferenciam claramente dos
praticados em outras regiões do país. Isso ocorre em razão
da presença nessas áreas de imigrantes de origem
européia – principalmente italianos e alemães – que ali se
instalaram no final do século XIX e que, por seu isolamento,
mantiveram traços culturais dos países de origem.
Aculturação
Durante a colonização do Brasil, houve intenso
contato entre a cultura do conquistador português e as
culturas dos povos indígenas e dos africanos escravizados.
Em decorrência, ocorreram modificações, tanto na
cultura dos europeus recém-chegados – que assimilaram
muitos traços culturais dos outros povos – quanto na dos
indígenas e africanos, que foram subjugados e perderam
muitas de suas características culturais. Desse processo de
contato e mudança cultural resultou a cultura brasileira.
Esse processo de mudança cultural provocada pelo
contato entre dois ou mais grupos culturalmente distintos, e
no qual um desses grupos assimila aspectos da cultura de
outro grupo, é tradicionalmente conhecido como
aculturação.
O antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997) e outros
cientistas sociais diziam que a adoção de traços culturais
de um grupo por outro geralmente envolve desigualdades
ou assimetrias, como ocorre, por exemplo, com relação
entre os povos indígenas e a sociedade capitalista no
Brasil. Não se trata de uma relação entre iguais, mas de
uma relação de dominação. Essa dominação pode ser de
tal forma intensa que não deixa ao grupo subordinado
nenhuma alternativa senão aculturar-se.
Cultura e contracultura
A oposição aos valores culturais vigentes em uma
sociedade se chama contracultura.
Na década de 1950, os Estados Unidos
conheceram o beat generation, que contestava o
consumismo do pós-guerra norte-americano, o American
way of life (estilo norte-americano de vida) que os filmes de
Hollywood apregoavam, o anticomunismo generalizado e a
ausência de um pensamento crítico.
Na década de 60, também nos Estados Unidos,
surgiu o movimento hippie. Como o beat generation, foi um
fenômeno de contracultura, porque contestava os valores
fundamentais da sociedade industrial: a competição
desenfreada, a acumulação de riquezas, a luta pela
ascensão social a qualquer preço, etc. Além disso, era
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radicalmente contrário à Guerra do Vietnã (1959-1975), à
estrutura familiar convencional, à sociedade de consumo e
aos hábitos alimentares baseados em comida
industrializada e fast food – traços culturais típicos da
sociedade norte-americana.
Muitos jovens dessa época deixaram casa e
universidade para viver em comunidades no campo, onde
plantavam e produziam a própria comida e educavam seus
filhos com base em valores mais humanizados. Alguns
abraçaram religiões orientais, como o zen-budismo e o
hinduísmo. Seu principal lema era: “faça amor, não faça a
guerra”.
O movimento hippie desapareceu por volta da
década de 80.
Indústria cultural e cultura de massa
A indústria cultural e a cultura de massa
apareceram apenas após a Primeira Revolução Industrial,
no século XVIII. Durante as revoluções industriais, é criado
um quadro de submissão do ritmo humano de trabalho ao
ritmo da máquina, traço este que marca a sociedade
capitalista liberal, em que é nítida a oposição de classes e
em cujo interior começa a surgir a cultura de massa.
Entretanto, a cultura de massa vem se instalar
definitivamente a partir do século XX, quando o capitalismo
de organização cria condições para uma efetiva sociedade
de consumo baseada em veículos como a televisão.
De acordo com a filósofa Marilena Chauí, a
massificação e o consumo culturais podem acarretar alguns
riscos às artes, principalmente no que diz respeito a três de
suas características:
a) de expressivas, tornarem-se reprodutivas e
repetitivas;
b) de trabalho da criação, tornarem-se eventos
para o consumo;
c) de experimentação do novo, tornarem-se
consagração do consagrado pela moda e pelo
consumo;
O controle econômico e ideológico das empresas de
produção artística subverte essa finalidade intrínseca à arte:
em vez de um evento para dar visibilidade à engenhosidade
do artista, a industrialização da arte torna invisível a
realidade e o próprio trabalho criador das obras.
Democracia cultural
Implica o direito ao acesso e ao conhecimento das
obras culturais, bem como o direito à informação e à
formação culturais, tão fundamentais quanto o direito à
produção cultural. Entretanto, a indústria cultural produz um
resultado contrário com a massificação da cultura.
Alienação e Revelação
Existem diversas suposições sobre o que a indústria
cultural ocasiona sobre o indivíduo. Uma delas é que essa
indústria provedora de alienação humana, um processo em
que o indivíduo é levado a não pensar por si mesmo sobre
a totalidade do meio social, transformando-se em uma mera
peça do tabuleiro, um simples produto alimentador do
sistema que o envolve.
Existem duas grandes tendências quando se trata
de saber se a indústria cultural provoca a alienação ou
produz a revelação. Karl Marx, por exemplo, dizia que todo
produto traz em si os vestígios, as marcas do sistema
produtor que o engendrou. Esses traços estão no produto,
mas permanecem “invisíveis”.
Tornam-se visíveis quando o produto é submetido a
uma análise. É que a força da estrutura, das condições de
produção da indústria cultural, se apresenta maior do que a
força das mensagens veiculadas, que se vêem anuladas ou
diminuídas pelo poder da estrutura. Nesse sistema podem
estar presentes forças contrárias à força caracterizadora da
natureza dessa indústria, esse produto só pode apresentar
essa mesma característica. E não seria, em rigor, aceitável
a hipótese de uma mudança no sistema social. Por
exemplo, passando-se do sistema capitalista para o
socialista, os meios de comunicação existentes não
poderiam ser postos a serviço da nova ideologia, uma vez
que estariam impregnados da ideologia que os criou e
manter sua utilização poderia até mesmo colaborar para um
movimento de retrocesso na direção do sistema que se
desejou superar.
Embora radical, essa análise não vem sendo
propriamente colocada sobre bases equivocadas. O
problema é que, nesse caso, o único modo de eliminar
totalmente uma ideologia e seus efeitos seria a destruição
total de tudo aquilo que estivesse por ela afetado, solução
pouco prática e pouco viável.
Caso contrário, chegar-se-ia à constatação de que,
por exemplo, o meio por excelência de comunicação de
massa, a televisão, não poderia jamais ser usado
revolucionariamente. Fica patente que nenhuma sociedade
existente, que queira dar início ao processo de profundas
alterações sociais em seu interior, jamais poderá dispensar
um meio como a televisão e os produtos culturais por ela
gerados.
IDEOLOGIA
A palavra ideologia foi criada no começo do século
XIX para designar uma teoria geral das idéias. Foi Karl
Marx quem começou a fazer uso político dela quando
escreveu um livro com Friedrich Engels, intitulado “A
ideologia alemã”.
A ideologia constitui um corpo de idéias produzidas
pela classe dominante que será disseminado por toda a
população, de modo a convencer todos de que aquela
estrutura social é a melhor ou mesmo a única possível.
Com o tempo, essas idéias se tornam idéias de todos. Ou
seja, as idéias das classes dominantes se tornam as idéias
dominantes na sociedade.
Quando uma ideologia funciona de fato, ela se
distribui por toda a sociedade, de forma a fazer com que
cada indivíduo, em cada ato, reproduza aquelas idéias. O
triunfo de uma ideologia acontece quando todo um grupo
social está definitivamente convencido de sua verdade.
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A ideologia dominante, hoje, dissemina a idéia de
que vivemos numa sociedade de oportunidades e de que o
sucesso é possível, bastando que, para atingi-lo cada
indivíduo se esforce ao máximo. Em contrapartida, vemos
milhões de pessoas vivendo na miséria.
No âmbito da política, a ideologia aparece da
mesma forma. Observe as propagandas em época de
eleição. Elas sempre tocam nas necessidades das pessoas.
Os candidatos vencedores das eleições são sempre
aqueles que melhor conseguirem tocar nos desejos dos
eleitores, que conseguirem produzir neles a idéia de uma
satisfação futura.
AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
Instituição é toda forma ou estrutura social
estabelecida, constituída, sedimentada na sociedade e com
caráter normativo. São elas: o Estado, a Igreja, a escola, a
família, o trabalho remunerado, a propriedade privada, etc.
As instituições são formadas para tender a necessidades
sociais.
Características das instituições sociais:
EXTERIORIDADE: são experimentadas como
algo dotado de realidade externa aos indivíduos.
OBJETIVIDADE: as pessoas reconhecem a
existência e a legitimidade das instituições.
COERCITIVIDADE: elas possuem o poder de
exercer pressões sobre as pessoas.
AUTORIDADE MORAL: mais uma vez, possuem
não apenas o poder coercitivo, mas também a
legitimidade para atuar em sociedade, a qual é
reconhecida pelas pessoas.
HISTORICIDADE: elas têm sua própria história e
permanecem na sociedade ao longo dos anos.
A família
Grupo primário de forte na formação do indivíduo, a
família é o primeiro corpo social no qual os indivíduos
convivem. É um tipo de agrupamento social cuja estrutura
varia em alguns aspectos no tempo e no espaço. Existem,
por exemplo, famílias monogâmicas e poligâmicas.
Algumas das principais funções da família são: a função
sexual e reprodutiva, a função econômica e a função
educacional.
A sociedade pós-industrial criou um novo padrão de
família. Na cidade de São Paulo, por exemplo, apenas
54,6% das famílias pertencem ao modelo formado por pai,
mãe e filhos.
No novo modelo, em rápido desenvolvimento, o
“chefe da família” já não é apenas o pai. A mãe, por sua
vez, deixou de ser sinônimo de “rainha do lar”. Os filhos são
criados normalmente por pai e mãe que trocam
constantemente de papéis entre si, não sendo raro verem-
se pais em casa que cuidam dos filhos e mães que
trabalham fora para sustentar a família. A participação do
homem em tarefas domésticas cresceu 43% na década de
90.
A Igreja
As crenças religiosas são um fato social universal,
porque ocorrem em toda parte, desde os tempos mais
remotos. Cada povo tem nas crenças religiosas um fator de
estabilidade, de aceitação da hierarquia social e de
obediência às normas que a sociedade considera
necessárias para a manutenção do equilíbrio social.
As religiões sofreram profundas modificações com o
desenvolvimento da economia industrial, quando o
progresso da ciência e das artes fez com que o ser humano
passasse a ter uma nova visão de si mesmo e do universo.
Nessas circunstâncias, boa parte das religiões vem
procurando conciliar suas doutrinas com o avanço do
conhecimento científico.
Na América Latina, essa preocupação com os
problemas sociais deu origem à Teologia da Libertação
(1979), doutrina defendida por alguns sacerdotes e bispos
da Igreja católica que defende o engajamento da instituição
religiosa na luta contra as desigualdades e por justiça
social. Hoje, alguns movimentos religiosos defendem uma
participação maior das Igrejas na solução de problemas
sociais e vêm procurando ressaltar mais as questões éticas
do que os dogmas religiosos.
Em contrapartida, os grupos mais conservadores
das Igrejas caminham em direção oposta, defendendo o
apego à tradição e dando ênfase às atividades missionárias
e à salvação da alma.
O Estado
O Estado é a instituição responsável pela
regulamentação social e manutenção da ordem. O
recolhimento de tributos, por exemplo, só é possível porque
os integrantes da sociedade reconhecem que o Estado tem
esse direito e porque o Estado detém forte poder de
coerção. Esse poder permite ao governo recorrer a várias
formas de pressão (multas, processos judiciais, prisão, etc.)
para fazer valer seu direito de cobrar tributos.
O Estado possui três importantes componentes:
Território: constitui sua base física, sobre a qual
ele exerce sua jurisdição;
População: é composta pelos habitantes do
território que forma a base física e geográfica do
Estado;
Instituições políticas: entre elas sobressaem os
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; o
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núcleo do poder do Estado está nas mãos do
governo;
Estado e nação
Nação é um conjunto de pessoas ligadas entre si
por laços permanentes de idioma, tradições, costumes e
valores; é anterior ao Estado, podendo existir sem ele. Já
um Estado pode compreender várias nações, como é o
caso do Reino Unido (ou Grã-Bretanha, formada por
Escócia, Irlanda do Norte, País de Gales e Inglaterra).
Antes de 1948 os judeus formavam uma nação sem
Estado, como ocorre atualmente com os curdos, por
exemplo, os quais estão dispersos em países como Síria,
Líbano, Turquia e Iraque.
Estado de Governo
O Estado é uma instituição social permanente, ou
de longa duração, que exerce o poder. Já o governo é
apenas um componente transitório do Estado. O governo
pode mudar, mas o Estado continua.
Como o Estado é uma entidade abstrata, que não
tem “querer” nem “agir” próprios, o governo age em seu
nome. Por exemplo: a Presidência da República é um órgão
fundamental do Estado brasileiro desde 1889.
Formas de governo
Resumindo, os três poderes do Estado são:
Executivo – incumbido de executar as leis;
Legislativo – encarregado de elaborar as leis;
Judiciário – responsável pela distribuição de
justiça e pela interpretação da Constituição.
O governo pode adotar as seguintes formas:
Monarquia – o governo é exercido por uma só
pessoa (rei ou rainha), que herda o poder e o
mantém até a morte;
República – o poder é exercido por
representantes do povo eleitos periodicamente
pelos cidadãos;
Atualmente, em certos países na Europa, como
Grã-Bretanha, Espanha, Suécia e Noruega, a forma de
governo é monárquica, mas os reis têm apenas um papel
simbólico e protocolar, cabendo ao Parlamento, cujos
representantes são democraticamente eleitos, o exercício
efetivo do poder. São as chamadas monarquias
constitucionais.
Nas repúblicas modernas, por outro lado, há dois
tipos de regime: o parlamentarista e o presidencialista. Nos
países em que foi instituído o regime presidencialista, a
escolha do presidente é feita diretamente pelos eleitores.
Esse modelo de democracia funciona em países como o
Brasil, a Argentina e o Peru. Já nos regimes
parlamentaristas os eleitores elegem seus representantes
no Parlamento e cabe unicamente a estes a escolha dos
membros do poder Executivo. O regime parlamentarista é
aplicado especialmente na Europa, tanto em repúblicas
como Portugal e Itália quanto em monarquias como a Grã-
Bretanha e a Suécia.
SOCIOLOGIA NO BRASIL
No Brasil e na América Latina como um todo, o
desenvolvimento das idéias sociais reflete relações
coloniais com a Europa e o avanço do capitalismo
dependente.
Do século XIX em diante, a burguesia brasileira vai
adquirindo primazia no sentido de conduzir as direções
econômicas, políticas e culturais, segundo as quais se
organizarão as interações sociais na cidade e no campo, na
agricultura e no comércio, no governo e na educação. No
fim do século XIX, a modernização do país passa a ser
importante para a burguesia emergente. Ela necessitava de
um saber mais pragmático, que não estivesse vinculado à
herança colonial. Por essa razão, organiza um movimento
para modificar a sociedade e a cultura e orienta o
pensamento social. Nesse momento, surgem estudos
históricos, críticas literárias e análises de caráter
sociológico, como Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Nessa obra, o jornalista E. da Cunha explicita o
conflito de uma sociedade dividida em duas partes
aparentemente irreconciliáveis: a sociedade das cidades
litorâneas, aberta à influência estrangeira, e a sociedade
agrária e tradicional do interior.
Escola de Recife
A Escola de Recife revelou a contribuição de
intelectuais inspirados nas concepções de linhas de
pensamento sociológico alemãs e inglesas adaptadas a um
modelo tropical “mundializado”. Assim, a formulação das
Ciências Sociais no Brasil teve como um dos principais
cenários acadêmicos, no fim do século XIX e início do
século XX, o curso de Ciências Jurídicas e Sociais de
Recife, em Pernambuco, criada em 11 de agosto de 1827,
por Dom Pedro I.
As influências dos intelectuais Tobias Barreto, Sílvio
Romero e, numa segunda fase, de Gilberto Freyre são
consideradas fundamentais para explicar as correntes do
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pensamento sociológico, que predominaram na história da
instituição pernambucana, que teve forte influência no
Nordeste, e posteriormente, em outras escolas pelo Brasil.
As bases germânicas e inglesas nortearam as teses
defendidas pelos acadêmicos, que as adaptaram a um
modelo tropical “mundializado”.
PRIMEIRA FASE DA ESCOLA DE RECIFE
A primeira fase da Escola de Direito do Recife,
iniciada por Tobias Barreto, foi objeto de polêmica em
muitos círculos intelectuais do período. Alguns críticos
acusavam Barreto de ser o protótipo da bacharelice latino-
americana, com características erudita, agressiva,
provinciana e alienada dos problemas políticos e sociais
concretos. O componente germânico na linha de
pensamento do acadêmico e escritor pernambucano surge
a partir de 1871. Foi simpatizante de Kant e do monismo
evolucionista de Heckel e Spencer, enquanto em São
Paulo, predominava o positivismo de Comte.
Tobias Barreto foi o primeiro a perceber os maus
efeitos que produzia no Brasil, a excessiva influência
francesa, que era a única influência européia do período.
Barreto afirmava em seus discursos que não aderia ao
socialismo e nem ao liberalismo. Ele era Kantiano no Brasil,
antes dos alemães, e também recusava o determinismo
econômico. Barreto era indignado com o sociologismo da
sua época, o qual era para ele um simplismo mecanicista
ou organicista.
Por outro lado, Sílvio Romero distinguiu as ciências
da natureza como fenômenos mecânicos regidos pela lei de
causalidade, alheios aos fatos conscientes e voluntários,
das ciências da humanidade, na qual estariam todos os
fenômenos nos quais se acham inerentes a consciência e a
vontade, regidos pela lei da finalidade. Segundo ele, é
justamente aí que a sociologia se encaixaria.
SEGUNDA FASE DA ESCOLA DE RECIFE
Nessa fase a Escola foi coordenada por Gilberto
Freyre. Coube a este estudioso implementar os
empreendimentos institucionais das Ciências Sociais em
Pernambuco, já no século XX. Freyre se esforçou para
construir um espaço institucional autônomo. Também
inovou ao acrescentar a antropologia aos seus estudos,
quando escreveu “Casa Grande e Senzala” (1933) e a
“Ecologia do Nordeste” (1937), estendendo esses
parâmetros ao internacional mundo tropical.
No século XXI, a herança da Primeira Escola do
Recife e da Segunda continuará sendo a da insistência nos
estudos das questões e soluções dos problemas brasileiros,
mesmo num mundo cada vez mais globalizado.
Alguns autores da sociologia brasileira e suas
influências teóricas
LAURO SODRÉ: foi influenciado por Auguste Comte. Foi
discípulo de Benjamim Constant. A filosofia de Comte vai
influenciar muito no Brasil, principalmente junto aos
republicanos, quando eles vinham com o intuito de ordem
social. Benjamin Constant foi um dos responsáveis pela
divulgação da filosofia positivista entre os republicanos que
buscavam organizar a sociedade.
FERNANDO DE AZEVEDO: foi seguidor de Durkheim. Sua
preocupação era estritamente metodológica, de como
analisar os fenômenos sociais, qual era a postura que o
investigador e o cientista deveriam ter. No entanto, em
nenhum momento sua sociologia se volta para os fatos
sociais.
BRANDÃO LOPES: influenciado pelo historicismo
weberiano (Max Weber), Lopes dizia que deve-se exigir do
investigador o rigor metodológico, o recorte da realidade
que é complexa, e utilizar o tipo ideal para a comparação
daquilo que se busca entender, isto é, a realidade do
estudo.
A revolução científica só é consolidada quando
chega ao Brasil a teoria marxista. A dialética vai permitir. A
dialética vai permitir que a discussão venha para a área
acadêmica mais crítica e vai exigir que se coloque uma
prática nessa teoria.
Ao chegar ao Brasil, a corrente marxista é dividida
em duas vertentes:
Marxismo Confessional: é o marxismo mais prático,
militante. Essa vertente vai orientar a formação de
sindicatos, a formação dos partidos de massa.
Expoentes: CAIO PRADO JÚNIOR, LEANDRO
KONDER e CARLOS NELSON COUTINHO.
Marxismo Metodológico: é constituído pelos teóricos
que trabalhavam mais o plano da ciência, a plano da
discussão, do materialismo filosófico, dialético, do
Socialismo científico, e no qual se concentra a
discussão do plano teórico de Marx. Expoentes:
OTÁVIO IANNI e FRANCISCO WEFFORT.
As primeiras instituições
A sociologia, como conhecimento sistemático e
metódico da sociedade, surge no Brasil na década de 1930,
com a fundação da Escola Livre de Sociologia e Política
14. AMF PRÉ-VESTIBULAR - APOSTILA DE SOCIOLOGIA
Prof. Vinícius Reccanello de Almeida
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(1933) em São Paulo, mais voltada para os estudos da
sociologia norte-americana.
Em 1934, funda-se mais uma faculdade de
sociologia, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da
Universidade de São Paulo (USP), tendo como fundador
Armando Salles de Oliveira, de forte influência francesa.
Para a formação dos professores dessas duas
faculdades vieram vários professores convidados
(franceses e norte-americanos), dentre eles Claude Lévi-
Strauss, Roger Bastide, Georges Gurvicht e Fernand
Braudel, constituindo a chamada “Missão Francesa”; e
Radcliffe Brawn e Donald Pierson, ambos norte-
americanos.
OS PRINCIPAIS INTELECTUAIS BRASILEIROS
Escola de 30
Destacaram-se nessa escola: Caio Prado Júnior,
Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Fernando
Azevedo.
CAIO PRADO JÚNIOR (1907-1990): Formado em Direito,
Caio Prado foi um historiador de orientação marxista.
Tomou como ponto de partida a situação colonial brasileira
para a compreensão da realidade atual de nosso país. Ele
afirma que só é possível entender o Brasil do século XX
resgatando as relações internacionais capitalistas desde a
expansão européia até os dias atuais. Isso porque é no
sentido da formação inicial do Brasil (a herança colonial)
que encontramos as causas explicativas para o nosso
subdesenvolvimento. Escreveu importantes obras como
“Evolução Política do Brasil (1933)”, “História Econômica do
Brasil (1945)” e “Formação do Brasil Contemporâneo
(1942)”.
Nesta obra o autor analisa o país a partir de uma
ótica econômica, mostrando que o Brasil faz parte de um
empreendimento maior - o contexto da expansão marítima
portuguesa em busca dos mercados orientais. Em sua mais
ilustre passagem da obra, na qual discute o sentido da
colonização, mostra que o desenvolvimento da colônia
(povoamento, atividades comerciais, agricultura) atendeu
aos interesses da metrópole (Portugal). Caio Prado afirma
que o Brasil só se constitui "para fornecer tabaco, açúcar,
alguns outros gêneros; mais tarde, ouros e diamantes;
depois, algodão, e em seguida café, para o comércio
europeu". Ao final, Caio Prado faz um balanço negativo dos
três séculos da colonização, pois tratou-se somente de uma
"exploração extensiva e simplesmente especuladora,
instável no tempo e no espaço, dos recursos naturais do
país."
SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA (1902-1982): O
elemento central para a compreensão de nossa realidade
social, política e econômica reside na formação oligárquica
e autoritária das elites culturais e políticas brasileiras. Sua
influência vem do historicismo de Max Weber. Suas
principais obras são: “Visão do Paraíso (1959)” e “Raízes
do Brasil (1936)”.
Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque interpretou o
“homem cordial”. O brasileiro é chamado de “homem
cordial” por ter um caráter hospitaleiro tão admirado por
visitantes. Sua generosidade e sua prestatividade são
herança de nossa sociedade rural, da hospitalidade do
senhor de engenho e sua família para com o viajante.
Na verdade, essa cordialidade é dissimulada, é
mascarada de suas emoções. É a maneira que o homem
usa para se libertar de si mesmo. Mesmo assim não
consegue libertar-se de sua individualidade, apesar de ele
parecer bem sociável, essa sociabilidade não chega ao
ponto da solidariedade, da coletividade. O brasileiro gosta
da intimidade, da proximidade, prefere acreditar nas
qualidades pessoais de uma pessoa “íntima” a acreditar em
sua competência. A preferência é por relações emotivas,
vistas no tratamento pessoal, na religião ou mesmo na vida
financeira. O brasileiro não gosta de rigorismo, de
obrigações, nossos cultos e nossa religiosidade são bem
superficiais.
(OBS: baixe o fichamento do livro Raízes do Brasil no site
www.centrodecursosamf.com.br).
GILBERTO FREYRE (1900-1987): Formado na
Universidade de Columbia nos Estados Unidos, Freyre
recebeu influência do antropólogo Franz Boas. Ficou
bastante conhecido após a publicação de sua obra “Casa
Grande e Senzala (1933). Trata-se de um estudo profundo
das relações sociais do período colonial e da identidade
cultural brasileira, evidenciando a contribuição do negro e
do mestiço e a fusão de raças e culturas para a formação
da sociedade brasileira. Freyre considera a miscigenação
racial no Brasil o pressuposto para a constituição de uma
grandiosa democracia racial.
Casa-grande ressaltou muito mais a importância da
cultura que da raça, ao mesmo tempo em que apontou
como elemento essencial da sociedade brasileira colonial a
mestiçagem. E fez isso numa época em que,
internacionalmente, ganhavam terreno as teorias racistas
de cunho supostamente científico desenvolvidas nos século
19 e que ainda influíam nas ciências sociais, enquanto
internamente, intelectuais respeitados como Oliveira Viana
creditavam ao papel da raça branca um eventual sucesso
da civilização em nosso país.
Já na obra “Sobrados e Mucambos”, Freyre
aprofunda o estudo e discute a decadência do patriarcado
rural e o desenvolvimento do urbano: o caráter de
“novidade” que causou tanto impacto no primeiro livro já
não aparece no segundo.
Escola de 50
FLORESTAN FERNANDES: de forte influência marxista,
Florestan desenvolveu uma crítica contundente sobre a
obra freyriana, e em especial, critica o que ele chama de
“mito da democracia racial”. Nega o caráter pacífico e
integrador do processo de miscigenação de raças,
defendido por Gilberto Freyre, e escreve uma obra
importante, “A integração do negro na sociedade de
15. AMF PRÉ-VESTIBULAR - APOSTILA DE SOCIOLOGIA
Prof. Vinícius Reccanello de Almeida
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classes”, mostrando as dificuldades da integração dos
negros recém-libertos na sociedade capitalista agrária que
ora se consolidava no Brasil. Segundo Florestan
Fernandes, para os negros o resultado do processo
histórico de nascimento da sociedade de classes gerou a
sua exclusão.
Por outro lado, Florestan também releu criticamente
as teses de Sílvio Romero, Oliveira Viana, Sérgio Buarque
de Holanda, Gilberto Freyre, retomando teses esboçadas
por Euclides da Cunha, Manuel Bonfim, Caio Prado Júnior e
outros.
A produção intelectual de Florestan retrata um estilo
de reflexão que questiona a realidade social e o
pensamento, as suas contribuições sobre as relações
raciais entre o negro e o branco, os problemas indígenas,
escravatura e abolição, educação e sociedade, folclore e
cultura, revolução burguesa, revolução socialista e outros
temas das histórias brasileiras e latino-americana.
Nas reflexões desse intelectual sobre os
fundamentos lógicos e históricos da explicação sociológica,
localiza-se a análise das três matrizes clássicas do
pensamento sociológico: o método funcionalista, ou
objetivo, sistematizado por Durkheim; o compreensivo,
formulado por Weber; e o dialético, criado por Marx. As
contribuições teóricas dos clássicos tiveram
desenvolvimentos diversos e às vezes notáveis.
CELSO FURTADO: inovou as interpretações sociológicas
do passado a respeito da formação econômica do Brasil. É
considerado o pai da economia política brasileira,
participando ativamente da Cepal (Comissão Econômica
para a América Latina). Sua maior crítica se baseia no
conceito de subdesenvolvimento como uma etapa histórica
das sociedades em direção ao capitalismo desenvolvido.
Para Celso Furtado, o subdesenvolvimento refere-
se a uma formação econômica específica produzida pelo
capitalismo internacional. O elemento mais evidente dessa
análise é a crítica ao caráter dependente e subordinado aos
interesses do capitalismo praticado pelas potências
econômicas mundiais. Contudo, suas formulações teóricas
encontraram abrigo no plano das políticas de governo, com
a defesa da substituição das importações e o incentivo à
produção industrial nacional e à formação de uma amplo
mercado nacional de base popular.
Sua obra de destaque foi “Formação Econômica do
Brasil”.
DARCY RIBEIRO: foi antropólogo, escritor, senador e
ministro da Educação (um dos autores da Lei de Diretrizes
e Bases em 1996). Sua obra de destaque saiu em 1995: “O
povo brasileiro”. Nesse livro o autor produz um ensaio
etnográfico fantástico sobre a formação da cultura e da
identidade do povo brasileiro. Utiliza-se da noção de
matrizes étnicas (indígena, negro e europeu). Como
etnólogo das comunidades indígenas brasileiras, rompeu
com as abordagens funcionalistas e denunciou as relações
entre esses povos e a comunidade branca européia, que
resultaram no extermínio, muitas vezes, dessas culturas e
etnias.
Pós década de 60
OTÁVIO IANNI: foi contemporâneo de Fernando Henrique
Cardoso, Marialice Foracchi e Luiz Pereira. Ao lado desses
nomes e orientado por Florestan Fernandes, Otávio Ianni
exerceu forte militância. Era visto pelos militares como um
comunista subversivo infiltrado na universidade.
Com o processo de redemocratização no Brasil, a
queda física e simbólica do Muro de Berlim e o colapso da
URSS, o foco de Ianni passou para as questões levantadas
pela sociedade global e a era da informação. Escreveu
nesse período que vai do final dos anos 1980 ao início do
século 21 livros como “A sociedade global” e “Teorias da
Globalização”, valiosas contribuições de um sociólogo
experiente aos debates sobre o tema.
Otávio Ianni teve tempo ainda de acompanhar – e
refletir sobre – o primeiro grande evento do século 21, o
atentado de 11 de setembro de 2001 ao World Trade
Center e ao Pentágono.
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO: Como sociólogo,
FHC escreveu obras importantes para a teoria do
desenvolvimento econômico e das relações internacionais.
Sua teoria sugere que os países subdesenvolvidos devam
se associar entre si, buscando um caminho capitalista
alternativo para o desenvolvimento, livrando-se da
dependência das grandes potências. FHC era contrário à
tese de que os países do terceiro mundo se desenvolveriam
só se tivessem uma revolução socialista. Junto ao chileno
Enzo Falletto, FHC escreveu a obra Dependência e
Desenvolvimento na América Latina em 1969.
HERBERT DE SOUZA: otimista ativo, o sociólogo
conhecido como Betinho driblou a saúde frágil e
transformou-se em um agente da solidariedade. Seus
esforços voltaram-se para a cidadania e para a ação.
Betinho foi vítima do exílio e morou no Uruguai, em
algumas regiões da Europa, até ir para o Chile, onde
assessorou o então presidente Salvador Allende. Também
esteve na embaixada do Panamá, Canadá e México.
Betinho dizia: “não creio no Estado como solução,
creio na sociedade. Não creio no poder, creio na liberdade.
Não creio nos que se acomodam e desistem. Creio nos que
pensam e agem em função do futuro e da felicidade de
todos”.
Suas participações na sociedade foram marcantes.
Fez parte dos “Caras Pintadas” e comemorou,
posteriormente, a destituição de Fernando Collor. Participou
em 1990, do movimento Terra e Democracia e esteve na
liderança, em 1992, do Movimento Pela Ética na Política. A
partir desse movimento Herbert de Souza procurou atender
os pobres.
Embora frágil fisicamente (até um simples corte nos
lábios era motivo de preocupação), Betinho era um gigante
nas idéias, que não ficavam apenas no papel: ele era
idealizador e executor de seus próprios projetos. E, sem
dúvida, duas das maiores realizações foram Ação da
Cidadania contra a Miséria e pela Vida e o Natal sem Fome.
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SOCIOLOGIA BRASILEIRA A PARTIR DOS ANOS 60
Na década de 60 a sociologia se preocupou com o
processo de industrialização do país, nas questões de
reforma agrária e movimentos sociais na cidade e no
campo e a partir de 1964 o trabalho dos sociólogos se
voltou para os problemas sócio-políticos e econômicos
originados pela tensão de se viver em um pais cujo a forma
de poder é o regime militar.
Surgiu nessa época também a Teoria da
libertação, onde, onde a igreja passou a radicalizar com
seus pensamentos. Nessa época, no Brasil, em que os
militantes católicos se aproximaram dos movimentos no
campo, surge a Comissão Pastoral da Terra, entidade que
está na origem do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra - MST. Essa mudança delinear-se já na metade
da década de 1950, configurando-se plenamente de 1960
em diante.
Na década de 60, os estudos sobre a formação do
moderno operariado fabril no Brasil e América Latina,
centravam-se em alguns binômios representativos:
industrialização/urbanização, moderno/tradicional, migração
rural/urbana; mobilidade social/acesso aos bens materiais e
simbólicos da sociedade moderna, o meio urbano-
industrial/baixa organização sindical dos trabalhadores.
A classe operária foi revisitada, perdendo
determinações e teleologias, recuperando-se experiências,
cultura e cotidianidade que permitem discuti-la em sua
multiplicidade, fora dos limites de sua representatividade
externo-organizativa e também do chamado “chão de
fábrica”, das tecnologias, dos processos. As relações
sociais no mundo do trabalho passam a ser analisadas
imbricadas com o mundo da vida onde fatores como família
e redes de sociabilidade informais, demonstram possuir um
peso antes desconsiderado.
A classe com o sujeito se multiface ta nos
indivíduos que a compõem: homens, mulheres, crianças,
jovens, velhos, com seus projetos e perspectivas. A análise
dessas práticas permite compreender os sentidos atribuídos
pelos trabalhadores às suas condições de existência e à
construção de identidades sociais.
O período da Sociologia Científica
O início do período da Sociologia Contemporânea
corresponde à fase de emergência da Sociologia Científica,
que buscava, sob a égide do paradigma estrutural-
funcionalista, a consecução de um padrão de
institucionalização e prática do ensino e da pesquisa em
sociologia, similar ao dos centros sociológicos dos países
centrais. A concepção de desenvolvimento desta
abordagem teve sua expressão na Teoria da
Modernização e em sua análise do processo de transição
da sociedade tradicional para a sociedade moderna. Os
anos 50 foram marcados também pelo surgimento da
proposta de uma “Sociologia Autêntica”, nacionalista, que
buscava contribuir para o processo de libertação nacional e
que tem na obra de Guerreiro Ramos (1957 e 1965) sua
referência principal. Teoricamente, a controvérsia entre
Guerreiro Ramos e Florestan Fernandes dominou a cena
da comunidade sociológica brasileira durante esse período,
tendo por fulcro central a questão da particularidade e/ou
universalidade do conhecimento social produzindo no Brasil
A Teoria da Modernização concebe o processo de
desenvolvimento como uma transição de uma sociedade
rural tradicional para uma sociedade industrial moderna.
A “Sociologia Científica” caracterizada pela “adoção
dos princípios básicos do conhecimento científico em geral,
embora tenha suas próprias especificidades”, assim como
pelo “desenvolvimento de procedimentos de pesquisa
extremamente refinados e muito mais poderosos do que os
previamente utilizados”. As conseqüências disso são uma
“tecnificação crescente da Sociologia, dada à
estandardização dos procedimentos de pesquisa, o uso
generalizado de instrumentos selecionados de pesquisa, a
„rotinização ecoletivização das atividades, a necessidade
crescente de recursos financeiros, espaços físicos e
equipamentos, e de pessoal técnico e administrativo”.
O Período de crise e diversificação da Sociologia
Brasileira, em fins dos anos 50 e início dos anos 60, foi
resultado de uma crítica marxista e implicou uma crescente
diferenciação paradigmática que foi potencializada, já no
decorrer do período de crise e diversificação da Sociologia
brasileira, pelos eventos político-culturais dos períodos
1964/1968 e 1969/1974. Essa crítica marxista teve nos
países latino-americanos, os quais, ao não serem
apreendidos, levaram a uma série de desastres político-
militares como, no Brasil, a derrota da guerrilha urbana e a
morte dos líderes guerrilheiros Marighella e Lamarca, e a
derrota da guerrilha do Araguaia; O impacto negativo da
instauração do regime autoritário sobre a evolução
sociológica brasileira está relacionado diretamente com o
golpe de 64 e com o “golpe dentro do golpe” de 1968 que
tem no AI-5 seu marco principal. O fechamento do ISEB,
em 1964, os IPM e as cassações pareciam indicar que as
ciências sociais brasileiras estavam entrando em um
período recessivo. Porém houve uma expansão, que teve
seu centro de gravitação nos cursos de pós-graduação que
foram criados e consolidados como centros de ensino e
pesquisa, particularmente após a Reforma Universitária
de1969, e teve por contraponto a criação e as atividades de
centros privados de pesquisa tais como o CEBRAP, o
CEDEC, e o IDESP.
Nos primeiros anos do regime militar, no período
que se estende entre 1964 e 1969, os prognósticos
pessimistas pareciam confirmar-se. As cassações de
professores universitários logo depois do golpe, e
posteriormente, com impacto ainda maior, aquelas que se
seguiram ao AI-5, levou a pensar que as ciências sociais
entrariam em recesso no Brasil. Neste mesmo período ‚ foi
aplicada a reforma universitária, que com assessoria
americana encontra a vontade da comunidade acadêmica.
Embora importantes ambos os fenômenos não chegaram a
abalar fundamentalmente o futuro desenvolvimento das
ciências sociais ainda que certos centros universitários
como a USP e UFRJ possam ter sofrido individualmente um
impacto maior. Isto, em primeiro lugar, porque um número
importante de cientistas sociais cassados permaneceu no
país, inclusive auto-organizados em centros como o
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CEBRAP, e em segundo lugar, nenhuma instituição chegou
a ser fechada ou mesmo esvaziada, permanecendo nos
seus.
A Reforma Universitária de 1969, introduzindo o
sistema de parta mental e as novas regras e requerimentos
para a carreira universitária (incluída a formação em nível
de pós-graduação), assim como o novo formato dos
programas de pós-graduação e das atividades de pós-
graduação.
Redemocratização
Com a abertura política nos anos 80 o país busca
retomar sua identidade social. Durante o regime militar,
muitos intelectuais foram aposentados e impedidos de
lecionar outros foram exilados ou se exilaram por
espontânea vontade, passando a publicar suas obras no
exterior.
Tendo o fim do bipartidarismo, agora sendo
pluripartidal, um grande número de celebres pensadores
decidem deixar a cátedra para ingressar na política.
Darcy Ribeiro, por exemplo; filia-se ao PTB (Partido
Democrático Trabalhista), este de Getulio Vargas que
reivindicava o nacionalismo e o populismo. Outros nomes
da sociologia ajudaram a fundar o PSDB (Partido da Social-
Democrata Brasileiro) como Fernando Henrique Cardoso,
este assumindo a Presidência da Republica em 1994 sendo
o primeiro sociólogo na historia assumir tal cargo, falaremos
dele mais a frente.
Entretanto o partido que mais se beneficiou com
essa nova atuação dos cientistas sociais foi o PT (Partido
dos Trabalhadores). Nomes como Florestan Fernandes,
Antonio Candido e Mello e Souza e Francisco Weffort foram
alguns que engajaram na luta política do PT.
Esse engrossamento de intelectuais foi de imensa
importância para o período histórico que o país vivia,
tratava-se de uma integração das teorias sociais e praticas
políticas, e o resultado dessa parceria viria em 1988 quando
foi promulgada a nova Constituição do Brasil, a sétima em
vigor porem a única com o emblema de “cidadã”, como dos
descrita por Ulysses Guimarães.
Percebe-se também nessa época uma grande
diversificação das ciências sociais em nosso país, e de se
ressaltar que o Brasil sempre foi um campo fértil para
ciências sociais, devido a toda sua historia, mas no período
em que referimos à multiplicidade dos campos de estudo,
em especial na sociologia. Surgem diversos estudos e
análises sobre a questão feminina, do menor, das favelas,
das artes, da violência urbana e rural, entre outras.
A sociologia se torna cada vez mais interdisciplinar
e plural no Brasil. Os sociólogos buscam redefinir seus
conceitos de interdependência em um mundo cada vez
mais globalizado.
A sociologia nos dias de hoje
Nos dias atuais a sociologia busca cada vez mais
sua posição perante asa ciências sociais, buscando novos
rumos e uma metodologia que se encaixe nos novos temas
que aparecem na mudança de século.
Um marco que se acontece e a firmação da
sociologia na grade curricular em escolas do ensino médio,
uma grande conquista, pois há pouco tempo sociólogos
eram perseguidos pela ditadura militar, também e um
grande salto se levarmos em conta que a sociedade
brasileira esta “engatinhando” em busca de uma real
democracia.
E de se destacar a obra de José Pastore e Nelson
do Valle Silva; Mobilidade Social no Brasil. Nesta obra os
autores vêm trazer os resultados da mobilidade social no
Brasil, fazendo uma comparação entre dados adquiridos
nas décadas de 1970 e final dos anos 90. Este trabalho
apresenta ascendência de uma nova classe media que vem
se formando nas bases, no Brasil é um país onde muitos
sobem pouco, e poucos sobem muito, o que gera um
inchaço na base da pirâmide social.
Nesta mesma obra, o prefacio fica a parte de
Fernando Henrique Cardoso, que diz:
“[...] a sociedade brasileira e dotada de imensa
mobilidade social. Essa mobilidade se deixa captar por
vários índices e alguns deles merecem especial menção:
entre 1973 e 1996, por exemplo, os dados mostram que a
maioria dos brasileiros melhorou de vida, ou seja, teve uma
mobilidade ascendente; nesse período o extrato social de
renda superior cresceu 40%, passando de 3,5% para 4,9%
do total. Ao mesmo tempo, houve um estreitamento da
base da pirâmide social graças à redução em cerca de 25%
das camadas pobres de 32% para 24%.[...] A nova classe
media talvez seja apenas o aspecto mais visível de um
processo que, movido por forças profundas como a
reordenação dos espaços econômicos, o deslocamento de
populações, e as mudanças nas estruturas produtivas com
peso crescente do setor de serviços, vem revolucionando
nosso entorno social.”
Em outras palavras, a mobilidade social no Brasil
começa a ser determinada por elementos de competição no
mercado de trabalho, o que é comum nos países mais
desenvolvidos, onde o papel da educação e essencial no
contexto mobi-social.
Ayrton Fausto representa atualmente e um grande
nome da sociologia nacional, e diretor da Faculdade Latino-
Americana de Ciências Sociais (FLACSO) uma das maiores
organizações que visa à construção de sociedades mais
justas, através da democratização, pela crescente
participação da sociedade, da política, da economia e da
cultura. A FLACSO no Brasil teve sua criação em 1981,
como projeto, tornando-se Sede Acadêmica em 1989.
Ayrton Fausto abrange em seus estudos sociais a mesma
finalidade da FLACSO a construção de sociedades mais
justas, como o contexto internacional, globalização,
integração supranacional e democracia, o panorama da
economia e da política internacionais neste fim de século, o
desemprego; a crise fiscal e do estado de bem-estar social;
as migrações em massa por razões econômicas e/ou de
perseguição política; o aumento da criminalidade e da
corrupção e outros temas polêmicos da nossa sociedade.
A sociologia do século XXI torna-se cada vez mais
interdisciplinar e plural, se diversifica cada vez mais, pois a
uma grande multiplicação nos objetos de estudos.