Responde ou passa na HISTÓRIA - REVOLUÇÃO INDUSTRIAL - 8º ANO.pptx
A Construção da Memória na Fan Page Fortaleza Nobre no Facebook
1. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
CENTRO DE HUMANIDADES
GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
LARICE FERREIRA BARROS
A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA
NA FAN PAGE FORTALEZA NOBRE NO FACEBOOK
FORTALEZA
DEZEMBRO/ 2012
2. LARICE FERREIRA BARROS
A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA
NA FAN PAGE FORTALEZA NOBRE NO FACEBOOK
Monografia apresentada no Curso
de Ciências Sociais da
Universidade Estadual do Ceará
como requisito parcial para a
obtenção do título de bacharel em
Ciências Sociais.
Orientador: Dr. Irapuan Peixoto
Lima Filho
FORTALEZA
DEZEMBRO/ 2012
2
3. LARICE FERREIRA BARROS
A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA
NA FAN PAGE FORTALEZA NOBRE NO FACEBOOK
Monografia apresentada no Curso
de Ciências Sociais da
Universidade Estadual do Ceará
como requisito parcial para a
obtenção de bacharel em Ciências
Sociais.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________
Prof. Dr. Irapuan Peixoto Lima Filho (orientador)
___________________________________________________________
Prof. Dr. Gerson Augusto de Oliveira Júnior
___________________________________________________________
Prof. Dr. Hermano Machado Ferreira Lima
3
4. AGRADECIMENTOS
Primeiramente, a Deus pelo dom da vida, por poder confiar em sua fidelidade, por ser
um refúgio nos momentos difíceis, por me ajudar a realizar um sonho.
Aos meus pais, Maria e Francisco, pela dedicação, empenho e investimento; por
acreditar em mim e se fazerem presentes em todos os momentos da minha vida. A vocês
a minha eterna gratidão.
Ao Professor Dr. Irapuan Peixoto por toda dedicação, orientação e por me ajudar a
pesquisar um tema novo nas Ciências Sociais.
A todos os professores da Universidade Estadual do Ceará (UECE), por todo o
conhecimento e experiência compartilhada.
À banca por todas as sugestões.
Aos amigos da graduação, Gabi, Nadja, Saul, Karla, Thalita, Angícia, Bete e Filipe, por
fazerem dos momentos na UECE os melhores possíveis.
Aos amigos Sara, Andreza, Áquila, Lidiane, Ana Lídia, Ana Carla.
A pessoas que são muitos importantes na minha vida, Edilene, Ivone, Angelita, Jéssica.
4
5. RESUMO
A Internet e as redes sociais têm proporcionado para os internautas possibilidades de
conhecer mais sobre o passado, através dos arquivos de imagens, músicas e vídeos que
dispõem, sendo comuns sites que se utilizam desses meios midiáticos para fazerem
postagens sobre assuntos antigos. Anteriormente, todo esse acervo era visualizado em
museus e exposições; agora estão disponíveis através de um click. Nessa pesquisa,
analisou-se a rede social Facebook, que tem ganhado cada vez mais espaço nas relações
sociais humanas, com mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo, e especificamente
a fan page Fortaleza Nobre (FN), que é um espaço em que são compartilhadas
imagens antigas de Fortaleza. Essa fanpage mostra diversos lugares, em diferentes
contextos, além de postar publicações da mídia que mostram notícias antigas,
propagandas de produtos, lojas e eventos que outrora eram realizados na cidade. As
postagens que se referem aos espaços podem ser identificadas por meio de duas
categorias: os espaços que não existem mais e os que existem, sendo estes subdivididos
entre os que mudaram bastante e os que não mudaram quase nada. Os comentários dos
internautas nas postagens da página fazem referência a lembranças de grupos afetivos,
dos espaços mais marcantes e das mudanças da época das fotos para a atualidade assim
como ao saudosismo que reflete a exaltação do passado como melhor período para se
viver. O objetivo desta pesquisa é saber como se dá a construção da memória na página
FN, através dos usos da memória dos fortalezenses, a partir dos comentários que ficam
gravados na rede. Na tentativa de perceber essa construção, analisou-se a página durante
3 meses do ano de 2012 e visualizamos um número significativo de postagens e
comentários, procurando entender seus significados.
PALAVRAS-CHAVE: Redes Sociais. Facebook. Fortaleza Nobre. Memória.
5
6. ABSTRACT
The Internet and social networks have provided opportunities to know more about the
past, through files of images, music and vídeos. Most common are those sites that use
the media to make posts on old issues. Previously, this entire collection was displayed
in museums and exhibitions, but now they are available via a click. In this research, is
analyzed the social network Facebook, which has gained more space in human social
relations, with over one billion users worldwide, and specifically Fortaleza Nobre (FN)
fanpage, that is a space in which people can share old images of Fortaleza. This fanpage
shows different places, in different contexts, and posts publications that show old news,
advertisements for products, stores and events that were once held in the city. The posts
that refer to the spaces can be identified through two categories: those spaces that no
longer exist and those there still existe. These ones are subdivided in those that have
changed a lot and in those that hardly changed. The netizens' comments on posts refer to
affective memories, to the most striking spaces and changes in time as well as the
nostalgia that reflects the excitement of the past as a better time to live. The objective of
this research is to know how is the construction of memory on page, from the comments
that are written in the network. In an attempt to understand this construction, the page
was analyzed for 3 months of 2012 and envision a significant number of posts and
comments.
KEY WORDS: Social networks. Facebook. Fortaleza Nobre. Memory.
6
7. LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Imagem 1- Fan page Fortaleza Nobre .................................................................. p.21
Imagem 2- Cruzamento da Av. treze de maio com Av. da Universidade ............. p.23
Imagem 3- Foto aérea do Castelo na década de 60 ............................................... p.24
Imagem 4-Beira Mar em 1930 .............................................................................. p.25
Imagem 5- Publicidade de evento no ano de 1965 ............................................... p.26
Imagem 6- Santa Casa de Misericórdia passado e presente .................................. p.28
Imagem 7- Colégio Rui Barbosa na Av. Imperador ............................................ p.34
Imagem 8- Representação gráfica da cidade ........................................................ p.36
Imagem 9- Imagem da página Pós- Graduando ................................................... p.43
Imagem 10- Imagem da página Redes Sociais ..................................................... p.43
Imagem 11- Imagem da página Redes Sociais ..................................................... p.47
Imagem 12- Iracema Plazza Hotel no final dos anos 60 ...................................... p.51
7
8. SUMÁRIO
1. Introdução .......................................................................................... ............ p.09
1.1. Percursos da Pesquisa ...................... ................................................. ............ p.16
2. Fortaleza Nobre.................................................................................. ............ p.20
2.1. Imagens e Memória na Fortaleza Nobre ............................................ ............ p.21
2.2. Fotografia como Fonte de Pesquisa ................................................... ............ p.28
2.3. Memória e Interação dos membros .................................................... ............ p.30
3. Redes Sociais na Internet................................................................... ............ p.35
3.1. Contexto da Internet.......................................................................... ............ p.38
3.2. Redes Sociais na Internet ................................................................................. p.41
3.3 Facebook ........................................................................................................... p.44
4. A Construção da memória na Fan page Fortaleza Nobre ............................. p.48
5. Considerações Finais.......................................................................... ............ p.58
Referências
8
9. 1. INTRODUÇÃO
Havia um castelo na cidade de Fortaleza, construído por volta de 1920,
localizado na Avenida Santos Dumont com a Rua Monsenhor Bruno, “concretizado”
por Plácido de Carvalho, empresário e industrial que queria impressionar sua esposa, a
italiana Maria Pierina Rossi que conhecera durante uma viagem à Europa. O
monumento era semelhante a outro visto pelo casal em Veneza e era condição da esposa
para que viessem morar em Fortaleza. Inaugurada a construção, ali viveu o casal, numa
casa que é comumente apontada pelos “mais antigos” como a mais bela que existia na
cidade.
Esta beleza arquitetônica não existe mais, porque foi demolida na década de
1970 para construção de um supermercado. Anos depois, o espaço ficou abandonado e o
governo construiu a Central de Artesanato Luiza Távora. Atualmente, ficou somente a
imagem do castelo e a indignação de alguns pela não preservação do patrimônio,
quando visualizam antigas ilustrações.
A Praça do Ferreira, localizada no centro de Fortaleza, em uma imagem de
novembro de 1952, revela a presença de muitas árvores completando seu entorno, de
pessoas andando tranquilamente, de bancos dispostos para um possível descanso e
oportunidade para conversar e de muitos prédios ao redor, demonstrando que naquele
período o centro já estava crescendo. Bem no centro da praça, já havia a Coluna da
Hora1.
Daquele tempo para hoje, muitas mudanças ocorreram como o desaparecimento
das árvores, a diminuição do espaço devido à utilização da praça para outros fins, o
aumento do fluxo de pessoas que andam na praça, devido ao comércio etc. O que
podemos perceber é a presença dos bancos, nos quais encontramos pessoas da terceira
idade conversando e outras sentadas, descansando um pouco: é um espaço importante
para nossa cidade.
O cruzamento da Avenida da Universidade com a Avenida Treze de Maio, em
uma fotografia de 1974, nos revela como era diferente de hoje. Possuía uma rotatória
entre as duas avenidas assim como uma fonte, a Avenida da Universidade tinha sentido
duplo, havia muitas árvores na Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC), já
1
Inaugurada na virada dos anos de 1933 para 1934, foi projetada pelo engenheiro José Gonsalves da
Justa, durante a gestão de Raimundo Girão. Em 1968, a praça foi radicalmente modificada e reformada
tendo a Coluna removida. Porém, em 1991, a praça foi reformada, e atualmente, uma versão moderna da
coluna está localizada no centro da Praça do Ferreira.
9
10. gradeada e carros circulando em seu entorno. Atualmente, não há mais a rotatória, o
sentido da Avenida da Universidade é único, o trânsito se encontra com mais carros e as
árvores são poucas, mas o que permanece com poucas mudanças é o prédio da Reitoria.
Os três exemplos acima são postagens que podem ser visualizadas na rede social
Facebook, através da fan page2 Fortaleza Nobre (FN). A página virtual inteira é
dedicada à visualização de imagens e fotografias “antigas”, que mostram prédios,
praças, ruas e o cotidiano da cidade em tempos idos, sendo possível visualizar imagens
que mostram diferentes épocas. A sequência de imagens nos faz conhecer a história e a
memória de nossa cidade, possibilitando também interagir com pessoas que gostam de
períodos antigos e com outras que as viveram, nos trazendo detalhes interessantes de
outras épocas.
O Facebook é uma rede social virtual, criada em 2004, por Mark Zuckerberg e
amigos, no período em que estudavam em Harvard. Inicialmente, o uso era restrito aos
alunos da universidade e tinha como finalidade criar uma rede de contato para os
universitários — seria, então, uma maneira de os estudantes interagirem entre si.
Posteriormente, a rede foi ampliada para escolas secundárias e para o público em geral.
Atualmente, o site possui mais de 1 bilhão de usuários que o utilizam frequentemente.
Para acessar o site, é necessário que o usuário faça um cadastro por meio de um
login (nome) e uma senha, para em seguida preencher um perfil básico onde coloca
alguns de seus dados pessoais. O usuário pode, assim, interagir no site, adicionando
amigos e comunidades, postando fotografias, enviando mensagens eletrônicas,
estabelecendo bate-papos virtuais e compartilhando imagens, vídeos e o conteúdo de
outros sites. O site possui no perfil do usuário um mural com a frase “O que você está
pensando?” e, através desse espaço, o internauta pode interagir, publicando frases e
pensamentos. Além disso, ele (ou ela) pode republicar — algo que ganha a terminologia
de “compartilhar” — textos de outros sites, como os de notícias, por exemplo, ou o
2
Fan page é a terminologia comumente usada para designar as páginas de fãs (fan pages), que existem
para que as organizações, empresas, celebridades e bandas transmitam muitas informações aos seus
seguidores ou ao público que escolher se conectar a elas. Semelhante aos perfis, as páginas podem ser
aprimoradas com aplicativos que ajudem as entidades a se comunicarem e interagirem com o seu público
e adquirirem novos usuários por recomendações de amigos, históricos dos feeds de notícias, eventos do
Facebook e muito mais (fonte: Facebook).
10
11. conteúdo de blogs3, links das fan pages além de material em áudio ou vídeo de portais
como o YouTube4.
O Facebook disponibiliza para os usuários o perfil, onde são colocadas
informações pessoais, e as fan pages, que são utilizadas por empresas e/ou pessoas que
movimentam algum assunto específico e querem “encontrar” e interagir com seu
público. As diferenças entre elas são importantes: no perfil pessoal, é limitado o número
de amigos (5.000 mil), de envio de mensagens (no máximo 20), além de não se poder
fazer customização da página; na Fan page, o número de internautas e mensagens é
ilimitado e há a possibilidade de mensurar dados estatísticos, a quantidade de
visualizações e o número de pessoas que “curtiram” a página.
Fortaleza Nobre (FN) se enquadra na categoria de fan page como foi
exemplificado acima. Sua descrição no site é: “Tudo sobre a linda cidade de Fortaleza,
suas praias, suas ruas, seus bairros históricos e seu povo acolhedor”. Para o internauta
que procura ter acesso às comunidades e às outras páginas, é necessário apenas
“curtir”5 a página, podendo assim, visualizar suas postagens no mural de seu perfil
pessoal, diferentemente do Orkut que, para permitir que se soubesse dos novos tópicos6
das comunidades, tornava necessário acessar o link das mesmas.
Tendo em vista o grande número de usuários no mundo e no Brasil, que gira em
torno dos 54 milhões de usuários7, ficando atrás somente dos Estados Unidos,
percebemos as novas relações sociais que nascem a partir do uso dessas redes virtuais.
Dessa forma, faz-se necessário à Sociologia deter-se com atenção a esses novos
fenômenos, com já fazem, há algum tempo, grandes sociólogos que nos ajudam a
refletir sobre essa nova dinâmica social e de sociabilidade entre as pessoas,
notadamente, nomes como Manuel Castells e Zygmunt Bauman.
Vivemos em um mundo globalizado, onde os fluxos de pessoas, informações e
mercadorias estão interligando todo o globo. Com a Internet, temos um meio de
3
Um blog é um espaço na web cuja estrutura permite, de uma forma simples e direta, o registro
cronológico, frequente e imediato das opiniões, emoções, imagens, fatos, ou qualquer outro tipo de
conteúdo à sua escolha.
4
O You Tube é uma rede social que permitem a interação, principalmente, por meio de arquivos de vídeo.
5
É uma das três formas (curtir, comentar e compartilhar) de interagir com as postagens, além da
possibilidade de adicionar páginas de interesse. Corresponde ao internauta publicizar que “gostou” de
determinada postagem.
6
Os tópicos eram uma das formas de interação nas comunidades do Orkut. A pessoa acessava o link da
comunidade e tinha um tópico, sempre relacionado a assunto específico, a partir do qual os internautas
começava a colocar suas opiniões a respeito.
7
Informação encontrada em http://www.acordacidade.com.br/noticias/96159/usuarios-brasileiros-do-
facebook-superam-media-mundial-de-tempo-gasto-com-rede-social-.html.
11
12. conectar os internautas que estão compartilhando vivências, experiências, opiniões e
discussões sobre o cotidiano. A reeleição de Barack Obama8 foi o assunto mais
“tuitado” da história das redes sociais com mais 327 mil tweets por minuto9. Em alguns
países árabes, ativistas políticos e a sociedade civil marcavam “atos” pela Internet,
possibilitando organizar manifestações em países estritamente fechados, ajudando a
formar o fenômeno social chamado de Primavera Árabe, em 2011.
Castells (1999) foi um dos pioneiros a analisar o uso da Internet e é, até hoje, um
dos mais importantes estudiosos do assunto. O autor aborda como a sociedade está
interagindo em um mundo globalizado não só por meios eletrônicos, mas também
integrando todos os meios de comunicação, resultando em uma interatividade que muda
e continuará mudando nossa cultura.
O mesmo autor, em uma entrevista sobre a temática de redes, disse que
vivenciamos um mundo de redes sociais e deu o exemplo de que a nossa realidade se
fez virtual, pois as pessoas relacionam sua vida física com sua realidade na rede. Assim,
quando acessamos um site, buscamos o que mais gostamos (comunidades, produtos,
causas), compartilhamos elementos do cotidiano como notícias, músicas, elementos
engraçados e coisas que nos trazem indignação também. O autor ainda completa,
dizendo que “o que a Internet permitiu é a autoconstrução das redes de relação, da
organização social, e de redes de pensamento. É a primeira vez na história que se
produz uma autoconstrução da sociedade nessa escala”10.
Bauman (2008) destaca um valor presente nas redes sociais: a visibilidade. “Os
usuários ficam felizes por ‘revelarem detalhes íntimos de suas vidas pessoais’ [...]”
(BAUMAN, 2008, p.8), como fotos, detalhes do cotidiano, fazendo da rede um
confessionário público. Essas “atividades” remetem às pessoas uma forma de serem
percebidas, notadas por seus amigos. Dependendo da postagem, podem até mesmo
ganhar grande repercussão, ao serem muito compartilhadas entre os usuários. Algumas
pessoas ficaram “famosas” devido ao sucesso de suas postagens.
8
Barack Obama (1961-) é advogado e atual presidente dos Estados Unidos, tendo sido reeleito no mês de
novembro de 2012, para mais um mandato de 4 anos. Sua primeira eleição, em 2008, também foi bastante
comentada nas redes sociais. Estudiosos de redes e política colocam que Obama, é um dos poucos que
sabem utilizar as redes.
9
O termos “tuitado” e “tweet” se referem a mensagens enviadas através da rede social Twitter, que
congrega diversos blogs de usuários. O diferencial do Twitter diz respeito à limitação imposta aos seus
usuários, que só podem publicar mensagens com, no máximo, 140 caracteres. Assim como o Facebook,
para enviar ou receber um tweet, é necessário criar uma conta nesse site.
10
Entrevista do autor disponível no site http://webmanario.com/2010/09/26/castells-a-rede-social-nao-e-
uma-virtualidade-em-nossa-vida-e-nossa-realidade-que-se-fez-virtual/
12
13. Chris Rojek (2008) mostra que vivemos em um mundo em que “ser uma
celebridade” é um tipo de objetivo na vida das pessoas mais comuns. Bauman (2008)
também cita um caso interessante:
Minha mãe é professora de uma escola primária, disse Corinne a um
entrevistador, e quando ela pergunta aos meninos o que eles querem
ser quando crescer, eles dizem: “famoso”. Ela pergunta por que
motivo, eles respondem: “Não sei, só quero ser famoso”.
Nesses sonhos, “ser famoso” não significada nada mais (mas também
nada menos!) do que aparecer nas primeiras páginas de milhares de
revistas e em milhões de telas, ser visto, notado, comentado e,
portanto, presumivelmente, desejado por muitos – assim como
sapatos, saias ou acessórios exibidos nas revistas luxuosas e nas telas
de TV, e por isso vistos, notados, comentados, desejados... [...].
Numa sociedade de consumidores, tornar-se uma mercadoria
desejável e desejada é a matéria de que são feitos os sonhos e os
contos de fadas. (BAUMAN, 2008, pp. 21-22).
A perspectiva do autor sobre compartilhar dados pessoais na Internet representa
uma maneira de se autopromover em um mercado simbólico de trocas. No mesmo
sentido, fala sobre sermos, em nossa sociedade, avaliados uns pelos outros por um tipo
de “senso de popularidade”, que vai marcar se estamos ou não adequados às novas
formas de sociabilidade que se estabelecem no mundo contemporâneo.
Bauman é, portanto, um dos autores que enxerga um componente negativo no
crescimento da Internet, pelo menos quanto ao risco de diminuição de espaços de
sociabilidade real. Insere-se, assim, dentro de um segundo grupo de pensadores sobre a
Internet, segundo classificação realizada por Giddens (2009), que ressalta que existe um
primeiro grupo que crê que a rede mundial de computadores traz benefícios no sentido
de que pode ampliar redes de sociabilidade (reais e não virtuais) preexistentes ou
mesmo criar novas.
É neste sentido que podemos pensar os usos da memória por parte de habitantes
de Fortaleza (ou de outros lugares) que acessam a fan page Fortaleza Nobre. Tendo em
vista que sua “função” primordial é apresentar imagens “antigas” da cidade, FN é uma
ferramenta que nos coloca diretamente em contato com a categoria da memória, palco
de tantos estudos da Sociologia e da História.
A idéia de “resgate da memória” de tempos passados nos acompanha
constantemente. Escutamos músicas que marcaram um período, lembramo-nos dos
cantores, dos costumes e das roupas. Recordamos também as etapas vividas, como
infância, adolescência, juventude, e os diversos grupos de amigos que se fizeram
13
14. presentes nas mais experiências mais marcantes. E os espaços? A escola, a Igreja, a
praça, a casa, o bairro, todo eles tem uma importância para a convivência das pessoas.
Um meio que possibilita o resgate da memória é a imagem. Através dela,
visualizamos fotografias antigas, recordamos os momentos mais especiais como
nascimentos, casamentos, aniversários, formaturas. Através delas, podemos, inclusive,
conhecer o que não vivemos ou vimos devido à diferença do tempo, como lugares, ruas
e praças “de antigamente”.
Sabemos que visualizar fotografias antigas nos remete à memória de uma
determinada época. Assim, nos fazemos perguntas e tecemos comentários do tipo:
“como aconteceu isso naquela época?”, ou “como seria interessante ter presenciado
isso...”, ou “não nasci no tempo certo”. Voltamos àquele período mesmo sem ter nele
nascido, porque a imagem nos permite acreditar que, em comparação com o presente,
aqueles tempos eram melhores do que os atuais.
O advento das redes sociais na Internet trouxe à tona muitas imagens que até
então estavam esquecidas. Essas imagens agora estão disponíveis para qualquer
internauta que queira visualizá-las ou “baixá-las” em seu computador. Tal prática parece
deixar mais viva a lembrança de filmes, programas de televisão, objetos, costumes,
muitas das vezes ressaltando em quem viveu determinada época sentimentos expressos,
como se tivessem realmente sido felizes por ter vivenciado coisas boas.
A página Fortaleza Nobre é um exemplo disso. Parte de seu acervo imagético
advém de coleções particulares que antes só eram acessíveis nos livros de História ou
em locais específicos, como o Museu da Imagem e do Som (MIS)11. Agora, por meio da
postagem de tais imagens na rede, qualquer usuário do Facebook e/ou da página pode
não apenas visualizá-las, mas guardá-las em seu computador, para contemplação ou
coleção. Além disso, pode compartilhá-las com amigos por meio das ferramentas do
sistema do site.
No Facebook, existem várias páginas que fazem referência à memória e nas
quais são celebrados filmes, músicas, artistas, lugares etc. A escolha por uma página
que faz referência à memória da cidade de Fortaleza se dá porque esta página permite
não apenas a contemplação de espaços que podem ser conferidos no cotidiano por
qualquer morador da cidade, como é o caso da pesquisadora, como também nos coloca
11
O MIS era a antiga residência oficial do governador e está localizado, atualmente, na Avenida Barão de
Studart, 410, Aldeota. Foi criado e implementado pela Secretaria da Cultura (Secult), desenvolvendo uma
diversidade de atividades museológicas, nos âmbitos de ensino, pesquisa, antropologia cultural, cultura
popular e expressões audiovisuais.
14
15. dentro de uma realidade sociológica mais próxima e aferível, que possibilita um olhar
sociológico mais consolidado, menos ensaístico.
Dentre muitas, três páginas mostram fotografias antigas da cidade de Fortaleza:
a primeira, Fortaleza Nobre, analisada neste trabalho, é a maior e mais acessada; a
segunda Fortaleza em Fotos, contém 2.881 pessoas que a “curtiram”; a terceira é
Cidade de Fortaleza nas Antigas que possuem 3.141 de internautas que “curtiram” a
fan page.
Nesta pesquisa, estamos estudando os usos da memória, a partir dos
comentários dos cidadãos de Fortaleza, visualizados na página FN, procurando perceber
seus significados. A escolha da fan page se deu por ser a maior em relação às outras
duas citadas acima e pelo crescimento do número de internautas que “curtiram” a
página durante a pesquisa12. Além disso, a página foi o primeiro contato da
pesquisadora com imagens antigas de Fortaleza, sendo interessante a organização das
postagens e o fato de ser movimentada diariamente.
A participação dos internautas foi de suma importância, porque não adiantaria se
a página fosse interessante e não houvesse a participação deles, seja nos comentários
das postagens, seja deixando mensagens perguntando sobre fotografias de um
determinado lugar. A página fez um ano no dia 25 de outubro de 2012 e foi importante
perceber o desenvolvimento e as formas diferentes de postagens que nos levam a
visualizar o passado.
Em relação à memória de acontecimentos passados, existem outras páginas que
abordam também essa temática, como o blog Ceará Nobre, que abrange conteúdos de
cidades, personalidades e acontecimentos cearenses, enriquecendo ainda mais a
memória do nosso estado. Contamos também com o site do Nirez13, em que se pode ter
um contato com músicas antigas e visualizar imagens de instrumentos antigos. Este
pesquisador possui um importante acervo de imagens da Fortaleza antiga, sendo grande
parte delas utilizada na fan page FN.
A Internet disponibiliza um acervo com imagens, vídeos e canções que, em
simples acesso, nos permite entrar em contato com o passado. Tudo isso leva os
internautas a recordarem, por exemplo, no You Tube, os vídeos de músicas dos anos
12
Em agosto de 2012 eram 5.741 pessoas “curtindo” a página FN, chegando a 6.417 em novembro do
mesmo ano.
13
Miguel Ângelo de Azevedo Nirez é jornalista, historiador, pesquisador de música brasileira. Hoje
possui uma das maiores coleções de discos de cera do país com mais de 22 mil exemplares e um acervo
composto por mais de 140 mil itens. Mantém no ar desde l963 o programa de rádio "Arquivo de Cera"
que, após passar por várias emissoras, está, aos domingos pela manhã, na Rádio Universitária FM.
15
16. 1960, 1970 e 1980, comentando algo como “Eu amo as músicas dos anos 80, não se faz
mais músicas como antigamente”. As pessoas que desfrutaram da época relembram
com saudosismo e as que não haviam nascido ainda têm uma chance de conhecer esse
período, através das produções midiáticas como filmes e músicas.
Compreendendo a importância da memória e percebendo o resgate da mesma
através das redes sociais, neste trabalho, adentraremos no site do Facebook,
especificamente na página Fortaleza Nobre, a fim de entender o resgate da memória
espacial da cidade, onde podemos observar as principais avenidas, colégios, pontos
turísticos, praças, campanhas publicitárias, clubes, eventos, em períodos antigos como
em meados do século XX.
1.1 Percursos da Pesquisa
O tema desta monografia foi decidido, enquanto cursávamos o quinto semestre,
por achar bastante interessante as redes sociais na Internet. Na adolescência,
presenciamos o surgimento das redes com o Orkut, a primeira rede social utilizada pelos
brasileiros. Mandar scraps14, deixar um depoimento para um amigo, adicionar
comunidades, postar fotos e vídeos, tudo isso ganhou muita repercussão e os brasileiros
se entregaram a essa nova sociabilidade através da Internet.
A geração de brasileiros nascidos em fins dos anos 1980 e começo dos anos
1990 não sofreu grande influência das mídias eletrônicas, até a sua adolescência.
Lembramos quando fizemos a primeira conta no Orkut e que, no início, só se podia ter
acesso à rede através de convite pessoal. Logo, quando fizemos a conta, fomos
procurando amigos para adicioná-los e as comunidades dos assuntos que mais
gostávamos. A partir de então, era comum entre os adolescentes destinar a melhor
fotografia para o perfil do Orkut.
Com o advento das redes sociais, boa parte de nossa vida social em festas e
encontros estão sendo registrados e arquivados em álbuns, em alguma rede social.
Assim, percebemos a importância da fotografia: ela consegue congelar nossas
impressões e momentos vividos, posteriormente nos fazendo lembrá-los.
O cotidiano possui uma nova configuração: está sendo confessado ao público,
como diz Bauman (2008). Quase tudo está sendo registrado e, através dessas novas
14
Scrap era o nome dado, pelos usuários do Orkut, para a mensagem deixada no perfil de algum amigo.
16
17. mídias eletrônicas, coisas simples ganham visibilidade, como um passeio, uma festa, um
encontro, uma música, pensamentos e indignações, que são compartilhados diariamente
na Internet.
Então, o que começou com o Orkut, em uma forma de adicionar gostos e
preferências e de enviar imagens, ganhou espaço também no Facebook e no Twitter. O
primeiro nos remete a muitas possibilidades de análise como questões que envolvem
identidade, representação, sociabilidade, memória, imagens, comunicação etc. As
próprias ferramentas do site (curtir, comentar, compartilhar, linha do tempo) nos levam
a várias compreensões de como os internautas interagem com o cotidiano.
Então, era necessário um recorte mais específico dentro do Facebook e surge o
interesse pela página FN, que permite a análise da memória a partir das fotografias e
comentários dos internautas. Assim, algumas questões vieram à mente: O que nos
envolve ao voltar ao passado? Por que o passado é tão evocado em relação ao presente?
Serão as lembranças que foram deixadas por um lugar, ou grupo de pessoas? Quais
imagens seriam mais relevantes na página FN para os internautas? Como, através dessas
mídias, as pessoas podem interagir a respeito da memória de nossa cidade? Quais
seriam as imagens favoritas, os comentários a respeito dos espaços e os relatos das
experiências?
Ao analisar essa página, levantamos essas questões porque nos deparamos com a
memória de uma Fortaleza que só existe naquelas imagens, que, com o tempo, teve seus
espaços modificados. O que permanece, no entanto, são as lembranças dos internautas,
que recordam o colégio que estudaram, os lugares que visitaram quando criança e os
grupos de amigos que marcaram espaços de encontro.
O campo dessa pesquisa é diferente do da maioria dos trabalhos do curso de
graduação em Ciências Sociais, nos quais o pesquisador tem um ou vários espaços para
visitar, com a finalidade de compreender melhor o seu objeto de estudo. Assim, as
condições de acesso ao campo de pesquisa são favoráveis. Quando entramos no perfil
do Facebook, se houver postagens, conseguimos visualizá-las. De outra maneira,
podemos entrar no próprio site e vemos todos os links, imagens e comentários dos
internautas, procurando sempre a melhor forma de entender as postagens, os espaços e
como os internautas interagem com a página.
O estudo da memória ganhou muito importância na Sociologia, a partir da
segunda metade do século XX, quando Maurice Halbwachs ([1968] 1990) aborda os
conceitos de memória individual e coletiva e suas ligações com o tempo e espaço. A
17
18. influência desse autor foi muito importante para diversos autores e suas pesquisas,
alguns dos quais são aqui estudados como Pollak (1992), Le Goff (1990) Abreu (1998),
Schmidt & Mahfoud (1993).
Halbwachs também influenciou pesquisas em Psicologia Social como o de Ecléa
Bosi (1994), em que, através dos relatos de pessoas idosas, a autora vai pontuando
questões importantes da memória como a concepção de tempo, lembranças da família,
podendo analisar a figura materna, a figura paterna e os espaços da memória como a
casa. Na FN, percebemos, através da leitura de Bosi, a importância da família,
principalmente da figura materna na manutenção da memória. Os espaços também são
de suma importância, revelando lugares como a casa da infância, o bairro, o colégio e
outros.
Recuero (2009) é umas das leituras sobre redes sociais que são necessárias para
uma melhor compreensão do tema. A autora aborda a definição de rede social como um
conjunto de dois elementos: atores e suas conexões. Além de dar conta de vários
estudos importantes na temática, ela indica alguns valores presentes nesses sites, sendo
um dos mais significativos a visibilidade, mais perceptível na forma como os
internautas expõem detalhes pessoais ao público.
Um paradoxo que permeia essa pesquisa diz respeito à imposição do presente
com toda a tecnologia que utilizamos e à reverência que fazemos ao passado. O
encontro dessa tecnologia atual com um desejo tão antigo como o de rememorar fatos,
lugares e pessoas nos oferece a possibilidade de rever momentos anteriores, de forma
ímpar.
Tendo em vista essas colocações, o principal objetivo dessa pesquisa é o de
saber como se dá construção da memória na fan page Fortaleza Nobre, procurando
detalhadamente analisar as postagens e a interação entre os internautas. Trata-se,
portanto, de analisar e responder às indagações sobre memória, mediante a visualização
da página.
Quando começamos a analisar a fan page, já havia várias imagens referentes há
mais de seis meses de postagens. Essas imagens foram visualizadas, todos os
comentários lidos e as imagens e informações mais interessantes foram salvas. Fizemos
anotações, com a finalidade de compreender a página e a duração do tempo de pesquisa
de campo foi de três meses (agosto, setembro e outubro do corrente ano), durante quase
todos os dias.
18
19. O trabalho de campo não era propriamente difícil, mas realizar uma pesquisa
através da Internet requer também concentração. Muitas vezes, ficávamos tentados a
olhar as atualizações no Facebook, a escutar músicas, assistir séries, mas toda pesquisa
sociológica requer o maior contato possível para entender o objeto de estudo, as
interações, as relações presentes e tudo isso não foi diferente com a fan page FN.
Então, como era difícil ter contato com todos os membros (por serem muitos e
por não entrarem em contato diariamente com a página), entramos em contato com a
pessoa que movimenta a página, Leila Nobre. Começamos o contato por e-mail,
mandamos algumas perguntas e fomos respondidos atenciosamente. Apesar de não ter
feito entrevistas formais, utilizamos os comentários deixados pelos internautas nas
postagens de FN, como um meio de perceber a expressão de seu pensamento, além de
fazer uma leitura imagética da página, por meio das imagens postadas.
O campo e a entrevista semi-formal com a proprietária da página possibilitaram
estruturar o trabalho da seguinte forma: o capítulo 2 realiza a descrição da fan page FN,
como começou, suas principais e diferentes postagens que mostram as mudanças em
alguns espaços de Fortaleza e lugares que não existem mais. Alguns dos comentários
dos internautas foram citados, porque são importantes para a compreensão da
construção da memória.
O capítulo 3 fez referência às redes sociais, destacando os primeiros estudos
sobre a teoria de rede, o início da Internet em um contexto globalizado, as mudanças
através de um meio de comunicação que conecta pessoas, possibilitando conhecimento,
informações e interações, sendo citados os principais sites de redes como Orkut, Twitter
e Facebook, com especial destaque para este último.
O capítulo 4 procurará responder todas as indagações da pesquisa. Voltando à
abordagem da memória na cidade de Fortaleza, percebemos, nos comentários dos
internautas, relatos da memória que se fazem presentes nos períodos de infância, nos
espaços como praças, igrejas e bairros, assim como o sentimento do saudosismo
mediante as mudanças. Aqui também conheceremos os nomes dos lugares mais
preferidos dos internautas na fan page FN, de acordo com as ferramentas de visibilidade
(curtir, comentar e compartilhar) do Facebook.
19
20. 2. FORTALEZA NOBRE: A CIDADE DO PASSADO POR MEIO DA IMAGEM
"Uma janela para o passado
Janela aberta é saudade
Quem se debruça sobre ela
Sabe e sente
Que tem olhos no passado
E o corpo no presente"
JJ Leandro15
A fan page analisada nesta pesquisa começou no Facebook no dia 25 de outubro
de 2011, mas tem origem em um blog com o mesmo nome. Até o presente momento,
tem o total de 6.465 de pessoas que curtiram e recebem as atualizações da página. As
postagens das fotografias contêm uma breve descrição da imagem, na maioria das
vezes, a data na qual foi fotografada, um pouco da história, o lugar de referência etc.
A iniciativa de formar o blog que deu origem à fan page se deu quando Leila
Nobre já tinha conseguido muitas imagens do passado de Fortaleza, devido às suas
pesquisas e, segundo ela própria, por querer compartilhar a sua motivação com outras
pessoas que também gostassem de ver fotografias antigas.
O blog Fortaleza Nobre começou em 2009, com fotos antigas da cidade e
contando um pouco da história dos principais lugares, como avenidas, praças, pontos
turísticos, cinemas, colégios, igrejas, fábricas e tantos outros espaços importantes.
Atualmente, o blog contém 918 membros. Com o uso das redes sociais, foram criadas
páginas com o mesmo conteúdo, no Facebook e no Twitter.
Todas essas páginas são movimentadas pela técnica em contabilidade Leila
Nobre, que afirma ter sempre gostado de fotos antigas de Fortaleza. Tudo começou
quando criança: gostava de ler livros, como A Normalista, de Adolfo Caminha, que
falavam sobre a cidade em tempos passados e que a deixavam curiosa para saber quais
eram as ruas descritas neles. Segundo ela, era um hobby procurar fotos na Internet, até
que decidiu criar o blog. Depois, como muitas pessoas pediam fotos pelo seu perfil,
decidiu criar uma fan page.
Este capítulo analisará a Fan page Fortaleza Nobre de forma geral, relatando
suas principais características e algumas de suas postagens mais populares.
15
Nas trocas de e-mails com Leila Nobre, moderadora da página FN, esse poema sempre aparece quando
ela responde.
20
21. 2.1 Imagens e Memória na Fortaleza Nobre
A rede social Facebook disponibiliza aos internautas ferramentas importantes de
interação, a saber: “curtir”, “comentar” e “compartilhar”. As postagens são
movimentadas e, a partir delas, os comentários enriquecem a imagem, acrescentando
histórias e lembranças. Já a ferramenta “compartilhar” é um meio de divulgar a
imagem, ao fazê-la aparecer nos perfis de outras pessoas.
Segue-se a imagem inicial da fan page, o primeiro contato que qualquer
internauta tem quando clica em Fortaleza Nobre. Essa fotografia maior é a capa, um dos
recursos da linha do tempo do Facebook e representa uma imagem muito importante
para o grupo. Os demais detalhes são a descrição da página, como outros endereços na
Internet como o próprio blog e a página no Twitter. A imagem pequena foi a última
postagem (imagem) feita no grupo e fica ao lado o número de pessoas que curtiram.
Imagem 01: Fan page Fortaleza Nobre
Fonte: Facebook. Acesso em 04 dez 2012.
A diversidade dos espaços visualizados nas fotografias da página é bastante
interessante. A fonte das imagens corresponde a jornais, livros, revistas, sites e acervos
como o do Nirez16, do MIS17 e o de Assis de Lima18. Analisando as imagens, podemos
16
Miguel Ângelo de Azevedo Nirez é jornalista, historiador, pesquisador de música brasileira. Hoje
possui uma das maiores coleções de discos de cera do país com mais de 22 mil exemplares e um acervo
composto por mais de 140 mil itens. Ele possui um grande acervo de músicas, apresenta um programa
musical desde 1963, que atualmente é transmitido na Radio Universitária.
21
22. perceber que elas se enquadram em dois exemplos: postagens que mostram espaços que
não existem mais, que foram destruídos, causando indignação por parte dos internautas;
e postagens que revelam também espaços que ainda existem, podendo estes ser
subdivididos entre os que apresentam muitas mudanças e outros que não mudaram
quase nada.
A importância do acervo de Nirez para a página é significativa, pois muitas das
imagens postadas fazem parte do seu acervo. A moderadora postou no dia do
aniversário da Fan Page, do corrente ano, que ele foi sua inspiração para gostar de
imagens antigas.
Neste trabalho, iremos visualizar as fotos antigas de Fortaleza, perceber as
mudanças, saber um pouco da história e identificar os usos da memória, a partir dos
comentários dos internautas que acessam a página, procurando perceber seus
significados. Como coloca Halbwachs (1990, p. 78), “é assim que, quando percorremos
os antigos bairros de uma grande cidade, experimentamos uma satisfação particular em
que nos contem de novo a história daquelas ruas e casas”.
A primeira imagem19 comentada neste capítulo é uma das que obteve maior
repercussão na página, chamada Cruzamento da Av. Treze de Maio com Av. da
Universidade – Foto Anterior a 74 .20 Ela mostra um trajeto totalmente diferente do
atual, possuindo uma rotatória, um chafariz e sentido duplo na Avenida da
Universidade. Esta postagem deixou 85 comentários dos internautas, juntamente com
268 links curtidos e 480 compartilhamentos. Este último dado quer dizer que 480
internautas exibiram em suas próprias páginas pessoais do Facebook a imagem referida,
permitindo que todos os seus “amigos” também visualizassem a imagem. Essa
ferramenta amplia significativamente o alcance da Fortaleza Nobre e pode até atrair
mais visitantes virtuais que a “curtam” e passem, então, a receber as atualizações da fan
page.
17
Museu da Imagem e do Som, localizado na Av. Barão de Stuart, Aldeota.
18
Francisco Assis de Lima é fotógrafo profissional. Foi o idealizador e responsável pelo curso de
fotografia “Da Câmara ao laboratório”, que desenvolveu entre 1992 até 2004.
19
Em cada postagem aqui colocada, fazemos referência ao título e à data de postagem publicada na fan
page.
20
Cf. imagem 2.
22
23. Imagem 2: Cruzamento da Av. Treze de Maio com Av. da Universidade.
Fonte: Fortaleza Nobre. Data da postagem 21 de março de 2012.
Os comentários são muito importantes, pois cada internauta percebe diferentes
detalhes da foto, como os nomes dos carros, o chafariz, a Reitoria da UFC (sem quase
nenhuma alteração), o trânsito com uma quantidade significativa de carros e o
acréscimo de informações (como o lugar para onde o chafariz foi recolocado21). A mais
comum das observações se referiam a como era bonito o lugar e às lamentações por não
existir mais.
Uma das postagens que chamaram a atenção dos internautas na página foi a de
um palácio22 que era localizado na Avenida Santos Dumont entre as ruas Carlos
Vasconcelos e Monsenhor Bruno e que, na década de 1970, foi demolido para a
construção de um supermercado. O link recebeu 145 “curtidas” dos internautas, 47
comentários e 180 compartilhamentos. A Fortaleza Nobre informa na postagem que:
No início do século XX, Plácido de Carvalho era um bem sucedido
comerciante e industrial em Fortaleza, isso nas duas primeiras décadas
do século até a metade da década de trinta. Em 1916, viajando pela
Europa veio a conhecer em Paris, Maria Pierina Rossi, uma italiana de
Milão, que apesar de apaixonada recusava-se a vir morar no Brasil.
Ele, porém, também muito apaixonado, prometeu construir para ela
21
Segundo um dos internautas, o chafariz, conhecido como “Fonte das Sereias”, está hoje na Praça
Murilo Borges, no centro da cidade, de frente à antiga sede do Banco do Nordeste, atual prédio da Justiça
Federal.
22
Cf imagem 3.
23
24. em Fortaleza, uma cópia de um belo palácio que ambos viram em
Veneza. (Fortaleza Nobre, postagem em 13 de agosto de 2012).
Imagem 3: Foto Aérea do Castelo na década de 1960
Fonte: Fortaleza Nobre. Data da postagem 13 de agosto.
Os comentários da imagem 03 renderam uma discussão a respeito de como foi
permitido destruir um lugar tão memorável, que representava um marco histórico
importante para a cidade. Muitos internautas lamentaram a demolição e outros
contribuíram com mais detalhes por terem visitado o castelo. Um dos comentadores
disse que o castelo se encontrava comprometido, com cupins, infiltrações; outra pessoa
comentou que visitava o castelo depois do colégio, que na época já se encontrava
abandonado. Da mesma forma, nessa postagem, também apareceram pessoas que
fizeram parte da vida dos antigos donos, como Fernanda Rossi, sobrinha-neta de Maria
Pierina Rossi, esposa de Plácido de Carvalho.
Alódia Moreira Guedis Guimarães comentou que os seus pais eram amigos de
Maria Peirina e conta que ela ficou viúva, chegando a se casar novamente. Um dos
comentários do link foi da própria sobrinha-neta, que conta um pouco da história:
Regina, ela [Maria Pierina Rossi] era irmã do meu avô, por parte de
mãe, era minha tia-avô. Nós chamamos ela de tia Arina. Uma pena a
destruição do castelo!!!!” (Fernanda Rossi, postado em 13 de agosto
de 2012).
24
25. A imagem da Praia de Iracema23 é a que mais se repete na Fortaleza Nobre. São
imagens muito antigas, de cartões postais de várias décadas diferentes: é uma viagem no
tempo de um dos espaços favoritos de nossa cidade. Na imagem abaixo, algumas casas
e coqueiros bem próximos da praia evidenciam quão totalmente diferente o local era do
espaço atual.
Imagem 4: Beira Mar da Praia de Iracema, em 1930
Fonte: Fortaleza Nobre. Data da postagem 19 de agosto.
O espaço não possui os elementos que marcam o seu uso hoje como o calçadão,
os inúmeros edifícios, restaurantes, a ponte metálica, a feirinha24, os pintores amadores,
os comerciantes, compreendendo assim um fluxo de pessoas circulando no lugar.
No Facebook, existem outras páginas que abordam nossa cidade como a fan
page Fortaleza, que é um espaço dedicado a mostrar pontos turísticos, eventos, notícias
e a cultura da nossa cidade. A Beira Mar também é uma das imagens mais postadas e
elementos como a natureza e o mar encantam bastante as pessoas, além de serem um
espaço para lazer, para andar de patins e/ou de bicicleta e fazer caminhada. Nas
postagens, existem comentários de turistas e de cearenses que moram fora do estado,
relatando que gostam bastante do lugar. Acreditamos, então, que, para o fortalezense, se
estabelece uma relação de identidade.
23
Cf. imagem 4.
24
A feirinha, localizada em um trecho da Beira Mar, é composta de barracas que vendem elementos
variados como artesanatos, redes, bijuterias, camisetas, bebidas típicas etc.
25
26. Assim, uma questão a ser abordada é a identidade que os internautas assumem
com as imagens postadas. Entendendo a individualidade de cada um e também da
própria imagem, como as mudanças ocorridas através do tempo e do espaço não
interferem na identificação com o lugar, essas imagens assumem a importância de
lembranças.
Abreu (1998, p. 7) acrescenta que o passado “é uma das dimensões mais
importantes da singularidade” e podemos visualizá-lo na paisagem, na instituição da
memória ou ainda na cultura e no cotidiano. É interessante perceber que, em uma
cidade, podemos sim visualizar o passado através da arquitetura, dos museus, dos
teatros, das canções e das tradições.
O site mostra também as campanhas publicitárias25 antigas que mostram
eventos, produtos e lojas antigos, realizados na cidade. Através dos comentários dos
internautas, percebemos os detalhes que são separados pelo tempo. Os comentadores,
no site, observaram o horário que era muito cedo, a possibilidade de contato direto por
ser pequeno, a juventude do “Rei”26, na época com 24 anos, o próprio ano da festa, em
1965, e muitos escreveram que queriam ter ido ir a esse show.
Imagem 5- Publicidade de evento do ano de 1965
Fonte: Fortaleza Nobre. Data da postagem: 10 de agosto de 2012.
O anúncio desse evento levanta um pouco de curiosidade: como os jovens na
década de 1960 se divertiam? Quais eram os espaços que eram utilizados para tais
eventos? Quais os cantores preferidos? Na postagem, os internautas perceberam alguns
25
Cf. imagem 5: I Festival da Juventude com Roberto Carlos e Wanderléa em 1965. Data da publicação:
10 de Agosto de 2012.
26
“Rei é o apelido comum do cantor Roberto Carlos.
26
27. detalhes, mas infelizmente ninguém se manifestou para contar um pouco sobre os
hábitos de lazer da juventude fortalezense da época.
Os links que rendem mais comentários são aqueles que evidenciam a diferença
do espaço entre a data da fotografia e como permanece na atualidade, como em
postagem da fotografia do Teatro José de Alencar, nos anos 1930, que revela um espaço
bem preservado, com a arquitetura em boas condições, a praça limpa, poucas pessoas,
várias iluminarias e árvores, possibilitando, não só pela indicação da data, visualizar
uma época diferente da nossa.
O que vemos atualmente é praça ocupada por muitos ambulantes que dificultam
a passagem dos pedestres, assim como artistas populares que concentram pessoas em
volta para escutar histórias e pessoas conversando. Tudo isso leva os membros a
escreverem sobre as diferenças de uso do espaço, quando naquela época o lugar era
organizado, sendo hoje impossível perceber a beleza devido a fatores humanos.
Segundo Pollak (1989), vestígios arqueológicos como, por exemplo, os teatros,
as catedrais e tantos outros monumentos são pontos de referência que estabelecem
sentimentos de filiação e de origem, que integram a cultura no sentido comum. Na
página FN, é notório alguns pontos de referência como a Praia de Iracema, a Avenida
Treze de Maio e imagens relacionadas ao Centro da cidade.
Algumas postagens unem as duas imagens: uma do passado e outra do presente.
É interessante visualizar as possíveis mudanças ou até a preservação do espaço, como
podemos perceber na imagem da Santa Casa de Misericórdia27 abaixo, localizada na
rua Barão do Rio Branco.
Essa postagem é um dos espaços que mais conseguiram resistir às mudanças do
tempo. Na página, há imagens mais antigas da Santa Casa, que não mudou quase nada.
Próximo desse local, há outros pontos históricos que continuam preservados, como o
Passeio Público e o Centro de Turismo28, que era a antiga cadeia pública de Fortaleza.
27
Cf. imagem 6: Santa Casa de Misericórdia, na rua Barão do Rio Branco ontem e hoje. Data da
publicação-16 de Agosto de 2012.
28
A cadeia pública foi construída em 1866, sendo desativada em 1967. O Centro de Turismo foi
inaugurado em 1973, para acolher as atividades comerciais turísticas e divulgar o artesanato cearense.
27
28. Imagem 6: Santa Casa de Misericórdia, passado e presente.
Fonte: Fortaleza Nobre. Data da postagem 16 de outubro de 2012.
2.2 Fotografia como fonte de pesquisa
Acima, colocamos como a página se porta a partir das imagens e como a mesma
se organiza, portanto, é importante também atentarmos para a relevância da fotografia.
Segundo Araújo (2010), a imagem encontra suas bases no Renascimento e a invenção
da fotografia “surgiu como a necessidade que a Europa renascentista já experimentava
de se ter uma imagem pessoal, desde seu início a possibilidade de democratizar a
imagem representada” (ARAÚJO, 2010, p.24).
Nos períodos do Renascimento e da Idade Média, devido à soberania da Igreja,
as imagens eram relacionadas à religião. Somente a partir da Modernidade, são
fotografados os indivíduos e a vida cotidiana. Percebemos, em álbuns de família, fotos
das crianças em todas as etapas, registrando, assim, cada fase de seu desenvolvimento.
No período contemporâneo, então, percebemos as fotografias postadas nas redes sociais
como imagens que estão registrando os mais simples detalhes do cotidiano.
A fotografia possibilita a veracidade de qualquer situação registrada. Assim,
visualizar as imagens da página FN significa perceber como eram os espaços no
passado. Como coloca Barthes (1984):
28
29. Talvez tenhamos uma resistência invencível para acreditar no
passado, na História, a não ser sob forma de mito. A
fotografia, pela primeira vez, faz cessar essa resistência: o
passado, doravante, é tão seguro quanto o presente, o que se
pode ver no papel é tão seguro o quanto se toca (BARTHES,
1984, p. 130).
Podemos, então, compreender a fotografia como um fenômeno urbano e que os
usos passaram a produzir um grande arquivo da cidade e de seus cidadãos, como, por
exemplo, com os arquivos policiais, as fotos dos jornais e os meios audiovisuais. O
mesmo acontece na página Fortaleza Nobre, em que todas as postagens fazem
referência à cidade, detalhando os espaços físicos mais relevantes e os acontecimentos
que fizeram história.
Na página pesquisada neste trabalho, é importante ressaltar que as imagens são
de origem analógica, tendo sido preservadas no decorrer do tempo e depois
digitalizadas. Além de visualizar o espaço em tempos anteriores, podemos observar
também as imagens, as posições, as pessoas e as diferenças de tempo, que nos dão uma
compreensão das mudanças.
Desta forma, as mudanças que ocorreram na transformação da imagem analógica
para a digital foram significativas e podem ser percebidas. Antes, o uso da imagem era
limitado: o filme tinha 12, 24, e 36 poses que nem sempre eram completamente
aproveitados, pois algumas fotos “queimavam” quando eram reveladas. As imagens
tiradas eram escolhidas e não se tirava uma fotografia de qualquer jeito. Através da
máquina digital, a quantidade de imagens é produzida em escala muito maior, não é
mais necessário revelar as fotos, elas podem ser arquivadas no computador e a imagem
que não ficar boa, para o dono da câmera, pode ser apagada.
A Internet possibilitou também uma forma de organizar fotos em álbuns virtuais.
Alguns anos atrás, era comum que algumas pessoas criassem um blog pessoal e
adicionarssem fotos pessoais. Esse recurso fazia bastante sucesso, principalmente entre
as meninas. Em 2004, com o surgimento do Orkut, ficou ainda mais simples organizar
um álbum virtual: bastava enviar as fotos para a rede social, colocar um título,
comentários nas fotos e as imagens estavam organizadas. Se uma pessoa quisesse uma
foto de uma amiga, bastaria clicar na imagem e salvar.
O Facebook facilitou a vida do internauta, disponibilizando o “detector de face”:
esse recurso permite que, em uma foto postada, seja identificado o rosto das pessoas
fotografadas para adicionar seus nomes. Assim, uma pessoa pode marcar as demais e a
29
30. respectiva imagem aparecerá no perfil de todas as cinco. Com isso, não é preciso que
todas as pessoas postem a imagem e é possível compartilhar a foto, que aparece no
perfil sem a necessidade de adicionar.
2.3 Memória e interação dos membros da Fortaleza Nobre
A principal interação na página FN é realizada através dos internautas, com seus
comentários sobre cada postagem, que revelam a memória de tempos passados,
lembranças de pessoas que marcaram, espaços que se fizeram presentes em períodos de
suas vidas. Tudo isso nos leva a conhecer uma cidade e uma época que não conhecemos
atualmente.
Cada geração tem seus momentos e sempre acha que aqueles
momentos foram os melhores. Isso é regra, mas a verdade é que
comparar o que é bonito e moda hoje com o de ontem, desculpem, não
existe grau de comparação meu amigos. Natal, carnaval, reizado, São
João… tudo ficou na poeira do tempo e das lembranças somente, tudo
efetivamente mudou [...]. (Sylvio Montenegro, postagem Bons
Tempos, de 29 de julho de 2012).
Os membros do site têm uma importância significativa, porque são eles que dão
complemento às imagens disponibilizadas na página. Através do Facebook, eles podem
interagir de três maneiras: pelo “curtir”, pelo “comentar” e pelo “compartilhar”.
Através dessas ferramentas, podemos perceber a imagem que obteve maior visualização
entre os mesmos.
As legendas das imagens postadas na fan page Fortaleza Nobre acrescentam
informações, curiosidades, histórias do lugar. Em cada fotografia, vem a explicação do
nome do lugar, possivelmente a data e um pouco do acontecimento. Tudo isso leva o
internauta ao melhor entendimento e compreensão da imagem vista.
Araújo (2010) analisa fotografias analógicas e digitais em álbuns familiares,
destacando a importância das últimas, através dos comentários dos espectadores, porque
cada um expõe sua interpretação pessoal da imagem e enriquece ainda mais.
Halbwachs (1990) afirma que a memória é construída em um grupo de
referência, no qual o indivíduo compartilhou momentos, vivências e estabeleceu
identidades. Entendemos, então, a lembrança como fruto de um processo coletivo,
inserido em um contexto social que retoma relações sociais, conferindo reconhecimento
e a construção de novos laços.
30
31. A relação da memória com os relatos dos espaços mostra como um conjunto de
vivências, experiências e grupos de referência são percebidos neles. Não é, pois,
somente uma pessoa comentando, mas um ser dotado de várias influências. De Certeau
(1998, p. 188) diz que “os relatos de lugares são bricolagens. São feitos com resíduos ou
detritos do mundo”.
Os internautas interagem bastante. Muitos links são comentados fazendo
referência à memória de tempos de infância e de adolescência. O saudosismo dos
tempos vividos é constante, sempre ressaltando que uma época passada era melhor para
viver devido à tranquilidade, à existência de locais verdes, à inexistência de
engarrafamento e demais detalhes do cotidiano. Bauman (2010) explica que essa
nostalgia reflete a solidez dos tempos passados em oposição ao que é vivenciado no
cotidiano, às relações esparsas e fluidas.
Muitas vezes, um membro de FN conta um pouco da história da imagem, como
ocorreu com a Casa do Português, um lindo casarão localizado na Avenida João
Pessoa, que até hoje suscita questionamentos sobre seus antigos donos e comentários de
como se encontra em condições de desleixo.
Minha mae conheceu a familia que morava ai e conta que os donos
tem apenas um filho que se acreditavam que era doente mental, logo
apos a morte dos pais não ficou na verdade ninguem para administrar
o imovel pelo o fato do filho ser doente. Minha mae contava lindas
historia de qdo ia la... (Deborah Raquel, postada em 30 de agosto de
2012)
Muitos dos comentários são lembranças da infância dos internautas, como, por
exemplo, um dos comentários da postagem da Casa de Thomaz Pompeu de Souza
Filho29:
Sou fascinada por esse palacete! Mamãe nos levava para a missa da
Igreja do Patrocínio e depois pra Praça da Lagoinha...Brincávamos
nos coretos...tinha retretas...uma fonte linda e ela conversava conosco
sobre Fortaleza e nos mostrava o palacete e contava histórias da
construção...quem era o proprietário, etc. Amo Fortaleza Nobre!
(Angela Marques Gadelha, postada em 16 de outubro de 2012).
Os internautas observam as mudanças na época das fotografias, comparando-as à
atualidade e manifestando, assim, o sentimento de saudosismo:
29
Thomaz Pompeu de Souza Brasil Filho (1852-1929) nasceu em Fortaleza, foi advogado, político,
escritor e neto do senador Thomaz Pompeu de Souza Brasil. Sua casa tornou-se o Espaço Cultural da
Saúde da cidade de Fortaleza.
31
32. Quão diferente era fortaleza...(João Braga postado em 5 de dezembro
de 2012)
Muito Lindo...Esse era tempo bom...onde se tinha dignidade, respeito
e amor pelo próximo.Não nos dias de hoje, onde todo mundo, quer
levar vantagem em tudo, passando por cima de tudo e de
todos...(Francisco Ageu)
Uma das coisas de que mais gosto em fotos antigas é imaginar quem
era essa pessoa, como vivia de quê vivia, no que estava pensando,
principalmente naquela distante época em que nosso cidade era pouco
povoada e a paz reinava, haja vista a solitária caminhada desse senhor
cabisbaixo. O que menos gosto não está na foto, está na
insensibilidade de quem destrói tão belo patrimônio arquitetônico.
(Célio Viana)
Essas três citações de internautas representam a maioria dos comentários na
página. Por meio delas, podemos perceber como o passado é exaltado mediante a
apresentação das fotografias antigas, das observações dos detalhes da época, das
oposições encontradas com o confronto com o presente. Tudo isso leva as pessoas a
imaginarem como seria ter vivido em tal período.
É bastante comum alguém pedir uma fotografia, seja para um trabalho do
colégio, por seu um lugar que não tenha aparecido na página ainda, por ser algum
espaço vivenciado pela pessoa ou por mera curiosidade, como exemplificam os
seguintes comentários dos internautas, retirados do contato mais direto deles com a
página:
Ola tudo bem ? você tem alguma publicação sobre esses casarões que
ficam no centro dragão do mar em frente a praça almirante Saldanha ?
to muito curioso para saber a origem deles e suas histórias
abraços.(Patrick Senna, postagem em 28 de Novembro de 2012)
Olá! Meu nome é Mariana C. aquino. Gostaria de saber se você tem
algo sobre José Júlio Barbosa, o Radialista. A minha avó é filha dele.
E ela vai completar 80 anos! E gostaria de saber se vc não tem
nenhum documento com fotos, artigos ou até mesmo a voz dele
gravada. Eu queria só colocar a voz dele pra minha avó ouvir! ;D o/ ♥
30
” (Mariana C. Aquino, postada em 7 de agosto de 2012-link
respondido)
As pessoas fazem muitos elogios à página e são comuns comentários do tipo
abaixo:
30
Esses símbolos são utilizados na Internet para expressar emoções. O primeiro (;D) significa uma
piscadela e um sorriso, para demonstrar alegria. O segundo (o/) também indica alegria. O terceiro (♥)
indica afeição por alguém ou por algo.
32
33. Preciso dizer uma coisa: Desde que eu entrei no Facebook, o Fortaleza
Nobre foi a MELHOR coisa que vi por aqui. De verdade e sem
exageros!!!! Nunca havia me interessado por um "website"
assim...Parabéns!!! Vou ver se consigo algumas fotos dos meus
pais...Grande abraço e CONTINUE com esse desfile de tempos de
OURO!!! (Poliana Falçao, postado em 2 de agosto de 2012).
PARABÉNS PELO O LINDO TRABALHO...
É UMA VOLTA AO TÚNEL DO TEMPO, SOU DA DÉCADA DE
60,MAITAS COISAS NÃO CONHECI...VENDO TD ISSO PARECE
Q VIVEMOS NA ÉPOCA, ATÉ O CORAÇÃO FICA CHEIO DE
SAUDADES;;;; (Salete Moura, postada em 30 de out de 2012)
Os internautas, através dos comentários, remetem a lembranças de um espaço e
tempo específico, evidenciando a importância do grupo no qual foi vivenciada a
experiência. Como explica Schmidt & Mahfoud (1993):
Os grupos no presente e no passado permitem a localização da
lembrança num quadro de referência espaço-temporal que, justamente,
possibilita sua constituição como algo distinto do fluxo contínuo e
evanescente das vivências (SCHMIDT; MAHFOUD, 1993, p. 289).
A memória individual, segundo Halbwachs (1990), é um ponto de encontro de
diferentes influências sociais e uma forma particular de articulá-las; também é um ponto
de vista sobre a memória coletiva, juntamente com as relações que o indivíduo mantém
com outros meios, mudando conforme o lugar.
Uma pessoa, no decorrer de sua vida, passa por muitas etapas como a infância, a
adolescência, a juventude e a maturidade. Tudo isso se faz presente nas recordações,
além de influências, dos pais, amigos, professores etc, levando, assim, o indivíduo a
registrar na memória aquilo que foi importante. Compreendemos, então, que a memória
é seletiva: são guardadas as lembranças que mais gostamos, pois não conseguiremos
lembrar tudo. A seguinte postagem31 de Fortaleza Nobre assim exemplifica:
Em 01 de maio de 1945, o professor Clodomir Teófilo Girão realiza
um de seus grandes sonhos, funda o Instituto Rui Barbosa,
funcionando em prédio na Rua Senador Pompeu nºs 1329/1335, onde
antes tinha funcionado o Colégio Dom Bosco, do professor Oscar
Costa Sousa. Foi neste Instituto Rui Barbosa que o Nirez fez seu 3º
ano primário. Depois o estabelecimento foi vendido, mudando-se para
a Avenida do Imperador nº 372 já como Colégio Rui Barbosa,
passando depois a Ginásio. Cronologia Ilustrada de Fortaleza de
Miguel Ângelo de Azevedo.
31
Título da postagem: O Colégio Rui Barbosa, na Avenida Imperador. Data da Postagem: 4 de setembro
de 2012.
33
34. Imagem 7 - Colégio Rui Barbosa, na Avenida Imperador.
Fonte: Fortaleza Nobre. Data da postagem: 4 de setembro de 2012.
Algumas das declarações de internautas a respeito da postagem dizem:
Pena que esse belo prédio não exista mais...Estudei nesse
colégio...Saudades! A residência mais á frente, foi um belo
solar...Hoje está destruído também...Tenho muita pena da destruição
da nossa história! (Angela Maria Gadelha, postada em 4 de setembro
de 2012)
Muito bom, estudei lá em 1999. (Renato Matarazzo, postada em 4 de
setembro de 2012)
Nossa estudei nesse Ginásio Rui Barbosa, na Av. Imperador, fiz todo
Ginásio e Normal, antes era assim, que saudades. Puxa. Valeu amiga.
Boa Noite e um grande beijo. (Uyla Ulysses, postada em 8 de
setembro de 2012)
A experiência vivenciada por cada pessoa mencionada acima revela que o
depoimento reflete a memória individual. Todos estudaram na mesma instituição, só
que em épocas diferentes, em contextos diferentes, mas todos se identificam com o
colégio e remontam a lembranças no/do lugar. É interessante observar que cada pessoa
expressa de uma forma singular a sua relação com o espaço.
Os comentários das postagens foram aqui citados, para exemplificar como os
internautas se colocam perante as fotografias antigas, o que eles escrevem, o que
relembram, o que pensam, o que sentem, mostrando, portanto, as interações das pessoas
com a página e suas contribuições.
34
35. 3. REDES SOCIAIS NA INTERNET: SEUS USOS E SUAS IMPORTÂNCIAS
“Vivemos em rede. Não é novidade nenhuma. Cada época que a gente viveu até
hoje, sem dúvida nenhuma, foi caracterizada por redes de relacionamento.” Esse é um
trecho da entrevista do jornalista Marcelo Tas32 ao programa Café Filosófico33 com o
tema Mundo virtual: relações humanas, demasiado humanas. A partir desse trecho,
portanto, é muito importante dizer que o tema aqui estudado não é recente. Sempre
vivemos em rede, porque o conceito de rede implica relações sociais. Assim, desde
sempre, o ser humano viveu em rede(s).
O conceito de redes não é novo: quando percebemos o grande uso do termo
atualmente, logo o associamos à tecnologia e Internet, mas sua discussão pela
Sociologia vai muito além do ambiente virtual e está presente em muitos estudos. “Um
dos principais insights do novo entendimento da vida que está emergindo nas fronteiras
avançadas das ciências é o reconhecimento de que a rede é um padrão comum para todo
tipo de vida. Onde quer que haja vida, vemos redes” (CAPRA, 2008, p.19).
O primeiro estudo de rede foi feito pelo matemático Leonard Euler34, em 1736,
quando analisou a cidade prussiana de Königsberg. Segundo as crenças populares do
lugar, seria possível sair da cidade, atravessando as sete pontes, somente uma vez cada.
Ele investigou matematicamente essa crença e publicou um artigo sobre o enigma das
pontes de Königsberg, afirmando que era impossível sair da cidade sem repetir algum
caminho. Com isso, ele criou a primeira Teoria dos Grafos, associando as quatro partes
terrestres (nós) com as sete pontes (arestas ou conexões), demonstrando, assim, a
inexistência do caminho (Recuero, 2009).
32
Marcelo Tas é diretor, escritor, jornalista, e atualmente apresentador do programa CQC (Custe O Que
Custar) na emissora Band.
33
Café Filosófico é um programa de televisão, transmitido pela TV Cultura, que disponibiliza suas
gravações para os internautas que acessam o site do programa.
34
Leonard Euler (1707 -1783) nasceu na Suíça, foi matemático, físico, engenheiro, astrônomo e filósofo.
Realizou grandes descobertas nos campos da Matemática e da Física.
35
36. Imagem 8: Representação Gráfica da Cidade
Fonte: Jornal Santuário
Assim, explica Recuero (2009):
Um grafo é, assim, a representação de uma rede, constituído de nós e
arestas que conectam esses nós. A teoria dos grafos é uma das partes
da matemática aplicada que se dedica a estudar as propriedades dos
diferentes tipos de grafos. Essa representação de rede pode ser
utilizada como metáfora para diversos sistemas. Um conglomerado de
rotas de voo e seus respectivos aeroportos, por exemplo, pode ser
representado por um grafo (RECUERO, 2009, p.20).
Com o aprofundamento dos estudos utilizando a metáfora de rede, percebemos
que ela pode ser utilizada em estudos de relações sociais, relacionando as pessoas e suas
possíveis interações com um determinado grupo. No decorrer do capítulo, citaremos
alguns trabalhos importantes que contribuíram para uma melhor compreensão das redes
sociais.
O primeiro estudo foi o do Barnes Arundel35, em 1950, sobre Bremmes, uma
comunidade pescatória norueguesa. Esse antropólogo analisou a importância das
interações individuais na definição de estrutura social comunitária. Ele abordou dois
campos (industrial e territorial), em cuja base se realizavam relações entre os
indivíduos. Contudo, percebendo que eram insuficientes somente esses dois, Arundel
acrescentou um terceiro, o dos laços sociais (de parentesco, de amizade e de
conhecimento). Portanto, o uso do conceito ajudou na descrição da comunidade como
também na compreensão dos processos sociais (PORTUGAL, 2007, p.4).
Logo depois, em 1957, Elizabeth Bott36, com o estudo sobre a família e as redes
de relações sociais, trouxe para a academia a relevância do conceito de rede social. Ela
analisou a categoria família e as redes de relações sociais, ressaltando a importância de
35
John Barnes Arundel (1918- 2010) foi um antropólogo social, conhecido por ser o primeiro a utilizar o
conceito de redes sociais.
36
Elizabeth Bott (1924-) é uma antropóloga, socióloga da família e psicanalista kleiniana.
36
37. reconhecer a relação entre o caráter interno e a estrutura da rede, entendendo assim que
a composição familiar não compreende somente as relações familiares, mas as demais
relações com outras pessoas (amigos, vizinhos, colegas) que exercem influências nas
relações familiares. Além disso, ela contribuiu com a primeira estrutura da rede: a
conexão, entendida como a extensão de pessoas conhecidas por uma família e de outras
pessoas conhecidas, independente do círculo familiar. Bott fez a distinção entre “malha
estreita”, em que existem muitas relações entre as pessoas, e “malha frouxa”, na qual os
relacionamentos são escassos (PORTUGAL, 2007).
Podemos perceber esses conceitos acima nas redes sociais na Internet. Recuero
(2009) aborda os “laços fortes” que são estabelecidos pela intimidade, pela proximidade
e pela intencionalidade de criar e manter uma conexão entre duas ou mais pessoas. Já os
“laços fracos” são caracterizados por relações esparsas que não possuem proximidade
nem intimidade.
Outra análise de estudos sobre redes é a Network Analysis, que coloca que as
pessoas que conhecemos e com as quais podemos contar influenciam nosso estilo de
vida, sucesso, segurança, bem-estar e, até mesmo, a saúde (MARINS & FONTES apud
PORTUGAL, 2007, p. 10). O estudo realizado por Barry Wellman37, por exemplo,
analisou os habitantes de um quarteirão urbano de Toronto e se orientava na seguinte
questão: “a perda da comunidade”. Ao contrário do esperado, não foi possível
identificar essa perda nas conversas entre os vizinhos, nas reuniões familiares e nas
trocas de serviços entre amigos. Os pesquisadores, então, perceberam que os critérios
sociológicos para o conceito “comunidade” não se enquadravam nesse caso e passaram
a abordá-lo não como uma realidade local, mas como uma forma específica de relação
social. Este trabalho tem importância pela maneira como aborda a relação entre os
comportamentos individuais e as características das redes de relações (PORTUGAL,
2007).
Outro estudo importante sobre redes sociais é do Claude Fisher38, que aborda as
diferenças originadas pela comunidade de residência, desenvolvendo uma comparação
entre as redes de habitantes dos centros urbanos e as redes daqueles que vivem em
pequenos centros. Para o autor, os habitantes urbanos possuem uma rede de relações,
37
Barry Wellman (1942-) é um sociólogo canadense-americano. Suas áreas de pesquisa são comunidade
sociológica, Internet, interação humano-computador. O título original de seu livro é Networks as Personal
Communities (1985).
38
Claude Serge Fisher (1948-) é um sociólogo americano e professor de Sociologia na Universidade da
Califórnia. Seu trabalho inicial foi em Psicologia Social da vida urbana e redes sociais. O título original
de seu livro é To Dwell Among Friends: Personal Network in Town and City.
37
38. com maiores oportunidades de desenvolverem mais laços de interações (como trabalho,
estudo e amigos), formando, assim, uma rede mais densa e vasta de relações do que a
dos moradores da zona rural. Assim, a importância desse trabalho reside na maneira
como o autor evidencia a diferença entre a estrutura social e a configuração das redes
pessoais, mostrando como as escolhas das pessoas são condicionadas pelos contextos
em que estão inseridas, como moradia, trabalho e família (PORTUGAL, 2007).
Os trabalhos rapidamente citados trouxeram uma contribuição no âmbito dos
estudos das relações sociais, como o uso da metáfora e a análise de redes sociais.
Contudo, posteriormente, podemos perceber que essas relações sociais se
complexificam com as redes sociais na Internet, abordadas mais a frente.
3.1 Contexto da Internet
.
Os primeiros computadores foram lançados nos Estados Unidos e na Inglaterra
com fins militares, em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Assim, com o
decorrer dos anos, a utilização dos computadores foi expandida para civis, indústrias
(robótica, linhas de produção, máquinas industriais) e o setor terciário (bancos,
seguradoras). Nos anos 1970, o crescimento e desenvolvimento do computador foram
muito significativos, principalmente, devido à relação com a cultura da liberdade,
inovação individual e iniciativa empreendedora da época.
O advento da Internet também se deu para a comunicação entre militares norte-
americanos, desenvolvendo, assim, uma rede de computadores autônomos com
inúmeras maneiras de conexão e criando um sistema que dificultaria o bloqueio pelos
possíveis inimigos soviéticos. O primeiro modelo foi imaginado pelo DARPA39,
posteriormente denominado ARPANET (1969), quando a tecnologia conseguiu
compactar todas as espécies de mensagens, como som, imagem e dados. A ARPA-
INTERNET (1980) foi denominada como uma rede das redes, tornando o que hoje
conhecemos por Internet.
É importante abordar a relevância das universidades, como meio que possibilita
trocas de informações, conhecimentos e novas idéias. É o caso, por exemplo, da criação
da rede social Facebook, que foi desenvolvida por um aluno de Harvard, para a
comunidade universitária. Como afirma Castells (1999): “Essa origem universitária da
39
Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa dos Estados Unidos.
38
39. rede sempre foi decisiva para o desenvolvimento e difusão da comunicação eletrônica
pelo mundo” (CASTELLS, 1999, p. 379). A Internet possibilitou uma nova forma de
difusão das informações, livre de um controle centralizado:
O modelo informatizado, cujo exemplo é o ciberespaço, é aquele onde
a forma rizoma (redes digitais) se constitui numa estrutura
comunicativa de livre circulação de mensagens, agora não mais
editada por um centro, mas disseminada de forma transversal e
vertical, aleatória e associativa (LEMOS, 2007, p. 79 - 80).
Os meios de comunicação em cada período de sua invenção trouxeram
conquistas significativas para as pessoas, mas a Internet consegue amplitudes maiores
em relação às outras. Assim:
A revolução do impresso, com a invenção de Gutenberg, retirou os
livros do monopólio da Igreja, o telefone permitiu uma comunicação
instantânea entre pessoas, a TV e o rádio levaram informações a
distância para uma massa de espectadores. A Internet cria hoje, uma
revolução sem precedentes na história da humanidade. Pela primeira
vez o homem pode trocar informações, sob as mais diversas formas,
de maneira instantânea e planetária (Id., ibid. p.116).
Então, com todas essas transformações do computador e da Internet, podemos
perceber que surge um novo espaço, denominado ciberespaço. Segundo Lévy (1999, p.
17), ciberespaço “[...] é o novo meio de comunicação que surge da interconexão dos
computadores”, um espaço que possibilita comunicação, sociabilidade, informação,
conhecimento, interação, dentre outras coisas.
Esse termo ciberespaço foi criado pelo escritor cyberpunk40 de ficção científica
William Gibson no livro Neuromancer41, em 1984. Para ele, “o ciberespaço é um
espaço não-físico ou territorial composto por um conjunto de redes de computadores,
através das quais todas as informações (sob as suas mais diversas formas) circulam”
(GIBSON apud LEMOS, 2007, p.127).
Na atualidade, com as influências de um mundo globalizado e conectado, a
informação e conhecimento podem ser visualizados em inúmeras páginas da Internet.
42
Através de um endereço www , a informação é transmitida em tempo real: é
40
Cyberpunk é um sub-gênero de ficção científica que utiliza de elementos de romances policiais, film
noir e prosa pós-moderna.
41
Neuromancer é um livro de ficção científica que introduziu novos conceitos para a época, como
inteligências artificiais avançadas e um ciberespaço quase físico.
42
O significado da sigla é World Wide Web, a tradução para o português é “Rede de Alcance Mundial”.
39
40. disponibilizada a leitura de livros, jornais e revistas on line, que proporcionam ao
internauta um grande acesso ao conhecimento.
Pensando em nosso contexto, que podemos denominar como era eletrônica ou
Idade Mídia, a tecnologia nos proporciona a rapidez de acesso à informação e nos
deparamos com a alteração da relação com o tempo e o espaço. Bauman (2010) coloca
que o tempo foi convertido em ouro, na medida em que é usado como ferramenta para
diminuir as distâncias e superar a resistência do espaço. O autor continua a dizer que a
comunicação tomou o lugar do transporte, como principal veículo da mobilidade.
Acreditamos, então, que a mobilidade é um dos grandes problemas do século XXI: não
precisamos estar fixados a lugar algum, a Internet não precisa mais de cabos, estando no
celular, e o computador ganha versões cada vez menores, mais portáteis e com
qualidade.
Os exemplos acima colocados são consequências da globalização. Ianni (1999)
compreende “globalização” como mais um ciclo do capitalismo, posterior ao
mercantilismo, ao colonialismo e ao imperialismo. Assim, globalização seria um
processo que envolve um intenso fluxo de mercadorias, pessoas e conhecimento, mas
não somente isso: impõe também grandes mudanças, pois “esse é um processo
simultaneamente civilizador , já que desafia, rompe, subordina, mutila, destrói ou recria
outras formas sociais de vida e trabalho, compreendendo modos de ser, pensar, agir,
sentir e imaginar” (IANNI, 1999, p.13).
Pensar em mundo globalizado significa pensar em um mundo, no qual as
pessoas estão conectadas e trocando ideias, informações e discussões, revelando como
elas estão interagindo através da Internet. Alguns acontecimentos têm ganhado
repercussão devido à movimentação nas redes, como, por exemplo, a reeleição do
Barack Obama, que foi o assunto mais “tuitado” da história das redes sociais, com mais
de 327 mil tweets por minuto, e a Primavera Árabe, uma onda de protestos e
manifestações que vêm ocorrendo no Oriente Médio e no norte da África, no qual as
pessoas fizeram o uso das redes como Facebook e Twitter para organizar e comunicar as
pessoas sobre os atos políticos desencadeados.
40
41. 3.2 Redes Sociais na Internet
As redes sociais são um dos assuntos mais abordados em nosso cotidiano, sendo
comum encontrar pessoas que tenham perfil em alguma rede social. Quando lemos uma
notícia, em qualquer endereço eletrônico, frequentemente encontramos um ícone do
Facebook ou do Twitter, que permite “curtir” ou “compartilhar” aquela página da
Internet, com outros usuários da rede. Até mesmo ao inspecionar um produto à venda
em sites de comércio eletrônico, podemos encontrar referências a estas redes sociais.
A definição de rede social é a de “[...] um conjunto de dois elementos: atores
(pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços
sociais)” (RECUERO, 2009, p.24). Entender o mecanismo de uma rede, portanto,
significa observar os atores, visualizados através dos perfis, e perceber as conexões com
outros atores, comunidades e páginas.
A primeira rede social foi o Orkut, criada pelo engenheiro Orkut Buyukkokten,
no período em que era aluno da Universidade Stanford e funcionário do Google, e ela
obteve muito sucesso, principalmente no Brasil. A pessoa criava um perfil, colocando
suas principais informações, como dados pessoais, gostos e fotos, na rede. Para ser
amigo de alguém usando o perfil do Orkut, era preciso receber um convite e era
permitido também participar de comunidades, em que aconteciam muitas discussões,
com tópicos sobre algum tema importante.
No Brasil, o Orkut fez sucesso entre as pessoas, especificamente adolescentes e
jovens. Mandar scraps, deixar um depoimento para um amigo, adicionar pessoas e
postar vídeos foram a primeira experiência de muitos, mas logo seriam aprimoradas
pelo surgimento de mais sites e de redes sociais. Atualmente, o Orkut está com pouco
ou quase nenhum uso, pois os internautas migraram para o Facebook, o Twitter e outras
redes mais populares. Atualmente, entrar no Orkut parece com a visita a uma cidade
desabitada, sem pessoas, com casas abandonadas.
No mesmo ano de criação do Orkut, foi criado também o Facebook pelo
estudante de Harvard, Mark Zuckerberg. No início, o uso da rede era exclusivo para
estudantes daquela universidade, com o objetivo de socializar os alunos novatos, que
mudavam de cidade e passavam por muitas mudanças. Depois, o seu uso foi aberto para
as demais pessoas, obtendo, assim, um grande sucesso mundial, chegando, no dia 4 de
outubro do corrente ano, a ter mais de 1 bilhão de usuários no mundo.
41
42. Outra rede muito utilizada é o Twitter, criado em 2006, por Jack Dorsey, Biz
Stone e Evan Williams. Correntemente, essa rede é denominada como um
microblogging, porque permite ao usuário escrever pequenos textos de até 140
caracteres, a partir da pergunta “O que você está fazendo?” Esta rede funciona a partir
de seguidores e pessoas a se seguir, em que cada twitter pode decidir quem deseja seguir
e por quem ser seguido.
O Twitter possibilitou contato de pessoas famosas (seja no meio artístico,
jornalístico ou intelectual) com pessoas anônimas, proporcionando uma “aproximação”,
diferentemente do que acontecia antes. Anteriormente, o único meio de saber sobre
essas pessoas era através das revistas, jornais e de páginas de notícias na Internet.
As redes sociais têm proporcionado um campo vasto de análises, pois o uso
desses sites transformou muitos elementos em nosso cotidiano. Um passeio com
amigos, uma frase que marca um dia, um grupo preferido, um momento de desabafo,
uma música podem ser, agora, vistos por muitas pessoas, em tempo real. O que ficava
restrito à mente, à memória ou mesmo a um pequeno grupo de amigos agora é revelado
em um lugar público. Os internautas, portanto, utilizam esse espaço para diversas
coisas, além de interagir com os amigos, como para sair do anonimato, investindo em
postagens pessoais. É relevante, então, a questão da identidade, a maneira como as
pessoas constroem a sua imagem em um perfil, colocam suas fotografias pessoais,
assumem os principais gostos, discutem os assuntos que estão presentes no cotidiano.
As redes sociais podem oferecer visibilidade para as pessoas anônimas e muitas
investem nisso, para ter um pouco de fama, como exemplifica o caso de uma família
que postou um vídeo de uma música antiga Galhos Secos43. O rapaz, a irmã dele
juntamente com sua mãe cantam de uma forma bem engraçada e descontraída essa
música, gerando o bordão “para a nossa alegria” e virando sucesso virtual, com várias
pessoas a imitarem o vídeo.
O tempo em que as pessoas passam nos sites é assunto abordado pelos próprios
internautas. Estar conectado faz parte do cotidiano, principalmente com os avanços
tecnológicos, como a possibilidade de conectar-se pelo celular. Assim, fica mais fácil
postar fotos e fazer comentários, como divulgou uma pesquisa44, em que uma pessoa
43
Música composta em 1972, pela Banda Êxodos. Posteriormente foi gravada por diversos cantores
evangélicos.
44
Informação retirada da página Olhar Digital.
42
43. passa, em média, 8 horas e 40 minutos na Internet, sendo, desse tempo, 17% destinados
para o Facebook.
Imagem 9: Postagem da página Pós-graduando
Fonte: Página Pós-graduando. Acesso em agosto de 2012.
É interessante abordar a efemeridade do uso dessas páginas. O Orkut foi bastante
utilizado, mas, na medida em que foram surgindo outras páginas e devido a frequentes
quedas no sistema e infecção viral, os internautas migraram totalmente para o Twitter e,
principalmente, para o Facebook. Além disso, é importante ressaltar que muitas pessoas
utilizam e movimentam mais de uma página de rede social.
Imagem 10: Postagem da página Redes Sociais
Fonte: Página Redes Sociais. Acesso em setembro de 2012.
No Brasil, o ano de 2012 é eleitoral e as redes sociais têm uma participação
muito importante nesse processo, pois os políticos utilizam o espaço para fazer
campanha: colocar suas propostas, divulgar agenda e aproximar-se dos eleitores. A
43