O documento discute as funções da metáfora de acordo com Ronald Landheer. Ele identifica seis funções principais: denominativa, estética, expressiva, cognitiva, didática e teórica. A função denominativa refere-se ao uso de metáforas para nomear novos conceitos ou inovações. A função cognitiva trata da compreensão de conceitos abstratos por meio de comparações metafóricas com conceitos concretos. A função didática usa metáforas para explicar fenômenos complexos relacionando-os a fenômenos
1. GRUPO DE ESTUDOS EM METÁFORAS E
ANALOGIAS NA TECNOLOGIA, NA EDUCAÇÃO E NA
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As funções da
metáfora
Profa MSc. Niuza Eugênia
Maio/2013
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“ Tout langage et par là toute pensée a
une origine métaphorique.”
Nietzsche
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O que é uma
metáfora?
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1- é uma figura de linguagem
2- é uma analogia condensada ou camuflada
3- é uma transposição de significados
4- é o uso de uma palavra em sentido diferente do próprio
por analogia ou semelhança.
5- é uma alteração do sentido de uma palavra ou
expressão, pelo acréscimo de um segundo
significado, quando entre o sentido de base e o acrescentado
há uma relação de semelhança, de interseção, isto é, quando
apresentam traços semânticos comuns.
...confira evolução do termo Metáfora
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RICOEUR (2000) afirma que a visão aristotélica remete
a três conceitos principais inerentes à metáfora:
o desvio,
o empréstimo e a
substituição
Dessa forma, a metáfora seria um desvio do uso
habitual da palavra; um empréstimo de sentido; uma
substituição de uma palavra por outra.
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Quando é possível usar
uma metáfora ?
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Quando há uma interseção entre dois conceitos, isto
é, quando estes apresentam traços semânticos
comuns, quando é possível de alguma forma fazer uma
comparação, por mais absurda que possa ser, haverá
sempre um ponto de interseção.
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... conforme salienta Araújo (2003), é importante destacar
que “tanto as analogias quanto as metáforas são
construídas com base em, pelo menos, dois conceitos
distintos; ambas expressam formas de comparação mais
ou menos complexas e tais comparações possibilitam a
compreensão de conceitos e ou ideias abstratos.” A
semelhança, conforme Ricoeur (2000, b), é o fundamento
da substituição posta em ação na transposição metafórica.
DSS Niuza, pág.27
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Para que fim
usamos uma
metáfora?
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Para responder à esta questão realizando um
trabalho de pesquisa, chegamos às funções da
metáfora que foram apresentadas em um capítulo da
dissertação de mestrado: "Metáforas e interfaces
gráficas: contribuições para uma aprendizagem
significativa da informática", de acordo com Ronald
LANDHEER da Universidade de Leiden (Holanda)
em seu artigo Le rôle de la métaphorisation dans le
métalangage linguistique.*
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Ronald LANDHEER sustenta em seu artigo uma distinção
entre as funções da metáfora e considera como sendo as
principais:
a função denominativa
a função estética
a função expressiva
a função cognitiva
a função didática
a função teórica ou heurística
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Esta função, segundo Landheer está relacionada ao fato de que todo tipo de objeto
recebeu uma denominação de origem metafórica. São as metáforas ditas
antropológicas, ou seja, palavras relacionadas ao nosso corpo, que têm o ser humano
como referencial naquilo em que se assemelham: “o pé da mesa”, “ os dentes de um
pente”, “o coração de um reator”, “as costas de um livro” etc... são exemplos de metáforas
denominativas.
Em outras palavras, os neologismos metafóricos decorrem de termos familiares para
designar inovações ou fenômenos novos em uma sociedade. Lakoff e Johnson
introduzem a teoria das metáforas conceptuais considerando esta função
denominativa, esta capacidade de compreender novos conceitos a partir de outros
conceitos já existentes.
Cabe citar aqui então, como exemplo, o que acontece com alguns termos do
vocabulário da informática: mouse, vírus, rede, arquivo, disco, pasta, menu... são
também exemplos de metáforas denominativas.
A função denominativa
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Para Landheer o que ocorre então é que :
“ Muito antes de criar um novo termo para todas estas novidades,
opta-se frequentemente pela solução de tomar o nome já existente
de uma coisa que se lhe assemelha em certos aspectos
característicos”.
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A função estética está relacionada à missão de “embelezar” o
discurso. Esta função pode ser chamada de decorativa ou ornamental, onde
ocorre um jogo de palavras com o objetivo de substituir nomes das coisas
simples por metáforas mais originais, desta forma ornamentando o texto;
“seus lábios de mel’’; “suas faces douradas”; “um rio de lágrimas”; “uma
tempestade de palavras”, são exemplos dessa segunda função que é essencial
no campo da literatura poética.
Algumas metáforas estéticas são únicas e muito particulares para quem
as escreve, o que consequentemente poderá torná-las não codificáveis fora
do contexto.
A função estética
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Para a função expressiva, Landheer cita exemplos de comparações
com animais de grande porte ou de características fortemente
conhecidas: para destacar a força física de um homem, por
exemplo, dizer que “Pedro é um touro”, é mais expressivo do que dizer
que ele é forte. Assim como comparar um sujeito que escreve bem
poesia chamando-o de Baudelaire (ou de Drummond).
Landheer notifica que, de um modo geral, quanto mais expressiva uma
metáfora, menos codificável ela tende a ser. Um bom exemplo de
metáfora expressiva é o famoso “trem” da linguagem do povo mineiro.
Só o mineiro tem um trem esquisito no estômago ou um trem bom
demais pra fazer ou ainda um trem para terminar antes de sair.
A função expressiva
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Segundo Landheer, a metáfora expressiva pode então ser entendida
apenas em determinadas comunidades ou em determinados contextos.
Um bom exemplo da literatura regional brasileira no uso de metáforas de
função expressiva é a obra de Guimarães Rosa, onde a metáfora surge,
quase sempre, na reiteração de imagens, embalada por onomatopeias,
crispada por neologismos.
Faço uma observação também para as expressões idiomáticas de uma
língua estrangeira (LE) como exemplo máximo de uma metáfora
expressiva:
- “Ce ne sont pas vos oignons”, em francês assim como “Ele deu com os
burros n’água”. Somente o contexto de onde surgiram pode explicar
o seu significado.
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A função cognitiva da metáfora opera muito mais sob a semelhança, ou sob
o análogo, do que sob o abstrato, o ambíguo, o ornamental ou controverso.
Esta função é a que torna o exemplo de Lakoff & Jonhson célebre, ou seja,
está relacionada às metáforas conceptuais.
As metáforas conceptuais são construídas a partir de conceitos
significativos existentes em nosso sistema conceptual. Este sistema fornece
a base para a apreensão e a compreensão de novos conceitos e de novas
concepções, isto é, esta base parte daquilo que temos em nossa mente, que
já assimilamos através de nossas experiências e que seguindo uma projeção
metafórica, nos permite formar novas concepções, ou conceber e entender
novas idéias.
A função cognitiva
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Um conceito abstrato pode ser relacionado a outro de domínio corrente: “tempo é
dinheiro”, “a vida é uma viagem” são exemplos citados. Compreende-se que todas as
ações que normalmente são atribuídas ao dinheiro possam também ser atribuídas
ao tempo. Se considerarmos a vida uma viagem, subentende-se que há uma chegada
e uma partida, assim como um percurso a transcorrer.
As palavras tempo e vida são “reconceptualizadas” em um emprego metafórico
utilizando uma série de características que normalmente pertencem aos domínios
das palavras dinheiro e respectivamente viagem.
Ronald Landheer destaca que é interessante notar que tais conceitos metafóricos
não têm em si um valor de verdade condicional, não são verdades nem contra-
verdades que eles exprimem, mas simplesmente nos ensinam a ver as coisas de
uma maneira ou de outra, funcionam sempre como imagens reveladoras.
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O mesmo acontece com o termo “luz” para designar “o espírito” ele explica,
sabemos até que ponto esta imagem é produtiva considerando todas as
palavras que em relação ao conceito “luz” podem designar esta noção
intelectual: claro, clarear, esclarecer, brilhante, luminoso, obscuro, obscurecer
e etc... assim cria-se um paralelismo muito eficaz entre os dois domínios.
A definição de concepção encontrada no Novo Aurélio (edição 1993), ajuda a
esclarecer este mecanismo: ato de conceber, gerar, criar mentalmente, de
formar ideias, especialmente abstrações. Conceptual é tudo aquilo em que há
uma concepção. Em outras palavras, tudo aquilo que nos permite criar ou
recriar.
O nosso conhecimento é uma construção infinita de saberes e ligações
cognitivas. Formamos relações cognitivas que vão se ligando em nossos
cérebros, formando uma teia variada de conhecimento e saberes.
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A função da metáfora pode ser também de natureza didática. Utiliza-se
frequentemente metáforas para explicar um fenômeno complexo ou
desconhecido a partir da imagem de um fenômeno conhecido ou familiar.
Para Landheer, Aristóteles foi sem dúvida o primeiro teórico a reconhecer
este valor didático. A metáfora possibilita a transferência de nossos
conhecimentos de um domínio relativamente conhecido para um domínio
relativamente desconhecido, ela funciona como um catalisador da
compreensão.
No que se refere à linguagem computacional, termos que eventualmente
fazem parte de um domínio conhecido como o de um escritório, por
exemplo, passam a integrar este novo contexto: arquivos, pastas,
documentos etc...
A função didática
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Finalmente, a metáfora pode também ter uma função teórica ou mesmo heurística.
São metáforas que constituem uma parte integrante e insubstituível de uma teoria ou
de uma disciplina, como no caso da Lingüística Gerativa que é inimaginável sem suas
estruturas arborescentes, com seus diferentes galhos, suas ramificações.
« Selon le philosophe allemand Nietzsche, l’évolution de la connaissance humaine
n’est même rien d’autre que l’échange d’anciennes métaphores contre des
métaphores nouvelles. »
Não é portanto surpreendente ver que uma nova corrente de pensamentos ou um
novo modelo teórico, tenha o hábito de criticar ou de condenar os conceitos
metafóricos de seus predecessores.
(A Árvore da vida de Darwin é um exemplo de função teórica da metáfora Marcelos- 2006)
A função teórica
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Ronald Landheer conclui seu artigo afirmando que o que acaba de
descrever representa na verdade, um resumo das diversas características funcionais
da metáfora e que estas funções não são mutuamente exclusivas, ao contrário,
combinam entre si.
A função estética combina frequentemente com uma função expressiva, assim como
a função teórica se desdobra facilmente em uma função cognitiva. Na verdade a
metáfora constitui a ancoragem de todo discurso teórico e ela afeta mesmo a
essência e a coerência de qualquer disciplina:
« Si, pour conclure, on m’incitait à indiquer les principales fonctions de la
métaphorisation dans le métalangage scientifique, je n’hésiterais pas à poser
que ce sont surtout les trois dernières fonctions qui en sont responsables : la
fonction cognitive, la fonction didactique et la fonction théorique. »
CONCLUSÕES
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A função cognitiva nos torna conscientes das novas idéias e intuições, a
função teórica nos permite criar, a partir destas idéias, um sistema
coerente, a função didática nos permite falar de um novo e complexo
problema com a ajuda de analogias que nos são familiares.
São também estas três funções que tornam a metáfora indispensável como
ferramenta de descrição dos fatos da língua, qualquer que seja a ótica sob a
qual se observa estes fatos ou qualquer que seja a perspectiva adotada para a
descrição dos mesmos.
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“Uma vez criadas, as metáforas
passam pouco a pouco do estado de
novas para convencionais. Quanto
mais são utilizadas, mais elas se
tornam convencionais.”
Anne-Sophie Collard (2003)
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Obrigada!
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• COLLARD Anne-Sophie, « Portraits de métaphores : réflexions autour des enjeux
communicationnels des métaphores dans l’hypermédia », in Communication, vol.
23(2), automne/hiver 2005 – Bélgica
• COLLARD Anne-Sophie, «La métaphore dans l’hypermédia–Approche théorique et
cognitive de la définition de la métaphore dans l’hypermédia », in Communication,
vol.23(2), automne/hiver 2005
• GLYKOS, Allain - Approche communicationnelle du Dialogue Artiste / Scientifique -
Université Diderot - Paris 7- 1999
• LANDHEER Ronald – « Le rôle de la métaphorisation dans le métalangage
linguistique » Université de Leiden - Pays Bas, 2002, Ed. Nelly Flaux : 283-294
• RICOEUR, Paul – « A metáfora viva » São Paulo, Edições Loyola -2000
Referências