3. Figuras de linguagem
Figuras de linguagem são recursos de estilo em que predomina
o sentido conotativo das palavras.
Elas conferem à linguagem efeitos de expressividade, de
emotividade, de beleza.
O estudo das figuras de linguagem faz parte de um ramo dos
estudos linguísticos chamado Estilística.
Como as figuras de linguagem são mais ligadas à emoção, são
próprias dos textos com caráter literário, publicitário,
humorístico, devendo ser usadas com bastante economia e bom
senso em textos de caráter informativo ou argumentativo.
5. Aliteração
• É a repetição de sons consonantais, com o
intuito de conferir musicalidade ao texto.
• Geralmente o som repetido procura
descrever ou imitar aquilo de que o texto
trata. Nesse caso, a aliteração é
considerada uma harmonia imitativa.
6. Repetição dos
sons /s/ e /∫/, para
recriar o barulho do
mar.
Pescaria
Cesto de peixes no chão.
Cheio de peixes, o mar.
Cheiro de peixe pelo ar.
E peixes no chão.
Chora a espuma pela areia,
na maré cheia.
As mãos do mar vêm e vão,
em vão.
Não chegarão
aos peixes do chão.
Por isso chora, na areia,
a espuma da maré cheia.
Cecília Meireles
7. Assonância
• É a repetição de sons vocálicos, com o
intuito de conferir musicalidade ao texto.
Brilham com brilhos sinistros.
Sou um mulato nato no sentido lato
mulato democrático do litoral
Caetano Veloso
8. Onomatopeia
• É o aproveitamento ou a criação de palavras cuja
pronúncia imita o som ou a voz natural dos seres.
“Tíbios flautins finíssimos gritavam”.
Raimundo Correia
“Pedrinho, sem mais palavras, deu rédea e, lept! lept!
arrancou estrada afora”.
Monteiro Lobato
“O longo vestido da velhíssima senhora frufrulha no
alto da escada”.
Carlos Drummond de Andrade
9. Paronomásia
• É o emprego de palavras com sons semelhantes.
Berro pelo aterro pelo desterro
berro por seu berro pelo seu erro
quero que você ganhe que você me apanhe
sou o bezerro gritando mamãe.
Caetano Veloso
11. Comparação
• É a associação entre características
comuns de seres diferentes mediante o
uso de uma conjunção comparativa.
• Também recebe o nome de símile.
12. Eles não têm ideal: são como folhas
levadas pelo vento.
14. Metáfora
• É o deslizamento de sentido de uma palavra
para outra por causa de alguma característica
comum entre os seres que essas palavras
representam.
• É uma espécie de comparação sem que se
usem conjunções comparativas.
17. Catacrese
• É uma metáfora de uso comum, empregada
para suprir a falta de uma palavra específica.
• Acontece por desconhecimento,
esquecimento ou inexistência do nome mais
adequado para um determinado ser.
18. Alguns exemplos de catacrese:
– folha de papel
– barriga da perna
– cabelo de milho
– formigueiro humano
– boca do estômago
– pé de goiaba
– cabeça de alfinete
– dente de pente
19. Clichê
• É uma expressão conotativa de uso
desgastado, transformado em “lugar-comum”.
É mais um vício que uma figura de linguagem.
Laura encontra-se na flor da idade. Acabou de
completar quinze primaveras; por isso, ainda
vive no mundo da lua.
20. Prosopopeia ou personificação
• É a atribuição de qualidades, ações ou
características humanas a seres irracionais,
inanimados ou abstratos.
• É um precioso recurso de expressão poética.
21. A pequena árvore anunciava alegre a chegada do
nascimento de Cristo.
22. Metonímia
•
É a troca de uma palavra por outra, com a qual guarda alguma espécie de
relação lógica real entre elas.
•
Entre muitos outros tipos de relação, a metonímia pode acontecer entre:
a. o efeito e a causa;
b. o concreto e o abstrato;
c. o autor e obra;
d. a pessoa/coisa e suas características;
e. o continente e conteúdo;
f. a marca pelo produto;
g. o lugar e seus habitantes ou produtos etc.
h. a parte e o todo;
i. o indivíduo e classe;
sinédoque
j. a matéria pelo objeto;
k. a forma pelo objeto.
•
As relações dos itens g a j são também chamadas de sinédoque, mas essa
distinção não é relevante.
34. Gradação
• É uma sequência de ideias dispostas em
sentido ascendente ou descendente.
• Visa traduzir sentimentos fortes, como
entusiasmo, tédio, vitória, derrota,...
37. Antítese
• É a aproximação de palavras com sentido oposto,
mas sem dar origem a uma contradição lógica.
• Consiste em um poderoso recurso de estilo, muito
ao gosto da estética barroca.
38. “Depois da luz se segue a noite escura”.
Gregório de Matos
39. Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui...além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada,
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar..
Florbela Espanca
40. Paradoxo ou oximoro
• É o emprego de palavras ou expressões contraditórias
numa mesma frase.
• O paradoxo ou oximoro difere da antítese por constituir
uma ideia logicamente absurda.
• Enquanto a antítese emprega palavras de sentido
contrário, o paradoxo se constrói com termos de sentido
contraditório.
41. Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís Vaz de Camões
42. Hipérbole
• Consiste no exagero proposital de ideias ou sentimentos.
• Costuma vir combinada a metáforas e comparações.
• Muito utilizada na linguagem cotidiana, serve à poesia e à
publicidade para expressar sentimentos muito intensos ou
realçar as qualidades de um determinado produto.
50. Eufemismo
• Consiste no abrandamento do sentido de uma
expressão, por meio de sua substituição por outra
mais suave.
• É utilizado a fim de atenuar a dureza do que se diz.
51. Seu amigo partiu para junto de Deus.
[partiu para junto de Deus = morreu]
52. Ele tem o costume de faltar com a verdade.
[faltar com a verdade = mentir]
53. Lítotes
• Semelhante ao eufemismo, também consiste no
abrandamento do sentido de uma expressão,
porém através de sua negação.
55. A decisão não foi nada justa.
[nada justa = injusta]
56. Ironia
• Consiste no emprego de expressões que
querem dizer o contrário do que o falante
está pensando.
• Quase sempre é empregada com intenção
sarcástica.
59. “Acho que a
televisão é muito
educativa. Todas
as vezes que
alguém liga o
aparelho, vou para
a outra sala e leio
um livro”.
Groucho Marx
60. Antonomásia (ou perífrase)
• É a expressão que substitui o nome de um ser
por meio de um de seus atributos.
• Quando diz respeito a lugares ou pessoas,
também se grafa com iniciais maiúsculas.
61. Das entranhas da terra, jorra o ouro negro.
[ouro negro = petróleo]
62. O rei dos animais é proveniente da África.
[rei dos animais = leão]
63. Qual é mais bela: a Cidade Eterna, a
Cidade Luz ou a Cidade Maravilhosa?
[Cidade Eterna = Roma]
[Cidade Luz = Paris]
[Cidade Maravilhosa = Rio de Janeiro]
64. O Poeta dos Escravos morreu aos 24
anos de idade.
[Poeta dos Escravos = Castro Alves]
65. Apóstrofe
• É o emprego retórico do vocativo, em que se
invoca, com uma linguagem solene, um
interlocutor personificado (como uma ideia
abstrata), mítico, religioso ou ausente.
66. “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?”.
Castro Alves, “O navio negreiro”.
68. Sinestesia
• É a transferência de percepções da esfera de
um sentido (visão, tato, olfato, audição,
paladar) para outro.
• Consiste numa fusão de impressões sensoriais
de alto poder poético e sugestivo.
69. Em seu olhar gelado, percebi grande desprezo.
[olhar: sensação visual; gelado: sensação tátil]
70. Sua voz doce acariciava-me os ouvidos.
[voz: audição; doce: paladar; acariciava: tato]
72. Anáfora
• É a repetição de uma palavra ou expressão no início
de versos ou frases.
• Produz um efeito de simetria e de ritmo no texto,
permitindo tanto a expressão de sentimentos fortes
(amor, desespero, cólera) quanto a ênfase de ideias,
chamando a atenção para o que foi repetido.
73. Anáfora
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Carlos Drummond de Andrade, José.
74. Epístrofe
• É a repetição de uma palavra ou expressão em
intervalos no final de versos ou frases.
75. Apenas
uma boca. A tua boca
Apenas outra, a outra tua boca
É Primavera e ri a tua boca
De ser Agosto já na outra boca
Entre uma e outra voga a minha boca
E pouco a pouco a polpa de uma boca
Inda há pouco na popa em minha boca
É já na proa a polpa de outra boca.
Sabe a laranja a casca de uma boca
Sabe a morango a noz da outra boca
Mas sabe entretanto a minha boca
Que apenas vai sentindo em sua boca
Mais rouca do que a boca a minha boca
Mais louca do que a boca a tua boca
76. Quiasmo
• É a repetição de uma estrutura de maneira simétrica
e invertida no texto.
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...
Olavo Bilac
77. Paralelismo
• Trata-se da repetição de estruturas sintáticas
semelhantes.
• Inclui a anáfora (repetição no começo de frases ou
versos), a epístrofe (repetição no final) e o quiasmo
(repetição de forma espelhada).
78. Quadrilha
Carlos Drummond de Andrade
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para o Estados Unidos, Teresa para o
convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
79.
80. Pleonasmo
• É o emprego de palavras redundantes, com a
finalidade de reforçar uma expressão.
• Entretanto, por demonstrarem falta de inteligência,
atenção ou bom gosto, certos pleonasmos são
considerados vícios de linguagem, tais como: descer
para baixo, subir para cima, entrar para dentro, a
ilha fluvial do rio Amazonas, construir belas
construções, escrever a sua própria autobiografia, a
monocultura exclusiva de uma planta, entre outros.
• Trata-se, nesse caso, do pleonasmo vicioso.
81. Pleonasmo
• Empregado intencionalmente, entretanto, como
recurso de expressão, o pleonasmo pode apresentarse como:
a) pleonasmo sintático: em que se repetem
termos com a mesma função sinática na
sentença:
Esses livros, eu já os li.
(objeto direto)
A mim, só me resta chorar.
82. Pleonasmo
b) pleonasmo semântico: acontece a repetição de
uma ideia:
“Dói-me no coração
Uma dor que envergonha...” (Fernando Pessoa)
“Foi o que vi com meus próprios olhos” (Antônio Calado).
“Vi, claramente visto, o lume vivo
Que a marítima gente tem por santo” (Camões).
83. Hipérbato (ou Inversão)
• É a alteração da ordem direta dos termos na oração, ou das
orações no período.
• Muito realizado na poesia, sobretudo na fase anterior ao
Modernismo, o hipérbato sempre é uma tentativa de
aproximar a língua portuguesa de sua origem clássica latina.
O latim clássico possuía uma sintaxe diferente da nossa.
LUCIAE PUPA PULCHRA EST.
A BONECA DE LÚCIA É BONITA.
84. Hipérbato (ou Inversão)
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
de um povo heróico o brado retumbante” (...).
[As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um
povo heróico.]
Morreu o presidente.
[O presidente morreu.]
Animais em casa, eu não quero mais.
[Eu não quero mais animais em casa.]
85. Polissíndeto
• É o uso repetido de uma conjunção,
especialmente a conjunção aditiva e.
“Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto,...”
(Vínicius de Moraes, Soneto de fidelidade)
O menino resmunga e chora e esperneia e grita.
86. Assíndeto
• É a ausência da conjunção numa sequência de
orações coordenadas, com o intuito de
enfatizar a individualidade de cada elemento.
Não canta, não ri, não mais conversa.
Ele ama o vinho, o esporte, a boa música.
87. Anacoluto
• É a interrupção do fio da frase; um ou mais termos
ficam sintaticamente desligados do resto do período,
sem função.
• Por uma questão de realce, o termo desligado da
sentença costuma vir no começo da frase, separado
por vírgula.
• Muito comum na linguagem oral, o anacoluto deve
ser usado com bastante sobriedade e consciência na
expressão escrita.
88. Anacoluto
Essas pessoas de hoje, não se pode confiar
nelas.
Minha vida, está tudo às mil maravilhas.
O mundo, parece que as coisas todas estão
de pernas para o ar.
Meu pai ele sempre me ajuda.
[Uso indevido do anacoluto: sentença com dois sujeitos]
89. Elipse
• É a omissão de um termo que pode ser facilmente
subentendido no texto.
• Quando bem empregada, a elipse torna a escrita mais
concisa, econômica e, por consequência, mais
elegante e eficaz.
• Quando se omite um termo já utilizado no texto, a fim
de se evitar a repetição, a elipse também é chamada
de zeugma. Se esse termo omitido for um verbo, sua
elipse deve ser indicada pela colocação de uma
vírgula.
90. Elipse
Sairei logo mais.
[elipse do pronome eu]
Nós fomos conhecer Búzios; eles, Angra.
[zeugma da locução verbal foram conhecer]
Perguntei se voltaria logo. Disse-me não saber.
[zeugma da oração se voltaria logo]
Quando jovem, Márcia era muito bonita.
[elipse do verbo era]
91. Silepse
• É a realização da concordância não com os termos
expressos, mas com a ideia com eles associada que
está em nossa mente. Por isso, é também chamada
de concordância ideológica.
• Pode ser:
– de gênero;
– de número;
– de pessoa.
92. Silepse
Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.
[silepse de gênero]
A família era feliz, mas faltava-lhes sossego.
[silepse de número]
Os brasileiros amamos nossa terra.
[silepse de pessoa]