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Redação 9 – (Paráfrase) Episódio Inês de Castro – Os Lusíadas
Luiz Vaz de Camões.
Era tarde, as folhas que o outono derrubou cobriam as alamedas da cidade.
Caminhava por entre as folhas, sendo uma humilde plebeia, também eram
humildes as roupas, um claro vestido de cetim, passado a mim por minha mãe; a cada
passo ouvia o doce farfalhar abaixo de meus pés.
Apressei-me em meus passos, a noite, escura e traiçoeira, vinha caindo sobre o
horizonte. O embrulho pesava-me nas mãos, olhei rapidamente para baixo e vi a
vermelhidão que se espalhava nos dedos. Bastou-me esse momento de distração para
que o desengonçar de minhas pernas levassem-me ao chão.
A íngreme ladeira roubou-me as verduras e frutas do embrulho. Senti uma leve
dor em meus joelhos e um solavanco na base da coluna. Uma mão se alojou em meu
ombro direito. Virei-me às pressas para ver quem era, e então eu descria no que os
meus olhos mostravam-me adiante, teria tão nobre homem permissão para estar em
vielas tão humildes?
Apresentou-se a mim, como se eu não soubesse quem é: o único e legítimo
herdeiro do trono, Pedro. Apresentei-me também, apesar de não possuir tais adjetivos,
Inês de Castro, uma humilde provinciana. Suas mãos, tão firmes e tão cuidadosas ao
mesmo tempo, sustentaram-me ao levantar. As mesmas mãos que me ajudaram a pegar
as frutas que a ladeira poupou-me de seu saque.
Pedro, tão formoso, tanto nas feições como em seu modo de vestir e agir.
Traços fortes e belos, marcas de orgulho que só um berço nobre pode causar. Rosto de
suaves curvas e angular, digno da Capela Cistina de tão angelical o olhar; ao mesmo
tempo em que, seu olhar, tão acolhedor sustentava-me a cabeça, incentivando-me a
olhá-lo também, a inconsciente rigidez de sua expressão fez-me abaixar a cabeça,
dando-lhe os devidos pronomes. Cabisbaixa, agradeci o cavalheirismo demonstrado a
mim. Até tentou levantar-me a cabeça, insistindo no fato de que, fora do reino era tão
comum quanto eu, mas não me deixei levar por tão agradáveis palavras.
Há de concordar comigo, caro leitor, não há maneiras de não simpatizar com
alguém assim.
Peguei meu embrulho, agora murcho e não tão pesado, despedi-me e comecei a
avançar em direção às sombras que luar não conseguiu iluminar. Ao adentrar a sombra
mais próxima ainda sentia seu olhar pairando sobre minhas costas.
Rapidamente cheguei em casa, tateei o fundo do embrulho até que meus dedos
envolvessem um dos fósforos, raspei-o nas pedras que envolviam a porta principal e
acendi a lamparina, empunhei-a e empurrei a porta. Valente, meu gato emergiu da
escuridão de um dos cantos e contornou-me, ronronando. Coloquei o embrulho acima
da mesa, com um dos outros fósforos acendi as velas espalhadas pelo cômodo e o fogão
à lenha, enchi a panela até a metade com água e pus para ferver.
Enquanto cortava os legumes ia lembrando, nos mínimos detalhes, de cada
expressão, do suave sorriso desenhado em seus lábios, da cor mel de seus olhos, como
podia alguém ser tão belo assim?
Coloquei as verduras e algumas ervas na panela e sentei-me no parapeito da
janela, eu poderia passar o resto da minha noite pensando em seus traços, tão belos,
mas me adverti, limitei-me a observar as estrelas, tão formosas quanto o meu amado,
brilhando tão intensamente na escura vastidão que é o céu.
Abaixo da janela as pedras brilhavam também, ao refletir a branca luz do luar.
O que, pelo amor de Deus eu estava fazendo? Não valia a pena torturar-me com
esses pensamentos! Bem que eu gostaria de vê-lo novamente, olhar aqueles olhos
apaixonantes, eu tenho esperanças, mas algo me diz que não será possível esse tão
almejado reencontro. Retirei-me daquele parapeito que só me fazia sonhar e fui comer
a sopa. Comi em silêncio, por duas razões, primeiro, aos quinze anos meu pai, saiu
juntamente com o exército do Rei para travar uma de suas batalhas sem volta, aos
dezessete uma doença que assolou o reino levou-me minha mãe, não me restara
ninguém além e Valente, e segundo, mesmo sendo um dos felinos mais espertos, talvez
por ser único que conheço, Valente não aprendeu ainda outra língua a não ser o miar.
Após esse momento fui me deitar.
No dia seguinte acordei resplandecente, revitalizada para mais um dia, é minha
folga, nada de tecelagem por hoje. Costumo ir ao rio aqui perto, deitar em sua margem
e passar o dia ali, paz e sossego em um mundo tão conturbado. A fria brisa diluía-se com
o calor do Sol, o clima mais agradável em meses. As margens cobertas por grama e
flores rasteiras que soltavam o seu delicioso e perceptível aroma no ar, fechei os olhos e
deixei com que a brisa acariciasse meu rosto e cabelos.
Ao abrir os olhos o sol cegou-me, coloquei uma mão acima de meus olhos,
diminuindo um pouco a luminosidade sobre os mesmos. Nada posso ver além de
silhuetas aos meus pés. Algo se aproximava, e, somente quando a proximidade foi
tamanha que seu corpo fez sombra sobre o meu que percebi quem era. Como havia
achado minha casa ou o rio eu não sei, e nem me importei em saber, o que importava é
que Pedro estava aqui. Pediu para sentar-se ao meu lado, fiz que sim com a cabeça, pois
meus lábios aparentemente haviam perdido a habilidade de formar palavras. Havia
trazido flores, belas e exuberantes, cheias de vida, rosas com delicadas pétalas, mas que
expiravam perigo com seus espinhos no caule incrustados. Agradeci, mais por vê-lo de
novo do que pelas flores que me deu.
Mesmo não me importando com a resposta perguntei-lhe o que fazia por essas
redondezas, logo em um sábado, ele me respondeu, claramente, que o ocorrido na
noite anterior tirara-lhe o sono, tanto por pensamentos e reflexões como por
preocupação por ter-me deixado ir embora quando o jogo de sombras nos becos e vielas
já havia começado. Agradeci mais uma vez pela cortesia, já podia sentir a cor tomando
minha face, corando-me. Procurei fitar o chão.
Comemos a refeição que havia trazido na cesta e passamos a tarde deitados,
lado a lado, compartilhando de tudo um pouco, histórias de vida e planos para o futuro,
os mais profundos sonhos e desejos. É evidente que os planos dele tinham mais
elaboração que os meus, afinal, talvez eu nunca saia daquela velha cabana de meus pais.
Foi ali, naquele momento que eu tive certeza de que algo crescia dentro de mim,
preenchendo os espaços vazios do meu peito, cicatrizando feridas já há muito talhadas
em meu coração.
Quem dera nós pudéssemos desfrutar mais de nosso infinito, cheio de amores.
O rei não gostava nem um pouco da ideia de que o seu filho, legítimo herdeiro da coroa
estivesse junto com uma plebeia. A nobreza de sua descendência tinha de continuar.
Pedro não se importava muito com o que o seu pai lhe dizia, assim como a mim,
o nosso amor o havia cegado. Passamos muitos de nossas poucas horas juntos ali
naquela margem, foi ali que o nosso primeiro aconteceu, foi ali que fizemos promessas
um ao outro, trocando palavras de amor.
Não nos é permitido consolidar nossa união perante a igreja e às leis, mas
vivemos como se o tivéssemos feito, Pedro começou a passar mais tempo comigo, o que
somente enfureceu mais o rei.
Dois anos após nós nos conhecermos recebi a notícia de que nosso amor dera
um fruto. Uma bela menina, pele clara como a minha, olhos mel tão apaixonantes
quanto os do pai. Hazel é fruto da nossa proibida união. Pedro nos sustenta, tanto
materialmente como com sua presença. Chegava de tarde e saía de manhã, passava o
fim de semana inteiro e retornava à rotina na segunda-feira, assim passamos um ano e
meio.
O sol estava a pino, Hazel, agora com três anos de idade, caminhava de mãos
dadas comigo, estávamos descendo à margem do rio, indo para o lugar que tanto me
era familiar. A mesma cesta de anos atrás estava em minha outra mão, assim como um
lençol branco.
Ao chegar no local estendi o lençol, sentei-me com Hazel a tiracolo e pus-me a
esperar Pedro, que saíra de manhã ao ser chamado pelo rei.
E então a cena se repetiu, o sol cegou-me o olhar e a silhueta apareceu. Minha
mão esquerda acima dos olhos, abri um sorriso que somente a presença de Pedro
causava-me. A sombra moveu-se vagarosamente em minha direção, e só então percebi
outras duas sombras atrás da silhueta que se aproximava. O sorriso já não estava em
meus lábios. Senti meu corpo tencionar, apertei Hazel, adormecida, sobre meu peito. A
voz que se dirigiu a mim não é a voz do meu amado, uma voz mais grave e ríspida, uma
voz raivosamente angustiada. Empurrei-me para longe com os meus pés, fazendo de
meus braços e corpo o mais seguro escudo para Hazel.
A mão do desconhecido deslizou para a cintura, agarrando algo com firmeza. O
brilho dos gumes levou-me ao desespero, será que machucaria a indefesas criaturas
como eu e Hazel?
O aroma das flores que até então me compunha o paraíso, agora compunha
cheiro da morte
A ponta deslizou para meu queixo e levantou-me a cabeça. Ó Deus! É o rei quem
me ameaça a vida! O ódio estava presente em cada mínimo traço de expressão, a
repugnância em seu olhar. Suas palavras, tão afiadas quanto a lâmina que empunha:
“Como ousa fazer isso? Seu viver me traz repugnância, assim como a vida da bastarda
que tem a tiracolo, tirou-me o único herdeiro e o trouxe para essa sarjeta que chama de
lar, ousa trazer ao mundo essa bastarda que ameaça a nobreza de minha descendência!
Não mereces nem a minha compaixão, muito menos o meu reino!”
Fechei os olhos enquanto lágrimas rolavam em minha face, pus-me a falar com
Pedro em pensamentos, Pedro, meu amado Pedro, perdoa-me por não dar a Hazel ao
menos o pequeno infinito de convivência que tivemos. Lágrimas brotam e correm pelo
meu rosto meu amado!
Abri os olhos e olhei uma última vez para o horizonte ao longe, o sol, já alto,
levantava-se mais para presenciar a cena, um filete quente começou a descer pelo meu
pescoço até cair sobre as tranças de Hazel. Meu coração se apertou, não posso morrer
assim, desistindo tão fácil da vida da minha criança que ainda não sabe o que é viver,
pedi, implorei por um pouco de clemência, que deixasse Hazel viver na casa em que eu
mesma vivera, sob os cuidados de Pedro, não era necessário o reconhecimento da
paternidade legítima dele para com Hazel, assim a nobreza de sua descendência não
seria afetada, a única resposta que recebi foi o aumento do ódio em seu olhar.
Dei meu último soluçar antes que meu pequeno infinito, que fora tão perfeito,
embora tão curto, tivesse seu trágico fim. Empurrei Hazel para longe, fazendo com que
acordasse, a fim de que corresse por sua vida. Senti a lâmina aprofundar seu corte, e
meu último pensamento é:
Não chores por mim meu amado, somente vingue-se pela vida que talvez nossa
filha não tenha, vingue-se pela minha vida que, de forma tão precoce, molhou a grama
como o orvalho de uma fria manhã.
--Escrito por mim, kkkk.
FIM!

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  • 1. Redação 9 – (Paráfrase) Episódio Inês de Castro – Os Lusíadas Luiz Vaz de Camões. Era tarde, as folhas que o outono derrubou cobriam as alamedas da cidade. Caminhava por entre as folhas, sendo uma humilde plebeia, também eram humildes as roupas, um claro vestido de cetim, passado a mim por minha mãe; a cada passo ouvia o doce farfalhar abaixo de meus pés. Apressei-me em meus passos, a noite, escura e traiçoeira, vinha caindo sobre o horizonte. O embrulho pesava-me nas mãos, olhei rapidamente para baixo e vi a vermelhidão que se espalhava nos dedos. Bastou-me esse momento de distração para que o desengonçar de minhas pernas levassem-me ao chão. A íngreme ladeira roubou-me as verduras e frutas do embrulho. Senti uma leve dor em meus joelhos e um solavanco na base da coluna. Uma mão se alojou em meu ombro direito. Virei-me às pressas para ver quem era, e então eu descria no que os meus olhos mostravam-me adiante, teria tão nobre homem permissão para estar em vielas tão humildes? Apresentou-se a mim, como se eu não soubesse quem é: o único e legítimo herdeiro do trono, Pedro. Apresentei-me também, apesar de não possuir tais adjetivos, Inês de Castro, uma humilde provinciana. Suas mãos, tão firmes e tão cuidadosas ao mesmo tempo, sustentaram-me ao levantar. As mesmas mãos que me ajudaram a pegar as frutas que a ladeira poupou-me de seu saque. Pedro, tão formoso, tanto nas feições como em seu modo de vestir e agir. Traços fortes e belos, marcas de orgulho que só um berço nobre pode causar. Rosto de suaves curvas e angular, digno da Capela Cistina de tão angelical o olhar; ao mesmo tempo em que, seu olhar, tão acolhedor sustentava-me a cabeça, incentivando-me a olhá-lo também, a inconsciente rigidez de sua expressão fez-me abaixar a cabeça, dando-lhe os devidos pronomes. Cabisbaixa, agradeci o cavalheirismo demonstrado a mim. Até tentou levantar-me a cabeça, insistindo no fato de que, fora do reino era tão comum quanto eu, mas não me deixei levar por tão agradáveis palavras. Há de concordar comigo, caro leitor, não há maneiras de não simpatizar com alguém assim. Peguei meu embrulho, agora murcho e não tão pesado, despedi-me e comecei a avançar em direção às sombras que luar não conseguiu iluminar. Ao adentrar a sombra mais próxima ainda sentia seu olhar pairando sobre minhas costas. Rapidamente cheguei em casa, tateei o fundo do embrulho até que meus dedos envolvessem um dos fósforos, raspei-o nas pedras que envolviam a porta principal e acendi a lamparina, empunhei-a e empurrei a porta. Valente, meu gato emergiu da escuridão de um dos cantos e contornou-me, ronronando. Coloquei o embrulho acima da mesa, com um dos outros fósforos acendi as velas espalhadas pelo cômodo e o fogão à lenha, enchi a panela até a metade com água e pus para ferver. Enquanto cortava os legumes ia lembrando, nos mínimos detalhes, de cada expressão, do suave sorriso desenhado em seus lábios, da cor mel de seus olhos, como podia alguém ser tão belo assim? Coloquei as verduras e algumas ervas na panela e sentei-me no parapeito da janela, eu poderia passar o resto da minha noite pensando em seus traços, tão belos, mas me adverti, limitei-me a observar as estrelas, tão formosas quanto o meu amado, brilhando tão intensamente na escura vastidão que é o céu. Abaixo da janela as pedras brilhavam também, ao refletir a branca luz do luar. O que, pelo amor de Deus eu estava fazendo? Não valia a pena torturar-me com esses pensamentos! Bem que eu gostaria de vê-lo novamente, olhar aqueles olhos apaixonantes, eu tenho esperanças, mas algo me diz que não será possível esse tão almejado reencontro. Retirei-me daquele parapeito que só me fazia sonhar e fui comer a sopa. Comi em silêncio, por duas razões, primeiro, aos quinze anos meu pai, saiu juntamente com o exército do Rei para travar uma de suas batalhas sem volta, aos dezessete uma doença que assolou o reino levou-me minha mãe, não me restara
  • 2. ninguém além e Valente, e segundo, mesmo sendo um dos felinos mais espertos, talvez por ser único que conheço, Valente não aprendeu ainda outra língua a não ser o miar. Após esse momento fui me deitar. No dia seguinte acordei resplandecente, revitalizada para mais um dia, é minha folga, nada de tecelagem por hoje. Costumo ir ao rio aqui perto, deitar em sua margem e passar o dia ali, paz e sossego em um mundo tão conturbado. A fria brisa diluía-se com o calor do Sol, o clima mais agradável em meses. As margens cobertas por grama e flores rasteiras que soltavam o seu delicioso e perceptível aroma no ar, fechei os olhos e deixei com que a brisa acariciasse meu rosto e cabelos. Ao abrir os olhos o sol cegou-me, coloquei uma mão acima de meus olhos, diminuindo um pouco a luminosidade sobre os mesmos. Nada posso ver além de silhuetas aos meus pés. Algo se aproximava, e, somente quando a proximidade foi tamanha que seu corpo fez sombra sobre o meu que percebi quem era. Como havia achado minha casa ou o rio eu não sei, e nem me importei em saber, o que importava é que Pedro estava aqui. Pediu para sentar-se ao meu lado, fiz que sim com a cabeça, pois meus lábios aparentemente haviam perdido a habilidade de formar palavras. Havia trazido flores, belas e exuberantes, cheias de vida, rosas com delicadas pétalas, mas que expiravam perigo com seus espinhos no caule incrustados. Agradeci, mais por vê-lo de novo do que pelas flores que me deu. Mesmo não me importando com a resposta perguntei-lhe o que fazia por essas redondezas, logo em um sábado, ele me respondeu, claramente, que o ocorrido na noite anterior tirara-lhe o sono, tanto por pensamentos e reflexões como por preocupação por ter-me deixado ir embora quando o jogo de sombras nos becos e vielas já havia começado. Agradeci mais uma vez pela cortesia, já podia sentir a cor tomando minha face, corando-me. Procurei fitar o chão. Comemos a refeição que havia trazido na cesta e passamos a tarde deitados, lado a lado, compartilhando de tudo um pouco, histórias de vida e planos para o futuro, os mais profundos sonhos e desejos. É evidente que os planos dele tinham mais elaboração que os meus, afinal, talvez eu nunca saia daquela velha cabana de meus pais. Foi ali, naquele momento que eu tive certeza de que algo crescia dentro de mim, preenchendo os espaços vazios do meu peito, cicatrizando feridas já há muito talhadas em meu coração. Quem dera nós pudéssemos desfrutar mais de nosso infinito, cheio de amores. O rei não gostava nem um pouco da ideia de que o seu filho, legítimo herdeiro da coroa estivesse junto com uma plebeia. A nobreza de sua descendência tinha de continuar. Pedro não se importava muito com o que o seu pai lhe dizia, assim como a mim, o nosso amor o havia cegado. Passamos muitos de nossas poucas horas juntos ali naquela margem, foi ali que o nosso primeiro aconteceu, foi ali que fizemos promessas um ao outro, trocando palavras de amor. Não nos é permitido consolidar nossa união perante a igreja e às leis, mas vivemos como se o tivéssemos feito, Pedro começou a passar mais tempo comigo, o que somente enfureceu mais o rei. Dois anos após nós nos conhecermos recebi a notícia de que nosso amor dera um fruto. Uma bela menina, pele clara como a minha, olhos mel tão apaixonantes quanto os do pai. Hazel é fruto da nossa proibida união. Pedro nos sustenta, tanto materialmente como com sua presença. Chegava de tarde e saía de manhã, passava o fim de semana inteiro e retornava à rotina na segunda-feira, assim passamos um ano e meio. O sol estava a pino, Hazel, agora com três anos de idade, caminhava de mãos dadas comigo, estávamos descendo à margem do rio, indo para o lugar que tanto me era familiar. A mesma cesta de anos atrás estava em minha outra mão, assim como um lençol branco. Ao chegar no local estendi o lençol, sentei-me com Hazel a tiracolo e pus-me a esperar Pedro, que saíra de manhã ao ser chamado pelo rei. E então a cena se repetiu, o sol cegou-me o olhar e a silhueta apareceu. Minha mão esquerda acima dos olhos, abri um sorriso que somente a presença de Pedro causava-me. A sombra moveu-se vagarosamente em minha direção, e só então percebi outras duas sombras atrás da silhueta que se aproximava. O sorriso já não estava em meus lábios. Senti meu corpo tencionar, apertei Hazel, adormecida, sobre meu peito. A
  • 3. voz que se dirigiu a mim não é a voz do meu amado, uma voz mais grave e ríspida, uma voz raivosamente angustiada. Empurrei-me para longe com os meus pés, fazendo de meus braços e corpo o mais seguro escudo para Hazel. A mão do desconhecido deslizou para a cintura, agarrando algo com firmeza. O brilho dos gumes levou-me ao desespero, será que machucaria a indefesas criaturas como eu e Hazel? O aroma das flores que até então me compunha o paraíso, agora compunha cheiro da morte A ponta deslizou para meu queixo e levantou-me a cabeça. Ó Deus! É o rei quem me ameaça a vida! O ódio estava presente em cada mínimo traço de expressão, a repugnância em seu olhar. Suas palavras, tão afiadas quanto a lâmina que empunha: “Como ousa fazer isso? Seu viver me traz repugnância, assim como a vida da bastarda que tem a tiracolo, tirou-me o único herdeiro e o trouxe para essa sarjeta que chama de lar, ousa trazer ao mundo essa bastarda que ameaça a nobreza de minha descendência! Não mereces nem a minha compaixão, muito menos o meu reino!” Fechei os olhos enquanto lágrimas rolavam em minha face, pus-me a falar com Pedro em pensamentos, Pedro, meu amado Pedro, perdoa-me por não dar a Hazel ao menos o pequeno infinito de convivência que tivemos. Lágrimas brotam e correm pelo meu rosto meu amado! Abri os olhos e olhei uma última vez para o horizonte ao longe, o sol, já alto, levantava-se mais para presenciar a cena, um filete quente começou a descer pelo meu pescoço até cair sobre as tranças de Hazel. Meu coração se apertou, não posso morrer assim, desistindo tão fácil da vida da minha criança que ainda não sabe o que é viver, pedi, implorei por um pouco de clemência, que deixasse Hazel viver na casa em que eu mesma vivera, sob os cuidados de Pedro, não era necessário o reconhecimento da paternidade legítima dele para com Hazel, assim a nobreza de sua descendência não seria afetada, a única resposta que recebi foi o aumento do ódio em seu olhar. Dei meu último soluçar antes que meu pequeno infinito, que fora tão perfeito, embora tão curto, tivesse seu trágico fim. Empurrei Hazel para longe, fazendo com que acordasse, a fim de que corresse por sua vida. Senti a lâmina aprofundar seu corte, e meu último pensamento é: Não chores por mim meu amado, somente vingue-se pela vida que talvez nossa filha não tenha, vingue-se pela minha vida que, de forma tão precoce, molhou a grama como o orvalho de uma fria manhã. --Escrito por mim, kkkk. FIM!