O documento descreve (1) a história da usabilidade e como ela evoluiu ao longo das décadas, (2) o Instituto Nokia de Tecnologia, incluindo suas áreas de pesquisa e parcerias, e (3) o laboratório de usabilidade do INdT no Amazonas, incluindo seu planejamento, equipamentos e desafios na implantação.
Usabilidade nos trópicos. Desafios e perspectivas de um laboratório de usabilidade no Amazonas.
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de Interfaces Humano-Computador
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USABILIDADE NOS TRÓPICOS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
DE UM LABORATÓRIO DE USABILIDADE NO AMAZONAS
USABILITY IN THE TROPICS: CHALLENGES AND PERSPECTIVES
FOR A USABILITY LABORATORY IN AMAZONAS STATE
Robson Santos1, Francimar Maciel2
(1) Doutor em Design, Instituto Nokia de Tecnologia
e-mail: robson.santos@indt.org.br
(2) Especialista em Ergonomia, Instituto Nokia de Tecnologia
e-mail: francimar.maciel@indt.org.br
laboratório de usabilidade, relato de experiência, histórico
usability laboratory, experience report, history
1. Usabilidade: de onde vem Com a crescente complexidade atribuída a
Meister (1999) destaca que a história formal e produtos - principalmente os produtos relacionados
cronológica da Ergonomia pode ser dividida, em com tecnologia da informação e de comunicação,
linhas gerais, em antes e depois da Segunda Guerra como aparelhos celulares ou microcomputadores -
Mundial. Por outro lado, uma história informal é a Ergonomia e a usabilidade passaram a ser peças
relatada a partir de experiências dos que viveram a fundamentais no desenvolvimento de projetos mais
história e a registram em diários, cartas e relatórios adequados aos usuários. A evolução dos materiais
pessoais. O autor esclarece, ainda, que se pode e a planificação tecnológica tornaram mais fácil a
“considerar que a história da Ergonomia refletiu as geração de formas para produtos de modo a se
mudanças e anseios da sociedade e extrapolou o diferenciar dos concorrentes, ao se apresentarem
seu campo de interesse comum, os idosos, as soluções inovadores para atender as necessidades
crianças e as pessoas portadoras de deficiência.” ou desejos do usuário consumidor.
Soares (2004) apresenta uma caracterização da Turkka Keinonen, em seu trabalho One-
evolução da Ergonomia como se segue: dimensional usability (Keinonen, 1998), disseca o
conceito de usabilidade e o apresenta em diferentes
• Os anos 1950: a década da Ergonomia militar; dimensões. A primeira dimensão é a da
• Os anos 1960: a década da Ergonomia industrial; usabilidade como abordagem de projeto,
• Os anos 1970: a década da Ergonomia do consistindo em um conjunto de métodos ou
consumo; abordagens de projeto, aí compreendidos a
• Os anos 1980: a década da Ergonomia de engenharia de usabilidade e o projeto centrado no
software e da interação humano-computador; usuário.
• Os anos 1990: a década da Ergonomia
organizacional e cognitiva; De maneira crescente, a usabilidade tem sido
• A primeira década do século XXI caracterizará a incorporada como parte do desenvolvimento de
era da comunicação global e da eco-Ergonomia. produtos, em substituição ao modo de encará-la
como uma atividade separada. Por meio de um
Reconhecer a necessidade de se dotar um produto processo de projeto participativo, os métodos de
com boa usabilidade e utilizá-la como ferramenta usabilidade aproximam os usuários dos projetistas,
que aumente a percepção de valor para o objeto o que garante a melhor adequação dos produtos às
tem sido a mola propulsora para muitas empresas a reais necessidades de uso.
atender melhor as expectativas dos usuários e
consumidores. Uma segunda dimensão é a usabilidade como
atributo do produto, levada em conta por meio da
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listagem de qualidades ou características que, se Amazonas, Minas Gerais e outras universidades da
adicionadas a determinado produto, cooperam para Amazônia. Este relacionamento facilita o
a sua boa usabilidade. Como exemplo dessas listas intercâmbio do INdT com o ambiente acadêmico e
tem-se as diversas recomendações e as guias de promove o desenvolvimento científico.
estilo para desenvolvimento de programas para Com foco na produção de artigos científicos e na
computador presentes na literatura especializada. capacitação tecnológica dos profissionais locais,
pesquisadores do INdT Manaus ministram
Hoje, a usabilidade no Brasil não é apenas uma disciplinas em universidades públicas e privadas,
curiosidade acadêmica ou uma área somente para nos programas de graduação e mestrado, orientam
investigação científica. Com o incremento de alunos de mestrado e também coordenam projetos
complexidade dos produtos, os profissionais de relacionados.
desenvolvimento de projetos já a encaram como
um conhecimento indispensável e, de certa forma, O INdT apóia o desenvolvimento profissional e
indissociável da prática profissional. Entender as pessoal de seus colaboradores através da cobertura
dimensões da usabilidade e seu impacto no produto de programas de educação de longa duração (Pós-
final colabora para o aumento da efetividade e da graduação, MBA, Mestrado e Doutorado) ou de
eficiência dos artefatos gerados, seja para o curta duração (certificações, atualizações,
mercado de bens de consumo, seja para workshops). O INdT estimula a publicações de
ferramentas, equipamentos ou postos de trabalho. artigos em revistas técnicas, livros, publicações
profissionais, ou participações em conferências
2. Instituto Nokia de Tecnologia custeando despesas referentes à deslocamento,
O Instituto Nokia de Tecnologia - INdT é uma alimentação e transporte para colaboradores que
instituição sem fins lucrativos, criada em Outubro tiverem trabalhos aprovados em eventos
de 2001 pela Nokia do Brasil Tecnologia Ltda. Seu relevantes.
foco é a realização de projetos de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico, com recursos O sucesso dos projetos do INdT até 2008 já
repassados através do benefício da Lei de garante que 30% de seus recursos sejam oriundos
Informática e pelos royalties das soluções, de projetos para cliente próprios, e não somente do
produtos ou serviços que desenvolve. percentual repassado através do benefício da Lei
de Informática. O objetivo do INdT é ser
O Instituto possui três centros em operação no reconhecido internacionalmente como um dos
Brasil: em Brasília, onde funciona a sede, em maiores centros de Pesquisa e Desenvolvimento na
Recife e em Manaus, onde concentra o maior área de Comunicação Móvel.
número de pesquisadores. Um grupo de
pesquisadores também atua em São Paulo, na área 3. Laboratório de usabilidade
de soluções móveis. O Instituto conta com mais de Criado para realizar testes de usabilidade e avaliar
200 profissionais, com excelente formação experiência do usuário com softwares e
acadêmica, entre graduados, mestres e doutores em dispositivos móveis, têm por objetivo principal
áreas relacionadas a tecnologia e mobilidade. atender às demandas de testes de usabilidade e
desenvolver projetos de pesquisa nas áreas afins,
Suas principais áreas de pesquisa são: habilitando o Estado do Amazonas a executar
Telecomunicações, Software Livre e Código testes de usabilidade com equipamentos, métodos e
Aberto, Desenvolvimento de Soluções Futuras em profissionais de nível internacional. Localizado no
software, Serviços de Internet para dispositivos INdT de Manaus, o laboratório está estruturado de
móveis, Processos de Manufatura, Pesquisa de forma a poder executar testes de usabilidade tanto
propriedades mecânicas e componentes eletrônicos de software como de hardware bem como estudos
de dispositivos móveis. abordando aspectos emocionais e comportamentais
dos usuários relacionados ao uso de produtos
O Instituto mantém parcerias com as principais eletrônicos.
universidades e centros de pesquisa do mundo, em
países como Alemanha, Estados Unidos e Localizado a aproximadamente trinta minutos do
Finlândia. No Brasil, mantém parcerias com as centro da cidade de Manaus no bairro Colônia
universidades federais de São Paulo, Brasília, Terra Nova, o laboratório de usabilidade Rosaurea
Campina Grande, Ceará, Rio de Janeiro, Magalhães está sediado nas instalações do Instituto
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Nokia de Tecnologia, ocupando uma área de, expectativas de clientes e pesquisadores. Por
aproximadamente, 50m2. É composto por uma sala exemplo, ao invés de adquirir filmadoras
de observação, uma sala de entrevista e um profissionais, pode-se optar por filmadoras
ambiente onde trabalham os pesquisadores. Pelo portáteis.
fato de estar localizado dentro de um Instituto de e) Aquisição de mobiliário que permita uma
Pesquisa pode ainda utilizar recursos tecnológicos mudança de arranjo de forma rápida e sem
de outras áreas e laboratórios como serviços de muito esforço físico, para o caso de entrevistas
operadora de telefonia celular, rede elétrica em grupo ou até mesmo para em horas livres o
protegida com No-break para todos os ambiente de teste ser utilizado como espaço
equipamentos e acesso à Internet com e sem fio. para reuniões e workshops.
f) Testes externos devem ser considerados como
3.1 Planejamento uma prática, mesmo que eventual. Neste caso
De acordo com suas atribuições, técnicas e instituições parceiras são importantes pois
métodos previstos para aplicação, um laboratório agilizam processos burocráticos e podem
de usabilidade deve ser projetado utilizando contribuir para redução do tempo dedicado a
equipamentos de alta qualidade e tecnologia. tais atividades. Por exemplo, ao definir local
Rubin (2008) comenta que para algumas para realização da atividades, Universidades
organizações o laboratório de usabilidade é quase são sempre parceiros em potencial, pois
ou mais importante que o próprio processo de possuem ambientes, infra-estrutura e um
teste, pois é parte do diferencial a ser apresentado público frequentador que podem ser recrutados
para clientes e competidores. para participar da avaliação.
g) Criação de documentação padrão para facilitar
Os equipamentos adquiridos devem atender às aplicações de testes e posterior análise:
atividades de pesquisa, seja tanto pelo aspecto de formulários de cadastramento, protocolos de
uso, praticidade e simplicidade de manuseio, registro de testes, tabelas de avaliação,
quanto pela integração e facilidade de contrato de autorização de imagem, recibo,
convergência tecnológica entre os equipamentos. termo de compromisso para uso de
Despesas com assistência técnica, manutenção de equipamento etc.
equipamento e compra de hardware ou software h) Deve ser feito um levantamento prévio sobre
de extensão necessários para complementar algum possíveis formas de bonificação para os
recurso, devem ser previstas. participantes das avaliações, uma vez que os
selecionados para participar da pesquisa
A partir da experiência de implementação do dedicarão um tempo, entre suas atividades
laboratório na cidade de Manaus conclui-se como diárias. Como prática corrente, os participantes
principais pontos para o planejamento de um de atividades do Laboratório de Usabilidade
laboratório de usabilidade: recebem vale compra de lojas conhecidas, uma
vez que não nos é permitido transferir dinheiro
a) Localização do ambiente, pois deve ser de fácil diretamente para outras pessoas, a menos que
acesso aos participantes. haja um contrato de prestação de serviço
b) Importância do anonimato. Rubim (2008) validado pelo departamento jurídico do
comenta sobre a importância das instalações instituto.
do laboratório estarem desvinculadas de
marcas e patrocinadores, pois isto pode 3.2 Equipamentos
influenciar nas respostas dos participantes; O critério para seleção e aquisição dos
c) Dimensão do ambiente, para instalação e equipamentos do laboratório foi baseado em
arranjo dos equipamentos e mobiliário; tecnologias e equipamentos utilizados em
d) Definição prévia das principais técnicas e laboratórios referências no Brasil e o no mundo, a
métodos utilizados, isto poderá ajudar na partir de uma consultoria prestada pelo laboratório
definição correta de equipamentos, diminuindo SERCO, sediado em Londres. Dentre os
despesas com aquisição de itens de maior valor equipamentos que compõem o patrimônio do
que seriam utilizados sazonalmente. Nestes laboratorio destacam-se:
casos para atividades específicas, alguns itens • Câmeras de vídeo de alta definição instaladas
podem ser substituídos ou adaptados e ainda de forma a cobrir toda a área da sala de
assim possuir uma qualidade que atenda às entrevistas.
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• Um laboratório móvel com capacidade para Hoje, o INdT é parte do organograma oficial do
mixar imagens Picture-in-Picture, provenientes projeto como responsável pela pesquisa em
de duas câmeras. experiência do usuário no Brasil.
• Tobii Eyetracker, aparelho para
monitoramento de movimentos oculares por Durante o primeiro ano de funcionamento do
meio de sensores infravermelhos. laboratório, foram vivenciadas diversas situações
• Visualizador Wolfvision, equipamento para desafiadoras, que ao serem solucionadas,
gravação em vídeo com auto-foco de alta colaboraram para aumentar o conhecimento da
velocidade e resolução, que permite o uso livre equipe. Ainda assim, nos nove primeiros meses de
do objeto. funcionamento, o laboratório apresentava
resultados como:
3.3 Dificuldades na Implantação • 6 artigos publicados em congressos
Durante a implantação do laboratório algumas • 6 workshops ministrados
dificuldades foram observadas: • mais de 35 aparelhos e softwares avaliados
a) Com relação ao local de instalação: Foi • mais de 250 horas de registro em vídeo
observado o atraso para o início de algumas • mais de 400 pessoas em banco de dados
sessões pelo fato dos participantes não • mais de 1.300 horas de testes
possuírem transporte próprio, relataram • mais de 2.300 expressões faciais gravadas
problemas com o tempo de espera da linha de
ônibus que trafega no perímetro. 4.1 Indo onde o usuário está
b) Com relação à Infra-estrutura: A sala de Possuir excelentes instalações nem sempre é
entrevista e sala de observação devem ter suficiente para obter dados relevantes em estudos
revestimento acústico para isolar o ambiente de usabilidade. A fim de minimizar um dos
de ruídos externos que interfiram no registro principais fatores de impacto, dificuldade de
de áudio durante as avaliações. deslocamento dos participantes, a realização de
c) Acesso à Internet com e sem fio, locais para atividades fora do laboratório tem sido cada vez
instalação de câmeras e microfones (parede mais freqüente. Rubim (2008) destaca que isto é
e/ou teto). muito mais confortável e prático para os
d) A janela de visualização, que permite aos participantes. Esta abordagem possibilita observar
clientes e pesquisadores acompanhar as a experiência de uso do produto onde as pessoas
sessões a partir da sala de observação, sem normalmente realizam suas tarefas.
interferir nas atividades, deve estar no tamanho
e altura adequados. Quem serão os Lindholm et al (2003) destacam que estas práticas
observadores? Quantos serão? Porque estarão de pesquisas de campo, estudos culturais e
observando? São perguntas que, de acordo sociológicos associados com pesquisas de
com Rubim (2008), devem ser consideradas usabilidade têm sido adotadas por grandes
durante a projetação do laboratório. empresas, pois estudam o alcance dos aspectos
e) No que se refere à aquisição de equipamento dinâmicos da ação humana, observando todo o
do exterior, os processos de logística e contexto social de uso, suas formas, significados e
desembaraço podem demorar além do previsto, simbolismos. Permitem ver as atividades
sendo necessário o acompanhamento diário individuais de quem influencia ações e de quem é
para verificar o status de envio dos influenciado por elas. Os autores afirmam que
equipamentos importados. observar e entrevistar pessoas em seus reais
ambientes de uso permite um aprendizado sobre a
4. Atividades realizadas comunicação no cotidiano.
Iniciado no ano de 2008 o projeto Out of Box
Experience (OoBE) foi o primeiro a requisitar as Para tal, é utilizado um equipamento denominado
atividades do Laboratório de Usabilidade. laboratório móvel, composto por uma mala com
O projeto OoBE, em parceria com a Nokia da uma mini mesa de edição, que mixa imagens
Finlândia, tem por objetivo principal mapear os oriundas de duas câmeras de vídeo no formato
momentos de felicidade ou infelicidade do usuário picture in Picture e exibe em um monitor, além de
com determinados aparelhos e entender como e gravar em uma fita de vídeo. As imagens são
porque ele fica feliz ou infeliz, de forma que se capturadas por meio de duas filmadoras,
possa propor melhorias em produtos e serviços.
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posicionadas em tripés, usualmente uma com foco teste tradicional. Com tais técnicas deseja-se
no rosto do participante. conhecer a relação do usuário com o produto no
atendimento de suas reais necessidades. De acordo
Além dos preparativos tradicionalmente feitos para com Mariampolsky (2006) estudos de usabilidade
realização de testes de usabilidade, realizar devem ser direcionados para observar a interação
atividade externa exige esforços adicionais: dos participantes com a tecnologia em seu próprio
ambiente ou contexto. As abordagens etnográficas
• Reservar local de fácil acesso aos estão particularmente atendendo de forma
participantes: sala de aula em faculdade ou sala satisfatória a descoberta e desenvolvimento de
comercial em perímetro urbano. novos produtos, pois estas inquirições no contexto
• Providenciar documento interno para (ambientes domésticos, trabalho e lazer)
movimentação de material possibilitam um melhor entendimento das
• Providenciar transporte necessidades reais e processos envolvidos.
A fim de mitigar as possibilidades de incidentes, se Utilizar métodos etnográficos em pesquisas de
fez necessário desenvolver algumas estratégias, usabilidade permite contextualizar e compreender
como atuar em parceria com uma escola de Design melhor as situações de uso do produto. Com esta
e uma empresa de desenvolvimento na cidade de visão diversas atividades do laboratório tem sido
Manaus, para que seja possível agendar a reserva desenvolvidas com aplicação de técnicas tais como
de sala em tempo hábil para a realização das Day in the Life, técnica de observação participativa
sessões. realizada durante cerca de 13 horas do dia.
Também aplicam-se técnicas como as “visitas
Uma outra providência se refere ao meio de domésticas”, em que a entrevista é realizadas na
transporte adotado. Inicialmente foi utilizado casa da família, a fim de coletar dados sobre
serviço de transporte com van. Com o tempo, comportamento de uso e consumo de pessoas com
percebeu-se que havia uma subutilização do diferentes perfis.
veiculo, e que um taxi comum possui espaço
suficiente para o transporte dos pesquisadores e do Para compreender a variedade de posturas culturais
equipamento. tomadas pelos usuários é necessário separar os
participantes de acordo com suas atitudes e
Em relação ao pessoal, tem sido prática o comportamentos com relação ao uso das
deslocamento de três pessoas, sendo dois tecnologias. Estas segmentações são constantes
pesquisadores e um assistente, geralmente objetos de estudo de pesquisas de marketing.
dedicado à operação do equipamento de áudio e
vídeo. A fim de reduzir custos tanto com despesas Estas pesquisas apresentam dados sobre o perfil,
de viagens quanto de mão de obra, optou-se por características, motivações e interesses dos
utilizar filmadoras portáteis de mão. participantes e todo tipo de influência recebida
diariamente. Samara e Morsch (2005) destacam
Pelo fato de tais atividades serem realizadas em que desde aspectos sociais, demográficos,
local diferente do laboratório, faz-se necessário culturais, psicológicos e situacionais até estímulos
sempre chegar ao local com algumas horas de de marketing (produto, preço, praça e promoção)
antecedência a fim de organizar os móveis e afetam e impulsionam atitudes e as ações dos
adequá-los à dinâmica da atividade. Realizar indivíduos em suas decisões de consumo e uso dos
atividades externas oferece oportunidade de avaliar produtos.
mais claramente o impacto dos testes internos em
laboratório, uma vez que começa a ser construído Estes estudos sobre segmentações de mercado
um conjunto de resultados onde, futuramente enfatizam diferenças de atitudes e conhecimentos,
poderão ser feitas comparações. mas não estudam usuários em seu contexto de uso
ou como membros de uma cultura (Lindholm et al,
Atenção especial tem sido dada a técnicas de 2003).
cunho etnográfico, em que as observações e
entrevistas são realizadas no ambiente real do 5. Terras a conquistar
usuário, com tempo para uso ou experimentação do O atual estágio da Ergonomia e Usabilidade
produto maior do que o temo de uma sessão de apontam para uma maior penetração em projetos
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de produtos eletrônicos de consumo e produtos conhecimentos, métodos e aplicações. São Paulo:
inteligentes. Grande parte destes produtos são Novatec editora, 2007.
utilizados enquanto seu portador se desloca pelo
entorno. Métodos e técnicas tradicionais devem ser EASON, K. D. User-centred design: for users or
adaptadas o para realizar observações e inquirições by users? Ergonomics, Taylor and Francis. V. 38,
de maneira dinâmica e não limitadas ao ambiente n.8, 1995, pp. 1667-1673.
controlado de testes.
THE INTERNATIONAL ERGONOMICS
Este relato de experiência busca estimular outras ORGANIZATION. The discipline of ergonomics.
iniciativas em termos de coleta de dados. Hoje, o Disponível em http://www.iea.cc/ergonomics/
fato de o laboratório de usabilidade estar acesso em 30/01/2005.
localizado em Manaus não é impeditivo para atuar
outras localidades no Brasil ou em outros países. JORDAN, Patrick. Designing pleasurable
Algo que se faz necessário ter em mente sãos os products: An Introduction to the New Human
fatores culturais específicos de cada região. Assim, Factors. London: Taylor and Francis, 2000.
sempre que necessário, o facilitador deverá ser
alguém local, para minimizar o impacto durante as JORDAN, Patrick W. An introduction to
atividades. usability. London: Taylor and Francis, 1998.
Laboratórios de usabilidade são recursos que a KEINONEM, Turkka. One dimensional
partir de um conjunto de expertises e tecnologias usability: influence of consumer's product
desenvolvem pesquisas para prover produtos preference. Helsinki : University of Art and
inovadores, que contemplem necessidades e Design Helsinki, 1998.
capacidades cognitivas de acordo com o usuário.
Utilizam para este objetivo equipamentos LINDHOLM, C.; KEINONEN, T. KILJANDER,
avançados que alinhados com métricas facilitam a H. Mobile Usability: how Nokia Changed the face
avaliação e análise de tarefas, produtos, serviços of the mobile phone. USA; McGraw-Hill, 2003.
bem como o lado emocional dos usuários
envolvidos com tais atividades. MARIAMPOLSKY, H. Ethnography for
marketers: A guide to consumer immersion.
Pelo fato de ser um laboratório dedicado ao estudo London; Sage Publication, 2006.
de produtos eletrônicos de consumo, faz-se mister
a frequente atualização sobre os movimentos de
mercado, baseados em pesquisas de marketing, e MAYHEW, Deborah J. The usability engineering
das novidades tecnológicas e tendências e lifecycle: a practitioner's handbook for user
previsões de especialistas. Devido a atual dinâmica interface desing. San Francisco, CA: Morgan
deste setor, nem sempre os métodos e as técnicas Kaufmann,
tradicionalmente utilizadas serão eficientes para 1999.
obter dados relevantes. Dispositivos móveis, em
particular, são utilizados nos mais variados MEISTER, David. The history of human factors
ambientes e circunstâncias o que muitas vezes and ergonomics. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum
torna as instalações físicas de um laboratório Associates, 1999.
tradicional insuficientes para investigar a
experiência de uso. Assim, laboratórios e MONTMOLLIN, Maurice de. L’intelligence de la
pesquisadores tem de tornar-se também móveis e táche: éléments X ergonomie cognitive. Berne:
itinerantes. Peter Lang, 1986.
6. Bibliografia MORAES, Anamaria de. Ergonomia, ergodesign e
CHAPANIS, Alphonse. The Chapanis usabilidade: algumas histórias, precursosres,
chronicles: 50 years of human factors, research, divergências e convergências. In: MORAES,
and design. Santa Barbara: Aegean, 1999. Anamaria de; AMADO, Giuseppe.
Ergodesign/USICH Coletânea de palestras de
CYBIS, Walter; BETIOL, Adriana H; FAUST convidados internacionais e nacionais. Rio de
Richard. Ergonomia e usabilidade: Janeiro: iUser, 2004.
7. 10º USIHC – Anais do 10º Congresso Internacional de Ergonomia e Usabilidade
de Interfaces Humano-Computador
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MORAES, Anamaria de. Quando a primeira conduct effective tests. Indianapolis: Wiley
sociedade de ergonomia faz 50 anos, a IEA Publishing Inc. Segunda edição, 2008.
chega aos 40, a Associação Brasileira de
Ergonomia debuta com 16. Disponível em SAMARA, B. S.; MORSCH, M. A.
<http://wwwusers.rdc.puc-
Comportamento do consumidor: conceitos e
rio.br/leui/Fhistorico.html>. Acesso em 12 out.
2004. casos. São Paulo: Prentice Hall, 2005.
MORAES, Anamaria de; MONT'ALVÃO, SANDERS, M.S. e McCORMICK, E.J. Human
Claudia. Ergonomia: conceitos e aplicações. 3 ed. factors in engineering and design. 7a. ed. New
Rio de Janeiro: iUser, 2003. York : McGraw-Hill, 1993.
MORAES, Anamaria de; SOARES, Marcelo M. SOARES, M. M. 21 anos da ABERGO: a
Ergonomia no Brasil e no mundo: um quadro, Ergonomia brasileira atinge a sua maioridade.
uma fotografia. Rio de Janeiro: Abergo/Uerj- Anais do ABERGO 2004. XIII Congresso
Esdi/Univerta, 1989. Brasileiro de Ergonomia, II Fórum Brasileiro de
Ergonomia e I Congresso de Iniciação Científica
RUBIM, Jefrey; CHISNELL, Dana. Handbook of em Ergonomia. Fortaleza, 29 de agosto a 2 de
usability testing. How to plan, design and setembro de 2004.