Nesta edição descubra as principais estratégias dos animais para sobreviver no Inverno. Conheça também os gatos de Hemingway e a maior colónia de morcegos do mundo. http://www.mundodosanimais.pt/revista/
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
A maior colónia de morcegos do mundo
1.
2. “Para os humanos,
o Ártico é um lugar
severo e inóspito,
mas tem precisamente
as condições que
os ursos polares
requerem para
sobreviver - e
prosperar.”
Drª Sylvia Earle
Bióloga, exploradora e autora
3. Em cima: Sylvia Earle admira “Wisdom”, o
mais velho albatroz conhecido no mundo, com
64 anos de idade, nas Ilhas Midway.
Fotografia: Susan Middleton / USFWS
4. 4 MUNDO DOS ANIMAIS
18
OS GATOS DE
Hemingway fo
do séc. XX, m
paixão muito
tória.
30
A MAIOR COL
Imagine 20 m
sobre a sua c
rão. Saiba ma
mamíferos do
42
ANIMAIS NO I
Saiba mais so
tação dos ani
como as princ
sobreviver.
Fotografia de capa: Christopher Michel
Todas as ediçõe
www.mundodos
5. E ERNEST HEMINGWAY
oi um dos escritores mais influentes
mas nem todos sabem que tinha uma
particular por gatos. Conheça a his-
LÓNIA DE MORCEGOS DO MUNDO
milhões de morcegos a cobrir os céus
cabeça. Todas as noites. Todo o Ve-
ais sobre a maior concentração de
o mundo.
INVERNO
obre hibernação, migração e adap-
imais aos climas mais gelados, bem
cipais estratégias que utilizam para
BEM-VINDO(A)
O Inverno está a chegar, como
reza o lema da Casa Stark em
«A Guerra dos Tronos» e com
ele trás os seus perigos. Não tão
macabros como na famosa série,
é verdade, mas ainda assim sé-
rios quanto baste para obrigar os
animais a adotar estratégias de
sobrevivência.
Nesta edição vamos mostrar-
-lhe como diferentes animais
fazem frente ao clima gelado de
diversas maneiras. Desde a dor-
mência profunda na hibernação,
passando pelas épicas viagens
das migrações até ás fantásticas
adaptações no próprio corpo para
isolar do frio. Conheça-as e fas-
cine-se, enquanto se enrola num
cobertor quentinho a beber um
belo chá Earl Gray (pág.42).
Mas nem tudo é sobre o frio. Des-
cubra a paixão secreta do escritor
Ernest Hemingway (dica, mete
muitos gatos! pág.18). E como es-
tamos no Halloween, não podía-
mos deixar de falar de morcegos.
A maior colónia do mundo aguar-
da por si (pág.30).
Carlos Gandraes disponíveis gratuitamente em:
sanimais.pt/revista
6.
7. Um refugiado sírio cruzou o mar Mediterrâneo com o
seu gato ao colo. O pequeno felino, chamado Zaytouna
(“azeitona” em árabe) chegou são e salvo à Grécia, depois
de uma viagem inteira ao colo do humano que não o deixou
para trás.
7EDIÇÃO Nº 28
9. Um gatinho encontrado
em mau estado por
um motociclista que,
de imediato, o adotou.
Desde então, o pequeno
tem recuperado e
vivido uma grande
aventura pela estrada,
aconchegado dentro
da roupa do seu novo
humano e os seus novos
amigos.
Fotografia: Spurgeon
Dunbar
9WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
10.
11. Bretagne, a única cachorra ainda viva entre
os mais de 100 cães que participaram nas
operações de busca e salvamento do 11
de Setembro, após o ataque terrorista que
derrubou as Torres Gémeas e matou 3 mil
pessoas. Tem hoje 16 anos.
Fotografia: Barkpost
12.
13. Um casal parou para abrigar um
cão que estava à chuva, amarrado
a um poste à espera da dona em
Dover, Inglaterra. Inicialmente não
tinham guarda-chuvas e puseram
um casaco em cima do cão, o
que chamou a atenção de uma
vendedora que logo lhes ofereceu
guarda-chuvas para que os três se
pudessem abrigar.
A dona voltaria 20 minutos depois,
momento em que se apercebeu que
tinha começado a chover.
Fotografia: Swns.com
13WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
14.
15. Kiko, uma girafa órfã, ainda pequena,
resgatada pela David Sheldrick Wildlife Trust
no passado dia 19 de Setembro no Meru
National Park, Quénia. O que aconteceu à
mãe não é conhecido, mas a organização
assume conflito humano-vida selvagem.
Agora em boas mãos, o futuro apresenta-se
mais risonho para esta pequena girafa.
Fotografia: The David Sheldrick Wildlife Trust /
via Facebook
15EDIÇÃO Nº 28
16.
17. Veja mais fotos no Mundo dos Animais:
- www.mundodosanimais.pt/fotos
Uma nova espécie de
lémure-anão descoberta no
Madagáscar, observada pela
primeira vez em 2005 e descrita
agora em publicação na revista
científica Primate Conservation.
O pequeno lémure mede
16 a 18 centímetros de
comprimento, com uma cauda
entre os 26 a 27 centímetros. O
nome científico, Cheirogaleus
andysabini, homenageia o
filantropo norte-americano
Andy Sabin, que se dedica
particularmente à conservação
de primatas, anfíbios e
tartarugas.
Fotografia: Edward E. Louis, Jr.
17WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
18. Os Gatos
de Ernest
Hemingway
Texto Carlos Gandra
E
rnest Hemingway ficou eterni-
zado pelas obras que escreveu
e que lhe valeram o Prémio No-
bel da Literatura em 1954, tor-
nando-o num dos mais influentes au-
tores norte americanos do século XX.
Também ficou conhecido por diversas
outras facetas, umas mais interessan-
tes, outras menos.
Entre as mais interessantes, e também
mais desconhecidas, encontra-se a sua
paixão por gatos.
18 WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
24. 24
Q
uando se encontrava
a viver em Key West,
na Florida, o escritor
recebeu como ofer-
ta de um capitão de um navio,
Stanley Dexter, uma gatinha de
seis dedos – uma mutação ge-
nética chamada polidactilia que
consiste num número anormal
de dedos em cada pata, que
podem ir até sete.
Os marinheiros apreciavam
particularmente os gatos com
polidactilia, pois dizia-se que
traziam sorte aos navios, além
de controlarem as pragas de
roedores a bordo, uma tarefa
que os gatos já desempenha-
vam há vários séculos.
Esta felina com 6 dedos, da
raça Maine Coon, foi baptiza-
da com o nome Snowball (em
português significa bola de
neve). Em 1945, o escritor já ti-
nha em sua casa 23 gatos, to-
dos eles polidáctilos.
Após o suicídio de Hemingway,
em 1961, a sua casa na Flori-
da foi transformada num museu
para retratar a sua vida e obra –
e entre aquilo que o museu pre-
servou estavam os seus gatos.
A sobrinha do escritor, Hilary
Hemingway, juntamente com
a autora Carlene Fredericka
Brennen, escreveram a bio-
grafia «Hemingway’s Cats: An
Illustrated Biography» (em por-
tuguês «Os Gatos de Heming-
way: Uma Biografia Ilustrada»)
que relata os detalhes desta
especial relação entre Heming-
way e os gatos.
MUNDO DOS ANIMAIS
“Um gato tem honestidade emocional
absoluta: os seres humanos, por uma
razão ou outra, podem esconder os seus
sentimentos, mas um gato não o faz.”
Ernest Hemingway
25. A famosa gatinha Snowball, ainda
pequena, ao colo dos filhos do escritor
Patrick (esquerda) e Gregory (direita).
Fotografia: JFK Library
26. 26
Ernest Hemingway (centro) com os filhos Patrick (esquerda) e Gregory (direita), a
interagir com vários dos seus gatos.
Fotografia: JFK Library
27. 27
“Os gatos foram colocados no
mundo para refutar o dogma de
que todas as coisas foram criadas
para servir o homem.”
Ernest Hemingway
OS GATOS DE ERNEST HEMINGWAY
28. V
árias décadas e gera-
ções de felinos depois,
o museu de Ernest He-
mingway é casa para
cerca de 50 gatos polidáctilos,
alguns dos quais se diz serem
descendentes diretos da gatinha
Snowball. Todos estes gatos têm
o gene da polidactilia, embora
cerca de metade deles tenha o
número de dedos normal.
A casa museu tem um veterinário
residente que trata das vacinas,
desparasitações e check-ups
regulares à saúde dos felinos.
Todos os gatos têm nome, pro-
venientes de pessoas famosas
(como Simone de Beauvoir e
Pablo Picasso), tradição a que o
próprio Hemingway deu início.
Pode saber mais sobre o museu
e os seus felinos residentes em
www.hemingwayhome.com/cats
A Herança Felina
28 MUNDO DOS ANIMAIS
29. Descubra mais sobre gatos em:
- www.mundodosanimais.pt/gatos
Gato Hairy Truman na casa museu de
Ernest Hemingway.
Fotografia: Hemingway Home & Museum
31. Fotografia: USFWS Headquarters
A Maior Colónia de
Morcegos do Mundo
Texto Carlos Gandra
I
magine vinte milhões de morcegos a cobrir os céus so-
bre a sua cabeça. Todas as noites. Durante todo o Verão.
A maior concentração de mamíferos do mundo. É o que
acontece no Texas, nos arredores de San Antonio, onde
se situa uma caverna chamada Bracken Cave.
36. 36 MUNDO DOS ANIMAIS
D
e Março a Outubro,
um número estimado
de vinte milhões de
morcegos pertences
à espécie Tadarida brasiliensis
sai todas as noites para procu-
rar insetos. O que para alguns
é um espetáculo digno do me-
lhor que a natureza nos ofere-
ce, para outros é uma situação
mais parecida com um filme de
terror, até porque os morcegos
não são exatamente os animais
mais populares entre os seres
humanos.
A contagem não é precisa pois
não existe nenhum método infa-
lível de contabilizar os animais
que saem da caverna, contudo,
dada a dimensão da “nuvem”
que formam nos céus e as vá-
rias horas que chegam a demo-
rar para sair da caverna, indica
que podem ser inclusivamente
mais de 20 milhões de morce-
gos a viver ali.
A caverna é propriedade da Bat
Conservation International, que
trabalha no sentido de proteger
todo o habitat circundante, pelo
que o acesso à caverna é muito
restrito.
Os morcegos começam a che-
gar no final de Fevereiro, vindos
do México, continuando a che-
gar durante os meses de Março
e Abril. Em Junho, já com a co-
lónia completa, as mamãs mor-
cego começam a dar à luz os
seus bebés, um filhote cada.
As mães ficam em poleiros se-
parados dos filhos, mas conse-
guem encontrá-los diversas ve-
zes por dia para cuidar deles, o
que é incrível dado chegarem
a existir centenas de bebés por
metro quadrado.
Os pequenotes aprendem a
voar entre a quarta e a quinta
semana e em meados de Ju-
lho, juntam-se às suas mães
nas saídas noturnas, tornando
o grupo muito maior e capaz de
ser visto a vários quilómetros
de distância.
Os morcegos começam a sair
da caverna cerca de uma hora
antes do pôr do Sol, “anuncia-
dos” por umas centenas de mor-
cegos que começam a guinchar
(vocalização típica dos mor-
cegos) perto da entrada. Eles
saem em espiral de forma a
38. 38 WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
ganhar altitude e evitar colisões
com outros morcegos, dividin-
do-se depois em grupos mais
pequenos.
A observação da saída dos
morcegos deve ser feita da for-
ma mais silenciosa possível.
Barulhos de qualquer espécie
podem assustar os morcegos e
alterar a sua rotina, bem como
a rotina dos predadores oca-
sionais que também aguardam
a saída da caverna, como fal-
cões, corujas e serpentes.
Os turistas que queiram obser-
var a saída dos morcegos ape-
nas podem conversar sussur-
rando, mesmo uma conversa
em voz normal pode assustar
os animais ao ponto de inter-
romperem a sua saída.
As mães morcego tem um ape-
tite particularmente voraz. Um
grupo destas dimensões pode-
rá consumir 250 toneladas de
insetos, todas as noites. Escu-
sado será dizer que é difícil al-
guém se cruzar com um mos-
quito nas redondezas.
40. 40 MUNDO DOS ANIMAIS
Este dado reafirma a importân-
cia de manter este local imacu-
lado: imagine como seria a vida
das pessoas no Texas com to-
das estas toneladas de insetos
à sua volta e dentro das suas
casas – seguramente mais as-
sustador que ver morcegos no
céu, mesmo para quem não
gosta deles.
A caverna tem cerca de 185
metros de comprimento e 18
metros de diâmetro. O solo
dentro da caverna estende-se
por cerca de 30 metros subter-
râneos, cobertos de numerosos
escaravelhos, que se alimen-
tam do que os morcegos, nas
paredes e no tecto, deixam cair.
Os gases produzidos por estes
insetos tornam o ar irrespirável
ao ser humano, que corre risco
de vida se entrar sem máscara
de oxigénio.
Em Novembro, os morcegos
deixam a caverna e regressam
ás suas cavernas no México,
onde passam todo o Inverno,
em habitats que já existiam
muito antes da descoberta da
América.
Em Portugal temos a maior co-
lónia de criação de morcegos
conhecida na Europa, no Alto
Alentejo (no Parque Natural da
Serra de São Mamede, na anti-
ga mina de chumbo da Cova da
Moura, bem como outras grutas
calcárias) que abriga entre 15
a 20 mil morcegos. A Bulgária
41. Fotografia: USFWS Headquarters
tem a maior colónia de hiberna-
ção da Europa, com cerca de
60 mil morcegos.
Apesar destas numerosas co-
lónias, muitas espécies de
morcegos, incluindo os nossos
morcegos cavernícolas, estão
ameaçados. Descubra mais sobre morcegos em:
- www.mundodosanimais.pt/
mamiferos/morcegos
48. 48 MUNDO DOS ANIMAIS
N
o conforto das nossas
casas, bem protegidas
por quatro paredes e
um teto, temos vários
meios para fazer frente ao frio,
à neve e à escuridão típicas do
Inverno.
Aquecedores, lareiras, luzes
brilhantes, cobertores quentes
ou pantufas enormes são uma
preciosa ajuda. Mesmo quando
temos de sair de casa dispomos
de roupa apropriada, luvas, gor-
ros – não que evitem um nariz
a pingar, mas permitem-nos so-
breviver.
Em último caso podemos apa-
nhar o avião e viajar para um
país mais agradável (estou a
pensar em vocês, Brasil).
Contudo, os animais não têm
ao seu dispor nenhum destes
luxos do ser humano moderno.
Como conseguem então sobre-
viver à estação mais perturba-
dora do ano?
Um dos grandes obstáculos que
os animais têm de enfrentar no
Inverno é a carência de alimen-
to. À medida que as tempera-
turas baixam, o alimento fica
mais escasso essencialmente
por dois motivos:
1) As plantas, base de quase
todas as cadeias alimentares,
são substancialmente reduzi-
das durante o Inverno;
2) Os insetos e os pequenos
roedores, nos quais muitos ani-
mais baseiam a sua dieta, abri-
gam-se debaixo do solo para se
proteger do frio, ficando assim
fora do alcance dos seus pre-
dadores.
Se os animais continuassem
a sua atividade normal, iriam
gastar mais energia a procurar
o alimento do que a que iriam
recuperar ao consumir esse ali-
mento. Para além disso, quanto
mais baixa estiver a temperatu-
ra, mais energia os animais ne-
cessitam para manter o corpo
quente.
Sem essa fonte de energia (ali-
mento) o Inverno torna-se fatal.
49. WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT 49
Assim, a chave para a sobrevi-
vência dos animais durante esta
estação do ano está na con-
servação da energia (hiberna-
ção), em alterações físicas e no
CONCEITOS RÁPIDOS
Animais de sangue quente ou animais endotérmicos, são os ani-
mais que conseguem manter e regular a temperatura do seu
corpo, o que acontece com os mamíferos (p.ex: o hipopótamo
na foto em cima) e as aves;
Animais de sangue frio ou animais ectotérmicos, não conse-
guem regular a temperatura, pelo que necessitam de fontes de
calor no ambiente para se aquecer. Neste grupo incluem-se os
répteis (p.ex: o crocodilo na mesma foto), os anfíbios, os peixes
e os invertebrados.
comportamento para suportar o
frio (adaptação) ou na mudança
para locais mais quentes onde
podem continuar a sua ativida-
de normal (migração).
Fotografia: Stig Nygaard
50. 50
HIBERNAÇÃO
E TORPOR
A
hibernação é uma es-
pécie sono profundo
que pode durar todo
o Inverno. Geralmen-
te tem início quando os dias
começam a ficar mais frios ou
mais curtos.
Por definição, só animais de
sangue quente podem hibernar
uma vez que são os únicos ca-
pazes de regular a sua tempe-
ratura. Répteis, anfíbios e inse-
tos têm estados de dormência
semelhantes, mas com carac-
terísticas próprias e de que fa-
laremos mais à frente.
Em hibernação, a temperatu-
ra do corpo do animal baixa, a
respiração e os batimentos do
coração tornam-se mais lentos
e assim, o animal consegue so-
breviver com pouca energia – a
única fonte de energia que tem
à disposição é o alimento que
consumiu antes de começar o
Inverno e que se encontra ar-
mazenado no seu corpo sob a
forma de gordura.
Considera-se em hibernação
os animais que adormecem tão
profundamente que parecem
estar em coma. É difícil acordar
um animal em hibernação. Es-
tes animais, como as marmotas
(maior hibernante de todos),
esquilos ou morcegos, só o fa-
zem dentro de abrigos muito
seguros, pois seriam incapazes
de se defender em caso de ata-
que.
O estado de torpor é semelhan-
te à hibernação no sentido em
que o animal também o utiliza
para gastar pouca energia e
abrandar o seu metabolismo. É
diferente, no entanto, pela du-
ração e pela intensidade.
Entram em estado de torpor
animais como ursos, guaxinins,
alguns roedores e aves. O tor-
por deixa-os dormentes por pe-
ríodos que podem ir de algumas
horas a alguns dias.
Neste estado, os animais con-
seguem despertar com rapidez,
WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
51. 51ALIMENTOS PERIGOSOS PARA CÃES E GATOSMarmota-de-tatra (Marmota marmota latirostris)
Fotografia: Krzysztof Górecki / Wikimedia Commons
52. 52 MUNDO DOS ANIMAIS
respirar profundamente para
renovar o oxigénio, dar um puli-
nho ao WC ou mesmo dar uma
dentada em algum petisco que
tenham armazenado, antes de
voltarem a adormecer.
Caso a temperatura esteja
amena, podem aventurar-se no
exterior e até mesmo não conti-
nuar a hibernar.
Um exemplo curioso de hiber-
nação ou torpor é o urso. Con-
segue estar em dormência até
seis meses consecutivos, o
que encaixa na hibernação,
no entanto, a respiração e os
batimentos cardíacos baixam
apenas ligeiramente e o animal
consegue acordar rapidamente,
o que indica estado de torpor.
Mais ainda: as fêmeas conse-
guem dar à luz neste período.
O despertar, que no caso da
hibernação pode durar várias
horas, acontece na Primavera,
quando as temperaturas são
mais agradáveis e o alimento já
é mais abundante.
Em Invernos relativamente
amenos, ou em condições ar-
tificiais de cativeiro, a dormên-
cia pode não ser necessária. É
o que acontece, por exemplo,
com tartarugas e outros répteis
que tenhamos em casa, já que
lhes fornecemos calor e alimen-
to regularmente durante todo o
ano.
53. 53ALIMENTOS PERIGOSOS PARA CÃES E GATOS
Urso-negro (Ursus americanus)
Fotografia: Eric Kilby
CURIOSIDADE
Os animais que vivem em climas de calor extremo ou secas prolonga-
das, podem entrar num tipo de hibernação chamada estivação.
Um exemplo clássico de estivação são os peixes pulmonados, que
através da mesma conseguem viver sem água até três anos. Outros
animais que praticam estivação incluem caracóis, joaninhas, crocodi-
los, tartarugas e salamandras, entre outros.
54. 54
MIGRAÇÃO
A
migração é uma estratégia
que permite aos animais des-
locarem-se para regiões mais
quentes e assim fugir das tem-
peraturas mais baixas. É uma estratégia
especialmente bem aproveitada pelas
aves, devido à sua capacidade de voar.
Através da migração, os animais podem
continuar a alimentar-se normalmente e
manter-se ativos, no entanto não é uma
escolha de vida fácil. A migração gasta
imensa energia (ao contrário da hiber-
nação), sobretudo nas migrações mais
longas.
Os andorinhões-alpinos (Tachymarptis
melba), por exemplo, voam seis meses
sem parar. As baleias-cinzentas (Esch-
richtius robustus) viajam noite e dia e
chegam a percorrer entre 16 a 22 mil
quilómetros por ano, a um ritmo de cer-
ca de 120 quilómetros por dia. Detém
o recorde da maior distância percorrida
entre os animais mamíferos, mas que
não ultrapassa a pardela-preta (Puffi-
nus griseus) com uns, inserir adjetivo à
escolha, 64 mil quilómetros por ano.
Como termo comparativo, o planeta
Terra tem apenas 40 mil quilómetros de
circunferência.
WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
56. A Descoberta da Migração
das Aves
O desaparecimento das aves durante o Inverno foi durante vários sécu-
los um mistério e deu origem a diversas teorias. Umas mais plausíveis,
como acreditar-se que as aves se escondiam para hibernar, outras mi-
rabolantes, como as aves transformarem-se em ratos ou voarem em
direção à Lua.
Ainda que alguns autores (como Aristóteles) já tivessem sugerido que
as aves se deslocavam por grandes distâncias no Inverno, foi apenas
no século XIX que as migrações foram verdadeiramente aceites. E
tudo devido a um acidente.
No dia 21 de Maio de 1822, esta cegonha (imagem à direita) foi en-
contrada na Alemanha, com uma seta originária da África central atra-
vessada no pescoço. Esta seta iluminou os cientistas sobre um dos
acontecimentos mais importantes da vida animal: a migração.
É verdade que as cegonhas e outras aves não viajam 384 mil quilóme-
tros até à Lua. Mas fazem-no entre continentes, pelo mundo inteiro, e
isso é tão verdadeiro quanto extraordinário.
57.
58. 58
ADAPTAÇÃO
A
s estratégias de adaptação per-
mitem aos animais ficar no mes-
mo local e continuar ativos, mes-
mo durante os dias mais frios.
Estas estratégias passam por alterações
no seu corpo, como o desenvolvimento de
gordura e pelagem especializada em con-
servar calor, ou no seu comportamento,
como armazenar alimento durante o Ou-
tono antes da escassez do Inverno.
Cavernas, troncos de árvores mortas, bu-
racos e o solo por baixo da neve (também
chamado subnivium), são os equivalentes
ás nossas casas para os animais. Permi-
tem criar um microclima mais confortável
do que o clima exterior e uma passagem
mais agradável pelos dias mais frios.
A utilização da neve como isolante térmico
é mais eficaz do que à primeira vista apa-
renta – está na base da construção dos
iglus pelos esquimós, por exemplo.
Um cuidado especial que os mamíferos
necessitam de ter, é com a chuva. O pêlo
molhado não consegue conservar o calor
e o animal perde uma das suas melhores
proteções contra o frio. Quando chove, os
mamíferos pequenos procuram abrigar-se
no subsolo ou em esconderijos que en-
contrem, incluindo construções humanas.
WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
60. Algumas das adaptações físicas mais co-
nhecidas incluem:
1) Tendência para um corpo maior entre
mamíferos e aves do mesmo género que
habitam regiões frias, conhecida como
Regra de Bergmann, para facilitar a re-
tenção do calor. Por exemplo, os ursos
polares tendem a ser maiores que os ou-
tros ursos;
2) Apêndices mais curtos (orelhas, nariz,
patas…) para reduzir perda de calor. As
focas, as raposas-do-ártico e os pinguins
são um exemplo;
3) Pelagem e gordura especializada para
conservar o máximo de calor. A pelagem
de Inverno, geralmente branca, também
serve de camuflagem contra a neve. Es-
tes mecanismos por vezes são tão efica-
zes que animais como ursos polares e
raposas-do-ártico correm o risco de so-
breaquecer (leu bem), sobretudo quando
a temperatura está um pouco mais alta
(dez graus negativos já pode ser alto). Re-
bolar na neve é uma forma de arrefecer;
4) Visão especializada na escuridão, como
acontece nas renas no norte do circulo ár-
tico que passam uma parte do ano sem
luz natural do Sol;
5) Mecanismos internos (como no sistema
circulatório) que procuram regular a tem-
peratura onde é mais necessária, como
60 MUNDO DOS ANIMAIS
nas extremidades. Tal co
connosco num dia frio, em
arrefecem primeiro que o r
também nos animais as ext
as primeiras a sentir o frio.
Os animais também adapta
portamento para fazer face
lados, como armazenar co
chegar o Inverno até juntar
outros para partilhar o calor
61. Renas (Rangifer tarandus)
Fotografia: Brian Gratwicke
omo acontece
m que as mãos
resto do corpo,
tremidades são
am o seu com-
e aos dias ge-
omida antes de
rem-se uns aos
r do corpo.
Exemplo disso são os pinguins-imperado-
res. Juntam-se uns aos outros em grandes
colónias para partilhar o calor e bloquear
as correntes de ar – ao mesmo tempo que
protegem um ovo equilibrado entre as pa-
tas. Os pinguins nas bordas das colónias,
mais expostos ao vento, vão alternando
com os do interior para que nenhum pin-
guim fique exposto por muito tempo.
62. A
lgumas aves, insetos
ou anfíbios enfrentam
esta época do ano
de formas diferentes,
constituem uma exceção entre
os seus pares ou demonstram
uma impressionante criativida-
de – algo que nunca se esgota
na natureza.
AS AVES QUE NÃO MIGRAM
A maioria das aves adota a mi-
gração como principal estra-
tégia para escapar dos climas
mais frios, como vimos ante-
riormente. No entanto, algumas
aves não migram: caso das co-
rujas, gaviões, chapins ou per-
dizes. Os seus corpos adaptam-
-se através do desenvolvimento
de uma camada de penas adi-
cional, que os mantém quentes.
Existe apenas uma espécie de
ave conhecida capaz de hiber-
nar: o noitibó-de-nuttall (Pha-
laenoptilus nuttallii). Esta ave
esconde-se por baixo de rochas
ou troncos ocos, onde perma-
nece até cinco meses e chega
OUTRAS
ESTRATÉGIAS
62
a hibernar por períodos de 100
dias consecutivos. Quando
desperta, necessita de cerca de
sete horas para se recompor.
O COBERTOR DOS MAMÍFEROS
AQUÁTICOS
Animais como baleias e focas
WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
63. alimentam-se abundantemente
de forma a criarem camadas de
gordura adicional nos seus cor-
pos, que os protegem do frio.
Comotermodecomparação,éo
equivalente a embrulharmo-nos
num cobertor, com a diferença
de que nestes animais o cober-
tor está por dentro do corpo.
Em alguns animais, esta estra-
tégia está tão bem desenvol-
vida que conseguem controlar
o fluxo de sangue que circula
nestas camadas. Quanto mais
longe estiver o sangue da su-
perfície da pele, menos calor
é perdido. Estas camadas de
gordura também servem de
Rana arvalis
Fotografia: Piet Spaans / Wikimedia Commons
ANIMAIS NO INVERNO 63
64. alimento nos meses seguintes,
como acontece com os elefan-
tes-marinhos.
INSETOS, DIAPAUSA E UMA ÉPICA
MIGRAÇÃO
Alguns insetos adotam uma
espécie de hibernação como
estratégia de sobrevivência. A
hibernação específica dos in-
setos é chamada diapausa. A
diapausa tem início quando os
dias começam a ficar mais cur-
tos, mesmo que a temperatura
ainda seja amena.
Algumas traças / mariposas e
borboletas passam o Inverno
em casulo ou apenas crisálida
e quando chega a Primavera,
eclodem. Existem outras espé-
cies que permanecem lagartas
durante esta estação, cobrindo-
-se com terra e folhas mortas
para se proteger do frio.
Outros insetos, como as abe-
lhas e as vespas (apenas as
rainhas, machos e operárias
morrem no final do Verão), pro-
curam abrigar-se em lugares
secos e protegidos das corren-
tes de ar. Escavam no solo e
protegem-se debaixo de terra e
folhas mortas. Em alternativa,
64 MUNDO DOS ANIMAIS
abrigam-se dentro de troncos
ocos.
É famosa a épica migração da
borboleta monarca no Inverno.
Este fenómeno de rara beleza,
que leva milhões de borboletas
desde a América do Norte até
ao México, atrai tanto cientistas
como curiosos e permite estu-
dar anualmente o estado de
conservação da espécie. Ge-
ralmente ficam no México entre
Outubro e Março, altura em que
regressam ao local de origem.
Algumas borboletas monarcas
entram em diapausa nos dias
mais frios.
BRUMAÇÃO DOS RÉPTEIS E ANFÍ-
BIOS
O tipo de hibernação praticada
pelos répteis e pelos anfíbios é
chamada brumação. Estes ani-
mais de sangue frio procuram
abrigar-se e hibernar assim que
os dias começam a ficar mais
curtos, para não serem apa-
nhados desprevenidos num dia
mais frio – o que poderia signifi-
car a morte.
As temperaturas baixas são
particularmente perigosas para
65. estes animais, razão pela qual,
por exemplo, não existe qual-
quer espécie de réptil ou anfí-
bio a viver na Antártida. Mesmo
no Ártico, existem apenas cinco
espécies de anfíbios e uma só
espécie de réptil, nenhum dos
quais dentro do círculo polar.
As cobras do género Thamno-
phis, endémicas da América
do Norte, hibernam em grupos
enormes que podem conter
centenas ou mesmo milhares
de cobras, entrelaçadas umas
nas outras para preservarem o
calor.
As rãs costumam abrigar-se na
lama de charcos e lagos, obten-
do oxigénio através da água.
Algumas espécies, como as
rãs-arborícolas, protegem-se
por baixo de folhas e no subso-
lo das florestas.
A rã-dos-bosques (Rana sylva-
tica), endémica da América do
Norte, consegue produzir uma
espécie de anticongelante na-
tural através de altos níveis
de açúcar, ureia e um terceiro
composto ainda não identifica-
do, que lhes permite resistir a
impressionantes temperaturas
de quase -30º C.
OS PEIXES QUE NÃO CONGELAM
Alguns peixes também produ-
zem uma proteína anticonge-
lante que protege os fluídos
corporais, como o sangue. Esta
proteína é especialmente im-
portante nas espécies que na-
dam pelas águas polares.
Os peixes também conseguem
entrar num estado de dormên-
cia parecido com a hibernação,
onde o seu metabolismo é redu-
zido, gastam menos energia e
alimentam-se menos. A ativida-
de dos peixes no Inverno che-
ga a ser reduzida 20 vezes em
comparação com o Verão. Esta
dormência é provocada pelas
temperaturas baixas, mas tam-
bém em casos de falta de oxi-
génio na água (hipóxia).
Já os peixes que vivem em rios
e lagos que estão congelados,
estão num ambiente menos
inóspito do que poderá parecer
a um observador de fora. Quan-
do um lago ou um rio congela,
na verdade apenas a superfície
fica no estado sólido. Por baixo
da mesma, peixes, crustáceos
e plantas continuam a usufruir
de água líquida normal (ainda
que bem fresquinha).
WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT 65
67. Até à Primavera - Conclusão
Milhões de anos de evolução resultaram em estratégias
criativas e adaptações fascinantes para o Inverno, com
um único propósito: sobreviver ás mais baixas temperatu-
ras do planeta.
As principais estratégias que os animais utilizam são a hi-
bernação, onde entram numa espécie de dormência que
pode durar meses; a migração, onde cruzam o globo em
direção a regiões mais amenas e a adaptação, como o
crescimento de pêlo e de gordura capaz de os isolar do
frio e fazer frente à escassez de alimento.
Desde os animais de sangue quente aos de sangue frio,
todos os que se cruzam com a estação mais fria do ano
sabem o que fazer - e é fascinante descobrir os seus me-
lhores truques.
Descubra mais sobre animais selvagens em:
- www.mundodosanimais.pt/animais-selvagens