O documento fornece um resumo da trajetória da Internet no Brasil desde as primeiras redes de computadores até a instituição dos mecanismos de governança. Ele aborda o surgimento das redes nos EUA, as batalhas de padronização, a formação da sociedade da informação no Brasil e a enredamento da academia brasileira.
1. A Trajetória da Internet no Brasil:
do surgimento das redes de computadores à
instituição dos mecanismos de governança
Marcelo Sávio
Setembro de 2006 1
2. Introdução
“Uma geração que ignora a história
não tem passado – e nenhum futuro.”
Robert Heinlein (1907-1988), escritor de ficção
científica norte-americano.
2
3. Objetivo principal
Fornecer um texto que possa ser
usado como referência para uma
história da Internet no Brasil, tratando o
assunto através de uma abordagem
sociotécnica da ciência e da tecnologia.
3
4. Panorama atual
• As pesquisas referentes à história da
Internet no Brasil são raras e, em geral,
focam mais fortemente em apenas algum
aspecto mais específico, como o
comercial, acadêmico ou internacional;
• A comunidade de História da Ciência é
ainda pequena no Brasil;
• A Internet é um assunto recente;
4
5. Principais fontes
• Entrevistas com alguns dos principais
protagonistas da Internet no Brasil;
• Consulta aos arquivos pessoais de alguns
entrevistados, compostos de notícias de
jornais e revistas, atas de reunião,
relatórios, correspondências trocadas com
terceiros, etc;
• Referências bibliográficas citadas;
5
6. Motivação
• O conhecimento da história de uma
tecnologia é fator fundamental para o seu
pleno domínio;
• Ao evidenciar a riqueza da nossa
experiência histórica com a Internet,
pretende-se oferecer alguns subsídios para
os futuros esforços de criação de saberes
autóctones em ciência e tecnologia.
6
9. Capítulo 1
O advento das redes de
computadores
“Uma guerra sempre avança a tecnologia,
mesmo sendo guerra santa, quente,
morna ou fria”
Renato Russo (1960-1996), poeta e músico
9
10. Objetivo
• Apresentar o cenário internacional vinculado
à trajetória da Internet no Brasil.
• Deixar disponível uma história da Internet,
escrita em português, a partir da síntese do
trabalho de alguns autores estrangeiros
(ABBATE, EDWARDS, HAUFEN, SALUS,
O’NEILL, QUARTERMAN, etc.);
10
11. No início houve uma grande explosão...
Teste no deserto em Alamogordo, Novo México, EUA (julho de 1945)
12. Seguida de outras duas...
Bomba em Hiroshima, Bomba em Nagasaki,
Japão (agosto de 1945) Japão (agosto de 1945)
.. que terminaram uma Guerra
14. Teste de Bomba Teste de Bomba
Atômica Atômica
no Atol de Bikini, em Semipalatinsk
Ilhas Marshall, EUA Cazaquistão, URSS
(1948) (1949)
Bombas nucleares
Teste da Bomba-H
Teste da Bomba-H, em Semipalatinsk
no Atol de Eniwetok, Cazaquistão, URSS
Ilhas Marshall, EUA (1953)
(1952)
As bombas eram lançadas por aviões especiais...
15. TU-4
B-29
B-36
TU-16
Aviões
Bombardeiros
TU-20
B-52
Como se proteger de ataques nucleares?...
18. • SAGE
•24 Centros operando 24h/dia
• Cada um com 100 operadores
19.
20. Avanços tecnológicos
Os mísseis balísticos intercontinentais tornaram o SAGE obsoleto
no momento em que ficou totalmente pronto (1962);
o SAGE trouxe uma série de inovações que abasteceram a
nascente indústria da informática norte-americana:
• Multiprocessamento
• Sistema de tempo compartilhado (timesharing)
• Processamento distribuído
• Memória de núcleos magnéticos
• Modem (conversão Analogico/Digital)
• Gerenciamento de banco de dados em tempo real
• Terminais gráficos interativos e Light pen
• Redes
• Correção automática de erros
• I/O “bufferizado”
• Engenharia de Software (500 mil linhas de código)
• Alta disponibilidade
21. A largada da corrida espacial
A União Soviética lançou em
1957 os satélites Sputnik 1 e 2
22. As pesquisas em computação
Foi criada a ARPA e, dentro desta, a divisão IPTO (Information
Processing Techniques Office).
Incentivo a pesquisa em tecnologias de computadores – redes,
sistemas multiusuário (timesharing), interfaces homem-máquina,
etc., estendendo a experiência feita no SAGE;
Dez instituições inicialmente agraciadas.
23. A comutação de pacotes
• O IPTO iniciou em 1966 o projeto ARPANET, para otimizar os
recursos computacionais, caros e escassos.
• Na conferência da ACM em 1967 o IPTO conheceu o
trabalho sobre redes de pacotes que vinha sendo
desenvolvido pelo NPL, na Inglaterra.
• Através do NPL, o IPTO tomou conhecimento das
pesquisas em andamento na RAND (EUA), que
desde 1962 trabalhava em um projeto de
comunicações que suportassem um ataque
nuclear.
23
25. Arregimentando aliados
• Para montar a ARPANET, Taylor e Roberts (do IPTO) precisaram de
aliados, pois a maioria das universidades era arredia à idéia de
compartilhar seus caros recursos computacionais, assim
escolheram instituições “amistosas”:
Engelbart Sutherland
Glen Culler Kleinrock
25
26. 3 anos alguns US$ milhões depois...
SDS 940
IMP
Stanford (SRI)
IMP
1º Out 1º Dez DEC PDP 10
Utah (UU)
1969
IMP
IBM S/360-75 1º Set
Santa Barbara (UCSB)
IMP
1º Nov
SDS Sygma 7
Los Angeles (UCLA) 26
27. A expansão da ARPANET
Em setembro de 1971 havia 18 pontos da rede
ARPANET, que era uma rede de mainframes.
27
28. Crescimento Acelerado
Em Outubro de 1980 já haviam dezenas de computadores na ARPANET,
em diversas localidades nos EUA (+Inglaterra e Noruega)
28
30. “As redes para o resto de nós”
CSNET
CSNET BITNET
BITNET
USENET
USENET
HEPNET
HEPNET
NSFNET
NSFNET
etc.
etc. 30
31. O “Sputnik japonês” e a NFSNET
Rede TCP/IP de supercomputadores, mantida pelo
governo, mantida pelo governo dos EUA
31
32. A Internet propriamente dita
National Science Foundation Network (NSFNET )
Energy Sciences Network (ESNET)
NASA Science Internet (NSI)
Defense Data Network (DDN)
Todas usavam TCP/IP, estavam interligadas e formaram o núcleo central da Internet
Início da expansão internacional da Internet
32
33. Capítulo 2
As batalhas de padronização
“O problema é que, com o tempo, o
futuro não é mais o que era”
Paul Valéry (1871-1945), filósofo,
escritor e poeta francês.
33
34. Objetivo
• Mostrar a evolução da padronização na
área das redes de computadores sob um
olhar sociotécnico;
• Apresentar os padrões como mecanismos
de inclusão e exclusão de políticas
industriais.
34
35. X.25 vs. TCP/IP
Redes comutadas
(“chaveadas”)
Comutação Comutação
Comutação
de Pacotes de Circuitos
de Mensagens Rede de
Rede de Telex Rede telefônica
Computadores
Circuitos
Datagramas
Virtuais
TCP/IP
X.25
35
36. A tentativa de padronização
CCITT
(Comité Consultatif International Télégraphique et Téléphonique)
ISO
(International Organization for Standardization)
Em 1983 combinaram esforços na
publicação do modelo de referência OSI
36
37. Vs. o padrão de fato...
• TCP/IP, conjunto de protocolos que veio
sendo desenvolvido, testado e amadurecido
nas Universidades nos EUA desde 1973.
I survived the
• Sua adoção cresceu bastante quando passou
TCP/IP
transition! a ser o protocolo de comunicação oficial
da ARPANET.
1st Jan 1983
• O TCP/IP passou a fazer parte do UNIX,
aumentando ainda mais sua disseminação.
37
39. O modelo OSI no Brasil
• No Brasil, a SEI era uma defensora do OSI e não
considerava o TCP/IP como uma alternativa;
• O OSI virou norma da ABNT;
• A SEI lançou a BRISA (Sociedade Brasileira para
Interconexão de Sistemas Abertos), cujo objetivo
era disseminar o OSI no País.
39
40. O modelo OSI no Brasil
• Exemplo de visão OSI vs. TCP/IP:
• Resumo de uma palestra
apresentada pela SEI/BRISA
no Congresso de Informática
SUCESU 1991;
• Feito por um funcionário da
CELEPAR e publicado no
Jornal BateByte (Out 1991);
40
41. A “vitória” do TCP/IP
• A rede sociotécnica do TCP/IP foi mais
extensa e profunda.
• Estabeleceu-se antes, e de forma muito
mais distribuída do que o OSI;
• Conseguiu criar e manter uma maior base
instalada e uma maior expertise técnica
disponível.
41
42. Capítulo 3
A formação da Sociedade da
Informação no Brasil
“Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades”
Cazuza (1958-1990), poeta e músico.
42
45. Monopólio e Controle
• A Embratel: detinha o monopólio dos serviços de
comunicação de dados no País.
• As empresas do sistema Telebrás: Ofereciam
alguns poucos serviços de valor agregado.
• A SEI (Secretaria Especial de Informática)
possuía uma Comissão Especial de Teleinfomática
e estabelecia diretrizes relacionadas com o “Fluxo
de Dados Transfronteiras”.
45
47. As fontes da Sociedade da
Informação no Brasil
47
48. As primeiras redes nacionais
• O primeiro serviço de comunicação de dados da América Latina,
foi o TRANSDATA da Embratel.
48
49. As primeiras comunidades
teleinformatizadas
A Embratel criou o CIRANDA. Usado
por mais de 2000 funcionários
distribuídos por mais de 100 cidades
CP 500 CP 500
CP 500
CP 500
CP 500 CP 500 49
50. A RENPAC
(Rede Nacional de Pacotes)
e Cirandão
• A Embratel lançou a RENPAC, uma rede
pública de transmissão de dados que
usava o protocolo X.25 (modelo OSI).
• Para aumentar o uso da RENPAC, a
Embratel criou em 1987 o CIRANDÃO,
um serviço de oferta de informações
voltado ao público em geral.
50
51. O Videotexto
Algumas empresas do Sistema
Telebrás (principalmente a Telesp)
implementaram o Videotexto.
51
52. Capítulo 4
O enredamento da academia
brasileira
“Não há redes conhecidas no Brasil ”
Pág 588 do Livro “The Matrix: Computer Networks and
Conferencing Systems Worldwide”, 1989 (700 páginas).
52
54. 1979
(Laboratório Nacional de Redes de Computadores)
• Criado para integrar os esforços de diversas
universidades nas pesquisas na área de redes de
computadores, gerar know-how, promover o
intercâmbio.
• Fundadores: INPE, PUC/RJ, SESU/MEC, UFMG, UFPB,
UFPE, UFRGS, UFRJ, UNICAMP, USP e, posteriormente,
LNCC, IME, UFSC, CEFET/PR, UFC, UFF, UFSCar, CEFET-
CE, UFRN, UFES, UFBA, UNIFACS e UECE.
54
55. A realidade acadêmica internacional
Já havia mais de 50 redes acadêmicas em mais de 30 países. No
Brasil, a comunidade acadêmica ainda estava totalmente desintegrada
pois as idéias das redes regionais ou nacionais ainda estavam no
papel...
DFN (Alemanha); ARN, ACSNET, CSIRONET, SPEARNET e Pegasus (Austrália);
ACONET (Áustria); BRNET (Bélgica); CDNET, NETNORTH, The Web (Canadá); DSN
e KR (Coréia do Sul); DUNET (Dinamarca); NORDUNET (Escandinávia); IRIS
(Espanha); ARPANET, BITNET, USENET, CSNET, MFNET, ESNET, NSFNET,
FIDONET, FREENET (EUA); EARN, EUNET, EAN (Europa); FUNET (Finlândia);
Smartix e COSAC (França); HARNET (Hong Kong); JANET e GREENET (Inglaterra);
IRL (Irlanda); ISANET (Islândia); IARN (Israel); OSIRede e IRDNET (Itália); JUNET
(Japão); UNANNET e ITESMNET (México); NICARAO (Nicarágua); UNINETT
(Noruega); DSIRNET (Nova Zelândia); SURFNET, ENRNET, PICA, HEPNET, HBONET
(Países Baixos); RIUP (Portugal); NUS (Singapura); SUNET e FREDSNET (Suécia);
SWITCH, CERN e CHUNET (Suíça)
55
56. 1987
Era uma vez em Salvador...
• Durante o VII Congresso da SBC em Julho, foi convocada
uma reunião por Michael Stanton para se discutir a
importância das redes acadêmicas e trocar informações das
experiências que começavam a acontecer pelo País.
• Estiveram presentes representantes da Universidades e CNPq.
Comentou-se acerca do vários projetos em andamento:
• O representante do CNPq reconheceu o grande interesse no
assunto e sugeriu que fosse realizada uma nova reunião para
um estudo mais aprofundado no assunto.
56
57. 1987
A reunião na USP
• Em Outubro foi realizada uma reunião na EPUSP.
• Estiveram presentes os membros do LARC,
representantes de outras instituições acadêmicas,
CNPq, SEI e Embratel.
• Esta reunião plantou a semente da rede acadêmica
nacional.
• O LARC elaborou uma proposta para o MCT de
criação da RNP (Rede Nacional de Pesquisa).
57
58. Os pontos de atrito com o sistema de
telecomunicações
• A proposta da RNP chocava-se com as normas de
telecomunicações vigentes:
Era proibido o transporte de tráfego de terceiros nos
circuitos dos clientes da Embratel (locais ou para o exterior),
impossibilitando a criação de gateways.
O modelo de cobrança deveria ser por volume de dados
trafegados.
58
59. O LNCC abre o caminho … com a BITNET
LNCC
• O LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica)
solicitou acesso à BITNET.
• A Embratel relutou em atender ao pedido. O episódio só foi
resolvido, após uma reunião em Brasília, entre a SEI, a
Embratel, o LARC e o LNCC.
• O acesso à BITNET, com a possibilidade de atuação como
gateway, foi uma vitória para a toda comunidade acadêmica.
59
60. As conexões internacionais seguintes
A FAPESP conectou-se via Fermilab às redes HEPNET e
BITNET.
Em seguida a FAPESP criou a rede ANSP (Academic
Network at São Paulo)
O NCE-UFRJ conseguiu conectou-se à BITNET via UCLA
UFRJ
60
61. Como o Brasil terminou a década das redes?
• O Brasil terminou os anos oitenta com três ilhas distintas
de acesso à BITNET (LNCC, FAPESP e NCE).
• Posteriormente aconteceram as conexões locais, via UFMG.
61
62. A criação da Rede Nacional
• O Governo Federal anunciou oficialmente na
SUCESU 89 o projeto da nova infra-estrutura de
comunicações de dados.
• Foi criado um grupo de trabalho, sob coordenação
do CNPq, que montou uma estratégia para que a
RNP tivesse uma arquitetura semelhante à
NSFNET
• O backbone nacional seria um projeto do governo CNPq
federal, enquanto as redes regionais seriam de
responsabilidade dos governos dos estados
62
64. A demanda pelo TCP/IP (Internet)
Os serviços de correio eletrônico da
BITNET se mostraram insuficientes
para alguns pesquisadores, face às
novas funcionalidades que já
estavam disponíveis na Internet.
64
66. O abandono do OSI
• Início do governo Collor (1990) - Desmonte da Política
Nacional de Informática vigente;
• Diminuição dos poderes do MCT e da SEI - Fim da oposição
frontal ao uso acadêmico do TCP/IP;
• Pressões da comunidade acadêmica: Primeiro apoio oficial ao
uso de tecnologia TCP/IP no Brasil, a Rede Rio fase 2.
66
67. O acesso à Internet na rede acadêmica
• A FAPESP, começou a transportar tráfego
TCP/IP e ter acesso à rede ESNET (Energy
Sciences Network) que estava ligada à NSFNET
que, por sua vez, fazia parte da Internet.
• Esta conectividade TCP/IP foi logo estendida
para um pequeno número de instituições
67
68. E A RNP?
• Tadao Takahashi assumiu a coordenação do Projeto da RNP (que
havia começado com a proposta do LARC após a reunião na USP);
• Quase um ano inteiro havia se passado sem que praticamente nada
tivesse acontecido na prática;
• Novas articulações foram necessárias para fazer com que o projeto
da RNP saísse do papel (Governo federal, governos estaduais, PNUD,
empresas).
68
70. As iniciativas de redes
acadêmicas nos anos oitenta
RST LARC CEPINNE
Rede-Rio BRAINS
REDE-CC RANC
RNP RECITE REDE-CC
REDEPEQ ANSP
70
71. Capítulo 5
O Empurrão do Terceiro Setor
“A tecnologia não é boa, nem
ruim e também não é neutra”
Melvin Kranzberg (1917-1995), historiador
norte-americano
71
72. Os BBS
(Bulletin Board Systems)
• Existiram no Brasil mais de 300 BBS até 1995, atendendo mais de 45
mil usuários.
• Alguns BBS tinham acesso (discado) à rede
internacional de BBS (FIDONET)
72
75. O Alternex e a APC
Em julho de 1989, o Alternex interligou-se ao IGC na
Califórnia (EUA), que dava acesso à Internet à rede APC
da qual o Alternex passou a fazer parte.
Em 1990 a ONU delegou à APC a coordenação e
implantação da infra-estrutura de comunicações de suas
futuras conferências.
Coube ao IBASE, representante da APC no Brasil, a
coordenação, planejamento, implantação e operação da
rede de disseminação de informações da conferência
UNCED 92 UNCED92 ou RIO92.
75
76. A Conferência da ONU
• A importância internacional desta conferência resultou em um
amplo apoio governamental em todos os níveis, somado ao
suporte da UFRJ, da Rede Rio e da RNP.
• Rapidamente instalaram conexões (internacionais e locais) com
altíssima capacidade para a época (64 kbps). O canal
internacional da Embratel saiu pela UFRJ com destino à rede
CERFNET.
76
77. A Rede Rio e o upgrade no acesso à
Internet no Brasil
A infra-estrutura da Rio-92 agilizou a implantação do
projeto da Rede Rio
Teve repercussões nacionais, impulsionando a ANSP a
ampliar seu acesso para 64 kbps e interligar-se à Rede
Rio, deslanchando o backbone da RNP
UFRJ
LNCC
77
78. O primeiro provedor de acesso
Após a Rio-92, o IBASE ampliou os serviços do Alternex,
passando a atuar como o primeiro provedor de acesso à
Internet no Brasil;
Passou a fornecer acesso à rede de mensagens USENET para
milhares de usuários de mais de uma centena de BBS no País.
78
79. A ruptura entre a Rede Rio e a RNP por causa
do IBASE e o papel das redes acadêmicas
• Enredamento (precário, incerto e tenso) de entidades
heterogêneas através de relações igualmente heterogêneas.
• A imprevisibilidade nas relações fez com que a entrada em
cena de uma ONG, aliada à oportunidade de um evento
ecológico internacional, pudesse dar um novo tom de definição
à questão.
• Um contra-exemplo para os que buscam narrativas lineares
de causa e efeito, como se todos os “grandes efeitos” (como a
implantação da Internet no Brasil) tivessem necessariamente
de ter uma “grande causa” e assim compor uma “grande
narrativa”.
79
80. Capítulo 6
A Web, a Internet comercial e a
regulamentação da rede no Brasil
“Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje
Que veleje nesse infomar ”
Gilberto Gil, “Pela Internet”, 1996. 80
81. A Web e a Internet Comercial
Com a disseminação da World Wide Web e a
expansão dos serviços comerciais, a Internet
ganhou uma enorme popularidade no mundo inteiro.
Esses dois momentos recentes da sua trajetória,
possuem uma história altamente contingencial, com
precariedades, tensões e bifurcações, comuns a
qualquer outro fato ou artefato tecnológico.
81
82. Até os anos noventa a Internet ainda
era algo difícil de se usar ...
Havia uma “ameaça” dos sistemas
on-line comerciais
82
83. A World Wide Web
Projeto criado em 1989 no CERN
(Conseil Europeen pour la
Recherche Nucleaire ) sob
liderança de Tim Berners-Lee e
Robert Cailliau
83
84. Objetivo
Tornar o acesso às informações mais fácil;
Integração da Internet com hipertextos;
Ferramenta universal para acesso: Web Browser;
Linguagem simples de se escrever e entender: HTML
deliberadamente baseada na Standard Generalized
Markup Language, SGML (1960).
84
86. A entrada em cena de um
cientista-empresário
“Enquanto eu ficava sentado escrevendo
códigos, o Robert, colocava suas energias para
fazer o projeto da WWW acontecer no CERN.
Ele reescreveu a proposta nos termos em que
achava que teriam mais efeito. Veterano do
Laboratório desde 1973, ele fazia lobby através
de sua extensa rede de amigos espalhada por
toda a organização. Ele conseguia estudantes
ajudantes, dinheiro, máquinas e salas”
Berners-Lee
Robert Cailliau
86
88. A demonstração da Web
Assim como aconteceu com a
ARPANET, a RNP e a Rede Rio,
demonstrações fizeram parte do
processo de estabilização da Web.
“Quando a rede “a rede vai funcionar
quando as pessoas
funcionar, todos se
interessadas estiverem
convencerão” convencidas“
Face da Face da tecnologia em
tecnologia pronta construção
88
90. A privatização da Internet nos EUA
• 1991/1992 Surgimento dos
provedores de acesso comerciais
• Em 1995 o backbone da NSFNET
nos Estados Unidos foi vendido
para a America On-Line
90
91. A “Internetbrás”
• A Embratel iniciou seu serviço de acesso à Internet
via linha discada em caráter experimental no final
de 1994.
• A exclusividade da Embratel desagradou a iniciativa
privada e outros setores da sociedade.
91
92. Pegando carona na privatização das
telecomunicações
• Em janeiro de 1995 FHC assumiu o governo federal com uma
agenda de privatizações que começava pelas telecomunicações;
• Em abril de 1995, o Minicom anunciou que a Internet era um
serviço de valor adicionado, sobre o qual não haveria nenhum
monopólio;
• Anunciou, em seguida, que a Embratel teria de encerrar suas
atividades como provedora de acesso;
• Abriu-se o caminho para a RNP atuar como provedora de
acesso através dos seus Pontos de Presença estaduais (PoPs).
92
93. O desenvolvimento da Internet
Comercial no Brasil
Após passar pelos problemas de infra-estrutura de
telecomunicações, surgiram novos participantes:
• Provedores de acesso (Mandic, Nutec, Zip.net,
Unikey, CentroIn, Inside, etc.);
• Provedores de backbone (IBM, UNISYS,
Banco Rural e Global One);
• Provedores de serviços (Booknet, UOL, BOL,
Cadê?, ZAZ, ZipMail, etc.).
93
94. A Instituição da Governança da
Internet no brasil
Em Maio de 1995, uma portaria interministerial
(MCT e Minicom) criou o Comitê Gestor da
Internet, formado por representantes indicados
do Governo, operadoras de backbones,
provedores de acesso, comunidade acadêmica e
comunidade usuária.
MCT
MCT Minicom
Minicom
94
95. As relações entre o CGI e a FAPESP
1989 - A FAPESP passou aadministrar os domínios .BR
1994 – A IANA delegou à FAPESP o bloco dos
endereços IP para o Brasil.
1995 – O CGI passou a se responsabilizar pela gestão
da raiz dos domínios .br e pela distribuição dos
endereços IP no Brasil (na teoria)
Na prática, essas funções seguiram sendo executadas
pela equipe da rede ANSP dentro da FAPESP.
95
96. A necessidade de mudança no CGI
• Críticas crescentes ao modelo CGI - FAPESP;
• A legitimidade/representatividade do CGI em questão.
• Cenário só começou a mudar após 2003 (eleições,
personalidade jurídica, operações, etc.);
• A questão da governança global da Internet (ANEXO 1).
96
97. Conclusão
“Aqueles que esquecem o passado
estão condenados a repeti-lo”
Jorge Augustín Nicolás Ruiz de Santayana
(1863-1952), filósofo espanhol.
97
98. A Internet não é uma rede simplesmente
técnica, feita de hardware e software. Ela
é uma rede sociotécnica, um
enredamento indissociável de ciência,
tecnologia e sociedade.
Seu processo de construção se deu
através do recrutamento de inúmeros
aliados humanos e não-humanos e seus
envolvimentos em diferentes cenários
que terminaram por lhes dar, ao mesmo
tempo, forma e robustez.
98
99. A análise da trajetória da Internet mostrou
que, se as mudanças correspondem a
escolhas dicas técnicas, estas, por sua vez,
estão inelutavelmente vinculadas às opções
políticas e aos valores socialmente
constituídos, em que a tecnologia suporta e
é suportada por discursos construídos em
meio a interações complexas entre cientistas
e engenheiros, agências de financiamento,
políticas de governo, leis de mercado,
instituições da sociedade civil, ideologias e
enquadramentos culturais.
99
100. Sputnik EUA
URSS Brasil
DARPA MEC
SEI MCT Minicom
ONU
IPTO
Inglaterra Telebrás Embratel CGI
ISO CCITT
RAND Universidades
CNPq
TCP/IP RM-OSI
NPL LARC
Redes de RNP
Pacotes NSF
BBN UNIX APC
NSFNET
UCLA ESNET BITNET Fapesp
Arpanet MILNET
UCSB Ibase ANSP Faperj
CSNET
Utah CERNET
SRI Internet Rede Rio
IGC
Netscape Alternex
Xanadu CERN
WWW ISP
Memex BBS
Mosaic Apache 100