SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 4
I lustr a rte        // Desen hos pa r a cr i a nç as ? //       Tex to Rita Pimenta F oto g ra f i a Enric Vives-Rubio




                É um pecado
                não partilhar
                  o humor




                                                                                                                                     Prémio ILUSTRATE 2005
 Bonecos narigudos de pernas fininhas com objectos na cabeça são a sua marca.
“Há dramas que só existem na cabeça das pessoas.” E há que rir deles. Pintor há
20 anos, João Vaz de Carvalho venceu a Bienal Internacional de Ilustração para
 a Infância 2005: foi escolhido como o melhor entre 920 trabalhos de 50 países.
18   PÚBLICA                                                                                                              19   PÚBLICA
Ilustração para os miúdos




                                        ubverter as ideias e as




                            S           coisas, desmontá-las com
                                        humor, divertir-se e diver-
                                        tir é o que faz João Vaz de
                                        Carvalho quando desenha.
                            “Se temos a felicidade de nos diver-
                            tirmos e a capacidade de ter humor,
                            é um pecado não usufruir disso. E
                            partilhar.” O vencedor da Bienal
                            Internacional de Ilustração para a
                            Infância 2005 (Ilustrarte) que decorre
                            no Barreiro não acredita que se ilustre
                            para as crianças. Ilustra-se, simples-
                            mente: “Ou se tem a capacidade de se
                            comunicar com elas ou não.” E está
                            convencido de que os miúdos, perante
                            um desenho, não têm qualquer expec-
                            tativa: “Uma criança não espera nada
                            de uma ilustração. A criança recebe
                            [algo], se aquilo tiver capacidade para
                            chegar a ela.”
                                Com raízes rurais, natural do
                            Fundão, Beira Baixa, a sua infância
                            foi passada em quintais e quintas.
                            “Absorvi aquele ambiente e aqueles
                            objectos e só me dei conta disso muito
                            tarde. Mas essa presença é muito forte
                            no meu trabalho. E isso passa para as
                            crianças. No momento em que eu recebi
                            aquelas informações e emoções, eu era
                            criança. Não posso dizer que é uma
                            emoção universal, mas pelo menos
                            posso dizer que é comum.”
                                Objectos quotidianos a dançar na ca-
                            beça de bonecos narigudos e de pernas
                            fininhas é uma das suas imagens recor-
                            rentes. E é fácil sorrir-se diante delas.
                            “Se não se tratar de uma patologia, há
                            dramas que só existem na cabeça das
                            pessoas. Temos de descobrir o lado di-
                            vertido e positivo das coisas. E rir.”
                                Pintor autodidacta, tem 47 anos e im-
                            porta da pintura a técnica que usa para
                            ilustrar. Mas não foi sempre assim. “Eu
                            tinha algum temor em transportar pa-
                            ra a ilustração a minha linguagem da
                            pintura. Achava que estava a diminuí-
                            la. Ao mesmo tempo, na ilustração,
                            não sentia ter liberdade para executar
                            plenamente, para me pôr todo ali. Como
                            dependia de outros, nunca tive coragem
                            de a abordar com a mesma liberdade
                            que abordo as minhas histórias.”
                                Procurou então, durante algum
                            tempo, criar uma distância entre a
                            pintura e a ilustração, “na pin-



20   PÚBLICA                                                            21   PÚBLICA
Ilustração para os miúdos




                                                                                                                                                                                                                                                                    palmas, uma dança conhecida e
                                                                                                                                                                                                                                                                            Diego Bianchi, Uruguai,


                                                                                                                                                                                                                                                                            as gargantas vermelhas
                                                                                                                                                                                                                                                                         Cada um acompanha com


                                                                                                                                                                                                                                                                                    de tanto beber
                                                                                                                                                                         Tomislav Tomic’, Croácia, Arca de Noé




                                                                                                                                                                                                                 MENÇÃO ESPECIAL
Manuel Hidalgo, Espanha, Renato



                                                                                                                                                                                                                                                 Isabelle Vandenabeele, Bélgica,
                                                                                                                                                                                                                                                            A minha sombra e eu
                                                         Joanna Concejo, França, Olhos




                                                                                                                                    André Letria, Portugal, sem título
                                                                                         A Ilustrarte 2005 — Bienal de
                                                                                         Ilustração para a Infância é uma
                                                                                         exposição de 150 trabalhos (de
                                                                                         50 ilustradores de 15 países)
                                                                                         seleccionados por Kveta Pacovská,
                                                                                         Carll Cneut, Frédérique Bertrand,
                                                                                         Vicente Ferrer e José de Guimarães.
                                                                                         O júri atribuiu menções especiais a
                                                                                         Isabelle Vandenabeele (Bélgica) e a
                                                                                         André Letria (Portugal). A mostra,
                                                                                         comissariada por Ju Godinho e
                                                                                         Eduardo Filipe, pode ser visitada até 31
                                                                                         de Dezembro no Auditório Municipal
                                                                                         Augusto Cabrita (Parque da Cidade),
                                                                                         no Barreiro (de terça a domingo, das
                     Gerda Dendooven, Bélgica, A dança                                   15h às 20h).

                                                                                                                                                                     L
                                                                                                                                                       MENÇÃO ESPECIAL                                                             Harumi Kimura, Japão, Pote abriu o livro verde


22   PÚBLICA                                                                                                                                                                                                                                                           23         PÚBLICA
Ilustração para os miúdos




Vittoria Facchini, Itália,
Fica comigo, não me deixes, não
me partas o coração...
                                                                                                                                                        tura havia um lado experimental        da revista “Marie Claire”, a jornalista         Realça mais uma vez o lado hu-
                                                                                                                                                 mais presente e mais forte”. Há quatro ou     Maria Elisa, achou a sua pintura muito      morístico forte no trabalho que cria
                                                                                                                                                 cinco anos, rompeu com isso. “Era uma         ilustrativa e convidou-o para umas ex-      e diz ilustrar-se a si próprio, pelo que
                                                                                                                                                 estupidez completa.” E percebeu: “O meu       periências naquela publicação. “Nunca       qualquer semelhança entre ele e os
                                                                                                                                                 trabalho é aquele, independentemente de       mais parei. Agora tenho trabalhado          seus bonecos não será pura coincidên-
                                                                                                                                                 ter texto ou não de alguém. Sou eu. Tenho     com o ‘Diário de Notícias’ e fiz, há pouco   cia. “Os pintores são ilustradores de si
                                                                                                                                                 de me entregar por completo àquele tra-       tempo, uma capa da revista ‘Actual’ do      próprios e dos seus próprios mundos.
                                                                                                                                                 balho, seja ele de raiz da minha autoria ou   ‘Expresso’.”                                Usam todos os recursos e dispõem de
                                                                                                                                                 de outra pessoa qualquer.”                       Nestes trabalhos em que o ponto de       total liberdade. Eu ilustro sem texto. E
                                                                                                                                                     Antes, quando se tratava de ilustração,   partida é um texto de alguém, procura       divirto-me imenso.”
                                                                                                                                                 desenhava a lápis e depois passava para       não se aprisionar ao que está escrito.          Recorda uma expressão que o seu
                                                                                                                                                 ecoline (aguarela líquida) sobre papel.       “Há um processo de interiorização e         amigo escritor António Avelar Pinho
                                                                                                                                                 Uma técnica “mais rápida e com um re-         de depuração, que leva                                       (co-autor do Clube dos
                                                                                                                                                 sultado plástico diferente”. Agora, passa     algum tempo, fica depois                                      4) criou para ele: “Um
                                                                                                                                                 a acrílico, como na pintura. “Foi um salto    o essencial. Mas procuro       Os pintores são               escritor mascarado de
                                                                                                                                                 brutal, as coisas enriqueceram imenso.”       nunca me prender muito                                       pintor.” E justifica-a:
                                                                                                                                                 Sente-se hoje mais identificado com o que      ao texto.” Acredita que o
                                                                                                                                                                                                                              ilustradores de               “Eu pinto histórias,
                                                                                                                                                 faz como autor de ilustrações do que antes.   papel do ilustrador é acres-   si próprios e dos             seja na pintura ou na

                                           Jonas Lauströer, Alemanha, Galinha
                                                                                                                                                 “É mais uma diferença de dimensão e de        centar alguma coisa às         seus próprios                 ilustração. Só que na
                                                                                                                                                 suporte do que de discurso. A ilustração      histórias, “mas algumas                                      ilustração tenho as
                                                                                                                                                 é no papel e a pintura em tela.”              têm mais que ver connosco,
                                                                                                                                                                                                                              mundos                        histórias dos outros e
                                                                                                                                                     No caso da Ilustrarte, apresentou iné-    entramos mais facilmente                                     na pintura é a minha
                                                                                                                                                 ditos. E explica que podiam ser perfeita-     naquele espírito, comu-                                      história.”
                                                                                                                                                 mente trabalhos finais de telas suas, mas      nicamos mais com aquele discurso,               É metódico e passa muitas horas
                                                                                                                                                 transportou-as para uma dimensão mais         outras menos”.                              fechado no atelier, na Parede, “sozinho,
                                                                                Sandrine Martin, França, As imagens
                      Mandana Sadat, França, Que cabe exactamente...
                                                                                                                                                 pequena e para o papel. “Gosto das duas          O pior de tudo é os autores darem        isolado, um bicho do mato”. Esta rotina é
                                                                                                                                                 coisas (pintura, ilustração), mas na pintu-   sugestões e dizerem que “gostavam de        interrompida para levar as filhas à esco-
                                                                                                                                                 ra há um desgaste maior. Na ilustração, o     ter uma coisa assim, para uma capa,         la (uma de dez anos e outra de oito) e, ao
                                                                                                                                                 processo é mais pacífico, mais fácil, até      por exemplo”. Às vezes isso acontece,       fim do dia, para a logística familiar. “As
                                                                                                                                                 do ponto de vista físico. A escala é outra,   até com pessoas conhecidas: “É terrível     semanas repetem-se assim. A minha vi-
                                                                                                                                                 trabalha-se com estirador.”                   porque ficamos limitados à partida, fica-     da é a pintura e a ilustração.”
                                                                                                                                                     João Vaz de Carvalho teve várias ex-      mos reféns do que o autor imaginou na           Ser seleccionado pelo júri da bienal,
                                                                                                                                                 periências profissionais, trabalhou num        cabeça dele. Coisa que nós nunca vamos      como o foi há dois anos, bastava-lhe,
                                                                                                                                                 estúdio de gravação e num atelier de es-      conseguir atingir.”                         mas ser escolhido como o melhor entre
                                                                                                                                                 cultura em Coimbra (do artista plástico          Mas, afinal, o que é ilustrar? “Ilus-     920 trabalhos de 50 países deixou-o sur-
                                                                                                                                                 Vasco Berardo), mas há 20 anos que se         trar é fazer mais uma história, é inven-    preendido e contente. “Já teve efeitos”:
                                                                                                                                                 dedica exclusivamente às artes. “Foi um       tar mais uma das minhas histórias,          foi contactado por editoras espanholas
                                                                                                                                                 salto complicado, no escuro. Mas não me       mesmo que tenha como suporte a ideia        da área infanto-juvenil e está em nego-
                                                                                                                                                 arrependo, faço o que gosto. O meu tra-       de outra pessoa.”                           ciações para alguns projectos. Além
                                                                                                                      Natalie Pudalov, Israel,   balho desde o início foi muito bem aceite                                                 do reconhecimento nacional, agrada-
                                                                                                                       Alfabeto divertido - P    pelas pessoas.”                                                                           lhe a visibilidade internacional que a



                                                                                                                                                                                                                                                         .
                                                                                                                                                     Tem um longo percurso de colabora-                                                    Ilustrarte faculta, “afinal, o catálogo
                                                                                                                                                 ção com galerias (Novo Século, Trema e                                                    vai viajar pelo mundo”. Os seus bone-
                                                                                                                                                 Altamira, de Francisco Paulino) e conta                                                   cos também.
                                                                                                                                                 com um público fiel, “alguns fãs na ar-
                                                                                                                                                 quitectura e no design de interiores”. E
                                                                                                                                                 sempre que expõe, “quadros que podem
                                                                                                                                                 ter 1x20m por 1x20m”, vende as exposi-
                                                                                                                                                 ções completas.
                                                                                                                                                     A passagem para ilustração deu-se
                                                                                                                                                 numa dessas mostras. A então directora

                                                                         Carmela Mayor, Espanha,
                                                                         De onde vêm as palavras?




24   PÚBLICA                                                                                                                                                                                                                                                                            25   PÚBLICA

Weitere ähnliche Inhalte

Ähnlich wie João Vaz de Carvalho Pag Pdf Novo

Descobrindo Crianças Violet Oaklander
Descobrindo Crianças Violet OaklanderDescobrindo Crianças Violet Oaklander
Descobrindo Crianças Violet OaklanderSilvana Eloisa
 
Área Cultural 2ª edição
Área Cultural 2ª ediçãoÁrea Cultural 2ª edição
Área Cultural 2ª ediçãoFran Buzzi
 
Apresentação_Projeto_Educativo_masc-ceu_html
Apresentação_Projeto_Educativo_masc-ceu_htmlApresentação_Projeto_Educativo_masc-ceu_html
Apresentação_Projeto_Educativo_masc-ceu_htmlVinicius de Nepomuceno
 

Ähnlich wie João Vaz de Carvalho Pag Pdf Novo (9)

Imagina6
Imagina6Imagina6
Imagina6
 
CASE - Alcabideche 2011
CASE - Alcabideche 2011CASE - Alcabideche 2011
CASE - Alcabideche 2011
 
Beabá - Edição 01
Beabá - Edição 01Beabá - Edição 01
Beabá - Edição 01
 
Descobrindo Crianças Violet Oaklander
Descobrindo Crianças Violet OaklanderDescobrindo Crianças Violet Oaklander
Descobrindo Crianças Violet Oaklander
 
5.12.2013 Oficina Letramento visual: Matrizes de linguagem e seus suportes p...
5.12.2013 Oficina Letramento visual:  Matrizes de linguagem e seus suportes p...5.12.2013 Oficina Letramento visual:  Matrizes de linguagem e seus suportes p...
5.12.2013 Oficina Letramento visual: Matrizes de linguagem e seus suportes p...
 
Área Cultural 2ª edição
Área Cultural 2ª ediçãoÁrea Cultural 2ª edição
Área Cultural 2ª edição
 
Apresentação_Projeto_Educativo_masc-ceu_html
Apresentação_Projeto_Educativo_masc-ceu_htmlApresentação_Projeto_Educativo_masc-ceu_html
Apresentação_Projeto_Educativo_masc-ceu_html
 
Arte0
Arte0Arte0
Arte0
 
Arte0
Arte0Arte0
Arte0
 

Mehr von mrvpimenta

Crianças 19 maio pjl47
Crianças   19 maio  pjl47Crianças   19 maio  pjl47
Crianças 19 maio pjl47mrvpimenta
 
Cultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonha
Cultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonhaCultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonha
Cultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonhamrvpimenta
 
Pág. crianças 4 fev.
Pág. crianças 4 fev.Pág. crianças 4 fev.
Pág. crianças 4 fev.mrvpimenta
 
Pág. miúdos gatafunho 220112
Pág. miúdos gatafunho 220112Pág. miúdos gatafunho 220112
Pág. miúdos gatafunho 220112mrvpimenta
 
Pág.crianças28 01-12
Pág.crianças28 01-12Pág.crianças28 01-12
Pág.crianças28 01-12mrvpimenta
 
Pág.crianças21 janeiro
Pág.crianças21 janeiroPág.crianças21 janeiro
Pág.crianças21 janeiromrvpimenta
 
Pág,crianças14 janeiro2012
Pág,crianças14 janeiro2012Pág,crianças14 janeiro2012
Pág,crianças14 janeiro2012mrvpimenta
 
Cultura folio ilustrarte120112
Cultura folio ilustrarte120112Cultura folio ilustrarte120112
Cultura folio ilustrarte120112mrvpimenta
 
Miúdos ilustrarte 080112
Miúdos ilustrarte 080112Miúdos ilustrarte 080112
Miúdos ilustrarte 080112mrvpimenta
 
Pág.crianças17 dezembro de 2011
Pág.crianças17 dezembro de 2011Pág.crianças17 dezembro de 2011
Pág.crianças17 dezembro de 2011mrvpimenta
 
Pág. crianças 10 dezembro
Pág. crianças 10 dezembroPág. crianças 10 dezembro
Pág. crianças 10 dezembromrvpimenta
 
Pág. crianças 3 dezembro2011
Pág. crianças 3 dezembro2011Pág. crianças 3 dezembro2011
Pág. crianças 3 dezembro2011mrvpimenta
 
Pág.crianças 19 nov
Pág.crianças 19 novPág.crianças 19 nov
Pág.crianças 19 novmrvpimenta
 
Miudos - adolescentes e livros 061111
Miudos - adolescentes e livros 061111Miudos - adolescentes e livros 061111
Miudos - adolescentes e livros 061111mrvpimenta
 
Pág.crianças12 novembro
Pág.crianças12 novembroPág.crianças12 novembro
Pág.crianças12 novembromrvpimenta
 
Pág.crianças 5 novembro2011
Pág.crianças 5 novembro2011Pág.crianças 5 novembro2011
Pág.crianças 5 novembro2011mrvpimenta
 
Pág. crianças 29 outubro
Pág. crianças 29 outubroPág. crianças 29 outubro
Pág. crianças 29 outubromrvpimenta
 
Pág.crianças 22 10-11
Pág.crianças 22 10-11Pág.crianças 22 10-11
Pág.crianças 22 10-11mrvpimenta
 
Pública zoom Conservas portuguesas 161011
Pública zoom Conservas portuguesas 161011Pública zoom Conservas portuguesas 161011
Pública zoom Conservas portuguesas 161011mrvpimenta
 

Mehr von mrvpimenta (20)

Alice pdf
Alice pdfAlice pdf
Alice pdf
 
Crianças 19 maio pjl47
Crianças   19 maio  pjl47Crianças   19 maio  pjl47
Crianças 19 maio pjl47
 
Cultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonha
Cultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonhaCultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonha
Cultura 3435 03 23-12 p1 s lc01-bolonha
 
Pág. crianças 4 fev.
Pág. crianças 4 fev.Pág. crianças 4 fev.
Pág. crianças 4 fev.
 
Pág. miúdos gatafunho 220112
Pág. miúdos gatafunho 220112Pág. miúdos gatafunho 220112
Pág. miúdos gatafunho 220112
 
Pág.crianças28 01-12
Pág.crianças28 01-12Pág.crianças28 01-12
Pág.crianças28 01-12
 
Pág.crianças21 janeiro
Pág.crianças21 janeiroPág.crianças21 janeiro
Pág.crianças21 janeiro
 
Pág,crianças14 janeiro2012
Pág,crianças14 janeiro2012Pág,crianças14 janeiro2012
Pág,crianças14 janeiro2012
 
Cultura folio ilustrarte120112
Cultura folio ilustrarte120112Cultura folio ilustrarte120112
Cultura folio ilustrarte120112
 
Miúdos ilustrarte 080112
Miúdos ilustrarte 080112Miúdos ilustrarte 080112
Miúdos ilustrarte 080112
 
Pág.crianças17 dezembro de 2011
Pág.crianças17 dezembro de 2011Pág.crianças17 dezembro de 2011
Pág.crianças17 dezembro de 2011
 
Pág. crianças 10 dezembro
Pág. crianças 10 dezembroPág. crianças 10 dezembro
Pág. crianças 10 dezembro
 
Pág. crianças 3 dezembro2011
Pág. crianças 3 dezembro2011Pág. crianças 3 dezembro2011
Pág. crianças 3 dezembro2011
 
Pág.crianças 19 nov
Pág.crianças 19 novPág.crianças 19 nov
Pág.crianças 19 nov
 
Miudos - adolescentes e livros 061111
Miudos - adolescentes e livros 061111Miudos - adolescentes e livros 061111
Miudos - adolescentes e livros 061111
 
Pág.crianças12 novembro
Pág.crianças12 novembroPág.crianças12 novembro
Pág.crianças12 novembro
 
Pág.crianças 5 novembro2011
Pág.crianças 5 novembro2011Pág.crianças 5 novembro2011
Pág.crianças 5 novembro2011
 
Pág. crianças 29 outubro
Pág. crianças 29 outubroPág. crianças 29 outubro
Pág. crianças 29 outubro
 
Pág.crianças 22 10-11
Pág.crianças 22 10-11Pág.crianças 22 10-11
Pág.crianças 22 10-11
 
Pública zoom Conservas portuguesas 161011
Pública zoom Conservas portuguesas 161011Pública zoom Conservas portuguesas 161011
Pública zoom Conservas portuguesas 161011
 

Kürzlich hochgeladen

o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfLeloIurk1
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxPLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxSamiraMiresVieiradeM
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptxMarlene Cunhada
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 

Kürzlich hochgeladen (20)

o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptxPLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO.educacao física pptx
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 

João Vaz de Carvalho Pag Pdf Novo

  • 1. I lustr a rte // Desen hos pa r a cr i a nç as ? // Tex to Rita Pimenta F oto g ra f i a Enric Vives-Rubio É um pecado não partilhar o humor Prémio ILUSTRATE 2005 Bonecos narigudos de pernas fininhas com objectos na cabeça são a sua marca. “Há dramas que só existem na cabeça das pessoas.” E há que rir deles. Pintor há 20 anos, João Vaz de Carvalho venceu a Bienal Internacional de Ilustração para a Infância 2005: foi escolhido como o melhor entre 920 trabalhos de 50 países. 18 PÚBLICA 19 PÚBLICA
  • 2. Ilustração para os miúdos ubverter as ideias e as S coisas, desmontá-las com humor, divertir-se e diver- tir é o que faz João Vaz de Carvalho quando desenha. “Se temos a felicidade de nos diver- tirmos e a capacidade de ter humor, é um pecado não usufruir disso. E partilhar.” O vencedor da Bienal Internacional de Ilustração para a Infância 2005 (Ilustrarte) que decorre no Barreiro não acredita que se ilustre para as crianças. Ilustra-se, simples- mente: “Ou se tem a capacidade de se comunicar com elas ou não.” E está convencido de que os miúdos, perante um desenho, não têm qualquer expec- tativa: “Uma criança não espera nada de uma ilustração. A criança recebe [algo], se aquilo tiver capacidade para chegar a ela.” Com raízes rurais, natural do Fundão, Beira Baixa, a sua infância foi passada em quintais e quintas. “Absorvi aquele ambiente e aqueles objectos e só me dei conta disso muito tarde. Mas essa presença é muito forte no meu trabalho. E isso passa para as crianças. No momento em que eu recebi aquelas informações e emoções, eu era criança. Não posso dizer que é uma emoção universal, mas pelo menos posso dizer que é comum.” Objectos quotidianos a dançar na ca- beça de bonecos narigudos e de pernas fininhas é uma das suas imagens recor- rentes. E é fácil sorrir-se diante delas. “Se não se tratar de uma patologia, há dramas que só existem na cabeça das pessoas. Temos de descobrir o lado di- vertido e positivo das coisas. E rir.” Pintor autodidacta, tem 47 anos e im- porta da pintura a técnica que usa para ilustrar. Mas não foi sempre assim. “Eu tinha algum temor em transportar pa- ra a ilustração a minha linguagem da pintura. Achava que estava a diminuí- la. Ao mesmo tempo, na ilustração, não sentia ter liberdade para executar plenamente, para me pôr todo ali. Como dependia de outros, nunca tive coragem de a abordar com a mesma liberdade que abordo as minhas histórias.” Procurou então, durante algum tempo, criar uma distância entre a pintura e a ilustração, “na pin- 20 PÚBLICA 21 PÚBLICA
  • 3. Ilustração para os miúdos palmas, uma dança conhecida e Diego Bianchi, Uruguai, as gargantas vermelhas Cada um acompanha com de tanto beber Tomislav Tomic’, Croácia, Arca de Noé MENÇÃO ESPECIAL Manuel Hidalgo, Espanha, Renato Isabelle Vandenabeele, Bélgica, A minha sombra e eu Joanna Concejo, França, Olhos André Letria, Portugal, sem título A Ilustrarte 2005 — Bienal de Ilustração para a Infância é uma exposição de 150 trabalhos (de 50 ilustradores de 15 países) seleccionados por Kveta Pacovská, Carll Cneut, Frédérique Bertrand, Vicente Ferrer e José de Guimarães. O júri atribuiu menções especiais a Isabelle Vandenabeele (Bélgica) e a André Letria (Portugal). A mostra, comissariada por Ju Godinho e Eduardo Filipe, pode ser visitada até 31 de Dezembro no Auditório Municipal Augusto Cabrita (Parque da Cidade), no Barreiro (de terça a domingo, das Gerda Dendooven, Bélgica, A dança 15h às 20h). L MENÇÃO ESPECIAL Harumi Kimura, Japão, Pote abriu o livro verde 22 PÚBLICA 23 PÚBLICA
  • 4. Ilustração para os miúdos Vittoria Facchini, Itália, Fica comigo, não me deixes, não me partas o coração... tura havia um lado experimental da revista “Marie Claire”, a jornalista Realça mais uma vez o lado hu- mais presente e mais forte”. Há quatro ou Maria Elisa, achou a sua pintura muito morístico forte no trabalho que cria cinco anos, rompeu com isso. “Era uma ilustrativa e convidou-o para umas ex- e diz ilustrar-se a si próprio, pelo que estupidez completa.” E percebeu: “O meu periências naquela publicação. “Nunca qualquer semelhança entre ele e os trabalho é aquele, independentemente de mais parei. Agora tenho trabalhado seus bonecos não será pura coincidên- ter texto ou não de alguém. Sou eu. Tenho com o ‘Diário de Notícias’ e fiz, há pouco cia. “Os pintores são ilustradores de si de me entregar por completo àquele tra- tempo, uma capa da revista ‘Actual’ do próprios e dos seus próprios mundos. balho, seja ele de raiz da minha autoria ou ‘Expresso’.” Usam todos os recursos e dispõem de de outra pessoa qualquer.” Nestes trabalhos em que o ponto de total liberdade. Eu ilustro sem texto. E Antes, quando se tratava de ilustração, partida é um texto de alguém, procura divirto-me imenso.” desenhava a lápis e depois passava para não se aprisionar ao que está escrito. Recorda uma expressão que o seu ecoline (aguarela líquida) sobre papel. “Há um processo de interiorização e amigo escritor António Avelar Pinho Uma técnica “mais rápida e com um re- de depuração, que leva (co-autor do Clube dos sultado plástico diferente”. Agora, passa algum tempo, fica depois 4) criou para ele: “Um a acrílico, como na pintura. “Foi um salto o essencial. Mas procuro Os pintores são escritor mascarado de brutal, as coisas enriqueceram imenso.” nunca me prender muito pintor.” E justifica-a: Sente-se hoje mais identificado com o que ao texto.” Acredita que o ilustradores de “Eu pinto histórias, faz como autor de ilustrações do que antes. papel do ilustrador é acres- si próprios e dos seja na pintura ou na Jonas Lauströer, Alemanha, Galinha “É mais uma diferença de dimensão e de centar alguma coisa às seus próprios ilustração. Só que na suporte do que de discurso. A ilustração histórias, “mas algumas ilustração tenho as é no papel e a pintura em tela.” têm mais que ver connosco, mundos histórias dos outros e No caso da Ilustrarte, apresentou iné- entramos mais facilmente na pintura é a minha ditos. E explica que podiam ser perfeita- naquele espírito, comu- história.” mente trabalhos finais de telas suas, mas nicamos mais com aquele discurso, É metódico e passa muitas horas transportou-as para uma dimensão mais outras menos”. fechado no atelier, na Parede, “sozinho, Sandrine Martin, França, As imagens Mandana Sadat, França, Que cabe exactamente... pequena e para o papel. “Gosto das duas O pior de tudo é os autores darem isolado, um bicho do mato”. Esta rotina é coisas (pintura, ilustração), mas na pintu- sugestões e dizerem que “gostavam de interrompida para levar as filhas à esco- ra há um desgaste maior. Na ilustração, o ter uma coisa assim, para uma capa, la (uma de dez anos e outra de oito) e, ao processo é mais pacífico, mais fácil, até por exemplo”. Às vezes isso acontece, fim do dia, para a logística familiar. “As do ponto de vista físico. A escala é outra, até com pessoas conhecidas: “É terrível semanas repetem-se assim. A minha vi- trabalha-se com estirador.” porque ficamos limitados à partida, fica- da é a pintura e a ilustração.” João Vaz de Carvalho teve várias ex- mos reféns do que o autor imaginou na Ser seleccionado pelo júri da bienal, periências profissionais, trabalhou num cabeça dele. Coisa que nós nunca vamos como o foi há dois anos, bastava-lhe, estúdio de gravação e num atelier de es- conseguir atingir.” mas ser escolhido como o melhor entre cultura em Coimbra (do artista plástico Mas, afinal, o que é ilustrar? “Ilus- 920 trabalhos de 50 países deixou-o sur- Vasco Berardo), mas há 20 anos que se trar é fazer mais uma história, é inven- preendido e contente. “Já teve efeitos”: dedica exclusivamente às artes. “Foi um tar mais uma das minhas histórias, foi contactado por editoras espanholas salto complicado, no escuro. Mas não me mesmo que tenha como suporte a ideia da área infanto-juvenil e está em nego- arrependo, faço o que gosto. O meu tra- de outra pessoa.” ciações para alguns projectos. Além Natalie Pudalov, Israel, balho desde o início foi muito bem aceite do reconhecimento nacional, agrada- Alfabeto divertido - P pelas pessoas.” lhe a visibilidade internacional que a . Tem um longo percurso de colabora- Ilustrarte faculta, “afinal, o catálogo ção com galerias (Novo Século, Trema e vai viajar pelo mundo”. Os seus bone- Altamira, de Francisco Paulino) e conta cos também. com um público fiel, “alguns fãs na ar- quitectura e no design de interiores”. E sempre que expõe, “quadros que podem ter 1x20m por 1x20m”, vende as exposi- ções completas. A passagem para ilustração deu-se numa dessas mostras. A então directora Carmela Mayor, Espanha, De onde vêm as palavras? 24 PÚBLICA 25 PÚBLICA