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      Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 1




   a educação
   infantil frente
   a seus desafios



                         Maria Malta Campos: só o fato de
                         existir um currículo já faz a diferença.
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   Empossada como membro do Conselho Técnico-Científico da Educação
Básica, órgão da nova estrutura da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior do MEC, Maria Malta Campos é uma das
principais referências nacionais quando o assunto é educação infantil.
Professora da PUC/SP, presidente da ONG Ação Educativa e pesquisadora
sênior da Fundação Carlos Chagas, começou nos anos 70 a investigar
temas ligados à educação no espectro dos 0 aos 6 anos, tais como currículo,
habilidades pré-escolares, creches, necessidades para o atendimento à criança,
formação de educadores, qualidade e políticas públicas de modo geral. No seu
entender, para melhorar as práticas da educação infantil, é preciso olhar para
uma gama ampla de indicadores, além de atuar para convencer os professores
a melhorarem suas práticas.

rubem Barros – Pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas em 2008 mostra que
a educação infantil praticamente inexiste enquanto disciplina específica nos cursos de
pedagogia. A que se deve essa lacuna?
    MARIA MALTA CAMPOS – Há dois aspectos distintos para discutir os conteúdos dos cursos
de pedagogia. Havia uma formação para a pré-escola (4 a 6 anos), que era o Curso Normal, com
elementos que permitiam às professoras trabalhar com as crianças dessa faixa etária. Ele tinha
conteúdos voltados àquela pré-escola mais tradicional, de meio período, com algumas atividades
no pátio e outras em sala de aula. Existiam no currículo de pré-escola aspectos sobre saúde da
criança, coisas não exclusivamente de aprendizagem de conteúdos. Já o curso de pedagogia sem-
pre teve, historicamente, um caráter mais voltado a quem se dirigia à administração escolar ou à
orientação pedagógica e educacional, e mais voltado ao ensino fundamental.

rubem Barros – Ou seja, a LDB acabou com os conteúdos para a pré-escola do antigo
Normal...
   MARIA MALTA CAMPOS – Isso foi gradual, não se deveu só à LDB. Como os professores
ganham um pouco mais se têm nível superior, já buscavam essa formação. O curso de pedagogia
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continuou com uma filosofia mais de conhecimentos gerais, mais teóricos e menos especializados
para a faixa etária com a qual o professor ia trabalhar.

rubem Barros – Com menos presença da idéia de práticas de sala de aula?
     MARIA MALTA CAMPOS – Não diria isso, pois sempre houve estágio, supervisão. Mas uma
sala de aula menos preocupada com as características de desenvolvimento daquela faixa etária. O
próprio estágio raramente é feito em escolas de educação infantil, quase sempre é nas escolas de
ensino fundamental. No caso da primeira etapa da educação infantil, de 0 a 3 anos, a exclusão é
maior. Primeiro porque não estava na área de educação até a LDB. A Constituição já apontava
que deveria ser integrada, mas quem forçou a integração foi a LDB. Esse atendimento estava
nas áreas de bem-estar ou assistência social, que não tinham nenhuma exigência de formação
profissional. Poderia haver uma educadora ou uma professora leiga sem o fundamental completo,
sendo que as creches atendiam até os 6 anos em período integral. Ou não tinha o ensino médio
completo, e muito menos o curso de magistério em nível Normal, menos ainda o de pedagogia.
O campo das creches estava totalmente excluído das preocupações das faculdades de pedagogia.
Era como se essa criança não existisse.

rubem Barros – E o que houve a partir da incorporação legal das creches à educação?
    MARIA MALTA CAMPOS – A primeira coisa que passou de fato a acontecer foi a formação
mínima no magistério em nível Normal. Muitas professoras não tinham nem isso. Várias prefeituras
foram obrigadas a criar cursos para que esses educadores em serviço tivessem ao menos o curso
médio e algum módulo específico de educação infantil, pois trabalhavam com crianças.

rubem Barros – E a graduação em pedagogia?
    MARIA MALTA CAMPOS – Existe uma resistência à especialização dos conteúdos do curso.
Alguns anos atrás, houve um parecer do Conselho Nacional de Educação – ótimo sob vários
pontos de vista, mas não nesse – a respeito das diretrizes para formação de professores. O docu-
mento para a formação de professores das primeiras séries do ensino fundamental, da educação
infantil – englobando a creche –, do ensino de jovens e adultos e da educação especial é o mesmo.
É impossível uma pessoa dominar tudo isso. Defendíamos que houvesse no curso de pedagogia
um módulo geral – com conhecimentos de filosofia da educação, de história da educação, de
história política do Brasil, da evolução da questão da legislação educacional, importantes para
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qualquer professor. Mas há conhecimentos específicos fundamentais, ignorados pela maioria dos
cursos de pedagogia existentes.

rubem Barros – Por exemplo?
    MARIA MALTA CAMPOS – Conhecimentos sobre as etapas de desenvolvimento na faixa
de 0 a 6 anos, em que a criança se modifica muito. Quanto menor a criança, mais rápida a mu-
dança; quanto maior, mais lenta. E os conteúdos fazem tábula rasa disso.

rubem Barros – O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil é
suficiente para orientar os educadores e instituições que trabalham com crianças de 0
a 6 anos?
    MARIA MALTA CAMPOS – É um documento orientador, não obrigatório. Pela Constitui-
ção, o MEC não tem autoridade para impô-lo a estados e municípios, pois são eles que formam
os sistemas de Educação Básica. A LDB deu uma grande autonomia às escolas para deliberar
sobre o seu currículo, o que considero um erro, mas é o que está na lei. O que é obrigatório
é o documento do Conselho Nacional de Educação, Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil, que é bastante geral. É um documento lindo que ninguém conhece, pois
não é impresso, nem distribuído ou divulgado, mas traz grandes princípios – de igualdade, de
equidade etc. – que os currículos devem respeitar. Não se pode infringi-los, assim como não se
pode infringir a Constituição. Mas se você for à maioria das escolas brasileiras, ninguém ouviu
falar dele e ouviu vagamente falar dos referenciais.

rubem Barros – Por que isso acontece?
    MARIA MALTA CAMPOS – Participei da Comissão da Unesco/OCDE, que fez uma visita
patrocinada pelo MEC em 2005. Eram vários especialistas e eu estava na condição de especialista
brasileira que compunha a equipe. Visitamos vários estados, escolas de todos os tipos, creches
comunitárias, particulares, públicas e encontramos o documento dos referenciais curriculares
apenas em uma escola particular de Sobral (CE), a única entre mais de 40 visitadas. E numa es-
cola municipal de Blumenau, a diretora tinha lido, pois havia uma citação no Plano Pedagógico
da escola, mas não sabia onde estava.

rubem Barros – E por que esse documento é ignorado?
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    MARIA MALTA CAMPOS – Isso acontece com todos os documentos produzidos na área de
educação e enviados às escolas. Qualquer coisa que se fizer e distribuir, se não houver um trabalho sub-
seqüente de integração do uso desse documento na prática escolar, fica na prateleira. Ou nem isso.

rubem Barros – Esse vácuo existe por inação das secretarias?
    MARIA MALTA CAMPOS – Não basta haver um documento. Ele, por si mesmo, não
modifica nenhuma realidade. Além dele, deve haver um trabalho – que até foi feito no governo
anterior, era o trabalho dos parâmetros em ação, que atingiu uma porcentagem pequena. Era um
treinamento que se fazia com os professores para que aprendessem a conhecer e usar o documento.
Mas se isso não é alimentado constantemente por uma supervisão, por uma ação pedagógica que
tem de ser fomentada pelas secretarias de educação, isso não vira prática.

rubem Barros – E por que isso não acontece?
    MARIA MALTA CAMPOS – Primeiro: em função das mudanças políticas, eleitorais, que
fazem tudo sempre recomeçar do zero. Outro fator que atrapalha é uma histórica dissociação
entre a base – as escolas e professores – e as secretarias de educação e as autoridades educacionais.
Existe uma desconfiança de base do professor com tudo que vem de cima, seja bom ou ruim. A
primeira reação é sempre contrária.

rubem Barros – Como se quebra isso?
    MARIA MALTA CAMPOS – Conto um caso: Zilma de Morais, então secretária de Edu-
cação de Ribeirão Preto, queria mudar a prática pedagógica nas EMEIs, introduzindo um novo
arranjo do mobiliário nas salas de aula, para as crianças não ficarem mais em filas de carteiras,
para terem cantinhos, mais autonomia, recomendações atuais, enfim. Uma diretora e sua equipe
chegaram para ela e disseram: “não acreditamos nessa orientação e achamos que vai dar tudo
errado. Vamos fazer na nossa escola só para provar que vai dar errado”. No final, adotaram e
acabou dando certo. Mas a primeira reação é sempre contra. Para conseguir mudanças na área de
educação, é preciso um trabalho bom não só do ponto de vista conceitual, teórico, mas também
bom do ponto de vista político, de envolver as equipes, ganhar corações e mentes. Se for só na
base da ameaça, não acontece nada.

rubem Barros – Voltando aos referenciais...
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     MARIA MALTA CAMPOS – É um documento que precisa ser atualizado sob vários aspectos,
como por exemplo o fato de as crianças entrarem aos 6 anos na 1ª série. Um dos pontos fracos
dos referenciais era o fato de não ter uma parte prevendo a transição da educação infantil para o
ensino fundamental, extremamente importante. Agora, com o aumento de um ano do fundamen-
tal, ela se torna mais necessária. E em outros aspectos em que o debate avançou, como a questão
da diversidade cultural, coisas fáceis de complementar. O próprio Ministério está acenando com
uma revisão. Mas, como é outro partido, querem fazer um documento novo...

rubem Barros – Entre 1996 e 2003, a senhora participou de um grande levantamento
sobre a questão da qualidade na educação infantil brasileira. Quais as principais
conclusões a que chegou?
    MARIA MALTA CAMPOS – O debate sobre a qualidade da educação infantil seguiu um
caminho diferente daquele do ensino fundamental ou do médio, em que ocorreu muito a partir
dos resultados dos sistemas de avaliação (Saeb, Prova Brasil, Saresp, Enem, Pisa etc.). Nessas etapas,
a questão da qualidade foi vista por meio de um indicador, que é o resultado do aluno no teste. É
um indicador, mas há outros. Na educação infantil, não havia e não há até o momento um sistema
de avaliação que meça resultado desse tipo (há em outros países, aqui não). Por isso, o debate foi
mais aberto. E teve uma influência grande do debate internacional, em função de documentos que
já haviam sido escritos no âmbito da Comunidade Européia (vários especialistas que colaboraram
com esses documentos vieram a congressos no Brasil). Esses especialistas ajudaram a trazer uma
visão mais holística da educação infantil, voltada ao desenvolvimento integral da criança, e não só
aos aspectos cognitivos e de aprendizagem. Os italianos têm uma expressão muito bonita, “as cem
linguagens da criança” – as linguagens da criatividade, da expressão corporal, das brincadeiras,
da arte, enfim, da cultura da infância. É óbvio que, no caso europeu, eles partem de patamares
de qualidade muito diferentes – sociais, de formação dos professores etc.

rubem Barros – E os norte-americanos?
    MARIA MALTA CAMPOS – Também houve uma influência, menor, da tradição norte-
americana. Eles têm uma associação nacional, da sociedade civil, com participação intensa de
grandes especialistas da área, chamada NAEyC (National Association for Education of young
Children), que tem um sistema de credenciamento das instituições de educação infantil e dos
profissionais. É como se fosse um selo de qualidade. Sejam particulares, municipais, comuni-
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tárias, as instituições têm o interesse em obter esse aval. É muito respeitado. É uma certificação
geral. Implica uma visita aos centros onde se observa uma série de coisas, existem escalas que se
preenchem, observam-se as crianças e se avalia a formação dos professores. Os docentes também
podem ser credenciados, independente da instituição em que são formados. Podem obter um
título que certifica que têm uma formação adequada para trabalhar com crianças daquela faixa
etária. Isso impôs um padrão daquilo que é considerado desejável nas melhores instituições. Esse
modelo também é conhecido aqui, tem alguns grupos de universidades que fazem pesquisas.
Também há influência, mas menor que a européia. Então, o debate de qualidade foi voltado para
uma concepção de educação infantil bastante aberta, que valoriza a brincadeira, uma variedade de
experiências da criança, as atividades de cuidado que devem ser integradas às educativas. Há uma
concepção pedagógica bastante inovadora para as crianças de 0 a 3 anos. Mas isso foi muito mais
divulgado no meio acadêmico e entre alguns especialistas e ONGs que dão assessoria a instituições
do que para as redes, de forma ampla. Nelas, chegam apenas ecos, e às vezes mal entendidos.

rubem Barros – E quais seriam os elementos norteadores para termos instituições de
qualidade no Brasil, dentro da nossa realidade?
     MARIA MALTA CAMPOS – Há indicadores usados internacionalmente, como a quantidade
de crianças por professor. Neste caso, há alguns detalhes: num primeiro momento, é preciso saber
quantos adultos trabalham por creche, quantas crianças tem por faixa etária, seguindo a lógica de
que, quanto menor a criança, menos crianças por adulto. Jamais 30 ou 35, como vemos por aí.
     Também não é a mesma coisa ter 40 crianças de 4 anos numa sala com dois adultos ou ter 20
crianças em cada sala com um adulto. As pesquisas mostram que os adultos tendem a se relacionar
entre si e esquecer as crianças. É comum entrar numa sala e haver várias crianças largadas e duas
professoras conversando. Ou seja, não significa a mesma coisa de ter grupos pequenos com um
adulto interessado, interagindo com as crianças. Mas ter um número grande de crianças e poucos
adultos é péssimo. Outro indicador é a formação do pessoal.
     Internacionalmente, hoje só se aceita formação em nível superior. Mas isso tem de ser rela-
tivizado no Brasil, como mostrou a pesquisa da Fundação Carlos Chagas, pois a formação em
nível superior pode ser bastante vazia.
     Outra questão importante é a comunicação com as famílias, muito ruim na maioria das ins-
tituições brasileiras. Isso é fundamental para a criança pequena, que depende muito do adulto,
tanto do familiar como do professor. O que aconteceu com aquela criança à noite que no dia
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seguinte ela só chora na creche? O que ela comeu na creche que a fez passar mal quando chegou
em casa? Essa comunicação é mal resolvida e é um indicador de qualidade, comprovado por
pesquisas quantitativas.

rubem Barros – E o currículo?
    MARIA MALTA CAMPOS – Ele tem de existir. As pessoas precisam saber o que estão
fazendo, seus objetivos. Há rotinas que se reproduzem indefinidamente. E são empobrecedoras.
Você chega a uma creche e as crianças estão encostadas, sentadas no chão, sem falar ou se mexer,
e você pergunta para a educadora o que estão fazendo. A resposta é que estão esperando a hora
do lanche, ou do banho, ou de ir embora, ou de ir para o pátio. Estão sempre esperando. Por
quê? Porque é uma rotina que se limita a higiene, alimentação e sono, não existe um objetivo que
transcenda isso – de aprendizagem, de ampliação do conhecimento, de socialização, de contato
com a natureza. Pesquisas americanas mostram que só o fato de existir um currículo já faz difer-
ença, porque significa que a equipe teve a preocupação de ter alguma referência – um plano, um
documento – que diga a que veio. Aí, num segundo momento, pode-se julgar se esse documento
é bom ou ruim, se contempla o que tem de contemplar, qual é a filosofia, se não discrimina – as
meninas, as religiões, a origem etc.

rubem Barros – E as instalações?
    MARIA MALTA CAMPOS – São outro indicador importante: o prédio, os equipamentos, os
brinquedos disponíveis no parquinho infantil e em sala. É preciso avaliar se há livrinhos infantis
para os não leitores irem se habituando a eles, se ficam à disposição nas prateleiras; como é o
espaço externo, se é acolhedor, se tem gramado, se bate sol, se tem árvores, areia, água; como é o
espaço interno, se as salas são iluminadas, arejadas, se há espaço para as crianças engatinharem,
aprenderem a andar, brincar; se o mobiliário é adequado ao tamanho das crianças; se existe material
de estímulo, cores, formas; se os trabalhos das crianças estão expostos. Tudo isso são indicadores
relativos, digamos, ao meio ambiente em que a criança passa longos anos de sua vida.

rubem Barros – E normalmente isso tudo é levado em conta?
    MARIA MALTA CAMPOS – No Brasil, a concepção espacial, da creche e da pré-escola, mesmo
as particulares e voltadas ao público de alta renda, é pobre. Normalmente, existe uma concepção
de escola fundamental tradicional que se transpõe para a educação infantil. Nas experiências mais
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interessantes em nível internacional, até a concepção arquitetônica da escola infantil, sua planta, é
completamente diferente, pois a visão educacional é mais rica e pede um outro espaço. Nas creches
do norte da Itália, o exemplo mais conhecido, a arquitetura já se desvencilhou dessa forma de salinha,
salinha e corredor. Em recente exposição sobre as escolas infantis de Reggio Emilia, havia plantas e
uma maquete que mostravam que eles pegaram uma tradição italiana que vem do Renascimento, que
é a praça como local de encontro, de cada um se perceber como membro de uma comunidade, de
criar aquele espírito cívico, e transpuseram isso para a escola. Então, a escola tem um espaço central
coberto, com todos os ambientes dando para esse espaço, que tem visibilidade e é o local de encontro
para vários momentos. Pode-se dizer que isso é o ideal, que aqui é difícil. Realmente. Mas existem
etapas intermediárias até chegarmos perto de algo desse tipo. É importante começar a percorrer esse
caminho, a quebrar essa forma tão empobrecedora que encontramos principalmente nas instituições
voltadas à população de baixa renda, a que mais precisa, pois também não tem isso em casa.

rubem Barros – Há muita divergência entre o que a família e os educadores crêem que
seja uma educação infantil de qualidade?
    MARIA MALTA CAMPOS – A família tende a ser mais concreta e se ater aos aspectos que ela
pode enxergar. Vimos isso na pesquisa Consulta sobre qualidade da educação infantil. Para as famílias,
o critério mais importante para julgar se a creche ou pré-escola é boa é “cuidar bem da criança”.
Esse cuidar bem, para a família, significa que a criança não está largada, maltratada, descuidada.
Há mães que chegam às 7h da manhã com um bebê de colo e só voltam às 18h para buscá-lo.
Imagine a agonia que é isso numa instituição em que as pessoas não dão a mínima, não deixam
a mãe entrar, só a atendem na porta ou num guichê... É uma faixa de idade muito vulnerável. É
preciso deixar os pais irem à sala onde a criança vai ficar, deixá-los passar o dia na creche para ver
como funciona, ter atitudes de acolhimento, mesmo que seja difícil, pois as famílias brasileiras
são de baixa renda, baixa escolaridade. É preciso lidar com essa realidade, deve haver um diálogo
para o qual nos qualificamos muito mal. Os professores têm uma enorme desconfiança em relação
à família, muito preconceito, qualquer problema que a criança apresente na escola é entendido
como culpa da família (‘não cuida, ‘não se importa’, ‘é desestruturada’ etc.), e raramente olham
para si próprios, para suas práticas.

rubem Barros – Um dos modelos mais usados para ampliar a oferta de creches é o de
instituições conveniadas. É satisfatório? É preciso ter requisitos mínimos para os convênios?
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     MARIA MALTA CAMPOS – Esse é o ponto. Há convênios e convênios. Há aqueles baseados em
motivos políticos, em que um vereador tem uma entidade e consegue um convênio com o prefeito. E
existem aqueles em que não é qualquer um que firma um contrato, em que há supervisão, compromis-
sos mútuos etc. Existem sistemas de convênios bem administrados, bem supervisionados, exigentes.
Mas existe uma pressão muito grande em função da demanda não atendida. Aqui em São Paulo é
dramático, há listas de espera com milhares de crianças que precisam de vaga e não têm. Essa pressão
faz com que os administradores apelem para as soluções mais esdrúxulas, creches domiciliares e outras
que atendem sabe-se lá onde. Até recentemente, não tínhamos nenhum recurso de financiamento
educacional previsto, ficava-se com as sobras. O Fundeb tentou resolver isso, só que ainda é insuficiente,
pois o valor é muito baixo para as necessidades da educação infantil. Mas já é uma melhora.

rubem Barros – O atendimento direto (do Estado) é melhor ou pior que o conveniado?
    MARIA MALTA CAMPOS – De modo geral, é melhor, principalmente pelo fator pessoal.
Porque, no direto, as pessoas precisam ter concurso, um determinado nível de formação para
trabalhar, há uma fiscalização social maior.

rubem Barros – Mas esse não poderia ser um dos requisitos do convênio?
    MARIA MALTA CAMPOS – Mas não é o que acontece. Por que o convênio é mais barato? Há
menos burocracia, menos perdas de outra natureza, mas também pelo fator pessoal, que é o que mais
pesa. As pessoas são contratadas e descontratadas mais facilmente, não se exige muita coisa delas.
No convênio, as exigências às vezes são ‘flexibilizadas’ pela entidade contratada. Na pesquisa sobre
qualidade, apesar de nossa amostra não ser representativa do ponto de vista estatístico (52 escolas
de 4 estados), o perfil dos professores de entidades conveniadas apontava para pessoas de renda e
escolaridade mais baixas, quando comparado ao perfil daqueles das redes públicas. E isso pesa.

rubem Barros – Há alguma experiência internacional em que pudéssemos nos mirar
em relação à expansão de vagas para a educação infantil, que tenha ocorrido sem que
houvesse queda na qualidade?
     MARIA MALTA CAMPOS – Há o exemplo da França. Eles têm a chamada escola maternal,
uma instituição francesa. Ela é totalmente integrada à rede de ensino, e funciona daquele jeito
francês, todas muito parecidas, de muito boa qualidade, todas as professoras com formação supe-
rior. As crianças entram de manhã e saem no meio da tarde. São de um estilo mais tradicional,
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cada professor atende sua turma, tem horários, currículos, atividades que todas as crianças devem
fazer. O que eles fizeram? Foram universalizando, indo gradativamente para as idades menores.
Eles tinham universalizado até os 4 anos já havia vários anos, aí universalizaram para os 3 anos,
e recentemente começaram a aceitar crianças de 2 anos, o que é bastante polêmico. Fizeram isso
com uma qualidade padronizada nacionalmente.

rubem Barros – Qual o motivo da polêmica?
    MARIA MALTA CAMPOS – As crianças de 2 anos exigem uma atenção mais individuali-
zada, talvez exijam que se diminua o número de crianças por turma. O sindicato dos professores
começou a ficar preocupado se havia crianças com fraldas etc. Existem as creches lá também, mas
não são vinculadas à área da educação, e sim à da saúde.

rubem Barros – Qual sua opinião acerca da integração no mesmo espaço escolar de
crianças dos 0 aos 6 anos de idade?
     MARIA MALTA CAMPOS – É boa, inclusive também é melhor para famílias que têm, por
exemplo, um filho de 3 anos e outro de 5. A maioria das escolas particulares tradicionais tem
outro sistema de divisão. Recebem crianças de 2 a 5 anos num prédio, e de 6 num outro prédio.
Não há nada contra isso, pode ser uma ótima instituição. O que interfere mesmo nessa faixa é se
a criança fica período integral ou meio período, porque aí muda completamente o que você tem
de proporcionar. Mesmo uma criança de 4 anos, se ela fica o dia inteiro, significa que é preciso
ter um outro arranjo, uma outra maneira de trabalhar, diferente daquela existente nas escolas
que ficam apenas meio período com as crianças.

rubem Barros – Cognitivistas sustentam que muito do desenvolvimento cerebral ocorre
até os 2, 3 anos de idade e muitos defendem que as crianças estejam expostas a um
grande número de estímulos na educação infantil. O que pensa disso?
    MARIA MALTA CAMPOS – Outro dia, numa reunião da Capes, em que há gente de todas
as áreas – química, biologia, biofísica –, havia um professor que começou a falar sobre isso, numa
linha de pensamento que vem sendo muito difundida. Porque não sei quantos por cento das
sinapses se processam até tal idade etc. E pensei comigo: se for acreditar no que ele diz, vou ter
de mudar de profissão. As concepções mais avançadas de educação hoje, européias, são de edu-
cação ao longo da vida, que significa ser educado desde o nascimento, sim, porém prosseguindo
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até que a pessoa morra. Quer dizer, o ser humano é altamente flexível e tem uma plasticidade
enorme, tem possibilidades ainda não totalmente exploradas. E não é porque uma criança chegou
à escola aos 6 anos que não pode aprender um monte de coisas e se tornar doutora em física. Há
muitos exemplos disso. A ex-ministra Marina da Silva só foi aprender a ler com 18 anos. E o que
aconteceu com as sinapses dela? Estavam muito bem, obrigada.

rubem Barros – Qual é o ponto, então?
     MARIA MALTA CAMPOS – Essa faixa de idade tem uma enorme capacidade de aprendizagem,
de incorporar uma série de elementos, estão abertas para o mundo justamente porque precisam
ganhar autonomia para sobreviver. É verdade também que é muito importante o que acontece com
ela nos primeiros anos de vida. É preciso enfatizar isso, até mesmo para que se faça um lobby para
melhorar o financiamento e a qualidade da educação infantil. Mas isso não pode ser tomado de uma
maneira restritiva, do tipo “se não teve, agora não dá mais”. Você já pensou como as escolas ficariam
se seguissem isso? A professora da 1ª série diria àqueles que vieram de escolas ruins que não valeria a
pena perder tempo com eles, pois sabe-se lá o que aconteceu com as sinapses dessas crianças...

rubem Barros – Corremos o risco de supervalorizar essa visão e de reduzir a educação
infantil a uma questão de alta estimulação cerebral, enquanto outras dimensões
educativas são negligenciadas...
    MARIA MALTA CAMPOS – Isso é péssimo até para a própria aprendizagem cognitiva, pois
há uma questão que o pessoal dessa corrente esquece: o ser humano, e mais ainda as crianças
pequenas, são seres integrados. Conforme vamos ficando mais velhos, conseguimos especializar
os campos de atuação, distinguir diferentes papéis que exercemos. A criança pequena tem essas
experiências todas muito mais integradas. Por exemplo, a questão afetiva é absolutamente colada
na questão da aprendizagem. Se ela não está bem afetivamente, não vai aprender. Se ela não está
se sentindo bem com os colegas e com a professora, com um bom ambiente em casa, ela não
estará pronta para se desenvolver em outros campos. Isso tudo acontece de forma integrada. A
ênfase só no aspecto cognitivo é complicada.
    Como se quer que uma criança aprenda se, como acontece aqui em São Paulo nas redes
estadual e municipal, há até cinco remoções de professores enquanto ela cursa a 1ª série do
fundamental? Uma criança que pisa pela primeira vez na escola, vem de um meio social desfa-
vorecido, e a sua primeira professora é trocada cinco vezes num ano. É óbvio que essa criança
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não vai aprender. A primeira professora da criança carrega uma grande carga afetiva para ela , é
o seu modelo. Até as músicas dizem isso. E quanto mais isso acontecer, melhor, pois ela vai se
alfabetizar melhor, vai ficar mais entusiasmada com as tarefas. Então, essa linha de pensamento
é importante se integrada a um pensamento mais complexo e multidimensional. E é perigosa
quando se torna unidimensional.

rubem Barros – Por que os economistas gostam dela?
    MARIA MALTA CAMPOS – Porque estão sempre obcecados em encontrar aquele determi-
nado fator em que você coloca o seu dinheiro e, passados determinados anos, você tem uma taxa
x de retorno. Eles calculam essa taxa de retorno para o indivíduo, de forma econométrica. Se a
pessoa fez pré-escola, foi bem na escola, sem repetir, conseguiu chegar ao nível superior e aí tem
um salário x, quanto custou sua educação, incluindo o que a família deixou de ganhar pelo fato
de ela ter estudado e não trabalhado, o que gastou de condução etc. Soma-se tudo isso, compara-
se com o ganho da pessoa e extrai-se essa taxa de retorno. Então, estão interessados em saber
onde vão colocar o dinheiro para dar aquela taxa de retorno. O fato é que, com esse raciocínio,
eles querem encontrar aquele determinado fator no qual vale a pena gastar dinheiro. É óbvio
que estou caricaturando, pois há pessoas inteligentes que fazem estudos importantes, mas existe
essa tendência. Então eles ficam maravilhados quando aparece esse pessoal falando essas coisas.
E não gostam dos educadores, porque costumamos dizer que as coisas são mais complexas do
que isso. Mas têm razão numa crítica que fazem à área educacional: nós geralmente somos pouco
objetivos, temos dificuldade de tomar decisões do tipo “vamos melhorar 100% das escolas ou só
10%”. Os educadores têm dificuldade de ver as coisas de forma mais objetiva. Os economistas,
ao contrário, têm dificuldade de ver as coisas na sua complexidade, querem transformar tudo em
número. E não é tudo que dá para transformar em número.

rubem Barros – Qual o papel central da educação infantil?
     MARIA MALTA CAMPOS – Depende. Se pensarmos na creche, ela tem objetivos não só
educacionais, mas também sociais e de igualdade de gênero, para que a mulher possa participar
totalmente da sociedade, não só do trabalho, mas de atividades políticas, cívicas, lazer, cultura
etc. São papéis importantes que extrapolam o ponto de vista educacional. Sob o ponto de vista
da educação, é muito importante e todas as pesquisas indicam que o fato de a criança ter tido
ou não uma boa educação infantil faz uma grande diferença para a sua carreira educacional. Há
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pesquisas interessantes nos EUA e na Inglaterra que mostram consistentemente a importância
do acesso à educação infantil de boa qualidade, ou razoável. São efeitos diretos na aprendizagem
nas séries posteriores – em matemática, linguagens etc. – e também em outras coisas, como as
habilidades sociais, de relacionar-se, de se colocar frente ao coletivo. Isso tudo é consensual.

rubem Barros – E o que não é consensual?
     MARIA MALTA CAMPOS – O que ainda é objeto de polêmica é com relação à faixa dos
pequenos. Aí há diferenças entre as pesquisas, que não permitem conclusões definitivas. Faz difer-
ença o tipo de família de onde a criança provém. Para aquelas que vêm de famílias de baixa renda,
com alguma situação de risco, com certeza é melhor ter um bom atendimento do que ficar em casa.
Mas para as crianças em geral existem resultados divergentes, pois às vezes a criança pode ter um
atendimento muito bom em casa ou na sua comunidade, que não é um atendimento formalizado
de creche. No caso da pré-escola, os resultados são todos consistentes. É bom, faz diferença, mas
faz mais diferença para as crianças mais pobres. E de diversas maneiras. Tanto na aprendizagem
stricto sensu como nas habilidades importantes para a formação de qualquer cidadão.

rubem Barros – Mas se tivesse de resumir a importância da educação infantil, qual seria?
    MARIA MALTA CAMPOS – Preparar a criança para um melhor aproveitamento na escola
primária. E é ótimo que prepare, sob todos os aspectos, pois nossos indicadores de aproveita-
mento na escola primária são obscenos. Então, se preparar, ótimo. Mas não é só isso. A infância
da criança está sendo vivida neste momento, e é bom que ela seja bem vivida. Se a criança passa
8 horas por dia numa instituição de educação infantil, praticamente está passando a infância ali.
Então precisa brincar, desenvolver-se, socializar-se, criar habilidades motoras etc. O Brasil deu
um passo importante na definição de sua legislação. Somos vistos com muita curiosidade pelos
analistas de políticas educacionais internacionais, porque foi um país que fez isso de forma ousada.
Pegou a faixa de 0 a 6 anos e colocou inteira na educação. Outros países, como a Suécia, estão
fazendo isso só agora, e depois de um grande debate.     o
Entrevista concedida à Rubem Barros e publicada na edição número 2 do Educação
Infantil, uma publicação especial da Revista Educação da Editora Segmento, sob o título
“Ser integral”, em abril de 2009. Complementa a edição impressa desdobramento da
entrevista, disponível em http://www.editorasegmento.com.br

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entrevista com a Professora Maria Malta

  • 1. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 1 a educação infantil frente a seus desafios Maria Malta Campos: só o fato de existir um currículo já faz a diferença.
  • 2. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 2 Empossada como membro do Conselho Técnico-Científico da Educação Básica, órgão da nova estrutura da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do MEC, Maria Malta Campos é uma das principais referências nacionais quando o assunto é educação infantil. Professora da PUC/SP, presidente da ONG Ação Educativa e pesquisadora sênior da Fundação Carlos Chagas, começou nos anos 70 a investigar temas ligados à educação no espectro dos 0 aos 6 anos, tais como currículo, habilidades pré-escolares, creches, necessidades para o atendimento à criança, formação de educadores, qualidade e políticas públicas de modo geral. No seu entender, para melhorar as práticas da educação infantil, é preciso olhar para uma gama ampla de indicadores, além de atuar para convencer os professores a melhorarem suas práticas. rubem Barros – Pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas em 2008 mostra que a educação infantil praticamente inexiste enquanto disciplina específica nos cursos de pedagogia. A que se deve essa lacuna? MARIA MALTA CAMPOS – Há dois aspectos distintos para discutir os conteúdos dos cursos de pedagogia. Havia uma formação para a pré-escola (4 a 6 anos), que era o Curso Normal, com elementos que permitiam às professoras trabalhar com as crianças dessa faixa etária. Ele tinha conteúdos voltados àquela pré-escola mais tradicional, de meio período, com algumas atividades no pátio e outras em sala de aula. Existiam no currículo de pré-escola aspectos sobre saúde da criança, coisas não exclusivamente de aprendizagem de conteúdos. Já o curso de pedagogia sem- pre teve, historicamente, um caráter mais voltado a quem se dirigia à administração escolar ou à orientação pedagógica e educacional, e mais voltado ao ensino fundamental. rubem Barros – Ou seja, a LDB acabou com os conteúdos para a pré-escola do antigo Normal... MARIA MALTA CAMPOS – Isso foi gradual, não se deveu só à LDB. Como os professores ganham um pouco mais se têm nível superior, já buscavam essa formação. O curso de pedagogia
  • 3. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 3 continuou com uma filosofia mais de conhecimentos gerais, mais teóricos e menos especializados para a faixa etária com a qual o professor ia trabalhar. rubem Barros – Com menos presença da idéia de práticas de sala de aula? MARIA MALTA CAMPOS – Não diria isso, pois sempre houve estágio, supervisão. Mas uma sala de aula menos preocupada com as características de desenvolvimento daquela faixa etária. O próprio estágio raramente é feito em escolas de educação infantil, quase sempre é nas escolas de ensino fundamental. No caso da primeira etapa da educação infantil, de 0 a 3 anos, a exclusão é maior. Primeiro porque não estava na área de educação até a LDB. A Constituição já apontava que deveria ser integrada, mas quem forçou a integração foi a LDB. Esse atendimento estava nas áreas de bem-estar ou assistência social, que não tinham nenhuma exigência de formação profissional. Poderia haver uma educadora ou uma professora leiga sem o fundamental completo, sendo que as creches atendiam até os 6 anos em período integral. Ou não tinha o ensino médio completo, e muito menos o curso de magistério em nível Normal, menos ainda o de pedagogia. O campo das creches estava totalmente excluído das preocupações das faculdades de pedagogia. Era como se essa criança não existisse. rubem Barros – E o que houve a partir da incorporação legal das creches à educação? MARIA MALTA CAMPOS – A primeira coisa que passou de fato a acontecer foi a formação mínima no magistério em nível Normal. Muitas professoras não tinham nem isso. Várias prefeituras foram obrigadas a criar cursos para que esses educadores em serviço tivessem ao menos o curso médio e algum módulo específico de educação infantil, pois trabalhavam com crianças. rubem Barros – E a graduação em pedagogia? MARIA MALTA CAMPOS – Existe uma resistência à especialização dos conteúdos do curso. Alguns anos atrás, houve um parecer do Conselho Nacional de Educação – ótimo sob vários pontos de vista, mas não nesse – a respeito das diretrizes para formação de professores. O docu- mento para a formação de professores das primeiras séries do ensino fundamental, da educação infantil – englobando a creche –, do ensino de jovens e adultos e da educação especial é o mesmo. É impossível uma pessoa dominar tudo isso. Defendíamos que houvesse no curso de pedagogia um módulo geral – com conhecimentos de filosofia da educação, de história da educação, de história política do Brasil, da evolução da questão da legislação educacional, importantes para
  • 4. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 4 qualquer professor. Mas há conhecimentos específicos fundamentais, ignorados pela maioria dos cursos de pedagogia existentes. rubem Barros – Por exemplo? MARIA MALTA CAMPOS – Conhecimentos sobre as etapas de desenvolvimento na faixa de 0 a 6 anos, em que a criança se modifica muito. Quanto menor a criança, mais rápida a mu- dança; quanto maior, mais lenta. E os conteúdos fazem tábula rasa disso. rubem Barros – O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil é suficiente para orientar os educadores e instituições que trabalham com crianças de 0 a 6 anos? MARIA MALTA CAMPOS – É um documento orientador, não obrigatório. Pela Constitui- ção, o MEC não tem autoridade para impô-lo a estados e municípios, pois são eles que formam os sistemas de Educação Básica. A LDB deu uma grande autonomia às escolas para deliberar sobre o seu currículo, o que considero um erro, mas é o que está na lei. O que é obrigatório é o documento do Conselho Nacional de Educação, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, que é bastante geral. É um documento lindo que ninguém conhece, pois não é impresso, nem distribuído ou divulgado, mas traz grandes princípios – de igualdade, de equidade etc. – que os currículos devem respeitar. Não se pode infringi-los, assim como não se pode infringir a Constituição. Mas se você for à maioria das escolas brasileiras, ninguém ouviu falar dele e ouviu vagamente falar dos referenciais. rubem Barros – Por que isso acontece? MARIA MALTA CAMPOS – Participei da Comissão da Unesco/OCDE, que fez uma visita patrocinada pelo MEC em 2005. Eram vários especialistas e eu estava na condição de especialista brasileira que compunha a equipe. Visitamos vários estados, escolas de todos os tipos, creches comunitárias, particulares, públicas e encontramos o documento dos referenciais curriculares apenas em uma escola particular de Sobral (CE), a única entre mais de 40 visitadas. E numa es- cola municipal de Blumenau, a diretora tinha lido, pois havia uma citação no Plano Pedagógico da escola, mas não sabia onde estava. rubem Barros – E por que esse documento é ignorado?
  • 5. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 5 MARIA MALTA CAMPOS – Isso acontece com todos os documentos produzidos na área de educação e enviados às escolas. Qualquer coisa que se fizer e distribuir, se não houver um trabalho sub- seqüente de integração do uso desse documento na prática escolar, fica na prateleira. Ou nem isso. rubem Barros – Esse vácuo existe por inação das secretarias? MARIA MALTA CAMPOS – Não basta haver um documento. Ele, por si mesmo, não modifica nenhuma realidade. Além dele, deve haver um trabalho – que até foi feito no governo anterior, era o trabalho dos parâmetros em ação, que atingiu uma porcentagem pequena. Era um treinamento que se fazia com os professores para que aprendessem a conhecer e usar o documento. Mas se isso não é alimentado constantemente por uma supervisão, por uma ação pedagógica que tem de ser fomentada pelas secretarias de educação, isso não vira prática. rubem Barros – E por que isso não acontece? MARIA MALTA CAMPOS – Primeiro: em função das mudanças políticas, eleitorais, que fazem tudo sempre recomeçar do zero. Outro fator que atrapalha é uma histórica dissociação entre a base – as escolas e professores – e as secretarias de educação e as autoridades educacionais. Existe uma desconfiança de base do professor com tudo que vem de cima, seja bom ou ruim. A primeira reação é sempre contrária. rubem Barros – Como se quebra isso? MARIA MALTA CAMPOS – Conto um caso: Zilma de Morais, então secretária de Edu- cação de Ribeirão Preto, queria mudar a prática pedagógica nas EMEIs, introduzindo um novo arranjo do mobiliário nas salas de aula, para as crianças não ficarem mais em filas de carteiras, para terem cantinhos, mais autonomia, recomendações atuais, enfim. Uma diretora e sua equipe chegaram para ela e disseram: “não acreditamos nessa orientação e achamos que vai dar tudo errado. Vamos fazer na nossa escola só para provar que vai dar errado”. No final, adotaram e acabou dando certo. Mas a primeira reação é sempre contra. Para conseguir mudanças na área de educação, é preciso um trabalho bom não só do ponto de vista conceitual, teórico, mas também bom do ponto de vista político, de envolver as equipes, ganhar corações e mentes. Se for só na base da ameaça, não acontece nada. rubem Barros – Voltando aos referenciais...
  • 6. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 6 MARIA MALTA CAMPOS – É um documento que precisa ser atualizado sob vários aspectos, como por exemplo o fato de as crianças entrarem aos 6 anos na 1ª série. Um dos pontos fracos dos referenciais era o fato de não ter uma parte prevendo a transição da educação infantil para o ensino fundamental, extremamente importante. Agora, com o aumento de um ano do fundamen- tal, ela se torna mais necessária. E em outros aspectos em que o debate avançou, como a questão da diversidade cultural, coisas fáceis de complementar. O próprio Ministério está acenando com uma revisão. Mas, como é outro partido, querem fazer um documento novo... rubem Barros – Entre 1996 e 2003, a senhora participou de um grande levantamento sobre a questão da qualidade na educação infantil brasileira. Quais as principais conclusões a que chegou? MARIA MALTA CAMPOS – O debate sobre a qualidade da educação infantil seguiu um caminho diferente daquele do ensino fundamental ou do médio, em que ocorreu muito a partir dos resultados dos sistemas de avaliação (Saeb, Prova Brasil, Saresp, Enem, Pisa etc.). Nessas etapas, a questão da qualidade foi vista por meio de um indicador, que é o resultado do aluno no teste. É um indicador, mas há outros. Na educação infantil, não havia e não há até o momento um sistema de avaliação que meça resultado desse tipo (há em outros países, aqui não). Por isso, o debate foi mais aberto. E teve uma influência grande do debate internacional, em função de documentos que já haviam sido escritos no âmbito da Comunidade Européia (vários especialistas que colaboraram com esses documentos vieram a congressos no Brasil). Esses especialistas ajudaram a trazer uma visão mais holística da educação infantil, voltada ao desenvolvimento integral da criança, e não só aos aspectos cognitivos e de aprendizagem. Os italianos têm uma expressão muito bonita, “as cem linguagens da criança” – as linguagens da criatividade, da expressão corporal, das brincadeiras, da arte, enfim, da cultura da infância. É óbvio que, no caso europeu, eles partem de patamares de qualidade muito diferentes – sociais, de formação dos professores etc. rubem Barros – E os norte-americanos? MARIA MALTA CAMPOS – Também houve uma influência, menor, da tradição norte- americana. Eles têm uma associação nacional, da sociedade civil, com participação intensa de grandes especialistas da área, chamada NAEyC (National Association for Education of young Children), que tem um sistema de credenciamento das instituições de educação infantil e dos profissionais. É como se fosse um selo de qualidade. Sejam particulares, municipais, comuni-
  • 7. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 7 tárias, as instituições têm o interesse em obter esse aval. É muito respeitado. É uma certificação geral. Implica uma visita aos centros onde se observa uma série de coisas, existem escalas que se preenchem, observam-se as crianças e se avalia a formação dos professores. Os docentes também podem ser credenciados, independente da instituição em que são formados. Podem obter um título que certifica que têm uma formação adequada para trabalhar com crianças daquela faixa etária. Isso impôs um padrão daquilo que é considerado desejável nas melhores instituições. Esse modelo também é conhecido aqui, tem alguns grupos de universidades que fazem pesquisas. Também há influência, mas menor que a européia. Então, o debate de qualidade foi voltado para uma concepção de educação infantil bastante aberta, que valoriza a brincadeira, uma variedade de experiências da criança, as atividades de cuidado que devem ser integradas às educativas. Há uma concepção pedagógica bastante inovadora para as crianças de 0 a 3 anos. Mas isso foi muito mais divulgado no meio acadêmico e entre alguns especialistas e ONGs que dão assessoria a instituições do que para as redes, de forma ampla. Nelas, chegam apenas ecos, e às vezes mal entendidos. rubem Barros – E quais seriam os elementos norteadores para termos instituições de qualidade no Brasil, dentro da nossa realidade? MARIA MALTA CAMPOS – Há indicadores usados internacionalmente, como a quantidade de crianças por professor. Neste caso, há alguns detalhes: num primeiro momento, é preciso saber quantos adultos trabalham por creche, quantas crianças tem por faixa etária, seguindo a lógica de que, quanto menor a criança, menos crianças por adulto. Jamais 30 ou 35, como vemos por aí. Também não é a mesma coisa ter 40 crianças de 4 anos numa sala com dois adultos ou ter 20 crianças em cada sala com um adulto. As pesquisas mostram que os adultos tendem a se relacionar entre si e esquecer as crianças. É comum entrar numa sala e haver várias crianças largadas e duas professoras conversando. Ou seja, não significa a mesma coisa de ter grupos pequenos com um adulto interessado, interagindo com as crianças. Mas ter um número grande de crianças e poucos adultos é péssimo. Outro indicador é a formação do pessoal. Internacionalmente, hoje só se aceita formação em nível superior. Mas isso tem de ser rela- tivizado no Brasil, como mostrou a pesquisa da Fundação Carlos Chagas, pois a formação em nível superior pode ser bastante vazia. Outra questão importante é a comunicação com as famílias, muito ruim na maioria das ins- tituições brasileiras. Isso é fundamental para a criança pequena, que depende muito do adulto, tanto do familiar como do professor. O que aconteceu com aquela criança à noite que no dia
  • 8. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 8 seguinte ela só chora na creche? O que ela comeu na creche que a fez passar mal quando chegou em casa? Essa comunicação é mal resolvida e é um indicador de qualidade, comprovado por pesquisas quantitativas. rubem Barros – E o currículo? MARIA MALTA CAMPOS – Ele tem de existir. As pessoas precisam saber o que estão fazendo, seus objetivos. Há rotinas que se reproduzem indefinidamente. E são empobrecedoras. Você chega a uma creche e as crianças estão encostadas, sentadas no chão, sem falar ou se mexer, e você pergunta para a educadora o que estão fazendo. A resposta é que estão esperando a hora do lanche, ou do banho, ou de ir embora, ou de ir para o pátio. Estão sempre esperando. Por quê? Porque é uma rotina que se limita a higiene, alimentação e sono, não existe um objetivo que transcenda isso – de aprendizagem, de ampliação do conhecimento, de socialização, de contato com a natureza. Pesquisas americanas mostram que só o fato de existir um currículo já faz difer- ença, porque significa que a equipe teve a preocupação de ter alguma referência – um plano, um documento – que diga a que veio. Aí, num segundo momento, pode-se julgar se esse documento é bom ou ruim, se contempla o que tem de contemplar, qual é a filosofia, se não discrimina – as meninas, as religiões, a origem etc. rubem Barros – E as instalações? MARIA MALTA CAMPOS – São outro indicador importante: o prédio, os equipamentos, os brinquedos disponíveis no parquinho infantil e em sala. É preciso avaliar se há livrinhos infantis para os não leitores irem se habituando a eles, se ficam à disposição nas prateleiras; como é o espaço externo, se é acolhedor, se tem gramado, se bate sol, se tem árvores, areia, água; como é o espaço interno, se as salas são iluminadas, arejadas, se há espaço para as crianças engatinharem, aprenderem a andar, brincar; se o mobiliário é adequado ao tamanho das crianças; se existe material de estímulo, cores, formas; se os trabalhos das crianças estão expostos. Tudo isso são indicadores relativos, digamos, ao meio ambiente em que a criança passa longos anos de sua vida. rubem Barros – E normalmente isso tudo é levado em conta? MARIA MALTA CAMPOS – No Brasil, a concepção espacial, da creche e da pré-escola, mesmo as particulares e voltadas ao público de alta renda, é pobre. Normalmente, existe uma concepção de escola fundamental tradicional que se transpõe para a educação infantil. Nas experiências mais
  • 9. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 9 interessantes em nível internacional, até a concepção arquitetônica da escola infantil, sua planta, é completamente diferente, pois a visão educacional é mais rica e pede um outro espaço. Nas creches do norte da Itália, o exemplo mais conhecido, a arquitetura já se desvencilhou dessa forma de salinha, salinha e corredor. Em recente exposição sobre as escolas infantis de Reggio Emilia, havia plantas e uma maquete que mostravam que eles pegaram uma tradição italiana que vem do Renascimento, que é a praça como local de encontro, de cada um se perceber como membro de uma comunidade, de criar aquele espírito cívico, e transpuseram isso para a escola. Então, a escola tem um espaço central coberto, com todos os ambientes dando para esse espaço, que tem visibilidade e é o local de encontro para vários momentos. Pode-se dizer que isso é o ideal, que aqui é difícil. Realmente. Mas existem etapas intermediárias até chegarmos perto de algo desse tipo. É importante começar a percorrer esse caminho, a quebrar essa forma tão empobrecedora que encontramos principalmente nas instituições voltadas à população de baixa renda, a que mais precisa, pois também não tem isso em casa. rubem Barros – Há muita divergência entre o que a família e os educadores crêem que seja uma educação infantil de qualidade? MARIA MALTA CAMPOS – A família tende a ser mais concreta e se ater aos aspectos que ela pode enxergar. Vimos isso na pesquisa Consulta sobre qualidade da educação infantil. Para as famílias, o critério mais importante para julgar se a creche ou pré-escola é boa é “cuidar bem da criança”. Esse cuidar bem, para a família, significa que a criança não está largada, maltratada, descuidada. Há mães que chegam às 7h da manhã com um bebê de colo e só voltam às 18h para buscá-lo. Imagine a agonia que é isso numa instituição em que as pessoas não dão a mínima, não deixam a mãe entrar, só a atendem na porta ou num guichê... É uma faixa de idade muito vulnerável. É preciso deixar os pais irem à sala onde a criança vai ficar, deixá-los passar o dia na creche para ver como funciona, ter atitudes de acolhimento, mesmo que seja difícil, pois as famílias brasileiras são de baixa renda, baixa escolaridade. É preciso lidar com essa realidade, deve haver um diálogo para o qual nos qualificamos muito mal. Os professores têm uma enorme desconfiança em relação à família, muito preconceito, qualquer problema que a criança apresente na escola é entendido como culpa da família (‘não cuida, ‘não se importa’, ‘é desestruturada’ etc.), e raramente olham para si próprios, para suas práticas. rubem Barros – Um dos modelos mais usados para ampliar a oferta de creches é o de instituições conveniadas. É satisfatório? É preciso ter requisitos mínimos para os convênios?
  • 10. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 10 MARIA MALTA CAMPOS – Esse é o ponto. Há convênios e convênios. Há aqueles baseados em motivos políticos, em que um vereador tem uma entidade e consegue um convênio com o prefeito. E existem aqueles em que não é qualquer um que firma um contrato, em que há supervisão, compromis- sos mútuos etc. Existem sistemas de convênios bem administrados, bem supervisionados, exigentes. Mas existe uma pressão muito grande em função da demanda não atendida. Aqui em São Paulo é dramático, há listas de espera com milhares de crianças que precisam de vaga e não têm. Essa pressão faz com que os administradores apelem para as soluções mais esdrúxulas, creches domiciliares e outras que atendem sabe-se lá onde. Até recentemente, não tínhamos nenhum recurso de financiamento educacional previsto, ficava-se com as sobras. O Fundeb tentou resolver isso, só que ainda é insuficiente, pois o valor é muito baixo para as necessidades da educação infantil. Mas já é uma melhora. rubem Barros – O atendimento direto (do Estado) é melhor ou pior que o conveniado? MARIA MALTA CAMPOS – De modo geral, é melhor, principalmente pelo fator pessoal. Porque, no direto, as pessoas precisam ter concurso, um determinado nível de formação para trabalhar, há uma fiscalização social maior. rubem Barros – Mas esse não poderia ser um dos requisitos do convênio? MARIA MALTA CAMPOS – Mas não é o que acontece. Por que o convênio é mais barato? Há menos burocracia, menos perdas de outra natureza, mas também pelo fator pessoal, que é o que mais pesa. As pessoas são contratadas e descontratadas mais facilmente, não se exige muita coisa delas. No convênio, as exigências às vezes são ‘flexibilizadas’ pela entidade contratada. Na pesquisa sobre qualidade, apesar de nossa amostra não ser representativa do ponto de vista estatístico (52 escolas de 4 estados), o perfil dos professores de entidades conveniadas apontava para pessoas de renda e escolaridade mais baixas, quando comparado ao perfil daqueles das redes públicas. E isso pesa. rubem Barros – Há alguma experiência internacional em que pudéssemos nos mirar em relação à expansão de vagas para a educação infantil, que tenha ocorrido sem que houvesse queda na qualidade? MARIA MALTA CAMPOS – Há o exemplo da França. Eles têm a chamada escola maternal, uma instituição francesa. Ela é totalmente integrada à rede de ensino, e funciona daquele jeito francês, todas muito parecidas, de muito boa qualidade, todas as professoras com formação supe- rior. As crianças entram de manhã e saem no meio da tarde. São de um estilo mais tradicional,
  • 11. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 11 cada professor atende sua turma, tem horários, currículos, atividades que todas as crianças devem fazer. O que eles fizeram? Foram universalizando, indo gradativamente para as idades menores. Eles tinham universalizado até os 4 anos já havia vários anos, aí universalizaram para os 3 anos, e recentemente começaram a aceitar crianças de 2 anos, o que é bastante polêmico. Fizeram isso com uma qualidade padronizada nacionalmente. rubem Barros – Qual o motivo da polêmica? MARIA MALTA CAMPOS – As crianças de 2 anos exigem uma atenção mais individuali- zada, talvez exijam que se diminua o número de crianças por turma. O sindicato dos professores começou a ficar preocupado se havia crianças com fraldas etc. Existem as creches lá também, mas não são vinculadas à área da educação, e sim à da saúde. rubem Barros – Qual sua opinião acerca da integração no mesmo espaço escolar de crianças dos 0 aos 6 anos de idade? MARIA MALTA CAMPOS – É boa, inclusive também é melhor para famílias que têm, por exemplo, um filho de 3 anos e outro de 5. A maioria das escolas particulares tradicionais tem outro sistema de divisão. Recebem crianças de 2 a 5 anos num prédio, e de 6 num outro prédio. Não há nada contra isso, pode ser uma ótima instituição. O que interfere mesmo nessa faixa é se a criança fica período integral ou meio período, porque aí muda completamente o que você tem de proporcionar. Mesmo uma criança de 4 anos, se ela fica o dia inteiro, significa que é preciso ter um outro arranjo, uma outra maneira de trabalhar, diferente daquela existente nas escolas que ficam apenas meio período com as crianças. rubem Barros – Cognitivistas sustentam que muito do desenvolvimento cerebral ocorre até os 2, 3 anos de idade e muitos defendem que as crianças estejam expostas a um grande número de estímulos na educação infantil. O que pensa disso? MARIA MALTA CAMPOS – Outro dia, numa reunião da Capes, em que há gente de todas as áreas – química, biologia, biofísica –, havia um professor que começou a falar sobre isso, numa linha de pensamento que vem sendo muito difundida. Porque não sei quantos por cento das sinapses se processam até tal idade etc. E pensei comigo: se for acreditar no que ele diz, vou ter de mudar de profissão. As concepções mais avançadas de educação hoje, européias, são de edu- cação ao longo da vida, que significa ser educado desde o nascimento, sim, porém prosseguindo
  • 12. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 12 até que a pessoa morra. Quer dizer, o ser humano é altamente flexível e tem uma plasticidade enorme, tem possibilidades ainda não totalmente exploradas. E não é porque uma criança chegou à escola aos 6 anos que não pode aprender um monte de coisas e se tornar doutora em física. Há muitos exemplos disso. A ex-ministra Marina da Silva só foi aprender a ler com 18 anos. E o que aconteceu com as sinapses dela? Estavam muito bem, obrigada. rubem Barros – Qual é o ponto, então? MARIA MALTA CAMPOS – Essa faixa de idade tem uma enorme capacidade de aprendizagem, de incorporar uma série de elementos, estão abertas para o mundo justamente porque precisam ganhar autonomia para sobreviver. É verdade também que é muito importante o que acontece com ela nos primeiros anos de vida. É preciso enfatizar isso, até mesmo para que se faça um lobby para melhorar o financiamento e a qualidade da educação infantil. Mas isso não pode ser tomado de uma maneira restritiva, do tipo “se não teve, agora não dá mais”. Você já pensou como as escolas ficariam se seguissem isso? A professora da 1ª série diria àqueles que vieram de escolas ruins que não valeria a pena perder tempo com eles, pois sabe-se lá o que aconteceu com as sinapses dessas crianças... rubem Barros – Corremos o risco de supervalorizar essa visão e de reduzir a educação infantil a uma questão de alta estimulação cerebral, enquanto outras dimensões educativas são negligenciadas... MARIA MALTA CAMPOS – Isso é péssimo até para a própria aprendizagem cognitiva, pois há uma questão que o pessoal dessa corrente esquece: o ser humano, e mais ainda as crianças pequenas, são seres integrados. Conforme vamos ficando mais velhos, conseguimos especializar os campos de atuação, distinguir diferentes papéis que exercemos. A criança pequena tem essas experiências todas muito mais integradas. Por exemplo, a questão afetiva é absolutamente colada na questão da aprendizagem. Se ela não está bem afetivamente, não vai aprender. Se ela não está se sentindo bem com os colegas e com a professora, com um bom ambiente em casa, ela não estará pronta para se desenvolver em outros campos. Isso tudo acontece de forma integrada. A ênfase só no aspecto cognitivo é complicada. Como se quer que uma criança aprenda se, como acontece aqui em São Paulo nas redes estadual e municipal, há até cinco remoções de professores enquanto ela cursa a 1ª série do fundamental? Uma criança que pisa pela primeira vez na escola, vem de um meio social desfa- vorecido, e a sua primeira professora é trocada cinco vezes num ano. É óbvio que essa criança
  • 13. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 13 não vai aprender. A primeira professora da criança carrega uma grande carga afetiva para ela , é o seu modelo. Até as músicas dizem isso. E quanto mais isso acontecer, melhor, pois ela vai se alfabetizar melhor, vai ficar mais entusiasmada com as tarefas. Então, essa linha de pensamento é importante se integrada a um pensamento mais complexo e multidimensional. E é perigosa quando se torna unidimensional. rubem Barros – Por que os economistas gostam dela? MARIA MALTA CAMPOS – Porque estão sempre obcecados em encontrar aquele determi- nado fator em que você coloca o seu dinheiro e, passados determinados anos, você tem uma taxa x de retorno. Eles calculam essa taxa de retorno para o indivíduo, de forma econométrica. Se a pessoa fez pré-escola, foi bem na escola, sem repetir, conseguiu chegar ao nível superior e aí tem um salário x, quanto custou sua educação, incluindo o que a família deixou de ganhar pelo fato de ela ter estudado e não trabalhado, o que gastou de condução etc. Soma-se tudo isso, compara- se com o ganho da pessoa e extrai-se essa taxa de retorno. Então, estão interessados em saber onde vão colocar o dinheiro para dar aquela taxa de retorno. O fato é que, com esse raciocínio, eles querem encontrar aquele determinado fator no qual vale a pena gastar dinheiro. É óbvio que estou caricaturando, pois há pessoas inteligentes que fazem estudos importantes, mas existe essa tendência. Então eles ficam maravilhados quando aparece esse pessoal falando essas coisas. E não gostam dos educadores, porque costumamos dizer que as coisas são mais complexas do que isso. Mas têm razão numa crítica que fazem à área educacional: nós geralmente somos pouco objetivos, temos dificuldade de tomar decisões do tipo “vamos melhorar 100% das escolas ou só 10%”. Os educadores têm dificuldade de ver as coisas de forma mais objetiva. Os economistas, ao contrário, têm dificuldade de ver as coisas na sua complexidade, querem transformar tudo em número. E não é tudo que dá para transformar em número. rubem Barros – Qual o papel central da educação infantil? MARIA MALTA CAMPOS – Depende. Se pensarmos na creche, ela tem objetivos não só educacionais, mas também sociais e de igualdade de gênero, para que a mulher possa participar totalmente da sociedade, não só do trabalho, mas de atividades políticas, cívicas, lazer, cultura etc. São papéis importantes que extrapolam o ponto de vista educacional. Sob o ponto de vista da educação, é muito importante e todas as pesquisas indicam que o fato de a criança ter tido ou não uma boa educação infantil faz uma grande diferença para a sua carreira educacional. Há
  • 14. d ifusão de idéias Fundação Carlos Chagas • Difusão de Idéias • maio/2009 • página 14 pesquisas interessantes nos EUA e na Inglaterra que mostram consistentemente a importância do acesso à educação infantil de boa qualidade, ou razoável. São efeitos diretos na aprendizagem nas séries posteriores – em matemática, linguagens etc. – e também em outras coisas, como as habilidades sociais, de relacionar-se, de se colocar frente ao coletivo. Isso tudo é consensual. rubem Barros – E o que não é consensual? MARIA MALTA CAMPOS – O que ainda é objeto de polêmica é com relação à faixa dos pequenos. Aí há diferenças entre as pesquisas, que não permitem conclusões definitivas. Faz difer- ença o tipo de família de onde a criança provém. Para aquelas que vêm de famílias de baixa renda, com alguma situação de risco, com certeza é melhor ter um bom atendimento do que ficar em casa. Mas para as crianças em geral existem resultados divergentes, pois às vezes a criança pode ter um atendimento muito bom em casa ou na sua comunidade, que não é um atendimento formalizado de creche. No caso da pré-escola, os resultados são todos consistentes. É bom, faz diferença, mas faz mais diferença para as crianças mais pobres. E de diversas maneiras. Tanto na aprendizagem stricto sensu como nas habilidades importantes para a formação de qualquer cidadão. rubem Barros – Mas se tivesse de resumir a importância da educação infantil, qual seria? MARIA MALTA CAMPOS – Preparar a criança para um melhor aproveitamento na escola primária. E é ótimo que prepare, sob todos os aspectos, pois nossos indicadores de aproveita- mento na escola primária são obscenos. Então, se preparar, ótimo. Mas não é só isso. A infância da criança está sendo vivida neste momento, e é bom que ela seja bem vivida. Se a criança passa 8 horas por dia numa instituição de educação infantil, praticamente está passando a infância ali. Então precisa brincar, desenvolver-se, socializar-se, criar habilidades motoras etc. O Brasil deu um passo importante na definição de sua legislação. Somos vistos com muita curiosidade pelos analistas de políticas educacionais internacionais, porque foi um país que fez isso de forma ousada. Pegou a faixa de 0 a 6 anos e colocou inteira na educação. Outros países, como a Suécia, estão fazendo isso só agora, e depois de um grande debate. o Entrevista concedida à Rubem Barros e publicada na edição número 2 do Educação Infantil, uma publicação especial da Revista Educação da Editora Segmento, sob o título “Ser integral”, em abril de 2009. Complementa a edição impressa desdobramento da entrevista, disponível em http://www.editorasegmento.com.br