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O Dragão dos
       Ventos Celestiais
1ª Parte - Os Guerreiros de Olonstreek




            Marcelo Bessa
              Salvador/2013


                                     2
Nota do Autor



        Esta obra foi idealizada em 2009 e escrita em
2012, após a conclusão do meu primeiro livro “O
Melhor Amigo do Cão – Para quem deseja retribuir esta
amizade verdadeira”. Trata-se do início da Saga do
Reino Unificado do Dragão dos Ventos Celestiais, que
estará completa ao final do terceiro volume.
        Autorizo a reprodução gratuita dessa obra, em
meio digital (PDF), com finalidade de permitir que a
sociedade brasileira a conheça, no entanto, reservo-me o
direito exclusivo de comercializá-la em qualquer meio
existente.
        Aos interessados, uma boa leitura!


                             Salvador, fevereiro de 2013

                                         Marcelo Bessa

                                                      3
Prólogo



      Num tempo distante pelas heras esquecido,
a paz fora estabelecida a partir do equilíbrio
sensível das forças entre o bem e o mal,
conquistado mediante antigas batalhas das quais
se conhece apenas o resultado. Uma terra
dividida em cinco reinos, cercados de mistérios,
homens honrados e guerreiros que esperam
batalhas profetizadas para um tempo próximo.

      O Senhor Supremo, na busca de assegurar a
paz existente, dividiu entre às regiões pacíficas
da terra as forças que controlam tudo que existe,
a essência de todo o poder vital, para que não
houvesse disputas entre eles. No entanto, sua
                                               4
imensa sabedoria o impedira de duvidar dos
destrutivos anseios do homem por subjugar seus
semelhantes e do oportunismo do mal em explorar
tal fraqueza humana.
       O Senhor dos Homens decidiu, então,
confiar nas mãos humanas, e em honrados
corações, as forças que unificadas gerariam um
milênio de paz. Assim, guardou numa profecia a
maior e mais árdua de todas as provas para a
humanidade, revelando inicialmente a um sábio
homem os caminhos que nas mãos de poucos, se
capazes, trariam à terra o Reino Unificado do
Dragão dos Ventos Celestiais...




                                              5
Primeira Parte



                                          O Início



       Ele acordou de um sono repleto de sonhos
estranhos. Sonhava com batalhas sangrentas, travadas no
seu amado reino, onde cresceu e aprendeu, com seu sábio
pai, muito mais do que o oficio que lhe fizera conhecido.
As forças eram desiguais, os homens que tentavam em


                                                       6
desespero proteger o reino, pereciam aos montes ante os
poderosos inimigos...
       Queria acordar daquele terrível pesadelo, mas,
ainda durante o sono, sentia que todo o horror que
vislumbrava não ficaria para sempre escondido num
plano irreal, teria que enfrentar tudo aquilo de fato e o
som que o fizera despertar só confirmava esta certeza.
       Ele ouvia os gritos que lhe remetiam à violência e
a dor que por toda a noite inundara seu sono. Mas agora
estava acordado e tudo era real, a luta esperada havia se
anunciado.
       Abrindo a porta de casa, ele olhou ao longe, até
onde a visão alcançava, e pode perceber um cenário
aterrador. Casas em chamas, homens empunhando suas
armas e lutando por suas vidas, outros fugindo assustados
por entre os vencidos caídos ao chão. No ar um odor de
morte e pânico que ele desejava não sentir em seu reino
tão prospero...




                                                       7
O Mundo Antigo



      Ah a Terra!

      Moldura da minha obra prima! Casa que
criei para o homem e que, há muito, tenho
procurado tornar a morada da paz.

       Meus filhos, no entanto, não entendem.
Deixam-se levar pela vaidade, cobiça, desejo de
poder e pela violência, afastando-se do meu
objetivo.

       Meus conselheiros insistem: “O livre
arbítrio, meu Senhor! Tire-o antes que os homens
se percam!”. Mas a liberdade é o maior dos meus
                                              8
presentes e, mesmo que eles não saibam usá-la,
não voltarei atrás.

      Decide ouvir as preces dos mais honrados e,
contra a minha vontade, deixei que a terra fosse
dividida em reinos. Pouco ou nada adiantou e os
rumos da guerra continuam seu sórdido caminho,
enquanto o mal insiste em insurgir-se contra a
paz. Contudo, meus olhos estão abertos e ainda
não desisti dos bons homens...




                                               9
Numa configuração muito antiga, distante da
formação atual, a terra estava dividida entre três
continentes. Dois deles eram inabitados nas extremidades
do globo. O terceiro, ao centro do planeta, era o
continente habitado, morada dos homens e animais
existentes.
       Cercado pelo insondável oceano de Noutlong (o
oceano sem fim), o continente habitado fora dividido em
seis regiões, dentre as quais se encontravam os cinco
Reinos Celestiais, assim dispostos:

        Ao sul do continente, estabeleciam-se os
domínios de Olonstreek, o Reino do Metal. Guarnecido
por cadeias rochosas compostas pelos mais nobres e
valiosos metais do planeta, o território do 1º Reino era
formado por construções magníficas, edificadas numa
terra fértil de cenário exuberante.
        Na região sudoeste do continente, cortado em
ilha, encontrava-se o Reino celestial das Águas ou
Lykroustreek. Geograficamente protegido pelo grande
Lago Lykrols (o lago das Águas Cristalinas), que
encontrava ao sul e a noroeste, o Oceano de Noutlong. O
reino constituía-se de um território abundante em
nascentes, lagos e cataratas, de onde surgiam todas as
fontes de águas puras de toda a terra.
        Protegido por uma extensa e poderosa floresta, ao
noroeste do continente, fora edificado o Reino celestial
das Arvores, a bela região de Kromnoustreek, onde
habitavam a imensa maioria dos animais selvagens que,
perigosos, reforçavam as defesas contra possíveis
invasões.
        O quarto Domínio, ao norte das terras habitadas,
denominado Eineonstreek, o Reino celestial do Fogo, era
cortado ao meio pelo rio Igneong (o rio de lava
incandescente). Tinha suas defesas estabelecidas por
vulcões sempre ativos, margeados por abismos profundos
                                                       10
que cercavam raras e estreitas passagens para o centro do
continente. Seus domínios, com escassa vegetação e calor
intenso, revelaram um ambiente inóspito, cuja vida fora
permitida em consequência das poucas nascentes de
águas extremamente quentes.
       O Reino das Terras Celestiais, Iktyoustreek,
estabelecido ao nordeste do continente, tinha suas defesas
num deserto extenso e inabitável. A região era habitada
apenas nas proximidades do litoral, onde as condições
geográficas permitiam a sobrevivência de seus
habitantes.
       Por fim, ao centro do continente, estabeleceu-se o
Vale Evilkeerts, a anti-região do Vale Negro. Uma região
sombria, onde todo o mal inevitável que surgira das mãos
dos renegados dos cinco Reinos Celestiais buscara
abrigo, consolidando, ao logo do tempo, o território do
mal na Terra, de onde surgiram os conflitos
anteriormente profetizados.




                                                       11
Olonstreek

                   O Primeiro Reino Celestial



      O mais rico dentre os reinos!

       Enganam-se os que acreditam que me refiro
aos tolos metais preciosos...

      Os valorosos corações nessas terras
nascidos, ontem e hoje. Estas sim são as
verdadeiras riquezas. Suas virtudes estão acima
das habilidades para a luta e justiça, pois a
coragem e bondade valem mais.



                                             12
Chegará o dia em que o ouro e a prata
estarão desprotegidos e não serão tocados. As
armas bem forjadas não os salvarão, mas suas
virtudes serão vistas nas terras Habitadas.
       Dos grandes heróis, mártires e eleitos,
muitos nestes domínios nascerão. A guerra neste
solo terá início e aqui festejarão os reinos se a
vitória os alcançar...




                                              13
Olonstreek era o mais rico e poderoso dentre os
reinos celestiais. Suas riquezas originaram-se da imensa
cadeia rochosa, cuja formação abrigava enormes jazidas
de ouro e prata. O poder, também, tinha origem nas
riquezas minerais, pois a abundância de minério para a
forja de armas e armaduras gerara uma cultura de
militarização onde as crianças, inclusive plebeias,
desenvolviam habilidades em manejar armas. Os filhos
dos nobres eram criados mediante educação diária sobre
táticas de guerrilha, as notícias sobre uma guerra próxima
se espalharam pelo reino e, apesar dos discursos pacíficos
da família real, todos cresciam com o sonho de tornarem-
se heróis defendendo a justiça e a vida na terra antiga.
        O Palácio de Galatyans (Palácio de Prata) era,
sem dúvida alguma, a mais bela e valiosa de todas as
edificações do planeta. Sua imponência podia ser vista a
distância, pois o reluzir do revestimento totalmente
construído com a prata real, traduzia o seu valor a todos
que o contemplassem. No interior do castelo, as riquezas
se multiplicavam em paredes, colunas e objetos em ouro
e prata de valor inestimável.
        O rei Gyllimond era um homem maduro,
corpulento, de olhos castanhos e andar altivo. Sua
expressão humilde contrastava com a postura rígida de
um regente justo e poderoso, o que confundia os
preconceituosos nobres de Olonstreek. Os cabelos
negros, mesclados aos grisalhos completavam a bela
figura do Senhor do 1º reino.
        A rainha Zayra, detentora de uma beleza
indescritível em seus olhos verdes cristalinos, iluminava
o semblante dos que ousavam contempla-la. Seus cabelos
louros, ondulados, harmonizam-se perfeitamente à pele
clara, às feições impecáveis e corpo jovial que pareciam
imunes ao tempo. Era Senhora do amor do seu rei e
inspirava incontáveis desejos secretos dos nobres de
Olonstreek.
                                                         14
Ambos, rei e rainha, eram justos e humanos acima
da condição de Senhores do reino do metal. A fé, nos
desígnios do Senhor Supremo, os tornara verdadeiros
desafiadores das preconceituosas leis da sociedade
antiga. Seus corações eram regidos pela bondade, amor e
justiça e o povo os veneravam com a mesma intensidade
que se sentiam amados por eles. O reinado de Gyllimond
e Zayra fora marcado pela prosperidade galgada na
sabedoria em administrar as riquezas reais para o bem
comum, contudo o controle dessas riquezas dera origem à
insatisfação de uma minoria gananciosa, tornando, assim,
os recursos de Olonstreek a origem dos seus maiores
conflitos. Todo metal precioso era de propriedade
comum a todo o reino, não sendo permitido a ninguém
tomar posse dos mesmos. Os nobres tinham o direito de
posse sobre as jazidas existentes em suas terras, no
entanto, mesmo um deles seria preso e julgado caso fosse
surpreendido apropriando-se das preciosidades nas terras
reais.
        Essa estrutura social e as leis em torno dos metais
preciosos geravam a ganância e a maldade em todas as
esferas do 1º reino. Este sentimento, por muito, era
compartilhado dentre os habitantes das outras regiões das
terras habitadas, que se sentiam injustiçados por não
terem direito natural sobre tais riquezas. Assim, homens
de todos os lugares eram recrutados pelo mal, sobre o
pretexto de poder tomar posse do patrimônio de
Olonstreek, ao subjugá-lo.




                                                        15
...Voltando ao interior da casa, ele tomou sua
espada e a velha bolsa que, para todos os lugares,
carregava consigo e, apressado, preparou seu velho
cavalo para partir. Em seus ouvidos uma voz familiar
repetia insistentemente:

       “Deves partir agora! O perigo ronda-nos
implacável! Por hora, cabe a ti a defesa dos bons. Vá ao
palácio e mostre o vosso poder!”

        Seu cavalo cortava a vila, veloz, passando por
diversos focos de conflito e ele logo pode reconhecer os
invasores, pois as cicatrizes evidentes nas suas faces os
denunciavam. Os inimigos investiam perversos sobre
todos os que cruzassem seu caminho, mulheres ou
crianças, nobres ou servos, como se suas vidas nada
valessem. Aquele homem bondoso, sobre seu cavalo,
com imenso pesar, sentia em suas entranhas cada golpe
que via ser desferidos contra aqueles inocentes.
        Ele continuou cavalgando rumo ao castelo sem se
permitir desviar seu destino em socorro àquelas vítimas,
mas, tomou sua espada, erguendo-a, quando avistou um
invasor que investia contra uma indefesa criança,
confusa, em meio à estrada. Antes que o inimigo
desferisse um golpe mortal contra o menino, fora
surpreendido pela lâmina perfeita que lhe transpassara.
Sem perder o ritmo, ele contemplou a face daquele
perverso invasor e nela vislumbrou a marca feita a ferro
com o símbolo do 1º reino celestial...




                                                      16
Os Inimigos



      Insolente! Traidor!

       Servo invejoso! Traiu minha confiança por
inveja dos meus filhos e da liberdade que os
concedi. Ele deseja tê-los, deseja a terra e o poder
de ser Senhor. Desafiou-me a entregá-los caso não
houvesse honra, bondade e coragem que os
valesse.

      Insolente!

       Aceitei o desafio, pois creio no coração dos
meus filhos, e, apesar dos seus ardis, guiá-los-ei à
vitória se forem, como acredito, merecedores. Do
                                                 17
contrário, perderão a terra e a vida, mas as almas
dos dignos não serão tocadas e serão bem vindas
em minha casa, vitoriosas ou não.

       És meu inimigo! E todo aquele que for por
ti seduzido, terá de mim o mesmo tratamento. Se
quiseres ser Senhor, serás o Senhor das Trevas e
nela andará aquele que te seguir...




                                               18
Apesar da busca pela paz, comum a todos os
Reinos Celestiais, a influência da natureza humana,
fatalmente conduzira o surgimento de atos isolados de
violência, comportamento severamente punido pelas leis
reais. Num consenso, os reinos celestiais puniam seus
infratores dando-lhes o direito de escolha, entre o
banimento ou as prisões reais. Aqueles que escolhiam o
cumprimento de suas penas seriam presos e perdoados
após justa punição. Os que optassem pelo banimento
jamais poderiam retornar aos respectivos domínios reais,
sobre pena de execução.
        Ao longo dos anos os malfeitores que optaram
pelo banimento organizaram-se no território do Vale
Evilkeerts (a anti-região do Vale Negro), cultivando toda
a maldade e sentimento de vingança contra os Reinos
Celestiais. Estes renegados estabeleceram-se no primeiro
exército inimigo, que crescia no propósito de desafiar a
ordem dos cinco reinos, buscando impor o domínio do
mal sobre os povos da terra antiga. Assim, invadiram
Olonstreek no intuito de roubar suas riquezas e obter a
desforra tão esperada contra suas duras punições.
        A maléfica influência de Myrior, o Senhor das
Trevas, na ocasião do primeiro ataque, não passava de
sugestões sutis aos corações endurecidos dos renegados.
Contudo, num futuro muito próximo, a presença deste
sombrio inimigo se concretizaria num exercito sobre-
humano.




                                                      19
...Aproximando-se do castelo ele percebeu uma
mudança sutil no cenário visto na vila. A luta continuava
mais os soldados do reino estavam, claramente, vencendo
a disputa. Tropas agrupavam-se marchando em direção
ao vilarejo e já era possível deparar-se com renegados em
fuga. A voz ainda ressoava em seus ouvidos:

       “Entre depressa no Palácio!”

        Ele passou sem ser notado pela guarda, como se
estivesse invisível, e, deixando seu cavalo, entrou no
castelo. Ouvia desde então outra voz que clamava:

       “Por favor, não me faça mal!”

        A bela voz feminina, impregnada de temor, fez o
coração do guerreiro repentinamente iniciar um estranho
compasso, batendo tão forte que ele podia escutá-lo. Ele
corria pelas magníficas dependências do palácio, alheio
às belas que jamais contemplara e, então, deparou-se com
uma inesperada imagem.
        A rainha Zayra fugia, desesperada, dos golpes de
um renegado que tentava feri-la. Não demorou muito
tempo para que o malfeitor encurralasse a indefesa
mulher. Ele sorria, num tom sarcástico e, erguendo sua
espada, olhou-a como um carrasco pronto para uma
execução:

        — Em nome do exército do Vale Evilkeerts, vos
condeno à morte, rainha de Olonstreek, pondo fim a tua
vida e da criança que carregas no teu ventre...

       A rainha, sem esperança de ser salva, cerrou os
olhos em oração, entregando-se nas mãos do Senhor
Supremo. No entanto, como se o tempo houvesse parado,
o golpe final não se concretizou, dando lugar ao som das
                                                      20
espadas que se cruzaram ante aos seus olhos surpresos. O
oponente era um homem humilde, de meia idade, que
nem mesmo parecia ser capaz de erguer sua arma:

       — Quem és tu, velho insolente?

       A expressão do renegado revelou sua surpresa ao
reconhecer o rosto que o desafiava:

       — Eu o conheço! És o ferreiro do vilarejo...




                                                      21
O Escolhido



      No momento, um homem fora escolhido.
Sua justiça e sabedoria serão conhecidas...

       É ele o primeiro líder, o primeiro guardião e
nele se iniciará a vitória de todos. Ele irá instruir
e encorajar os heróis. Em sua formidável
“astúcia” iludirá o inimigo enganador, pois dos
humildes nascerá coragem e poder como jamais
foram vistos.

      Das minhas mãos, encontrarão a luz sob a
qual o mal perecerá. Ela estará no livro, no
símbolo, naquele que foi rejeitado e, sobretudo,
nos corações que a desejarem.
                                                  22
Meus planos foram, há muito, definidos,
mas os caminhos terão início nas habilidosas
mãos do ferreiro.

     Essa e a minha vontade!




                                          23
Descendente dos grandes mestres da forja de
armamentos, Steylrork aprendeu com seu pai, aquele que
forjara as melhores lâminas conhecidas na terra antiga, o
ofício de ferreiro. Ele era um homem de meia idade,
cabelos grisalhos, olhos castanhos e expressão sincera.
Seu corpo envelhecido escondia o porte de um velho
guerreiro e o olhar misterioso denotava grande sabedoria.
Seu pai, um grande guerreiro, de prenome Auryous,
forjava para si armas notáveis, manejando-as com imensa
destreza e, seguindo seus passos, Steylrork aprendera
também a utiliza-las com maestria. Esta prática secreta
transformou a história daquele humilde ferreiro para
sempre...




                                                      24
— Se assim desejares, irás morrer junto à vossa
rainha...
        — Afaste-se Majestade! Ninguém lhes fará mal
algum!

       A rainha sentiu um súbito alívio ao perceber que
seu fim tão anunciado fora adiado, contudo, a simples
comparação entre aqueles adversários lhe trazia a
impressão de que não estaria a salvo por muito tempo.
Aquele homem bondoso, que tentava salvá-la, lutaria
contra um maléfico e poderoso inimigo ao qual a simples
presença denotava um perigo mortal. Mas a lógica viu-se
desafiada quando, ao bloquear o primeiro golpe desferido
pelo renegado, Steylrork feriu-lhe o ombro esquerdo,
num contragolpe perfeito:

       — Vejo que sabes defender-se bem, para um
velho! Mas não precisarei de muito para liquidar-lhe.
Disse o renegado segurando sua espada apenas com a
mão direita.

        Steylrork, impassível, permaneceu calado como
se não ouvisse as palavras do prepotente adversário. A
rainha sentia a esperança crescer em seu coração e passou
a crer nas habilidades do herói desconhecido que surgiu
para devolver-lhe a vida. O inimigo, furioso, ergueu a
espada e avançou contra o ferreiro que, com a leveza de
um jovem cavaleiro, bloqueou o golpe, girou o corpo por
debaixo das espadas e contra golpeou mortalmente o
renegado.
        No coração do ferreiro uma estranha sensação de
paz, tomou o lugar da agonia, quase insuportável, que
sentia desde o início do conflito e ele percebeu que havia
cumprido sua primeira missão. Nos olhos da rainha, além
do natural alívio pelo perigo findado, a imensa gratidão
que sentia pelo gesto daquele plebeu:
                                                        25
— Qual é o seu nome, heroico guerreiro?
         — Sou Steylrork Majestade! Ferreiro do vosso
reino.
        — Obrigado Steylrork!
        — Não há porque agradecer Senhora, jamais
sentirei maior honra do que tê-la ajudado.
        — Falas como se tivesse prestado-me um simples
favor. Salvaste minha vida e a partir deste instante tu
deixaras de ser simplesmente o ferreiro de Olonstreek,
pois serás sim conhecido como o mais leal dos amigos da
família real.

        Esquecendo-se de sua posição a rainha abraçou
seu protetor que, aturdido, silenciou sem saber como
agir...

        A invasão não demorou a cessar e tão logo
resolvido o conflito, o rei Gyllimond, que havia partido
em batalha contra os invasores, retornou ao castelo
vitorioso. Grande fora a surpresa do rei ao perceber que
os soldados designados para a defesa da rainha foram
derrotados e as portas do salão, onde Zayra deveria ser
protegida, estavam entreabertas. No instante em que
avançava em direção à entrada do salão, o rei sentia o
mais profundo desespero que seu coração já
experimentara. Estaria sua amada rainha entre as vítimas
daqueles cruéis inimigos?
        Apoiado num tênue fio de esperança o rei entrou
na sala e sentiu-se profundamente aliviado ao ver Zayra,
a salvo, junto a um plebeu que a protegia:

         — Quem és tu bondoso guerreiro?

         A rainha, tomando a palavra, disse solenemente:


                                                       26
— Este é o nosso amigo Steylrork, o homem a
quem devemos a minha vida e a vida da nossa criança. O
inimigo caído ao chão tinha o meu destino nas mãos
quando este nobre guerreiro, em tempo, enfrentou-o
salvando-me.

      O rei aproximou-se do ferreiro que se ajoelhou
em reverência:

        — Levante-se meu amigo! De todo o bem que eu
poderia imaginar receber de mãos humanas, não há nada
maior do que este que hoje me fizeste. Jamais poderei
retribuir-lhe à altura! Portanto, deixe a reverência para
aqueles com os quais eu não tenho uma dívida eterna.
Para ti quero oferecer o que desejares. Peça e terás!

       Erguendo-se, Steylrork declarou num tom repleto
de sinceridade:

        — Não desejo nada meu Senhor! Pois estive neste
castelo para cumprir meu dever e assim o fiz. Contudo,
sinto-me honrado por ouvir-lhe chamar-me por amigo e
esta recompensa me basta...
        — Se vieste cumprir seu dever, a quem devo
agradecer o envio de tão valoroso herói? És cavaleiro de
qual dos reinos desta terra?
        — Sou apenas um ferreiro do vosso reino, Alteza!
E nenhum homem responde pelo meu envio. No entanto,
sou filho desta terra e, como qualquer outro, devo
proteger a família real.
        — Entendo o vosso propósito Steylrork e se te
recompensa a minha amizade, quero que saiba que a terás
para sempre. O conflito fora sufocado e tu deveras
descansar da batalha num dos aposentos de Galatyans,
pois, logo farei um pronunciamento ao valente povo do
meu reino e quero que estejas em nossa companhia.
                                                      27
— Agradeço o convite Majestade! Estarei aqui
enquanto desejares.

       O povo foi avisado que o rei convocava a todos
para o seu pronunciamento, à cerca do conflito que
vitimou muitos filhos do reino. Então, passado algum
tempo, Gyllimond surgiu no alpendre do castelo,
acompanhado pela rainha Zayra e Steylrork, quando
começou a falar ao povo:

        — Querido povo de Olonstreek! Neste triste dia
trago-os aqui para que possamos, reunidos, homenagear
nossos irmãos que deram suas vidas para proteger nossas
terras. Os inimigos nos surpreenderam numa invasão
covarde e violenta, ferindo nossas almas por ganância e
vingança. Eram renegados de todos os reinos, julgados
por nossas leis, banidos por seus crimes e amotinados
num exercito de malfeitores. Muitos dos nossos soldados
pereceram ante este ataque traiçoeiro e não apenas eles,
como muitos homens simples, mulheres e crianças que
tentaram defender-nos, pois a maldade dos inimigos não
escolheu suas vítimas.
        Junto ao meu exercito, no campo de batalha,
presencie diversos atos de heroísmo, realizados por
homens e mulheres de todas as idades e origens, o que
nos deixou orgulhosos e possibilitou a nossa vitória. Que
o Senhor Supremo conceda o prêmio devido os nossos
heróis no Palácio Celeste, que tenhamos aprendido o
verdadeiro sentido da nossa liberdade e o preço que
muitas das nossas famílias pagaram por ela.
        Enquanto lutávamos um dos perversos renegados
invadiu o castelo no intuito de ferir nosso reino com a
morte da rainha e da criança que ela carrega em seu
ventre, mas o Senhor Supremo apiedou-se do meu velho
coração, e do nosso reino, enviando este valoroso
cavaleiro para protegê-la. Seu nome é Steylrork e ele, até
                                                       28
o momento, fora conhecido como um dos nossos
ferreiros, no entanto, quero que todos saibam da nossa
eterna amizade e do merecido título que agora o
concedo...
        Ficando de pé, o rei tomou sua espada na mão
direita e ordenou que o ferreiro ajoelhasse à sua frente.
Emocionado, Steylrork, ajoelhou-se e pode sentir a
espada tocar-lhe os ombros enquanto ouvia a voz do rei:

       — Steylrork! Em nome do 1º Reino Celestial
concedo-lhe o título de cavaleiro real, em justiça à
bravura que demonstrares ao salvar-nos a todos no
momento em que protegera nossa família. Que o Senhor
Supremo ajude-o a honrar vossa nova missão e que todos
o respeitem, desde então, pela vossa nova posição. Sou
Gyllimond, o rei dos domínios do metal, e esta é a minha
vontade.

       O povo saudou, com reverência, o novo cavaleiro
real e muitos dentre aqueles que conheciam o valoroso
Steylrork, demonstraram grande felicidade pela justa
horária que ele recebera. Muitos outros, no entanto,
represaram sua insatisfação em respeito ao rei.
       Algum tempo após o pronunciamento, Gyllimond
chamou Sr. Steylrork para uma conversa reservada:

        — Steylrork! Preciso falar-lhe um instante.
        — Sim Majestade! Em que posso servi-lo?
        — Tenho planos para garantir a segurança da
rainha e gostaria de contar com vossa presença,
diariamente entre nós, para viabiliza-los. Acredito que
seria apropriado que visses residir em Galatyans.
        — Perdoe-me meu Senhor, se rejeito a honra que
me concedeste! Mas nasci no vilarejo e ali passei todos
os meus anos, por isso, não saberia viver em outro lugar,
ainda que fosse neste belo Palácio. Peço-te humildemente
                                                      29
que reconsidere vossa vontade dando-lhe minha palavra
que estarei ao vosso dispor sempre que precisares.
        — Tens liberdade para decidir aonde queres
viver, meu amigo, e entendo vossa decisão! Contudo, se
mudares de ideia vosso lugar estará à disposição.
        — Se me permites Alteza, voltarei ao meu lar no
vilarejo. Estarei de volta ao castelo pela manhã.
        — Vá em paz e até breve meu amigo!

        Cavalgando pela madrugada, Steylrork voltou ao
vilarejo lembrando-se das imagens aterradoras que havia
presenciado na última passagem por aqueles caminhos,
hora desertos e envoltos num silêncio tumular que
parecia homenagear as vítimas da batalha ali travada. Ele
sabia que a luta havia apenas começado e a sua missão
teria avançado um único passo de uma longa e árdua
caminhada. Era guiado pelo próprio Senhor Supremo,
cuja voz fazia-se sempre presente quando necessário.




                                                      30
A Revelação ao Ferreiro



      Dias antes do ataque ao 1º reino...


        A noite parecia não ter fim. Um sono profundo,
sem sonhos, se alongava, mas o cansaço do dia ainda se
fazia presente. Uma luz feriu a escuridão dos seus
aposentos e dela um homem surgiu. Steylrork sentia que
tempos tenebrosos estavam por vir, contudo, a sabedoria
inata do seu coração o faria reconhecer um mensageiro
do Senhor Supremo em qualquer circunstância. Era um
anjo e ele preparou-se para ouvi-lo:

       —Diga-me a que vieste nobre mensageiro.
       —Venho declarar que tu, Steylrork, foste
escolhido pelo Senhor Supremo, para guardar a profecia
do Reino Unificado do Dragão dos Ventos Celestiais e
conduzir os homens de bom coração a cumpri-la.

                                                    31
—Perdoe-me! Mas sou apenas um velho ferreiro!
Como poderei cumprir tão honrosa missão?
       —Não há porque questionar os desígnios do
vosso Deus. Ele conhece a todos os corações e escolheu a
ti dentre eles, sabendo exatamente vossos limites e
virtudes...
       —Sei que não posso duvidar da sabedoria do meu
Senhor em escolher-me. Contudo, não encontro em mim
merecimento algum para tanto.

       O anjo esboçou um sorriso:

        —Não se trata de um prêmio, mas de um voto de
confiança que por certo eis merecedor. Alem disso esta
não é uma missão galgada em merecimentos meu caro! E
sim, num sacrifício pelo bem de todos os homens, pois ao
falharmos toda humanidade perecerá ante ao mal. Vosso
Deus confiou em vós, enviou-me para dar-lhe ciência da
sua suprema vontade e ouvir uma resposta, ele não irá
ferir-lhe o livre arbítrio ainda que custe a vida de todos...
        —Sei a quem devo minha própria existência e a
Ele, que me honra com sua divina confiança, jamais
negarei o meu sim. Estou pronto para o que foi decidido.

       —Face à resposta que me destes, deixo em vossas
mãos, por ordem do Senhor Supremo, a profecia do
desejado Reino Unificado do Dragão dos Ventos
Celestiais, traduzida no livro que agora te entrego. O
símbolo presente em seu interior é, na verdade, um
instrumento do poder que emana da luz, devendo ser
usado com sabedoria.

      O anjo tocou o ombro esquerdo de Steylrork, que
adormeceu subitamente...


                                                          32
Ao acordar, o ferreiro acreditou, por instantes,
que teria tido um estranho sonho, mas encontrou ao seu
lado um livro dourado...
       Contemplando aquele objeto notável, Steylrork
pode perceber a importância do que estava por vir. Ele
Estendeu a mão, segurou o livro, tocou com as pontas
dos dedos os seis brasões entalhados na capa e
reconheceu os símbolos dos cinco reinos ao redor de um,
desconhecido, que seria a representação do reino
unificado.
       Ao abrir o livro o ferreiro sentiu-se
repentinamente enfraquecido, como se algo roubasse lhe
as forças, contudo, em poucos instantes, recuperou-se.
Ele esperava encontrar orientações sobre os primeiros
passos da sua missão, mas percebeu que aquelas não
eram escrituras comuns. A maioria das folhas não
continha texto algum e, ao fundo, a contra capa escondia
o instrumento ao qual o anjo se referiu: um medalhão
com o símbolo do Reino Unificado. Surpreso Steylrork
contemplou uma escritura surgir, letra após letra, numa
folha que estava em branco...




                                                     33
Filho!

      És tu o meu escolhido!

      Vasculhei os reinos, procurando, e dentre
todos vos escolhi. Não me importam riqueza ou
poder, nobreza ou direito herdado. Estas são
preocupações dos homens.

       Vossa lealdade, honra e justiça é o que
desejo. Tão abundantes não encontrei nos reis ou
guerreiros, herdeiros ou nobres de toda a terra.
Forje a vitória para o vosso povo, como as
lâminas que Auryous lhes ensinara a forjar, e
verás que nada se perderá.

      Será tua esta difícil missão e se merecerdes,
perderás a vida, mas tua recompensa não lhe será
tirada jamais. Comece já a caminhada!

       Nas escrituras encontrarás o destino
correto, porem, os caminhos, deveis trilhar por si
mesmo. Minha voz o acompanhará se quiserdes
ouvir e irei carregá-lo quando vossas forças, por
fim, o deixarem.

      Confio em ti meu nobre ferreiro!
                                                34
Tudo estava claro. Steylrork entendeu que, mais
do que um livro, estava diante de um elo entre ele e o
Senhor Supremo, entre o mundo dos homens e as Terras
Celestiais. A mais importante das armas na guerra que se
anunciava. Deveria defendê-lo com a própria vida, usá-lo
com o máximo de sabedoria e tornar a vitoria possível
aos homens. Assim, prostrado ante ao poderoso objeto,
ele elevou uma prece ao seu Senhor:

       “Oh meu Supremo Senhor!
       Como podeis ser tão benevolente?
       Como posso honrar vossas palavras?
       Não sou nada!
       Não sou ninguém para merecer de ti, tal
honraria!
       Darei o meu melhor!
       Protegerei estas escrituras e este medalhão com
minha vida!
       Espero, com minha pequenez, poder honrar vossa
suprema confiança. Para que possamos livrar-nos do mal
que nos assombra e ter a paz tão sonhada.
       Estou aqui meu Senhor! Desejo servi-lo! Desejo a
honra de ser instrumento da vossa vitória!

       Assim seja!”



       Steylrork estava, por fim, certo da sua missão e,
desde aquela noite, começaram seus esforços para honrar
os desígnios do Senhor dos Homens, ainda que disso
dependesse sua vida...


                                                     35
Segunda Parte



        Na manhã seguinte o reino parecia acordar de um
terrível pesadelo. O povo recolhia os restos da batalha e
já iniciava a reconstrução do que fora destruído.
Steylrork partiu cedo para o castelo, como desejou o rei,
e, estando lá, foi chamado para uma reunião convocada
no intuito de tratar das questões prioritárias de segurança
para Olonstreek.
        O tema central da reunião logo se tornou evidente
para todos. A clara necessidade de reformulação da
estrutura de segurança do reino, vez que a antiga
estratégia foi superada pelos inimigos, resultando no
recente incidente. Ryanor, um homem jovem, sério,
corpulento e altivo, o chefe da guarda de Olonstreek,
sentindo-se responsável pelo acontecido reagiu
defensivamente:
                                                        36
— Majestade, se me permites discordar, gostaria
de posicionar-me contra a mudança de estrutura das
nossas defesas, pois creio que a invasão sofrida não teve
qualquer relação com as nossas táticas de segurança...
        — Ryanor! Estruturar as defesas de um reino é
obrigação do chefe da guarda, no entanto, aceitar a
estratégia proposta é da competência do rei. Assim, quero
deixar claro que vossa responsabilidade quanto ao ataque
não é menor do que a minha e a mudança que devemos
planejar não é uma afronta aos vossos esforços, mas uma
precaução para que não venhamos a sofrer outro ataque.

       Subitamente, Steylrork tomou a palavra. Os
nobres ali presentes, não conseguiam esconder a
sensação de que um intruso se interpunha em seus
assuntos. Gyllimond, por sua vez, aguardou atentamente
a posição do cavaleiro.

        — Senhor! Permita-me concordar com o nobre
chefe da guarda. Os planos do inimigo certamente estão
acima da estrutura de defesa do nosso reino.
        — Majestade! Nossos inimigos são renegados dos
cinco reinos celestiais, reunidos num exercito. Portanto,
me parece natural imaginar que os planos de vingança
desses malditos não se limitam a atacar-nos e certamente
existe a intenção de invadirem os outros reinos.

       Os presentes entreolharam-se reconhecendo as
razões expostas pelo ferreiro.

       — E então o que faremos contra a eminente
possibilidade de um novo ataque?

       Perguntou o rei:


                                                      37
— Algum dos presentes poderia sugerir algo
novo, que possa reforçar nosso potencial de defesa?

       Após um breve silêncio, Steylrork sugeriu:



       — Gostaria de sugerir que seja formado um
conselho entre os reinos, com o intuito inicial de
estabelecer diretrizes de cooperação e comunicação entre
as regiões e seus exércitos, viabilizando, assim, a ajuda
necessária quando da eminência de uma invasão por
parte dos renegados.

       A surpresa do rei Gyllimond era a mesma dos
outros membros da reunião. Como um simples ferreiro
poderia ser dotado de tão veemente sabedoria? Steylrork
estava completamente correto em seu julgamento e
mesmo os nobres, que não aprovavam sua presença,
viram-se obrigados a concordar com sua estratégia.

       — Creio que não precisamos debater sobre as
sabias palavras do meu nobre amigo. Providenciaremos
uma reunião secreta com as autoridades dos outros reinos
para que possamos chegar a um consenso a respeito da
possível formação de um conselho destinado à segurança
de todos. Que o Senhor Supremo nos ajude!




                                                      38
O Conselho Celestial



       Conselheiros reunir-se-ão almejando a paz.
São valorosos e honrados, mas suas forças não
são capazes de evitar o mal, pois traidores estão à
espreita e seus segredos serão conhecidos...




                                                39
Decidido a promover a formação de um conselho
composto por representantes dos cinco reinos, o rei
Gyllimond reuniu-se com Steylrork no salão real e, com
ele, chegou ao entendimento de que seria necessário
enviar, através de um mensageiro de extrema confiança,
comunicados secretos, endereçados exclusivamente aos
dirigentes dos respectivos reinos. Decidiram, contudo,
que os reais motivos deste encontro seriam revelados no
momento certo. Assim, o rei ordenou que um dos
soldados, postos às portas do salão real, fosse ao encontro
de Ryanor e o chamasse:

       — Meu Senhor! Em que posso lhe ser útil?
       — Ryanor! Prepare vosso melhor cavalo, pois
deveis partir ainda hoje aos outros reinos celestiais,
levando uma mensagem urgente, que devera ser entregue
nas mãos de cada dirigente e cujo conteúdo é
extremamente secreto.

       O chefe da guarda olhou para Steylrork, como
quem olha para um traidor. Em seus pensamentos teve a
certeza que aquele intruso desejava o prestígio que a ele
era devido...

        — Mas meu Senhor! Tenho diversos assuntos da
guarda para tratar, temos os melhores mensageiros das
terras habitadas e...
        — Não discuta minhas decisões, cavaleiro!
Confiei à ti esta missão e serás tu a cumpri-la!
        — Perdoe-me Majestade! Não quis parecer-lhe
insolente. Estarei a postos o quanto antes, se permitirdes,
irei preparar-me imediatamente.
        — Permissão concedida!

        Ryanor dispensou um último olhar ameaçador ao
ferreiro e retirou-se apressadamente do salão.
                                                   40
Steylrork dirigiu-se ao rei:

       — Meu Senhor! Creio que Ryanor sente-se
desafiado pela minha presença...
       — Não há do que se preocupar Steylrork! Ele
sente-se culpado pela invasão e acredita ter perdido o
meu apreço por falhar em proteger o reino, no entanto,
não percebe que dentre todos os cavaleiros tem minha
preferência e confiança.
       — Permita-me, Senhor, sugerir que deveis
esclarecer os fatos junto a Ryanor, em honra a confiança
que o tens. Ele pareceu-me decepcionado.
       — Entendo vossa preocupação Steylrork. Vamos
aguardar que ele retorne...

       Algum tempo depois o Chefe da guarda retornou
à Galatyans, sua expressam contrariada não deixava
dúvidas quanto ao seu pesar, mas a jovem manteve-se
obediente:

      — Está tudo preparado Majestade! Onde estão as
mensagens que levarei?
      — Sente-se cavaleiro!

      O rei estendeu a mão, entregando-lhe quatro
mensagens seladas:

        — Ryanor! Steylrork sugeriu-me que ao
mensageiro devesse ser concedido o direito de conhecer
o conteúdo das mensagens, portanto, abra e leia uma das
cartas!

       Ele hesitou:



                                                     41
— Estas são mensagens secretas e apenas os
homens presentes neste salão conhecerão seu conteúdo.
Leia filho!

         “Trata-se de assunto de extrema urgência para
todos os Reinos Celestiais! Eu, o rei Gyllimond de
Olonstreek, venho, por meio dessa mensagem, solicitar a
presença dos representantes de todas as regiões pacíficas
das terras habitadas, para uma reunião urgente e
totalmente secreta no palácio de prata. Trataremos de
questões que envolvem a segurança e a paz em toda a
terra.
         Creio que foram conhecidos, por todos, os
eventos ocorridos em Olonstreek. Ataques covardes que
vitimaram muitos homens de bem e quase destruíram
nosso querido reino. Temos razões para acreditar que este
foi apenas o primeiro incidente de muitos e que os vossos
territórios serão os próximos alvos. Espero encontrar-lhes
na próxima lua crescente e que o Senhor Supremo nos
conduza!”

      Após um breve silêncio, seguido de olhares
amigáveis entre os presentes Ryanor dirigiu-se ao rei::

       — Majestade! Posso entender a importância do
vosso envio e sinto-me honrado pela confiança que me
concedestes!
       — Tenho vossa permissão para partir?
       — Siga vosso caminho em paz, filho! Que o
Senhor Supremo o conduza!
       — Obrigado Alteza!

      — Sr Steylrork! Perdoe-me por tê-lo julgado mal.
Vejo que nosso rei o tem em alta conta e deveis ser
merecedor dessa honraria.

                                                       42
O ferreiro esboçou um sorriso e tocou o ombro do
jovem cavaleiro, em sinal de amizade...


        Ryanor tomou as mensagens e retirou-se do
palácio.
        Steylrork despediu-se do rei em seguida e
retornou à sua casa no vilarejo.
        Ao chegar à vila o ferreiro sentia um desejo
incontrolável de consultar o livro e suas mágicas
escrituras. Ele era atraído por aquele misterioso objeto,
sempre que houvesse algo importante a ser lido e a
agonia que o tomava só tinha fim após a leitura. Ao abri-
lo na última folha limpa, como esperado, uma nova
escritura começou a aparecer letra após letra...



        Ryanor seguiu veloz pelos caminhos dos reinos
celestiais e cumpriu sua missão entregando, nas mãos dos
dirigentes dos reinos, as mensagens do rei Gyllimond.
Ele esclarecia a urgência do encontro e a necessidade de
discrição quando da chegada à Olonstreek e todos se
comprometeram a comparecer ou enviar representantes
em segredo.
        No dia da primeira reunião do Conselho Celestial
os dirigentes ou representantes enviados, chegaram ao
reino do Metal sem serem notados e foram recebidos em
Galatyans, pelo próprio rei, com toda a discrição devida.
        Os trabalhos se iniciaram, mas Gyllimond
inquietava-se com uma ausência entre seus
conselheiros...




                                                      43
Esconda-se ferreiro!

      Vossa presença será requisitada, mas deveis
esconder-se por hora!

       És o principal conselheiro do rei e ele
sentirá vossa ausência, contudo vosso melhor
conselho será o silêncio.

      Não se trata de insolência ou covardia.
Nossas melhores armas devem estar fora do
alcance dos traidores.

      Não serás      visto   neste   dia,   nobre
conselheiro!




                                               44
...Acima dos interesses do conselho, Gyllimond
viu-se profundamente preocupado com o paradeiro de
Steylrork que jamais havia estado ausente, desde que se
tornara cavaleiro.
        O momento mais importante após a invasão de
Olonstreek havia chegado e o ferreiro simplesmente
desapareceu. O rei, não poderia ausentar-se para procurá-
lo pessoalmente, então, ordenou que seus soldados o
fizessem e o informasse imediatamente o que acontecera.
        A primeira reunião do Conselho Celestial atingiu
o quanto esperado. Os representantes retornaram aos seus
reinos com a mesma discrição que chegaram e ninguém
se quer percebeu o que havia ocorrido em Olonstreek.
        Os soldados enviados por Gyllimond não
encontraram Steylrork em lugar algum. A aflição do rei,
e da rainha, quanto ao seu paradeiro, perdurou até o
amanhecer do dia seguinte, quando o ferreiro chegou ao
castelo, à passos largos:

       — Meu Senhor e Senhora! Perdoem-me a
ausência durante a reunião do Conselho.

      Steylrork curvou-se diante do rei e da rainha com
uma expressão de arrependimento e pesar:

      — Meu amigo! Onde esteve? Estávamos aflitos
com o vosso desaparecimento. O que houve afinal?

       Disse Zayra, enquanto erguia          o   ferreiro,
gentilmente, segurando-o pela mão.

         — Perdoe-me Majestade não tive a intenção de
afligi-los, mas assuntos urgentes me detiveram por todo o
dia.

       O rei, irritado, olhando-o fixamente indagou:
                                                       45
— Qual seria este assunto tão importante que o
tiraste de vossas responsabilidades de cavaleiro, deixado
o rei e a rainha de Olonstreek sem notícias do vosso
destino?

       — Entendo vossa revolta, meu Senhor! E espero
minha justa punição, mas o assunto que me deteve é um
segredo que nem mesmo à família real me cabe revelar.

       O rei estava aturdido com a coragem daquele
homem. Não via temor nos olhos sinceros do ferreiro,
apesar da iminente punição que ele poderia receber por
ter deixado suas obrigações reais, em nome de um
segredo que não pretendia revelar.
       Gyllimond pôs-se a lembrar de como conhecera
Steylrork, como deparou-se com o salvador da sua amada
rainha. A espada em punho preparada para defendê-la
novamente, caso fosse necessário; o olhar de um grande
guerreiro vitorioso enviado para estar ali naquele exato
momento. Lembrou-se também da sabedoria que ele
demonstrara ao sugerir a formação do Conselho Celestial
e, por fim, entendeu que estava sendo conduzido, por
aquele homem humilde:

       “Steylrork é mais do que um cavaleiro de
Olonstreek. É um enviado do próprio Senhor Supremo e
está a nos conduzir desde a invasão, não me cabe
recriminá-lo, nem saber mais do que me é permitido.”
Pensou Gyllimond, mudando de atitude.

       — Não irei puni-lo cavaleiro, pois meus olhos
começaram a se abrir e posso imaginar o valor do vosso
segredo. Esperarei o tempo em que poderás confiar-me
vossos mistérios Steylrork e estou feliz por ver que estais
bem, meu amigo!

                                                        46
— Eis generoso como nenhum outro rei nascido
nesta terra meu Senhor! Muito obrigado pelo vosso
perdão!

        A rainha não pode entender como Gyllimond
mudara de atitude tão repentinamente, contudo, num
sorriso, demonstrou sua aprovação vez que nunca
desejara que o ferreiro fosse punido.

        O Conselho Celestial estava formado desde então,
e foi estabelecido no primeiro encontro que cada reino
escolheria quatro mensageiros destinados ao envio de
comunicados urgentes, solicitando reforços rápidos
quando da iminência de ataques. Ficaram também
estabelecidos códigos de comunicação por meio de sinais
luminosos, com os quais seria possível responder às
solicitações e até mesmo avisar da impossibilidade de
cumprimento do tratado de cooperação à distância.
Outras reuniões foram pré-estabelecidas e ocorreriam em
cada um dos outros reinos segundo agendamento prévio,
ocasiões em que seriam atualizadas as informações sobre
a segurança de todas as regiões pacíficas das terras
habitadas.




                                                     47
As Crianças de Olonstreek



      São duas as crianças. Deveis escondê-las
em vosso lar. Proteja a mãe como será pedido e
ajude quando ouvir a súplica. Uma nascerá em
vossos domínios e a outra lhes será enviada.
Reúna-as, pois são vossas, tanto quanto do rei e
da rainha. Escolherás seus nomes e protegendo-as
enganaras o oponente, pois no silêncio da
tempestuosa noite os olhos do inimigo nada
verão...

      Salve-as ferreiro!


                                             48
A batalha que quase vitimou a rainha e a criança
que ela trazia no ventre, tornou a segurança da família
real, mais do que nunca, a prioridade no reino do metal.
        Os renegados capturados, após a invasão, foram
interrogados diversas vezes pela guarda de Olonstreek.
Ryanor tencionava colher informações sobre o exercito
inimigo e suas intenções futuras. Ele descobriu que
existiam planos concretos de impedir que a criança real
viesse ao mundo, que este fora o verdadeiro motivo do
ataque e que o contingente inimigo era muito maior do
que fora visto.
        Por essa razão o Rei Gyllimond, resolveu
esconder Zayra em um lugar onde ninguém imaginaria
que ela pudesse estar. Ele convocou Steylrork para uma
reunião urgente:

       — Steylrork! Preciso da vossa ajuda.

       O ferreiro prontificou-se:

        — Meu Senhor! Diga-me em que poderei ser útil.
        — Preciso que escondas Zayra em vossa casa, até
o nascimento da nossa criança. Descobrimos que a
intenção dos invasores era a morte da rainha e do bebê e,
por isso, temo a possibilidade de um novo atentado.
        — Minha casa será abençoada pela honrosa
presença da vossa família, meu Senhor! Não se preocupe,
pois protegerei a rainha com a minha vida!
        — Vos agradeço meu amigo! Terás minha
confiança para esta missão. Meus melhores homens
estarão vigiando secretamente a vossa casa.



                                                      49
Na noite seguinte a Rainha foi levada, sobre
disfarce, para a casa de Steylrork. Apenas os homens de
confiança do rei e a serva da rainha sabiam onde Zayra
iria permanecer até o nascimento da sua criança.
        O pequeno Chalé onde o ferreiro vivia, dispunha
de apenas um aposento onde ele se recolhia para dormir.
Era realmente confortável e mantinha-se impecavelmente
organizado, com moveis entalhados pelas suas
habilidosas mãos. Ele preparou sua casa para a chegada
da rainha e a recebeu com toda reverência devida:

       — Minha Senhora, perdoe-me o desconforto do
meu lar. Farei o melhor para reduzir o incomodo destas
humildes instalações.
       — Steylrork, meu amigo! Vossa segurança e
lealdade é todo o conforto de que preciso. Agradeço-vos
por me abrir as portas da vossa casa.

       Zayra entrou no chalé e foi conduzida por
Steylrork aos aposentos onde ficaria escondida até o final
da gestação, como planejado pelo rei.

        O ferreiro então começou a dedicar-se ao serviço
e proteção da bela rainha e sua criança que em alguns
dias, viria a nascer. Zayra sentia-se bem, em segurança, e
Steylrork mantinha-se vigilante. Ele avisaria ao rei
quando a hora do nascimento estivesse próxima, para que
Elga, a fiel serva da rainha, viesse acompanhar o parto.
Enquanto este dia não chegava, cabia à Elga fingir que
Zayra mantinha-se indisposta nos aposentos reais, para
que todos em Olonstreek acreditassem que ela
permanecia no castelo, o que ela cumpriu sabiamente.
        Alguns dias se passaram e o plano de Gyllimond
funcionava plenamente. Ninguém, em todo o reino,
imaginara que a rainha não estava recolhida no palácio.
A invasão esperada não ocorreu, mas Ryanor reforçou as
                                                       50
tropas na fronteira do reino, evitando ser surpreendido
novamente.
        Uma tempestade quebrava o silêncio da
madrugada, quando Steylrork ouviu uma voz que o
chamava do lado de fora da casa. Ele imaginou saber do
que se tratava, mas, precavido, tomou sua espada nas
mãos e cuidadosamente abril a porta. Ninguém o
esperava, porém, ao chão, havia um cesto com uma
criança que curiosamente não chorava, embora estivesse
ao relento.
        O ferreiro sorriu, olhando para criança e,
lembrando-se do que havia lido nas escrituras, trouxe-a
para dentro. Enquanto fechava a porta ele ouviu um grito
que vinha do interior da casa. Zayra chamava-o, pois já
estava em trabalho de parto, porem, algo não corria bem
e ela clamava por sua ajuda:

       — Steylrork, aproxime-se! Está na hora, mas há
algo de errado! Temo pela vida da minha criança! Ajude-
me, por favor!
       — Acalme-se minha Senhora! Estou aqui e irei
ajudá-la! Não temas mal algum, pois o Senhor Supremo
está conosco neste momento!

       A urgência impedira Steylrork de chamar por
Elga. Teria, ele mesmo, que auxiliar o nascimento do
bebê, em detrimento das convenções sociais que
proibiam os homens de presenciar tais ocasiões. Ele não
sabia como proceder. Tentou, então, lembrar-se das
mulheres do vilarejo que se reunião para ajudar umas às
outras quando uma criança estava para nascer e, muitas
vezes, narravam seus feitos aos amigos.
       Num esforço, o ferreiro lembrou-se de um
episódio narrado por uma de suas vizinhas que,
detalhadamente, explicou como conseguira salvar um
bebê que não estava na posição correta para nascer. Ele,
                                                     51
entendendo que se tratava de situação semelhante,
dirigiu-se à rainha explicando o que parecia estar
havendo.

       — Senhora! Creio que o vosso bebê não está na
posição correta para nascer e precisará de ajuda
       — Ajude-me meu amigo! Faça o que for preciso,
mas salve minha criança!

        Steylrork, munido das bênçãos do Senhor
Supremo e imitando as parteiras do vilarejo, reposicionou
a criança que nasceu em seguida. A rainha, exausta,
desfaleceu, perdendo os sentidos, logo que pode ouvir o
primeiro choro do seu bebê.
        O ferreiro recordou-se de tudo que havia lido nas
escrituras para aquele dia. Ele sabia que Zayra ficaria
bem, após um merecido descanso. Sabia, também, que os
destinos daquelas duas crianças, que agora se
encontravam na sua humilde casa, estavam selados e
entrelaçados para sempre. O Senhor Supremo mais uma
vez o mostrara como agir e ele assim o fez.
        Tudo corria como esperado e Steylrork
contemplava as belas crianças que tranquilas dormiam,
alheias, a tudo que estava por vir, a todo o mal que
enfrentariam no futuro incerto dos homens das terras
habitadas.
        Zayra acordou chamando:

       — Steylrork! Traga-me meu bebê!

       Ele hesitou por um instante olhando para as
crianças. Então, tomou uma delas nos braços e levou até
a rainha.



                                                      52
— Aqui está minha Senhora! Veja que bela
princesa o Senhor Supremo lhe enviou! É certamente a
mais bela que a terra já conheceu!
       — Obrigada meu amigo! Mais uma vez salvaste
nossas vidas.
       — Estarei sempre aqui minha Senhora! Agora
queira descansar com vossa criança. Chame quando
precisar.

        A manhã, finalmente, chegou e a rainha logo quis
saber da outra criança que ali se encontrava. O ferreiro
explicou a “incrível coincidência” que ocorrera naquela
madrugada tempestuosa e ambos concordaram que,
certamente, tratava-se de um sinal divino. Ele jurou
cuidar e proteger o bebê que havia sido deixado em sua
porta, bem como, a criança que nascera em sua casa.
        Zayra tomou em seus braços o outro bebê que ali
estava. Era um belo garoto aquele que desde então,
tornara-se filho do seu amigo ferreiro. Ela levou-o para
seus aposentos e, num gesto digno da bondosa rainha de
Olonstreek, pôs-se a alimentá-lo junto à princesa.

       Tudo havia ocorrido conforme a vontade
suprema, Steylrork cumprira sua missão e era chegada a
hora de avisar ao rei sobre o acontecido. Ele convocou o
soldado que montara guarda durante toda a noite, a
alguns metros de sua casa, e ordenou que fosse ao castelo
avisar ao rei que seu bebê havia nascido durante aquela
madrugada, que Rainha Zayra e a Princesa, estavam bem
e aguardando sua visita.
       Em pouco tempo o rei Gyllimond chegou à casa
do ferreiro, aflito, em busca de notícias sobre o que havia
acontecido:

       — O que houve Steylrork! Por que não nos avisou
que a hora havia chegado?
                                                    53
O Ferreiro conhecia as convenções do seu tempo,
sabia que não deveriam estar presentes durante o
nascimento de uma criança e que, como regra de conduta,
um homem que ousasse presenciar o nascimento de uma
princesa poderia pagar com a vida perante a sociedade.

        — Meu Senhor! Perdoe-me, mas havia algo de
errado e temi pela segurança da vossa família, caso me
ausentasse. Obriguei-me, portanto, a auxilia-la durante o
parto, a despeito das nossas convenções.

       Gyllimond, no entanto, era naturalmente avesso à
maioria das convenções preconceituosas da sociedade
antiga e não estava preocupado com quem auxiliou o
nascimento de sua pequena princesa desde que ela e a
rainha estivessem em segurança.

       — Não se envergonhe meu amigo! Tudo
certamente correra conforme a vontade do Senhor
Supremo. Estou feliz por encontrar minha família em
segurança! Esta é apenas mais uma das dívidas que temos
para convosco.

      — Obrigado por vossa confiança, Majestade!
Deixe-me levar-lhe à vossa bela família.

       Gyllimond cumprimentou Zayra e falou sobre o
quanto estava feliz por vê-la bem. Depois tomou sua filha
nos braços, com profunda emoção:

       — Minha bela princesa, minha vida e meu reino
são teus. Terás das mãos de vosso pai, tudo o que
precisar para ser feliz e prometo que o serás, como
nenhuma outra princesa em toda historia dos homens.


                                                      54
Steylrork retirou-se deixando a família real, em
comemoração. Ele pôs-se a cavalgar em meio aos
pensamentos que o tomavam. Imaginava o futuro
daquelas pobres crianças que conhecera durante a noite
passada, os desafios que estavam por mudar suas
inocentes vidas e todo horror da guerra que viria. Seu
coração estava agora em conflito, entre o desejo de
protegê-las, a qualquer custo, e a obrigação de deixa-las
seguir o perigoso caminho pré-determinado em nome da
profecia que guardava. Mas, o ferreiro logo recuperou a
razão, entendendo que o melhor caminho já havia sido
traçado pelo próprio Deus e que ele amava aqueles
pequenos muito mais do que qualquer homem que os
tentasse proteger.
        Voltando à sua casa, ele fora informado de que o
rei procurava-o:

        — Estou aqui Majestade! Em que posso ser útil?
        — Steylrork! Zayra deixou-me a par da inusitada
história que ocorreu esta noite e me parece claro que tu
recebeste um presente das mãos do Senhor Supremo.
Saibas que é da nossa vontade que a rainha possa
alimentar vosso filho enquanto bebê. Dou-lhe minha
palavra que esta criança será protegida e tratada como o
mesmo zelo e cuidado que terá a princesa. Sei que não
queres residir no palácio, mas creio ser importante que
permaneças conosco até que vosso filho não necessite
mais dos cuidados da Rainha.
        — Agradeço tuas promessas Majestade!
Agradeço também a ti, minha Senhora, pela bondade de
alimentar meu pequeno menino. Será uma grande honra
residirmos, pelos próximos meses, em Galatyans, Alteza!

      A Rainha então tomou a palavra para anunciar
uma decisão que tomara junto ao rei:

                                                      55
— Decidimos que vos daríamos o direito de
escolher o nome da princesa, já que foste tu que a ajudara
a nascer.
        — Senhor! Como será possível, um simples
ferreiro ser detentor de tal honraria?
        — Tu és cavaleiro de Olonstreek Steylrork e
ainda que não o fosse, tens a nossa gratidão e amizade!
Acaso a família real não tem o direito de ter um amigo?
        — Naturalmente Majestade! Tenho grande
felicidade por ostentar vosso apreço!
        — Há alguns dias tive um sonho e ele uma
criança, uma bela menina, era conduzida pela mão por
um anjo de Deus que a chamava de Zaradyk. Imaginei
que este poderia ser o nome de vossa princesa, minha
Senhora!

       O rei tomou a palavra:

       — És mesmo um homem ungido, Steylrork! Falas
de um sonho profético com tal simplicidade que nos
parece uma rotina para vós, receberdes mensagens do
próprio Senhor Supremo. Sonhastes com a nossa princesa
e assim ela será chamada!

       A rainha, num sorriso, concordou:

       — É um belo nome meu amigo! Mas afinal como
será chamado o vosso menino?
       — Meu pai chamava-se Auryous. Chamaremos
meu filho de Auryousrork, para que ele seja maior que os
homens que o precederam.

       Saíram todos do vilarejo em direção ao castelo. A
rainha cuidaria, desde então, das duas crianças e
Steylrork empenhara-se em protegê-las diariamente no
Palácio de Prata!
                                                      56
A Transformação
         O renovado Exército do Vale Evilkeerts




     Tolos Ambiciosos!

      Sedentos por vingança. A cobiça, maldade
e ambição, os destruíram.

      Pensaram encontrar poder no tenebroso
Myrior, mas, na verdade, entregaram-se como
escravos e perderam suas almas.

     Tolos Perversos!


                                            57
Jamais serão vitoriosos, pois o lago
destruiu seus corações e as corpulentas aberrações
não verão a luz que as devolverão às cinzas...




                                               58
Depois do ataque frustrado, o exército dos
renegados assumiu a busca por meios de se recompor,
para continuar com o ambicioso plano de dominar o 1º
reino, repartindo entre os membros, suas riquezas.
        Noravox, o líder do exército Evilkeerts, era um
conhecido membro da nobreza do reino do metal, um
assassino banido por seus crimes. Quando jovem,
sonhara tornar-se um cavaleiro real, porem fora
desqualificado devido ao comportamento violento e
leviano. Depois, ele direcionou seus esforços contra as
riquezas reais, sendo preso e julgado pelo assassinato dos
soldados que o flagraram tentando roubar metais
preciosos em Olonstreek. Seu ódio contra o 1º reino o
levou a organizar o exército e a ofensiva contra o palácio
real, mais o primeiro fracasso o fez crer que precisaria de
ajuda para tornar possíveis seus planos de vingança.
Noravox buscou nas forças ocultas o poder necessário
aos seus propósitos e desde então aliou-se ao Senhor das
Trevas (Myrior).
        Aquele exército que antes servia aos propósitos de
riqueza e violência eminentemente humanos, agora
serviria ao mal, destinando-se a aniquilar a humanidade e
estabelecer o domínio das trevas.
        O poder maléfico de Myrior estava concentrado
nas águas lodosas, represadas em um lago situado ao
centro do Vale Evilkeerts, o Lago Myrior. Os soldados
merecedores, após serem testados, banhavam-se nestas
águas e aos poucos se transformavam em feras
abomináveis, com força e estatura descomunais.
Tornavam-se humanoides aberrantes e disformes, que,
com extrema facilidade, aniquilariam um homem
comum.
        Diante de tamanho poder, o potencial de
persuasão para o recrutamento de novos soldados,
advindos de todos os reinos, crescera na proporção em
que ficava clara a possibilidade de vitória contra soldados
                                                         59
comuns, o que propiciou o desenvolvimento rápido e
contínuo do transformado exército do Vale Evilkeerts. A
partir destes renegados viria a guerra, a morte e a
destruição contra os homens e seus reinos, que
preparados ou não, defender-se-iam ou pereceriam ante a
luta pela vida.




                                                    60
As Pequenas Espadas



       ...Deixe-as brincar! Deixe-as crescer! Mas
instrua e ensine o quanto antes, vez que logo
precisarão.

       Proteja-as também! O mal espreita em
silêncio. Ficai atento à minha voz e aos sinais, no
entanto, permita-as alguma ousadia, pois devem
aprender depressa a ter coragem.

     Que as pequenas espadas sejam
desembainhadas para a surpresa do inimigo, às
margens dos rochedos de Olonstreek...


                                                61
De volta à Galatyans, a família real, o ferreiro e
seu filho, acomodaram-se, enquanto o chefe da guarda
estabelecia, junto à Gyllimond, diretrizes de segurança
para a pequena princesa. Estabeleceu-se, na ocasião, que
os soldados de maior confiança do rei e o próprio Ryanor
fariam um revezamento guardando a integridade do bebê
e está era a mais importante missão do exército real
desde então, gozando de prioridade sobre quaisquer
outra.
        O pequeno Auryousrork, como prometido,
recebera os mesmos cuidados oferecidos à princesa. A
rainha o tratava com carinhos de mãe e seu pai, Sr
Steylrork, não escondia a grande honra que sentira ao ver
o zelo real pelo menino.
        Com o passar do tempo os bebê tornaram-se
pequenas crianças e apesar dos esforços do rei e da
rainha, em manter Steylrork e seu filho no palácio,
chegou o dia em que eles voltaram para a vila. Os
comentários sobre a amizade verdadeira entre a família
real e a pequena família do ferreiro corriam por todo o
reino.
        As crianças cresciam em segurança e embora
Auryousrork e seu pai não residissem mais no castelo,
estavam sempre presente. Steylrork ensinava-os
secretamente suas técnicas de combate e os professores
das artes da guerra, estranhavam as capacidades inatas
daquelas crianças.
        Zaradyk encantava a todos com a beleza dos seus
curiosos olhos azuis, emoldurados por seus cabelos
louros como o ouro de Olonstreek e muitos nobres já
sonhavam em unir um dos seus filhos à bela princesa que
ela certamente se tornaria.
        Auryousrork parecia o prelúdio de um grande rei.
Tinha o olhar imponente de um guerreiro, incomum para
uma pequena criança. Seus olhos eram castanhos, seus

                                                       62
cabelos negros e o corpo infantil já ensaiava o porte
atlético que mais tarde ostentaria.
        Eles eram amigos inseparáveis. Divertiam-se,
aprendiam e cresciam juntos, a despeito do preconceito
velado que os nobres conservadores de Olonstreek
nutriam contra o amor inocente que os unia...




                                                   63
— Crianças! Cheguem mais perto, quero contar-
lhes uma história antiga.

        Eles aproximaram-se para escutar o ferreiro.
Zaradyk poderia ouvir as historias de Steylrork durantes
horas, sem parar. Ela permanecia atenta a suas palavras e
queria sempre saber mais sobre o passado do seu povo.
Auryousrork, por outro lado, estava sempre impaciente
nestas ocasiões, não queria desperdiçar o tempo dos seus
treinamentos de combate para ouvir seu pai falar das
velhas batalhas que nem mesmo ele havia presenciado.
        Naquele dia Steylrork decidiu falar sobre a antiga
lenda do reino unificado:

        — Escutem crianças! Está é a mais importante
historia que vossos pequenos ouvidos conhecerão!
        — Há muitos séculos atrás, um conflito pôs fim à
paz que, desde sempre, imperava nas Terras Celestiais.
Havia um anjo chamado Myrior, que gozava de um
grande prestígio para com o Senhor Supremo. Ele
detivera a confiança do seu Senhor e o respeito de todos
os que conviviam no Palácio Celestial. Um dos seus
principais trabalhos consistia no cuidado para com os
magníficos animais do reino, nossos temíveis dragões...

       Zaradyk não pode conter-se e interrompeu:

       — Mas tio Rork! Como criaturas tão más
poderiam habitar o Palácio Celestial?

      Auryousrork continuou perdido em                seus
pensamentos, alheio a historia narrada por seu pai.

       — Nem sempre foi assim Zara. Os dragões eram
seres pacíficos no antigo lar Celestial.
       — E o que aconteceu com eles então tio Rork?
                                                    64
— O anjo Myrior rebelou-se contra o Senhor
Supremo. Ele acreditava que poderia assumir o reino,
sobrepujando o poder de Deus, mas foi banido dos
Domínios Celestes e precipitado ao centro do Continente
Habitado, trazendo consigo os dragões que viviam sob o
seus cuidados.

       Auryousrork perguntou:

        — Mas porque este tal anjo traidor não tomou
para si os cinco reinos? Se ele possuía os dragões, quem
poderia vencê-lo no continente habitado?
        — Hora! Vejo que finalmente interessou-se pela
história pequeno guerreiro!
        — As batalhas entre os homens e o anjo traidor,
com seu exercito de dragões, aconteceram em seguida
Auryousrork! No entanto, os homens conquistaram a
liberdade e o próprio Senhor Supremo aprisionou o
inimigo em um lago ao centro do Vale Evilkeerts. Mas já
lhes falei sobre as batalhas entre os homens e os dragões,
em outra ocasião meu filho, tu não te lembras?

        Zaradyk olhou para Auryousrork e sorriu com
certa ironia. Ele retribuiu o sorriso e deu de ombros.
Steylrork continuou:

         — Após aprisionar o anjo traidor o Senhor
Supremo prometeu aos valentes guerreiros que traria à
terra, num futuro próximo, um reino unificado. Este seria
alcançado por intermédio do Dragão dos Ventos
Celestiais, símbolo da bondade e justiça, contrários ao
terror trazido por Myrior e seus dragões corrompidos.
         — Esta fora a promessa do Senhor Supremo aos
homens daquele tempo. A formação do Reino Unificado
do Dragão dos Ventos Celestiais.

                                                       65
Zaradyk sentia que tudo aquilo era verdade e pôs-
se a imaginar quando a promessa seria cumprida.
       Auryousrork, por sua vez, manteve-se incrédulo.
Eram apenas lendas antigas e ele não tinha tempo a
perder com histórias. Precisava aprender a combater, pois
só assim poderia tornar-se cavaleiro como seu pai.



        As crianças haviam completado treze anos
quando decidiram explorar as fronteiras de Olonstreek.
Zaradyk não era uma menina comum e os perigos aos
quais estava exposta a aprisionava em seus próprios
domínios. A família real jamais a deixara sozinha, desde
que nasceu, e Auryousrork, seu companheiro inseparável,
também sofria as consequências da proteção excessiva,
por parte da guarda real.
        Eram crianças felizes, mas ansiavam por
liberdade. Zaradyk suplicara a ajuda de Auryousrork que,
apesar de tentar dissuadi-la da ideia, por respeito ao seu
pai e ao rei, terminou por ceder ao poder de persuasão
que ela exercia sobre ele e a ajudou na fuga rumo às
fronteiras do reino.
        Assim que o desaparecimento da princesa foi
descoberto e a notícia chegou ao conhecimento do rei
Gyllimond, um alerta de segurança foi ordenado e
tornou-se prioridade máxima para todo o exército, o
resgate da princesa em segurança. Pouco tempo depois,
Steylrork chegou à Galatyans e disse ao rei que Auryous
também havia desaparecido.
        As crianças seguiram escondendo-se dos soldados
que os procuravam e, a cavalos, rumaram em direção à
cadeia rochosa que limitava o reino do Metal. Próximos à
fronteira de Olonstreek, avistaram soldados que saiam
dos seus postos para reforçar as buscas e decidiram

                                                       66
esconder-se em uma das cavernas que limitavam os
domínios do reino.
       A princesa e seu companheiro eram mesmo
especiais. Mais inteligentes, corajosos e hábeis nas artes
da guerra, do que quaisquer outra criança nascida nas
terras habitadas. No entanto, os riscos escondidos por
traz das fronteiras dos Reinos Celestiais eram
verdadeiros. Zaradyk e Auryousrork não poderiam
imaginar os perigos que os rondava silenciosamente pelo
simples fato de atravessarem as fronteiras de Olonstreek.
       Enquanto isso, no palácio, Steylrork conversava
com Gyllimond e Zayra sobre o que ele achava que teria
acontecido:

       — Senhora. Percebi que Zara tem estado
incomodada com a proteção da guarda real, acredito que
ela e Auryous possam ter despistado a guarda e tenham
fugido juntos.

        O rei, que acompanhava atento o que dizia o
ferreiro, perguntou aflito:

        — Steylrork! Tens alguma ideia de em que parte
do reino as crianças possam ter ido?
        — Senhor! Temo que devamos procurar na
fronteira rochosa. As crianças nunca esconderam a
curiosidade sobre o que há através da floresta Cinzenta.
        — Mas Steylrork! Os guardas protegem a
fronteira, a todo o momento...
        — E todos estão preocupados com as buscas da
princesa.
        — Tens razão. Não temos tempo a perder!
Vamos procurá-los agora mesmo! A floresta é muito
perigosa e se eles conseguiram despistar os guardas no
castelo, saberão fazer o mesmo com os da fronteira. Por

                                                       67
fim, seguiram depressa para os limites da fronteira
rochosa de Olonstreek o rei, os soldados e o ferreiro.



        Após despistarem os soldados, as crianças
deixaram os cavalos numa caverna e seguiram andando
até os limites do reino. Passando a fronteira rochosa eles
logo avistaram a imensa e sombria Floresta Cinzenta que
protegia a região dominada pelo mal, o Vale Evilkeerts.
Curiosa, a princesa sugeriu:

       — Auryous! Vamos chegar mais perto da Floresta
de Nágora. Será que conseguiríamos chegar até o Vale
Negro, deve ser assustador, não é...
       — Zara! Creio que já fomos longe demais.
Viemos para o lado de fora do reino como era vosso
desejo. Entrar nos domínios do mal, já seria loucura!
Tens ideia de quantos soldados de Olonstreek
desapareceram neste lugar? Não entrarei nessa floresta e
nem a deixarei arriscar-se mais.
       — Mas Auryous nós somos...

        Um homem ameaçador, muito estranho, com
cicatrizes por todo o corpo, interrompeu o diálogo entre
os meninos, segurando a princesa pelo braço. Tratava-se
de um ladrão banido pelo 1º reino que, no entanto, ainda
não teria sido aceito pelo exército inimigo. Quando
reconheceu Zaradyk, ele decidiu levá-la com o intuito de
ser aceito por Noravox em reconhecimento ao seu feito.
        Auryousrork partiu decidido em direção ao
homem que soltando a princesa o empurrou contra o
chão.
        Zaradyk desembainhou sua pequena espada e
ameaçou o ladrão. Ele sorriu sarcasticamente e ergueu
sua espada contra a princesa. Habilidosa ela bloqueou o
                                                      68
golpe e num giro, contra golpeou o inimigo ferindo-o no
ombro direito. O homem, furioso, desferiu outro golpe
frontal, que Zara novamente bloqueou, porém foi lançada
ao chão devido à violência do ataque, deixando cair, à
distancia, sua pequena espada.
        O inimigo já não tencionava levar a princesa com
vida. Decidira ataca-la com toda sua fúria, avançando
contra ela, com a espada erguida sobre a cabeça.
Surpreendendo-o, Auryousrork o impediu, saltando e
cortando-lhe a mão direita, com a lâmina perfeita que
Steylrork forjara para ele.
        O homem, ferido, fugiu em direção a Floresta
Cinzenta. Enquanto Auryous ajudava Zara a se levantar,
pode perceber o grande contingente do exército de
Olonstreek que corria na direção deles. Ele sentiu-se
finalmente salvo daquele malfeitor e confortou a princesa
que chorava assustada.
        O rei, ao longe, chamou Zaradyk que correu para
abraçá-lo:

       — Pai, por favor, perdoe-me! Eu só queria um
tempo longe do controle da guarda. Vossos soldados não
me deixam sozinha nem um instante.
       — Minha filha. Tu és a princesa do reino do
Metal. Muitos malfeitores querem ferir-lhe e, assim, ferir
vosso reino. A proteção da guarda é necessária mesmo
que lhe incomode.
       — Quanto a vós Auryous! Vimos o que fez e lhe
sou grato por ter protegido minha filha...
       — Auryousrork!

       Disse o ferreiro, num tom ameaçador.

       — Que ideia foi essa de fugir com a princesa?


                                                       69
O menino, ainda assustado, abaixou a cabeça num
gesto de submissão.

       O rei interferiu:

     — Steylrork, não é o momento para exortações.
Vamos levar as crianças para o Galatyans.

       O ferreiro balançou a cabeça, discretamente, num
gesto afirmativo dirigido ao rei. Seus olhos, porém,
continuaram a exortar o garoto por todo o caminho de
volta.
       Foram todos juntos ao palácio encontrar a rainha
que aguardava, aflita, por notícias das crianças. Ela
correu ao encontro de Zaradyk, e ao perceber o ar de
culpa nos olhos do pequeno Auryousrork, estendeu os
braços chamando-o para que ele também a abraçasse.
       Em seguida o rei tomou a palavra:

       — Crianças! Perceberam o risco que se
expuseram? Entenderam por que não podem ficar sem a
proteção da guarda, sobretudo, fora dos domínios reais?

       Auryous respondeu:

       — Sim meu Senhor! Peço-lhe que me perdoe! A
culpa foi toda minha. Aceitarei o meu castigo...
       — Conheço bem minha filha, Auryousrork, e sei
que ela deve ter lhe convencido a ajudá-la. Sei também
da grande amizade e cuidado que tens por ela e, por isso,
não vejo motivo para lhe atribuir toda a culpa do
ocorrido. Quanto à punição para os dois, creio que o
susto com o ataque que sofreram fora suficiente até o
momento. Assim aproveito para pedir ao amigo Steylrork
que não atribua punição ao vosso filho.

                                                      70
Na realidade, Auryousrork tornou-se hoje, como o
vosso pai, um dos nossos heróis. Diante dos nossos
olhos, este corajoso menino, munido de sua pequena
espada, protegeu a princesa, salvando-lhe a vida.
        Steylrork esforçou-se para disfarçar o orgulho que
sentira. E num breve sorriso, evitou que seu filho
percebesse que já estava perdoado.
        Em seguida o rei ordenou que Auryousrork se
aproximasse e ajoelhasse perante ele, para que pudesse
dar-lhe a honraria de cavaleiro real.
        Auryous, incrédulo, ajoelhou-se. Como num
sonho o menino, contemplou o rei tomar sua espada e
tocar-lhe os ombros tornando-lhe o mais jovem cavaleiro
de todos os reinos da terra:

        — Auryousrork! A partir deste momento vossa
vida estará marcada pela missão de honrar Olonstreek e
seu povo. Ser um cavaleiro real exigi senso de justiça,
coragem, força e lealdade. Entrego-lhe esse título porque,
ao proteger a princesa, tu provaste o vosso valor e o
merecimento desta grande responsabilidade.
        — Agora, dar-lhe-ei vossa primeira missão.
Deverás continuar vossos estudos com Zaradyk,
protegendo a ela e a si mesmo, sem faltar com a
obediência a vosso sábio pai, Sr Steylrork.
        — Perdoe-me meu Senhor! Mas se agora sou
cavaleiro real, porque então continuarei fazendo o que
sempre fiz.
        — Filho! Cada cavaleiro deve honrar a obrigação
que lhes for confiada, não importando qual seja. Vossa
missão é a mais importante dentre todas que já ordenei:
cuidar do maior dos meus tesouros, a minha querida
filha. Sei que tu sempre cuidaste de Zaradyk com muito
zelo e carinho, meu desejo é que continue agindo assim.

       O garoto respondeu com firmeza:
                                                       71
— Podes contar comigo meu Senhor! Defenderei
a princesa, se preciso, com minha vida...
        — Quanto a vós, Zara! Deveis lembrar-se do
quanto a segurança de Auryousrork nos é importante.
Portanto, lhe caberá à obrigação de não permitir que
vosso amigo precise arriscar a vida para tirar-lhe de outra
situação que possas evitar.
        — Eu entendo o que me dizes meu pai! Quero
agradecer, diante de todos, ao meu amigo Auryousrork,
por ter me ajudado, e prometo não colocá-lo em risco
outra vez. O Senhor, minha mãe e meu tio Steylrork têm
a minha palavra.
        — Eu, o rei Gyllimond, declaro-me satisfeito com
os rumos desta reunião. Que o Senhor Supremo receba e
faça cumprir, minhas palavras, as palavras da rainha, as
promessas feitas pela princesa Zaradyk e pelo cavaleiro
real Sr. Auryousrork.

        Com o fim da reunião, Sr Steylrork aproximou-se
do rei falando em particular:

       — Senhor! Entendi o que fizeras ao meu filho e
quero agradecer-lhe.
       — Não me agradeça por isso, meu amigo! Vimos
o prodígio que vosso filho realizou e, realmente, fora
uma atitude digna de um cavaleiro real. Cuidaremos para
que ele torne-se um grande guerreiro como o pai...

       Voltando para casa, o ferreiro permaneceu calado
por todo o caminho, o que, aos poucos, deixou
Auryousrork apreensivo. Assim, o garoto resolveu
quebrar o silencio:



                                                        72
— Pai! Não ficaste orgulhoso do título que recebi
do rei? Ainda está chateado por termos fugido? Por que o
Senhor não quer falar comigo?
        — Auryous. Não imaginas o susto que me deste?
Existem muito mistérios por traz da nossa proximidade
com a família real. Tua missão fora dada pelo rei, porem
a minha foi entregue pelo próprio Senhor Supremo. Se
vossa responsabilidade é de proteger a princesa, a minha
é de proteger a ti e a ela. Quanto ao título que o rei lhe
concedeu, estou muito orgulhoso e foste merecedor, no
entanto, creio que eis muito jovem para entender a
importância disso.
        — Que mistérios são esse meu pai? Tem algo a
ver com a profecia? Por que não confias em mim? Se não
estou preparado, me ensine!
        — Perguntas demais para o momento Auryous.
Não quero que dês ouvidos aos comentários que circulam
pelo reino a respeito da profecia. Chegará o tempo em
que falaremos sobre tais mistérios, está me ouvindo?
        — Sim Senhor...
        — E quem lhes disse que não confio em vós? Se
não confiasse diria ao rei para não torná-lo cavaleiro.
Duvidas que ele me ouviria?
        — Não Senhor...
        — Confio em ti meu filho e estarei sempre perto
quando precisares da minha ajuda. Para esta ou qualquer
outra missão que tiveres que assumir. Agora vamos
descansar; este dia difícil nos esgotou a todos.
        — Vamos sim meu pai! Obrigado por ficar ao
meu lado.

      Por fim, o ferreiro abraçou o filho aliviado por ter
acabado toda aquela confusão e recolheu-se ao descanso
merecido.


                                                       73
O Repúdio dos Nobres



      Não os dê ouvidos, meu filho!

       Eles não conhecem o vosso real valor.
Ignoram os perigos que os ronda, secretamente, e
acreditam que proteger as tolas convenções sociais
lhes será válido.

      Posso disser-lhe que se soubessem o que os
espera, suplicariam, beijando-lhe os pés, pelo
vosso socorro e aquele que ao fim estiver de pé,
curar-se-á perante os vossos. Plebeus ou não...



                                               74
Em pouco tempo, o susto com o ocorrido, após a
inusitada fuga da princesa, fora superado. No entanto, a
insatisfação dos membros da nobreza envolvidos com a
família real, a cerca da presença de plebeus no seu
convívio, começou a ficar evidente para todos.
        Apesar de tratar-se de uma criança, Auryousrork
logo entendeu que sua presença entre os nobres, não era
desejada. Sentia-se protegido pelo declarado amor que a
rainha demonstrara sentir por ele, porem, o zelo real aos
poucos se tornara insuficiente. Desde sempre, Zayra
tentara deixá-lo à margem do preconceito da nobreza,
mas, com o tempo, seus cuidados não impediram que o
pequeno cavaleiro se sentisse rejeitado por seu povo.
        Steylrork, por certo tempo, evitou o assunto com
Gyllimond, mas logo percebeu que a situação certamente
viria à tona à medida que Auryousrork amadurecesse e
entendesse sua origem. Assim, ele dirigiu-se ao rei:

        — Senhor, gostaria de um tempo para tratarmos
de um assunto que receio estar na eminência de insurgir-
se contra nós.
        — Do que se trata meu amigo? Diga-me sem
tantos rodeios.
        — Majestade! É notório o incomodo dos nobres
com a minha presença e principalmente a de
Auryousrork, no convívio com a vossa família. Temo que
esta questão possa gerar constrangimentos para meu filho
e até mesmo para o vosso reinado.
        — Steylrork! Eu sou o rei de Olonstreek. Se a
gratidão e amizade da minha família por vós e por vosso
filho os tornaram nobres entre os nobres, quem irá dizer o
contrário. Não importam as convenções da nossa
sociedade, nem a vossa origem ou a de Auryousrork.
Devo-lhes a vida da minha esposa e filha, o que os
tornam tão especiais que qualquer pessoa que os ofenda
será considerada inimiga do reino.
                                                       75
— Sei de tudo isso Alteza, mas preocupa-me o
sentimento de Auryous, frente aos possíveis comentários
preconceituosos dos nobres que o cercam. Ele é apenas
uma criança e não entende porque é preterido.
        — Acalme-se ferreiro! Caso seja necessário
falarei pessoalmente com Auryousrork e garanto que tu e
vosso filho não serão ofendidos diante dos meus olhos.
        — Está certo meu Senhor! Aguardarei os
acontecimentos...

        O tempo passou e a previsão de Steylrork não
demorou a se confirmar. Os nobres começaram a
descriminar veementemente o garoto plebeu que
acompanhava a princesa a todos os lugares. Nem mesmo
o título de cavaleiro atribuído pelo rei, fora suficiente
para gerar algum respeito a Auryousrork, por parte da
nobreza conservadora. Conversavam entre eles sobre o
fato de não ser natural um plebeu, ainda mais uma
criança, ser nomeado cavaleiro. Tais comentários não
tardaram a chegaram aos ouvidos do garoto que se sentira
extremamente incomodado. Zaradyk logo notou a
decepção do amigo e tentou confortá-lo, enquanto
cavalgavam lado a lado:

       — Sr Auryousrork! Sabes que me sinto muito
honrada pela companhia de tão virtuoso cavaleiro?
       — Sei o que queres Zara, e não vai adiantar! Qual
o valor de um cavaleiro sem o respeito dos nobres do
reino que serve? Creio que eu deva desistir desta história
de ser cavaleiro. Sou filho de ferreiro e assim devo ser
conhecido.

      Eles deixaram os cavalos pastando e se sentaram
à sombra de uma árvore:


                                                       76
— O que estais dizendo Auryous! Como vosso
pai, tu foste declarado um cavaleiro real. Vosso título
fora atribuído pelo rei e só ele poderia revogá-lo.
        — Então estou condenado a ser um cavaleiro
rejeitado pelos nobres do meu reino. Não sei o que fazer
Zara! Eu nasci plebeu e é assim que serei visto por todos.
Nem mesmo meu pai conhece minha verdadeira origem,
ele encontrou-me em sua porta...

      Zara pode perceber a grande tristeza nos olhos de
Auryousrork. Ela o abraçou enquanto ele tentava
esconder suas lagrimas:

        — Acalme-se Auryous! Vamos descobrir uma
forma de resolver isso, não gosto de ver-te chorar.
        — Quem está chorando princesa? De onde tiraste
essa ideia? Cavaleiros não choram!
        — Está certo Sr Auryousrork! Vamos esquecer
esta história...

        Zaradyk, não pode esquecer o acontecido.
Conhecia Auryousrork muito bem e sabia o quanto ele
sofria por ser rejeitado. Resolveu então falar com o rei no
intuito de vislumbrar uma solução.

        — Meu pai! Gostaria de falar-lhe um pouco...
        — Minha querida! Em que posso ajudar-lhe.
        — Quero pedir-lhe que faças justiça à
Auryousrork. Os nobres mais conservadores do reino o
estão descriminando. Dizem que ele não deve conviver
com a nobreza e que não o reconhecem como cavaleiro.
Ele está muito triste e não gosto de vê-lo assim.
        — Não é surpresa minha filha! Há algum tempo
Steylrork alertou-me sobre seus receios a este respeito.
Mas não se preocupe Zara! Resolverei este problema.

                                                        77
— Diga a Auryousrork que venha falar comigo
pela amanhã.
       — Obrigado meu pai!

        Na manhã seguinte, Zaradyk procurou Auryous e
lhes disse que seu pai queria vê-lo. Ele foi ao encontro do
rei que o pediu que se aproximasse:

       — Sr Auryousrork! Sente-se aqui ao meu lado.

       Zara permaneceu de pé, no salão real.

        — Filha, por favor, deixe-nos a sós.
        — Com sua licença meu pai...
        — E quanto a ti meu rapaz! Que ideia é essa de
deixar-se abater por comentários daqueles que estão
abaixo da autoridade que lhe fizera cavaleiro?
        — Perdoe-me Senhor! Zaradyk não devia
incomodá-lo com meus problemas.
        — Estais enganado, pequeno cavaleiro! A
princesa apenas cumpriu com o dever de informa-me
quanto ao desrespeito à minha vontade. Se os nobres
desfazem do vosso título é a mim que estão ofendendo.
        — Entendo meu Senhor!
        — Tu és um cavaleiro real, Auryousrork, o que
significa que possui autoridade para exigir respeito até
mesmo por parte dos nobres.
        — Mas Majestade! Eles ignoram a minha
autoridade e não se importam com minha posição. Aos
seus olhos sou apenas um garoto plebeu de quem não se
conhece nem mesmo a origem.
        — Zara contou-me que tu estavas muito triste.
Quero que saiba de uma vez por todas que vosso pai é
como um irmão para mim, o que o torna meu sobrinho.
Sou vosso tio e, como tal, também não quero vê-lo triste.

                                                        78
— Resolverei esta questão de uma vez por todas,
meu sobrinho! Convocarei todo o povo de Olonstreek
para um pronunciamento público e não terás mais motivo
para sentir-se rejeitado...



       Após alguns dias, estava o povo aguardando o
pronunciamento, quando surgiu o rei Gyllimond ao lado
da rainha Zayra, em companhia do ferreiro e seu filho:

        — Que ouçam todos com atenção. Falarem em
nome de Olonstreek e da família real. Todos sabem que
há tempos trouxemos ao nosso convívio um grande
homem. Um plebeu, ferreiro e herói, a quem devo minha
vida, desde o dia que ele salvou minha querida esposa e
vossa rainha Zayra.
        — O que outrora fora um sentimento de gratidão,
com o tempo tornou-se uma grande amizade. Declaro
agora que este homem é hoje, para mim, rei Gyllimond
de Olonstreek, mais do que um grande amigo. Este é Sr.
Steylrork, meu irmão! Portanto, saibam que não importa
a origem pregressa deste homem, ordeno que não apenas
seu título de cavaleiro seja respeitado por todos, como
também que ele, a partir deste momento seja reconhecido
como irmão do rei.
        — Em consequência, seu filho Sr. Auryousrork,
que, para nós, já havia se tornado um grande herói, por
ter salvado das mãos de um malfeitor a princesa Zaradyk,
deve ser considerado sobrinho do rei, bem como, ter seu
merecido título de cavaleiro respeitado por todo o reino.
        — Declaro estes fatos, desde então, lei
irrevogável e deixo claro que serão devidamente punidos
aqueles que desrespeitarem meu irmão e sobrinho. Que
sejam esquecidas suas antigas origens, pois valem desde
agora as origens que a eles atribuo. Que o Senhor
                                                        79
Supremo receba minhas palavras e nos ajude a cumpri-
las.



        Após o pronunciamento, os comentários se
dividiam por todo o reino do metal, mas a soberana
vontade do rei não seria criticada, ao menos
publicamente.
         Diante dos acontecimentos, o ferreiro decidiu
finalmente aceitar o convite de Gyllimond e Zayra. Iria
desde então, residir no Palácio de Prata, com seu filho e
toda a família real.
        Steylrork e Auryous foram despedir-se do lar de
tantos anos. À frente da casa estavam Markvellus e sua
família, amigos que por muitos anos conviveram com
eles. O ferreiro prometera que estaria sempre perto, que
viria ao antigo chalé sempre que fosse possível, pois ali
encontrara a paz que em nenhum outro lugar havia
sentido.




                                                      80
O Heroico Steylrork



      Há muito conheço vossa resignação, meu
nobre cavaleiro!

      Vosso valoroso coração, sempre deixara a
marcas dos teus bons propósitos, por onde quer
que tenhas passado.

      Lembro-me da vossa coragem entre as
chamas que cobriram o vilarejo e da criança que
vive por obra dos teus esforços. Sei que os
guerreiros da unificação contarão com vossa força
para vencer e que o vosso nome jamais será
esquecido, Sr. Steylrork!
                                              81
Muito antes dos acontecimentos que o tornaram
cavaleiro, e membro da família real, a nobreza do ferreiro
já era conhecida pelos moradores da vila de Olonstreek.
Steylrork nutria o respeito daqueles que o conheciam, por
sua sabedoria e coragem, tão veementes.
        Certa vez, a vila despertou em meio a um grande
incêndio que destruiu diversas casas se espalhando por
toda parte. Enquanto muitas pessoas fugiam em pânico, o
ferreiro apressou-se no intuito de ajudar possíveis
vítimas. Andando em meio a fumaça ele encontrou um
casal caído, do lado de fora de uma casa em chamas,
ambos mal conseguiam respirar e o homem desesperado
pedia ajuda:

        — Por favor! Ajudem-me! Minha pequena filha
esta lá dentro!

       Steylrork tomou nas mãos uma manta de lã,
molhou-a rapidamente em um barril que estava próximo,
cobriu-se e entrou na casa para salvar a criança. Logo ele
saiu com a menina nos braços e entregou-a aos pais:

        — Senhor! Meu nome é Markvellus. A criança
que salvaste é tudo que temos na vida, por isso, eu jamais
poderei agradecer-lhe devidamente pela vossa bondade.
Devo-lhe tudo que jamais terei e levarei todos os meus
dias tentando pagar-lhe.
        — Não me deves nada, amigo! Nenhum homem
poderia dormir em paz, ao deixar uma criança entregue
às chamas. Fiz o que devia e sinto-me feliz por vê-la a


                                                       82
salvo após tamanha tragédia. Esta recompensa me é
suficiente, está tudo bem agora...

        O ferreiro continuou ajudando a combater os
diversos focos de incêndio até que tudo se resolveu.
        No dia seguinte os bons homens da vila, liderados
por Steylrork, reuniram-se para ajudar a reerguer as casas
perdidas no incidente. Markvellus estava entre eles e
pode aproximar-se do heroico ferreiro que salvara sua
filha. Daquele momento em diante nascera uma grande
amizade entre eles e os anos que se seguiram ao incidente
tornaram-na ainda mais forte.




                                                       83
O Primeiro Guardião



      Guarda teu tesouro Steylrork!

      Deveis proteger o livro e o símbolo com
vossa vida. A obrigação é vossa, mas o bem que
dela advier será de todos, igualmente. Sabes o que
eu digo?

       Está claro que vossas armas não devem,
jamais, ser tocadas pelo opositor ou tudo estará
perdido. De fato, os inimigos não ousarão utilizá-
las, e nem poderiam, pois a luz se opõe às trevas.
Mas poderão e tentarão ocultá-las e quanto a isso
deveis permanecer vigilante.

                                               84
São objetos sagrados e com tal, cobrarão
seu preço pela posse. No entanto, conheço meu
escolhido e sua resignação...




                                            85
Logo após as revelações do anjo, Steylrork
debruçou-se sobre aquele misterioso livro e não demorou
a entender que não se tratava apenas de textos escritos e
sim de um precioso objeto que teria importância sem
precedentes para o cumprimento da profecia. O imenso
poder que o livro trazia, seria utilizado nos caminhos
para a conquista da vitória nele profetizada, o que o
tornava um objeto de grande valor para os inimigos,
devendo ser escondido e protegido a todo custo.
        A partir de então o ferreiro passou a dedicar-se
diariamente a proteção do livro da profecia, carregando-o
aonde quer que fosse e escondendo poderoso objeto em
uma velha bolsa de couro, sempre fechada, da qual ele
nunca se separava.
        Steylrork, embora fosse um homem maduro, tinha
uma postura rígida e jovial, tal como um cavaleiro que
ainda enfrentaria grandes batalhas sem fraquejar perante
o peso dos anos. Contudo, a presença do livro, sempre
perto, tinha um estranho efeito sobre ele.
        O misterioso objeto, aos poucos, acumulava poder
vital retirando do ferreiro sua juventude, tornando-o
fisicamente mais velho do que ele realmente era. Apesar
de Steylrork não se curvar a sua aparência cansada, todos
notavam o seu envelhecimento precoce. Ele não demorou
a perceber o que o livro estava provocando, mas sabia
que era preciso manter uma postura vigilante em nome da
sua missão.
        Certo dia, num descuido, o ferreiro deixo a bolsa
que guardava o livro, aberta, sobre a mesa. Markvellus
chamou à porta e ao entrar pode ver o que seu amigo
escondia com tanto afinco:

       — Então é isso que escondes na velha bolsa que
te acompanha a todos os lugares? Um livro...


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Dvc a5 01 03-2013

  • 1. 1
  • 2. O Dragão dos Ventos Celestiais 1ª Parte - Os Guerreiros de Olonstreek Marcelo Bessa Salvador/2013 2
  • 3. Nota do Autor Esta obra foi idealizada em 2009 e escrita em 2012, após a conclusão do meu primeiro livro “O Melhor Amigo do Cão – Para quem deseja retribuir esta amizade verdadeira”. Trata-se do início da Saga do Reino Unificado do Dragão dos Ventos Celestiais, que estará completa ao final do terceiro volume. Autorizo a reprodução gratuita dessa obra, em meio digital (PDF), com finalidade de permitir que a sociedade brasileira a conheça, no entanto, reservo-me o direito exclusivo de comercializá-la em qualquer meio existente. Aos interessados, uma boa leitura! Salvador, fevereiro de 2013 Marcelo Bessa 3
  • 4. Prólogo Num tempo distante pelas heras esquecido, a paz fora estabelecida a partir do equilíbrio sensível das forças entre o bem e o mal, conquistado mediante antigas batalhas das quais se conhece apenas o resultado. Uma terra dividida em cinco reinos, cercados de mistérios, homens honrados e guerreiros que esperam batalhas profetizadas para um tempo próximo. O Senhor Supremo, na busca de assegurar a paz existente, dividiu entre às regiões pacíficas da terra as forças que controlam tudo que existe, a essência de todo o poder vital, para que não houvesse disputas entre eles. No entanto, sua 4
  • 5. imensa sabedoria o impedira de duvidar dos destrutivos anseios do homem por subjugar seus semelhantes e do oportunismo do mal em explorar tal fraqueza humana. O Senhor dos Homens decidiu, então, confiar nas mãos humanas, e em honrados corações, as forças que unificadas gerariam um milênio de paz. Assim, guardou numa profecia a maior e mais árdua de todas as provas para a humanidade, revelando inicialmente a um sábio homem os caminhos que nas mãos de poucos, se capazes, trariam à terra o Reino Unificado do Dragão dos Ventos Celestiais... 5
  • 6. Primeira Parte O Início Ele acordou de um sono repleto de sonhos estranhos. Sonhava com batalhas sangrentas, travadas no seu amado reino, onde cresceu e aprendeu, com seu sábio pai, muito mais do que o oficio que lhe fizera conhecido. As forças eram desiguais, os homens que tentavam em 6
  • 7. desespero proteger o reino, pereciam aos montes ante os poderosos inimigos... Queria acordar daquele terrível pesadelo, mas, ainda durante o sono, sentia que todo o horror que vislumbrava não ficaria para sempre escondido num plano irreal, teria que enfrentar tudo aquilo de fato e o som que o fizera despertar só confirmava esta certeza. Ele ouvia os gritos que lhe remetiam à violência e a dor que por toda a noite inundara seu sono. Mas agora estava acordado e tudo era real, a luta esperada havia se anunciado. Abrindo a porta de casa, ele olhou ao longe, até onde a visão alcançava, e pode perceber um cenário aterrador. Casas em chamas, homens empunhando suas armas e lutando por suas vidas, outros fugindo assustados por entre os vencidos caídos ao chão. No ar um odor de morte e pânico que ele desejava não sentir em seu reino tão prospero... 7
  • 8. O Mundo Antigo Ah a Terra! Moldura da minha obra prima! Casa que criei para o homem e que, há muito, tenho procurado tornar a morada da paz. Meus filhos, no entanto, não entendem. Deixam-se levar pela vaidade, cobiça, desejo de poder e pela violência, afastando-se do meu objetivo. Meus conselheiros insistem: “O livre arbítrio, meu Senhor! Tire-o antes que os homens se percam!”. Mas a liberdade é o maior dos meus 8
  • 9. presentes e, mesmo que eles não saibam usá-la, não voltarei atrás. Decide ouvir as preces dos mais honrados e, contra a minha vontade, deixei que a terra fosse dividida em reinos. Pouco ou nada adiantou e os rumos da guerra continuam seu sórdido caminho, enquanto o mal insiste em insurgir-se contra a paz. Contudo, meus olhos estão abertos e ainda não desisti dos bons homens... 9
  • 10. Numa configuração muito antiga, distante da formação atual, a terra estava dividida entre três continentes. Dois deles eram inabitados nas extremidades do globo. O terceiro, ao centro do planeta, era o continente habitado, morada dos homens e animais existentes. Cercado pelo insondável oceano de Noutlong (o oceano sem fim), o continente habitado fora dividido em seis regiões, dentre as quais se encontravam os cinco Reinos Celestiais, assim dispostos: Ao sul do continente, estabeleciam-se os domínios de Olonstreek, o Reino do Metal. Guarnecido por cadeias rochosas compostas pelos mais nobres e valiosos metais do planeta, o território do 1º Reino era formado por construções magníficas, edificadas numa terra fértil de cenário exuberante. Na região sudoeste do continente, cortado em ilha, encontrava-se o Reino celestial das Águas ou Lykroustreek. Geograficamente protegido pelo grande Lago Lykrols (o lago das Águas Cristalinas), que encontrava ao sul e a noroeste, o Oceano de Noutlong. O reino constituía-se de um território abundante em nascentes, lagos e cataratas, de onde surgiam todas as fontes de águas puras de toda a terra. Protegido por uma extensa e poderosa floresta, ao noroeste do continente, fora edificado o Reino celestial das Arvores, a bela região de Kromnoustreek, onde habitavam a imensa maioria dos animais selvagens que, perigosos, reforçavam as defesas contra possíveis invasões. O quarto Domínio, ao norte das terras habitadas, denominado Eineonstreek, o Reino celestial do Fogo, era cortado ao meio pelo rio Igneong (o rio de lava incandescente). Tinha suas defesas estabelecidas por vulcões sempre ativos, margeados por abismos profundos 10
  • 11. que cercavam raras e estreitas passagens para o centro do continente. Seus domínios, com escassa vegetação e calor intenso, revelaram um ambiente inóspito, cuja vida fora permitida em consequência das poucas nascentes de águas extremamente quentes. O Reino das Terras Celestiais, Iktyoustreek, estabelecido ao nordeste do continente, tinha suas defesas num deserto extenso e inabitável. A região era habitada apenas nas proximidades do litoral, onde as condições geográficas permitiam a sobrevivência de seus habitantes. Por fim, ao centro do continente, estabeleceu-se o Vale Evilkeerts, a anti-região do Vale Negro. Uma região sombria, onde todo o mal inevitável que surgira das mãos dos renegados dos cinco Reinos Celestiais buscara abrigo, consolidando, ao logo do tempo, o território do mal na Terra, de onde surgiram os conflitos anteriormente profetizados. 11
  • 12. Olonstreek O Primeiro Reino Celestial O mais rico dentre os reinos! Enganam-se os que acreditam que me refiro aos tolos metais preciosos... Os valorosos corações nessas terras nascidos, ontem e hoje. Estas sim são as verdadeiras riquezas. Suas virtudes estão acima das habilidades para a luta e justiça, pois a coragem e bondade valem mais. 12
  • 13. Chegará o dia em que o ouro e a prata estarão desprotegidos e não serão tocados. As armas bem forjadas não os salvarão, mas suas virtudes serão vistas nas terras Habitadas. Dos grandes heróis, mártires e eleitos, muitos nestes domínios nascerão. A guerra neste solo terá início e aqui festejarão os reinos se a vitória os alcançar... 13
  • 14. Olonstreek era o mais rico e poderoso dentre os reinos celestiais. Suas riquezas originaram-se da imensa cadeia rochosa, cuja formação abrigava enormes jazidas de ouro e prata. O poder, também, tinha origem nas riquezas minerais, pois a abundância de minério para a forja de armas e armaduras gerara uma cultura de militarização onde as crianças, inclusive plebeias, desenvolviam habilidades em manejar armas. Os filhos dos nobres eram criados mediante educação diária sobre táticas de guerrilha, as notícias sobre uma guerra próxima se espalharam pelo reino e, apesar dos discursos pacíficos da família real, todos cresciam com o sonho de tornarem- se heróis defendendo a justiça e a vida na terra antiga. O Palácio de Galatyans (Palácio de Prata) era, sem dúvida alguma, a mais bela e valiosa de todas as edificações do planeta. Sua imponência podia ser vista a distância, pois o reluzir do revestimento totalmente construído com a prata real, traduzia o seu valor a todos que o contemplassem. No interior do castelo, as riquezas se multiplicavam em paredes, colunas e objetos em ouro e prata de valor inestimável. O rei Gyllimond era um homem maduro, corpulento, de olhos castanhos e andar altivo. Sua expressão humilde contrastava com a postura rígida de um regente justo e poderoso, o que confundia os preconceituosos nobres de Olonstreek. Os cabelos negros, mesclados aos grisalhos completavam a bela figura do Senhor do 1º reino. A rainha Zayra, detentora de uma beleza indescritível em seus olhos verdes cristalinos, iluminava o semblante dos que ousavam contempla-la. Seus cabelos louros, ondulados, harmonizam-se perfeitamente à pele clara, às feições impecáveis e corpo jovial que pareciam imunes ao tempo. Era Senhora do amor do seu rei e inspirava incontáveis desejos secretos dos nobres de Olonstreek. 14
  • 15. Ambos, rei e rainha, eram justos e humanos acima da condição de Senhores do reino do metal. A fé, nos desígnios do Senhor Supremo, os tornara verdadeiros desafiadores das preconceituosas leis da sociedade antiga. Seus corações eram regidos pela bondade, amor e justiça e o povo os veneravam com a mesma intensidade que se sentiam amados por eles. O reinado de Gyllimond e Zayra fora marcado pela prosperidade galgada na sabedoria em administrar as riquezas reais para o bem comum, contudo o controle dessas riquezas dera origem à insatisfação de uma minoria gananciosa, tornando, assim, os recursos de Olonstreek a origem dos seus maiores conflitos. Todo metal precioso era de propriedade comum a todo o reino, não sendo permitido a ninguém tomar posse dos mesmos. Os nobres tinham o direito de posse sobre as jazidas existentes em suas terras, no entanto, mesmo um deles seria preso e julgado caso fosse surpreendido apropriando-se das preciosidades nas terras reais. Essa estrutura social e as leis em torno dos metais preciosos geravam a ganância e a maldade em todas as esferas do 1º reino. Este sentimento, por muito, era compartilhado dentre os habitantes das outras regiões das terras habitadas, que se sentiam injustiçados por não terem direito natural sobre tais riquezas. Assim, homens de todos os lugares eram recrutados pelo mal, sobre o pretexto de poder tomar posse do patrimônio de Olonstreek, ao subjugá-lo. 15
  • 16. ...Voltando ao interior da casa, ele tomou sua espada e a velha bolsa que, para todos os lugares, carregava consigo e, apressado, preparou seu velho cavalo para partir. Em seus ouvidos uma voz familiar repetia insistentemente: “Deves partir agora! O perigo ronda-nos implacável! Por hora, cabe a ti a defesa dos bons. Vá ao palácio e mostre o vosso poder!” Seu cavalo cortava a vila, veloz, passando por diversos focos de conflito e ele logo pode reconhecer os invasores, pois as cicatrizes evidentes nas suas faces os denunciavam. Os inimigos investiam perversos sobre todos os que cruzassem seu caminho, mulheres ou crianças, nobres ou servos, como se suas vidas nada valessem. Aquele homem bondoso, sobre seu cavalo, com imenso pesar, sentia em suas entranhas cada golpe que via ser desferidos contra aqueles inocentes. Ele continuou cavalgando rumo ao castelo sem se permitir desviar seu destino em socorro àquelas vítimas, mas, tomou sua espada, erguendo-a, quando avistou um invasor que investia contra uma indefesa criança, confusa, em meio à estrada. Antes que o inimigo desferisse um golpe mortal contra o menino, fora surpreendido pela lâmina perfeita que lhe transpassara. Sem perder o ritmo, ele contemplou a face daquele perverso invasor e nela vislumbrou a marca feita a ferro com o símbolo do 1º reino celestial... 16
  • 17. Os Inimigos Insolente! Traidor! Servo invejoso! Traiu minha confiança por inveja dos meus filhos e da liberdade que os concedi. Ele deseja tê-los, deseja a terra e o poder de ser Senhor. Desafiou-me a entregá-los caso não houvesse honra, bondade e coragem que os valesse. Insolente! Aceitei o desafio, pois creio no coração dos meus filhos, e, apesar dos seus ardis, guiá-los-ei à vitória se forem, como acredito, merecedores. Do 17
  • 18. contrário, perderão a terra e a vida, mas as almas dos dignos não serão tocadas e serão bem vindas em minha casa, vitoriosas ou não. És meu inimigo! E todo aquele que for por ti seduzido, terá de mim o mesmo tratamento. Se quiseres ser Senhor, serás o Senhor das Trevas e nela andará aquele que te seguir... 18
  • 19. Apesar da busca pela paz, comum a todos os Reinos Celestiais, a influência da natureza humana, fatalmente conduzira o surgimento de atos isolados de violência, comportamento severamente punido pelas leis reais. Num consenso, os reinos celestiais puniam seus infratores dando-lhes o direito de escolha, entre o banimento ou as prisões reais. Aqueles que escolhiam o cumprimento de suas penas seriam presos e perdoados após justa punição. Os que optassem pelo banimento jamais poderiam retornar aos respectivos domínios reais, sobre pena de execução. Ao longo dos anos os malfeitores que optaram pelo banimento organizaram-se no território do Vale Evilkeerts (a anti-região do Vale Negro), cultivando toda a maldade e sentimento de vingança contra os Reinos Celestiais. Estes renegados estabeleceram-se no primeiro exército inimigo, que crescia no propósito de desafiar a ordem dos cinco reinos, buscando impor o domínio do mal sobre os povos da terra antiga. Assim, invadiram Olonstreek no intuito de roubar suas riquezas e obter a desforra tão esperada contra suas duras punições. A maléfica influência de Myrior, o Senhor das Trevas, na ocasião do primeiro ataque, não passava de sugestões sutis aos corações endurecidos dos renegados. Contudo, num futuro muito próximo, a presença deste sombrio inimigo se concretizaria num exercito sobre- humano. 19
  • 20. ...Aproximando-se do castelo ele percebeu uma mudança sutil no cenário visto na vila. A luta continuava mais os soldados do reino estavam, claramente, vencendo a disputa. Tropas agrupavam-se marchando em direção ao vilarejo e já era possível deparar-se com renegados em fuga. A voz ainda ressoava em seus ouvidos: “Entre depressa no Palácio!” Ele passou sem ser notado pela guarda, como se estivesse invisível, e, deixando seu cavalo, entrou no castelo. Ouvia desde então outra voz que clamava: “Por favor, não me faça mal!” A bela voz feminina, impregnada de temor, fez o coração do guerreiro repentinamente iniciar um estranho compasso, batendo tão forte que ele podia escutá-lo. Ele corria pelas magníficas dependências do palácio, alheio às belas que jamais contemplara e, então, deparou-se com uma inesperada imagem. A rainha Zayra fugia, desesperada, dos golpes de um renegado que tentava feri-la. Não demorou muito tempo para que o malfeitor encurralasse a indefesa mulher. Ele sorria, num tom sarcástico e, erguendo sua espada, olhou-a como um carrasco pronto para uma execução: — Em nome do exército do Vale Evilkeerts, vos condeno à morte, rainha de Olonstreek, pondo fim a tua vida e da criança que carregas no teu ventre... A rainha, sem esperança de ser salva, cerrou os olhos em oração, entregando-se nas mãos do Senhor Supremo. No entanto, como se o tempo houvesse parado, o golpe final não se concretizou, dando lugar ao som das 20
  • 21. espadas que se cruzaram ante aos seus olhos surpresos. O oponente era um homem humilde, de meia idade, que nem mesmo parecia ser capaz de erguer sua arma: — Quem és tu, velho insolente? A expressão do renegado revelou sua surpresa ao reconhecer o rosto que o desafiava: — Eu o conheço! És o ferreiro do vilarejo... 21
  • 22. O Escolhido No momento, um homem fora escolhido. Sua justiça e sabedoria serão conhecidas... É ele o primeiro líder, o primeiro guardião e nele se iniciará a vitória de todos. Ele irá instruir e encorajar os heróis. Em sua formidável “astúcia” iludirá o inimigo enganador, pois dos humildes nascerá coragem e poder como jamais foram vistos. Das minhas mãos, encontrarão a luz sob a qual o mal perecerá. Ela estará no livro, no símbolo, naquele que foi rejeitado e, sobretudo, nos corações que a desejarem. 22
  • 23. Meus planos foram, há muito, definidos, mas os caminhos terão início nas habilidosas mãos do ferreiro. Essa e a minha vontade! 23
  • 24. Descendente dos grandes mestres da forja de armamentos, Steylrork aprendeu com seu pai, aquele que forjara as melhores lâminas conhecidas na terra antiga, o ofício de ferreiro. Ele era um homem de meia idade, cabelos grisalhos, olhos castanhos e expressão sincera. Seu corpo envelhecido escondia o porte de um velho guerreiro e o olhar misterioso denotava grande sabedoria. Seu pai, um grande guerreiro, de prenome Auryous, forjava para si armas notáveis, manejando-as com imensa destreza e, seguindo seus passos, Steylrork aprendera também a utiliza-las com maestria. Esta prática secreta transformou a história daquele humilde ferreiro para sempre... 24
  • 25. — Se assim desejares, irás morrer junto à vossa rainha... — Afaste-se Majestade! Ninguém lhes fará mal algum! A rainha sentiu um súbito alívio ao perceber que seu fim tão anunciado fora adiado, contudo, a simples comparação entre aqueles adversários lhe trazia a impressão de que não estaria a salvo por muito tempo. Aquele homem bondoso, que tentava salvá-la, lutaria contra um maléfico e poderoso inimigo ao qual a simples presença denotava um perigo mortal. Mas a lógica viu-se desafiada quando, ao bloquear o primeiro golpe desferido pelo renegado, Steylrork feriu-lhe o ombro esquerdo, num contragolpe perfeito: — Vejo que sabes defender-se bem, para um velho! Mas não precisarei de muito para liquidar-lhe. Disse o renegado segurando sua espada apenas com a mão direita. Steylrork, impassível, permaneceu calado como se não ouvisse as palavras do prepotente adversário. A rainha sentia a esperança crescer em seu coração e passou a crer nas habilidades do herói desconhecido que surgiu para devolver-lhe a vida. O inimigo, furioso, ergueu a espada e avançou contra o ferreiro que, com a leveza de um jovem cavaleiro, bloqueou o golpe, girou o corpo por debaixo das espadas e contra golpeou mortalmente o renegado. No coração do ferreiro uma estranha sensação de paz, tomou o lugar da agonia, quase insuportável, que sentia desde o início do conflito e ele percebeu que havia cumprido sua primeira missão. Nos olhos da rainha, além do natural alívio pelo perigo findado, a imensa gratidão que sentia pelo gesto daquele plebeu: 25
  • 26. — Qual é o seu nome, heroico guerreiro? — Sou Steylrork Majestade! Ferreiro do vosso reino. — Obrigado Steylrork! — Não há porque agradecer Senhora, jamais sentirei maior honra do que tê-la ajudado. — Falas como se tivesse prestado-me um simples favor. Salvaste minha vida e a partir deste instante tu deixaras de ser simplesmente o ferreiro de Olonstreek, pois serás sim conhecido como o mais leal dos amigos da família real. Esquecendo-se de sua posição a rainha abraçou seu protetor que, aturdido, silenciou sem saber como agir... A invasão não demorou a cessar e tão logo resolvido o conflito, o rei Gyllimond, que havia partido em batalha contra os invasores, retornou ao castelo vitorioso. Grande fora a surpresa do rei ao perceber que os soldados designados para a defesa da rainha foram derrotados e as portas do salão, onde Zayra deveria ser protegida, estavam entreabertas. No instante em que avançava em direção à entrada do salão, o rei sentia o mais profundo desespero que seu coração já experimentara. Estaria sua amada rainha entre as vítimas daqueles cruéis inimigos? Apoiado num tênue fio de esperança o rei entrou na sala e sentiu-se profundamente aliviado ao ver Zayra, a salvo, junto a um plebeu que a protegia: — Quem és tu bondoso guerreiro? A rainha, tomando a palavra, disse solenemente: 26
  • 27. — Este é o nosso amigo Steylrork, o homem a quem devemos a minha vida e a vida da nossa criança. O inimigo caído ao chão tinha o meu destino nas mãos quando este nobre guerreiro, em tempo, enfrentou-o salvando-me. O rei aproximou-se do ferreiro que se ajoelhou em reverência: — Levante-se meu amigo! De todo o bem que eu poderia imaginar receber de mãos humanas, não há nada maior do que este que hoje me fizeste. Jamais poderei retribuir-lhe à altura! Portanto, deixe a reverência para aqueles com os quais eu não tenho uma dívida eterna. Para ti quero oferecer o que desejares. Peça e terás! Erguendo-se, Steylrork declarou num tom repleto de sinceridade: — Não desejo nada meu Senhor! Pois estive neste castelo para cumprir meu dever e assim o fiz. Contudo, sinto-me honrado por ouvir-lhe chamar-me por amigo e esta recompensa me basta... — Se vieste cumprir seu dever, a quem devo agradecer o envio de tão valoroso herói? És cavaleiro de qual dos reinos desta terra? — Sou apenas um ferreiro do vosso reino, Alteza! E nenhum homem responde pelo meu envio. No entanto, sou filho desta terra e, como qualquer outro, devo proteger a família real. — Entendo o vosso propósito Steylrork e se te recompensa a minha amizade, quero que saiba que a terás para sempre. O conflito fora sufocado e tu deveras descansar da batalha num dos aposentos de Galatyans, pois, logo farei um pronunciamento ao valente povo do meu reino e quero que estejas em nossa companhia. 27
  • 28. — Agradeço o convite Majestade! Estarei aqui enquanto desejares. O povo foi avisado que o rei convocava a todos para o seu pronunciamento, à cerca do conflito que vitimou muitos filhos do reino. Então, passado algum tempo, Gyllimond surgiu no alpendre do castelo, acompanhado pela rainha Zayra e Steylrork, quando começou a falar ao povo: — Querido povo de Olonstreek! Neste triste dia trago-os aqui para que possamos, reunidos, homenagear nossos irmãos que deram suas vidas para proteger nossas terras. Os inimigos nos surpreenderam numa invasão covarde e violenta, ferindo nossas almas por ganância e vingança. Eram renegados de todos os reinos, julgados por nossas leis, banidos por seus crimes e amotinados num exercito de malfeitores. Muitos dos nossos soldados pereceram ante este ataque traiçoeiro e não apenas eles, como muitos homens simples, mulheres e crianças que tentaram defender-nos, pois a maldade dos inimigos não escolheu suas vítimas. Junto ao meu exercito, no campo de batalha, presencie diversos atos de heroísmo, realizados por homens e mulheres de todas as idades e origens, o que nos deixou orgulhosos e possibilitou a nossa vitória. Que o Senhor Supremo conceda o prêmio devido os nossos heróis no Palácio Celeste, que tenhamos aprendido o verdadeiro sentido da nossa liberdade e o preço que muitas das nossas famílias pagaram por ela. Enquanto lutávamos um dos perversos renegados invadiu o castelo no intuito de ferir nosso reino com a morte da rainha e da criança que ela carrega em seu ventre, mas o Senhor Supremo apiedou-se do meu velho coração, e do nosso reino, enviando este valoroso cavaleiro para protegê-la. Seu nome é Steylrork e ele, até 28
  • 29. o momento, fora conhecido como um dos nossos ferreiros, no entanto, quero que todos saibam da nossa eterna amizade e do merecido título que agora o concedo... Ficando de pé, o rei tomou sua espada na mão direita e ordenou que o ferreiro ajoelhasse à sua frente. Emocionado, Steylrork, ajoelhou-se e pode sentir a espada tocar-lhe os ombros enquanto ouvia a voz do rei: — Steylrork! Em nome do 1º Reino Celestial concedo-lhe o título de cavaleiro real, em justiça à bravura que demonstrares ao salvar-nos a todos no momento em que protegera nossa família. Que o Senhor Supremo ajude-o a honrar vossa nova missão e que todos o respeitem, desde então, pela vossa nova posição. Sou Gyllimond, o rei dos domínios do metal, e esta é a minha vontade. O povo saudou, com reverência, o novo cavaleiro real e muitos dentre aqueles que conheciam o valoroso Steylrork, demonstraram grande felicidade pela justa horária que ele recebera. Muitos outros, no entanto, represaram sua insatisfação em respeito ao rei. Algum tempo após o pronunciamento, Gyllimond chamou Sr. Steylrork para uma conversa reservada: — Steylrork! Preciso falar-lhe um instante. — Sim Majestade! Em que posso servi-lo? — Tenho planos para garantir a segurança da rainha e gostaria de contar com vossa presença, diariamente entre nós, para viabiliza-los. Acredito que seria apropriado que visses residir em Galatyans. — Perdoe-me meu Senhor, se rejeito a honra que me concedeste! Mas nasci no vilarejo e ali passei todos os meus anos, por isso, não saberia viver em outro lugar, ainda que fosse neste belo Palácio. Peço-te humildemente 29
  • 30. que reconsidere vossa vontade dando-lhe minha palavra que estarei ao vosso dispor sempre que precisares. — Tens liberdade para decidir aonde queres viver, meu amigo, e entendo vossa decisão! Contudo, se mudares de ideia vosso lugar estará à disposição. — Se me permites Alteza, voltarei ao meu lar no vilarejo. Estarei de volta ao castelo pela manhã. — Vá em paz e até breve meu amigo! Cavalgando pela madrugada, Steylrork voltou ao vilarejo lembrando-se das imagens aterradoras que havia presenciado na última passagem por aqueles caminhos, hora desertos e envoltos num silêncio tumular que parecia homenagear as vítimas da batalha ali travada. Ele sabia que a luta havia apenas começado e a sua missão teria avançado um único passo de uma longa e árdua caminhada. Era guiado pelo próprio Senhor Supremo, cuja voz fazia-se sempre presente quando necessário. 30
  • 31. A Revelação ao Ferreiro Dias antes do ataque ao 1º reino... A noite parecia não ter fim. Um sono profundo, sem sonhos, se alongava, mas o cansaço do dia ainda se fazia presente. Uma luz feriu a escuridão dos seus aposentos e dela um homem surgiu. Steylrork sentia que tempos tenebrosos estavam por vir, contudo, a sabedoria inata do seu coração o faria reconhecer um mensageiro do Senhor Supremo em qualquer circunstância. Era um anjo e ele preparou-se para ouvi-lo: —Diga-me a que vieste nobre mensageiro. —Venho declarar que tu, Steylrork, foste escolhido pelo Senhor Supremo, para guardar a profecia do Reino Unificado do Dragão dos Ventos Celestiais e conduzir os homens de bom coração a cumpri-la. 31
  • 32. —Perdoe-me! Mas sou apenas um velho ferreiro! Como poderei cumprir tão honrosa missão? —Não há porque questionar os desígnios do vosso Deus. Ele conhece a todos os corações e escolheu a ti dentre eles, sabendo exatamente vossos limites e virtudes... —Sei que não posso duvidar da sabedoria do meu Senhor em escolher-me. Contudo, não encontro em mim merecimento algum para tanto. O anjo esboçou um sorriso: —Não se trata de um prêmio, mas de um voto de confiança que por certo eis merecedor. Alem disso esta não é uma missão galgada em merecimentos meu caro! E sim, num sacrifício pelo bem de todos os homens, pois ao falharmos toda humanidade perecerá ante ao mal. Vosso Deus confiou em vós, enviou-me para dar-lhe ciência da sua suprema vontade e ouvir uma resposta, ele não irá ferir-lhe o livre arbítrio ainda que custe a vida de todos... —Sei a quem devo minha própria existência e a Ele, que me honra com sua divina confiança, jamais negarei o meu sim. Estou pronto para o que foi decidido. —Face à resposta que me destes, deixo em vossas mãos, por ordem do Senhor Supremo, a profecia do desejado Reino Unificado do Dragão dos Ventos Celestiais, traduzida no livro que agora te entrego. O símbolo presente em seu interior é, na verdade, um instrumento do poder que emana da luz, devendo ser usado com sabedoria. O anjo tocou o ombro esquerdo de Steylrork, que adormeceu subitamente... 32
  • 33. Ao acordar, o ferreiro acreditou, por instantes, que teria tido um estranho sonho, mas encontrou ao seu lado um livro dourado... Contemplando aquele objeto notável, Steylrork pode perceber a importância do que estava por vir. Ele Estendeu a mão, segurou o livro, tocou com as pontas dos dedos os seis brasões entalhados na capa e reconheceu os símbolos dos cinco reinos ao redor de um, desconhecido, que seria a representação do reino unificado. Ao abrir o livro o ferreiro sentiu-se repentinamente enfraquecido, como se algo roubasse lhe as forças, contudo, em poucos instantes, recuperou-se. Ele esperava encontrar orientações sobre os primeiros passos da sua missão, mas percebeu que aquelas não eram escrituras comuns. A maioria das folhas não continha texto algum e, ao fundo, a contra capa escondia o instrumento ao qual o anjo se referiu: um medalhão com o símbolo do Reino Unificado. Surpreso Steylrork contemplou uma escritura surgir, letra após letra, numa folha que estava em branco... 33
  • 34. Filho! És tu o meu escolhido! Vasculhei os reinos, procurando, e dentre todos vos escolhi. Não me importam riqueza ou poder, nobreza ou direito herdado. Estas são preocupações dos homens. Vossa lealdade, honra e justiça é o que desejo. Tão abundantes não encontrei nos reis ou guerreiros, herdeiros ou nobres de toda a terra. Forje a vitória para o vosso povo, como as lâminas que Auryous lhes ensinara a forjar, e verás que nada se perderá. Será tua esta difícil missão e se merecerdes, perderás a vida, mas tua recompensa não lhe será tirada jamais. Comece já a caminhada! Nas escrituras encontrarás o destino correto, porem, os caminhos, deveis trilhar por si mesmo. Minha voz o acompanhará se quiserdes ouvir e irei carregá-lo quando vossas forças, por fim, o deixarem. Confio em ti meu nobre ferreiro! 34
  • 35. Tudo estava claro. Steylrork entendeu que, mais do que um livro, estava diante de um elo entre ele e o Senhor Supremo, entre o mundo dos homens e as Terras Celestiais. A mais importante das armas na guerra que se anunciava. Deveria defendê-lo com a própria vida, usá-lo com o máximo de sabedoria e tornar a vitoria possível aos homens. Assim, prostrado ante ao poderoso objeto, ele elevou uma prece ao seu Senhor: “Oh meu Supremo Senhor! Como podeis ser tão benevolente? Como posso honrar vossas palavras? Não sou nada! Não sou ninguém para merecer de ti, tal honraria! Darei o meu melhor! Protegerei estas escrituras e este medalhão com minha vida! Espero, com minha pequenez, poder honrar vossa suprema confiança. Para que possamos livrar-nos do mal que nos assombra e ter a paz tão sonhada. Estou aqui meu Senhor! Desejo servi-lo! Desejo a honra de ser instrumento da vossa vitória! Assim seja!” Steylrork estava, por fim, certo da sua missão e, desde aquela noite, começaram seus esforços para honrar os desígnios do Senhor dos Homens, ainda que disso dependesse sua vida... 35
  • 36. Segunda Parte Na manhã seguinte o reino parecia acordar de um terrível pesadelo. O povo recolhia os restos da batalha e já iniciava a reconstrução do que fora destruído. Steylrork partiu cedo para o castelo, como desejou o rei, e, estando lá, foi chamado para uma reunião convocada no intuito de tratar das questões prioritárias de segurança para Olonstreek. O tema central da reunião logo se tornou evidente para todos. A clara necessidade de reformulação da estrutura de segurança do reino, vez que a antiga estratégia foi superada pelos inimigos, resultando no recente incidente. Ryanor, um homem jovem, sério, corpulento e altivo, o chefe da guarda de Olonstreek, sentindo-se responsável pelo acontecido reagiu defensivamente: 36
  • 37. — Majestade, se me permites discordar, gostaria de posicionar-me contra a mudança de estrutura das nossas defesas, pois creio que a invasão sofrida não teve qualquer relação com as nossas táticas de segurança... — Ryanor! Estruturar as defesas de um reino é obrigação do chefe da guarda, no entanto, aceitar a estratégia proposta é da competência do rei. Assim, quero deixar claro que vossa responsabilidade quanto ao ataque não é menor do que a minha e a mudança que devemos planejar não é uma afronta aos vossos esforços, mas uma precaução para que não venhamos a sofrer outro ataque. Subitamente, Steylrork tomou a palavra. Os nobres ali presentes, não conseguiam esconder a sensação de que um intruso se interpunha em seus assuntos. Gyllimond, por sua vez, aguardou atentamente a posição do cavaleiro. — Senhor! Permita-me concordar com o nobre chefe da guarda. Os planos do inimigo certamente estão acima da estrutura de defesa do nosso reino. — Majestade! Nossos inimigos são renegados dos cinco reinos celestiais, reunidos num exercito. Portanto, me parece natural imaginar que os planos de vingança desses malditos não se limitam a atacar-nos e certamente existe a intenção de invadirem os outros reinos. Os presentes entreolharam-se reconhecendo as razões expostas pelo ferreiro. — E então o que faremos contra a eminente possibilidade de um novo ataque? Perguntou o rei: 37
  • 38. — Algum dos presentes poderia sugerir algo novo, que possa reforçar nosso potencial de defesa? Após um breve silêncio, Steylrork sugeriu: — Gostaria de sugerir que seja formado um conselho entre os reinos, com o intuito inicial de estabelecer diretrizes de cooperação e comunicação entre as regiões e seus exércitos, viabilizando, assim, a ajuda necessária quando da eminência de uma invasão por parte dos renegados. A surpresa do rei Gyllimond era a mesma dos outros membros da reunião. Como um simples ferreiro poderia ser dotado de tão veemente sabedoria? Steylrork estava completamente correto em seu julgamento e mesmo os nobres, que não aprovavam sua presença, viram-se obrigados a concordar com sua estratégia. — Creio que não precisamos debater sobre as sabias palavras do meu nobre amigo. Providenciaremos uma reunião secreta com as autoridades dos outros reinos para que possamos chegar a um consenso a respeito da possível formação de um conselho destinado à segurança de todos. Que o Senhor Supremo nos ajude! 38
  • 39. O Conselho Celestial Conselheiros reunir-se-ão almejando a paz. São valorosos e honrados, mas suas forças não são capazes de evitar o mal, pois traidores estão à espreita e seus segredos serão conhecidos... 39
  • 40. Decidido a promover a formação de um conselho composto por representantes dos cinco reinos, o rei Gyllimond reuniu-se com Steylrork no salão real e, com ele, chegou ao entendimento de que seria necessário enviar, através de um mensageiro de extrema confiança, comunicados secretos, endereçados exclusivamente aos dirigentes dos respectivos reinos. Decidiram, contudo, que os reais motivos deste encontro seriam revelados no momento certo. Assim, o rei ordenou que um dos soldados, postos às portas do salão real, fosse ao encontro de Ryanor e o chamasse: — Meu Senhor! Em que posso lhe ser útil? — Ryanor! Prepare vosso melhor cavalo, pois deveis partir ainda hoje aos outros reinos celestiais, levando uma mensagem urgente, que devera ser entregue nas mãos de cada dirigente e cujo conteúdo é extremamente secreto. O chefe da guarda olhou para Steylrork, como quem olha para um traidor. Em seus pensamentos teve a certeza que aquele intruso desejava o prestígio que a ele era devido... — Mas meu Senhor! Tenho diversos assuntos da guarda para tratar, temos os melhores mensageiros das terras habitadas e... — Não discuta minhas decisões, cavaleiro! Confiei à ti esta missão e serás tu a cumpri-la! — Perdoe-me Majestade! Não quis parecer-lhe insolente. Estarei a postos o quanto antes, se permitirdes, irei preparar-me imediatamente. — Permissão concedida! Ryanor dispensou um último olhar ameaçador ao ferreiro e retirou-se apressadamente do salão. 40
  • 41. Steylrork dirigiu-se ao rei: — Meu Senhor! Creio que Ryanor sente-se desafiado pela minha presença... — Não há do que se preocupar Steylrork! Ele sente-se culpado pela invasão e acredita ter perdido o meu apreço por falhar em proteger o reino, no entanto, não percebe que dentre todos os cavaleiros tem minha preferência e confiança. — Permita-me, Senhor, sugerir que deveis esclarecer os fatos junto a Ryanor, em honra a confiança que o tens. Ele pareceu-me decepcionado. — Entendo vossa preocupação Steylrork. Vamos aguardar que ele retorne... Algum tempo depois o Chefe da guarda retornou à Galatyans, sua expressam contrariada não deixava dúvidas quanto ao seu pesar, mas a jovem manteve-se obediente: — Está tudo preparado Majestade! Onde estão as mensagens que levarei? — Sente-se cavaleiro! O rei estendeu a mão, entregando-lhe quatro mensagens seladas: — Ryanor! Steylrork sugeriu-me que ao mensageiro devesse ser concedido o direito de conhecer o conteúdo das mensagens, portanto, abra e leia uma das cartas! Ele hesitou: 41
  • 42. — Estas são mensagens secretas e apenas os homens presentes neste salão conhecerão seu conteúdo. Leia filho! “Trata-se de assunto de extrema urgência para todos os Reinos Celestiais! Eu, o rei Gyllimond de Olonstreek, venho, por meio dessa mensagem, solicitar a presença dos representantes de todas as regiões pacíficas das terras habitadas, para uma reunião urgente e totalmente secreta no palácio de prata. Trataremos de questões que envolvem a segurança e a paz em toda a terra. Creio que foram conhecidos, por todos, os eventos ocorridos em Olonstreek. Ataques covardes que vitimaram muitos homens de bem e quase destruíram nosso querido reino. Temos razões para acreditar que este foi apenas o primeiro incidente de muitos e que os vossos territórios serão os próximos alvos. Espero encontrar-lhes na próxima lua crescente e que o Senhor Supremo nos conduza!” Após um breve silêncio, seguido de olhares amigáveis entre os presentes Ryanor dirigiu-se ao rei:: — Majestade! Posso entender a importância do vosso envio e sinto-me honrado pela confiança que me concedestes! — Tenho vossa permissão para partir? — Siga vosso caminho em paz, filho! Que o Senhor Supremo o conduza! — Obrigado Alteza! — Sr Steylrork! Perdoe-me por tê-lo julgado mal. Vejo que nosso rei o tem em alta conta e deveis ser merecedor dessa honraria. 42
  • 43. O ferreiro esboçou um sorriso e tocou o ombro do jovem cavaleiro, em sinal de amizade... Ryanor tomou as mensagens e retirou-se do palácio. Steylrork despediu-se do rei em seguida e retornou à sua casa no vilarejo. Ao chegar à vila o ferreiro sentia um desejo incontrolável de consultar o livro e suas mágicas escrituras. Ele era atraído por aquele misterioso objeto, sempre que houvesse algo importante a ser lido e a agonia que o tomava só tinha fim após a leitura. Ao abri- lo na última folha limpa, como esperado, uma nova escritura começou a aparecer letra após letra... Ryanor seguiu veloz pelos caminhos dos reinos celestiais e cumpriu sua missão entregando, nas mãos dos dirigentes dos reinos, as mensagens do rei Gyllimond. Ele esclarecia a urgência do encontro e a necessidade de discrição quando da chegada à Olonstreek e todos se comprometeram a comparecer ou enviar representantes em segredo. No dia da primeira reunião do Conselho Celestial os dirigentes ou representantes enviados, chegaram ao reino do Metal sem serem notados e foram recebidos em Galatyans, pelo próprio rei, com toda a discrição devida. Os trabalhos se iniciaram, mas Gyllimond inquietava-se com uma ausência entre seus conselheiros... 43
  • 44. Esconda-se ferreiro! Vossa presença será requisitada, mas deveis esconder-se por hora! És o principal conselheiro do rei e ele sentirá vossa ausência, contudo vosso melhor conselho será o silêncio. Não se trata de insolência ou covardia. Nossas melhores armas devem estar fora do alcance dos traidores. Não serás visto neste dia, nobre conselheiro! 44
  • 45. ...Acima dos interesses do conselho, Gyllimond viu-se profundamente preocupado com o paradeiro de Steylrork que jamais havia estado ausente, desde que se tornara cavaleiro. O momento mais importante após a invasão de Olonstreek havia chegado e o ferreiro simplesmente desapareceu. O rei, não poderia ausentar-se para procurá- lo pessoalmente, então, ordenou que seus soldados o fizessem e o informasse imediatamente o que acontecera. A primeira reunião do Conselho Celestial atingiu o quanto esperado. Os representantes retornaram aos seus reinos com a mesma discrição que chegaram e ninguém se quer percebeu o que havia ocorrido em Olonstreek. Os soldados enviados por Gyllimond não encontraram Steylrork em lugar algum. A aflição do rei, e da rainha, quanto ao seu paradeiro, perdurou até o amanhecer do dia seguinte, quando o ferreiro chegou ao castelo, à passos largos: — Meu Senhor e Senhora! Perdoem-me a ausência durante a reunião do Conselho. Steylrork curvou-se diante do rei e da rainha com uma expressão de arrependimento e pesar: — Meu amigo! Onde esteve? Estávamos aflitos com o vosso desaparecimento. O que houve afinal? Disse Zayra, enquanto erguia o ferreiro, gentilmente, segurando-o pela mão. — Perdoe-me Majestade não tive a intenção de afligi-los, mas assuntos urgentes me detiveram por todo o dia. O rei, irritado, olhando-o fixamente indagou: 45
  • 46. — Qual seria este assunto tão importante que o tiraste de vossas responsabilidades de cavaleiro, deixado o rei e a rainha de Olonstreek sem notícias do vosso destino? — Entendo vossa revolta, meu Senhor! E espero minha justa punição, mas o assunto que me deteve é um segredo que nem mesmo à família real me cabe revelar. O rei estava aturdido com a coragem daquele homem. Não via temor nos olhos sinceros do ferreiro, apesar da iminente punição que ele poderia receber por ter deixado suas obrigações reais, em nome de um segredo que não pretendia revelar. Gyllimond pôs-se a lembrar de como conhecera Steylrork, como deparou-se com o salvador da sua amada rainha. A espada em punho preparada para defendê-la novamente, caso fosse necessário; o olhar de um grande guerreiro vitorioso enviado para estar ali naquele exato momento. Lembrou-se também da sabedoria que ele demonstrara ao sugerir a formação do Conselho Celestial e, por fim, entendeu que estava sendo conduzido, por aquele homem humilde: “Steylrork é mais do que um cavaleiro de Olonstreek. É um enviado do próprio Senhor Supremo e está a nos conduzir desde a invasão, não me cabe recriminá-lo, nem saber mais do que me é permitido.” Pensou Gyllimond, mudando de atitude. — Não irei puni-lo cavaleiro, pois meus olhos começaram a se abrir e posso imaginar o valor do vosso segredo. Esperarei o tempo em que poderás confiar-me vossos mistérios Steylrork e estou feliz por ver que estais bem, meu amigo! 46
  • 47. — Eis generoso como nenhum outro rei nascido nesta terra meu Senhor! Muito obrigado pelo vosso perdão! A rainha não pode entender como Gyllimond mudara de atitude tão repentinamente, contudo, num sorriso, demonstrou sua aprovação vez que nunca desejara que o ferreiro fosse punido. O Conselho Celestial estava formado desde então, e foi estabelecido no primeiro encontro que cada reino escolheria quatro mensageiros destinados ao envio de comunicados urgentes, solicitando reforços rápidos quando da iminência de ataques. Ficaram também estabelecidos códigos de comunicação por meio de sinais luminosos, com os quais seria possível responder às solicitações e até mesmo avisar da impossibilidade de cumprimento do tratado de cooperação à distância. Outras reuniões foram pré-estabelecidas e ocorreriam em cada um dos outros reinos segundo agendamento prévio, ocasiões em que seriam atualizadas as informações sobre a segurança de todas as regiões pacíficas das terras habitadas. 47
  • 48. As Crianças de Olonstreek São duas as crianças. Deveis escondê-las em vosso lar. Proteja a mãe como será pedido e ajude quando ouvir a súplica. Uma nascerá em vossos domínios e a outra lhes será enviada. Reúna-as, pois são vossas, tanto quanto do rei e da rainha. Escolherás seus nomes e protegendo-as enganaras o oponente, pois no silêncio da tempestuosa noite os olhos do inimigo nada verão... Salve-as ferreiro! 48
  • 49. A batalha que quase vitimou a rainha e a criança que ela trazia no ventre, tornou a segurança da família real, mais do que nunca, a prioridade no reino do metal. Os renegados capturados, após a invasão, foram interrogados diversas vezes pela guarda de Olonstreek. Ryanor tencionava colher informações sobre o exercito inimigo e suas intenções futuras. Ele descobriu que existiam planos concretos de impedir que a criança real viesse ao mundo, que este fora o verdadeiro motivo do ataque e que o contingente inimigo era muito maior do que fora visto. Por essa razão o Rei Gyllimond, resolveu esconder Zayra em um lugar onde ninguém imaginaria que ela pudesse estar. Ele convocou Steylrork para uma reunião urgente: — Steylrork! Preciso da vossa ajuda. O ferreiro prontificou-se: — Meu Senhor! Diga-me em que poderei ser útil. — Preciso que escondas Zayra em vossa casa, até o nascimento da nossa criança. Descobrimos que a intenção dos invasores era a morte da rainha e do bebê e, por isso, temo a possibilidade de um novo atentado. — Minha casa será abençoada pela honrosa presença da vossa família, meu Senhor! Não se preocupe, pois protegerei a rainha com a minha vida! — Vos agradeço meu amigo! Terás minha confiança para esta missão. Meus melhores homens estarão vigiando secretamente a vossa casa. 49
  • 50. Na noite seguinte a Rainha foi levada, sobre disfarce, para a casa de Steylrork. Apenas os homens de confiança do rei e a serva da rainha sabiam onde Zayra iria permanecer até o nascimento da sua criança. O pequeno Chalé onde o ferreiro vivia, dispunha de apenas um aposento onde ele se recolhia para dormir. Era realmente confortável e mantinha-se impecavelmente organizado, com moveis entalhados pelas suas habilidosas mãos. Ele preparou sua casa para a chegada da rainha e a recebeu com toda reverência devida: — Minha Senhora, perdoe-me o desconforto do meu lar. Farei o melhor para reduzir o incomodo destas humildes instalações. — Steylrork, meu amigo! Vossa segurança e lealdade é todo o conforto de que preciso. Agradeço-vos por me abrir as portas da vossa casa. Zayra entrou no chalé e foi conduzida por Steylrork aos aposentos onde ficaria escondida até o final da gestação, como planejado pelo rei. O ferreiro então começou a dedicar-se ao serviço e proteção da bela rainha e sua criança que em alguns dias, viria a nascer. Zayra sentia-se bem, em segurança, e Steylrork mantinha-se vigilante. Ele avisaria ao rei quando a hora do nascimento estivesse próxima, para que Elga, a fiel serva da rainha, viesse acompanhar o parto. Enquanto este dia não chegava, cabia à Elga fingir que Zayra mantinha-se indisposta nos aposentos reais, para que todos em Olonstreek acreditassem que ela permanecia no castelo, o que ela cumpriu sabiamente. Alguns dias se passaram e o plano de Gyllimond funcionava plenamente. Ninguém, em todo o reino, imaginara que a rainha não estava recolhida no palácio. A invasão esperada não ocorreu, mas Ryanor reforçou as 50
  • 51. tropas na fronteira do reino, evitando ser surpreendido novamente. Uma tempestade quebrava o silêncio da madrugada, quando Steylrork ouviu uma voz que o chamava do lado de fora da casa. Ele imaginou saber do que se tratava, mas, precavido, tomou sua espada nas mãos e cuidadosamente abril a porta. Ninguém o esperava, porém, ao chão, havia um cesto com uma criança que curiosamente não chorava, embora estivesse ao relento. O ferreiro sorriu, olhando para criança e, lembrando-se do que havia lido nas escrituras, trouxe-a para dentro. Enquanto fechava a porta ele ouviu um grito que vinha do interior da casa. Zayra chamava-o, pois já estava em trabalho de parto, porem, algo não corria bem e ela clamava por sua ajuda: — Steylrork, aproxime-se! Está na hora, mas há algo de errado! Temo pela vida da minha criança! Ajude- me, por favor! — Acalme-se minha Senhora! Estou aqui e irei ajudá-la! Não temas mal algum, pois o Senhor Supremo está conosco neste momento! A urgência impedira Steylrork de chamar por Elga. Teria, ele mesmo, que auxiliar o nascimento do bebê, em detrimento das convenções sociais que proibiam os homens de presenciar tais ocasiões. Ele não sabia como proceder. Tentou, então, lembrar-se das mulheres do vilarejo que se reunião para ajudar umas às outras quando uma criança estava para nascer e, muitas vezes, narravam seus feitos aos amigos. Num esforço, o ferreiro lembrou-se de um episódio narrado por uma de suas vizinhas que, detalhadamente, explicou como conseguira salvar um bebê que não estava na posição correta para nascer. Ele, 51
  • 52. entendendo que se tratava de situação semelhante, dirigiu-se à rainha explicando o que parecia estar havendo. — Senhora! Creio que o vosso bebê não está na posição correta para nascer e precisará de ajuda — Ajude-me meu amigo! Faça o que for preciso, mas salve minha criança! Steylrork, munido das bênçãos do Senhor Supremo e imitando as parteiras do vilarejo, reposicionou a criança que nasceu em seguida. A rainha, exausta, desfaleceu, perdendo os sentidos, logo que pode ouvir o primeiro choro do seu bebê. O ferreiro recordou-se de tudo que havia lido nas escrituras para aquele dia. Ele sabia que Zayra ficaria bem, após um merecido descanso. Sabia, também, que os destinos daquelas duas crianças, que agora se encontravam na sua humilde casa, estavam selados e entrelaçados para sempre. O Senhor Supremo mais uma vez o mostrara como agir e ele assim o fez. Tudo corria como esperado e Steylrork contemplava as belas crianças que tranquilas dormiam, alheias, a tudo que estava por vir, a todo o mal que enfrentariam no futuro incerto dos homens das terras habitadas. Zayra acordou chamando: — Steylrork! Traga-me meu bebê! Ele hesitou por um instante olhando para as crianças. Então, tomou uma delas nos braços e levou até a rainha. 52
  • 53. — Aqui está minha Senhora! Veja que bela princesa o Senhor Supremo lhe enviou! É certamente a mais bela que a terra já conheceu! — Obrigada meu amigo! Mais uma vez salvaste nossas vidas. — Estarei sempre aqui minha Senhora! Agora queira descansar com vossa criança. Chame quando precisar. A manhã, finalmente, chegou e a rainha logo quis saber da outra criança que ali se encontrava. O ferreiro explicou a “incrível coincidência” que ocorrera naquela madrugada tempestuosa e ambos concordaram que, certamente, tratava-se de um sinal divino. Ele jurou cuidar e proteger o bebê que havia sido deixado em sua porta, bem como, a criança que nascera em sua casa. Zayra tomou em seus braços o outro bebê que ali estava. Era um belo garoto aquele que desde então, tornara-se filho do seu amigo ferreiro. Ela levou-o para seus aposentos e, num gesto digno da bondosa rainha de Olonstreek, pôs-se a alimentá-lo junto à princesa. Tudo havia ocorrido conforme a vontade suprema, Steylrork cumprira sua missão e era chegada a hora de avisar ao rei sobre o acontecido. Ele convocou o soldado que montara guarda durante toda a noite, a alguns metros de sua casa, e ordenou que fosse ao castelo avisar ao rei que seu bebê havia nascido durante aquela madrugada, que Rainha Zayra e a Princesa, estavam bem e aguardando sua visita. Em pouco tempo o rei Gyllimond chegou à casa do ferreiro, aflito, em busca de notícias sobre o que havia acontecido: — O que houve Steylrork! Por que não nos avisou que a hora havia chegado? 53
  • 54. O Ferreiro conhecia as convenções do seu tempo, sabia que não deveriam estar presentes durante o nascimento de uma criança e que, como regra de conduta, um homem que ousasse presenciar o nascimento de uma princesa poderia pagar com a vida perante a sociedade. — Meu Senhor! Perdoe-me, mas havia algo de errado e temi pela segurança da vossa família, caso me ausentasse. Obriguei-me, portanto, a auxilia-la durante o parto, a despeito das nossas convenções. Gyllimond, no entanto, era naturalmente avesso à maioria das convenções preconceituosas da sociedade antiga e não estava preocupado com quem auxiliou o nascimento de sua pequena princesa desde que ela e a rainha estivessem em segurança. — Não se envergonhe meu amigo! Tudo certamente correra conforme a vontade do Senhor Supremo. Estou feliz por encontrar minha família em segurança! Esta é apenas mais uma das dívidas que temos para convosco. — Obrigado por vossa confiança, Majestade! Deixe-me levar-lhe à vossa bela família. Gyllimond cumprimentou Zayra e falou sobre o quanto estava feliz por vê-la bem. Depois tomou sua filha nos braços, com profunda emoção: — Minha bela princesa, minha vida e meu reino são teus. Terás das mãos de vosso pai, tudo o que precisar para ser feliz e prometo que o serás, como nenhuma outra princesa em toda historia dos homens. 54
  • 55. Steylrork retirou-se deixando a família real, em comemoração. Ele pôs-se a cavalgar em meio aos pensamentos que o tomavam. Imaginava o futuro daquelas pobres crianças que conhecera durante a noite passada, os desafios que estavam por mudar suas inocentes vidas e todo horror da guerra que viria. Seu coração estava agora em conflito, entre o desejo de protegê-las, a qualquer custo, e a obrigação de deixa-las seguir o perigoso caminho pré-determinado em nome da profecia que guardava. Mas, o ferreiro logo recuperou a razão, entendendo que o melhor caminho já havia sido traçado pelo próprio Deus e que ele amava aqueles pequenos muito mais do que qualquer homem que os tentasse proteger. Voltando à sua casa, ele fora informado de que o rei procurava-o: — Estou aqui Majestade! Em que posso ser útil? — Steylrork! Zayra deixou-me a par da inusitada história que ocorreu esta noite e me parece claro que tu recebeste um presente das mãos do Senhor Supremo. Saibas que é da nossa vontade que a rainha possa alimentar vosso filho enquanto bebê. Dou-lhe minha palavra que esta criança será protegida e tratada como o mesmo zelo e cuidado que terá a princesa. Sei que não queres residir no palácio, mas creio ser importante que permaneças conosco até que vosso filho não necessite mais dos cuidados da Rainha. — Agradeço tuas promessas Majestade! Agradeço também a ti, minha Senhora, pela bondade de alimentar meu pequeno menino. Será uma grande honra residirmos, pelos próximos meses, em Galatyans, Alteza! A Rainha então tomou a palavra para anunciar uma decisão que tomara junto ao rei: 55
  • 56. — Decidimos que vos daríamos o direito de escolher o nome da princesa, já que foste tu que a ajudara a nascer. — Senhor! Como será possível, um simples ferreiro ser detentor de tal honraria? — Tu és cavaleiro de Olonstreek Steylrork e ainda que não o fosse, tens a nossa gratidão e amizade! Acaso a família real não tem o direito de ter um amigo? — Naturalmente Majestade! Tenho grande felicidade por ostentar vosso apreço! — Há alguns dias tive um sonho e ele uma criança, uma bela menina, era conduzida pela mão por um anjo de Deus que a chamava de Zaradyk. Imaginei que este poderia ser o nome de vossa princesa, minha Senhora! O rei tomou a palavra: — És mesmo um homem ungido, Steylrork! Falas de um sonho profético com tal simplicidade que nos parece uma rotina para vós, receberdes mensagens do próprio Senhor Supremo. Sonhastes com a nossa princesa e assim ela será chamada! A rainha, num sorriso, concordou: — É um belo nome meu amigo! Mas afinal como será chamado o vosso menino? — Meu pai chamava-se Auryous. Chamaremos meu filho de Auryousrork, para que ele seja maior que os homens que o precederam. Saíram todos do vilarejo em direção ao castelo. A rainha cuidaria, desde então, das duas crianças e Steylrork empenhara-se em protegê-las diariamente no Palácio de Prata! 56
  • 57. A Transformação O renovado Exército do Vale Evilkeerts Tolos Ambiciosos! Sedentos por vingança. A cobiça, maldade e ambição, os destruíram. Pensaram encontrar poder no tenebroso Myrior, mas, na verdade, entregaram-se como escravos e perderam suas almas. Tolos Perversos! 57
  • 58. Jamais serão vitoriosos, pois o lago destruiu seus corações e as corpulentas aberrações não verão a luz que as devolverão às cinzas... 58
  • 59. Depois do ataque frustrado, o exército dos renegados assumiu a busca por meios de se recompor, para continuar com o ambicioso plano de dominar o 1º reino, repartindo entre os membros, suas riquezas. Noravox, o líder do exército Evilkeerts, era um conhecido membro da nobreza do reino do metal, um assassino banido por seus crimes. Quando jovem, sonhara tornar-se um cavaleiro real, porem fora desqualificado devido ao comportamento violento e leviano. Depois, ele direcionou seus esforços contra as riquezas reais, sendo preso e julgado pelo assassinato dos soldados que o flagraram tentando roubar metais preciosos em Olonstreek. Seu ódio contra o 1º reino o levou a organizar o exército e a ofensiva contra o palácio real, mais o primeiro fracasso o fez crer que precisaria de ajuda para tornar possíveis seus planos de vingança. Noravox buscou nas forças ocultas o poder necessário aos seus propósitos e desde então aliou-se ao Senhor das Trevas (Myrior). Aquele exército que antes servia aos propósitos de riqueza e violência eminentemente humanos, agora serviria ao mal, destinando-se a aniquilar a humanidade e estabelecer o domínio das trevas. O poder maléfico de Myrior estava concentrado nas águas lodosas, represadas em um lago situado ao centro do Vale Evilkeerts, o Lago Myrior. Os soldados merecedores, após serem testados, banhavam-se nestas águas e aos poucos se transformavam em feras abomináveis, com força e estatura descomunais. Tornavam-se humanoides aberrantes e disformes, que, com extrema facilidade, aniquilariam um homem comum. Diante de tamanho poder, o potencial de persuasão para o recrutamento de novos soldados, advindos de todos os reinos, crescera na proporção em que ficava clara a possibilidade de vitória contra soldados 59
  • 60. comuns, o que propiciou o desenvolvimento rápido e contínuo do transformado exército do Vale Evilkeerts. A partir destes renegados viria a guerra, a morte e a destruição contra os homens e seus reinos, que preparados ou não, defender-se-iam ou pereceriam ante a luta pela vida. 60
  • 61. As Pequenas Espadas ...Deixe-as brincar! Deixe-as crescer! Mas instrua e ensine o quanto antes, vez que logo precisarão. Proteja-as também! O mal espreita em silêncio. Ficai atento à minha voz e aos sinais, no entanto, permita-as alguma ousadia, pois devem aprender depressa a ter coragem. Que as pequenas espadas sejam desembainhadas para a surpresa do inimigo, às margens dos rochedos de Olonstreek... 61
  • 62. De volta à Galatyans, a família real, o ferreiro e seu filho, acomodaram-se, enquanto o chefe da guarda estabelecia, junto à Gyllimond, diretrizes de segurança para a pequena princesa. Estabeleceu-se, na ocasião, que os soldados de maior confiança do rei e o próprio Ryanor fariam um revezamento guardando a integridade do bebê e está era a mais importante missão do exército real desde então, gozando de prioridade sobre quaisquer outra. O pequeno Auryousrork, como prometido, recebera os mesmos cuidados oferecidos à princesa. A rainha o tratava com carinhos de mãe e seu pai, Sr Steylrork, não escondia a grande honra que sentira ao ver o zelo real pelo menino. Com o passar do tempo os bebê tornaram-se pequenas crianças e apesar dos esforços do rei e da rainha, em manter Steylrork e seu filho no palácio, chegou o dia em que eles voltaram para a vila. Os comentários sobre a amizade verdadeira entre a família real e a pequena família do ferreiro corriam por todo o reino. As crianças cresciam em segurança e embora Auryousrork e seu pai não residissem mais no castelo, estavam sempre presente. Steylrork ensinava-os secretamente suas técnicas de combate e os professores das artes da guerra, estranhavam as capacidades inatas daquelas crianças. Zaradyk encantava a todos com a beleza dos seus curiosos olhos azuis, emoldurados por seus cabelos louros como o ouro de Olonstreek e muitos nobres já sonhavam em unir um dos seus filhos à bela princesa que ela certamente se tornaria. Auryousrork parecia o prelúdio de um grande rei. Tinha o olhar imponente de um guerreiro, incomum para uma pequena criança. Seus olhos eram castanhos, seus 62
  • 63. cabelos negros e o corpo infantil já ensaiava o porte atlético que mais tarde ostentaria. Eles eram amigos inseparáveis. Divertiam-se, aprendiam e cresciam juntos, a despeito do preconceito velado que os nobres conservadores de Olonstreek nutriam contra o amor inocente que os unia... 63
  • 64. — Crianças! Cheguem mais perto, quero contar- lhes uma história antiga. Eles aproximaram-se para escutar o ferreiro. Zaradyk poderia ouvir as historias de Steylrork durantes horas, sem parar. Ela permanecia atenta a suas palavras e queria sempre saber mais sobre o passado do seu povo. Auryousrork, por outro lado, estava sempre impaciente nestas ocasiões, não queria desperdiçar o tempo dos seus treinamentos de combate para ouvir seu pai falar das velhas batalhas que nem mesmo ele havia presenciado. Naquele dia Steylrork decidiu falar sobre a antiga lenda do reino unificado: — Escutem crianças! Está é a mais importante historia que vossos pequenos ouvidos conhecerão! — Há muitos séculos atrás, um conflito pôs fim à paz que, desde sempre, imperava nas Terras Celestiais. Havia um anjo chamado Myrior, que gozava de um grande prestígio para com o Senhor Supremo. Ele detivera a confiança do seu Senhor e o respeito de todos os que conviviam no Palácio Celestial. Um dos seus principais trabalhos consistia no cuidado para com os magníficos animais do reino, nossos temíveis dragões... Zaradyk não pode conter-se e interrompeu: — Mas tio Rork! Como criaturas tão más poderiam habitar o Palácio Celestial? Auryousrork continuou perdido em seus pensamentos, alheio a historia narrada por seu pai. — Nem sempre foi assim Zara. Os dragões eram seres pacíficos no antigo lar Celestial. — E o que aconteceu com eles então tio Rork? 64
  • 65. — O anjo Myrior rebelou-se contra o Senhor Supremo. Ele acreditava que poderia assumir o reino, sobrepujando o poder de Deus, mas foi banido dos Domínios Celestes e precipitado ao centro do Continente Habitado, trazendo consigo os dragões que viviam sob o seus cuidados. Auryousrork perguntou: — Mas porque este tal anjo traidor não tomou para si os cinco reinos? Se ele possuía os dragões, quem poderia vencê-lo no continente habitado? — Hora! Vejo que finalmente interessou-se pela história pequeno guerreiro! — As batalhas entre os homens e o anjo traidor, com seu exercito de dragões, aconteceram em seguida Auryousrork! No entanto, os homens conquistaram a liberdade e o próprio Senhor Supremo aprisionou o inimigo em um lago ao centro do Vale Evilkeerts. Mas já lhes falei sobre as batalhas entre os homens e os dragões, em outra ocasião meu filho, tu não te lembras? Zaradyk olhou para Auryousrork e sorriu com certa ironia. Ele retribuiu o sorriso e deu de ombros. Steylrork continuou: — Após aprisionar o anjo traidor o Senhor Supremo prometeu aos valentes guerreiros que traria à terra, num futuro próximo, um reino unificado. Este seria alcançado por intermédio do Dragão dos Ventos Celestiais, símbolo da bondade e justiça, contrários ao terror trazido por Myrior e seus dragões corrompidos. — Esta fora a promessa do Senhor Supremo aos homens daquele tempo. A formação do Reino Unificado do Dragão dos Ventos Celestiais. 65
  • 66. Zaradyk sentia que tudo aquilo era verdade e pôs- se a imaginar quando a promessa seria cumprida. Auryousrork, por sua vez, manteve-se incrédulo. Eram apenas lendas antigas e ele não tinha tempo a perder com histórias. Precisava aprender a combater, pois só assim poderia tornar-se cavaleiro como seu pai. As crianças haviam completado treze anos quando decidiram explorar as fronteiras de Olonstreek. Zaradyk não era uma menina comum e os perigos aos quais estava exposta a aprisionava em seus próprios domínios. A família real jamais a deixara sozinha, desde que nasceu, e Auryousrork, seu companheiro inseparável, também sofria as consequências da proteção excessiva, por parte da guarda real. Eram crianças felizes, mas ansiavam por liberdade. Zaradyk suplicara a ajuda de Auryousrork que, apesar de tentar dissuadi-la da ideia, por respeito ao seu pai e ao rei, terminou por ceder ao poder de persuasão que ela exercia sobre ele e a ajudou na fuga rumo às fronteiras do reino. Assim que o desaparecimento da princesa foi descoberto e a notícia chegou ao conhecimento do rei Gyllimond, um alerta de segurança foi ordenado e tornou-se prioridade máxima para todo o exército, o resgate da princesa em segurança. Pouco tempo depois, Steylrork chegou à Galatyans e disse ao rei que Auryous também havia desaparecido. As crianças seguiram escondendo-se dos soldados que os procuravam e, a cavalos, rumaram em direção à cadeia rochosa que limitava o reino do Metal. Próximos à fronteira de Olonstreek, avistaram soldados que saiam dos seus postos para reforçar as buscas e decidiram 66
  • 67. esconder-se em uma das cavernas que limitavam os domínios do reino. A princesa e seu companheiro eram mesmo especiais. Mais inteligentes, corajosos e hábeis nas artes da guerra, do que quaisquer outra criança nascida nas terras habitadas. No entanto, os riscos escondidos por traz das fronteiras dos Reinos Celestiais eram verdadeiros. Zaradyk e Auryousrork não poderiam imaginar os perigos que os rondava silenciosamente pelo simples fato de atravessarem as fronteiras de Olonstreek. Enquanto isso, no palácio, Steylrork conversava com Gyllimond e Zayra sobre o que ele achava que teria acontecido: — Senhora. Percebi que Zara tem estado incomodada com a proteção da guarda real, acredito que ela e Auryous possam ter despistado a guarda e tenham fugido juntos. O rei, que acompanhava atento o que dizia o ferreiro, perguntou aflito: — Steylrork! Tens alguma ideia de em que parte do reino as crianças possam ter ido? — Senhor! Temo que devamos procurar na fronteira rochosa. As crianças nunca esconderam a curiosidade sobre o que há através da floresta Cinzenta. — Mas Steylrork! Os guardas protegem a fronteira, a todo o momento... — E todos estão preocupados com as buscas da princesa. — Tens razão. Não temos tempo a perder! Vamos procurá-los agora mesmo! A floresta é muito perigosa e se eles conseguiram despistar os guardas no castelo, saberão fazer o mesmo com os da fronteira. Por 67
  • 68. fim, seguiram depressa para os limites da fronteira rochosa de Olonstreek o rei, os soldados e o ferreiro. Após despistarem os soldados, as crianças deixaram os cavalos numa caverna e seguiram andando até os limites do reino. Passando a fronteira rochosa eles logo avistaram a imensa e sombria Floresta Cinzenta que protegia a região dominada pelo mal, o Vale Evilkeerts. Curiosa, a princesa sugeriu: — Auryous! Vamos chegar mais perto da Floresta de Nágora. Será que conseguiríamos chegar até o Vale Negro, deve ser assustador, não é... — Zara! Creio que já fomos longe demais. Viemos para o lado de fora do reino como era vosso desejo. Entrar nos domínios do mal, já seria loucura! Tens ideia de quantos soldados de Olonstreek desapareceram neste lugar? Não entrarei nessa floresta e nem a deixarei arriscar-se mais. — Mas Auryous nós somos... Um homem ameaçador, muito estranho, com cicatrizes por todo o corpo, interrompeu o diálogo entre os meninos, segurando a princesa pelo braço. Tratava-se de um ladrão banido pelo 1º reino que, no entanto, ainda não teria sido aceito pelo exército inimigo. Quando reconheceu Zaradyk, ele decidiu levá-la com o intuito de ser aceito por Noravox em reconhecimento ao seu feito. Auryousrork partiu decidido em direção ao homem que soltando a princesa o empurrou contra o chão. Zaradyk desembainhou sua pequena espada e ameaçou o ladrão. Ele sorriu sarcasticamente e ergueu sua espada contra a princesa. Habilidosa ela bloqueou o 68
  • 69. golpe e num giro, contra golpeou o inimigo ferindo-o no ombro direito. O homem, furioso, desferiu outro golpe frontal, que Zara novamente bloqueou, porém foi lançada ao chão devido à violência do ataque, deixando cair, à distancia, sua pequena espada. O inimigo já não tencionava levar a princesa com vida. Decidira ataca-la com toda sua fúria, avançando contra ela, com a espada erguida sobre a cabeça. Surpreendendo-o, Auryousrork o impediu, saltando e cortando-lhe a mão direita, com a lâmina perfeita que Steylrork forjara para ele. O homem, ferido, fugiu em direção a Floresta Cinzenta. Enquanto Auryous ajudava Zara a se levantar, pode perceber o grande contingente do exército de Olonstreek que corria na direção deles. Ele sentiu-se finalmente salvo daquele malfeitor e confortou a princesa que chorava assustada. O rei, ao longe, chamou Zaradyk que correu para abraçá-lo: — Pai, por favor, perdoe-me! Eu só queria um tempo longe do controle da guarda. Vossos soldados não me deixam sozinha nem um instante. — Minha filha. Tu és a princesa do reino do Metal. Muitos malfeitores querem ferir-lhe e, assim, ferir vosso reino. A proteção da guarda é necessária mesmo que lhe incomode. — Quanto a vós Auryous! Vimos o que fez e lhe sou grato por ter protegido minha filha... — Auryousrork! Disse o ferreiro, num tom ameaçador. — Que ideia foi essa de fugir com a princesa? 69
  • 70. O menino, ainda assustado, abaixou a cabeça num gesto de submissão. O rei interferiu: — Steylrork, não é o momento para exortações. Vamos levar as crianças para o Galatyans. O ferreiro balançou a cabeça, discretamente, num gesto afirmativo dirigido ao rei. Seus olhos, porém, continuaram a exortar o garoto por todo o caminho de volta. Foram todos juntos ao palácio encontrar a rainha que aguardava, aflita, por notícias das crianças. Ela correu ao encontro de Zaradyk, e ao perceber o ar de culpa nos olhos do pequeno Auryousrork, estendeu os braços chamando-o para que ele também a abraçasse. Em seguida o rei tomou a palavra: — Crianças! Perceberam o risco que se expuseram? Entenderam por que não podem ficar sem a proteção da guarda, sobretudo, fora dos domínios reais? Auryous respondeu: — Sim meu Senhor! Peço-lhe que me perdoe! A culpa foi toda minha. Aceitarei o meu castigo... — Conheço bem minha filha, Auryousrork, e sei que ela deve ter lhe convencido a ajudá-la. Sei também da grande amizade e cuidado que tens por ela e, por isso, não vejo motivo para lhe atribuir toda a culpa do ocorrido. Quanto à punição para os dois, creio que o susto com o ataque que sofreram fora suficiente até o momento. Assim aproveito para pedir ao amigo Steylrork que não atribua punição ao vosso filho. 70
  • 71. Na realidade, Auryousrork tornou-se hoje, como o vosso pai, um dos nossos heróis. Diante dos nossos olhos, este corajoso menino, munido de sua pequena espada, protegeu a princesa, salvando-lhe a vida. Steylrork esforçou-se para disfarçar o orgulho que sentira. E num breve sorriso, evitou que seu filho percebesse que já estava perdoado. Em seguida o rei ordenou que Auryousrork se aproximasse e ajoelhasse perante ele, para que pudesse dar-lhe a honraria de cavaleiro real. Auryous, incrédulo, ajoelhou-se. Como num sonho o menino, contemplou o rei tomar sua espada e tocar-lhe os ombros tornando-lhe o mais jovem cavaleiro de todos os reinos da terra: — Auryousrork! A partir deste momento vossa vida estará marcada pela missão de honrar Olonstreek e seu povo. Ser um cavaleiro real exigi senso de justiça, coragem, força e lealdade. Entrego-lhe esse título porque, ao proteger a princesa, tu provaste o vosso valor e o merecimento desta grande responsabilidade. — Agora, dar-lhe-ei vossa primeira missão. Deverás continuar vossos estudos com Zaradyk, protegendo a ela e a si mesmo, sem faltar com a obediência a vosso sábio pai, Sr Steylrork. — Perdoe-me meu Senhor! Mas se agora sou cavaleiro real, porque então continuarei fazendo o que sempre fiz. — Filho! Cada cavaleiro deve honrar a obrigação que lhes for confiada, não importando qual seja. Vossa missão é a mais importante dentre todas que já ordenei: cuidar do maior dos meus tesouros, a minha querida filha. Sei que tu sempre cuidaste de Zaradyk com muito zelo e carinho, meu desejo é que continue agindo assim. O garoto respondeu com firmeza: 71
  • 72. — Podes contar comigo meu Senhor! Defenderei a princesa, se preciso, com minha vida... — Quanto a vós, Zara! Deveis lembrar-se do quanto a segurança de Auryousrork nos é importante. Portanto, lhe caberá à obrigação de não permitir que vosso amigo precise arriscar a vida para tirar-lhe de outra situação que possas evitar. — Eu entendo o que me dizes meu pai! Quero agradecer, diante de todos, ao meu amigo Auryousrork, por ter me ajudado, e prometo não colocá-lo em risco outra vez. O Senhor, minha mãe e meu tio Steylrork têm a minha palavra. — Eu, o rei Gyllimond, declaro-me satisfeito com os rumos desta reunião. Que o Senhor Supremo receba e faça cumprir, minhas palavras, as palavras da rainha, as promessas feitas pela princesa Zaradyk e pelo cavaleiro real Sr. Auryousrork. Com o fim da reunião, Sr Steylrork aproximou-se do rei falando em particular: — Senhor! Entendi o que fizeras ao meu filho e quero agradecer-lhe. — Não me agradeça por isso, meu amigo! Vimos o prodígio que vosso filho realizou e, realmente, fora uma atitude digna de um cavaleiro real. Cuidaremos para que ele torne-se um grande guerreiro como o pai... Voltando para casa, o ferreiro permaneceu calado por todo o caminho, o que, aos poucos, deixou Auryousrork apreensivo. Assim, o garoto resolveu quebrar o silencio: 72
  • 73. — Pai! Não ficaste orgulhoso do título que recebi do rei? Ainda está chateado por termos fugido? Por que o Senhor não quer falar comigo? — Auryous. Não imaginas o susto que me deste? Existem muito mistérios por traz da nossa proximidade com a família real. Tua missão fora dada pelo rei, porem a minha foi entregue pelo próprio Senhor Supremo. Se vossa responsabilidade é de proteger a princesa, a minha é de proteger a ti e a ela. Quanto ao título que o rei lhe concedeu, estou muito orgulhoso e foste merecedor, no entanto, creio que eis muito jovem para entender a importância disso. — Que mistérios são esse meu pai? Tem algo a ver com a profecia? Por que não confias em mim? Se não estou preparado, me ensine! — Perguntas demais para o momento Auryous. Não quero que dês ouvidos aos comentários que circulam pelo reino a respeito da profecia. Chegará o tempo em que falaremos sobre tais mistérios, está me ouvindo? — Sim Senhor... — E quem lhes disse que não confio em vós? Se não confiasse diria ao rei para não torná-lo cavaleiro. Duvidas que ele me ouviria? — Não Senhor... — Confio em ti meu filho e estarei sempre perto quando precisares da minha ajuda. Para esta ou qualquer outra missão que tiveres que assumir. Agora vamos descansar; este dia difícil nos esgotou a todos. — Vamos sim meu pai! Obrigado por ficar ao meu lado. Por fim, o ferreiro abraçou o filho aliviado por ter acabado toda aquela confusão e recolheu-se ao descanso merecido. 73
  • 74. O Repúdio dos Nobres Não os dê ouvidos, meu filho! Eles não conhecem o vosso real valor. Ignoram os perigos que os ronda, secretamente, e acreditam que proteger as tolas convenções sociais lhes será válido. Posso disser-lhe que se soubessem o que os espera, suplicariam, beijando-lhe os pés, pelo vosso socorro e aquele que ao fim estiver de pé, curar-se-á perante os vossos. Plebeus ou não... 74
  • 75. Em pouco tempo, o susto com o ocorrido, após a inusitada fuga da princesa, fora superado. No entanto, a insatisfação dos membros da nobreza envolvidos com a família real, a cerca da presença de plebeus no seu convívio, começou a ficar evidente para todos. Apesar de tratar-se de uma criança, Auryousrork logo entendeu que sua presença entre os nobres, não era desejada. Sentia-se protegido pelo declarado amor que a rainha demonstrara sentir por ele, porem, o zelo real aos poucos se tornara insuficiente. Desde sempre, Zayra tentara deixá-lo à margem do preconceito da nobreza, mas, com o tempo, seus cuidados não impediram que o pequeno cavaleiro se sentisse rejeitado por seu povo. Steylrork, por certo tempo, evitou o assunto com Gyllimond, mas logo percebeu que a situação certamente viria à tona à medida que Auryousrork amadurecesse e entendesse sua origem. Assim, ele dirigiu-se ao rei: — Senhor, gostaria de um tempo para tratarmos de um assunto que receio estar na eminência de insurgir- se contra nós. — Do que se trata meu amigo? Diga-me sem tantos rodeios. — Majestade! É notório o incomodo dos nobres com a minha presença e principalmente a de Auryousrork, no convívio com a vossa família. Temo que esta questão possa gerar constrangimentos para meu filho e até mesmo para o vosso reinado. — Steylrork! Eu sou o rei de Olonstreek. Se a gratidão e amizade da minha família por vós e por vosso filho os tornaram nobres entre os nobres, quem irá dizer o contrário. Não importam as convenções da nossa sociedade, nem a vossa origem ou a de Auryousrork. Devo-lhes a vida da minha esposa e filha, o que os tornam tão especiais que qualquer pessoa que os ofenda será considerada inimiga do reino. 75
  • 76. — Sei de tudo isso Alteza, mas preocupa-me o sentimento de Auryous, frente aos possíveis comentários preconceituosos dos nobres que o cercam. Ele é apenas uma criança e não entende porque é preterido. — Acalme-se ferreiro! Caso seja necessário falarei pessoalmente com Auryousrork e garanto que tu e vosso filho não serão ofendidos diante dos meus olhos. — Está certo meu Senhor! Aguardarei os acontecimentos... O tempo passou e a previsão de Steylrork não demorou a se confirmar. Os nobres começaram a descriminar veementemente o garoto plebeu que acompanhava a princesa a todos os lugares. Nem mesmo o título de cavaleiro atribuído pelo rei, fora suficiente para gerar algum respeito a Auryousrork, por parte da nobreza conservadora. Conversavam entre eles sobre o fato de não ser natural um plebeu, ainda mais uma criança, ser nomeado cavaleiro. Tais comentários não tardaram a chegaram aos ouvidos do garoto que se sentira extremamente incomodado. Zaradyk logo notou a decepção do amigo e tentou confortá-lo, enquanto cavalgavam lado a lado: — Sr Auryousrork! Sabes que me sinto muito honrada pela companhia de tão virtuoso cavaleiro? — Sei o que queres Zara, e não vai adiantar! Qual o valor de um cavaleiro sem o respeito dos nobres do reino que serve? Creio que eu deva desistir desta história de ser cavaleiro. Sou filho de ferreiro e assim devo ser conhecido. Eles deixaram os cavalos pastando e se sentaram à sombra de uma árvore: 76
  • 77. — O que estais dizendo Auryous! Como vosso pai, tu foste declarado um cavaleiro real. Vosso título fora atribuído pelo rei e só ele poderia revogá-lo. — Então estou condenado a ser um cavaleiro rejeitado pelos nobres do meu reino. Não sei o que fazer Zara! Eu nasci plebeu e é assim que serei visto por todos. Nem mesmo meu pai conhece minha verdadeira origem, ele encontrou-me em sua porta... Zara pode perceber a grande tristeza nos olhos de Auryousrork. Ela o abraçou enquanto ele tentava esconder suas lagrimas: — Acalme-se Auryous! Vamos descobrir uma forma de resolver isso, não gosto de ver-te chorar. — Quem está chorando princesa? De onde tiraste essa ideia? Cavaleiros não choram! — Está certo Sr Auryousrork! Vamos esquecer esta história... Zaradyk, não pode esquecer o acontecido. Conhecia Auryousrork muito bem e sabia o quanto ele sofria por ser rejeitado. Resolveu então falar com o rei no intuito de vislumbrar uma solução. — Meu pai! Gostaria de falar-lhe um pouco... — Minha querida! Em que posso ajudar-lhe. — Quero pedir-lhe que faças justiça à Auryousrork. Os nobres mais conservadores do reino o estão descriminando. Dizem que ele não deve conviver com a nobreza e que não o reconhecem como cavaleiro. Ele está muito triste e não gosto de vê-lo assim. — Não é surpresa minha filha! Há algum tempo Steylrork alertou-me sobre seus receios a este respeito. Mas não se preocupe Zara! Resolverei este problema. 77
  • 78. — Diga a Auryousrork que venha falar comigo pela amanhã. — Obrigado meu pai! Na manhã seguinte, Zaradyk procurou Auryous e lhes disse que seu pai queria vê-lo. Ele foi ao encontro do rei que o pediu que se aproximasse: — Sr Auryousrork! Sente-se aqui ao meu lado. Zara permaneceu de pé, no salão real. — Filha, por favor, deixe-nos a sós. — Com sua licença meu pai... — E quanto a ti meu rapaz! Que ideia é essa de deixar-se abater por comentários daqueles que estão abaixo da autoridade que lhe fizera cavaleiro? — Perdoe-me Senhor! Zaradyk não devia incomodá-lo com meus problemas. — Estais enganado, pequeno cavaleiro! A princesa apenas cumpriu com o dever de informa-me quanto ao desrespeito à minha vontade. Se os nobres desfazem do vosso título é a mim que estão ofendendo. — Entendo meu Senhor! — Tu és um cavaleiro real, Auryousrork, o que significa que possui autoridade para exigir respeito até mesmo por parte dos nobres. — Mas Majestade! Eles ignoram a minha autoridade e não se importam com minha posição. Aos seus olhos sou apenas um garoto plebeu de quem não se conhece nem mesmo a origem. — Zara contou-me que tu estavas muito triste. Quero que saiba de uma vez por todas que vosso pai é como um irmão para mim, o que o torna meu sobrinho. Sou vosso tio e, como tal, também não quero vê-lo triste. 78
  • 79. — Resolverei esta questão de uma vez por todas, meu sobrinho! Convocarei todo o povo de Olonstreek para um pronunciamento público e não terás mais motivo para sentir-se rejeitado... Após alguns dias, estava o povo aguardando o pronunciamento, quando surgiu o rei Gyllimond ao lado da rainha Zayra, em companhia do ferreiro e seu filho: — Que ouçam todos com atenção. Falarem em nome de Olonstreek e da família real. Todos sabem que há tempos trouxemos ao nosso convívio um grande homem. Um plebeu, ferreiro e herói, a quem devo minha vida, desde o dia que ele salvou minha querida esposa e vossa rainha Zayra. — O que outrora fora um sentimento de gratidão, com o tempo tornou-se uma grande amizade. Declaro agora que este homem é hoje, para mim, rei Gyllimond de Olonstreek, mais do que um grande amigo. Este é Sr. Steylrork, meu irmão! Portanto, saibam que não importa a origem pregressa deste homem, ordeno que não apenas seu título de cavaleiro seja respeitado por todos, como também que ele, a partir deste momento seja reconhecido como irmão do rei. — Em consequência, seu filho Sr. Auryousrork, que, para nós, já havia se tornado um grande herói, por ter salvado das mãos de um malfeitor a princesa Zaradyk, deve ser considerado sobrinho do rei, bem como, ter seu merecido título de cavaleiro respeitado por todo o reino. — Declaro estes fatos, desde então, lei irrevogável e deixo claro que serão devidamente punidos aqueles que desrespeitarem meu irmão e sobrinho. Que sejam esquecidas suas antigas origens, pois valem desde agora as origens que a eles atribuo. Que o Senhor 79
  • 80. Supremo receba minhas palavras e nos ajude a cumpri- las. Após o pronunciamento, os comentários se dividiam por todo o reino do metal, mas a soberana vontade do rei não seria criticada, ao menos publicamente. Diante dos acontecimentos, o ferreiro decidiu finalmente aceitar o convite de Gyllimond e Zayra. Iria desde então, residir no Palácio de Prata, com seu filho e toda a família real. Steylrork e Auryous foram despedir-se do lar de tantos anos. À frente da casa estavam Markvellus e sua família, amigos que por muitos anos conviveram com eles. O ferreiro prometera que estaria sempre perto, que viria ao antigo chalé sempre que fosse possível, pois ali encontrara a paz que em nenhum outro lugar havia sentido. 80
  • 81. O Heroico Steylrork Há muito conheço vossa resignação, meu nobre cavaleiro! Vosso valoroso coração, sempre deixara a marcas dos teus bons propósitos, por onde quer que tenhas passado. Lembro-me da vossa coragem entre as chamas que cobriram o vilarejo e da criança que vive por obra dos teus esforços. Sei que os guerreiros da unificação contarão com vossa força para vencer e que o vosso nome jamais será esquecido, Sr. Steylrork! 81
  • 82. Muito antes dos acontecimentos que o tornaram cavaleiro, e membro da família real, a nobreza do ferreiro já era conhecida pelos moradores da vila de Olonstreek. Steylrork nutria o respeito daqueles que o conheciam, por sua sabedoria e coragem, tão veementes. Certa vez, a vila despertou em meio a um grande incêndio que destruiu diversas casas se espalhando por toda parte. Enquanto muitas pessoas fugiam em pânico, o ferreiro apressou-se no intuito de ajudar possíveis vítimas. Andando em meio a fumaça ele encontrou um casal caído, do lado de fora de uma casa em chamas, ambos mal conseguiam respirar e o homem desesperado pedia ajuda: — Por favor! Ajudem-me! Minha pequena filha esta lá dentro! Steylrork tomou nas mãos uma manta de lã, molhou-a rapidamente em um barril que estava próximo, cobriu-se e entrou na casa para salvar a criança. Logo ele saiu com a menina nos braços e entregou-a aos pais: — Senhor! Meu nome é Markvellus. A criança que salvaste é tudo que temos na vida, por isso, eu jamais poderei agradecer-lhe devidamente pela vossa bondade. Devo-lhe tudo que jamais terei e levarei todos os meus dias tentando pagar-lhe. — Não me deves nada, amigo! Nenhum homem poderia dormir em paz, ao deixar uma criança entregue às chamas. Fiz o que devia e sinto-me feliz por vê-la a 82
  • 83. salvo após tamanha tragédia. Esta recompensa me é suficiente, está tudo bem agora... O ferreiro continuou ajudando a combater os diversos focos de incêndio até que tudo se resolveu. No dia seguinte os bons homens da vila, liderados por Steylrork, reuniram-se para ajudar a reerguer as casas perdidas no incidente. Markvellus estava entre eles e pode aproximar-se do heroico ferreiro que salvara sua filha. Daquele momento em diante nascera uma grande amizade entre eles e os anos que se seguiram ao incidente tornaram-na ainda mais forte. 83
  • 84. O Primeiro Guardião Guarda teu tesouro Steylrork! Deveis proteger o livro e o símbolo com vossa vida. A obrigação é vossa, mas o bem que dela advier será de todos, igualmente. Sabes o que eu digo? Está claro que vossas armas não devem, jamais, ser tocadas pelo opositor ou tudo estará perdido. De fato, os inimigos não ousarão utilizá- las, e nem poderiam, pois a luz se opõe às trevas. Mas poderão e tentarão ocultá-las e quanto a isso deveis permanecer vigilante. 84
  • 85. São objetos sagrados e com tal, cobrarão seu preço pela posse. No entanto, conheço meu escolhido e sua resignação... 85
  • 86. Logo após as revelações do anjo, Steylrork debruçou-se sobre aquele misterioso livro e não demorou a entender que não se tratava apenas de textos escritos e sim de um precioso objeto que teria importância sem precedentes para o cumprimento da profecia. O imenso poder que o livro trazia, seria utilizado nos caminhos para a conquista da vitória nele profetizada, o que o tornava um objeto de grande valor para os inimigos, devendo ser escondido e protegido a todo custo. A partir de então o ferreiro passou a dedicar-se diariamente a proteção do livro da profecia, carregando-o aonde quer que fosse e escondendo poderoso objeto em uma velha bolsa de couro, sempre fechada, da qual ele nunca se separava. Steylrork, embora fosse um homem maduro, tinha uma postura rígida e jovial, tal como um cavaleiro que ainda enfrentaria grandes batalhas sem fraquejar perante o peso dos anos. Contudo, a presença do livro, sempre perto, tinha um estranho efeito sobre ele. O misterioso objeto, aos poucos, acumulava poder vital retirando do ferreiro sua juventude, tornando-o fisicamente mais velho do que ele realmente era. Apesar de Steylrork não se curvar a sua aparência cansada, todos notavam o seu envelhecimento precoce. Ele não demorou a perceber o que o livro estava provocando, mas sabia que era preciso manter uma postura vigilante em nome da sua missão. Certo dia, num descuido, o ferreiro deixo a bolsa que guardava o livro, aberta, sobre a mesa. Markvellus chamou à porta e ao entrar pode ver o que seu amigo escondia com tanto afinco: — Então é isso que escondes na velha bolsa que te acompanha a todos os lugares? Um livro... 86