2. Certa noite, um vento muito forte levantou-se sobre as colinas de Belém As ovelhas que ali pastavam e os pássaros que ali viviam procuraram rapidamente refúgio sob as oliveiras ou entre os ramos.
3. Mas uma pomba branca procurou abrigo debaixo do telhado de um estábulo.
4. A sua chegada encheu de alegria o coração da velha vaquinha que ali vivia. - Sabes, já estou velha, não tenho forças para puxar o arado - explicou a vaquinha. - Mas aborreço-me aqui sozinha. Só o meu dono é que me vem visitar, de vez em quando. - Diz-me, pomba, por acaso não o vês a caminho?
5. - Infelizmente não - respondeu a pomba. - Só vejo as oliveiras que dançam com o vento e uma lebre enregelada à procura da entrada da sua toca. - E se fosses dizer-lhe para vir para o meu estábulo? -disse a vaquinha. - Aqui dentro estará abrigada.
6. E quando a lebre se refugiou entre os seus cascos, a vaquinha aqueceu-a com o seu bafo.
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8. E quando os cabritinhos se refugiaram entre os seus cascos, a vaquinha aqueceu-os com o seu bafo
9. No entanto, como ainda esperava ver o seu dono, voltou a pedir: - Diz-me pomba, não vês mesmo ninguém a aproximar-se?
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13. Quando a última ovelha entrou no estábulo, a noite envolvia já as colinas à volta de Belém. Mas como a velha vaquinha mantinha uma réstea de esperança, de novo perguntou pelo seu dono: - Diz-me pomba, não vês a luz trémula da candeia do meu dono a aproximar-se, na escuridão?
14. - Sim! Vejo uma luz que se aproxima! - respondeu a pomba, entusiasmada, - mas vem lá alta, no céu, e deixa atrás de si um rasto brilhante .
15. - Será o meu dono a descer a colina com uma grande tocha? Pomba branca, peço-te: vai dizer-lhe que estou à espera dele - exultou a vaquinha. - Eu não vejo o teu dono - retorquiu a pomba, - apenas esta luz resplandecente que agora paira sobre o estábulo.
16. De súbito, o vento parou de soprar. Então a voz de um anjo ecoou: “ Neste estábulo vive uma vaquinha de bafo forte e quente. À espera do seu dono, a todos oferece abrigo. Até o burro carregado e cansado que neste instante avança pelo caminho virá a pedir-lhe hospedagem.”
17. No estábulo fez-se silêncio. E foi no silêncio que se ouviu o suspiro da velha vaquinha. -O estábulo já está cheio… Não há lugar para mais nenhum animal – disse, desolada.
18. Mas como tinha um coração bom, não era capaz de negar abrigo ao pobre burro carregado e cansado.
19. Por isso, disse à pomba: Voa até ele e diz-lhe que lhe cedo o meu lugar. Vou rebentar a corda que me prende e dormirei lá fora, à porta.
20. Só que a vaquinha já era velhinha e as forças não eram muitas. Em vão tentava libertar-se do forte laço que a prendia quando a porta se abriu, empurrada por mão humana. Por uma segundo a vaquinha alegrou-se pensando que se tratava do seu dono. Mas não era a voz do seu dono que perguntava se havia espaço para mais três…
21. - Para quatro - arrulhou, feliz, a pomba. - Montada no burro vem uma jovem que está prestes a dar à luz. No estábulo todos se alegraram. Todos menos a vaquinha. Não, ela já não era o animal possante de outrora, capaz de rebentar com a corda mais forte. Agora estava fechada num estábulo, incapaz de oferecer guarida até a um bebé .
22. Ao verem a sua tristeza, os outros animais disseram-lhe: - Não te preocupes. Nos damos-lhes o nosso lugar - e a lebre, os cabritinhos e as ovelhas abandonaram o estábulo, um a um. - Se ao menos o meu dono chegasse, ele podia libertar-me de laço. Pomba branca, tens a certeza que não o vês? - perguntou mais uma vez a velha vaquinha.
23. Desta vez a pomba não respondeu. Só muito mais tarde, quando um choro de bebé ecoou no estábulo, ela, arrulhou, docemente: - Vejo uma criança deitada nas palhinhas. Está despida e precisa de ti. A velha vaquinha baixou os olhos e o seu coração encheu-se de felicidade. Aproximou-se do bebé e aqueceu-o com o seu bafo.
24. Foi então que escutou a voz do seu dono que, comovido, lhe dizia: - A partir desta noite nunca mais estarás só. De todas as colinas à volta de Belém virão pastores e camponeses. Virão adorar a este menino, que será para sempre o teu, o nosso, verdadeiro mestre.