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Navio Negreiro   -    Castro Alves Disciplina Língua Portuguesa Profa. Maria Inês
1. Condoreirismo Castro Alves foi o principal e mais popular representante do estilo romântico que predominou na poesia brasileira entre 1850 e 1870, denominado condoreiro por Capistrano de Abreu (1853-1927). É caracterizado por uma poesia retórica, em que se destacam os temas sociais e políticos, principalmente a defesa da abolição da escravatura e a apologia da República. De teor declamativo e pendor social, um dos símbolos mais frequentes do condoreirismo é a imagem do condor dos Andes – ave que representa a liberdade da América –, o que sugeriu a Capistrano de Abreu a denominação dada ao estilo
Condor – A ave que simbolizou o condoreirismo brasileiro
Marcas de Estilo Poucos poetas utilizaram, na Língua Portuguesa, tantas reticências, travessões e pontos de exclamação quanto Castro Alves. A cada página do livro, os exemplos se sucedem: "Pesa-me a vida!... está deserto o Fórum! E o tédio!... o tédio!... que infernal ideia!"
Recursos Gráficos: Por meio desses recursos gráficos, o poeta procurava reproduzir a oralidade do discurso exaltado da praça pública ou das declamações nos palcos. As reticências apontam as pausasdramáticas que reforçam a ênfase discursiva marcada pelos pontos de exclamação. Os travessões têm dupla função. Às vezes aparecem, da mesma forma que as reticências, como marcas de pausa da elocução:  "– Ave – te espera da lufada o açoite.– Estrela – guia-te uma luz falaz. – Aurora minha – só te aguarda a noite, – Pobre inocente – já maldito estás."
Discurso Direto Em muitos outros momentos, sinalizam o discurso direto, apresentando uma fala que se dirige a um interlocutor específico: "– "Olhai, Signora... além dessas cortinas, O que vedes?..."– "Eu vejo a imensidade!..." – "E eu vejo... a Grécia... e sobre a plaga errante. – Uma virgem chorando..." – "É vossa amante?..., – "Tu disseste-o, Condessa!" É a Liberdade!!!..."
Rota dos Navios Negreiros
2. Ênfase Social: Diferentemente dos seus predecessores, como Junqueira Freire e Álvares de Azevedo, Castro Alves projeta o drama interior do escritor (o eu), sua intensa contradição psicológica, sobre o mundo. Enquanto que, para a geração anterior, o conflito faz o escritor voltar-se sobre si mesmo, pois a desarmonia é resultado das lutas internas (ultrarromantismo), para Castro Alves, são as lutas externas – do homem contra a sociedade, do oprimido contra o opressor – que provocam essa desarmonia. É outro modo de representar o conflito entre o Bem e o Mal, tão prezado pelos românticos. A poética deve, portanto, identificar-se profundamente com o ritmo da vida social e expressar o processo de busca da humanidade por redenção, justiça e liberdade.
O poeta "condoreiro" tem um papel messiânico e afinado com seu momento histórico. Esse comprometimento faz a poesia se aproximar do discurso, incorporando a ênfase oratória e a eloquência.
Nos poemas de Os Escravos, a poesia é suplantada pelo discurso político grandiloquentee até verborrágico. Para atingir o alvo e persuadir o leitor e, muito mais, o ouvinte, o poeta abusa de antíteses e hipérboles e apresenta uma sucessão vertiginosa de metáforas que procuram traduzir a mesma ideia. A poesia é feita para ser declamada e o exagero das imagens é intencional, deliberado, para reforçar a ideia do poema. Os versos devem ressoar e traduzir o constante movimento de forças antagônicas, como se nota logo no primeiro poema, "O Século":
"O século é grande... No espaço Há um drama de treva e luz. Como o Cristo – a liberdade Sangra no poste da cruz. Um corvo escuro, anegrado, Obumbra o manto azulado, Das asas d'águia dos céus... Arquejam peitos e frontes... Nos lábios dos horizontesHá um riso de luz... É Deus."
O contato dos portugueses com as autoridades políticas deste reino teve grande importância na articulação do tráfico de escravos. Uma expressiva parte dos escravos que trabalharam na exploração aurífera do século XVII, principalmente em Minas Gerais, era proveniente da região do Congo e de Angola. O intercâmbio cultural com os europeus acabou trazendo novas práticas que fortaleceram a autoridade monárquica no Congo.
Gravura inglesa do século XIX mostra a violência das caçadas e do apresamento de negros na África. A mesma prática cruel repetiu-se no Brasil durante todo o período de escravidão
Ou no célebre "O Navio Negreiro":  "Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus...Ó mar! por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noite! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!..."
Na obra de Castro Alves,a poesia perde terreno para a propaganda política. Pragmático, o poeta usa seus versos para levar o leitor à ação, para transformar, e não só para deleitar. Trata-se de uma arte engajada na divulgação das ideias sociais e políticas.
"Quebre-se o cetro do Papa, Faça-se dele – uma cruz! A púrpura sirva ao povo P'ra cobrir os ombros nus."
3. Convite à Senzala Para convencer o ouvinte e o leitor, Castro Alves convida-os a descer à senzala e conhecer o terrível drama humano que lá se encena. "Leitor, se não tens desprezo De vir descer às senzalas, Trocar tapetes e salas Por um alcouce cruel, Vem comigo, mas... cuidado... Que o teu vestido bordado Não fique no chão manchado, No chão do imundo bordel. [...] Vinde ver como rasgam-se as entranhas De uma raça de novos Prometeus, Ai, vamos ver guilhotinadas almas Da senzala nos vivos mausoléus"
Ao longo de Os Escravos e A Cachoeira de Paulo Afonso  O poeta apresenta ao leitor a vida do cativo, negro ou mestiço, sujeito à crueldade dos senhores, que arrancam os filhos dos braços das mães para os vender, estupram as mulheres, torturam e matam impunementeos "Homens simples, fortes, bravos.../ Hoje míseros escravos / Sem ar, sem luz, sem razão...". Para tanto, não hesita em explorar ao máximo as expressões que apelam aos sentimentos do leitor, abusando dos vocativos, das interpelações e das evocações, como em "Vozes D'África": "Deus! Ó Deus! onde estás que não respondes?Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus?..."
ou em "A Órfã na Sepultura":  "Mãe, minha voz já me assusta...Alguém na floresta adusta Repete os soluços meus. Sacode a terra... desperta!... Ou dá-me a mesma coberta, Minha mãe... meu céu... meu Deus..."
ou, ainda, em "O Bandolim da Desgraça", de A Cachoeira de Paulo Afonso: "Assim, Desgraça, quando tu, maldita! As cordas d'alma delirante vibras...Como os teus dedos espedaçam rijos Uma por uma do infeliz as fibras!"
4. O Navio Negreiro Um dos mais conhecidos poemas da literatura brasileira, "O Navio Negreiro – Tragédia no Mar", foi concluído pelo poeta em São Paulo, em 1868 – quase 20 anos depois, portanto, da promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravos (4 de setembro de 1850).A proibição, no entanto, não vingou de todo, o que levou Castro Alves a se empenhar na denúncia do horror a que eram submetidos os africanos na cruel travessia oceânica. É preciso lembrar que, em média, menos da metade dos escravos embarcados nos navios negreiros completava a viagem com vida.
Composto em seis partes, o poema alterna métricas variadas para obter o efeito rítmicomais adequado a cada situação retratada. Assim, inicia-se com versos decassílabosque representam, de forma claramente condoreira, a imensidão do mar e seu reflexo naa vastidão dos céus.
Na1ª parteo poeta faz uma descrição do cenário, exaltando o belo, o natural. O poema inicia-se com a supressão da vogal"E"inicial da palavra"Estamos", grafada"Stamos" para que o poeta forme umversodecassílabo. É um recurso tipicamente romântico: a expressão suplanta o cuidado formal. O  Eu Lírico
“ ’Sta/mos/ em /ple/no /mar... /Dou/do/ no es/pa/ço1       2      3     4    5      6        7      8      9      10  Brinca o luar – doirada borboleta – E as vagas após ele correm... cansam Como turba de infantes inquieta.,Stamos em pleno mar... Do firmamento Os astros saltam como espumas de ouro... O mar em troca acende as ardentias, – Constelações do líquido tesouro...,Stamos em pleno mar... Dois infinitos Ali se estreitam num abraço insanoAzuis, dourados, plácidos, sublimes... Qual dos dois é o céu? Qual o oceano?...Stamos em pleno mar... Abrindo as velas Ao quente arfar das virações marinhas, Veleiro brigue corre à flor dos mares, Como roçam na vaga as andorinhas..."
Nos porões dos navios, negros escravizados são conduzidos para o Brasil. A viagem da África para a América era uma sucessão de horrores. Amontoados nos porões das embarcações, os africanos passavam fome e frio. Milhares morriam antes de chegar ao seu destino; não resistiam às doenças e à saudade de casa. Estes preferiam a morte no mar ao abandono na terra desconhecida
2ª Parte O poeta faz elogio aos marinheiros, identificados pela nacionalidade; é a exaltação do belo humano: “... Nau/tas /de/ to/das/ as /pla/gas! 1      2    3   4   5      6    7    Vós sabeis achar nas vagas As melodias do céu...” Composta em versos redondilhos maiores (heptassílabos) –, ao seguir o navio misterioso, pedindo emprestadas as asas do albatroz, o eu lírico escuta as canções vindas do mar.
3ª Parte Em franca oposição às estrofes anteriores, versos alexandrinos, temos a visão do navio negreiro; ao belo do cenário e das figuras humanas dos marinheiros opõe-se um quadro de horror: “Que cena infame e vil! ... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”
4ª Parte O poeta faz a descrição do naio negreiro e do sofrimento dos escravos, em versos heterossílabos, alternando decassílabos e hexassílabos
"Era/ um/ so/nho/dan/tes/co... O /tom/ba/di /lho1      2    3    4        5    6       7        8     9  10   Que das luzernas avermelha o brilho. Em/san/gue a /se /ba/nhar/.1      2       3      4    5      6Tinir de ferros... estalar de açoite... Le/gi/ões/de /ho/mens /ne/gros/ co/moa /noi/te,1   2   3     4    5     6       7     8        9    10    11   12Horrendos a dançar...Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras, moças... mas nuas, espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em/ ân/sai/ e/ má/goa/vãs/.1       2     3  4   5     6      7
E ri-se a orquestra, irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais...Se o velho arqueja... se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais... Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece... Outro, que de martírios embrutece, Cantando, geme e ri!"
5ª Parte novamente em versos heptassílabos Em oposição à desgraça dos negros aprisionados temos a imagem desse povo livre em sua terra O poeta faz um retrocesso temporal, descrevendo a vida livre dos africanos em sua terra. Cria, assim, um contraponto dramático com a situação dos escravos no navio: “On/tem/ple/na/ li/ber/da/de 1    2     3    4   5   6  7 A vontade por poder... Hoje... Cúmulo de maldade Nem são livres pra...morrer...”
6ª Parte O poeta trabalha mais uma vez com a antítese, em oposição à África livre, temos a imagem de um país que se beneficia com a escravidão; Castro Alves retoma os versos decassílabos do início para protestar com veemência contra a crueldade do tráfico de escravos:
"E e/xis/te um/po/vo/que a/ban/dei/ra em/pres/ta1    2     3      4   5      6      7      8      9      10P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...E deixa-a transformar-se nessa festaEm manto impuro de bacante fria!...Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,Que impudente na gávea tripudia?!... Silêncio!... Musa! chora, chora tanto Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança,Estandarte que a luz do sol encerra, E as promessas divinas da esperança... Tu, que da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança,Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga! Extingue nesta hora o brigue imundo O trilho que Colombo abriu nas vagas,Como um íris no pélago profundo! ...Mas é infâmia de mais... Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo... Andrada! arranca este pendão dos ares! Colombo! fecha a porta dos teus mares!"
Mercado de escravos: apesar da proibição ao tráfico em 1831, esse comércio aviltante continuou livremente até por volta de 1850
Máscara de Metal que se Usa nos Negros que têm o Hábito de Comer Terra, aquarela sobre papel de,Jean-Baptiste Debret O crítico Augusto Meyerapontou a influência do poema"Das Sklavenschiff"("O NavioNegreiro",1854), do poetaromântico alemão Heinrich Heine(1797-1856), sobre a obrahomônima de Castro Alves.A leitura dos versos de Heine,traduzidos pelo mesmoAugusto Meyer, não deixadúvidas quanto à influênciasobre o escritor baiano.Tanto o segmento inicial dopoema brasileiro quanto a dançamacabra descrita na quartaparte são inegáveis recriaçõesdo original alemão:
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Navio Negreiro Castro Alves

  • 1. Navio Negreiro - Castro Alves Disciplina Língua Portuguesa Profa. Maria Inês
  • 2. 1. Condoreirismo Castro Alves foi o principal e mais popular representante do estilo romântico que predominou na poesia brasileira entre 1850 e 1870, denominado condoreiro por Capistrano de Abreu (1853-1927). É caracterizado por uma poesia retórica, em que se destacam os temas sociais e políticos, principalmente a defesa da abolição da escravatura e a apologia da República. De teor declamativo e pendor social, um dos símbolos mais frequentes do condoreirismo é a imagem do condor dos Andes – ave que representa a liberdade da América –, o que sugeriu a Capistrano de Abreu a denominação dada ao estilo
  • 3. Condor – A ave que simbolizou o condoreirismo brasileiro
  • 4. Marcas de Estilo Poucos poetas utilizaram, na Língua Portuguesa, tantas reticências, travessões e pontos de exclamação quanto Castro Alves. A cada página do livro, os exemplos se sucedem: "Pesa-me a vida!... está deserto o Fórum! E o tédio!... o tédio!... que infernal ideia!"
  • 5. Recursos Gráficos: Por meio desses recursos gráficos, o poeta procurava reproduzir a oralidade do discurso exaltado da praça pública ou das declamações nos palcos. As reticências apontam as pausasdramáticas que reforçam a ênfase discursiva marcada pelos pontos de exclamação. Os travessões têm dupla função. Às vezes aparecem, da mesma forma que as reticências, como marcas de pausa da elocução: "– Ave – te espera da lufada o açoite.– Estrela – guia-te uma luz falaz. – Aurora minha – só te aguarda a noite, – Pobre inocente – já maldito estás."
  • 6. Discurso Direto Em muitos outros momentos, sinalizam o discurso direto, apresentando uma fala que se dirige a um interlocutor específico: "– "Olhai, Signora... além dessas cortinas, O que vedes?..."– "Eu vejo a imensidade!..." – "E eu vejo... a Grécia... e sobre a plaga errante. – Uma virgem chorando..." – "É vossa amante?..., – "Tu disseste-o, Condessa!" É a Liberdade!!!..."
  • 7. Rota dos Navios Negreiros
  • 8. 2. Ênfase Social: Diferentemente dos seus predecessores, como Junqueira Freire e Álvares de Azevedo, Castro Alves projeta o drama interior do escritor (o eu), sua intensa contradição psicológica, sobre o mundo. Enquanto que, para a geração anterior, o conflito faz o escritor voltar-se sobre si mesmo, pois a desarmonia é resultado das lutas internas (ultrarromantismo), para Castro Alves, são as lutas externas – do homem contra a sociedade, do oprimido contra o opressor – que provocam essa desarmonia. É outro modo de representar o conflito entre o Bem e o Mal, tão prezado pelos românticos. A poética deve, portanto, identificar-se profundamente com o ritmo da vida social e expressar o processo de busca da humanidade por redenção, justiça e liberdade.
  • 9. O poeta "condoreiro" tem um papel messiânico e afinado com seu momento histórico. Esse comprometimento faz a poesia se aproximar do discurso, incorporando a ênfase oratória e a eloquência.
  • 10. Nos poemas de Os Escravos, a poesia é suplantada pelo discurso político grandiloquentee até verborrágico. Para atingir o alvo e persuadir o leitor e, muito mais, o ouvinte, o poeta abusa de antíteses e hipérboles e apresenta uma sucessão vertiginosa de metáforas que procuram traduzir a mesma ideia. A poesia é feita para ser declamada e o exagero das imagens é intencional, deliberado, para reforçar a ideia do poema. Os versos devem ressoar e traduzir o constante movimento de forças antagônicas, como se nota logo no primeiro poema, "O Século":
  • 11. "O século é grande... No espaço Há um drama de treva e luz. Como o Cristo – a liberdade Sangra no poste da cruz. Um corvo escuro, anegrado, Obumbra o manto azulado, Das asas d'águia dos céus... Arquejam peitos e frontes... Nos lábios dos horizontesHá um riso de luz... É Deus."
  • 12. O contato dos portugueses com as autoridades políticas deste reino teve grande importância na articulação do tráfico de escravos. Uma expressiva parte dos escravos que trabalharam na exploração aurífera do século XVII, principalmente em Minas Gerais, era proveniente da região do Congo e de Angola. O intercâmbio cultural com os europeus acabou trazendo novas práticas que fortaleceram a autoridade monárquica no Congo.
  • 13. Gravura inglesa do século XIX mostra a violência das caçadas e do apresamento de negros na África. A mesma prática cruel repetiu-se no Brasil durante todo o período de escravidão
  • 14. Ou no célebre "O Navio Negreiro": "Senhor Deus dos desgraçados! Dizei-me vós, Senhor Deus! Se é loucura... se é verdade Tanto horror perante os céus...Ó mar! por que não apagas Co'a esponja de tuas vagas De teu manto este borrão?... Astros! noite! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão!..."
  • 15. Na obra de Castro Alves,a poesia perde terreno para a propaganda política. Pragmático, o poeta usa seus versos para levar o leitor à ação, para transformar, e não só para deleitar. Trata-se de uma arte engajada na divulgação das ideias sociais e políticas.
  • 16. "Quebre-se o cetro do Papa, Faça-se dele – uma cruz! A púrpura sirva ao povo P'ra cobrir os ombros nus."
  • 17. 3. Convite à Senzala Para convencer o ouvinte e o leitor, Castro Alves convida-os a descer à senzala e conhecer o terrível drama humano que lá se encena. "Leitor, se não tens desprezo De vir descer às senzalas, Trocar tapetes e salas Por um alcouce cruel, Vem comigo, mas... cuidado... Que o teu vestido bordado Não fique no chão manchado, No chão do imundo bordel. [...] Vinde ver como rasgam-se as entranhas De uma raça de novos Prometeus, Ai, vamos ver guilhotinadas almas Da senzala nos vivos mausoléus"
  • 18. Ao longo de Os Escravos e A Cachoeira de Paulo Afonso O poeta apresenta ao leitor a vida do cativo, negro ou mestiço, sujeito à crueldade dos senhores, que arrancam os filhos dos braços das mães para os vender, estupram as mulheres, torturam e matam impunementeos "Homens simples, fortes, bravos.../ Hoje míseros escravos / Sem ar, sem luz, sem razão...". Para tanto, não hesita em explorar ao máximo as expressões que apelam aos sentimentos do leitor, abusando dos vocativos, das interpelações e das evocações, como em "Vozes D'África": "Deus! Ó Deus! onde estás que não respondes?Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes Embuçado nos céus? Há dois mil anos te mandei meu grito, Que embalde desde então corre o infinito... Onde estás, Senhor Deus?..."
  • 19. ou em "A Órfã na Sepultura": "Mãe, minha voz já me assusta...Alguém na floresta adusta Repete os soluços meus. Sacode a terra... desperta!... Ou dá-me a mesma coberta, Minha mãe... meu céu... meu Deus..."
  • 20. ou, ainda, em "O Bandolim da Desgraça", de A Cachoeira de Paulo Afonso: "Assim, Desgraça, quando tu, maldita! As cordas d'alma delirante vibras...Como os teus dedos espedaçam rijos Uma por uma do infeliz as fibras!"
  • 21. 4. O Navio Negreiro Um dos mais conhecidos poemas da literatura brasileira, "O Navio Negreiro – Tragédia no Mar", foi concluído pelo poeta em São Paulo, em 1868 – quase 20 anos depois, portanto, da promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico de escravos (4 de setembro de 1850).A proibição, no entanto, não vingou de todo, o que levou Castro Alves a se empenhar na denúncia do horror a que eram submetidos os africanos na cruel travessia oceânica. É preciso lembrar que, em média, menos da metade dos escravos embarcados nos navios negreiros completava a viagem com vida.
  • 22. Composto em seis partes, o poema alterna métricas variadas para obter o efeito rítmicomais adequado a cada situação retratada. Assim, inicia-se com versos decassílabosque representam, de forma claramente condoreira, a imensidão do mar e seu reflexo naa vastidão dos céus.
  • 23. Na1ª parteo poeta faz uma descrição do cenário, exaltando o belo, o natural. O poema inicia-se com a supressão da vogal"E"inicial da palavra"Estamos", grafada"Stamos" para que o poeta forme umversodecassílabo. É um recurso tipicamente romântico: a expressão suplanta o cuidado formal. O Eu Lírico
  • 24. “ ’Sta/mos/ em /ple/no /mar... /Dou/do/ no es/pa/ço1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Brinca o luar – doirada borboleta – E as vagas após ele correm... cansam Como turba de infantes inquieta.,Stamos em pleno mar... Do firmamento Os astros saltam como espumas de ouro... O mar em troca acende as ardentias, – Constelações do líquido tesouro...,Stamos em pleno mar... Dois infinitos Ali se estreitam num abraço insanoAzuis, dourados, plácidos, sublimes... Qual dos dois é o céu? Qual o oceano?...Stamos em pleno mar... Abrindo as velas Ao quente arfar das virações marinhas, Veleiro brigue corre à flor dos mares, Como roçam na vaga as andorinhas..."
  • 25. Nos porões dos navios, negros escravizados são conduzidos para o Brasil. A viagem da África para a América era uma sucessão de horrores. Amontoados nos porões das embarcações, os africanos passavam fome e frio. Milhares morriam antes de chegar ao seu destino; não resistiam às doenças e à saudade de casa. Estes preferiam a morte no mar ao abandono na terra desconhecida
  • 26. 2ª Parte O poeta faz elogio aos marinheiros, identificados pela nacionalidade; é a exaltação do belo humano: “... Nau/tas /de/ to/das/ as /pla/gas! 1 2 3 4 5 6 7 Vós sabeis achar nas vagas As melodias do céu...” Composta em versos redondilhos maiores (heptassílabos) –, ao seguir o navio misterioso, pedindo emprestadas as asas do albatroz, o eu lírico escuta as canções vindas do mar.
  • 27. 3ª Parte Em franca oposição às estrofes anteriores, versos alexandrinos, temos a visão do navio negreiro; ao belo do cenário e das figuras humanas dos marinheiros opõe-se um quadro de horror: “Que cena infame e vil! ... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!”
  • 28. 4ª Parte O poeta faz a descrição do naio negreiro e do sofrimento dos escravos, em versos heterossílabos, alternando decassílabos e hexassílabos
  • 29. "Era/ um/ so/nho/dan/tes/co... O /tom/ba/di /lho1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Que das luzernas avermelha o brilho. Em/san/gue a /se /ba/nhar/.1 2 3 4 5 6Tinir de ferros... estalar de açoite... Le/gi/ões/de /ho/mens /ne/gros/ co/moa /noi/te,1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12Horrendos a dançar...Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras, moças... mas nuas, espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em/ ân/sai/ e/ má/goa/vãs/.1 2 3 4 5 6 7
  • 30. E ri-se a orquestra, irônica, estridente... E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais...Se o velho arqueja... se no chão resvala, Ouvem-se gritos... o chicote estala. E voam mais e mais... Presa nos elos de uma só cadeia, A multidão faminta cambaleia, E chora e dança ali! Um de raiva delira, outro enlouquece... Outro, que de martírios embrutece, Cantando, geme e ri!"
  • 31. 5ª Parte novamente em versos heptassílabos Em oposição à desgraça dos negros aprisionados temos a imagem desse povo livre em sua terra O poeta faz um retrocesso temporal, descrevendo a vida livre dos africanos em sua terra. Cria, assim, um contraponto dramático com a situação dos escravos no navio: “On/tem/ple/na/ li/ber/da/de 1 2 3 4 5 6 7 A vontade por poder... Hoje... Cúmulo de maldade Nem são livres pra...morrer...”
  • 32. 6ª Parte O poeta trabalha mais uma vez com a antítese, em oposição à África livre, temos a imagem de um país que se beneficia com a escravidão; Castro Alves retoma os versos decassílabos do início para protestar com veemência contra a crueldade do tráfico de escravos:
  • 33. "E e/xis/te um/po/vo/que a/ban/dei/ra em/pres/ta1 2 3 4 5 6 7 8 9 10P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...E deixa-a transformar-se nessa festaEm manto impuro de bacante fria!...Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,Que impudente na gávea tripudia?!... Silêncio!... Musa! chora, chora tanto Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
  • 34. Auriverde pendão de minha terra, Que a brisa do Brasil beija e balança,Estandarte que a luz do sol encerra, E as promessas divinas da esperança... Tu, que da liberdade após a guerra, Foste hasteado dos heróis na lança,Antes te houvessem roto na batalha, Que servires a um povo de mortalha!...
  • 35. Fatalidade atroz que a mente esmaga! Extingue nesta hora o brigue imundo O trilho que Colombo abriu nas vagas,Como um íris no pélago profundo! ...Mas é infâmia de mais... Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo... Andrada! arranca este pendão dos ares! Colombo! fecha a porta dos teus mares!"
  • 36. Mercado de escravos: apesar da proibição ao tráfico em 1831, esse comércio aviltante continuou livremente até por volta de 1850
  • 37. Máscara de Metal que se Usa nos Negros que têm o Hábito de Comer Terra, aquarela sobre papel de,Jean-Baptiste Debret O crítico Augusto Meyerapontou a influência do poema"Das Sklavenschiff"("O NavioNegreiro",1854), do poetaromântico alemão Heinrich Heine(1797-1856), sobre a obrahomônima de Castro Alves.A leitura dos versos de Heine,traduzidos pelo mesmoAugusto Meyer, não deixadúvidas quanto à influênciasobre o escritor baiano.Tanto o segmento inicial dopoema brasileiro quanto a dançamacabra descrita na quartaparte são inegáveis recriaçõesdo original alemão:
  • 38. Navio Negreiro – Caetano Veloso