Catequese, fé e inspiração na revista Sou Catequista
1. NESTA EDIÇÃO:
A Catequese do
Bom Pastor
PÁG 40
O que alguns católicos
não notaram no último
sucesso da Disney
PÁG 95
Sou catequista de
Primeira Comunhão...
E agora? PÁG 35
CONFIRA NESTA EDIÇÃO:
CATEQUESE & BRINCADEIRA
PÁG. 26
A CATEQUESE DE
PRIMEIRA COMUNHÃO
NA VIDA DAS CRIANÇAS
PÁG. 34
ELEMENTOS PARA UMA
CATEQUESE PERSONALIZADA
PÁG. 54
UNIVERSIDADE MONSTROS
PÁG. 95
4. NESTA EDIÇÃO:
A Catequese do
Bom Pastor
PÁG 40
CONFIRA NESTA EDIÇÃO:
CATEQUESE & BRINCADEIRA
O que alguns católicos
não notaram no último
sucesso da Disney
PÁG 95
Sou catequista de
Primeira Comunhão...
E agora? PÁG 35
Edição 6 / Ano 2 / Agosto 2014
Direção geral: Sérgio Fernandes
Consultor Eclesiástico: Pe. José Alem
Matéria de capa: Moacir Beggo
Revisão: Marcus Facciollo
Projeto gráfico: Agência Minha Paróquia
Diagramação: Renan Trevisan
Desenvolvimento WEB: Marcos Antônio
e Matheus Moreira
Atendimento: Ana Elisa Prado
Comercial: Adriana Franco
Banco de imagens: Shutterstock
A revista digital Sou Catequista é uma publicação da
agência Minha Paróquia, disponível gratuitamente para
smartphones e tablets nas plataformas IOS e Android. Os
conteúdos publicados são de responsabilidade de seus
autores e não expressam necessariamente a visão da agên-cia
Minha Paróquia. É permitida a reprodução dos mesmos
desde que citada a fonte. O conteúdo dos anúncios é de
total responsabilidade dos anunciantes.
Editorial
Estamos em festa! Agosto é o
mês que celebramos as vocações,
o dia do catequista (24) e 1 ano
de publicação da revista Sou
Catequista. São 3 temas que partem do mesmo
princípio: GENEROSIDADE. Tudo o que fazemos em
prol da Igreja exige um coração disposto a servir.
O vocacionado aprende em seu percurso que deve
se desapegar cada vez mais de suas vontades,
interesses, para que seja o próprio Deus a conduzí-lo
para a realização da vontade dEle. Não se chega
dizendo “eis-me aqui para fazer de tal jeito”, o
vocacionado de verdade diz “eis-me aqui para fazer a
Sua vontade, Senhor”.
Se estamos completando este tempo de trabalho
pela formação dos catequistas é por graça de
Deus. Os desafios não foram poucos. Aprendemos
bastante e conquistamos resultados incríveis. Tudo
isso não simplesmente por méritos próprios, mas
porque buscamos dar o nosso melhor para que Deus
iluminasse e tornasse fértil. O projeto Sou Catequista
existe há 5 anos, começou com o portal, depois veio a
rede social e mais adiante a revista digital. Em breve
virá a plataforma de cursos e tudo mais o que Deus
nos inspirar.
A matéria de capa, com o título “Coração de
Catequista” fala sobre esses corações inspirados,
cheios de ideias e muito amor a Deus. Que contagiam
outros corações com esse amor.
Que esta edição seja bastante inspiradora para
você na realização dessa vocação. E feliz dia dos
catequistas!
Sérgio Fernandes
Direção geral
sou catequista
sou catequista
PÁG. 22
A CATEQUESE DE
PRIMEIRA COMUNHÃO
NA VIDA DAS CRIANÇAS
PÁG. 29
ELEMENTOS PARA UMA
CATEQUESE PERSONALIZADA
PÁG. 50
UNIVERSIDADE MONSTROS
PÁG. 95
www.soucatequista.com.br
facebook.com/soucatequista twitter.com/soucatequista
5. NESTA EDIÇÃO Para ler a revista,
O CATECISMO
RESPONDE
60 64
87
A VOZ DA IGREJA
O ESPÍRITO DOS
EVANGELIZADORES
Cardeal Odilo Pedro Scherer
TEATRO NA CATEQUESE
ARTE E VIDA À
LUZ DA PALAVRA
Erivandra Marques
70
PAPA FRANCISCO
O QUE É FAMÍLIA PARA
O PAPA FRANCISCO
NOSSOS LEITORES
DE CATEQUISTA PARA
CATEQUISTA
Rosilana Negoseki Foggiatto e Jaqueline
CATECINE
UNIVERSIDADE
MONSTROS
David Ives
EVENTOS
A VOZ DA
IGREJA
INICIAÇÃO CRISTÃ
A PREPARAÇÃO
DA CATEQUESE
Liana Plentz
CATEQUESE INFANTIL
CATEQUESE &
BRINCADEIRA
Gilson P. Júnior
QUAL A IMPORTÂNCIA DA CATEQUESE DE
PRIMEIRA COMUNHÃO NA
VIDA DAS CRIANÇAS?
Roberto Garcia
CATECUMENATO
INICIAÇÃO CRISTÃ COM
INSPIRAÇÃO CATECUMENAL
Adriana Amorim
CATEQUESE INCLUSIVA
CINCO PILARES DA
EVANGELIZAÇÃO
INCLUSIVA
Thaís Rufatto
CATEQUESE PERSONALIZADA
ELEMENTOS PARA
UMA CATEQUESE
PERSONALIZADA
João Melo
8
12
MATÉRIA DE CAPA
CORAÇÃO DE CATEQUISTA
Moacir Beggo
88
94
TEOLOGIA
A GLOBALIZAÇÃO
NUMA VISÃO
TEOLÓGICA
Márcio Oliveira Elias
92
98
100
16
26
34
36
42
54
deslize para as
próximas páginas ou
toque nos itens do índice.
6. INOVAÇÃO, CRIATIVIDADE
E PROFISSIONALISMO
A SERVIÇO DA IGREJA
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“Não tenhais medo de vos fazerdes cidadãos
do ambiente digital.”
Papa Francisco
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ORÇAMENTO &
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fecharemos um contrato e será paga
a primeira parcela do serviço.
PRODUÇÃO
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metodologia específica para o tipo
de serviço (ex.: envio de pré-layout
para aprovação).
ENTREGA &
LANÇAMENTO
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última parcela do serviço, o cliente
receberá os arquivos finais ou poderá
oficialmente lançar seu projeto.
8. NOSSOS LEITORES 8
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Achei maravilhoso as duas peças de
teatro, estou precisando de peças assim,
mas para a catequese infantil, até 12 anos,
essas duas vou passar pra Perseverança,
os jovens vão amar.
Pier Angeli
Excelente, aprendo muito sobre o amor
de Deus, e como deve um catequista se
comportar perante os seus catequizando e
com a Igreja. Obrigada.
Maria Luiza
Muito boa e um aprendizado muito
abençoado!
Douglas Henrique Galvão
Estou gostando muito, tem me ajudado na
catequese, obrigada!
Edna Leite Silva
Muito bom, gosto muito!
Ana Cerdeira
Adoro, aprendo muito com ela!!!
Vera Covolan
Gosto muito, aprecio as idéias.
Uma bênção!
Verinha da Silva
Muito bom, ideias fantásticas.
Marli Teresinha Pavlak Visneski
9. 9
Meu nome é Edilei da Silva Paula, sou
Catequista de Adultos na cidade de
Anápolis-GO, Paróquia Santa Clara -
Diocese de Anápolis. Fiquei muito feliz ao
me deparar com o site da revista já fiz o
dowload da revista nº 4 e 5 e estou ansiosa
pelo próximo número, principalmente.
Pela novidade que vem aí os cursos on-line.
Formação é uma das palavras chaves
nos dias de hoje em todos os campos e
não poderia deixar de ser também na
Catequese, pois só se ama Aquilo que
se Conhece e só se conhece quando
estudamos, uma sugestão que faço é
para estudarmos juntos o CIC (Catecismo
da Igreja Católica) e os Documentos do
Concílio Vaticano II, claro que tudo à luz
da Sagrada Escritura. Em breve teremos
uma formação para nossas catequistas
e quero aproveitar esse momento para
apresentar a revista para meus colegas
catequistas e aproveito para sugerir
também que vocês nos ajudem nas
formações paroquiais sugerindo roteiros
de formações atualizados e os eventos
pelo Brasil e pelo mundo que tratam da
Catequese.
Bom trabalho a todos, fiquem com Deus e
mais uma vez parabéns pelo belo trabalho
e pela iniciativa.
Edilei da Silva Paula
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12. DE CATEQUISTA PARA CATEQUISTA 12
Eu tinha 15 anos quando uma amiga me
convidou para ajudá-la na catequese,
lá na Colônia Zacarias, em São José
dos Pinhais-PR.
Quando ela me convidou eu não sabia o
que dizer: “Mas eu? Por que eu? Eu não
tenho instrução! Sou tão jovem e não
tenho experiência”. Mas ela insistiu,
dizendo: “Venha me ajudar que você
aprende”.
Conversei com minha mãe e ela me apoiou.
Então, fui ajudar minha amiga num sábado
à tarde, numa sala pequena, com algumas
crianças. Em um momento me pediram
para ler e explicar um trecho do Evangelho.
Meu Deus! Eu li, mas para explicar eu
mais gaguejei do que falei, pois realmente
não sabia. Fiz o mínimo de catequese que
uma pessoa deveria fazer: fiz Primeira
Comunhão com sete anos, fui crismada
com oito e meu catecismo era um livrinho
vermelho só com perguntas e respostas...
A partir daquele dia fui me capacitar,
estudar, participar de encontros de
formação, li e rezei muito e consegui
vencer a timidez. Três anos depois ganhei
uma turma de primeiro ano, com a qual
consegui ensinar e aprender muita coisa.
Foi maravilhoso. Fiquei com essa turma
por cinco anos.
Rosilana Negoseki Foggiatto
46 anos, funcionária pública, catequista
na Paróquia de São Pedro, Diocese de
São José dos Pinhais-PR.
13. Com 23 anos eu me casei, mudei de
paróquia, tive três filhos e fiquei longe
da catequese. Sempre participava das
missas, às vezes até cantava no coral, ia aos
encontros da comunidade, novenas... Eu era
feliz, mas sentia que faltava alguma coisa...
Um dia recebi um telefonema da
coordenadora da catequese me
convidando para ser catequista. Eu aceitei
sem nem pensar duas vezes.
Ela então me confiou uma turma de 23
crianças de primeiro ano. Quando cheguei
à sala era completamente diferente de
antigamente. Eu, que havia ensinado
para crianças simples do interior, estava
então com várias crianças da cidade,
todas muito cultas e inteligentes... Tive
que estudar ainda mais e nisso a internet
me ajudou bastante. Conheci blogs e sites
de catequistas que me deram a ideia de
criar um também, com a ajuda do meu
filho. Assim, em 29 de agosto de 2009
criei o Blog da Nena (http://oblgdanena.
blogsport.com.br) para me comunicar
com outros catequistas, trocar ideias e
experiências.
Hoje sou catequista de terceiro ano de
Eucaristia, este ano a minha turma é
pequena, apenas dez crianças, eles são
minha vida, como filhos para mim, são
meus amigos queridos.
Outro dia eu participava de um curso de
liturgia e uma mulher se aproximou de
mim e disse: “Não lembra de mim? Fui tua
catequizanda” .
Nossa, que alegria senti naquele momento
em saber que uma sementinha que eu
tinha plantado há quase 25 anos deu
frutos! Ela é catequista, participa de
muitos movimentos em sua paróquia.
Quando vejo meus catequizandos
participando da comunidade eu sinto uma
alegria imensa em ser catequista.
13
14. DE CATEQUISTA PARA CATEQUISTA 14
Meu nome é Jaqueline, 37 anos,
nascida em Juiz de Fora-MG e
criada em Pequeri-MG, casada,
mãe de dois filhos, Mariana e Daniel,
funcionária pública e catequista. Me
descobri catequista desde que recebi meu
sacramento da comunhão e já ajudava
minha querida tia Magali nas turmas
que iam recebendo formação logo após a
minha. Sou uma apaixonada por crianças
e decidi servir a Deus evangelizando os
pequeninos. Atualmente sirvo na Paróquia
de São Pedro Apostolo em Pequeri e
trabalho com crianças da pré-catequese,
mas me envolvo na catequese como um
todo. Desenvolvemos, junto com os outros
catequistas, muitos projetos lindos. E vou
copiando da internet muitos materiais
católicos que contribuem com a expansão
do Reino de Deus na Terra, principalmente
entre as crianças. Seguem abaixo alguns
de nossos projetos aqui na paróquia.
Jaqueline
37 anos, casada, mãe de dois filhos,
Funcionária Pública e Catequista na Paróquia
São Pedro Apóstolo em Pequeri/MG.
17. 17
O Papa Francisco, na Alegria do Evangelho, dedicou 15 capítulos para o tema
“A preparação da pregação”. Mas, se trocarmos o título para “a preparação
da catequese” e focarmos as suas orientações para a iniciação à vida cristã,
teremos um itinerário seguro para uma iniciação mais consciente e eficaz.
Temos assim alguns
objetivos a alcançar
em nossa preparação
de cada encontro de
iniciação à vida cristã:
Preparar adequadamente
a catequese de iniciação à
vida cristã:
» Dedicar um tempo longo de estudo,
oração, reflexão e criatividade pastoral
para a preparação da catequese. Não
confiar apenas no Espírito Santo. Temos
que fazer a nossa parte, preparando-nos
adequadamente.
“Um pregador que não se prepara não é
«espiritual»: é desonesto e irresponsável
quanto aos dons que re-cebeu.” (EG 145)
ISTO TAMBÉM NÃO VALE PARA O
CATEQUISTA?
QUANTO TEMPO DEDICAMOS PARA A
PREPARAÇÃO DE NOSSA CATEQUESE?
Tornar o estudo da Palavra
de Deus o pano de fundo de
cada catequese.
O Papa Francisco nos convida a colocar o
fundamento da nossa iniciação na Palavra
de Deus, a exercer o “culto da verdade”,
isto é, a procurar compreender qual é
a mensagem do texto bíblico que é o
fundamento daquela catequese. E nos
orienta a como fazer isso adequadamente:
» Reconhecer com humildade que somos
os depositários, os arautos e os servidores
dessa Palavra.
» Estudar a Palavra com o máximo
cuidado e com um santo temor de a
manipular.
» Não esperar resultados rápidos, fáceis
ou imediatos ao ler um texto bíblico.
» A preparação da catequese requer amor,
pois uma pessoa só dedica um tempo
gratuito e sem pressa às coisas ou às
pessoas que ama; e aqui trata-se de amar
a Deus, que quis falar. A partir desse amor,
1
2
18. INICIAÇÃO CRISTÃ 18
uma pessoa pode deter-se todo o tempo
que for necessário, com a atitude de um
discípulo: «Fala, Senhor; o Teu servo
escuta» (1Sm 3,9) (EG 146).
» Descobrir qual é a mensagem principal,
a mensagem que confere estrutura e
unidade ao texto. Se o pregador não faz
esse esforço, é possível que também a
sua pregação não tenha unidade nem
ordem; o seu discurso se-rá apenas uma
súmula de várias ideias desarticuladas
que não conseguirão mobilizar os outros.
A mensagem central é a que o autor quis
primariamente transmitir, o que implica
identificar não só uma idéia, mas também
o efeito que esse autor quis produzir. Se
um texto foi escrito para consolar, não
deveria ser utilizado para corri-gir erros;
se foi escrito para exortar, não deveria ser
utilizado para instruir; se foi escrito para
ensinar algo sobre Deus, não deveria ser
utilizado para explicar várias opiniões
teológicas; se foi escrito para levar ao
louvor ou ao serviço missionário, não o
utilizemos para informar sobre as últimas
notícias (EG 147).
» Colocar o texto bíblico em ligação
com o ensinamento da Bíblia inteira,
transmitida pela Igreja. Este é um prin-cípio
importante da interpretação bíblica,
que tem em conta que o Espírito Santo
não inspirou só uma parte, mas a Bíblia
inteira, e que, em algumas questões, o
povo cresceu na sua compreensão da
vontade de Deus a partir da experiência
vivida. Assim se evitam interpretações
equivocadas ou parciais, que contradizem
outros ensinamentos da mesma Escritura.
(EG 148).
» Desenvolver uma grande familiaridade
pessoal com a Palavra de Deus: não
basta conhecer o aspecto linguístico
ou exegético, sem dúvida necessário;
é preciso se abeirar da Palavra com o
coração dócil e orante, a fim de que ela
penetre a fundo nos seus pensamentos
e sentimentos e gere em si uma nova
mentalidade.
» Verificar se está crescendo em nós o
amor pela Palavra que anunciamos.
» Não esquecer que, «particularmente, a
maior ou menor santidade do catequista
influi sobre o anúncio da Pala-vra». Como
diz São Paulo, «falamos, não para agradar
aos homens, mas a Deus que põe à prova
os nossos co-rações» (1Ts 2,4). Se está
vivo esse desejo de, primeiro, ouvirmos
nós a Palavra que temos de anunciar, esta
transmitir-se-á de uma maneira ou de
outra ao povo fiel de Deus: «A boca fala da
abundância do coração» (Mt 12,34).
As leituras do Evangelho ressoarão com
todo o seu esplendor no coração do povo,
se primeiro ressoa-rem assim no coração
do catequista. (cf EG 149)
» Não podemos anunciar a Palavra de
Deus sem nos deixar iluminar, deixar-nos
tocar pela Palavra e encarná-la em nossa
vida concreta. «Atam fardos pesados e
insuportáveis e colocam-nos aos ombros
dos outros, mas eles não põem nem um
dedo para os deslocar» (Mt 23,4).
Assim, o anúncio da Palavra consistirá
na atividade tão intensa e fecunda
que é «comunicar aos outros o que foi
contemplado». Por tudo isto, antes de
preparar concretamente o que vai dizer
19. na evangelização, o cate-quista tem de
aceitar ser primeiro trespassado por essa
Palavra que há de trespassar os outros,
porque é uma Palavra viva e eficaz, que,
como uma espada, «penetra até à divisão
da alma e do espírito, das articulações e
das medulas, e discerne os sentimentos e
intenções do coração» (Heb 4,12).
Nossa sociedade reclama evangelizadores
que lhe falem de um Deus que eles
conheçam e lhes seja familiar como se
eles vissem o invisível. (EG 150)
» Não cessemos de melhorar, vivamos o
desejo profundo de progredir no caminho do
Evangelho, e não deixe-mos cair os braços.
» Estar seguros de que Deus nos ama, de
que Jesus Cristo nos salvou, de que o seu
amor tem sempre a última palavra. À vista
de tanta beleza, sentiremos muitas vezes
que a nossa vida não nos dá plenamente
glória e de-sejaremos sinceramente
corresponder melhor a um amor tão grande.
ATENÇÃO! Todavia, se não
nos detemos com sincera
abertura a escutar essa
Palavra, se não deixamos
que ela toque a nossa vida,
que nos interpele, exorte,
mobilize, se não dedicamos
tempo para rezar com ela,
então, na realidade seremos
falsos profetas, embusteiros
ou um charlatães vazios.
O Senhor quer servir-se de nós como seres
vivos, livres e criativos, que se deixam pene-trar
pela Sua Palavra antes de a transmitir;
a Sua mensagem deve passar realmente por
meio do evangelizador, e não só pela sua
razão, mas tomando posse de todo o seu ser.
O Espírito Santo, que inspirou a Palavra, é
quem «hoje ainda, como nos inícios da Igreja,
age em cada um dos evangelizadores que se
deixa possuir e conduzir por Ele, e põe na sua
boca as palavras que ele sozinho não poderia
encontrar» (EG 151).
ESTE É UM ITINERÁRIO CONCRETO PARA
TORNAR A PALAVRA O FUNDAMENTO DE
NOSSA INICIAÇÃO À VIDA CRISTÃ.
OLHANDO PARA A REALIDADE EM NOSSA
COMUNIDADE PAROQUIAL, QUAIS
DESSES PAS-SOS JÁ ESTAMOS DANDO? O
QUE NOS FALTA AINDA? COMO FAZÊ-LOS
ACONTECER?
19
20. INICIAÇÃO CRISTÃ 20
Papa Francisco nos dá algumas dicas para
fazer a leitura orante:
Ficar na presença de Deus, numa leitura
tranquila do texto, e perguntar-se:
“Senhor, a mim que me
diz este texto? Com esta
mensagem, que quereis
mudar na minha vida? Que é
que me incomoda neste texto?
Porque é que isto não me
interessa?”
Ou então:
De que gosto? Em que me
estimula esta Palavra? Que
me atrai? E porque me atrai?
Ele nos alerta que quando se procura ouvir
o Senhor, é normal ter tentações:
» Uma delas é simplesmente sentir-se
aborrecido e acabrunhado e dar tudo por
encerrado.
» Outra tentação muito comum é começar
a pensar naquilo que o texto diz aos
outros, para evitar de aplicar à própria
vida.
» Acontece também começar a procurar
desculpas que nos permitam diluir a
mensagem específica do texto.
3
Escutar aquilo que o Senhor
nos quer dizer por meio da
lectio divina.
A Alegria do Evangelho indica a lectio
divina como a modalidade concreta para
escutarmos aquilo que o Senhor nos quer
dizer na Sua Palavra. E nos instrui que a
leitura espiritual de um texto deve partir
do seu sentido literal. Caso contrário, uma
pessoa facilmente fará o texto dizer o que
lhe convém, o que serve para confirmar as
suas próprias decisões, o que se adapta
aos seus próprios esquemas mentais.
E isso seria, em última análise, usar o
sagrado para proveito próprio e passar
essa confusão para o povo de Deus. Nunca
nos devemos esquecer de que, por vezes,
«também Satanás se disfarça em anjo de
luz» (2Cor 11,14) (EG 152). E ESTA É UMA
TENTAÇÃO MUITO GRANDE EM NOSSA
MISSÃO DE EVANGELIZAR: anunciar
as verdades em que eu acredito e não a
verdade de Jesus Cristo.
21. 21
» Outras vezes, pensamos que Deus
nos exige uma decisão demasiado
grande, que ainda não estamos
em con-dições de tomar. Isso leva
muitas pessoas a perderem a alegria
do encontro com a Palavra, mas
significaria es-quecer que ninguém
é mais paciente do que Deus Pai,
ninguém compreende e sabe esperar
como Ele. Deus convida sempre a
dar um passo mais, mas não exige
uma resposta completa, se ainda
não percorremos o ca-minho que
a torna possível. Apenas quer
que olhemos com sinceridade a
nossa vida e a apresentemos sem
fingimento diante dos seus olhos,
que estejamos dispostos a continuar
a crescer, e peçamos a Ele o que
ainda não podemos conseguir (EG
153).
QUANTO JÁ PROGREDIMOS EM
UTILIZAR A LECTIO DIVINA NA
COMPREENSÃO DOS TEXTOS
BÍBLICOS?
QUE DIFICULDADES AINDA
ENCONTRAMOS?
4
ESCUTAR O POVO, PARA
DESCOBRIR AQUILO QUE
OS FIÉIS PRECI-SAM
OUVIR.
» Como evangelizadores precisamos
ser contemplativos da Palavra e também
contemplativos do povo.
Dessa forma, descobrimos «as aspirações,
as riquezas e as limitações, as maneiras
de orar, de amar, de encarar a vida e o
mundo, que caracterizam este ou aquele
aglomerado humano», prestando atenção
«ao povo con-creto com os seus sinais e
símbolos e respondendo aos problemas
que apresenta».
» Relacionar a mensagem do texto
bíblico com uma situação humana, com
algo que as pessoas vivem, com uma
experiência que precisa da luz da Palavra.
Essa preocupação não é ditada por uma
atitude oportunista ou diplomática, mas é
profundamente religiosa e pastoral.
No fundo, é uma «sensibilidade espiritual
para saber ler nos acontecimentos a
mensagem de Deus», e isto é muito mais
do que encontrar algo interessante para
dizer.
Procura-se descobrir «o que o Senhor tem
a dizer nessas circunstâncias». Então,
a preparação da catequese transforma-se
num exercício de discernimento
evangélico, no qual se procura reconhecer
– à luz do Espírito – «um ‘apelo’ que Deus
22. INICIAÇÃO CRISTÃ 22
faz ressoar na própria situação histórica:
também nele e através dele, Deus chama o
crente». (EG 154)
DOCUMENTOS DA IGREJA, TAIS COMO
CATEQUESE RENOVADA, DIRETÓRIO
GERAL E NACIONAL DE CATEQUESE, VÊM
NOS ALERTANDO PARA A NECES-SIDADE
DE ESCUTAR O POVO HÁ MUITO TEMPO.
MAS ESTAMOS TENDO DI-FICULDADE
NESSA ESCUTA E CONTINUAMOS DANDO
RESPOSTAS A PER-GUNTAS QUE NÃO
NOS FORAM FEITAS. COMO VAMOS
MELHORAR NA ES-CUTA DO POVO E DE
SUAS PERGUNTAS?
5
É preciso empenhar-se
em encontrar a forma
adequada de apresentar
a mensagem – Recursos
pedagógicos
» Não basta saber o que dizer, é preciso se
preocupar com o como dizer.
Lembrar de que «a evidente importância
do conteúdo da evangelização não deve
esconder a importância dos mé-todos
e dos meios da mesma evangelização»
(PAULO VI, Exort. Ap. Evangelii Nuntiandi
(8 de dezembro de 1975), 40: AAS 68
(1976), 31).
» A preocupação com a forma de
evangelizar também é uma atitude
profundamente espiritual. É responder ao
amor de Deus, entregando-nos com todas
as nossas capacidades e criatividade à
missão que Ele nos confia; mas também é
um exímio exercício de amor ao próximo,
porque não queremos oferecer aos outros
algo de má qualidade (EG 156).
» Um dos esforços mais necessários é
aprender a usar imagens na pregação, isto
é, a falar por imagens.
Às vezes, usam-se exemplos para
tornar mais compreensível algo que
se quer explicar, mas estes exemplos
frequentemente dirigem-se apenas ao
entendimento, enquanto as imagens
ajudam a apreciar e acolher a mensagem
que se quer transmitir.
23. Uma imagem fascinante faz com que se
sinta a mensagem como algo familiar,
próximo, possível, relaciona-do com a
própria vida. Uma imagem apropriada
pode levar a saborear a mensagem que
se quer transmitir, desperta um desejo e
motiva a vontade na direção do Evangelho.
Uma boa homilia, como me dizia um anti-go
professor, deve conter «uma ideia, um
sentimento, uma imagem» (EG 157).
» Usar uma linguagem que os
destinatários compreendam, para não
correr o risco de falar ao vento.
Acontece frequentemente que os
evangelizadores usam palavras que
aprenderam nos seus estudos e em certos
ambientes, mas que não fazem parte da
linguagem comum das pessoas que os
ouvem.
Há palavras próprias da teologia ou
da catequese, cujo significado não é
compreensível para a maioria dos cris-tãos.
O maior risco de um pregador é habituar-se
à sua própria linguagem e pensar que
todos os outros a usam e compreendem
espontaneamente.
» Escutar muito para se adaptar à
linguagem dos outros, para poder chegar
até eles com a Palavra. É preciso partilhar
a vida das pessoas e prestar-lhes benévola
atenção.
» Ter simplicidade e clareza no anúncio.
Simplicidade e clareza são duas coisas
diferentes. A linguagem pode ser muito
simples, mas pouco clara a pre-gação.
Pode-se tornar incompreensível pela
desordem, pela sua falta de lógica, ou
porque trata vários temas ao mesmo tempo.
Por isso, outro cuidado necessário é
procurar que o anúncio tenha unidade
temática, uma ordem clara e liga-ção
entre as frases, de modo que as pessoas
possam facilmente seguir o evangelizador
e captar a lógica do que lhes diz.
» Nossa linguagem deve ser positiva,
oferecendo sempre esperança e
orientação para o futuro.
Não dizer tanto o que não se deve fazer,
como sobretudo propor o que podemos
fazer melhor.
E, se apontar algo negativo, sempre
procurar mostrar também um valor
positivo que atraia, para não ficar pela
queixa, o lamento, a crítica ou o remorso.
Além disso, uma pregação positiva
oferece sempre esperança, orienta para
o futuro, não nos deixa prisionei-ros da
negatividade.
» Reunir-se periodicamente para
encontrar os recursos que tornem mais
atraente a evangelização.
Como é bom que sacerdotes, diáconos e
leigos se reúnam periodicamente para
encontrarem, juntos, os recur-sos que
tornem mais atraente a evangelização (EG
159)!
Como seria bom se pudéssemos receber
uma fórmula pronta e adequada de
transmitir a mensa-gem que não exigisse
o nosso estudo, oração e trabalho, não é
mesmo? Mas ela não existe, por-que nunca
seria adequada à nossa realidade e porque
o plano de Deus sempre parte do amor,
23
24. INICIAÇÃO CRISTÃ 24
dos gestos de amor que empregamos
em fazer acontecer a evangelização, da
preparação amorosa de cada momento
de encontro com Jesus que propiciamos
aos outros. Recordemos o que Francisco
nos diz: “A preparação da catequese
requer amor, pois uma pessoa só dedica
um tempo gratuito e sem pressa às coisas
ou às pessoas que ama; e aqui trata-se
de amar a Deus, que quis falar” e quer
continuar falando por meio de nós.
Por isso, queridos catequistas,
arregacemos as nossas mangas e
comecemos a fazer acontecer a iniciação à
vida cristã em nossas comunidades.
Temos um material de apoio tão rico que
nos aponta o caminho, mas o caminhar
somos nós que o fazemos, dentro da
realidade que nos envolve.
Que esta reflexão que fizemos aqui possa
ser levada a sua comunidade catequética,
para que, jun-tos, possam orar com Jesus
sobre tudo isso e descobrir o que Ele está
pedindo para vocês.
Senhor Jesus, a ti entregamos a
nossa missão de catequistas e nos
comprometemos contigo de dar o nosso
melhor, de fazer tudo com muito amor
e carinho, para levar as pessoas ao Teu
encontro, para fazer-te acontecer na vida
delas e na vida de nossa comunidade.
Conta conosco! Assim como contamos
conti-go! Fica conosco, Senhor!
Liana Plentz
Jornalista, catequista,
especialista em
ensino religioso.
Coordenadora da iniciação
à vida cristã do Vicariato
de Porto Alegre.
Secretária da Animação
Bíblico-catequética
do Regional Sul 3 da
CNBB.
25.
26. CATEQUESE INFANTIL 26
CATEQUESE &
BRINCADEIRA
por Gilson P. Júnior
“Uma criança que nãos sabe brincar,
uma miniatura de velho, será um
adulto que não saberá pensar.”
(Chateau 1987, p. 14)1
1 Jean Chateau, pedagogo francês (1908-1990).
27. Quem não se recorda das brincadeiras
de quando era criança? Pique-pega,
esconde-esconde, pular corda, corre
cutia, amarelinha e tantas outas.
Cada brincadeira trazia em si uma
mensagem, uma arte, uma técnica
diferente e diferenciada em sua
ludicidade que nos ajudava e nos ajudou
em nosso desenvolvimento, cognitivo
(funções envolvidas na leitura e na
decodificação do contexto circundante),
físico/motor (psicomotricidade,
criatividade), social (integração, relação,
partilha de costumes, crenças e valores)
e afetivo (estima, simpatia, apreço,
empatia que possibilita a ligação com o
saber, com o conhecer, com o sagrado).
Brincar era um aprendizado, pois por
meio das brincadeiras aprendíamos
matemática, português, geografia,
conhecimentos gerais, entre tantas
outras coisas. Aprendíamos brincando e
brincávamos aprendendo.
Com o passar do tempo fomos perdendo
esse gosto pela brincadeira, esquecemos
que fomos crianças e que aprendemos
muito brincando, passamos a transmitir às
gerações futuras a descaracterização da
brincadeira, tornando-a meramente uma
forma de diversão. “Adultizamos” o universo
infantil das crianças desconsiderando que
ao brincar elas aprendem mais e melhor
por meio desse “outro mundo possível”
concretizado por meio de suas experiências.
Portanto, é preciso voltar atrás e rever a
forma que evangelizamos/educamos as
nossas crianças, sendo nós educadores
da fé de nossos pequenos. O brincar
possibilita o encontro com o Sagrado de
forma mais eficaz e leve.
Para tanto é preciso primeiro uma revisão
interior. Um despertar de nossa criança
que está oculta dentro de nós e que precisa
voltar a brincar para que a brincadeira faça
parte do universo evangelizador em que
propomo-nos a atuar a fim de que nossas
crianças tenham o grande encontro com o
Sagrado que desejamos.
(...) um professor que não sabe e/ou não
gosta de brincar dificilmente desenvolverá a
capacidade lúdica de seus alunos. Ele parte do
princípio de que o brincar é perda de tempo.
Assim, antes de lidar com a ludicidade do
aluno, é preciso que o professor desenvolva a
sua própria. O professor que, não gostando de
brincar, esforçar-se por fazê-lo normalmente
assume uma postura artificial, facilmente
identificada pelos alunos. A atividade proposta
não anda. Em decorrência, muitas vezes
os professores deduzem que brincar é uma
bobagem mesmo, e que nunca deveriam ter
dado essa atividade em sala de aula. A saída
desse processo é um trabalho mais consciente
e coerente do professor no desenvolvimento
de sua atividade lúdica. (Mrech 1996, apud
Miranda p. 111)2
2Leny Mrech é socióloga, psicóloga e professora da faculdade de Educação da Universidade São Paulo.
27
28. CATEQUESE INFANTIL 28
Chateau (1987)3 , bem como tantos outros
pedagogos que devotaram suas vidas
à educação das crianças, adolescentes
e jovens, diz que é pela brincadeira,
pelo brinquedo, “que crescem a alma e
a inteligência”4. Para ele a brincadeira
se torna o laboratório do espírito onde
acontecem as experiências que corroboram
para tudo aquilo que há de vir.
Sendo assim, desenvolver uma catequese
por meio da brincadeira é fundamental
para alcançar o universo em que se
encontram aqueles que evangelizamos.
Se fosse apenas para passar conteúdos as
escolas convencionais já bastariam. Até
as escolas há tempos vêm retomando o
foco sobre a brincadeira, no que se refere
à metodologia educacional voltada para
as crianças, a fim de alcançar melhores
resultados educacionais.
Por que, então, não recorrer à brincadeira
como parte metodológica para a
evangelização das crianças?
A atividade lúdica é um grande laboratório
onde ocorrem experiências inteligentes
e reflexivas. A experiência produz o
conhecimento, portanto nos possibilita tornar
concretos os conhecimentos adquiridos.
(Miranda 2013, p. 24) 5
3Jean Chateau, pedagogo francês (1908-1990).
4Miranda, Simão de . Oficina de ludicidade na escola. Papirus, 2013, p.23.
5Simão de Miranda é mestre em educação e doutor em psicologia. Residente em Brasília-DF, servidor da Secretaria de Educação do GDF.
Escritor de mais de 37 livros e assessor em diversos países com temas voltados para a educação. Mirada, Simão de. Oficina de ludicidade
na escola. Papirus, 2013.
29. 29
O brincar na educação
A criança deve desfrutar plenamente de jogos
e brincadeiras, os quais deverão estar dirigidos
para a educação; a sociedade e as autoridades
públicas esforçar-se-ão para promover o
exercício deste direito. (Declaração Universal
dos Direitos das Crianças, 1959)
Além de ser um direito regulamentado
por lei, o brincar vem recebendo
destaque cada vez mais visível na
sociedade, de forma mais clara e
evidenciada nos métodos de educação
exercendo papel fundamental na
educação das crianças (Lima, 2006, p.
13 apud PMBCN, p. 67)6. Ainda, esse
assunto, vem descrito no parágrafo 7
da Declaração Universal dos Direitos
das Crianças que fala sobre o direito à
educação gratuita e ao lazer infantil.
Segundo o MEC (2006)7 as crianças
precisam brincar, pois a brincadeira é
essencial para a vida. O brincar alegra
e motiva, reúne as crianças e as faz
trocarem experiências e a ajudarem-se
mutuamente. Esse contexto torna
necessária a inclusão do brincar em
todas as relações sociais da criança.
A brincadeira é a vida da criança e uma
forma gostosa para ela movimentar-se e
ser independente. Brincando, a criança
desenvolve os sentidos, adquire habilidades
para usar as mãos, o corpo, reconhece os
objetos, e suas características, textura,
forma, tamanho, cor e som. Brincando a
criança entra em contato com o ambiente,
relaciona-se com o outro, desenvolve o físico,
a mente, a autoestima, a afetividade, torna-se
ativa e curiosa. (Siaulys, 2006, p. 10)
Seria muita pretensão neste artigo
esgotar todas as narrativas sobre os
grandes pensadores a respeito do brincar
na educação das crianças. É preciso
um tempo maior de estudo daqueles
que trabalham com a evangelização
das infâncias dedicado a esse assunto,
mas aqui era preciso descrever algumas
reflexões a fim destacar o valor e
grandiosidade dessa ferramenta que deve
ser utilizada na evangelização/educação
das crianças. Saiamos de nossos muros e
vejamos o sol forte que nos espera lá fora.
Será por acaso a criança em desenvolvimento,
essa força da natureza, essa explorada
aventurosa, é mantida imóvel, petrificada,
confinada, reduzida à contemplação das
paredes, enquanto o sol brilha lá fora (...)?
(Christiane Rochefort apud Harper et al.
1987, p. 47)
6Província Marista Brasil Centro-Norte. Diretrizes curriculares para a educação infantil, p. 67.
7Siaulys, Mara O. de Campos. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial – Brincar para todos. Brasília 2005. Disponível em
http://goo.gl/QftMzs. Visitado em 24 de junho de 2014.
30. CATEQUESE INFANTIL 30
O brincar catequese
O Diretório Nacional de Catequese (2006)
diz que:
Em todas as épocas a Igreja preocupou-se
em buscar os meios mais apropriados para o
cumprimento de sua missão evangelizadora
(cf. CT 46). Ela não possui um método único e
próprio para a transmissão da fé, mas assume
os diversos métodos contemporâneos na
sua variedade e riqueza, na medida em que
respeitam integralmente os postulados de uma
antropologia cristã a garantem a fidelidade do
conteúdo. Utiliza-se das ciências pedagógicas
e da comunicação, levando em conta a
especificidade da educação na fé. (DNC 2006)8
Nesse contexto os métodos pedagógicos
presentes nas escolas deveriam estar
também presentes em nosso meio
evangelizador quando nos referimos à
educação na fé de nossas crianças. As
metodologias aplicadas na ambiência
educativa podem facilitar e muito a
nossa práxis pastoral na catequese.
Somos chamados a sermos discípulos
missionários no meio das crianças e
para que essa missão aconteça se faz
necessário apropriarmo-nos de métodos
capazes de alcançar seus intelectos e
corações.
Tendo refletido sobre a importância da
brincadeira na evangelização/educação
das crianças, faz-se necessário que o
catequista tenha essa familiaridade com o
universo infantil por meio das brincadeiras
e outros meios como nos afirma o DNC
quando diz que:
Também será bastante útil ter familiaridade
com o universo infantil: brincadeiras, situação
escolar e familiar, histórias em quadrinhos
e filmes que as crianças preferem, literatura
infantil de boa qualidade. (DNC 2006, p. 127)
Somos chamados como evangelizadores
das crianças, com urgência, a desbravar
esse universo de possibilidade por meio
do brincar, quebrando as barreiras que
nos impedem de integrar a brincadeira e
evangelização.
Sobre essa urgência o Documento de
Aparecida fala que é preciso “estudar
e considerar as pedagogias adequadas
para a educação na fé das crianças,
especialmente em tudo o que se relaciona
à iniciação cristã, privilegiando o momento
da primeira comunhão”9.
Para nós, fica esse grande desafio
fundamentado pelo DNC que nos interpela
a “integrar na catequese as conquistas das
ciências da educação, particularmente a
pedagogia contemporânea, discernida a luz
do Evangelho”10 , destacando aqui o brincar
como opção pedagógica para a catequese.
8CNBB. Diretório Nacional de Catequese. Catequese como processo educativo. CNBB, Brasília
2006, p. 103.
9CNBB, Paulinas, Paulus. Documento de Aparecida. São Paulo, 2008,p. 198
10CNBB. Diretório Nacional de Catequese. Brasília, 2006 p. 34
31. 31
O que deve ser
considerado quando
se fala de catequese
e brincadeira?
Imbuídos do contexto sobre a importância
da brincadeira na vida da criança, vale
salientar que a identidade da pedagogia
catequética que tem por fundamento a
pedagogia divina, modelo de educação da
fé pretendida pela catequese11, não pode
se perder nesse sistema de construção da
brincadeira como ferramenta no processo
de crescimento da fé das crianças.
Os métodos pedagógicos por meio
da brincadeira devem ser somados
à pedagogia catequética para uma
evangelização cada vez mais conectada às
realidades e especificidades das crianças
de hoje, na finalidade da construção do
Reino de Deus por meio do anúncio da
Boa Nova, não se sobrepondo à pedagogia
catequética que acreditamos.
A pedagogia catequética tem como modelo
sobretudo o proceder de Jesus Cristo, que, a
partir da convivência com as pessoas, deu
continuidade ao processo pedagógico do Pai.
Levou à plenitude, por meio de Sua vida,
palavras, sinais e atitudes, a Revelação Divina,
iniciada no Antigo Testamento. Motivou os
Seus discípulos a viverem conforme os Seus
ensinamentos e plantou a semente da Sua
comunidade, a Igreja, para transmitir, de
geração em geração, a mensagem da Salvação
e a pedagogia que Ele mesmo ensinou com Sua
vida. (DNC, 2006, p. 130)
Para isso alguns itens precisam ser
considerados na preparação dos encontros
com as crianças:
• A motivação do encontro
Motivação é aquilo que nos impulsiona,
que nos influencia a alcançar um
determinado objetivo. As crianças só
entrarão no universo evangelizador, no
jogo, na brincadeira se sentirem motivadas
pelos catequistas.
Primeiro o catequista volta a brincar,
buscando em seu interior a sua criança,
depois junto com a criança se envolve
na brincadeira. A motivação potencializa
o interesse, a alegria e o entusiasmo da
criança características fundantes para a
transmissão da Boa Nova.
• A transmissão do tema do
encontro
Como dito anteriormente, educar,
evangelizar, catequizar precisa ser muito
mais do que apenas transmitir conteúdos.
O brincar possibilita essa interação e
integração fazendo que o conteúdo
desejado seja desenvolvido com as
crianças de forma a leva-las ao encontro
com o Sagrado.
• A identificação das crianças
no desenvolvimento do
encontro
Quando motivadas, as crianças respondem
ao processo sistematizado pensado para o
seu encontro com o Sagrado por meio de
gestos, falas, escritas e outros. Ela não é
apenas uma receptora de informação, mas
passar a ser integrante de seu processo de
ensino aprendizagem de crescimento na fé.
11CNBB. Diretório Nacional de Catequese. Brasília, 2006 p. 20.
32. CATEQUESE INFANTIL 32
• A avaliação do encontro
É preciso avaliar com as crianças o
encontro realizado. Pergunte a elas: como
foi pra você o encontro de hoje? O que mais
aprendemos? O que gostamos? O que não
gostamos?
Uma vez se sentindo participante do
encontro, a criança se sente capaz de levar
aos outros o que aprendeu, crescendo com
esse aprendizado, levando parte desses
ensinamentos pelo resto de sua vida.
A sua participação, seu protagonismo
nos encontros, estimula a persistência na
caminhada catequética, nos processos de
evangelização e na vida comunitária na
Igreja.
Quantas de nossas crianças, motivadas
pela catequese, não estão inseridas em
outros ambientes da Igreja? Quantas
crianças não se tornam evangelizadoras de
sua família após um encontro estimulante
da catequese? E quantas crianças, por
não se sentirem parte desses processos
catequéticos, após a Primeira Eucaristia,
desanimam e desaparecem dos processos
evangelizadores da Igreja?
• O diálogo sobre o próximo
encontro
Ao final do encontro motive as crianças
sobre o tema do próximo encontro.
Pergunte a elas como gostariam que fosse
o encontro, se indicam músicas, filmes,
dinâmicas para o desenvolvimento do
próximo tema.
Certo dia, um educador que trabalhava
o tema da CF 2014 com as crianças,
levou um desenho animado para que elas
assistissem a ele. De imediato um grupo de
crianças reagiu a sua proposta e disse:
– Não queremos assistir ao desenho
animado que você trouxe para o encontro.
Queremos ver Os pinguins de Madagascar.
O educador, conhecedor daquele desenho
animado, respondeu de imediato:
– Mas o desenho que vocês querem ver
não se parece nada com o tema do nosso
encontro.
33. 33
Reflexão...
Toque para ler
As crianças responderam:
– Como não? O desenho não fala sobre
liberdade e o esforço que aqueles animais
fazem para serem livres? Então, acaso o
tema da CF 2014 não é “É para a liberdade
que Cristo nos libertou”?
O educador tratou logo de providenciar o
filme.
Os encontros da catequese, cheios de
brincadeiras, diálogos e ludicidade podem
preencher a grande lacuna que existe em
nossos processos evangelizadores com os
pequenos. O próprio caráter socializador do
brincar pode aproximar mais os catequistas
e catequizandos, catequizandos e
catequizados, Igreja e catequizandos e
o Sagrado dos catequizandos, tornando
a nossa prática pastoral eficaz em prol
da construção de uma sociedade mais
humana, justa e fraterna.
Dessa forma, a catequese passaria a ser
um serviço não apenas para a Igreja, mas
um serviço para a vida toda.
Gilson Prudêncio Júnior
Analista Pastoral - Infâncias/Pastoral
Marista UBEE - UNBEC
34. PRIMEIRA COMUNHÃO 34
QUAL A IMPORTÂNCIA DA CATEQUESE DE
Primeira Comunhão na
vida das crianças?
por Roberto Garcia
Como todos nós sabemos, a Primeira
Comunhão trata-se do momento
em que nos aproximamos da ceia
do Senhor, recebendo Seu corpo e Seu
sangue e permitindo que Jesus habite
nosso coração.
Mas você já parou para pensar na
importância que essa ação tem na vida de
uma criança?
Normalmente quando a criança inicia sua
catequese é muito comum ouvirmos que
35. “estou aqui porque meus pais obrigaram”,
“preciso fazer catequese para poder
casar”, “o que é catequese?”, enfim,
diversas exclamações e interrogações
que, sinceramente, deixam-me bastante
assustado!
Não raramente, as crianças começam
a catequese sem ao menos saber rezar
as orações tradicionais (Pai-Nosso, Ave-
Maria...) que deveriam ser aprendidas em
casa, pois a introdução de uma criança
na vida religiosa começa na família. A
catequese familiar é fundamental para
que a catequese ministrada na Igreja
não seja vazia, pois ela corre o risco de
ser alicerçada sobre a areia: na primeira
“balançada”, desmorona.
A ação do catequista na vida da criança
deve ser transformadora. Durante a
caminhada na catequese, ela deve
sentir-se importante no processo de
evangelização, sentir-se amada por
Deus e também pelo catequista. Dessa
forma, a criança vai absorvendo com mais
facilidade o objetivo da catequese.
Às vezes a criança vem para a catequese
necessitando de carinho, de atenção, de
alguém que esteja disposto a escutá-la
e a orientá-la sobre alguma dificuldade
ou algum problema. E devemos estar de
braços e coração abertos para recebê-las,
pois, como disse Jesus: “Deixai as crianças
e não as proibais de vir a Mim, porque
delas é o Reino dos Céus” (cf. Mt 19,14).
Durante a catequese a criança vai
conhecendo e se aprofundando na
experiência cristã e, principalmente na
vivência comunitária, ela vai descobrindo
o que significa a comunhão.
A catequese de Primeira Comunhão é
fundamental para a formação religiosa da
criança, pois, se ela for bem trabalhada
desde as bases (familiar, escolar,
comunitária), no futuro poderemos
evitar uma série de problemas sociais.
Afastaremos a criança do mundo das
drogas, das más companhias, e estaremos
auxiliando na formação de um bom cristão
e também de um bom cidadão.
Ah, e também devemos orientar as
crianças que, após fazer a Primeira
Comunhão, elas não devem abandonar
a Igreja, viu? A Primeira Comunhão não
pode ser única... Elas devem permanecer
em comunhão com Cristo e com os irmãos
para sempre! Assim como Jesus nunca
nos abandonou, nós também não devemos
nunca abandoná-Lo.
Um fraterno abraço e até o mês que vem!
PAZ & BEM
Roberto Garcia
Catequista desde 1997 na Comunidade Santa Rita de Cássia,
Paróquia Rede de Comunidades São José – Gravataí-RS.
Também integra a equipe Pascom da Paróquia desde 2012.
35
38. CATECUMENATO 38
A catequese na Igreja do Brasil vive um desafio peculiar nos tempos
atuais: formar discípulos e missionários de Jesus Cristo! Essa nova
característica da evangelização concretizou-se na Conferência
Episcopal dos Bispos do Brasil, que ocorreu na cidade de Aparecida-SP,
em 2007. Para atingir esse objetivo, no entanto, o caminho é longo...
Denominamos esse caminho de Processo de Iniciação à Vida Cristã, algo
antigo e bastante eficiente. Antigo porque recebe uma inspiração vinda
das primeiras comunidades cristãs, o catecumenato, e eficiente porque
coloca o iniciante em contanto permanente com a pessoa de Jesus
Cristo, tendo como fruto principal a formação de um verdadeiro cristão.
O caminho da Iniciação data do século II
depois de Cristo, com a estruturação do
catecumenato para promover a adesão a
Jesus Cristo e à Igreja. Era um processo
contínuo, progressivo e dinâmico de
preparação para os Sacramentos do
Batismo, Crisma e Eucaristia, marcado
por etapas e ritos, utilizado para
conduzir os adultos (e não as crianças),
recém-convertidos ao cristianismo, à
experiência do mistério de Deus. Teve
seu período áureo entre os séculos III e
IV e seu declínio no século V, quando ser
cristão tornou-se uma situação comum
e abriu-se a possibilidade de o Batismo
ser ministrado preponderantemente
às crianças. No século VI desaparece o
catecumenato propriamente dito.
Apenas em 1972, com a promulgação
do Ritual de Iniciação Cristã de Adultos
(RICA), o catecumenato voltou a
ser fonte de inspiração e itinerário
de toda a catequese. A partir de
então, a preocupação é possibilitar a
iniciação tanto para os não batizados
(catecúmenos) quanto para os batizados
insuficientemente catequizados
(catequizandos). Nesse sentido, há várias
situações em que se encontram pessoas a
serem atendidas no processo de iniciação:
adultos e jovens não batizados; adultos e
jovens batizados que desejam completar
a iniciação cristã; adultos e jovens com
prática religiosa, mas insuficientemente
evangelizados; pessoas de várias idades
marcadas por uma religiosidade conflitante,
39. 39
ambígua e confusa; grupos específicos,
como as pessoas com deficiência,
indígenas, etc.; casais em situação
matrimonial irregular; adolescentes e
jovens; crianças não batizadas e inscritas
na catequese; e crianças e adolescentes
batizados que seguem o processo
tradicional de iniciação cristã.
O processo de iniciação à vida cristã
com inspiração catecumenal é aplicável
a qualquer catequese sacramental
(Batismo, Eucaristia, Crisma ou
Matrimônio) ou a qualquer grupo que
trabalhe com as realidades acima
descritas. Especificamente em relação
à catequese eucarística, o processo de
iniciação oferece às crianças em idade de
catequese o encontro pessoal e decisivo
com Jesus Cristo. Não mais se trata de
uma catequese que orienta a decorar
as orações e a doutrina, mas incentiva a
vivência em comunidade, que tem como
finalidade “o ser cristão” e não apenas a
sacramentalização, conscientizando que
os Sacramentos alimentam esse processo
e são sinais visíveis do próprio Jesus.
Antes de compreender como está
organizado o processo de iniciação à
vida cristã e a inspiração catecumenal é
importante saber distinguir um verdadeiro
cristão, finalidade única desse processo.
O livro dos Atos dos Apóstolos apresenta-nos
o primeiro retrato dos cristãos: “Eram
perseverantes em ouvir os ensinamentos
dos apóstolos, na comunhão fraterna, no
partir do pão e nas orações. Em todos eles
havia temor, por causa dos numerosos
prodígios e sinais que os apóstolos
realizavam. Todos os que abraçaram a
fé eram unidos e colocavam em comum
todas as coisas” (At 2, 42-44). O relato
bíblico revela-nos que o verdadeiro cristão
é aquele que, sobretudo, vive sua fé em
comunidade e cresce graças à catequese
(“ensinamento dos apóstolos”). Desse
modo, pode-se destacar um aspecto
essencial do processo de iniciação à
vida cristã: a catequese é realizada
em conjunto pelos catequistas, pais,
sacerdotes e toda comunidade de fé.
Visto esse aspecto, fundamento da
iniciação cristã, podem-se resumir os
tempos desse processo como descrito a
seguir:
40. CATECUMENATO 40
1º tempo
pré-catecumenato
Corresponde ao período da primeira
evangelização, de acolhimento do
iniciante da comunidade cristã, da
percepção de sua fé e do primeiro anúncio
do Cristo (Querigma).
2º tempo
catecumenato
É o tempo mais longo de todo o processo,
dedicado à catequese completa, que se
preocupa com a formação do cristão bem
como com a vivência em comunidade por
meio dos ritos (celebrações).
4º tempo
mistagogia
Acontece durante o tempo pascal, a fim de
aprofundar os mistérios pascais, revestir-se
do Cristo e partir para uma vida nova.
3º tempo
purificação e iluminação
Acontece preferencialmente no período
quaresmal, a fim de proporcionar
preparação próxima para os Sacramentos,
por meio do aprofundamento das práticas
quaresmais junto à comunidade.
41. 41
Cada tempo do processo catecumenal é
enriquecido com a celebração de ritos
que marcam a evolução do iniciante no
caminho da catequese. É importante
destacar que esses ritos, os quais
fazem parte principalmente do tempo
do catecumenato e da purificação
e iluminação, fortalecem a união
entre catequese e liturgia e criam um
vínculo único entre os catecúmenos/
catequizandos e a comunidade eclesial.
Assim, os catequistas têm a oportunidade
de amadurecer a sua fé a partir da
caminhada catecumenal de seus
iniciantes, intensificando a vida de
oração, a leitura e escuta da Palavra e
comprometendo-se com a missão que
Deus lhes confiou: formar verdadeiros
discípulos e missionários de Jesus Cristo!
Deus, em sua infinita bondade, abençoe
cada catequista que mergulhará nessa
fonte de inspiração catecumenal.
A Imaculada Conceição, Rainha da
Evangelização, conceda a todos os povos
a graça santificante de amar e seguir a
pessoa de Jesus Cristo!
Adriana Amorim
de Farias Leal
Catequista
Paróquia Nossa Senhora da
Conceição
Catedral da Diocese de
Campina Grande-PB
43. APRENDER A AMAR
O catequista que se abre ao amor de
Deus e o amor aos irmãos é aquele,
aquela catequista que está fazendo
a experiência do amor na sua vida de
batizado(a) e vocacionado(a) a esse
ministério, como nos diz em João, todo
aquele que ama é nascido de Deus e
conhece a Deus, porque Deus é amor, o
amor deve ser o cerne e o ápice da vida
de um uma catequista, pois é pelo amor
que ele ou ela tem por Deus e sente na
sua intimidade com Deus que vai frutificar
sua vocação catequética e dará por meio
de Jesus na sociedade frutos e frutos em
abundância.
O exercício do amor na vida do catequista
é um exercício que exige perseverança
e acima de tudo vontade – querer amar
primeiro a si mesmo e depois aos irmãos,
fazendo o exercício do mandamento
deixado por Jesus: “Amai-vos uns aos
outros, como Eu vos amei”, e o fruto
desse exercício se dá no aprendizado do
amor. O catequista que se abre a esse
exercício de aprender a amar vive na sua
vida o mandamento deixado por Jesus,
principalmente quando Jesus nos diz
amai os vossos inimigos e fazei o bem a
quem vos persegue. O catequista para ser
o catequista que corresponde aos anseios
do coração de Deus deve ser aquele que
vive o amor em suas ações, pois não se
pode dar aquilo que não se tem e nem
falar sobre aquilo que não se vive. Assim
como um engenheiro que projeta uma
casa, Deus, antes de você, catequista,
nascer, o(a) projetou e cabe a você
corresponder por meio da sua vivência
no amor aos anseios do coração de Dele,
para que nossa sociedade, em Jesus por
meio de cada um(a) de vocês tenha vida
em abundância. Entre esses discípulos,
os reunidos nas comunidades religiosas,
“mulheres e homens de todas as nações,
tribos, povos e línguas” (Cf. Ap 7, 9)
foram e são ainda hoje uma expressão
particularmente eloquente desse sublime
e ilimitado Amor.
Nascidos não da vontade da carne e do
sangue, não de simpatias pessoais ou de
motivos humanos, mas de Deus (Jo 1, 13),
de uma vocação divina e de uma divina
atração, as comunidades religiosas são
um sinal vivo da primazia do amor de Deus
que opera suas maravilhas e do amor a
Deus e aos irmãos, como foi manifestado e
praticado por Jesus Cristo.
43
44. CATEQUESE INCLUSIVA 44
O catequista que possui uma união
com Jesus vai no dia a dia se colocar a
rezar e aprender, assim como Deus diz
em Sua palavra: “Tudo o que pedires na
oração, credes que já tendes recebido”.
Os discípulos dos nossos dias de hoje
são chamados de catequistas, pois estes
há 2.000 anos pediram para Jesus lhes
ensinar a rezar e Jesus lhes ensinou a
oração do Pai-Nosso, essa oração é MUITO
poderosa, pois, uma vez que unido(a) ao
coração de Jesus, o(a) catequista que
entregar-se verdadeiramente na vontade
de Deus, quando dizemos de maneira
aberta “Seja feita a Vossa vontade, assim
na terra como no céu” estará aberto(a)
a receber do coração do Pai aquilo que é
de acordo com a Sua vontade para ele(a)
e o melhor para sua vida; fazendo assim,
estará em sintonia com Deus e a cada
oração que fizer vai lembrar que Jesus nos
pede que antes de qualquer oração que
façamos, em primeiro lugar devemos pedir
o Espírito Santo, pois é Ele que sabe o que
devemos pedir, como pedir e o que pedir.
O catequista que adquire experiência com
Jesus aprende pela missionaridade do seu
chamado SER CATEQUISTA a evangelizar,
que nada mais é do que levar a Boa Nova
ao coração das pessoas sedentas do amor
de Deus.
O aprender a evangelizar do(a) catequista
reporta-se à passagem do Evangelho em
que Jesus saiu pelas ruas das sinagogas
pregando o Evangelho, curando, etc.
APRENDER
A REZAR
APRENDER A
EVANGELIZAR
45. Debaixo do Sol há um tempo para cada
coisa, nos diz em Eclesiastes 3,1.
O(a) catequista deve entender que o
tempo de Deus não é o tempo dele(a), ou
seja, levando em consideração que o ser
humano vive no chronos e Deus no kairós
o tempo de Deus não é o tempo do(a)
catequista, e esse tempo de espera o(a)
catequista deve exercitá-lo a paciência,
como está em Eclesiástico 2. Dizia certa
vez uma sábia pessoa em um programa de
rádio de uma emissora católica, cuja frase
possui autoria desconhecida: “A paciência
é amarga, mas seus frutos são doces”.
“Quem ama, faz sempre comunidade; não
fica nunca sozinho.”
(Santa Tereza de Jesus)
“Vede como eles se amam.” Atos 2
O(a) catequista, vendo a imagem de
Jesus no outro membro da comunidade,
principalmente no catequizando com
algum tipo de deficiência, aprende a fazer
a experiência das primeiras comunidades,
quando em Atos dos Apóstolos 2 lemos:
“Vede como eles se amam”, em que o
amor é o cerne e o ápice de toda ação
missionária catequética inclusiva.
Abaixo algumas dicas contendo cinco
passos para viver e conviver bem em
comunidade.
Atos 2, 42-47
APRENDER
A ESPERAR
APRENDER
A VIVER E A
CONVIVER EM
COMUNIDADE
45
46. CATEQUESE INCLUSIVA 46
“Eles mostravam-se assíduos ao
ensinamento dos apóstolos, à comunhão
fraterna, à fração do pão e às orações.
Apossava-se de todos o temor, pois
numerosos eram os prodígios e sinais, que
realizavam por meio dos apóstolos. Todos
os que tinham abraçado a fé reuniam-se
e punham tudo em comum: vendiam suas
propriedades e bens, e dividiam-nos entre
todos, segundo as necessidades de cada
um. Dia após dia, unânimes, mostravam-se
assíduos no templo e partiam o pão pelas
casas, tomando o alimento com alegria e
simplicidade de coração. Louvavam a Deus
e gozavam da simpatia de todo o povo.
E o senhor acrescentava cada dia ao seu
número os que seriam salvos.”
1º passo - Viver em
comunidade:
• Para viver bem em comunidade é preciso
passar pelo conhecimento: “Conhecereis
a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,
32). A verdade é Jesus: “Eu sou o caminho,
a verdade e a vida…” (Jo 14, 6); conhecer a
verdade é conhecer a Jesus Cristo revelado
a nós por meio das Sagradas Escrituras,
da Doutrina e da Tradição passadas a nós
pelos nossos primeiros pais na fé.
• Conhecer a comunidade.
• Conhecer o outro, quem ele é, sua
história.
• Conhecer a palavra de Deus, a doutrina
da igreja Católica Apostólica Romana.
• É necessário reciclar-se, ou seja, passar
pela formação continuada, permanente.
Não podemos achar que estamos
prontos, mas em constante processo
de construção, de abertura a mudança,
principalmente quando lidamos com a
catequese inclusiva.
47. 2º passo – Comunhão
fraterna:
1. O que é a comunhão. A comunhão é o
“vínculo de unidade fraternal mantida pelo
Espírito Santo e que leva os cristãos a se
sentirem um só corpo em Jesus Cristo”
(Dicionário Teológico, CPAD). A palavra
grega koinonia traz a ideia de cooperação
e relacionamento espiritual entre os
santos. A comunhão da Igreja primitiva era
completa (At 2.42). Reuniam-se em oração
e súplica, mas também reuniam-se para
socorrer os mais necessitados.
Dom Bosco (Regra de vida dos Salesianos
de Dom Bosco):
•“Viver e trabalhar juntos é exigência
fundamental e caminho seguro para
realizarmos nossa vocação. Reunimo-nos
em comunidade, nas quais amamos a ponto
de tudo compartilhar em espírito de família
e construímos a comunhão de pessoas.
Na comunidade reflete-se o mistério da
Trindade; nela encontramos uma resposta
às aspirações profundas do coração e nos
tornamos sinais de amor e unidade…”
• “Deus nos chama a viver em
comunidade, confiando-nos irmãos que
devemos amar. Formamos assim um só
coração, e uma só alma para amar e servir
a Deus e para nos ajudarmos uns aos
outros.”
• LER COLOSSENSES 3, 12-15.
• A comunhão da caridade: ler Rm 14, 7:
ninguém vive ou morre para si; 1 Cor 12,
26-27: todos compartilhamos com outro o
que temos até os sofrimentos.
• Jo 13, 35: “Nisto conheceram todos
que sois os meus discípulos: sevos
amardes uns aos outros”. Tertuliano diz
que os cristãos levaram tão a sério este
mandamento que os pagãos diziam entre
si “Vede como eles se amam”.
47
48. CATEQUESE INCLUSIVA 48
3º passo - A partilha
do pão:
Mc 8,6
14. Os discípulos tinham se esquecido de
levar pães. Tinham consigo na barca só um
pão.
15. Então Jesus os advertiu: “Prestem
atenção e tomem cuidado com o fermento
dos fariseus e com o fermento de
Herodes”.
16. Os discípulos diziam entre si: “É
porque não temos pão”.
17. Mas Jesus percebeu e perguntou:
“Por que vocês discutem sobre a falta de
pães? Vocês ainda não entendem e nem
compreendem? Estão com o coração
endurecido?”.
18. “Vocês têm olhos e não veem, tem
ouvidos e não ouvem? Não se lembram
19. de quando reparti cinco pães para
cinco mil pessoas? Quantos cestos vocês
recolheram cheios de pedaços?” Eles
responderam: “Doze”.
20. Jesus perguntou: “E quando reparti
sete pães para quatro mil pessoas,
quantos cestos vocês recolheram cheios
de pedaços?”. Eles responderam: “Sete.”
21. Jesus disse: “E vocês ainda não
compreendem?”.
• Está relacionada com a ceia do Senhor.
Ler CIC 1329 “ com isso querem dizer
que todos comem do único pão partido,
Cristo”.
• Discípulos de Emaús, Lucas 25, 13-35:
Reconheceram Jesus na partilha do pão;
é assim que reconhecerão os seguidores
de Jesus. Antes da partilha eles estavam
“cegos”, só viram quem era na hora da
partilha, da refeição.
• Quando nos reunimos à mesa do Senhor
reconhecemos Jesus no outro e encontram
em nós a Jesus ressuscitado.
• Os crentes primitivos mantinham
uma comunhão tão intensa entre si que
se reuniam com alegria e singeleza de
coração para celebrar a Santa Ceia. Era
o seu “partir do pão” (At 2.42). Eles em
Cristo e Cristo em cada um deles. Pode
haver comunhão mais plena? Não era
simplesmente uma cerimônia; era a festa
na qual lembravam a morte e ressurreição
de Jesus — a expressão mais sublime do
amor divino.
Para concluir este 3º passo: A eucaristia
nos faz solidários, pois na matemática
de Jesus quanto mais você divide mais se
multiplica; costumo dizer que no lugar do
divisor há uma cruz, pois o amor faz TUDO
multiplicar e acontecer.
49. 4º passo - Vida de oração
(comunitária e pessoal)
É imprescindível que o(a) catequista tenha
um momento no dia de oração pessoal
com Deus, ou seja, é se abastecer na
oração e comunhão, ir à missa sempre
que possível durante a semana, estar
em dia com os Sacramentos, rezar o
terço, estar em intimidade com Nossa
Senhora e aprender dela as virtudes para
ser um exemplo de catequista como ela,
que foi quem catequizou Jesus, além de
intimidade com a Palavra de Deus, isto é,
a leitura diária da Bíblia, o(a) catequista
tem que ter esse momento para se
abastecer senão não consegue seguir
em frente, e rezar para o Espírito Santo,
pois Ele é o norteador de todo trabalho a
ser desenvolvido pelos catequistas, sem
Ele não tem catequese, pois é Dele que
nascem a sabedoria, a inteligência, o
temor de Deus e todos os demais dons,
frutos e carismas necessários para realizar
uma catequese de qualidade para todos.
• “A oração é a elevação da alma a
Deus ou o pedido a Deus dos bens
convenientes.” (Sao João Damasceno)
• “Para mim, a oração é um impulso
do coração, é um simples olhar lançado
ao céu, um grito de reconhecimento e
amor no meio da provação ou no meio
da alegria.” (Santa Terezinha do Menino
Jesus) (CIC 2559ss)
• CIC 2687 – A vida missionária ou
comunitária não se mantém e não se
propaga sem a oração; esta é uma das
fontes vivas da contemplação e da vida
espiritual.
• Ninguém se mantém sem a vida de
oração em comum.
• Mateus 18,19: “Digo-vos ainda isto: se
dois de vós se unirem sobre a terra para
pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de
meu Pai que está nos céus”.
49
50. CATEQUESE INCLUSIVA 50
• Oração pessoal: conseguiremos
formar comunidades que rezam só se
nos tornarmos pessoalmente homens e
mulheres de oração. Cada um de nós tem
a necessidade de exprimir em seu íntimo
o modo pessoal de ser filho(a) de Deus,
manifestar-lhe a gratidão, confidenciar-lhe
os desejos e as preocupações
apostólicas. Forma indispensável de
oração é a oração mental. Ela fortalece
nossa intimidade com Deus, salva a nossa
rotina, conserva o coração livre e alimenta
a doação ao próximo. Para Dom Bosco
é a garantia de alegre perseverança na
vocação.
• Características da alma que ora (CIC):
• Confiança – 2734
• Esperança – 1820
• Humildade – 2559
• Vigilância – 2730
• Vivência carismática – identidade ao
carisma:
• Sentido de pertença: é preciso se
identificar e sentir-se pertencente
ao carisma, sentir-se membro ativo e
participativo da comunidade em que se
vive.
• Colocar em comum os dons que o
Senhor lhe confiou para o bem maior: a
comunidade.
• Viver os dons recebidos no Batismo e
confirmados no Crisma.
• Leitura orante da Palavra.
5º passo - Simplicidade
de coração:
O(A) catequista não deve se orgulhar por
ser um catequista, ele(a) foi escolhido por
Deus para designar essa missão aqui na
Terra, antes mesmo de ter nascido (Jr 1,5),
ou seja, ser catequista nada mais é do que
dizer “sim” ao chamado feito por Deus e
corresponder a esse chamado aprendendo
com Jesus a ser reto(a) e humilde de
coração, aceitando a vontade de Deus e
exercendo com humildade a missão a cada
um confiada. Pois não se é catequista
para si, mas sim porque Deus chamou,
escolheu, ungiu e capacitou antes mesmo
de ter nascido. Temos que ter sempre
isso muito claro nossa missão de profetas
anunciadores inclusivos.
• “Semelhantemente, vós outros que sois
mais jovens, sede submissos aos anciãos.
Todos vós, em vosso mútuo tratamento,
revesti-vos de humildade; porque Deus
resiste aos soberbos, mas dá a sua graça
aos humildes (Pr 3,34).”
• “Nada façais por espírito de partido ou
vanglória, mas que a humildade vos ensine
a considerar os outros superiores a vós
mesmos.” (Fil 2,3).
51. 51
• “Portanto, como eleitos de Deus, santos
e queridos, revesti-vos de entranhada
misericórdia, de bondade, humildade,
doçura, paciência.” (Colos 3,12).
• “Assim como o Filho do Homem veio,
não para ser servido, mas para servir e dar
Sua vida em resgate por uma multidão.”
(Mt 20,28).
• Vivemos em comunidade não para
sermos servidos, mas sim para servir
aqueles que o Senhor mesmo confiou a
nós para vivermos como irmãos. E como
servir:
• “Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre,
vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos
os pés uns aos outros.” (Jo 13,14)
Devemos seguir os ensinamentos deixados
por Jesus, como exemplo:
• Amar os outros, como a nós mesmos.
• Viver o perdão, acolhida e reconciliação
em comunidade.
• Cuidar dos ambientes para o outro.
• Saber escutar.
• Falar na hora certa.
• Respeitar os espaços do outro, todas as
pastorais da paróquia utilizam as salas de
encontros em que acontecem os encontros
da catequese.
52. CATEQUESE INCLUSIVA 52
Para finalizar este artigo é fundamental
que o(a) catequista viva o amor em si,
entre os irmãos, na sua própria família,
pois é muito fácil e bonito o(a) catequista
pregar sobre o amor nos encontros de
catequese e dentro de casa e na sua
própria família estar em divisão, com
falta de perdão e diálogo. O(A) catequista
não pode viver desse lema: “Faça o que
eu digo, mas não faça o que faço”; muito
pelo contrário, deve viver embasada nesta
passagem: o Amor de Cristo reuniu para
se tornarem uma só coisa um grande
número de discípulos a fim de que, como
Ele e graças a Ele, no Espírito, pudessem,
através dos séculos, responder ao amor
do Pai, amando-o “com todo o coração,
com toda a alma e com todas as forças”
(Dt 6, 5) e amando o próximo “como a si
mesmos” (cf. Mt 22, 39).
Catequistas, guardem isto: se cada um
de vocês catequistas não estiverem
em sintonia entre si, ou seja, vivendo
a unidade e a comunhão de ações e
pensamentos, e acima de tudo isso a
oração, não terá como o Espírito Santo
agir na unidade, o Espírito Santo não age
na divisão. Pela unidade, a catequese
terá mais frutos e vocês catequistas serão
vocacionados felizes e comprometidos e
compromissados com a causa inclusiva.
Para cada um de vocês, Deus deixa a
seguinte mensagem no livro de Josué*:
1,7 “Tem ânimo, pois, e sê corajoso para
cuidadosamente observares toda a lei que
Moisés, meu servo, te prescreveu. Não te
afastes dela nem para a direita nem para a
esquerda, para que sejas feliz em todas as
tuas empresas”. 1,8 “Traze sempre na boca
(as palavras) deste livro da lei; medita-o
dia e noite, cuidando de fazer tudo o que
nele está escrito; assim prosperarás em
teus caminhos e serás bem-sucedido.” 1,9
“Isto é uma ordem: sê firme e corajoso.
Não te atemorizes, não tenhas medo,
porque o Senhor está contigo em qualquer
parte para onde fores.”
Thaís Rufatto dos Santos
Thaís Rufatto dos Santos é Pedagoga,
Psicopedagoga, Pós Graduada em Educação
Especial, Consultora em Educação Inclusiva.
Coordenou a Pastoral da Pessoa com Deficiência,
na Diocese de Santo Amaro - SP. É autora de livros
voltados à Catequese Inclusiva. Ministra palestras
em Paróquias e Dioceses.
Contato: thaisrdossantos@gmail.com
53. Nossa equipe
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54. CATEQUESE PERSONALIZADA 54
ELEMENTOS PARA
UMA CATEQUESE
PERSONALIZADA
O ENCONTRO ENTRE
JESUS E ZAQUEU
por João Melo
55. Acatequese de inspiração catecumenal
não pressupõe que os iniciandos já
estejam evangelizados ou que sequer
conheçam Jesus, “esse pressuposto não
só deixou de existir, mas frequentemente
acaba até negado” (Porta Fidei, 2). A
catequese que busca responder de
forma adequada ao desafio de anunciar
a Boa Nova de Jesus nos dias de hoje é
consciente de que aqueles que chegam
a nós para serem catequizados, sejam
adultos, jovens ou crianças, muitas vezes
– e cada vez mais – não receberam o
primeiro anúncio de Jesus Cristo, portanto,
não têm ainda uma adesão à fé Nele
como o sentido maior e último de suas
vidas. Antes de aprofundar ou educar a fé
é preciso primeiro que haja adesão à fé,
portanto, ela precisa ser despertada! A fé
é um dom de Deus, mas é também uma
resposta do homem. Como poderíamos
aprofundar por meio da catequese o
conteúdo da fé, a doutrina com um
iniciando que a fé em Jesus ainda não
foi acolhida? Não há como! Precisamos
começar pelo que é essencial, o que é mais
importante, Jesus Cristo, Filho de Deus que
nos ama, veio ao mundo e por Seu mistério
de paixão, morte e ressurreição nos salva e
oferece a todos aqueles que Nele creem a
vida eterna (cf. Jo 3, 16-21). Então, a nossa
preocupação precisa ser antes essa: como
suscitar em nossos iniciandos a fé em
Jesus Cristo? A resposta: anunciando Jesus
Cristo! Precisamos ajudá-los a fazerem a
experiência pessoal do encontro com o
Filho do Deus vivo.
No processo catequético de iniciação
à vida cristã isso implica em “grande
atenção às pessoas, com atendimento
personalizado” (Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil 201-
2015, 87). Trata-se, portanto de assumir
novas práticas pastorais que possam
corresponder a essa urgência de iniciar as
pessoas a partir do primeiro anúncio de
Jesus Cristo morto e ressuscitado à fé e à
vida cristã. Tal tarefa se fará por meio do
diálogo, da proximidade, da reflexão sobre
a experiência de vida, da amizade e do
anúncio explícito do Evangelho de forma
pessoal e personalizada a cada pessoa
inicianda. De fato, todos trazem em si “o
desejo e a capacidade de encontro com
a Palavra de Deus, que o próprio Espírito
Santo suscita” (idem). De modo prático,
isso implica em um novo perfil de agente
evangelizador, o Ministério dos Introdutores
(cf. idem, 42).
55
56. CATEQUESE PERSONALIZADA 56
O Evangelho de São Lucas nos apresenta
um episódio em que o cobrador de
impostos Zaqueu faz a experiência pessoal
de encontro com Cristo. Essa narrativa
é baluarte e modelo para nós porque
está carregada de elementos para uma
catequese personalizada que se preocupa
em fazer – ou repetir – o primeiro anúncio
aos iniciandos. Nesse texto, precisamos
olhar para Jesus Mestre, que é a razão de
ser de nossa ação catequética, modelo
de catequista e, como veremos, também
de introdutor. Os gestos, a palavra e a
vida de Jesus são inspiradores da nossa
ação pastoral. É Dele que aprendemos a
evangelizar e catequizar e é por Ele, para
que se torne conhecido e amado e para
que Sua proposta de salvação e de adesão
ao Reino de Deus seja realidade no hoje e
plenitude na vida eterna, que realizamos
qualquer ação pastoral. Nesse sentido é
que vemos Nele a identidade do introdutor
e sua ação catequética.
Primeiro, vejamos todo o episódio bíblico
em Lucas 19, 1-10.
“Jesus entrou em Jericó e estava
atravessando a cidade.” (Lucas 19,1)
Jericó era uma cidade conhecida, Jesus
vai até lá e caminha no meio do povo, pela
cidade... é Ele que possibilita o encontro
Consigo, criar as condições. A iniciativa é
Dele porque o primeiro amor é Dele, que
nos amou primeiro e por isso nos atrai a
Si (cf. 1 Jo 4,10). É ele a entrar nos lugares
que nos encontramos.
“Morava ali um homem rico, chamado
Zaqueu que era chefe dos cobradores de
impostos.” (Lucas 19,2)
O evangelista nos narra QUEM era
Zaqueu, seu nome, o que fazia (era
cobrador de impostos), como era (homem
de baixa estatura), onde morava (cidade
de Jericó)... E Jesus chama Zaqueu pelo
nome, ou seja, Jesus sabe quem ele é, Ele
conhece Zaqueu. O chamado do introdutor
e do catequista é a conhecer, aproximar-se,
ir ao encontro e criar um vínculo de
amizade sadia com o iniciando. Saber
quem ele é, sua história, suas motivações,
e deixar-se conhecer por ele também.
“Ele estava tentando ver quem era Jesus,
mas não podia, por causa da multidão,
pois Zaqueu era muito baixo.” (Lucas 19,3)
Como em Zaqueu, há em nós uma sede de
VERDADE, um desejo de Deus, pois só Ele
confere pleno sentido à vida... Muitas vezes
não sabemos direito ou não identificamos
isso em nós, mas todo ser humano “buscar
ver” algo que faça sentido, que fale ao
nosso coração inquieto. Mas há “multidões
de ruídos” que atrapalham o encontro com
o Cristo, muitos, por isso, são de “baixa
estatura” na fé.
“Então correu adiante da multidão e subiu
numa árvore para ver Jesus, que devia
passar por ali.” (Lucas 19,4)
O texto diz que Zaqueu CORREU, ou seja,
ele fez um percurso, um caminho... A
catequese, a iniciação à vida cristã é o
caminho a ser percorrido para “ver Jesus”.
Como está o caminho que propomos aos
nossos iniciandos?
Zaqueu subiu em uma árvore para
conseguir ver Jesus. A árvore foi o
instrumento que para ele foi necessário
para deixar de estar “em baixa estatura”,
inclusive de fé...
57. 57
Nossa catequese é esse instrumento
– árvore – para os nossos iniciandos
aproximarem-se de Jesus. A catequese
iniciática é instrumento que facilita o
encontro pessoal do iniciando com a
pessoa de Jesus Cristo, mas ela haverá de
prepará-lo para continuar em busca do
mesmo Cristo, para o discipulado, para
a catequese permanente! Um dia, nosso
iniciando “descerá da árvore”, queremos
que seja para seguir Jesus...
“Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou
para cima e disse a Zaqueu: ‘Zaqueu,
desça depressa, pois hoje preciso ficar na
sua casa’.” (Lucas 19, 5)
O olhar penetrante de Jesus expressa Seu
desejo de estar na casa, na intimidade,
na vida de quem O encontra. Jesus diz
que PRECISA ficar na casa de Zaqueu,
Ele quer estar lá. O exemplo de Jesus nos
impulsiona a promover uma catequese
personalizada, familiar, no lar, na casa,
especialmente por meio do ministério dos
introdutores.
O ministério dos introdutores é responsável
por fazer o primeiro anúncio de Jesus
Cristo – o primeiro tempo do itinerário
da iniciação à vida cristã. Os introdutores
são pessoas que conhecem o iniciando,
acompanham e são testemunhas de sua
caminhada de fé e desejo de celebrar
os sacramentos. Agem como padrinho
ou madrinha, mas não precisam
necessariamente sê-lo (cf. RICA, 42).
São membros das diversas pastorais
e movimentos da comunidade que
acompanham de forma personalizada
a cada um dos iniciandos nessa fase
inicial que antecede a catequese. Na
maior parte das vezes, esse atendimento
personalizado prestado pelos introdutores
é feito nas casas dos iniciandos, com hora
marcada e no caso das crianças, com a
presença da família.
“Zaqueu desceu depressa e o recebeu na
sua casa, com muita alegria.” (Lucas 19,6)
Diante da Palavra de Jesus, Zaqueu tem
uma atitude... Acolhe a Palavra e isso
lhe traz grande alegria, é a Alegria do
Evangelho (cf. Evangelii Gaudium, 1),
característica própria do cristão. Como
motivar os nossos iniciandos e suas
famílias para acolherem a Palavra de
Jesus? Como contagiá-los com a alegria de
ser cristão?
“Todos os que viram isso começaram a
resmungar: ‘Este homem foi se hospedar
na casa de um pecador!’.” (Lucas 19,7)
Muitos não compreendem e por isso
reagem de forma negativa. A atitude de
Jesus é incompreendida, por muitos não
é aceita. A proposta de um processo de
catequese de inspiração catecumenal não
é fácil. Articular dentro da catequese um
processo personalizado e pessoal exige
ter a atitude de Jesus que mesmo na
incompreensão da comunidade persistiu.
58. CATEQUESE PERSONALIZADA 58
“Zaqueu se levantou e disse ao Senhor:
‘Escute, Senhor, eu vou dar a metade
dos meus bens aos pobres. E, se roubei
alguém, vou devolver quatro vezes mais’.”
(Lucas 19,8)
Zaqueu, que encontrou com Jesus e
acolheu Sua Palavra, agora O chama de
SENHOR. Jesus ocupa a centralidade da
sua vida. O encontro com Jesus possui
uma dimensão transformadora, leva
à ação. Zaqueu age para o bem e por
meio de atitudes concretas. A catequese
é educação da fé comprometida com
a realidade, gera conversão pessoal e
transformação da realidade.
“Então Jesus disse: ‘Hoje a salvação entrou
nesta casa, pois este homem também é
descendente de Abraão’.” (Lucas 19,9)
A salvação alcança Zaqueu, que permite
ser alcançado. Jesus diz que Zaqueu é
filho de Abraão, ou seja, que ele pertence
ao povo escolhido, à comunidade dos
filhos de Deus. Por meio do processo
catequético nossos iniciandos e
suas famílias são inseridos em nossa
comunidade, cresce neles a consciência
de serem também Igreja. Quais os espaços
e a acolhida que eles encontram em nossa
comunidade?
“Porque o Filho do Homem veio buscar e
salvar quem está perdido.” (Lucas 19,10)
Ser introdutor, ser catequista é cumprir o
mandato de Jesus de ir e anunciar a Boa
Nova (cf. Mt 28, 19-20), é contribuir para a
realização do Reino de Deus. O objetivo da
Catequese é fazer discípulos missionários
de Jesus Cristo.
59. 59
Diretrizes para uma
catequese personalizada
Abrir-se a ação do Espírito Santo e ao
1
dom da humildade, pois é Jesus que nos
atrai a si;
Conhecer os iniciandos e sua família,
2
sua realidade, o que pensam, o que
fazem, etc.;
Anunciar o Evangelho de forma
3
pessoal e particular a partir de uma
interação entre fé e vida;
Revisar o itinerário ou o tipo de
4
catequese que estamos propondo;
Promover uma catequese iniciática que
5
depois se torne discipulado por meio de
uma catequese permanente;
Instituir o ministério dos introdutores;
Perseverar mesmo em meio às
6
7
dificuldades e incompreensões da
comunidade;
Encorajar uma catequese que seja
8
educação da fé comprometida com a
realidade;
Articular a catequese de modo que os
9
iniciandos sejam inseridos na comunidade
e percebam que pertencem a Igreja;
Conscientizar e pautar as ações
10
pastorais a partir do objetivo da catequese
que é fazer discípulos missionários de
Jesus Cristo.
João Melo
Seminarista da Arquidiocese
de São Paulo. Especialista
em Catequese pelo UNISAL-SP
e acadêmico do curso de
pós-graduação em Ensino
Religioso Escolar pelo mesmo
instituto. É membro da Comissão
Arquidiocesana de Animação
Bíblico-Catequética da
Arquidiocese de São Paulo.
61. 61
Ao catequista que se lança no Espírito
Santo para usar o teatro na propagação
do Evangelho nunca faltará fonte de
inspiração. A Palavra de Deus é eterno
suporte para criar oportunidades cênicas.
Um único versículo, ou parte dele, pode ser
a origem de uma história bem parecida com
a de muitas pessoas!
A depender dos intérpretes, os
ensinamentos da Palavra podem chegar
e se instalar, por meio da encenação, em
áreas da vida que, talvez, numa leitura
comum do texto bíblico, ainda que
meditada, eles não alcançassem.
Por que investir no teatro bíblico? Primeiro,
porque histórias encenadas dão vida a
personagens que são pouco explorados
numa leitura comum e, segundo, porque
o mundo lá fora investe em teatro secular
e teatro satânico. A Palavra de Deus deve
nos levar a combater todos os meios de
transmissão de mensagem num nível
superior de investimento em relação ao
mundo, pois o trabalho do catequista-evangelizador
é resgatar almas para
Deus! Por isso, nada de pensar que teatro
na igreja não deve ser feito por exigir
muito esforço e dedicação prévios! Isso
não deve passar pela cabeça dos que se
comprometem com Cristo! Vejamos o
que Paulo, que interpretou estar morto
(Atos 14, 19-20) – visto que não tinha
acabado sua missão, por isso não era hora
de morrer – diz na 2ª Carta a Timóteo 4,
2-4: “Prega a palavra, insiste oportuna e
inoportunamente, repreende, ameaça,
exorta com toda a paciência e empenho
em instruir. Porque virá o tempo em que os
homens já não suportarão a sã doutrina da
salvação. Levados pelas próprias paixões
e pelo prurido de escutar novidades,
ajustarão mestres para si. Apartarão os
ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas.
Tu, porém, sê prudente em tudo, paciente
nos sofrimentos, cumpre a missão de
pregador do Evangelho, consagra-te ao teu
ministério”.
Chegamos ao tempo das fábulas! O que
é oportuno? O que é inoportuno? Se é
inoportuno investir tempo e dinheiro para
dinamizar a transmissão da Palavra de
Deus, façamo-lo mesmo assim! As pessoas
tendem a seguir as mensagens mais
atrativas! Por isso o texto bíblico pode e
deve ser trabalhado de forma teatral. O
texto sagrado que comumente é esquecido
e empoeirado nas estantes é o mesmo que
ganha e dá vida, e vida em abundância!
Erivandra Marques
Catequista de Primeira Comunhão
Paróquia Senhor do Bonfim
Maceió, AL
Ainda é tempo
de voltar
(Mt 11,28)
TOQUE PARA BAIXAR
65. A Globalização
numa visão
teológica
por Márcio Oliveira Elias
A globalização é um fenômeno cultural
recente, mas sua realidade é bem mais
remota, podemos perceber as suas raízes
no alvorecer da cultura da razão e da palavra
na Antiguidade, emergindo em profusão na
explosão das tecnologias da comunicação
no mundo contemporâneo. Podemos situar
uma via de origem no Extremo Oriente, onde
a figura dos pensadores criou um caminho
para a reflexão da potencialidade humana,
despontado o anseio abrangente do homem.
Outra via originária encontramos na Grécia dos
filósofos, onde se forjou o logos que penetrou
pelos caminhos abertos da razão universal.
Estava lançada a semente da incessante busca
pelo conhecimento, que formatou nossa cultura
ocidental e que gestou a atual globalização.
65
66. TEOLOGIA 66
O cristianismo, com sua clara vocação
universal, chega nos dias atuais aos
mais longínquos recantos do planeta,
mas a consciência da expansão firma-se,
sobretudo, na esfera ocidental, onde
sua doutrina de fé lançou mais fundo as
suas raízes. A globalização nos tempos
modernos está provocando uma nova
forma de contato da fé cristã com outras
formas culturais e religiosas; esta é a
novidade da questão atual.
Em tempos de modernidade e pós-modernidade
a globalização se manifesta
com um paradoxo marcado pela
continuidade de alguns valores naturais,
como a liberdade, e a ruptura de outros
diante da lógica da flexibilidade e da
pluralidade, como é o caso do relativismo.
Tudo isso se manifesta no estado atual do
comportamento humano, nas expressões
religiosas e na estética social e cultural.
Diante desse contexto, surge a
preocupação de formular uma teologia
que, seguindo sua lógica da universalidade
histórica, deve ser contemporânea e
Outra fonte globalizante poderá ser
apontada no Oriente Médio, onde
os profetas promulgavam a Palavra
transcendente de Deus, que também
possui cunho universal. “As nações
caminharão para a Tua luz, e os reis, para
o clarão da Tua aurora”, diz o profeta
Isaías (60 1-3). No seguimento dessa
proclamação profética, essa mentalidade
universal amplia-se pelo mundo, refletindo
a consciência de uma comunidade
nascente, que recebe de Cristo uma
missão: “Ide por todo o mundo e pregai o
Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15).
A caminhada histórica foi demonstrando
que a cultura ocidental tem interiorizada
uma consciência globalizante, em que se
situam sonhos e desejos universalistas,
bem como uma tendência expansionista
nos campos político, econômico e cultural.
O mundo torna-se hoje uma “aldeia
global”, onde o planeta se apresenta
para o homem como um espaço único e
privilegiado, dominado pela tecnologia
da comunicação em tempo real. Nesse
diapasão o Evangelho também deve se
propagar em tempo real.
67. relevante, objetivando a compreensão
do próprio indivíduo e seu coletivo, visto
que a questão de Deus, enquanto uma
profissão de fé passa invariavelmente
pelas questões essenciais da existência
humana.
O pensar teológico em tempos
globalizantes não pode se colocar à
margem das angústias e esperanças
do homem. A Revelação se apresenta
gratuitamente na história humana; uma
história marcada por contradições e
ambiguidades, mas que é caminho para
o diálogo da teologia com a razão, no
círculo hermenêutico do conhecimento e
da religiosidade. A fé cristã se reinterpreta
num processo interminável, pois cada vez
lhe surge um novo encontro com a graça
do Mistério.
A afirmação evangélica deverá consolidar
e aprofundar o diálogo da teologia
com as ciências humanas, que já está
consolidado desde o Concílio Vaticano
II, na constituição pastoral Gaudium et
spes, que analisa a situação do mundo,
os dramas humanos e os desafios que
emergem para a fé cristã, com a finalidade
de oferecer uma reflexão teológica em
melhores condições de compreender
sistemática e rigorosamente o ser
humano, no seu atual momento histórico.
Temos de ressaltar que a globalização
alavanca os fenômenos do relativismo,
do nivelamento religioso rasteiro, do
sincretismo amalgamado, com sérias
consequências para uma abertura
da consciência teológica ao diálogo
com o mundo. A globalização não
é um fluxo da cultura dominante e
massificante tão somente, mas também
um circular frenético de todo exotismo
cultural possível e imaginável, talvez
até inimaginável. E assim as mais
diversas facções religiosas lançam
suas expressões, habitualmente soltas
e descoladas, em que cada sujeito as
apreende como quer, quando quer e aonde
lhe satisfizer individualmente.
Alguns fenômenos contemporâneos
chamam mais a atenção, porquanto
conhecer o mundo moderno demanda
a necessidade de uma visão mais
67
68. TEOLOGIA 68
abrangente e profunda, para captar e
interpretar os “sinais dos tempos”, em
face da exacerbação da subjetividade,
do individualismo, em que a crise de
identidade pessoal chega às raias do
patológico e da insegurança existencial.
A aldeia global eliminou distâncias, mas
criou abismos com a pasteurização e
a perda da memória cultural, gerando
pseudovalores, inibindo assim o senso
crítico e a criatividade.
Os tempos globais nos desafiam a
proclamar uma Nova Evangelização,
na qual devemos encontrar Jesus na
alteridade, apesar de todas as dificuldades
que existem, apesar de algumas muitas
pessoas não viverem coerentemente
sua fé. Mas somos os comunicadores
do Cristo, numa sociedade que muitas
vezes encontra-se distante de Deus,
que não percebe a falta Dele como uma
ausência. Nós, portanto, precisamos
ser sempre mais capazes e dispostos a
nos aproximarmos uns dos outros, para
transmitir nossa alegria como primeira
experiência que devemos manifestar: a
alegria de ter encontrado Jesus.
O Evangelho nos pede que sejamos
coerentes com o nosso testemunho,
apesar das dificuldades, dos nossos
limites, das nossas contradições; o que
conta, na verdade, é o nosso modo de
celebrar a vida e lutar por ela. Nesse
sentido a globalização favorece a profusão
do testemunho, pois nela ocorre um
aumento do intercâmbio cultural de
diversos matizes, sendo importante para
ampliar a visão de mundo nos indivíduos,
que assim podem passar a conhecer e
respeitar outras realidades culturais e
sociais. A globalização também pode fazer
fluir um sentimento de integração, em que
muitas pessoas passam a se sentir cidadãs
do mundo, numa unidade na diversidade,
numa fraternidade possível, no sonho
cristão de sermos uma única família.
Referências:
Por uma nova razão teológica. A teologia na
pós-modernidade. Professor Paulo Sérgio Lopes
Gonçalves.
Globalização e o impacto sobre a fé. Pe. João
Batista Libanio, sj. Desafios da globalização.
Márcio Oliveira Elias
Advogado, Teólogo e Professor.
Atua na formação permanente de
agentes pastorais e fiéis leigos na
Diocese de Cachoeiro de Itapemirim/
ES, sendo coordenador do Instituto
de Ciências Humanas Evangelii
Gaudium, instituição formativa de
denominação católica, que tem por
objetivo precípuo produzir e difundir o
conhecimento da Doutrina Cristã.
71. 71
de TOQUE
NO CORAÇÃO
CONHEÇO
UM CORAÇÃO
PADRE JOÃOZINHO
CATEQUISTA
por Moacir Beggo
72. MATÉRIA DE CAPA 72
Agosto é celebrado na Igreja como
mês vocacional por excelência. A
palavra vocação vem do latim vocare,
que quer dizer chamado, ou, na melhor
definição bíblica, “Antes de formar-te no
ventre de tua mãe Eu te conhecia e te
escolhi” (Jr 1,5).
A esse chamado vemos sacerdotes,
religiosas e religiosos, pais e mães,
leigos, leigas e catequistas respondendo
com alegria. Fazem de suas vidas oferta,
oblação e entrega.
De forma especial, destacamos nesta
edição especial os catequistas, que são
lembrados no último domingo de agosto
de 2014.
Para o Papa Francisco, o ser catequista
não vive separado do amor. “Amor sempre
mais forte por Cristo, amor pelo seu povo
santo. E este amor, necessariamente,
parte de Cristo.”
Durante a Jornada dos Catequistas, em
setembro do ano passado, o Papa explicou
como age o coração do catequista.
Segundo Francisco, ele vive sempre o
movimento de “sístole-diástole”: união
com Jesus, encontro com o outro. “Se falta
um destes dois movimentos não bate mais,
não vive. Recebe como dom o querigma, e
por sua vez o oferece como dom. É esta a
natureza do próprio querigma: é um dom
que gera missão, que impulsiona sempre
para fora de si mesmo. São Paulo dizia: ‘O
amor de Cristo nos impulsiona’, mas este
‘nos impulsiona’, pode se traduzir também
em ‘nos possui’. É assim: o amor te atrai
e te envia, te toma e te doa aos outros.
Nesta tensão se move o coração do cristão,
em particular o coração do catequista”,
disse o Papa.
73. 73
Na raiz da palavra, catequizar, catá-ekhéi,
em seu sentido original, significa
“fazer ressoar aos ouvidos”; no Segundo
Testamento podemos afirmar que catequese
significa formar, instruir, ensinar de viva voz.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica,
“a finalidade definitiva da catequese é
levar à comunhão com Jesus Cristo: só ele
pode conduzir ao amor do Pai no Espírito e
fazer-nos participar da vida da Santíssima
Trindade”.
No parágrafo 427 do Catecismo, a
definição de catequese e catequista: “Na
catequese, é Cristo, Verbo Encarnado e
Filho de Deus, que é ensinado – todo o
resto está em relação com Ele; e somente
Cristo ensina; todo outro que ensine,
fá-lo na medida em que é seu porta-voz,
permitindo a Cristo ensinar por sua boca...
Todo catequista deveria poder aplicar a
si mesmo a misteriosa palavra de Jesus:
‘Minha doutrina não é minha, mas daquele
que me enviou’ (Jo 7,16)”.
Ser catequista...
TOQUE
NOS CORAÇÕES
PARA LER OS
DEPOIMENTOS