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O ciberespaço como ágora eletrônica
                     na sociedade contemporânea
Ricardo Viana Velloso                                            INTRODUÇÃO
Mestrando em educação, cultura e organizações sociais, pela
Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG.
                                                                 Este artigo tem por objetivo examinar o ciberespaço como
E-mail: ricardo@ufmg.br
                                                                 ambiente que compõe a ágora eletrônica na cena
                                                                 contemporânea, sob a égide de novas interfaces e da
                                                                 cibercultura, comprometidas por outras temporalidades
                                                                 e territorialidades.
Resumo
                                                                 Perceber o ciberespaço como ágora virtual enseja e
As interações humanas no ciberespaço revelam-no como             demanda revisitar conceitos atinentes às esferas pública
ambiente constitutivo de uma ágora contemporânea, em que os      e privada, com lastro nos estudos de Arendt (2008), que
grandes debates públicos, ou as trocas simbólicas,
                                                                 resgata tais categorias nas suas origens na Grécia, bem
processam-se, na era da informação, de forma
significativamente transformada. As múltiplas realizações no     como sua ressignificação na modernidade, quando sua
ambiente virtual dão-se sob a égide de valores (e afinidades)    distinção secular se torna tênue, favorecendo a
culturais, com outras interfaces, compondo redes de              emergência da esfera social.
mobilização e troca que se sustentam pela sua diversidade
intrínseca e por seu dinamismo. Resultam, assim, as
realizações humanas em movimentos sociais tão antigos, na        Requer ainda, à guisa de contextualização da cena
sua essência, quanto a própria humanidade, mas inovadores        contemporânea, a apropriação das considerações de
na forma e na dinâmica que assumem, na instauração da
cibercultura como marca da contemporaneidade.
                                                                 Hobsbawm (2006) acerca do “Breve século XX” e das
                                                                 incertezas que advêm da insuficiência da ciência e da
Palavras-chave                                                   técnica para fazer frente aos desafios hodiernos, dentre
                                                                 os quais se destacam o demográfico e o ambiental.
Ciberespaço. Contemporaneidade. Interações humanas.
Movimentos sociais. Cibercultura.
                                                                 Para subsidiar o presente estudo, é também relevante
                                                                 retomar com Lévy (1993) categorias como espaço virtual,
The cyberspace as an electronic agora in the                     cibercultura, tecnologias da inteligência e ecologias
contemporaneous society                                          cognitivas, que emergem no ambiente descentrado,
                                                                 atópico e desterritorializado da rede mundial de
Abstract
                                                                 inter(ações) instaurada pelas tecnologias da informação
The cyberspace is the contemporaneous agora for the human        e da comunicação. Vale igualmente revisitar as
interactions, where great public debates or symbolic             considerações de Johnson (2001) sobre a cultura da
exchanges are significantly processed in the era of
                                                                 interface, que conferem mais amplas conotações às
information. The multiple achievements in the virtual
environment are carried out under the aegis of cultural values   tecnologias na atualidade, em um contexto de interação
together with other interfaces making up nets of mobilization    entre tecnologia, cultura e arte, assim como os estudos
and exchange which are supported by their intrinsic diversity    de Castells (2003) e Moraes (2001) acerca da Internet
and dynamism. The human achievements take place in social
movements, ancient in their essence as humankind itself, but     na sociedade hodierna.
innovating in the form and dynamics they are brought out in
the establishment of cyberculture as a mark of                   Há de se ressaltar que o presente artigo cuidará de abordar
contemporaneousness.
                                                                 o ciberespaço como ambiente das ações e interações dos
Keywords                                                         sujeitos sociais organizados, sob a percepção de que as
                                                                 redes que se compõem na sociedade não reinventam,
Cyberspace. Contemporaneity. Human interactions. Social
                                                                 na sua essência, os movimentos sociais, mas certamente
movements. Cyberculture.
                                                                 lhes conferem outras dimensões culturais, sustentadas
                                                                 pela diversidade e amplitude das conexões ensejadas pelas
                                                                 tecnologias da informação e da comunicação,
                                                                 determinantes para a instauração da (ciber)cultura
                                                                 contemporânea.

Ci. Inf., Brasília, v. 37, n. 2, p. 103-109, maio/ago. 2008                                                            103
Ricardo Viana Velloso


DIMENSÕES PÚBLICA E PRIVADA DAS                                              O fato de que a manutenção individual fosse a tarefa
INTERAÇÕES HUMANAS: ORIGENS E                                                do homem e a sobrevivência da espécie fosse a tarefa
RESSIGNIFICAÇÃO                                                              da mulher era tido como óbvio; e ambas estas funções
                                                                             naturais, o labor do homem no suprimento de
Retomando as origens da vida humana em sociedade, é                          alimentos e o labor da mulher no parto, eram sujeitas
imperativo reconhecer, inicialmente, duas esferas de                         à mesma premência de vida.
interações: a esfera privada, em cujo âmbito as realizações
se identificam com o atendimento a necessidades                          Já a esfera pública, reconhecida como o lugar do comum,
biológicas, quais sejam a sobrevivência e a perpetuação                  revela-se como o palco das interações e possível âmbito
da vida; e a esfera pública, lugar de interações que                     do exercício da liberdade, levada a efeito na ágora grega,
extrapolam essa condição natural mais imediata em                        a praça dos debates e das manifestações públicas;
busca da liberdade no próprio mundo, comum aos                           liberdade que, na esfera privada, não se dá em virtude
homens que buscam, nessa seara, efetiva visibilidade.                    das relações desiguais e do reino da necessidade e das
Tais instâncias, marcadas por flagrante antinomia,                       carências biológicas, já referidas. Nesse diapasão, a esfera
remetem à consideração das categorias labor, trabalho e                  pública constitui o lugar dos cidadãos livres e iguais, no
ação, tratadas por Arendt em A condição humana1.                         exercício da ação, para além do labor e do trabalho.
                                                                         Destaca Arendt (2008) que, na esfera do público,
A autora situa o labor como atividade inerente à natureza                diferentemente do que se dá na esfera privada com o
humana identificada com a necessidade de preservação                     recurso à força, o que se tem é a hegemonia do discurso,
da vida. Assim é que, na divisão clássica da atividade                   da persuasão.
humana, ao homem é reservado o mister de prover o
alimento e a segurança, enquanto à mulher se reserva a                   A busca pela visibilidade (e pela liberdade) na cena
reprodução. O trabalho, por sua vez, extrapolando a                      pública, que redimensiona a existência humana, balizada
circunscrição do natural, coloca o homem no exercício                    na ação, faz emergir, no curso da história, outra dimensão
da criação de coisas artificiais, revelando o homo faber.                das interações, qual seja, a esfera social. Esse fenômeno
Por fim, tem-se a ação, que é apresentada pela autora                    se processa em um movimento de complexidade,
como outra atividade humana, cuja realização demanda                     trazendo a público temas até então adstritos ao ambiente
(e enseja) um ambiente de interações com outros                          privado. O divisor de águas entre o público e o privado,
homens, de forma contínua. Por seu caráter                               instâncias até então circunscritas à antinomia de suas
eminentemente interacional, a ação pode então ser                        relações, vai se fazendo tênue, o que promove o
distinguida das categorias labor e trabalho em virtude                   recrudescimento dessa esfera emergente, de cunho social.
de a primeira se comprometer com a esfera pública,                       Trata-se de uma instância que, surgida no início da era
enquanto as demais se situam originariamente, conforme                   moderna, não equivale ao público nem ao privado.
esposado por Arendt (2008), na esfera privada.
                                                                         O cenário que se desenha com a emergência da esfera
Contrapondo características e funções, em virtude das                    social reflete-se concomitantemente ao surgimento do
interações perpetradas em seu âmbito e dos seus                          estado nacional, revelando o setor público-estatal, o setor
diferentes componentes motivadores, as esferas pública                   privado e, de forma cada vez mais pronunciada, o terceiro
e privada definem ambientes dicotômicos das realizações                  setor2, com caráter também público, mas não-estatal,
humanas.                                                                 envolvendo a participação de voluntários em busca de
                                                                         processos e resultados identificados com o bem-estar
Assim é que a esfera da casa (oikos) corresponde ao lugar                social.
da vida privada, comprometida com as demandas naturais
da existência humana. E, como observa Arendt (2008,                      CONTEMPORANEIDADE E INCERTEZAS
p.40),
                                                                         A par da instauração das instâncias de realizações
                                                                         humanas, movidas ora pela necessidade, ora pelo desejo
1
 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo.          de liberdade, sob a égide do labor, do trabalho e ou da
Rio de Janeiro: Forense universitária, 2008. Publicada em 1958, a
obra suscita muitas questões acerca das realizações humanas ao longo
da história, sendo relevantes na presente abordagem as considerações     2
                                                                           Por decorrer da associação do caráter público (não estatal) aliado à
da autora sobre o público e o privado, bem como sua ressignificação      iniciativa privada (sem fins lucrativos), esse setor ganha projeção e
na modernidade, esferas cuja apreciação demanda a apreensão das          relevo progressivo por se inserir nos espaços ou lacunas gerados pela
categorias labor, trabalho e ação, constitutivas da existência humana.   ineficiência ou ausência do Estado.


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O ciberespaço como ágora eletrônica na sociedade contemporânea


ação, a sociedade se conduz e se redesenha                       Ademais, é o momento histórico que experimenta em
historicamente, compondo, na modernidade, um cenário             mais larga escala, no bojo do progresso tecnológico
de encantamento com a razão. A aventura humana,                  atinente aos transportes e às telecomunicações, o
contudo, revela-se marcada por conquistas que se                 processo de globalização
alternam com percalços, traduzindo-se em um flagrante
paradoxo, cujo exercício de compreensão remete aos                   cada vez mais acelerado e a incapacidade conjunta
estudos de Hobsbawm (2006) acerca do “Breve século                   de as instituições públicas e de o comportamento
XX”, ou a Era dos Extremos um lapso de tempo entre                   coletivo dos seres humanos se acomodarem a ele
1914 e 1991, inter valo histórico que abriga                         (HOBSBAWM, 2006, p. 24).
concomitantemente avanços científicos e tecnológicos
e guerras, destruição e desigualdade.                            A aldeia global 3 que se configura no contexto da
                                                                 modernidade não constitui, como se poderia supor, a
Hobsbawm (2006) identifica como “Era da Catástrofe”              quebra de fronteiras seguida de progressiva conquista
o período de 1914 até depois da Segunda Guerra Mundial.          da igualdade. Diferentemente disso, o que se tem, com a
Essa fase é sucedida por “cerca de 25 ou 30 anos de              acentuação das desigualdades, é,
extraordinário crescimento econômico e transformação
social, anos que provavelmente mudaram de maneira                    num mundo cada vez mais globalizado, o fato mesmo
mais profunda a sociedade humana que qualquer outro                  de as ciências naturais falarem uma única língua
período de brevidade comparável” (HOBSBAWM, 2006,                    universal e operarem sob uma única metodologia
p.15), constituindo-se na “Era do Ouro”. Sucedendo esse              (HOBSBAWM, 2006, p.506)
recorte temporal, a humanidade experimenta, segundo
o autor, uma era de incertezas e crises.                         Sobre o presente cenário, em que se dão movimentos de
                                                                 mudialização sobretudo de cunho econômico, é Antônio
O século XX, além de seus paradoxos, revela uma nova             (2002, p.100) quem observa que
temporalidade, traduzida na ausência de nexos
articuladores com o passado e na falta de um sentido                 a globalização não tem sentido verdadeiramente
prospectivo, instaurando-se, então, uma espécie de                   cosmopolita nem universalista: um vasto e poderoso
“presente contínuo”, que traz no bojo desse fenômeno a               domínio de capitais e mercados e de tecnologias de
mudança (ou perda) de paradigmas de relacionamento                   informação e comunicação faz com que se beba o
social e humano. A hipertrofia do sentido da razão                   mesmo refrigerante e se coma o mesmo sanduíche e
encontra, com relevo cada vez mais expressivo, uma                   se assista aos mesmos filmes e aos mesmos programas
insuficiência como resposta às angústias e às indagações             televisivos e aos mesmos esquemas de marketing nos
de seu tempo, em grande parte porque divorciadas da                  quatro cantos do mundo.
percepção sensorial e do senso comum, com os quais
estabelece relação eminentemente dicotômica.                     O fato é que os paradoxos e as incertezas presentes na
                                                                 cena contemporânea marcam-na com outras
Pronuncia-se aí um novo desencantamento, a exemplo               temporalidades e territorialidades, potencializadas pelo
do que se deu com relação à fé, quando da transcendência         advento das tecnologias da informação e da
para a modernidade.                                              comunicação, alavancadas pelo desenvolvimento da
                                                                 informática, que enseja (e impõe) novas concepções e
   O Breve Século XX acabou em problemas para os                 referências à dinâmica do tempo e do espaço.
   quais ninguém tinha, nem dizia ter, soluções.
   Enquanto tateavam o caminho para o terceiro                   Relativamente ao redesenho do espaço das interações
   milênio em meio ao nevoeiro global que os cercava,            humanas, emergem teses identificadas com o fim dos
   os cidadãos do fin-de-siècle só sabiam ao certo que           territórios, que, diferentemente de se confirmarem,
   acabara uma era da história. E muito pouco mais               revelam, antes, outras territorializações, as quais, segundo
   (HOBSBAWM, 2006, p. 537).                                     Haesbaert (2004), traduzem-se na redefinição dos

O século XX deixa, então, nessa perspectiva, o legado da
                                                                 3
                                                                   O termo é cunhado por Marshall Mc Luhan, sociólogo canadense,
                                                                 para se referir às novas configurações assumidas pelas interações
incerteza.                                                       entre os diversos países (e culturas), superando a linearidade e os
                                                                 limites territoriais e temporais clássicos, situação que, na tese do
                                                                 autor, colocaria o mundo no patamar de uma aldeia, no âmbito da
                                                                 qual perseveram as desigualdades.


Ci. Inf., Brasília, v. 37, n. 2, p. 103-109, maio/ago. 2008                                                                     105
Ricardo Viana Velloso


espaços, que passam a incorporar dimensões materiais e         processo social que comporta relações de poder e trocas
ou simbólicas. Desse movimento, resultam territórios           simbólicas de amplo espectro, insertas no cenário
físicos, virtuais, políticos e culturais, dentre outros,       constitutivo de uma cibercultura.
possibilitando a vivência de multiterritorialidades, em
um contexto em que se permite                                  Nesse contexto, novas territorialidades também se
                                                               revelam, na medida em que os contornos têm seu foco
   (...) pela comunicação instantânea, contatar e mesmo        descolado da materialidade, trazendo como marcas
   agir sobre territórios completamente distintos do           preponderantes as dimensões simbólicas. Tem-se, então,
   nosso, sem a necessidade de mobilidade física. Trata-       outros territórios em que se processam novas experiências,
   se de uma multiterritorialidade envolvida nos               imbricadas com múltiplas interfaces. Nesses territórios,
   diferentes graus daquilo que poderíamos denominar           as fronteiras se diluem, instaurando uma nova geografia.
   como sendo a conectividade e/ou vulnerabilidade             A ausência de marcos espaço-temporais rígidos,
   informacional (ou virtual) dos territórios.                 substituída por nós de conhecimento e de aglutinação
   (HAESBAERT, 2004, p.345)                                    motivacional, ensejam contínua mobilidade ou
                                                               nomadismo, sobre o qual considera Lévy:
As condutas e relações sociais e humanas que se dão na
circunscrição desses territórios emergentes, em particular         O espaço do novo nomadismo não é o território
do território virtual, convidam ao exame de seu                    geográfico nem o das instituições ou dos Estados,
significado e do caráter que assumem, bem como das                 mas um espaço invisível dos conhecimentos, dos
variáveis com que estão imbricadas, para sua melhor                saberes, das forças de pensamento no seio da qual se
compreensão e, por extensão, para que se possa tratar a            manifestam e se alteram as qualidades do ser, os
sua ressituação no ciberespaço. Essa categoria, por sua            modos de fazer sociedade. Não os organismos do
vez, reclama exame mais detido, de forma a favorecer a             poder, nem as fronteiras disciplinares, nem as
compreensão das interações humanas em seu âmbito,                  estatísticas dos mercados, mas sim o espaço
sob múltiplas configurações.                                       qualitativo, dinâmico, vivo, da humanidade que se
                                                                   inventa ao mesmo tempo que produz o seu mundo
CIBERESPAÇO: OUTRO AMBIENTE DAS                                    (LÉVY, 1997, p.17).
REALIZAÇÕES HUMANAS
                                                               Desse movimento emergem territórios cognitivos
O espaço virtual, imbricado com outras temporalidades          coletivizados, em que se inserem autores e leitores
e outras territorialidades, destaca-se pela celeridade das     investidos da condição de co-autores que produzem
informações hipertextuais, dispostas em rede, as quais         permanentemente sentidos na interação com as malhas
possibilitam leituras mais imediatistas pela associação        textuais, compostas a partir dos hipertextos4, constitutivos
da expressão verbal a imagens e sons entre outros; mas         das ecologias cognitivas.
ensejam também leituras extensivas, caminhos
alternativos para o leitor que, valendo-se dos nós na rede     É fato que, de um lado, territórios se podem conceber
hipertextual não-linear, vê-se co-autor, em um exercício       com certo grau de anonimato, como se dá, por exemplo,
autônomo de produção de sentido da malha textual. Em           nas diversas salas de bate-papo em que os interlocutores
muitas situações, as temporalidades são também                 usam apelidos, os nicks, que ora os revelam (e as suas
redimensionadas por atualizações contínuas e quase             intenções comunicativas), ora os ocultam. De outro,
simultâneas aos fatos, às notícias, aos múltiplos registros    todavia, concebem-se ambientes de cooperação, como
na Internet.                                                   as listas de discussão, os fóruns temáticos virtuais e outros,
                                                               em que os interlocutores podem se inserir, em muitos
E, como observa Marcuschi (2005, p.13),                        dos casos, devidamente identificados, empreendendo a
                                                               interação e a colaboração.
   em certo sentido, pode-se dizer que, na atual sociedade
   da informação, a Internet é uma espécie de protótipo        4
                                                                 Os hipertextos invocam uma concepção textual aberta, não-linear,
   de novas formas de comportamento comunicativo.              que reclama novos comportamentos na sua produção de sentido, na
                                                               relação com a autoria, portanto novos agenciamentos em rede
Embora o autor se atenha às situações comunicativas, é         relacional com outras configurações. Afinal, como esclarece Coscarelli,
                                                               “o hipertexto é, grosso modo, um texto que traz conexões, chamadas
possível estender o olhar às situações mais amplas de          links, com outros textos que, por sua vez, se conectam a outros, e
relações sociais, já que a comunicação constitui ato e         assim por diante, formando uma grande rede de textos”
                                                               (COSCARELLI, 2003, p.73).


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O ciberespaço como ágora eletrônica na sociedade contemporânea


Nessas territorialidades em que se sobrepõem as                  ante os sujeitos e a sociedade propriamente dita, já que
dimensões simbólicas às materiais, situações antagônicas         “a relação governada pela interface é uma relação
tendem a se definir em territorializações que se processam       semântica, caracterizada por significado e expressão, não
sob a égide do relativo anonimato, ou da deliberada              por força física.” (JOHNSON, 2001, p.17).
identificação dos sujeitos sociais que vivenciam a
coletivização de seu pensar (e fazer) em cenários de             Apresentam-se as interfaces tão intrigantes quanto
interação e ou cooperação, constituindo outras ecologias         sedutoras, possibilitando até a aproximação entre
cognitivas. Trata-se de ambientes de relações que, para          categorias aparentemente antinômicas, como tecnologia
além da seara cognitiva, envolvem variáveis conceituais,         e arte e, ainda com Johnson (2001, p. 174), é possível
axiológicas, estéticas e afetivas, dentre outras. Afinal,        asseverar que
como observa Lévy,
                                                                     Nossas interfaces são histórias que contamos para
   A informática não intervém apenas na ecologia                     nós mesmos para afastar a falta de sentido, palácios
   cognitiva, mas também nos processos de subjetivação               de memória construídos de silício e luz. Elas vão
   individuais e coletivos. Algumas pessoas ou grupos                continuar a transformar o modo como imaginamos
   construíram uma parte de suas vidas ao redor de                   a informação, e ao fazê-lo irão nos transformar
   sistemas de troca de mensagens (BBS), de certos                   também – para melhor e para pior.
   programas de ajuda à criação musical ou gráfica, da
                                                                 Envolvidos nesse contexto de múltiplas interações
   programação ou da pirataria nas redes. Mesmo sem
                                                                 comprometidas com dimensões simbólicas, marcadas
   ser pirata ou hacker, é possível que alguém se deixe
                                                                 pela instantaneidade e transitoriedade, pelo
   seduzir pelos dispositivos de informática. Há toda
                                                                 descentramento e pela atopia, os sujeitos sociais se vêem
   uma dimensão estética ou artística na concepção das
                                                                 constituindo e vivenciando a cibercultura, cujo universo
   máquinas ou dos programas, aquela que suscita o
   envolvimento emocional, estimula o desejo de                      não possui nem centro nem linha diretriz. É vazio,
   explorar novos territórios existenciais e cognitivos,             sem conteúdo particular. Ou antes, ele os aceita todos,
   conecta o computador a movimentos culturais,                      pois se contenta em colocar em contato um ponto
   revoltas, sonhos (LÉVY, 1993, p. 56).                             qualquer com qualquer outro, seja qual for a carga
                                                                     semântica das entidades relacionadas. (LÉVY, 2005,
Nesse contexto, pronunciam-se, no bojo de uma nova                   p. 11).
cultura, ou da cibercultura, processos de interação e de
interlocução os quais compõem espaços (ou territórios)           O ambiente instaurado enseja a retomada de antigas
virtuais que trazem à cena conexões mais amplas e maior          interações e mobilizações de atores e grupos sociais agora
dinamismo, presentes nos movimentos sociais em rede,             com novos contornos temporais e territoriais, à medida
que se identificam, constituem-se e alimentam-se, dentre         que as informações (e as trocas) se dão com maior volume
outros, por valores culturais, revelando-se, inclusive,          e celeridade, além de prescindirem de contornos
como registra Castells (2003 p.115), em militâncias              territoriais físicos. Desse processo, emerge, de forma
ambientais, feministas, pelos direitos humanos e dos             alternada, a sucessão de ações locais e globais, compondo,
ativistas ligados a um sem-número de projetos culturais          dentre outros, o movimento contemporâneo da
e causas políticas. Nessa perspectiva,                           cibermilitância, que se dá no bojo das organizações em
                                                                 rede. Segundo Castells,
   o ciberespaço tornou-se uma ágora eletrônica global
   em que a diversidade da divergência humana explode                os movimentos sociais do século XXI, ações coletivas
   em uma cacofonia de sotaques.                                     deliberadas que visam a transformação de valores e
                                                                     instituições da sociedade, manifestam-se na e pela
CIBERCULTURA E OUTRAS INTERFACES                                     Internet. O mesmo pode ser dito do movimento
                                                                     ambiental, o movimento das mulheres, vários
A relação entre o usuário e o computador implica                     movimentos pelos direitos humanos, movimentos de
interfaces que se dão através de softwares que medeiam               identidade étnica, movimentos religiosos,
as interações entre ambos. Nesse exercício interativo,               movimentos nacionalistas e dos defensores/
segundo Johnson (2001), instauram-se novos olhares,                  proponentes de uma lista infindável de projetos
novas percepções e novas concepções para com o mundo,                culturais e causas políticas. (CASTELLS, 2003, p. 114).
o que redunda em outras posturas e condutas humanas


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Ricardo Viana Velloso


À guisa de exemplo, podem-se registrar com Moraes                          persuasão; mas de caráter simbólico em uma acepção
(2001) alguns segmentos da sociedade civil que,                            mais ampla, uma vez que as interações se dão em
mobilizados por mais diversos temas e interesses,                          ambiente diverso do que historicamente se teve. Em
investem no ciberespaço como forma de ampliar suas                         contrapartida, as interações em outra cena, com novas
articulações e interlocuções e de dar visibilidade às suas                 interfaces e com carga simbólica redimensionada,
causas, dentre eles, o Movimento dos Trabalhadores                         colocam as realizações humanas diante de novos desafios
Rurais Sem-Terra (MST), a Central Única dos                                e possibilidades.
Trabalhadores (CUT), a Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do                          CONSIDERAÇÕES FINAIS
Brasil (OAB), o Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor (IDEC) e o Médico Sem Fronteiras.                               É fato que as interações humanas, que se deram
                                                                           historicamente nas esferas do público e do privado,
Nesse diapasão, as interações humanas e suas realizações,                  ganham novos contornos temporais e territoriais
inicialmente movidas pelo labor, sob a ótica de Arendt,                    possibilitados pelas tecnologias da informação e da
e em seguida pelo trabalho e finalmente pela ação,                         comunicação, que interconectam atores e segmentos
ganham novos contornos e uma dinâmica diferenciada.                        sociais de todos os cantos, na era da informação. Tais
                                                                           interações envolvem, para além das referências materiais
O cenário virtual, ou o ciberespaço, passa a se constituir                 clássicas, dimensões simbólicas, as quais são suscitadas
em importante território da esfera social, a ágora 5                       tanto pelas interfaces entre o homem e o computador
eletrônica contemporânea, que possibilita dar visibilidade                 quanto pelas trocas virtuais entre as culturas geradoras
aos fatos da vida privada, tratar fatos e fenômenos da                     de diferentes perspectivas, anseios e valores.
esfera pública e sobretudo redimensionar a esfera social.
Por seu descentramento e atopia, como já referido, enseja                  Como lembra Johnson (2003, p.24),
diluir as concentrações de poder e ampliar a participação
dos atores sociais e a projeção dos diversos segmentos.                       a interface já alterou o modo como usamos
Todavia, como adverte Castells,                                               computadores e vai continuar a alterá-lo nos anos
                                                                              vindouros. Mas está fadada a mudar outros domínios
    na co-evolução da Internet e da sociedade, a dimensão                     da experiência contemporânea de maneiras mais
    política de nossas vidas está sendo profundamente                         improváveis, mais imprevisíveis.
    transformada. O poder é exercido antes de tudo em
    torno da produção e difusão de nós culturais e                         As interações multiculturais, por sua vez, compondo a
    conteúdos de informação. O controle sobre redes de                     cibercultura pelas trocas simbólicas no ciberespaço,
    comunicação torna-se a alavanca pela qual interesses                   resultam nos contornos da ágora eletrônica em que se
    e valores são transformados em normas condutoras                       processam as manifestações do público e do privado e
    de comportamento humano. Esse movimento se                             múltiplos exercícios de expressão que dão visibilidade
    processa, como em contextos históricos anteriores,                     aos sujeitos e segmentos sociais. Em um contexto de
    de maneira contraditória. A Internet não é um                          descentramento, de atopia, flexibilidade e dinamismo,
    instrumento de liberdade, nem tampouco a arma de                       emergem múltiplas vozes, compondo a “cacofonia”
    dominação unilateral (CASTELLS, 2003, p. 135).                         referida por Castells (2003), como expressão do exercício
                                                                           interacionista na esfera social da contemporaneidade.
Em síntese, o ciberespaço não se constitui, por si mesmo,
em garantia de conquista de democracia, igualdade e ou                     O cenário das interações ciberespaciais, ou a ágora
liberdade. É inconteste que, não obstantes os novos                        eletrônica, embora constituindo-se com novos contornos
parâmetros temporais e territoriais, persistem as desiguais                temporais e territoriais em que se processam as trocas
correlações de força; não apenas de caráter físico, como                   simbólicas, não tem o condão de, por si só, instaurar
se viu na esfera privada na Grécia Antiga, nem tampouco                    uma nova correlação de forças. Afinal, o que há de definir
de caráter retórico, como se assistiu na esfera pública                    na ágora virtual, assim como se deu na ágora grega, as
em que a palavra assumia o papel de se pôr a serviço da                    interações humanas e seus rumos, é a correlação de
                                                                           forças, que, hodiernamente, para além do embate
5
  Sendo, na Antigüidade Clássica, a praça principal da polis grega, a
                                                                           retórico referido por Arendt (2008), haverá de envolver
ágora é tomada aqui como o espaço das interações (virtuais) na esfera      as novas interfaces e as trocas simbólicas.
pública, dos debates políticos, da convivência e da visibilidade, sendo,
assim, o espaço da cidadania.


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O ciberespaço como ágora eletrônica na sociedade contemporânea


Por fim, ainda que repelindo a percepção ingênua de                      HANNAH, Arendt. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo.
                                                                         Rio de Janeiro: Forense universitária, 2008.
que a ágora eletrônica poderia reorientar as relações de
poder e troca, é possível asseverar que o novo ambiente                  HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos: o breve século XX: 1914 -1991.
instaurado suscita novos desafios e outras possibilidades                Tradução Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
para as interações humanas e, em última análise, para                    JOHNSON, Steven. Cultura da interface: como o computador transforma
os sujeitos sociais.                                                     nossa maneira de criar e comunicar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
                                                                         2001.
Artigo submetido em 25/10/2008 e aceito em 22/12/2008.
                                                                         LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na
                                                                         era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.
REFERÊNCIAS
                                                                         _______. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço.
ANTÔNIO, Severino. Educação e transdisciplinaridade: crise e             3. ed. São Paulo: Loyola, 1997.
reencantamento da aprendizagem. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.
                                                                         _______. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo:
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a internet,     Editora 34, 2005.
os negócios e a sociedade. Tradução Maria Luiza X. de A. Borges;
revisão Paulo Vaz. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.                    MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais emergentes no contexto
                                                                         da tecnologia digital. In: ______; XAVIER, Antônio Carlos (Org.).
COSCARELLI, Carla Viana. Entre textos e hipertextos. In:                 Hipertextos e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido.
COSCARELLI, Carla Viana (Org.). Novas tecnologias, novos textos, novas   Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
formas de pensar. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
                                                                         MORAES, Denis de. O concreto e o virtual: mídia, cultura e tecnologia.
HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios”   Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
à multi-territorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.




Ci. Inf., Brasília, v. 37, n. 2, p. 103-109, maio/ago. 2008                                                                               109

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Velloso 2008 ciberespaco_comoagoraeletronica

  • 1. O ciberespaço como ágora eletrônica na sociedade contemporânea Ricardo Viana Velloso INTRODUÇÃO Mestrando em educação, cultura e organizações sociais, pela Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG. Este artigo tem por objetivo examinar o ciberespaço como E-mail: ricardo@ufmg.br ambiente que compõe a ágora eletrônica na cena contemporânea, sob a égide de novas interfaces e da cibercultura, comprometidas por outras temporalidades e territorialidades. Resumo Perceber o ciberespaço como ágora virtual enseja e As interações humanas no ciberespaço revelam-no como demanda revisitar conceitos atinentes às esferas pública ambiente constitutivo de uma ágora contemporânea, em que os e privada, com lastro nos estudos de Arendt (2008), que grandes debates públicos, ou as trocas simbólicas, resgata tais categorias nas suas origens na Grécia, bem processam-se, na era da informação, de forma significativamente transformada. As múltiplas realizações no como sua ressignificação na modernidade, quando sua ambiente virtual dão-se sob a égide de valores (e afinidades) distinção secular se torna tênue, favorecendo a culturais, com outras interfaces, compondo redes de emergência da esfera social. mobilização e troca que se sustentam pela sua diversidade intrínseca e por seu dinamismo. Resultam, assim, as realizações humanas em movimentos sociais tão antigos, na Requer ainda, à guisa de contextualização da cena sua essência, quanto a própria humanidade, mas inovadores contemporânea, a apropriação das considerações de na forma e na dinâmica que assumem, na instauração da cibercultura como marca da contemporaneidade. Hobsbawm (2006) acerca do “Breve século XX” e das incertezas que advêm da insuficiência da ciência e da Palavras-chave técnica para fazer frente aos desafios hodiernos, dentre os quais se destacam o demográfico e o ambiental. Ciberespaço. Contemporaneidade. Interações humanas. Movimentos sociais. Cibercultura. Para subsidiar o presente estudo, é também relevante retomar com Lévy (1993) categorias como espaço virtual, The cyberspace as an electronic agora in the cibercultura, tecnologias da inteligência e ecologias contemporaneous society cognitivas, que emergem no ambiente descentrado, atópico e desterritorializado da rede mundial de Abstract inter(ações) instaurada pelas tecnologias da informação The cyberspace is the contemporaneous agora for the human e da comunicação. Vale igualmente revisitar as interactions, where great public debates or symbolic considerações de Johnson (2001) sobre a cultura da exchanges are significantly processed in the era of interface, que conferem mais amplas conotações às information. The multiple achievements in the virtual environment are carried out under the aegis of cultural values tecnologias na atualidade, em um contexto de interação together with other interfaces making up nets of mobilization entre tecnologia, cultura e arte, assim como os estudos and exchange which are supported by their intrinsic diversity de Castells (2003) e Moraes (2001) acerca da Internet and dynamism. The human achievements take place in social movements, ancient in their essence as humankind itself, but na sociedade hodierna. innovating in the form and dynamics they are brought out in the establishment of cyberculture as a mark of Há de se ressaltar que o presente artigo cuidará de abordar contemporaneousness. o ciberespaço como ambiente das ações e interações dos Keywords sujeitos sociais organizados, sob a percepção de que as redes que se compõem na sociedade não reinventam, Cyberspace. Contemporaneity. Human interactions. Social na sua essência, os movimentos sociais, mas certamente movements. Cyberculture. lhes conferem outras dimensões culturais, sustentadas pela diversidade e amplitude das conexões ensejadas pelas tecnologias da informação e da comunicação, determinantes para a instauração da (ciber)cultura contemporânea. Ci. Inf., Brasília, v. 37, n. 2, p. 103-109, maio/ago. 2008 103
  • 2. Ricardo Viana Velloso DIMENSÕES PÚBLICA E PRIVADA DAS O fato de que a manutenção individual fosse a tarefa INTERAÇÕES HUMANAS: ORIGENS E do homem e a sobrevivência da espécie fosse a tarefa RESSIGNIFICAÇÃO da mulher era tido como óbvio; e ambas estas funções naturais, o labor do homem no suprimento de Retomando as origens da vida humana em sociedade, é alimentos e o labor da mulher no parto, eram sujeitas imperativo reconhecer, inicialmente, duas esferas de à mesma premência de vida. interações: a esfera privada, em cujo âmbito as realizações se identificam com o atendimento a necessidades Já a esfera pública, reconhecida como o lugar do comum, biológicas, quais sejam a sobrevivência e a perpetuação revela-se como o palco das interações e possível âmbito da vida; e a esfera pública, lugar de interações que do exercício da liberdade, levada a efeito na ágora grega, extrapolam essa condição natural mais imediata em a praça dos debates e das manifestações públicas; busca da liberdade no próprio mundo, comum aos liberdade que, na esfera privada, não se dá em virtude homens que buscam, nessa seara, efetiva visibilidade. das relações desiguais e do reino da necessidade e das Tais instâncias, marcadas por flagrante antinomia, carências biológicas, já referidas. Nesse diapasão, a esfera remetem à consideração das categorias labor, trabalho e pública constitui o lugar dos cidadãos livres e iguais, no ação, tratadas por Arendt em A condição humana1. exercício da ação, para além do labor e do trabalho. Destaca Arendt (2008) que, na esfera do público, A autora situa o labor como atividade inerente à natureza diferentemente do que se dá na esfera privada com o humana identificada com a necessidade de preservação recurso à força, o que se tem é a hegemonia do discurso, da vida. Assim é que, na divisão clássica da atividade da persuasão. humana, ao homem é reservado o mister de prover o alimento e a segurança, enquanto à mulher se reserva a A busca pela visibilidade (e pela liberdade) na cena reprodução. O trabalho, por sua vez, extrapolando a pública, que redimensiona a existência humana, balizada circunscrição do natural, coloca o homem no exercício na ação, faz emergir, no curso da história, outra dimensão da criação de coisas artificiais, revelando o homo faber. das interações, qual seja, a esfera social. Esse fenômeno Por fim, tem-se a ação, que é apresentada pela autora se processa em um movimento de complexidade, como outra atividade humana, cuja realização demanda trazendo a público temas até então adstritos ao ambiente (e enseja) um ambiente de interações com outros privado. O divisor de águas entre o público e o privado, homens, de forma contínua. Por seu caráter instâncias até então circunscritas à antinomia de suas eminentemente interacional, a ação pode então ser relações, vai se fazendo tênue, o que promove o distinguida das categorias labor e trabalho em virtude recrudescimento dessa esfera emergente, de cunho social. de a primeira se comprometer com a esfera pública, Trata-se de uma instância que, surgida no início da era enquanto as demais se situam originariamente, conforme moderna, não equivale ao público nem ao privado. esposado por Arendt (2008), na esfera privada. O cenário que se desenha com a emergência da esfera Contrapondo características e funções, em virtude das social reflete-se concomitantemente ao surgimento do interações perpetradas em seu âmbito e dos seus estado nacional, revelando o setor público-estatal, o setor diferentes componentes motivadores, as esferas pública privado e, de forma cada vez mais pronunciada, o terceiro e privada definem ambientes dicotômicos das realizações setor2, com caráter também público, mas não-estatal, humanas. envolvendo a participação de voluntários em busca de processos e resultados identificados com o bem-estar Assim é que a esfera da casa (oikos) corresponde ao lugar social. da vida privada, comprometida com as demandas naturais da existência humana. E, como observa Arendt (2008, CONTEMPORANEIDADE E INCERTEZAS p.40), A par da instauração das instâncias de realizações humanas, movidas ora pela necessidade, ora pelo desejo 1 ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. de liberdade, sob a égide do labor, do trabalho e ou da Rio de Janeiro: Forense universitária, 2008. Publicada em 1958, a obra suscita muitas questões acerca das realizações humanas ao longo da história, sendo relevantes na presente abordagem as considerações 2 Por decorrer da associação do caráter público (não estatal) aliado à da autora sobre o público e o privado, bem como sua ressignificação iniciativa privada (sem fins lucrativos), esse setor ganha projeção e na modernidade, esferas cuja apreciação demanda a apreensão das relevo progressivo por se inserir nos espaços ou lacunas gerados pela categorias labor, trabalho e ação, constitutivas da existência humana. ineficiência ou ausência do Estado. 104 Ci. Inf., Brasília, v. 37, n. 2, p. 103-109, maio/ago. 2008
  • 3. O ciberespaço como ágora eletrônica na sociedade contemporânea ação, a sociedade se conduz e se redesenha Ademais, é o momento histórico que experimenta em historicamente, compondo, na modernidade, um cenário mais larga escala, no bojo do progresso tecnológico de encantamento com a razão. A aventura humana, atinente aos transportes e às telecomunicações, o contudo, revela-se marcada por conquistas que se processo de globalização alternam com percalços, traduzindo-se em um flagrante paradoxo, cujo exercício de compreensão remete aos cada vez mais acelerado e a incapacidade conjunta estudos de Hobsbawm (2006) acerca do “Breve século de as instituições públicas e de o comportamento XX”, ou a Era dos Extremos um lapso de tempo entre coletivo dos seres humanos se acomodarem a ele 1914 e 1991, inter valo histórico que abriga (HOBSBAWM, 2006, p. 24). concomitantemente avanços científicos e tecnológicos e guerras, destruição e desigualdade. A aldeia global 3 que se configura no contexto da modernidade não constitui, como se poderia supor, a Hobsbawm (2006) identifica como “Era da Catástrofe” quebra de fronteiras seguida de progressiva conquista o período de 1914 até depois da Segunda Guerra Mundial. da igualdade. Diferentemente disso, o que se tem, com a Essa fase é sucedida por “cerca de 25 ou 30 anos de acentuação das desigualdades, é, extraordinário crescimento econômico e transformação social, anos que provavelmente mudaram de maneira num mundo cada vez mais globalizado, o fato mesmo mais profunda a sociedade humana que qualquer outro de as ciências naturais falarem uma única língua período de brevidade comparável” (HOBSBAWM, 2006, universal e operarem sob uma única metodologia p.15), constituindo-se na “Era do Ouro”. Sucedendo esse (HOBSBAWM, 2006, p.506) recorte temporal, a humanidade experimenta, segundo o autor, uma era de incertezas e crises. Sobre o presente cenário, em que se dão movimentos de mudialização sobretudo de cunho econômico, é Antônio O século XX, além de seus paradoxos, revela uma nova (2002, p.100) quem observa que temporalidade, traduzida na ausência de nexos articuladores com o passado e na falta de um sentido a globalização não tem sentido verdadeiramente prospectivo, instaurando-se, então, uma espécie de cosmopolita nem universalista: um vasto e poderoso “presente contínuo”, que traz no bojo desse fenômeno a domínio de capitais e mercados e de tecnologias de mudança (ou perda) de paradigmas de relacionamento informação e comunicação faz com que se beba o social e humano. A hipertrofia do sentido da razão mesmo refrigerante e se coma o mesmo sanduíche e encontra, com relevo cada vez mais expressivo, uma se assista aos mesmos filmes e aos mesmos programas insuficiência como resposta às angústias e às indagações televisivos e aos mesmos esquemas de marketing nos de seu tempo, em grande parte porque divorciadas da quatro cantos do mundo. percepção sensorial e do senso comum, com os quais estabelece relação eminentemente dicotômica. O fato é que os paradoxos e as incertezas presentes na cena contemporânea marcam-na com outras Pronuncia-se aí um novo desencantamento, a exemplo temporalidades e territorialidades, potencializadas pelo do que se deu com relação à fé, quando da transcendência advento das tecnologias da informação e da para a modernidade. comunicação, alavancadas pelo desenvolvimento da informática, que enseja (e impõe) novas concepções e O Breve Século XX acabou em problemas para os referências à dinâmica do tempo e do espaço. quais ninguém tinha, nem dizia ter, soluções. Enquanto tateavam o caminho para o terceiro Relativamente ao redesenho do espaço das interações milênio em meio ao nevoeiro global que os cercava, humanas, emergem teses identificadas com o fim dos os cidadãos do fin-de-siècle só sabiam ao certo que territórios, que, diferentemente de se confirmarem, acabara uma era da história. E muito pouco mais revelam, antes, outras territorializações, as quais, segundo (HOBSBAWM, 2006, p. 537). Haesbaert (2004), traduzem-se na redefinição dos O século XX deixa, então, nessa perspectiva, o legado da 3 O termo é cunhado por Marshall Mc Luhan, sociólogo canadense, para se referir às novas configurações assumidas pelas interações incerteza. entre os diversos países (e culturas), superando a linearidade e os limites territoriais e temporais clássicos, situação que, na tese do autor, colocaria o mundo no patamar de uma aldeia, no âmbito da qual perseveram as desigualdades. Ci. Inf., Brasília, v. 37, n. 2, p. 103-109, maio/ago. 2008 105
  • 4. Ricardo Viana Velloso espaços, que passam a incorporar dimensões materiais e processo social que comporta relações de poder e trocas ou simbólicas. Desse movimento, resultam territórios simbólicas de amplo espectro, insertas no cenário físicos, virtuais, políticos e culturais, dentre outros, constitutivo de uma cibercultura. possibilitando a vivência de multiterritorialidades, em um contexto em que se permite Nesse contexto, novas territorialidades também se revelam, na medida em que os contornos têm seu foco (...) pela comunicação instantânea, contatar e mesmo descolado da materialidade, trazendo como marcas agir sobre territórios completamente distintos do preponderantes as dimensões simbólicas. Tem-se, então, nosso, sem a necessidade de mobilidade física. Trata- outros territórios em que se processam novas experiências, se de uma multiterritorialidade envolvida nos imbricadas com múltiplas interfaces. Nesses territórios, diferentes graus daquilo que poderíamos denominar as fronteiras se diluem, instaurando uma nova geografia. como sendo a conectividade e/ou vulnerabilidade A ausência de marcos espaço-temporais rígidos, informacional (ou virtual) dos territórios. substituída por nós de conhecimento e de aglutinação (HAESBAERT, 2004, p.345) motivacional, ensejam contínua mobilidade ou nomadismo, sobre o qual considera Lévy: As condutas e relações sociais e humanas que se dão na circunscrição desses territórios emergentes, em particular O espaço do novo nomadismo não é o território do território virtual, convidam ao exame de seu geográfico nem o das instituições ou dos Estados, significado e do caráter que assumem, bem como das mas um espaço invisível dos conhecimentos, dos variáveis com que estão imbricadas, para sua melhor saberes, das forças de pensamento no seio da qual se compreensão e, por extensão, para que se possa tratar a manifestam e se alteram as qualidades do ser, os sua ressituação no ciberespaço. Essa categoria, por sua modos de fazer sociedade. Não os organismos do vez, reclama exame mais detido, de forma a favorecer a poder, nem as fronteiras disciplinares, nem as compreensão das interações humanas em seu âmbito, estatísticas dos mercados, mas sim o espaço sob múltiplas configurações. qualitativo, dinâmico, vivo, da humanidade que se inventa ao mesmo tempo que produz o seu mundo CIBERESPAÇO: OUTRO AMBIENTE DAS (LÉVY, 1997, p.17). REALIZAÇÕES HUMANAS Desse movimento emergem territórios cognitivos O espaço virtual, imbricado com outras temporalidades coletivizados, em que se inserem autores e leitores e outras territorialidades, destaca-se pela celeridade das investidos da condição de co-autores que produzem informações hipertextuais, dispostas em rede, as quais permanentemente sentidos na interação com as malhas possibilitam leituras mais imediatistas pela associação textuais, compostas a partir dos hipertextos4, constitutivos da expressão verbal a imagens e sons entre outros; mas das ecologias cognitivas. ensejam também leituras extensivas, caminhos alternativos para o leitor que, valendo-se dos nós na rede É fato que, de um lado, territórios se podem conceber hipertextual não-linear, vê-se co-autor, em um exercício com certo grau de anonimato, como se dá, por exemplo, autônomo de produção de sentido da malha textual. Em nas diversas salas de bate-papo em que os interlocutores muitas situações, as temporalidades são também usam apelidos, os nicks, que ora os revelam (e as suas redimensionadas por atualizações contínuas e quase intenções comunicativas), ora os ocultam. De outro, simultâneas aos fatos, às notícias, aos múltiplos registros todavia, concebem-se ambientes de cooperação, como na Internet. as listas de discussão, os fóruns temáticos virtuais e outros, em que os interlocutores podem se inserir, em muitos E, como observa Marcuschi (2005, p.13), dos casos, devidamente identificados, empreendendo a interação e a colaboração. em certo sentido, pode-se dizer que, na atual sociedade da informação, a Internet é uma espécie de protótipo 4 Os hipertextos invocam uma concepção textual aberta, não-linear, de novas formas de comportamento comunicativo. que reclama novos comportamentos na sua produção de sentido, na relação com a autoria, portanto novos agenciamentos em rede Embora o autor se atenha às situações comunicativas, é relacional com outras configurações. Afinal, como esclarece Coscarelli, “o hipertexto é, grosso modo, um texto que traz conexões, chamadas possível estender o olhar às situações mais amplas de links, com outros textos que, por sua vez, se conectam a outros, e relações sociais, já que a comunicação constitui ato e assim por diante, formando uma grande rede de textos” (COSCARELLI, 2003, p.73). 106 Ci. Inf., Brasília, v. 37, n. 2, p. 103-109, maio/ago. 2008
  • 5. O ciberespaço como ágora eletrônica na sociedade contemporânea Nessas territorialidades em que se sobrepõem as ante os sujeitos e a sociedade propriamente dita, já que dimensões simbólicas às materiais, situações antagônicas “a relação governada pela interface é uma relação tendem a se definir em territorializações que se processam semântica, caracterizada por significado e expressão, não sob a égide do relativo anonimato, ou da deliberada por força física.” (JOHNSON, 2001, p.17). identificação dos sujeitos sociais que vivenciam a coletivização de seu pensar (e fazer) em cenários de Apresentam-se as interfaces tão intrigantes quanto interação e ou cooperação, constituindo outras ecologias sedutoras, possibilitando até a aproximação entre cognitivas. Trata-se de ambientes de relações que, para categorias aparentemente antinômicas, como tecnologia além da seara cognitiva, envolvem variáveis conceituais, e arte e, ainda com Johnson (2001, p. 174), é possível axiológicas, estéticas e afetivas, dentre outras. Afinal, asseverar que como observa Lévy, Nossas interfaces são histórias que contamos para A informática não intervém apenas na ecologia nós mesmos para afastar a falta de sentido, palácios cognitiva, mas também nos processos de subjetivação de memória construídos de silício e luz. Elas vão individuais e coletivos. Algumas pessoas ou grupos continuar a transformar o modo como imaginamos construíram uma parte de suas vidas ao redor de a informação, e ao fazê-lo irão nos transformar sistemas de troca de mensagens (BBS), de certos também – para melhor e para pior. programas de ajuda à criação musical ou gráfica, da Envolvidos nesse contexto de múltiplas interações programação ou da pirataria nas redes. Mesmo sem comprometidas com dimensões simbólicas, marcadas ser pirata ou hacker, é possível que alguém se deixe pela instantaneidade e transitoriedade, pelo seduzir pelos dispositivos de informática. Há toda descentramento e pela atopia, os sujeitos sociais se vêem uma dimensão estética ou artística na concepção das constituindo e vivenciando a cibercultura, cujo universo máquinas ou dos programas, aquela que suscita o envolvimento emocional, estimula o desejo de não possui nem centro nem linha diretriz. É vazio, explorar novos territórios existenciais e cognitivos, sem conteúdo particular. Ou antes, ele os aceita todos, conecta o computador a movimentos culturais, pois se contenta em colocar em contato um ponto revoltas, sonhos (LÉVY, 1993, p. 56). qualquer com qualquer outro, seja qual for a carga semântica das entidades relacionadas. (LÉVY, 2005, Nesse contexto, pronunciam-se, no bojo de uma nova p. 11). cultura, ou da cibercultura, processos de interação e de interlocução os quais compõem espaços (ou territórios) O ambiente instaurado enseja a retomada de antigas virtuais que trazem à cena conexões mais amplas e maior interações e mobilizações de atores e grupos sociais agora dinamismo, presentes nos movimentos sociais em rede, com novos contornos temporais e territoriais, à medida que se identificam, constituem-se e alimentam-se, dentre que as informações (e as trocas) se dão com maior volume outros, por valores culturais, revelando-se, inclusive, e celeridade, além de prescindirem de contornos como registra Castells (2003 p.115), em militâncias territoriais físicos. Desse processo, emerge, de forma ambientais, feministas, pelos direitos humanos e dos alternada, a sucessão de ações locais e globais, compondo, ativistas ligados a um sem-número de projetos culturais dentre outros, o movimento contemporâneo da e causas políticas. Nessa perspectiva, cibermilitância, que se dá no bojo das organizações em rede. Segundo Castells, o ciberespaço tornou-se uma ágora eletrônica global em que a diversidade da divergência humana explode os movimentos sociais do século XXI, ações coletivas em uma cacofonia de sotaques. deliberadas que visam a transformação de valores e instituições da sociedade, manifestam-se na e pela CIBERCULTURA E OUTRAS INTERFACES Internet. O mesmo pode ser dito do movimento ambiental, o movimento das mulheres, vários A relação entre o usuário e o computador implica movimentos pelos direitos humanos, movimentos de interfaces que se dão através de softwares que medeiam identidade étnica, movimentos religiosos, as interações entre ambos. Nesse exercício interativo, movimentos nacionalistas e dos defensores/ segundo Johnson (2001), instauram-se novos olhares, proponentes de uma lista infindável de projetos novas percepções e novas concepções para com o mundo, culturais e causas políticas. (CASTELLS, 2003, p. 114). o que redunda em outras posturas e condutas humanas Ci. Inf., Brasília, v. 37, n. 2, p. 103-109, maio/ago. 2008 107
  • 6. Ricardo Viana Velloso À guisa de exemplo, podem-se registrar com Moraes persuasão; mas de caráter simbólico em uma acepção (2001) alguns segmentos da sociedade civil que, mais ampla, uma vez que as interações se dão em mobilizados por mais diversos temas e interesses, ambiente diverso do que historicamente se teve. Em investem no ciberespaço como forma de ampliar suas contrapartida, as interações em outra cena, com novas articulações e interlocuções e de dar visibilidade às suas interfaces e com carga simbólica redimensionada, causas, dentre eles, o Movimento dos Trabalhadores colocam as realizações humanas diante de novos desafios Rurais Sem-Terra (MST), a Central Única dos e possibilidades. Trabalhadores (CUT), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do CONSIDERAÇÕES FINAIS Brasil (OAB), o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) e o Médico Sem Fronteiras. É fato que as interações humanas, que se deram historicamente nas esferas do público e do privado, Nesse diapasão, as interações humanas e suas realizações, ganham novos contornos temporais e territoriais inicialmente movidas pelo labor, sob a ótica de Arendt, possibilitados pelas tecnologias da informação e da e em seguida pelo trabalho e finalmente pela ação, comunicação, que interconectam atores e segmentos ganham novos contornos e uma dinâmica diferenciada. sociais de todos os cantos, na era da informação. Tais interações envolvem, para além das referências materiais O cenário virtual, ou o ciberespaço, passa a se constituir clássicas, dimensões simbólicas, as quais são suscitadas em importante território da esfera social, a ágora 5 tanto pelas interfaces entre o homem e o computador eletrônica contemporânea, que possibilita dar visibilidade quanto pelas trocas virtuais entre as culturas geradoras aos fatos da vida privada, tratar fatos e fenômenos da de diferentes perspectivas, anseios e valores. esfera pública e sobretudo redimensionar a esfera social. Por seu descentramento e atopia, como já referido, enseja Como lembra Johnson (2003, p.24), diluir as concentrações de poder e ampliar a participação dos atores sociais e a projeção dos diversos segmentos. a interface já alterou o modo como usamos Todavia, como adverte Castells, computadores e vai continuar a alterá-lo nos anos vindouros. Mas está fadada a mudar outros domínios na co-evolução da Internet e da sociedade, a dimensão da experiência contemporânea de maneiras mais política de nossas vidas está sendo profundamente improváveis, mais imprevisíveis. transformada. O poder é exercido antes de tudo em torno da produção e difusão de nós culturais e As interações multiculturais, por sua vez, compondo a conteúdos de informação. O controle sobre redes de cibercultura pelas trocas simbólicas no ciberespaço, comunicação torna-se a alavanca pela qual interesses resultam nos contornos da ágora eletrônica em que se e valores são transformados em normas condutoras processam as manifestações do público e do privado e de comportamento humano. Esse movimento se múltiplos exercícios de expressão que dão visibilidade processa, como em contextos históricos anteriores, aos sujeitos e segmentos sociais. Em um contexto de de maneira contraditória. A Internet não é um descentramento, de atopia, flexibilidade e dinamismo, instrumento de liberdade, nem tampouco a arma de emergem múltiplas vozes, compondo a “cacofonia” dominação unilateral (CASTELLS, 2003, p. 135). referida por Castells (2003), como expressão do exercício interacionista na esfera social da contemporaneidade. Em síntese, o ciberespaço não se constitui, por si mesmo, em garantia de conquista de democracia, igualdade e ou O cenário das interações ciberespaciais, ou a ágora liberdade. É inconteste que, não obstantes os novos eletrônica, embora constituindo-se com novos contornos parâmetros temporais e territoriais, persistem as desiguais temporais e territoriais em que se processam as trocas correlações de força; não apenas de caráter físico, como simbólicas, não tem o condão de, por si só, instaurar se viu na esfera privada na Grécia Antiga, nem tampouco uma nova correlação de forças. Afinal, o que há de definir de caráter retórico, como se assistiu na esfera pública na ágora virtual, assim como se deu na ágora grega, as em que a palavra assumia o papel de se pôr a serviço da interações humanas e seus rumos, é a correlação de forças, que, hodiernamente, para além do embate 5 Sendo, na Antigüidade Clássica, a praça principal da polis grega, a retórico referido por Arendt (2008), haverá de envolver ágora é tomada aqui como o espaço das interações (virtuais) na esfera as novas interfaces e as trocas simbólicas. pública, dos debates políticos, da convivência e da visibilidade, sendo, assim, o espaço da cidadania. 108 Ci. Inf., Brasília, v. 37, n. 2, p. 103-109, maio/ago. 2008
  • 7. O ciberespaço como ágora eletrônica na sociedade contemporânea Por fim, ainda que repelindo a percepção ingênua de HANNAH, Arendt. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense universitária, 2008. que a ágora eletrônica poderia reorientar as relações de poder e troca, é possível asseverar que o novo ambiente HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos: o breve século XX: 1914 -1991. instaurado suscita novos desafios e outras possibilidades Tradução Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. para as interações humanas e, em última análise, para JOHNSON, Steven. Cultura da interface: como o computador transforma os sujeitos sociais. nossa maneira de criar e comunicar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. Artigo submetido em 25/10/2008 e aceito em 22/12/2008. LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. REFERÊNCIAS _______. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. ANTÔNIO, Severino. Educação e transdisciplinaridade: crise e 3. ed. São Paulo: Loyola, 1997. reencantamento da aprendizagem. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. _______. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, Editora 34, 2005. os negócios e a sociedade. Tradução Maria Luiza X. de A. Borges; revisão Paulo Vaz. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: ______; XAVIER, Antônio Carlos (Org.). COSCARELLI, Carla Viana. Entre textos e hipertextos. In: Hipertextos e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. COSCARELLI, Carla Viana (Org.). Novas tecnologias, novos textos, novas Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. formas de pensar. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. MORAES, Denis de. O concreto e o virtual: mídia, cultura e tecnologia. HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” Rio de Janeiro: DP&A, 2001. à multi-territorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. Ci. Inf., Brasília, v. 37, n. 2, p. 103-109, maio/ago. 2008 109