O documento descreve os desafios de montar e apresentar o balé "Giselle" fora de sua casa habitual. Apresenta exemplos de imprevistos que já ocorreram nos bastidores durante performances, como bailarinas se enrolando em cenários ou perdendo sapatilhas. Também destaca o trabalho dos profissionais que garantem que os espetáculos ocorram sem problemas, mesmo enfrentando a complexidade de levar uma produção como "Giselle" para outros palcos.
1. WILLIS
Bastidores
Por trás da cena de um grande balé
Quem assiste ao espetáculo não imagina a
correria nos camarins, o estresse nas coxias
e o correcorre pelas escadas
Programação Para o espectador o que importa é a cena, desde que
Uma atmosfera misteriosa envolve o segundo ato de Giselle, onde o corpo de
Regulamento tudo corra a contento. Enquanto ele assiste a um
baile é uma estrela da mesma grandeza que os personagens principais
Noticiário espetáculo, jamais poderá imaginar a correria de
(Foto: Vânia Laranjeiros/Divulgação TM)
Leia também: camarins, o estresse das coxias, o correcorre pelas
16º Festival de Dança escadas, a mãodeobra da maquinária, a troca de
de Joinville 1998 roupas, de maquiagem, em suma, todos os itens que
Giselle, mulher compõem o bakstage ou bastidores de um balé.
de corpo e alma Algumas vezes esse bakstage chega a invadir o palco
mas, desde que não se torne uma coisa
escandalosamente flagrante, o público não percebe.
Festival valoriza a dança brasileira e apresenta, pela Mas em algumas ocasiões a coxia chega à cena, sem a
menor cerimônia. Imaginem o segundo ato de
primeira vez, uma produção completa com a mais nobre "Giselle", no reino das diáfanas Willis, onde tudo é um
companhia do País o Ballet do TMRJ branco e velado mistério, a personagem principal
entrar em cena ensangüentada. Ou ainda, um tosco
banco de madeira, lá dos idos de 1841, entrar no palco
Começa hoje uma edição do Festival de Dança de Joinville que dá uma carregado pelos camponeses com uma garrafa de
guinada rumo ao bailarino brasileiro, depois de ter adernado, nos últimos água mineral e uma lata de refrigerante, que bailarinos
anos, para convidados internacionais, que deixaram a desejar. Todas as distraídos coloram sobre o mesmo na coxia.
atrações especiais espetáculos profissionais que abrem as noites
competitivas são brasileiras, salvo dois partners convidados. Claro que a E que tal a Princesa Aurora, do balé "A Bela
Adormecida", se enrolar na tela do cenário, de tal
alta do dólar tem sua parcela de participação na descoberta de que o forma que a Fada Lilás, outra personagem, precisa
"produto nacional é bom e barato", é benéfico à dança brasileira. esquecer a sua postura de fada, descer das pontas e
socorrer a colega princesa. Ou ainda um " floquinho
A abertura hoje à noite será feita pelo Ballet do Theatro Municipal, que de neve" , de "O QuebraNozes" deslizar pelo palco
com as perneiras pretas de lã que usou para o
apresenta o balé "Giselle", na versão do inglês Peter Wright, que pertence aquecimento. E se um bailarino perder a sapatilha, que
ao repertório do TM desde 1982. Esta versão é considerada uma das voa do palco e cai no colo do espectador da primeira
mais perfeitas do mundo e faz parte do repertório das companhias de fila.
Munique, Frankfurt, Stuttgart, Londres entre outras. Os cenários e
A história parece piada, mas tudo isso, e muito mais, já
figurinos São do inglês Peter Farmer.
aconteceu em grandes produções. O bailarino que
perdeu a sapatilha foi ninguém menos que Mikhail
Um balé completo, pela primeira vez no palco do festival, com a mais Baryshnikov em "O Corsário". O "floquinho de neve
importante companhia do país, é um presente para o público, que distraído" foi uma estagiária do Teatro Municipal que
está, até hoje, desculpandose. A princesa Aurora
finalmente poderá ver um espetáculo e não apenas competições de dança; enrolada foi a bela Roberta Marquez, do balé do
e para os participantes, já que a apresentação se constitui numa importante Teatro Municipal, e sua fada salvadora foi a bailarina
oportunidade pedagógica para quem estuda dança. O novo formato revela Daniela Cardin. E a Giselle ensangüentada? Também
gratas surpresas, como por exemplo, a importância do Festival de Joinville existiu e foi Ana Botafogo que, na recente produção
do balé, a mesma que o público de Joinville vai assistir
no aprimoramento da dança nacional: quase um terço dos bailarinos que nessa noite, na correria da troca de roupa entre um ato
vêm dançando pelo TM já competiram no festival. e o outro, arranhouse, não sabe como, e o sangue
aquecido pelo espetáculo começou a escorrer pela
roupa da imaculada personagem. Providências rápidas
Romantismo de coxia, envolvendo auxílio de massagista e gelo,
impediram que Ana voltasse à cena "apunhalada".
Giselle. Uma palavra. Um nome de mulher. É a personagem mais popular
da dança e também faz sucesso entre gente que nunca ouviu falar nessa Esses são apenas acidentes lights e imprevisíveis.
doce e charmosa camponesa que acaba de fazer 158 anos. É um nome Para que nada mais sério aconteça e para que tudo
corra da melhor maneira possível, existe um batalhão a
bonito, feminino e sonoro, para uma personagem que é a encarnação do postos, trabalhando no bakstage como formiguinhas.
A Notícia ideal romântico, onde se enlouquece e morre de amor. Sua história mística, Eles garantem aos artistas e ao público, um espetáculo
NOTICIÁRIO imaginativa, sentimental e trágica, criaram uma legião de Giselles ao redor com a menor margem de erro possível.
Capa do mundo, fazendo desse um nome repetido em todas as línguas.
Opinião
Economia Giselle do avesso
Política Dentro do universo da dança, há um lema: toda bailarina quer ser Giselle
País
na vida. Giselle apaixona tanto pelos traços da personagem, tão afeita às Um balé complexo como "Giselle", com dois atos
Mundo
Polícia absolutamente distintos, não é nada fácil de ser
atitudes peculiares à sensibilidade feminina romântica; quanto pelas montado e, muito menos de viajar, sair de casa, do
Geral
Esporte dificuldades que impõe a suas intérpretes. Para acompanhar suas nuances palco em que foi concebido.
Fórmula 1 emocionais, é necessário qualidades técnicas e delicada capacidade de
Fórmula Indy
COLUNAS
interpretação. "Giselle" é uma obradesafio, mas que, em contrapartida, dá O primeiro ato mostra uma aldeia, com camponeses,
oportunidades ímpares de se evidenciar talento. muitos adereços cênicos, figurinos pesados de corte,
Alça de Mira cabanas, bancos, flores etc. O segundo é imaterial.
Informal
Uma floresta que cria clima através da iluminação e um
Moacir Pereira
Espaço Virtual
Uma das grandes dificuldades em se interpretar a personagem é a elenco" branco", quase que exclusivamente feminino
Cláudio Prisco transição do primeiro para o segundo ato, quando, após um exaustivo que precisa estar totalmente parelho e muitas
manobras de cena para que o clima mágico aconteça.
2. AN Brasília início em que dança como "ser mortal", tem que se transformar em "ser
Livre Mercado Pois enquanto a platéia deliciase e os bailarinos
Raul Sartori espiritual". Há uma brusca mudança física e sentimental na personagem. A esmeramse para dar o melhor de si, a contraregragem
CADERNOS primeira bailarina a viver Giselle foi Carlota Grisi. Em Joinville, quem vai e a produção transpiram tanto quanto os artistas. É um
Anexo encarnar a personagem é Ana Botafogo, uma especialista em fazer a outro espetáculo que acontece das coxias para dentro.
Crônicas Vejamos em detalhes.
Cinema camponesa, principalmente nessa versão de Peter Wriht.
AN Cidade
AN Informática Para início de conversa, segundo Sonja Figueiredo,
AN Veículos O balé "Giselle" foi criado em 1841, sendo a segunda obra dentro do coordenadora administrativa do balé que está
AN Economia estilo romântico. Antes dele houve "La Sylphide", de 1832. Concebido acompanhando a montagem em Joinville , "não se tira
AN Tevê de casa para qualquer palco uma produção como
ESPECIAIS
com todos os ingredientes do Romantismo, como ingenuidade, pureza,
"Giselle", com 52 personagens e, que chega a reunir
Copa 98
inocência, misticismo e espiritualidade, em "Giselle" têm vez as razões do em cena, ao mesmo tempo, mais de 40 bailarinos". O
Grandes Entrevistas coração, os embates sentimentais. Tratase de uma tragédia envolta numa palco do Centro de Eventos Cau Hansen, segundo
Cruz e Sousa atmosfera misteriosa e sobrenatural, que está na origem do Movimento Sonja, preecheu os requisitos técnicos e de espaço
Joinville 148 anos
Romântico. É uma obra que vem encantando o público há mais de um para comportar um balé desse porte. Mesmo assim a
Festival de Dança
Recicle coordenadora diz que, como em "Giselle" tem muita
século e meio, e constituise num ponto de referência na história da dança. contraregragem e tudo precisa ser "vaptvupt",
SERVIÇOS
vários técnicos experientes do TM vieram
AN Pergunta
AN Pesquisa "Giselle" nasceu a oito mãos: do escritor Theóphile Gautier, do libretista acompanhando a produção.
Como anunciar Vernoy de SaintGeorges e da vivência dos coreógrafos Jean Coralli e
Classificados As armadilhas em "Giselle" são muitas e também muito
Assinatura Jules Perrot. A obra reflete uma nova estética e um novo conceito cênico:
sutis. Por exemplo: Giselle aparece, no segundo ato,
Mensagem o dramabalé, em que elementos do teatro se harmonizam com a dança. com um véu cobrindo o rosto, existe um tempo certo,
Edições 1999
Edições 1998
Sua coreografia, a música e seus figurinos se encaixam de forma na música e na coreografia, para a "puxada do véu",
Edições 1997 absolutamente perfeita. O resultado é um balé suave e ousado, em que é feita através de um fio de náilon invisível, que
AN Chat faz o adereço desaparecer, como num passe de
Loterias
fascinantes contrastes, que contrapõem o primeiro ao segundo ato. De um mágica. Mas, para que isso aconteça, o contraregra
INFO lado, o realismo do cotidiano, do outro, seres incorpóreos e imateriais responsável pelo véu têm de conhecer o balé e a
Índice adejam pelo palco. A música foi composta por Adolphe Adam e a música.
Expediente apresentação em Joinville utiliza uma gravação feita especialmente para o
Institucional
Festival, pela Orquestra Sinfônica do TM, sob regência do maestro Silvio Também as 30 Willis (incluindo a Rainha Myrtha) têm
AN Capital véus, que são retirados após as suas primeiras
NOTICIÁRIO Barbato. aparições e que não podem ficar pelas coxias, nem
Capa como "um elemento cênico extra e inesperado", no
Geral chão do palco. Ainda nesse segundo ato, dois
Última Página momentos de muita atenção para a contraregragem,
COLUNAS equipe técnica e bailarinos. O primeiro é a entrada das
Ricardinho Machado Morrer de amor numa Willis. Em teatro que tem fosso, elas surgem no palco,
Fala Mané transportadas pelo elevador. Por vezes, esse elevador
atmosfera misteriosa não chega bem no prumo e têm Willis tropeçando ou
se esforçando para chegar ao nível da cena.
O balé Giselle tem dois atos contrastantes. O primeiro,
realista. O segundo, imaterial, caracterizando as obras O outro, também nesse momento, é a entrada da
fumaça de gelo seco. Como a música está num
"brancas" do século passado pianíssimo, a cena quase vazia e absolutamente
silenciosa, as barras de gelo seco que são jogadas em
O primeiro ato de "Giselle" se passa numa pequena aldeia de camponeses, baldes de água quente, costumam fazer um barulhão
que vasa até a platéia. Sonja conta que a forma
no dia da festa da vindima, o fim da colheita da uva. Giselle é uma jovem encontrada para solucionar o problema foi
doce e humilde, filha de Berthe. A alegria de seu coração puro, acaba por absolutamente artesanal. "Colocamos panos no fundo
conquistar o amor de Albrecht, um Duque. Apaixonado, ele se veste de dos baldes mas, para chegarmos a isso, passamos um
bom tempo pensando e experimentando".
camponês e faz a corte à moça. Giselle, que acredita tratarse apenas um
rapaz da vila chamado Loys, apaixonase por ele. Devido às diferenças
Já o primeiro ato é preocupante porque têm uma
sociais e por ser o noivo de Bathilde, a filha do Duque de Courland, esse carroça, cestos de frutas que não podem despencar
amor jamais se realizará. Mesmo assim Albrecht mantém a farsa, pelo palco todas foram costuradas porque só a cola
alimentando as esperanças da encantadora jovem. não resolvia animais mortos (da caçada) e os trajes
complicados da corte, ninguém pode esquecer o
chapéu, os adereços etc.
Entra em cena Hilarion, o jovem guardacaças da vila, que também está
loucamente apaixonado por Giselle. Ele tenta interromper o idílio, Têm ainda uma margarida que Giselle desfolha, no
lembrando seu amor por ela. Mas Giselle, apaixonada por Loys, repele estilo bemmequer, malmequer que, pasmem, a
Hilarion, juntandose alegremente às suas amigas e companheiros. florzinha já deu muita dor de cabeça aos contraregras
e à própria Giselle. É apenas uma flor, mas é
responsável por toda uma cena do balé, e tem de estar
A chegada de uma grande comitiva de caça, encabeçada pelo Duque de no lugar certo, na hora certa. Pior do que isso, precisa
Courland e sua filha Bathilde, dá a Hilarion a oportunidade para agir. ser despetalada, mas não pode ser flor natural, porque
Preterido e despeitado, ele desmascara seu rival durante a festa da vindima as pétalas fariam os bailarinos escorregarem, e essas
pétalas precisam ser arrancadas.
da aldeia, em que a jovem amada é coroada rainha da colheita.
Surpreendida pela revelação, Giselle procura afogar sua desilusão numa Antigamente a margarida era de pano, a bailarina
dança frenética. Enlouquece e suicidase com a espada de Albrecht. zelosa, dentre mil preparativos que tem para a cena,
Assim, termina a primeira parte. precisava pegar uma tesoura, cortar quase toda a
pétala, para que no momento exato ela, sem ter de fazer
"uma quebra de braço com a flor", pudesse desfolhá
O segundo ato começa à meia noite, em meio a uma clareira na floresta, la com naturalidade. Atualmente utilizam flores de
um lugar sinistro, com árvores retorcidas e uma atmosfera de suspiros e papel, o que torna a operação bem mais simples. Mas
lágrimas. Ali se passa o baile mágico da Willis, espíritos de jovens que todas as outras flores do balé, e não são poucas,
continuam sendo de pano, para que não façam
morreram antes do dia do seu casamento. Para vingarse, elas se reúnem e barulho quando são jogadas no solo.
obrigam os rapazes que encontram pelo caminho a dançarem até a morte.
O procedimento dos bailarinos nas coxias, segundo a
Ritual das Willis coordenadora Sonja, pode ser "traiçoeiro e perigoso".
" Os bailarinos não podem dar mole com o figurino
nas coxias". Para que isso não aconteça, sempre fica
Neste lugar, Hilarion está de vigília, na sepultura de Giselle. Surge uma alguém da equipe técnica policiando as coxias. Senão,
sombra transparente e pálida. É Mirtha, a rainha das Willis. Em seguida acrescenta Sonja, tem saia que entra em cena antes do
3. surgem outras Willis que se agrupam graciosamente em torno dela. Então, tempo, têm gente que segura na torre de luz para fazer
aquecimento, o que pode dar sombra e desafinar a luz.
elas tiram Giselle de sua sepultura para iniciála em seus ritos. Albrecht
"Parece um jardim da infância", brinca Sonja e conta
chega trazendo flores e Giselle surge para ele, que tenta pegála, mas ela que os acidentes mais comuns são: bailarinos que
desaparece e ele sai à sua procura. entram pelas coxias atropelando o regulador, torres de
luz fora do lugar e adereços extra na cena, como
toalhas que o bailarino esqueceu de tirar do pescoço e
Neste momento, Hilarion é pego pelas Willis. Mirtha, a rainha, ordena que acabam no chão do palco, garrafas de água e
ele dance até à exaustão. As Willis começam então uma orgia alegre, imprevistos na maquinaria.
dirigida por sua rainha triunfante, quando uma delas descobre Albretch e o
traz para o círculo mágico. Mas no momento em que Mirtha vai tocálo, Também os camarins precisam de atenção. Em
Giselle se lança na frente de Albretch, protegendoo com a cruz de seu "Giselle" existe apenas um intervalo de 15 minutos,
entre um ato e o outro. Nesse tempo, o elenco troca
túmulo, até o momento em que surge a aurora, quebrando o poder da todo o figurino, as moças trocam toda a maquiagem
Willis. (do rosto e do corpo) e também o penteado. Isso
enquanto na cena todo o cenário está sendo trocado.
É certo que nos camarins também acontecem
Ballet do Theatro Municipal acidentes. Tem sempre a bailarina mais lenta, que
demora mais na troca, tem a que esquece do adereço
é a maior companhia brasileira do cabelo, tem a que resolve passar na cantina para
pegar alguma coisa e perde o sinal. Tem ainda o "tutu"
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro, foi fundado em 1909 e passou a que arrebenta a alça, a sapatilha que some, ou o
ter uma Escola de Dança em 1927 e um Corpo de Baile oficial, em 1936, bailarino que se machuca . Em suma, existe todo um
policiamento para que nada disso ocorra.
criado pela bailarina Maria Olenewa. Até então, só pisavam seu palco
bailarinos estrangeiros, contratados, muitas vezes, por companhias de Os primeiros bailarinos ganham camarins especiais,
ópera. Nos seus 63 anos de vida profissional, o Ballet do TM se com camareira a postos, maquiadores e cabeleireiros.
desenvolveu junto com a dança do país. Mas o corpo de baile fica no que chamam de
"favelão", os camarins coletivos, onde a conversa rola
solta, brincadeiras e até brigas acontecem. O local é
Ao longo desse tempo, formou bailarinos de prestígio, um repertório bem mais vulneráveis a esses pequenos acidentes. É
importante e se apresentou com grandes estrelas mundiais da dança. E, com essa turma, normalmente com os mais jovens
mesmo seguindo a linha clássica, não desconheceu propostas mais integrantes da companhia, que a equipe do bakstage
está sempre alerta. Afinal ninguém nasce sabendo,
modernas e inovadoras. especialmente as sutilezas e complexidades de uma
grande produção como "Giselle".
O Ballet é um dos três corpos estáveis do Theatro Municipal ao lado da
Orquestra e do Coro com cerca de 80 figuras entre primeiros bailarinos, O camarim de Ana Botafogo
solistas, corifeus e corpo de baile. Para dar início à companhia, foram
contratados maîtres de balé e coreógrafos como Vaslav Velchek, Yuko Ana Botafogo e a personagem Giselle são o que pode
Lindemberg, Juliana Yanakieva, Tomy Armour e Maryla Gremo. se chamar de amigas íntimas de longa data. Nessa
temporada, Ana está completando 22 anos de
interpretações em "Giselle", um dos maiores carros
Em conseqüência dessa atuação do TM, a dança passou a se desenvolver chefes da carreira da grande bailarina brasileira. Giselle
no país. Ainda no seu ano de fundação houve uma primeira temporada do foi o primeiro grande papel que Ana Botafogo
balé nacional. interpretou em sua carreira, quando ainda dançava no
Teatro Guaíra, de Curitiba, em 1977. Foi esse balé que
lançou a bailarina no Brasil, tornandoa conhecida do
O Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, nestes 63 anos, grande público.
trabalhou com nomes representativos da dança como Leonide Massine,
George Skibine, Tatiana Leskowa, Eugenia Feodorova, Milko Ana é a bailarina brasileira que mais dançou Giselle na
Sparambleck, Peter Wriht, entre outros A companhia formou bailarinos vida. Por outro lado, esse é o balé que Ana mais
dançou na sua carreira tendo, inclusive, interpretado a
brasileiros de prestígio internacional. peça em Cuba, como artista convidada e sob a
supervisão artística da própria Alicia Alonso.
Para exemplificar, basta lembrar Aldo Lotufo e Bertha Rosanoca uma
das mais famosas duplas da dança brasileira ; Márcia Haydée, diretora e A estrela brasileira conta como "carrega a
personagem", antes porém, adianta que "cada dia é
estrela máxima do Ballet de Stuttgart, por muitos anos. Nos tempos atuais
diferente do outro, sempre um espetáculo novo".
foram formadas Ana Botafogo, Cecília Kerche, Nora Esteves, Áurea Segundo Ana, o grande desgaste em Giselle corre por
Hammerli e mais toda uma nova geração de bailarinos de primeira linha conta do lado emocional. "Na cena da loucura , quase
que está despontando. ao final do primeiro ato, começa o meu grande
desgaste. Essa cena mexe muito com a bailarina,
desperta sentimentos, sobrecarrega e, daí em diante,
Companhia essencialmente clássica, o TM também fez história com 'Giselle' é um balé que continua com uma carga muito
trabalhos inovadores. A começar pelo amplo repertório que o genial intensa até o último acorde. Termino de dançar
Leonid Massine deixou para a casa. Na década de 60, Harol Lander depauperada. Não fisicamente, embora as exigências
técnicas e de estilo sejam também cansativas, mas
remontou para a companhia carioca "Étude", um trabalho de linhas emocionalmente", conta Ana.
consideradas modernas, na época. Nos anos 70 e 80 o coreógrafo
argentino do Theatro Colon, Oscar Araiz, trabalhou bastante para o TM. No primeiro ato, a bailarina que faz Giselle, fica em
Deixou um bom legado coregráfico para a casa. cena praticamente o tempo inteiro, tendo só dois
momentos para tomar um ar. O primeiro no pasdesix e
o segundo quando entra na casa, enquanto a corte
A destacar as coreografias "Cantabile" e Magnificat". Posteriormente está em cena. "Mas não canso, Giselle tem muitos
Norbert Vesak veio ao Brasil coreografar "A Sagração da Primavera" pequenos saltos, é uma aeróbica de baixo impacto,
para o TM e Rodrigo Pederneiras coreógrafo e fundador do Grupo mas da cena da loucura em diante é fogo", confessa a
bailarina do alto da sua experiência de 22 anos
Corpo montou "Concerto" para a companhia carioca. Renato Magalhães
interpretando o papel.
e Gilberto Mota também fizeram importantes trabalhos para o TM, sendo
que Gilberto foi um dos primeiros coreógrafos modernos a trabalhar para No segundo ato, a bailarina não entra de imediato, mas
a casa. Montou "Gabriela", dentre outras coreografias. depois que entra, não sai mais de cena. E Ana repete:
"É um ato muito difícil, precisa de muito clima". É
também neste ato que Ana diz acontecerem as
Nos últimos oito anos o TM tem aberto suas portas para propostas mais "grandes trombadas cênicas". Nada de grave, apenas
vanguardistas de coreógrafos brasileiros. Dentre eles destacamse os imprevistos normais de um grande balé. "No segundo
trabalhos de Rodrigo Moreira (prata da casa) e de Deborah Colker. ato tenho muitas entradas e saídas das coxias. Em
algumas tenho menos de quatro tempos musicais para
4. me deslocar de um lado para o outro. Como as 30
Alguns dos maiores bailarinos do mundo dançaram com o BTM. A Willis também tem entradas e saídas, muitas vezes
ressaltar Margot Fontayn, Rudolf Nureyev, Alícia Markova, Fernando existem trombadas no fundo do palco", relata Ana.
Bujones, Zhandra Rodriguez, dentre outros.
Desgaste duplo
O repertório da companhia é composto por inúmeros títulos, entre eles
estão: "Giselle", "O Lago dos Cisnes", "Les Sylphides", "Don Quixote", "La Se em cena o balé é desgastante, no camarim não é
Fille MalGardée", "O Pássaro de Fogo", "Petroushka", "Romeu e Julieta", diferente. "Tenho um intervalo de 15 minutos para
trocar a roupa, a maquiagem, o cabelo, os acessórios e
"Coppélia", O "Quebra Nozes", "La Sylphyde", "A Bela Adormecida", cuidar da minha própria contraregragem, antes de
"L'Aprésmidi d'un Faune", "Sagração da Primavera" e voltar ao palco para o segundo ato. Para essas tarefas
"Serenade" (remontagem da obra de George Balanchine). Ana tem sempre uma camareira, um maquiador e um
cabeleireiro à disposição. "Não é luxo, é necessidade",
explica a bailarina que na verdade é de poucas
As montagens de dança do TM, nesses 63 anos, recebeu contribuições de exigências. "Preciso ficar pronta até sentir que Myrtha
cenários e figurinos de celebridades como Picasso (em "Le Tricorne"), (a Rainha das Willis que abre o segundo ato) entrou
André Derain, Washkevich, Benois, e dos brasileiros Santa Rosa, em cena. Quando escuto a música da Myrtha coloco a
roupa e as sapatilhas e estou pronta".
Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues e Joel de Carvalho.
Tudo isso deve ser feito sem quebrar o encantamento
Dalal Achcar: "Giselle é que possui um artista entre um ato e o outro. O que
quer dizer. Ele não pode se estressar com "problemas
um marco cultural para o Festival" internos" ao ponto de sair do personagem. É por esse
motivo que Ana prefere pensar em outra coisa e ter um
profissional competente ao seu lado. "Se ocorrer um
Dalal Achcar é Presidente da Fundação do Theatro Municipal do Rio de acidente com a roupa, prefiro ficar tranqüila e deixar o
Janeiro pela terceira vez, desde fevereiro. Carioca, uma das principais profissional da área atuar, as coisas costumam andar
personagens da dança brasileira, deu seus primeiros passos de balé sob melhor assim", fala a experiente bailarina. Uma das
orientação de Pierre Klimoff e aperfeiçoouse em Nova Iorque, Londres e grandes preocupações de Ana Botafogo é com as
flores que precisa ter em cena. "São três tipos:
Paris. Com três participações no Festival de Joinville. Uma foi Primeiro dois ramos, depois um ramalhete e, por fim,
homenageada, outra, convidada, trouxe sua companhia profissional, a uma única flor que ela deixa para Albrecht, no final do
Associação de Ballet do Rio de Janeiro, para uma apresentação especial. balé. Ana Botafogo, independente da estrela que é, é
Agora, traz o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. uma pessoa pouco exigente e muito cuidadosa com os
seus personagens. É ela quem se preocupa com todos
os detalhes. Das fitas das sapatilhas à sua garrafa de
Para Dalal, a apresentação dessa montagem completa de "Giselle", feita água. Diz a bailarina que, quando atua como artista
especialmente para Joinville, é histórica para o Festival, principalmente convidada, costuma ser "muito mimada pelas
produções".
porque vai dar "outra dimensão ao público e aos jovens que nunca viram
uma montagem profissional" de um dos balés clássicos mais importantes
A única queixa de Ana Botafogo é não poder dançar
dançado pela mais importante companhia de balé do Brasil. "Me sinto com a orquestra aqui em Joinville. Reclama com
muito feliz em levar "Giselle" a outros brasileiros fora do Rio de Janeiro", convicção com o endosso do maestro Sílvio Barbato
confessa Dalal. que regeu as récitas de Giselle, no Rio. "Eu me guio
pela batuta do maestro. Adoro olhar para o fosso e
saber que tem uma orquestra lá. Na verdade só vejo a
Acostumado a assistir apresentações fragmentadas de dança clássica, com pontinha da batuta, mas é quando a batuta arreia que
"Giselle" o TMRJ vai proporcionar, segundo Dalal, um congraçamento sei a hora de colocar o meu pé no chão", explica a
entre os jovens bailarinos que aspiram uma carreira profissional na dança bailarina que é considerada por 10, entre 10, como a
mais musical que já pisou o palco do Theatro
clássica. Municipal.
Nureyev Essa é Ana Botafogo, 22 anos de Giselle, 19 como
primeira bailarina do TM e que confessa até hoje:
"Antes de entrar em cena, ainda sinto um friozinho na
Além disso, Dalal considera também essa apresentação um marco cultural
barriga". (SB)
para Joinville poder assistir "uma das mais bonitas produções do balé
clássico do mundo". Antes de chegar em Joinville, "Giselle" fez uma
temporada no Rio de Janeiro com 10 apresentações em que os bailarinos
foram ovacionados pelo público carioca. Casa da Cultura mostra quatro
coreografias
Dalal Achcar é responsável, entre muitas outras importantes produções,
pela primeira visita do bailarino Rudolf Nureyev ao Brasil, em 1967, com Grupo de Joinville vem participando e
quem se apresentou ao lado de Margot Fonteyn. Além disso, investiu, ganhando prêmio nas últimas edições do
quando esteve à frente do TMRJ, em reformular o repertório da Festival
companhia, com obras consagradas como "Romeu e Julieta", "Coppélia" e
"Giselle", que o público do Festival de Dança vai aplaudir em pé. E pedir A Escola Municipal de Ballet da Casa da Cultura de
para voltar outras vezes. Joinville vai participar das noites competitivas do 17º
Festival de Dança de Joinville com os seus grupos
Cidade de Joinville e Juvenil, que defenderão duas
coreografias cada um. O Cidade de Joinville concorre
na categoria Avançado I com um Trio Livre, e na
Uma obra completa na hora Sênior, com um Solo. O Juvenil, que compete na
Júnior, mostrará um Duo Clássico e um Conjunto
certa e no palco adequado Contemporâneo.
O grupo Cidade de Joinville, até 1998 denominado
Mudança de clima já é nítida desde os preparativos Experimental, vai concorrer com uma variação de
clássico de repertório. É uma variação de "Paquita", na
Suzana Braga versão do Kirov, que será interpretada pela bailarina
Raquel Steglich. "É a primeira vez que uma escola de
Joinville participa do festival com uma variação de
Pela primeira vez, o público de Joinville, ou o que freqüenta o Festival de clássico de repertório. É inédito dentro da própria
Dança terá a oportunidade de ver uma obra completa. No caso o balé Escola de Ballet da Casa da Cultura", destaca a
Giselle, versão do inglês Peter Writh (segundo Jean Corali e Jules Perrot), diretora artística do grupo e supervisora da escola,
5. cenários do também inglês Peter Farmer,com o elenco do Theatro Maria Antonieta Spadari. O Trio Livre vai competir
com a coreografia "Referência", de Sigrid Nora. Ela foi
Municipal do Rio de Janeiro. Nos papéis principais estarão: Ana a responsável pela coreografia do filme brasileiro "O
Botafogo, como Giselle; Maecelo Misailides, como Albrecht e Renata Quatrilho" e é a atual diretora da Companhia
Versiani, como Myrtha, a Rainha das Willis. Municipal de Caxias do Sul (RS). Representam
"Referência" as bailarinas Adriana dos Reis,
Alessandra Hilário e Raquel Steglich. As duas
Já era hora. O Festival está atingindo a maior idade, o palco do Centro de coreografias passaram pela seleção para poderem
Eventos está apto para receber uma produção desse porte e o público participar do festival porque no ano passado o grupo
deve, e merece, assistir a um balcé inteiro, com todas as nuances que ele não obteve colocação.
pode oferecer, com os encantos proporcionados por uma iluminação
Em 1997 a equipe, com o nome Experimental,
especial ( no caso a criação é de Ruben Conde), a mágica do entra e sai conquistou o primeiro lugar no Conjunto
de cenários, a elegância dos figurinos que caracterizam um estilo em Contemporâneo com o "Correndo Atrás de Mim", de
Giselle o Período Romântico dentre outros tantos detalhes, todos Mário Nascimento, no Amador II. O Juvenil, formado
igualmente ricos. A escolha do balé Giselle, encenado pelo Corpo de Baile em 1997, já tinha vaga garantida para o Conjunto
Contemporâneo devido ao segundo lugar que
do TMRJ é uma feliz escolha, visto que a peça de 158 anos é um dos conquistou no ano passado com a coreografia
marcos do repertório de qualquer grande companhia do mundo e, no "Transição". Não foi a primeira conquista. Em 97, na
caso, o Ballet do Theatro Municipal, sabe apresentála com qualidade sua primeira participação no festival, obteve também
internacional. um segundo lugar com "Espelhos da Alma". Neste
ano, o grupo, formado por 13 bailarinas, apresentará a
coreografia "Weltlos Fragmentos". Todas elas foram
Preparativo criadas pelo coreógrafo Marcos Sage, que é também o
coordenador do grupo Juvenil. No Duo Clássico, as
bailarinas Luciana Voltolini e Ana Carolina Leimann
Antes mesmo da estréia, o palco do Centro de Eventos , já apresentava apresentam "Dueto para Sílvia".Em dois anos de
um clima totalmente diferente do habitual. Transformavase, graças à formação, o grupo já obteve nove premiações, duas
afinação de refletores, à instalação dos cenários e à preocupação de uma em Joinville, uma na Bahia, três em São Paulo e mais
equipe técnica com detalhes importantes, num palco humanizado, vestido e uma em Assunção, Paraguai. Em setembro, participa
do Festival de Dança de Santa Maria (RS).
pronto a abraçar uma grande obra e uma grande companhia. O público,
sem dúvida, perceberá esse " clima novo" de imediato e, melhor do que
isso, poderá ver o desenrolar de cena após cena o que vai prmitir uma
observação mais detalhada, mais aprimorada, dos bailarinos principais e A dança está nos muros da cidade
também do corpo de baile.
Artistas dão cor e forma através do projeto
Uma lição de estilo Murarte
No primeiro ato de Giselle, cada cena vai intensificando o clima da A arte está modificando Joinville. Muros coloridos,
tragédia eminente ante a impossibilidade de união da bela e frágil polêmicos, alteram a paisagem urbana. O projeto
camponesa Giselle, como o nobre Albrecht ( disfarçado de camponês Murarte vem ao encontro do Festival de Dança,
trazendo artistas de renome nacional para ilustrar
Loys), que culmina com a locura e a morte da moça. É muito interessante ainda mais a sua importância. Vários muros, no centro
poder observar o tom dramático que começa a se delinear, mais ou da cidade, estão sendo pintados por eles, tendo como
menos, na metade desse ato, e que recebe o apoio de todo um elenco e tema principal os bailarinos.
recursos cênicos específicos, como luz, trajes etc. Mais importante ainda é
ver uma bailarina como Ana Borafogo conduzindo sua personagem. Na rua Otto Boehm, podese encontrar o mais
polêmico destes murais. Idealizado pelo artista
plástico Charles Narloch, mostra bailarinos sob a
Em determinado momento a bailarina Ana dá passagem para a Ana triz e perspectiva da sexualidade masculina e feminina. Filho
ambas fundemse, a tal ponto que, é difícil descobrir aonde começa atriz e da terra, Fúlvio Colin mora atualmente em São Paulo.
Trabalha com a temática de figuras humanas.
termina a bailarina e viceversa. A partir desta constatação evidenciase o
Bailarinas de sua autoria podem ser encontradas em
drama/balé que marcou o Romantismo e que caminha até os dias de hoje. seu painel na rua 15 de Novembro.
O segundo ato, misterioso e branco, é uma lição de estilo e de época. É Máscaras e paisagismo urbano. Esse é o tema de
nele que caracterizase o "balé branco", o reino das Willis, Sílfides e inspiração de outro artista joinvilense, Luciano da
Costa Pereira. Seu trabalho pode ser apreciado na rua
Ninfas, do Período Romântido. Costumase dizer que no segundo ato de Alexandre Doehler, em frente à entrada do Ielusc.
Giselle existem quatro grandes estrelas para brilhar: A Giselle, agora pura
alma, imaterializada e que deve dançar tão leve quanto um sonho; Myrtha, Muita cor vermelha para mostrar a excitação dos
a Rainha das Willis, altiva e misteriosa; Albrecht que é envolvido por esses bailarinos chegando. Essa é a tônica do painel pintado
seres e o Corpo de baile. Se, por um lado cabe a Giselle, Myrtha, por Linda Pool. A figura humana estilizada de Linda
pode ser vista no muro ao lado do Fornão, na rua
Albrecht e também Hilarion (o primeiro namorado da camponesa) Visconde de Taunay. Marcos Jardim irá pintar
defender os papéis principais, com técnica e estilo dificilimos, por outro tapumes. Sua obra ainda não possui data para ser
cabe ao corpo de baile um verdadeiro exército de almas brancas entregue, mas será feita em um muro na rua Blumenau
segurar toda a estrutura do ato. Em poucas palavras, o corpo de baile, com a rua Lages.
nesse ato é tão importante quanto a Giselle. E, se ele naufraga,muito do
O Murarte é, segundo Linda Pool, diretora da Casa da
.. encanto do balé se perde. Cultura, uma parceria dos artistas plásticos, em relação ..
ao Festival de Dança. Como a dança não está só no
Centreventos, os artistas acharam por bem fazer essa
manifestação. A escolha dos artistas se deu pelo fato
de serem atuantes e envolvidos com pinturas. Para
Ainda tem ingressos Linda, a cidade é quem ganha com o Murarte, pois
após o período do Festival, os painéis permanecerão
para a noite de estréia enfeitandoa. Ela apenas lamenta o fato de não haver
mais muros disponíveis para uma maior manifestação
Mais de 100 grupos da América Latina em oito noites de artística.
competição
Para quem não adquiriu ingressos, ainda há tempo. Até o início da tarde
de ontem, havia mais de mil ingressos para as arquibancadas e ainda era AN Manchetes
9. Mas a moça não se acovarda. "Eu adoro dançar com a Ana, ela me
estimula, ela é uma bailarina incrível. No segundo ato de Giselle ela me
olha, ela pede, suplica pela vida do seu amado (Albrecht) Intrepreta de tal
forma que chega a 'viver' a personagem. Isso me estimula muito e não
tenho como deixar por menos, encaro a cena e vou 'vivendo' também.
Afinal o sonho de toda a Myrtha é acabar com a Giselle", brinca Versiani,
e arremata. "Entretanto se algum dia isso acontecer vou dizer: Sinto muito
Ana mas é graças a você que a minha Myrtha engoliu a sua Giselle.
Dançar com a Ana é uma verdadeira aula", explica Renata.
Interpretação
A bailarina continua narrando a forma que utiliza para compor a sua
interpretação. "A Myrtha só entra no segundo ato então, já pronta, vou
para a coxia assistir a 'cena da loucura' da Giselle. Ela me inspira, me
enche de energia. É verdade que chego a tremer confessa a jovem , mas
não entro nessa onda. Quando piso na cena o medo ficou na coxia. E
entro consciente de que naquele território (o das Willis) quem manda sou
eu. É a Myrtha quem vai determinar a ação do segundo ato", explica
Versiani e acrescenta mais detalhes enriquecedores para o público.
"Bailarinos também pensam em cena. De repente passa pela minha cabeça
um pensamento: Quem é "aquelazinha" ( Giselle) que acabou de entrar no
meu mundo e já está me afrontando? É assim que seguro a altivez da
minha personagem. Nessa hora esqueço que estou diante de uma estrela,
de um corpo de baile completo, das hierarquias , de bailarinos convidados
ou do que mais vier", completa Renata.
A propósito a jovem estrela disse que nunca sentiu medo ou amarelou ao
contracenar com astros famosos. "Acho que se me escalam e me colocam
para contracenar com pessoas desse peso artístico é porque devo estar à
altura. Não posso me entregar ao medo. Sei que uma estrela como a Ana,
por exemplo, têm de sustentar todo um balé, todo um corpo de baile. E
ela sustenta. É admirável porque quanto mais ela vai dando mais o elenco
vai respondendo. Mas eu também sou responsável por carregar esse balé,
tenho de dar conta do meu 'exército' de almas brancas e tenho de manter a
Giselle submissa. Então personagens principais têm de serem cúmplices,
um vai crescendo com o outro", finaliza.
Esta é a primeira vez que Renata Versiani dança em Joinville. A propósito,
nunca esteve sequer na cidade. " Me sinto como um ET por nunca ter
passado por Joinville. As únicas coisas que imagino sobre a cidade é que
deve fazer muito frio, o que me preocupa, e que respire dança por todos
os cantos, isso é ótimo".
Conta ainda a bailarina que está um pouco ansiosa para pisar no palco de
Joinville. "Fazer um primeiro papel na "cidade da dança" é uma grande
responsabilidade. Estou ciente do peso que o palco de Joinville adquiriu
com esse festival que se tornou internacional".
A ausência de Renata Versiani nos festivais de Joinville é justificável. "Eu
nunca participei de nenhum concurso. Posso explicar essa fato porque
curti muito bem a minha adolescência, eu gostava de aproveitar a vida, de
passear, de ir para boates, namorar. Em suma, eu não vivi uma
adolescência de bailarina e, quando me dei conta de que queria me tornar
uma profissional, já estava com 14 anos, estagiando no Corpo de Baile do
TM" explica a jovem. Mas se Renata tem toda essa segurança e altivez no
palco, independente da sua pouca idade, na vida real as coisas não são
bem assim.
Dividir o camarim com Ana Botafogo, como aconteceu na recente
temporada do TM, não deixou Renata exatamente à vontade. "Foi muito
bom, tive conselhos e diria que "aulas" extras, mas ainda fico "grilada". A
toda a hora perguntava para a Ana se a estava incomodando, deixava o
chuveiro primeiro para ela, pisava um pouco em ovos. Sim, continua,
porque quando entrei no Theatro a Ana para mim era uma deusa, nem
ousava me aproximar. Com o tempo a própria cumplicidade cênica que
ela me cobrou, acabou por nos aproximar e acabou no diaadia".
A jovem sabe que é, de maneira sutil, a "eleita" da superestrela Ana
Botafogo na safra de novos bailarinos. "É verdade, ela me orienta, me