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TECNOLOGIA

1

co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 || 3 0
co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 3 1
2

E-READERS
A revolução da
imitação do papel

Editores, livreiros e escritores avançam na discussão sobre
o fim do livro impresso e defendem que o mercado de
e-books é um bem-vindo caminho irreversível
texto Márcia Lira

co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 1
con
TECNOLOGIA
ti
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te
divulgação

douglas luccena/divulgação

	 1	 mercadO
O diretor de
operações da
Cultura, Sérgio
Herz, lembra que
há seis anos não
se vendia livros
digitais no país
	 2	 gato sabidO
Carlos Eduardo
Ernanny lançou
a editora apenas
com e-books
e leitor digital
próprios
	 3	 ALICE para o IPAD
Em estilo de
marketing viral,
propaganda do
e-book Alice
no País das
Maravilhas, de
Lewis Carrol,
tem milhares
de acessos no
Youtube

1

A revolução no consumo da

música, ocorrida à revelia de tanta
gente, desconstruiu conceitos e abriu
passagem para outro terremoto. Desta
vez, no mercado editorial. Sorte
que a experiência anterior deixou
algumas lições: ninguém quer seguir
o mau exemplo das gravadoras, que
subestimaram o poder do MP3 e
colheram prejuízos. Então, editoras,
livrarias, autores e leitores entendem
que livros eletrônicos e leitores digitais
são um caminho sem volta. O difícil é
saber onde esse caminho vai dar.
O fato é que não há como
negar o potencial do e-reader – um
equipamento menor, mais fino e
mais leve que um netbook, com
bateria de longa duração e capaz de
carregar uma biblioteca inteira de mais
de mil títulos para qualquer lugar.
Ora, a nova geração deles usa uma
tecnologia que imita o papel físico e,
assim, derruba o principal argumento
de resistência – a dificuldade de
leitura em telas eletrônicas.
São displays da fabricante E-Ink,
mais agradáveis aos olhos por
não refletirem a luz. Esses leitores

2

permitem fazer o download de um
livro no formato digital com alguns
cliques e poucos segundos. Levam,
ainda, uma pitada da tecnologia DRM
(Digital Rights Management), que
impede cópias ilimitadas dos e-books
através de criptografia. Os avanços
os tornaram atraentes e empresas
gigantes pelo mundo não param de
lançar modelos, renovando o fôlego
dos livros digitais.
Apesar dos holofotes recebidos
recentemente, as obras em arquivos
eletrônicos estão longe de serem
novidade. Vagam pela internet há
décadas e remontam a 1971, quando
o Projeto Gutenberg – grande biblioteca
online, resultado de um esforço
voluntário – disponibilizou os
primeiros títulos na web. O diretor de
operações da Livraria Cultura, Sérgio
Herz, lembra que o site da empresa
oferecia e-books há uns seis anos. “Não
vendia nada”, diz.
E hoje? Herz responde, sem
divulgar números, que “não dá nem
para comparar. É outro mundo”.
Certamente, as rápidas transformações
da sociedade, agora ultraconectada e

co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 2
3

tecnológica, deram mais sentido à ideia
do livro virtual. O novo cenário levou
a empresa a lançar cerca de 20 mil
títulos em vários idiomas. Mas, apesar
da decisão, o diretor acha difícil definir
como lidar com o novo mercado.
“A gente não sabe qual o tamanho
dele. Se o consumidor vai ficar bem
ou não diante dessas novidades.”

NEGÓCIOS EM QUESTÃO

A dúvida de Herz é apenas uma
entre as que pairam nas cabeças
dos que jogam as cartas do setor no
Brasil. Quanto o leitor está disposto
a pagar por um livro digital? Os
e-readers são realmente imunes à
pirataria? E o percentual do autor?
Qual o modelo de negócio ideal?
“Não se sabe ainda como funcionará,
ao mesmo tempo em que ninguém
tem dúvida de que será em termos
ainda não estabelecidos e sequer
imaginados. Precisamos ser muito
maleáveis e dispostos a rever nossos
paradigmas de negócio”, comenta
Iuri Pereira, da editora Hedra, que
está em fase de preparação para
comercializar obras eletrônicas.
reprodução

3

A editora Conrad se adiantou como
a primeira brasileira a lançar um livro
em quadrinhos para o iPad, com Sábado
dos meus amores, do niteroiense Marcello
Quintanilha. Mesmo não sendo um
e-reader, o computador de mão da
Apple agrega a função, entre várias,
com a sua portabilidade e design em
forma de prancheta. O lançamento
de uma versão colorida e animada de
Alice no País das Maravilhas para o tablet
reforçou a sua função de suporte para
livros multimídia.
Mais dois quadrinhos vão estar
disponíveis em breve para os adeptos
do iPad, segundo o diretor editorial
da Conrad, Rogério de Campos:
Chibata – João Cândido e a revolta que
abalou o Brasil e o romance dele,
Revanchismo. As investidas, segundo
Rogério, não significam que o
equipamento virou um foco. “Para
focar, é preciso ter certeza, para ter
certeza é preciso entender. Estamos
naquele momento em que o negócio
é fazer para depois entender.”
Esse parece ser o raciocínio que
norteou o empresário Carlos Eduardo
Ernanny ao lançar a Gato Sabido. A

Até o momento,
equipamentos como
Sony Reader ou o
próprio iPad ainda
não estão disponíveis
para venda no Brasil

referência ao suposto complexo
de inferioridade do brasileiro. As
vantagens dos e-books são citadas pelo
empresário com a própria experiência:
“Eu fui para a Europa e pela primeira
vez levei só um e-reader com 30 livros.
No meio da viagem, eu decidi que livro
eu queria ler”.

e-bookstore entrou no mercado editorial
brasileiro comercializando o próprio
leitor digital Cool-er e apenas livros
eletrônicos. Cansado do mercado
financeiro, no qual trabalhou por
17 anos, e amante da literatura,
ele resolveu investir, após várias
pesquisas, nos livros sem papel. “Todo
mundo sempre soube que o e-book
algum dia iria acontecer”, diz.
A empresa surgiu na mesma época
em que os e-readers começaram a
pipocar pelo mundo, no final do ano
passado. Fato que colaborou, acredita
Carlos Eduardo, para “acordar”
concorrentes e parceiros no país,
evitando a famosa “síndrome do viralata” – termo tomado emprestado
do escritor Nelson Rodrigues, em

As questões ainda sem resposta
deixam morno um negócio em plena
febre em países como os Estados
Unidos. Para começar, o Cooler é um dos poucos três e-readers
comercializados oficialmente no Brasil
até o momento, junto com o Kindle, da
Amazon, e o pernambucano recémlançado Mix Leitor D (leia no quadro
da página 36). Equipamentos como
Sony Reader ou o próprio iPad ainda
não estão disponíveis no país.
Os preços deles também não são
muito atraentes: o mais em conta é
o Cool-er, que sai por R$ 750, o Mix
Leitor D custa R$ 990 e o Kindle vale
cerca de R$ 1 mil. Outro entrave é a
quantidade tímida de obras digitais em
português. Dos 20 mil títulos lançados

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VERSÃO BRASILEIRA
con
TECNOLOGIA
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te
reprodução

MODELO DE
leitor digital
PERNAMBUCANO
Há um público que pode ser
especialmente beneficiado com os
e-readers e livros eletrônicos. Imagine um
estudante indo para o colégio: na mochila,
todos os livros didáticos guardados num
leitor digital de apenas 300 gramas.
Situações como essa inspiraram a criação
do Mix Leitor D, o modelo pernambucano
lançado em junho. Ele é produto de dois
anos de desenvolvimento do hardware
pela Mix Tecnologia e do conceito voltado
para a educação, pensado pela Carpe
Diem Edições e Produções.
Se considerarmos que o Brasil é o
maior mercado consumidor de obras
didáticas do mundo, a aposta é acertada.
Na configuração, o aparelho não deixa a
dever a nenhum concorrente, com a tela
de papel eletrônico de seis polegadas
e teclado QWERTY. Suporta até 16 GB,
com cartão de memória, conexão Wi-Fi e
aceita vários formatos
de e-books, além
de outras mídias
como áudio MP3
e imagens JPG. A
bateria deve atender
às necessidades
do público, pois
permite a troca de
até oito mil páginas.
Possui dois
softwares
patenteados
100% nacionais: o
Interquiz e o WiAA. O primeiro
permite buscar questões sobre
o conteúdo lido na hora, respondendo a
perguntas e visualizando respostas. O
segundo é uma rede acadêmica, na qual
é possível conferir notas, horários, diários
de presença.
Os destinos do primeiro lote do
equipamento foram as pré-vendas e
as parcerias firmadas antes mesmo
do lançamento com colégios, cursos,
empresas de mídia. A grande maioria fora
de Pernambuco.
Um dos destaques do equipamento,
segundo o diretor da Carpe Diem e
idealizador da Fliporto, Antônio Campos, é
o fato de ser híbrido: possibilita a aquisição
de conteúdo no portal próprio, com
conexão à internet, e também através
de arquivos via entrada USB. Chega ao
público em geral por R$ 990. Site: www.
mixleitord.com.br (M L)

4

pela Livraria Cultura, nem 100 são
no nosso idioma. Técnicos e infantis
são a maioria, autores de literatura
conhecidos são poucos. É um A cidade
ilhada (R$ 24,50), de Milton Hatoum,
aqui, um recém-lançado Leite derramado
(R$ 29), de Chico Buarque, ali.
Um pouco mais generosa com
a língua portuguesa, a Gato Sabido
disponibiliza cerca de mil obras no
idioma, segundo Carlos Eduardo, de
um total de 100 mil. Porém, quem
for procurar um best-seller talvez
não ache: além de livros técnicos,
boa parte do acervo é de novos
autores – que contam com um
canal para oferecer suas obras sem
intermediários. Mas tudo indica que
essa é uma fase passageira. Afinal, até
a Google anunciou ter um e-reader em
desenvolvimento e prometeu lançar
uma loja de livros digitais.
Ponto para o acervo público, que
representa um reforço significativo
ao disponibilizar milhares de obras
gratuitamente para download. A
biblioteca digital mais antiga é o
projeto colaborativo Gutenberg, que
reúne mais de 30 mil obras em
domínio público. Basta entrar no
site, buscar e baixar. Em português,
encontra-se Machado de Assis à
vontade, além de Eça de Queiroz, Júlio
Verne, Shakespeare, Dostoiévski.
Outra coleção importante é a
Brasiliana digital, da USP, da qual
constam centenas de títulos, inclusive
a coleção de livros e documentos raros
doados à universidade pelo falecido

co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 4

A biblioteca digital
mais antiga é o
projeto colaborativo
Gutenberg, que reúne
mais de 30 mil obras
em domínio público
bibliófilo José Mindlin. Gradualmente,
as obras são convertidas para o
formato e disponibilizadas. Uma
aquisição recente do espaço
virtual foi a obra poética completa
de Vinicius de Moraes.

SOB DEMANDA

Ao mesmo tempo em que a cautela
existe, vantagens se descortinam em
torno do negócio dos livros digitais.
Há quem defenda, por exemplo, que a
impressão sob demanda será o negócio
do futuro. Ou do presente, no caso da
editora E-papers, que há quase 11 anos
vende livros acadêmicos eletrônicos
ou colocados no papel quando
pedidos. O projeto nasceu incubado na
UFRJ e depois se consolidou no nicho.
“No início, foi bastante difícil.
A minha intenção era só ter livros
eletrônicos, mas ainda era um conceito
muito novo. Nos anos 2000, quase
nenhum dos primeiros aparelhos
leitores de livros digitais chegou ao
Brasil”, lembra a editora-chefe da
E-papers, Ana Cláudia Ribeiro, “A
gente ainda tinha que convencer o
leitor, uma espécie de catequese. Hoje
4	 omércio
c

	O Cool-er é um
dos três e-readers
comercializados
oficialmente no
Brasil, e o mais
barato deles, custa
R$ 750

em dia, todo mundo entende o que é
um e-book.”
As vendas de livros digitais
da editora aumentaram muito,
segundo Ana Cláudia, de modo
que representam hoje 50% dos
pedidos. São cerca de 400 títulos
disponíveis, praticamente todos
em português. A fórmula também
tem funcionado para a Singular
Digital, criada em 2009, tendo a
Ediouro como principal acionista.
A editora publica autores
independentes, cuidando de todo o
processo a partir dos textos do escritor
até a distribuição para os canais de
venda, como livrarias físicas e virtuais.
“Existe um potencial enorme que
envolve universidades, alunos de
graduação e pós-graduação, teses,
dissertações, num número difícil de
mensurar”, explica o diretor-geral da
Singular, Newton Neto. A empresa é
pioneira na digitalização e conversão
de e-books, prestando serviços para
outras editoras.
Historiadora e professora da UFRJ,
Heloísa Buarque de Hollanda acredita
que a impressão sob demanda pode
espantar dois fantasmas: livros
esgotados e livros encalhados. “A
figura do estoque, que é horrível,
um carma de todas as editoras,
vai acabar. Um amigo economista
escreveu num artigo que o estoque
é o único investimento que eu alugo
por centímetro, e pago para não
render”, afirma, sobre o preço de
armazenamento de livros, com a
propriedade de quem comanda a
editora Aeroplano.

ARTIGO DE LUXO

De sua parte e em geral, os escritores
parecem abertos às mudanças sem
maiores traumas. Paulo Coelho
provou que não há o que temer ao
disponibilizar gratuitamente uma
edição digital russa do seu último

divulgação

Entrevista

MARCELINO FREIRE
“NÃO TENHO
ESSA COISA DO
CHEIRO DO LIVRO”
Com o bom humor que lhe é
peculiar, o escritor Marcelino Freire
falou por telefone sobre e-books para
a Continente. Estava a caminho de
uma palestra numa biblioteca na
comunidade de Paraisópolis, em
São Paulo, onde mora. Ao estrear
no formato digital a convite da
Mojo Books, ficou surpreso com
os 14 mil downloads em menos de
dois meses de É só isso o meu baião,
romance que escreveu inspirado
na faixa homônima do disco Getz/
Gilberto, de Stan Getz e João Gilberto.
CONTINENTE Você já teve contato com
algum e-reader?
MARCELINO FREIRE Uns dois
amigos meus têm o Kindle: eu
olhei, ele é muito bonitinho,
pequenininho, leve. Trabalha
com uma tecnologia que deixa a
tela fosca, a luz não cega o leitor.
Eu gosto do formato, acho que é
muito importante, principalmente
para professores e pesquisadores.
Imagine os livros todos
armazenados ali dentro, podem
ser lidos tranquilamente no avião,
sem problema de peso, de coluna.
Para um homem que está ficando
cego, eu estou ficando cego, é uma
maravilha: você pode aumentar a
letra e, se quiser, ouvir também.
CONTINENTE Tem sentido falar no fim
do livro em papel?
MARCELINO FREIRE Creio que essa
coisa de que o livro em papel vai
acabar não é verdade. O livro vai
sempre existir, aquele que você
carrega para o banheiro. Só que
o homem é inteligente e precisa
avançar nas suas necessidades.
Eu não sou muito nostálgico, não
tenho essa coisa do cheiro do livro.
Qualquer coisa faz uma essência.
Não ligo se o que eu escrevo vai

co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 5

para a tela de um Kindle ou para a
página de um livro. Desde sempre
é a mesma inquietação. Agora, se o
cara puxa um Kindle, você não sabe
o que ele está lendo, a gente fica
curioso para ver a capa. Outra vez,
eu estava no avião e uma senhora
levantou – quando ela tirou o livro,
era do Lourenço Mutarelli (autor
de O Cheiro do Ralo, entre outros),
que milagre! Comecei a rezar um
pai-nosso para o avião não cair.
CONTINENTE Como você encara
o livro eletrônico?
MARCELINO FREIRE A única
coisa que pega para o autor é o
seguinte, preste bem atenção. Com
essas novas mídias, a gente está
discutindo junto ao Governo sobre
os direitos autorais. A porcentagem
costumeira para o livro impresso
é de 10 %, mas nesse caso não é a
mesma despesa. Não há despesa
de distribuidor, impressão.
Como é que o autor vai ganhar
apenas 10% daquilo que criou,
se todos esses atravessadores, os
caminhos onerosos, deixarão de
existir? Vai se chegar a um acordo
nesse sentido. Os Estados Unidos
são mais rápidos, já existe um
olhar eletrônico. Faço parte do
Movimento Literatura Urgente,
e os autores ainda são muito
amadores na hora da discussão.
Não há organização nenhuma dos
escritores. Imagina! Tirar eles de
casa já é um sacrifício. Até organizar
esses escritores todos, minha
filha, “Inês já é morta”. (ML)
con
TECNOLOGIA
ti
nen
te
Fotos: divulgação

E-readers no Brasil
Cool-er
Produto da Gato Sabido, pesa 178 gramas
e possui um software que melhora a
visualização de arquivos PDFs. Ajusta
a formatação e permite aumentar o
tamanho das letras. Também com tela de
6 polegadas de papel eletrônico, custa R$
750 e dispõe de versões em várias cores.
Não tem teclado físico, mas conta com
um virtual acionado quando necessário.
Visualiza mais do que os principais
arquivos: PDF, ePub, TXT, além de MP3
e JPG. Permite comprar livros direto da
e-bookstore Gato Sabido. Site: www.
gatosabido.com.br

Kindle

5

O mais famoso e-reader oferece
experiência de leitura próxima do
livro em papel, na tela de 6 ou de 9,7
polegadas. Com ele, o usuário tem
à disposição boa parte do catálogo
da maior livraria virtual do mundo,
a Amazon (principalmente na língua
inglesa). Não tem Wi-Fi, mas conta com
acesso 3G pago pela própria fabricante.
Permite comprar e-books facilmente
através do cartão de crédito. Pesa 200
gramas, aceita USB e conta com teclado
físico. Uma das críticas direcionadas a
ele é o fato de que só aceita o arquivo
com extensão AZW, formato da própria
fabricante – e recentemente passou a
ler PDF. Não visualiza o formato ePub,
apontado como padrão. Custa cerca de
R$ 1 mil. Site: www.amazon.com

livro por conta da falta de papel no
país, numa espécie de autopirataria.
Quando o livro foi reeditado na
Rússia, bateu 1 milhão de vendas.
Best-sellers à parte, Daniel Galera
conta que se ofereceu para ser um
pouco cobaia da sua editora para
negócios do tipo. “Eu acho que para
os autores isso só traz benefício.
Eles estão juntos com o risco das
editoras: se elas estiverem mal, eles
têm um problema.” Com quatro
livros publicados, sendo o último
Cordilheira (2008), Galera resolveu
abrir o download do e-book de Dentes
guardados no seu site Rancho Carne.
Como era edição independente e
está esgotada, a coletânea de contos
publicada em 2001 foi convertida
para o formato PDF e disponibilizada.
Mas mesmo sendo um entusiasta
das novas mídias, Daniel Galera não
acredita que o livro em papel vai
acabar – questão inevitável quando
se toca no assunto e-books. “O que
deve mudar é o comportamento do
consumidor. É provável que, a longo
prazo, o livro se torne um pouco
artigo de luxo, como é considerado

co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 6

Heloísa Buarque de
Hollanda percebe
nas pessoas um
“medo louco” de
que a tecnologia
destrua a literatura
o CD. Você gosta do artista e faz
questão de ter”, aposta o escritor.
A tranquilidade em relação à
permanência do livro tradicional
também é manifestada pelo escritor
Nelson de Oliveira, que negocia
com a Ateliê Editorial o lançamento
de três obras no formato virtual.
Em contrapartida, o recémlançado título de sua autoria Poeira:
Demônios e maldições (2010) é sobre
um mundo tão abarrotado de
livros – nos quartos, banheiros,
corredores, ruas –, que os governos
precisam proibir novas obras.
Empolgado com o Kindle que
ganhou da esposa, Oliveira observa
que o e-paper não acabará com o
papel de celulose da mesma maneira
5	 ENTUSIASTa
Com quatro
livros publicados,
Galera resolveu
disponibilizar
o download do
e-book de Dentes
guardados no seu
site Rancho Carne
	 6	 lançamentos
O escritor Nelson
de Oliveira,
que possui um
Kindle, está em
negociação com o
Ateliê Editorial para
lançar três livros
em formato e-book

6

que o MP3 não acabou com o CD e
o vinil. “Mas fará diminuir bastante
as edições em papel. Ainda bem.
Atualmente são publicados perto
de 20 mil novos livros por ano,
segundo a Câmara Brasileira do Livro.
É papel demais!” Para defender da
digitalização esse artigo de valor
simbólico tão forte, que é o livro,
o escritor italiano Umberto Eco e
o roteirista francês Jean-Claude
Carrière escreveram Não contem com o
fim do livro (2010). Numa declaração
de amor ao objeto, os dois garantem
que os formatos vão conviver.
Sempre que fala em público,
Heloísa Buarque de Hollanda sente
um “medo louco” nas pessoas de que
a tecnologia destrua a literatura. “Ela
não está minimamente ameaçada. O
que vai acontecer é a expansão de uma
arte narrativa e poética nova, em que
entram muito som e imagem. Sai da
tela e volta”, afirma, exemplificando
a ideia com a antologia digital Enter,
que ela organizou no final de 2009.
Hospedada na web, reúne textos,
áudio, vídeos e imagens, criações de
artistas contemporâneos. Essa abertura

criativa tem dado espaço para projetos
como a Mojo Books, uma editora digital
que indaga: se música fosse literatura,
que história contaria? Ao escolher um
álbum e escrever um livro inspirado
nele, qualquer pessoa pode ter um
e-book editado e publicado na Mojo.
Basta ser bom para os editores Danilo
Corci e Ricardo Giassetti, que lançam
em média quatro dos 40 textos que
recebem por mês. “Se não estiver bom,
pedimos para o autor retrabalhar. Vai
da vontade dele insistir ou desistir”,
Corci dá a dica.
Resta ao poder público garantir
coisas como a ampliação do próprio
conceito do livro para abranger
o digital na regulamentação da
Política Nacional do Livro, segundo o
diretor de Livro, Leitura e Literatura
do Ministério da Cultura, Fabiano
dos Santos. Na opinião dele, nessa
discussão, o mais importante é
o acesso ao livro e, sobretudo, a
formação dos leitores. “É aquela velha
frase do Monteiro Lobato: ‘Um país
se faz com homens e livros’. Eu gosto
de dizer que se faz com homens,
mulheres, crianças, livros e leitura.”

co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 7

onde encontrar
Sites que oferecem diversos títulos de
livros digitais no país

Brasilianas Digital
www.brasiliana.usp.br

Conrad
www.lojaconrad.com.br

Daniel Galera
www.ranchocarne.org

Enter
www.oinstituto.org.br/enter

E-Papers
www.e-papers.com.br

Gato Sabido
www.gatosabido.com.br

Heloísa Buarque de Hollanda
www.heloisabuarquedehollanda.com.br

Livraria Cultura
www.livrariacultura.com.br

Mojo Books
www.mojobooks.com.br

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E-readers: a revolução da imitação do papel

  • 1. Images.com/Corbis/Corbis(DC)/Latinstock con ti nen te TECNOLOGIA 1 co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 || 3 0 co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 3 1
  • 2. 2 E-READERS A revolução da imitação do papel Editores, livreiros e escritores avançam na discussão sobre o fim do livro impresso e defendem que o mercado de e-books é um bem-vindo caminho irreversível texto Márcia Lira co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 1
  • 3. con TECNOLOGIA ti nen te divulgação douglas luccena/divulgação 1 mercadO O diretor de operações da Cultura, Sérgio Herz, lembra que há seis anos não se vendia livros digitais no país 2 gato sabidO Carlos Eduardo Ernanny lançou a editora apenas com e-books e leitor digital próprios 3 ALICE para o IPAD Em estilo de marketing viral, propaganda do e-book Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carrol, tem milhares de acessos no Youtube 1 A revolução no consumo da música, ocorrida à revelia de tanta gente, desconstruiu conceitos e abriu passagem para outro terremoto. Desta vez, no mercado editorial. Sorte que a experiência anterior deixou algumas lições: ninguém quer seguir o mau exemplo das gravadoras, que subestimaram o poder do MP3 e colheram prejuízos. Então, editoras, livrarias, autores e leitores entendem que livros eletrônicos e leitores digitais são um caminho sem volta. O difícil é saber onde esse caminho vai dar. O fato é que não há como negar o potencial do e-reader – um equipamento menor, mais fino e mais leve que um netbook, com bateria de longa duração e capaz de carregar uma biblioteca inteira de mais de mil títulos para qualquer lugar. Ora, a nova geração deles usa uma tecnologia que imita o papel físico e, assim, derruba o principal argumento de resistência – a dificuldade de leitura em telas eletrônicas. São displays da fabricante E-Ink, mais agradáveis aos olhos por não refletirem a luz. Esses leitores 2 permitem fazer o download de um livro no formato digital com alguns cliques e poucos segundos. Levam, ainda, uma pitada da tecnologia DRM (Digital Rights Management), que impede cópias ilimitadas dos e-books através de criptografia. Os avanços os tornaram atraentes e empresas gigantes pelo mundo não param de lançar modelos, renovando o fôlego dos livros digitais. Apesar dos holofotes recebidos recentemente, as obras em arquivos eletrônicos estão longe de serem novidade. Vagam pela internet há décadas e remontam a 1971, quando o Projeto Gutenberg – grande biblioteca online, resultado de um esforço voluntário – disponibilizou os primeiros títulos na web. O diretor de operações da Livraria Cultura, Sérgio Herz, lembra que o site da empresa oferecia e-books há uns seis anos. “Não vendia nada”, diz. E hoje? Herz responde, sem divulgar números, que “não dá nem para comparar. É outro mundo”. Certamente, as rápidas transformações da sociedade, agora ultraconectada e co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 2 3 tecnológica, deram mais sentido à ideia do livro virtual. O novo cenário levou a empresa a lançar cerca de 20 mil títulos em vários idiomas. Mas, apesar da decisão, o diretor acha difícil definir como lidar com o novo mercado. “A gente não sabe qual o tamanho dele. Se o consumidor vai ficar bem ou não diante dessas novidades.” NEGÓCIOS EM QUESTÃO A dúvida de Herz é apenas uma entre as que pairam nas cabeças dos que jogam as cartas do setor no Brasil. Quanto o leitor está disposto a pagar por um livro digital? Os e-readers são realmente imunes à pirataria? E o percentual do autor? Qual o modelo de negócio ideal? “Não se sabe ainda como funcionará, ao mesmo tempo em que ninguém tem dúvida de que será em termos ainda não estabelecidos e sequer imaginados. Precisamos ser muito maleáveis e dispostos a rever nossos paradigmas de negócio”, comenta Iuri Pereira, da editora Hedra, que está em fase de preparação para comercializar obras eletrônicas.
  • 4. reprodução 3 A editora Conrad se adiantou como a primeira brasileira a lançar um livro em quadrinhos para o iPad, com Sábado dos meus amores, do niteroiense Marcello Quintanilha. Mesmo não sendo um e-reader, o computador de mão da Apple agrega a função, entre várias, com a sua portabilidade e design em forma de prancheta. O lançamento de uma versão colorida e animada de Alice no País das Maravilhas para o tablet reforçou a sua função de suporte para livros multimídia. Mais dois quadrinhos vão estar disponíveis em breve para os adeptos do iPad, segundo o diretor editorial da Conrad, Rogério de Campos: Chibata – João Cândido e a revolta que abalou o Brasil e o romance dele, Revanchismo. As investidas, segundo Rogério, não significam que o equipamento virou um foco. “Para focar, é preciso ter certeza, para ter certeza é preciso entender. Estamos naquele momento em que o negócio é fazer para depois entender.” Esse parece ser o raciocínio que norteou o empresário Carlos Eduardo Ernanny ao lançar a Gato Sabido. A Até o momento, equipamentos como Sony Reader ou o próprio iPad ainda não estão disponíveis para venda no Brasil referência ao suposto complexo de inferioridade do brasileiro. As vantagens dos e-books são citadas pelo empresário com a própria experiência: “Eu fui para a Europa e pela primeira vez levei só um e-reader com 30 livros. No meio da viagem, eu decidi que livro eu queria ler”. e-bookstore entrou no mercado editorial brasileiro comercializando o próprio leitor digital Cool-er e apenas livros eletrônicos. Cansado do mercado financeiro, no qual trabalhou por 17 anos, e amante da literatura, ele resolveu investir, após várias pesquisas, nos livros sem papel. “Todo mundo sempre soube que o e-book algum dia iria acontecer”, diz. A empresa surgiu na mesma época em que os e-readers começaram a pipocar pelo mundo, no final do ano passado. Fato que colaborou, acredita Carlos Eduardo, para “acordar” concorrentes e parceiros no país, evitando a famosa “síndrome do viralata” – termo tomado emprestado do escritor Nelson Rodrigues, em As questões ainda sem resposta deixam morno um negócio em plena febre em países como os Estados Unidos. Para começar, o Cooler é um dos poucos três e-readers comercializados oficialmente no Brasil até o momento, junto com o Kindle, da Amazon, e o pernambucano recémlançado Mix Leitor D (leia no quadro da página 36). Equipamentos como Sony Reader ou o próprio iPad ainda não estão disponíveis no país. Os preços deles também não são muito atraentes: o mais em conta é o Cool-er, que sai por R$ 750, o Mix Leitor D custa R$ 990 e o Kindle vale cerca de R$ 1 mil. Outro entrave é a quantidade tímida de obras digitais em português. Dos 20 mil títulos lançados co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 3 VERSÃO BRASILEIRA
  • 5. con TECNOLOGIA ti nen te reprodução MODELO DE leitor digital PERNAMBUCANO Há um público que pode ser especialmente beneficiado com os e-readers e livros eletrônicos. Imagine um estudante indo para o colégio: na mochila, todos os livros didáticos guardados num leitor digital de apenas 300 gramas. Situações como essa inspiraram a criação do Mix Leitor D, o modelo pernambucano lançado em junho. Ele é produto de dois anos de desenvolvimento do hardware pela Mix Tecnologia e do conceito voltado para a educação, pensado pela Carpe Diem Edições e Produções. Se considerarmos que o Brasil é o maior mercado consumidor de obras didáticas do mundo, a aposta é acertada. Na configuração, o aparelho não deixa a dever a nenhum concorrente, com a tela de papel eletrônico de seis polegadas e teclado QWERTY. Suporta até 16 GB, com cartão de memória, conexão Wi-Fi e aceita vários formatos de e-books, além de outras mídias como áudio MP3 e imagens JPG. A bateria deve atender às necessidades do público, pois permite a troca de até oito mil páginas. Possui dois softwares patenteados 100% nacionais: o Interquiz e o WiAA. O primeiro permite buscar questões sobre o conteúdo lido na hora, respondendo a perguntas e visualizando respostas. O segundo é uma rede acadêmica, na qual é possível conferir notas, horários, diários de presença. Os destinos do primeiro lote do equipamento foram as pré-vendas e as parcerias firmadas antes mesmo do lançamento com colégios, cursos, empresas de mídia. A grande maioria fora de Pernambuco. Um dos destaques do equipamento, segundo o diretor da Carpe Diem e idealizador da Fliporto, Antônio Campos, é o fato de ser híbrido: possibilita a aquisição de conteúdo no portal próprio, com conexão à internet, e também através de arquivos via entrada USB. Chega ao público em geral por R$ 990. Site: www. mixleitord.com.br (M L) 4 pela Livraria Cultura, nem 100 são no nosso idioma. Técnicos e infantis são a maioria, autores de literatura conhecidos são poucos. É um A cidade ilhada (R$ 24,50), de Milton Hatoum, aqui, um recém-lançado Leite derramado (R$ 29), de Chico Buarque, ali. Um pouco mais generosa com a língua portuguesa, a Gato Sabido disponibiliza cerca de mil obras no idioma, segundo Carlos Eduardo, de um total de 100 mil. Porém, quem for procurar um best-seller talvez não ache: além de livros técnicos, boa parte do acervo é de novos autores – que contam com um canal para oferecer suas obras sem intermediários. Mas tudo indica que essa é uma fase passageira. Afinal, até a Google anunciou ter um e-reader em desenvolvimento e prometeu lançar uma loja de livros digitais. Ponto para o acervo público, que representa um reforço significativo ao disponibilizar milhares de obras gratuitamente para download. A biblioteca digital mais antiga é o projeto colaborativo Gutenberg, que reúne mais de 30 mil obras em domínio público. Basta entrar no site, buscar e baixar. Em português, encontra-se Machado de Assis à vontade, além de Eça de Queiroz, Júlio Verne, Shakespeare, Dostoiévski. Outra coleção importante é a Brasiliana digital, da USP, da qual constam centenas de títulos, inclusive a coleção de livros e documentos raros doados à universidade pelo falecido co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 4 A biblioteca digital mais antiga é o projeto colaborativo Gutenberg, que reúne mais de 30 mil obras em domínio público bibliófilo José Mindlin. Gradualmente, as obras são convertidas para o formato e disponibilizadas. Uma aquisição recente do espaço virtual foi a obra poética completa de Vinicius de Moraes. SOB DEMANDA Ao mesmo tempo em que a cautela existe, vantagens se descortinam em torno do negócio dos livros digitais. Há quem defenda, por exemplo, que a impressão sob demanda será o negócio do futuro. Ou do presente, no caso da editora E-papers, que há quase 11 anos vende livros acadêmicos eletrônicos ou colocados no papel quando pedidos. O projeto nasceu incubado na UFRJ e depois se consolidou no nicho. “No início, foi bastante difícil. A minha intenção era só ter livros eletrônicos, mas ainda era um conceito muito novo. Nos anos 2000, quase nenhum dos primeiros aparelhos leitores de livros digitais chegou ao Brasil”, lembra a editora-chefe da E-papers, Ana Cláudia Ribeiro, “A gente ainda tinha que convencer o leitor, uma espécie de catequese. Hoje
  • 6. 4 omércio c O Cool-er é um dos três e-readers comercializados oficialmente no Brasil, e o mais barato deles, custa R$ 750 em dia, todo mundo entende o que é um e-book.” As vendas de livros digitais da editora aumentaram muito, segundo Ana Cláudia, de modo que representam hoje 50% dos pedidos. São cerca de 400 títulos disponíveis, praticamente todos em português. A fórmula também tem funcionado para a Singular Digital, criada em 2009, tendo a Ediouro como principal acionista. A editora publica autores independentes, cuidando de todo o processo a partir dos textos do escritor até a distribuição para os canais de venda, como livrarias físicas e virtuais. “Existe um potencial enorme que envolve universidades, alunos de graduação e pós-graduação, teses, dissertações, num número difícil de mensurar”, explica o diretor-geral da Singular, Newton Neto. A empresa é pioneira na digitalização e conversão de e-books, prestando serviços para outras editoras. Historiadora e professora da UFRJ, Heloísa Buarque de Hollanda acredita que a impressão sob demanda pode espantar dois fantasmas: livros esgotados e livros encalhados. “A figura do estoque, que é horrível, um carma de todas as editoras, vai acabar. Um amigo economista escreveu num artigo que o estoque é o único investimento que eu alugo por centímetro, e pago para não render”, afirma, sobre o preço de armazenamento de livros, com a propriedade de quem comanda a editora Aeroplano. ARTIGO DE LUXO De sua parte e em geral, os escritores parecem abertos às mudanças sem maiores traumas. Paulo Coelho provou que não há o que temer ao disponibilizar gratuitamente uma edição digital russa do seu último divulgação Entrevista MARCELINO FREIRE “NÃO TENHO ESSA COISA DO CHEIRO DO LIVRO” Com o bom humor que lhe é peculiar, o escritor Marcelino Freire falou por telefone sobre e-books para a Continente. Estava a caminho de uma palestra numa biblioteca na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo, onde mora. Ao estrear no formato digital a convite da Mojo Books, ficou surpreso com os 14 mil downloads em menos de dois meses de É só isso o meu baião, romance que escreveu inspirado na faixa homônima do disco Getz/ Gilberto, de Stan Getz e João Gilberto. CONTINENTE Você já teve contato com algum e-reader? MARCELINO FREIRE Uns dois amigos meus têm o Kindle: eu olhei, ele é muito bonitinho, pequenininho, leve. Trabalha com uma tecnologia que deixa a tela fosca, a luz não cega o leitor. Eu gosto do formato, acho que é muito importante, principalmente para professores e pesquisadores. Imagine os livros todos armazenados ali dentro, podem ser lidos tranquilamente no avião, sem problema de peso, de coluna. Para um homem que está ficando cego, eu estou ficando cego, é uma maravilha: você pode aumentar a letra e, se quiser, ouvir também. CONTINENTE Tem sentido falar no fim do livro em papel? MARCELINO FREIRE Creio que essa coisa de que o livro em papel vai acabar não é verdade. O livro vai sempre existir, aquele que você carrega para o banheiro. Só que o homem é inteligente e precisa avançar nas suas necessidades. Eu não sou muito nostálgico, não tenho essa coisa do cheiro do livro. Qualquer coisa faz uma essência. Não ligo se o que eu escrevo vai co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 5 para a tela de um Kindle ou para a página de um livro. Desde sempre é a mesma inquietação. Agora, se o cara puxa um Kindle, você não sabe o que ele está lendo, a gente fica curioso para ver a capa. Outra vez, eu estava no avião e uma senhora levantou – quando ela tirou o livro, era do Lourenço Mutarelli (autor de O Cheiro do Ralo, entre outros), que milagre! Comecei a rezar um pai-nosso para o avião não cair. CONTINENTE Como você encara o livro eletrônico? MARCELINO FREIRE A única coisa que pega para o autor é o seguinte, preste bem atenção. Com essas novas mídias, a gente está discutindo junto ao Governo sobre os direitos autorais. A porcentagem costumeira para o livro impresso é de 10 %, mas nesse caso não é a mesma despesa. Não há despesa de distribuidor, impressão. Como é que o autor vai ganhar apenas 10% daquilo que criou, se todos esses atravessadores, os caminhos onerosos, deixarão de existir? Vai se chegar a um acordo nesse sentido. Os Estados Unidos são mais rápidos, já existe um olhar eletrônico. Faço parte do Movimento Literatura Urgente, e os autores ainda são muito amadores na hora da discussão. Não há organização nenhuma dos escritores. Imagina! Tirar eles de casa já é um sacrifício. Até organizar esses escritores todos, minha filha, “Inês já é morta”. (ML)
  • 7. con TECNOLOGIA ti nen te Fotos: divulgação E-readers no Brasil Cool-er Produto da Gato Sabido, pesa 178 gramas e possui um software que melhora a visualização de arquivos PDFs. Ajusta a formatação e permite aumentar o tamanho das letras. Também com tela de 6 polegadas de papel eletrônico, custa R$ 750 e dispõe de versões em várias cores. Não tem teclado físico, mas conta com um virtual acionado quando necessário. Visualiza mais do que os principais arquivos: PDF, ePub, TXT, além de MP3 e JPG. Permite comprar livros direto da e-bookstore Gato Sabido. Site: www. gatosabido.com.br Kindle 5 O mais famoso e-reader oferece experiência de leitura próxima do livro em papel, na tela de 6 ou de 9,7 polegadas. Com ele, o usuário tem à disposição boa parte do catálogo da maior livraria virtual do mundo, a Amazon (principalmente na língua inglesa). Não tem Wi-Fi, mas conta com acesso 3G pago pela própria fabricante. Permite comprar e-books facilmente através do cartão de crédito. Pesa 200 gramas, aceita USB e conta com teclado físico. Uma das críticas direcionadas a ele é o fato de que só aceita o arquivo com extensão AZW, formato da própria fabricante – e recentemente passou a ler PDF. Não visualiza o formato ePub, apontado como padrão. Custa cerca de R$ 1 mil. Site: www.amazon.com livro por conta da falta de papel no país, numa espécie de autopirataria. Quando o livro foi reeditado na Rússia, bateu 1 milhão de vendas. Best-sellers à parte, Daniel Galera conta que se ofereceu para ser um pouco cobaia da sua editora para negócios do tipo. “Eu acho que para os autores isso só traz benefício. Eles estão juntos com o risco das editoras: se elas estiverem mal, eles têm um problema.” Com quatro livros publicados, sendo o último Cordilheira (2008), Galera resolveu abrir o download do e-book de Dentes guardados no seu site Rancho Carne. Como era edição independente e está esgotada, a coletânea de contos publicada em 2001 foi convertida para o formato PDF e disponibilizada. Mas mesmo sendo um entusiasta das novas mídias, Daniel Galera não acredita que o livro em papel vai acabar – questão inevitável quando se toca no assunto e-books. “O que deve mudar é o comportamento do consumidor. É provável que, a longo prazo, o livro se torne um pouco artigo de luxo, como é considerado co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 6 Heloísa Buarque de Hollanda percebe nas pessoas um “medo louco” de que a tecnologia destrua a literatura o CD. Você gosta do artista e faz questão de ter”, aposta o escritor. A tranquilidade em relação à permanência do livro tradicional também é manifestada pelo escritor Nelson de Oliveira, que negocia com a Ateliê Editorial o lançamento de três obras no formato virtual. Em contrapartida, o recémlançado título de sua autoria Poeira: Demônios e maldições (2010) é sobre um mundo tão abarrotado de livros – nos quartos, banheiros, corredores, ruas –, que os governos precisam proibir novas obras. Empolgado com o Kindle que ganhou da esposa, Oliveira observa que o e-paper não acabará com o papel de celulose da mesma maneira
  • 8. 5 ENTUSIASTa Com quatro livros publicados, Galera resolveu disponibilizar o download do e-book de Dentes guardados no seu site Rancho Carne 6 lançamentos O escritor Nelson de Oliveira, que possui um Kindle, está em negociação com o Ateliê Editorial para lançar três livros em formato e-book 6 que o MP3 não acabou com o CD e o vinil. “Mas fará diminuir bastante as edições em papel. Ainda bem. Atualmente são publicados perto de 20 mil novos livros por ano, segundo a Câmara Brasileira do Livro. É papel demais!” Para defender da digitalização esse artigo de valor simbólico tão forte, que é o livro, o escritor italiano Umberto Eco e o roteirista francês Jean-Claude Carrière escreveram Não contem com o fim do livro (2010). Numa declaração de amor ao objeto, os dois garantem que os formatos vão conviver. Sempre que fala em público, Heloísa Buarque de Hollanda sente um “medo louco” nas pessoas de que a tecnologia destrua a literatura. “Ela não está minimamente ameaçada. O que vai acontecer é a expansão de uma arte narrativa e poética nova, em que entram muito som e imagem. Sai da tela e volta”, afirma, exemplificando a ideia com a antologia digital Enter, que ela organizou no final de 2009. Hospedada na web, reúne textos, áudio, vídeos e imagens, criações de artistas contemporâneos. Essa abertura criativa tem dado espaço para projetos como a Mojo Books, uma editora digital que indaga: se música fosse literatura, que história contaria? Ao escolher um álbum e escrever um livro inspirado nele, qualquer pessoa pode ter um e-book editado e publicado na Mojo. Basta ser bom para os editores Danilo Corci e Ricardo Giassetti, que lançam em média quatro dos 40 textos que recebem por mês. “Se não estiver bom, pedimos para o autor retrabalhar. Vai da vontade dele insistir ou desistir”, Corci dá a dica. Resta ao poder público garantir coisas como a ampliação do próprio conceito do livro para abranger o digital na regulamentação da Política Nacional do Livro, segundo o diretor de Livro, Leitura e Literatura do Ministério da Cultura, Fabiano dos Santos. Na opinião dele, nessa discussão, o mais importante é o acesso ao livro e, sobretudo, a formação dos leitores. “É aquela velha frase do Monteiro Lobato: ‘Um país se faz com homens e livros’. Eu gosto de dizer que se faz com homens, mulheres, crianças, livros e leitura.” co n t i n e n t e j u l h o 2 0 1 0 | 3 7 onde encontrar Sites que oferecem diversos títulos de livros digitais no país Brasilianas Digital www.brasiliana.usp.br Conrad www.lojaconrad.com.br Daniel Galera www.ranchocarne.org Enter www.oinstituto.org.br/enter E-Papers www.e-papers.com.br Gato Sabido www.gatosabido.com.br Heloísa Buarque de Hollanda www.heloisabuarquedehollanda.com.br Livraria Cultura www.livrariacultura.com.br Mojo Books www.mojobooks.com.br