1. A R E V I S T A D E Q U E M EDUCA
EDICÃO3
ESPECIAL
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professor
nascido nos
Estados Unidos.
Falar com
: docinhos :
: parafestas
em geral.
Encomendas :
: com três
~ ~ - C Y L S I U n4
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diasde
I
: 1antecedência. I
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Cilene. I
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itaçáode trabalhosescolares i
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kssados entrar em conta
com Kátia.
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na Brana.
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.T -..r --,- 5 s . - L
Ler, planejar, escrever, revisar, reescrever,..=ggz;ze -
Tudo o que seus alunos precisam saber para ZS3'Lrr..& =-*
redigir com coerência, coesãi 2 criatividade E
2. índice
secões3 reportagens
7 CARO EDUCADOR 12 EXREVER DEVERDADE
9 FALA, MESTRE1Mirta Torres
O que aturma precisasaber para redigir boascomposições
54 ESTANTE
18G~NEROS,COMO USAR
Exploreas caracteristicasdos diferentestipos detexto
58 ARTIGO Márcia V. Fortunato
OQUE i PARIIQUE(M)
Projetosdidáticosgarantem produçõesde qualidade
32OQUECADAUMSABE
Conheça o nível dos estudantes para saber o quetrabalhar
t PARAESCREVER
como bons autores podem inspirar a meninada
38 hDA REESCRT
~ u d a ro narradorda nistóriaé um caminho para aautoria
RAIO1
Leitura e resumo sao procedimentosessenciais para estudar
Foto Derc/li0
~GRAOECIMEMOSABEATRIZGOUVEIAEA PROFESSOU
.LAUDIA TONDATO, DA EMEF PROFESX>R ROSALVITO
:OBRA, DE SAOCAETANOW SUL,SP
45 HORA APERFEICOI
Revisar d b produçõesé UIII meio de conquistara autonomia
48 DEOWONATELA
A utilidade do computador no processo de revisão
51 UÇAOOEMESTRE
Seguir o estilo de autores profissionaisajuda a escrever melhor
3. ................................................................................................................................................................................
Caro educador
Fundador: VICiOR C M T A
(1907-1990)
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' Beauit Santomauroe ~ i i n c aBibiano
'
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mia do 6.aohuio.SP
MARÇO, 2010
Escrever mesmo
Apreocupação com a qualidadedo
ensino6 cadavez maior em nosso
país, certo?Em parte por causa das ava-
liações externas (que mostram que os
alunos têm desempenho muito abaixo
do esperado nas duas disciplinas), em
parte por causa dos indicadoresde alfa-
betismo funcional (que insistem em se
manter muito elevados, confirmando
queosbrasileirosadultosnão conseguem
ler, escrever e fazer contas com facilida-
de),em parte por causa dospróprios in-
dicadoresinternos das escolas(que reve-
lam altastaxas de repetênciae um gran-
de número de crianças e jovens analfa-
betos ao fim do 7O, 8 O ou 9O ano).
Ao longo de 2009, NOVA ESCOLA
publicou uma série de reportagens
(acompanhadasde sugestões de ativida-
des) para ajudar os professores a traba-
lhar com seus estudantes os principais
conteúdos e procedimentos ligados à
produção de texto. Todo o material foi
I revisadoe complementadopara montar
este especial. Entrevista, artigo e repor-
tagenssobreaspesquisasnaárea e expe-
riências reais de sal: de aula ajudam a
entender por que 6 importante formar
alunos capazes de expressar as próprias
opiniões por meio da palavra escrita-e,
assim, construir um percurso como au-
tor. Sem dúvida, uma das mais impor-
tantes atribuições de toda escola.
Diretor de Redaçâo
www.ne.org.br Especial Produqão de Texto 7
4. Fala, mestre!
"0bomtexto é o que cumpre
o propósitode quemo produzn
Pesquisadora argentina defende que, para trabalhar com produção
textual, os professorestambém precisam ser bons leitorese escritores
ANA GONZAGA novaescola@atleitor.com.br
Se ensinar as crianças a produzir tex-
tos de qualidade é um desafio, pre-
parar os educadores para realizar essas
tarefas 6 uma responsabilidade igual-
mente complexa e instigante. E é essa
missão que Mirta Torrestomou para di-
recionar sua ,carreira. Especialista em
didática da leitura e da escrita,ela já foi
diretora de Educação primária de Bue-
,nosAirese esteve à frente de vários pro-
gramas de melhoramento pedagógico.
Atualmente, coordena um grupo que
trabalha com a alfabetização de alunos
que foram reprovados ou entraram na
escola mais tarde e tambdm integra o
projeto Maestro+Maestro, que, preven-
do doisprofessorespara cada sala de au-
la, visa diminuir asdificuldadesde estu-
dantes do l0grau,etapa em que se con-
centram osmaioresíndicesderepetência
no sistema argentino.
Apesar da pouca afinidadecom a lín-
gua portuguesa, Mirta garante que sua
experiênciapedagógica naArgentinapo-
de ser bastante útil para os professores
que lidam com produ~ãode texto no
Brasil. "Valem o raciocínio e as estraté-
gias",diz ela,que concedeuestaentrevis-
ta por telefone ?I NOVA ESCOLA de sua
residência,em Buenos Aires.
Como definir o que 6 uma produção
de qualidade?
MIRTA TORRES O escritor tem de ter
um propósito claroqueo leveaescrever,
tal comoprepararum textopara o semi-
nário ou um convite para uma festa.O
bomtextoC aquelequecumpreopropó-
sito de quem o produz.
Para isso, o que é precisoser ensina-
do aos alunos?
MIRTA Diversosaspectoscolaborampa-
ra quesejam produzidostextosqualifica-
dosentre aceitáveisebons.Aturma toda
deve ser incentivada a escrever de e
www.ne.org.br Especial Produgão de Texto 9
5. Fala, mestre! MIRTA TORRES
emaneirahabitual efrequente.Talco- (CT
mo um piloto de aviãoprecisa acumular al como um piloto
horas de voo para ser hábil,um escritor
precisa somar muitas oportunidades de
de avião precisa
&crita. Na prática, que; dizer que os es- acumu1ar horas detudantes devemser estimuladosaelabo-
rar perguntas sobreum tema estudadoe VOO para ser h bi1,
resumiramatéria para passar aum cole-
ga que htou.são escritosmenos ambi- um escritor precisa
ciosos, porém também exigem escrever,
ler e corrigir. Embora, em muitas situa- somar muitas
ções escolares de escrita,o texto não te-
nha outro propósitoanão sero de escre-
ver para aprender aescrita,C fundamen-
tal gerarcondiçõesdidáticascomsentido
social. Elas devem garantir a construção
de produções contextualizadas, que ul-
trapassem os muros da escola,comouma
solicitaçãopor escrito para o diretor de
um museu,de permissão para uma visi-
ta. Assim, antes de começar a escrever,
aprende-seque C preciso saberquem é o
leitor e as informações necessárias.
Por issoé ruimproporquese escreva
sobre um tema livre ou aberto, por
exemplo, "Minhas Ferias"?
MIRTA A escrita nunca deve ser livre.
Precisa ser produzida em um contexto,
sempre.A psicolinguista argentina Emi-
lia Ferreiro caracteriza muito bem essa '
questão.Ela diz que"nãohá nadamenos
livre do que um texto livre".Muitascoi-
sasincidemsobrequalquertexto: ospro-
pósitosqueguiam a escrita,osdestinatá-
rios e a situaçãocomunicativa.As crian-
çastêm de aprenderqueo material deve
se refletir no leitor.
Como os educadores podem ajudar
os estudantes a refinar seus textos?
MIRTA Vou respondercitandoum caso
de alunosde 7anosque estavamreescre-
vendo a história de Pinóquio.Eles dita-
vam para aprofessora:"Pinóquiocaiuno
mar e a baleia o engoliu.A baleia ficou
com Pinóquio em sua barriga durante
três diasedepoisdetrêsdiasjogou Pin6-
quio na praia".Ela leu em voz alta o pa-
rágrafo, comentou que algo soava mal e
releu enfatizando o nome Pinóquio.
"Fala-semuitasvezes o nome Pinóquio",
oportunidades
de escrita. 11
concluíram. "Como poderíamos evitar
isso?: ela perguntou.Os pequenossuge-
riram correções:"Pinóquio caiu no mar
e a baleia o engoliu.A baleia ficou com
ele em sua barriga durante três dias e
depoisde três diasojogou na praia".De-
pois disso, a professora sugeriu que o
fragmentocorrespondentedo contofos-
se relido,o que resultou na troca de bar-
riga por ventre.Para evitar arepetiçãoda
expressão"trêsdias", foram propostasal-
gumas opções: "ao final desse tempo",
"logo","depois"e"então" As criançases-
colheram "logo". Assim que se chegou à
terceiraversão,um menino disse que al-
go soava mal,repetindo a expressãoque
a docentejá havia usado.Elecontinuou:
"Quando Pinóquio cai no mar, trata-se
de uma baleia,uma baleia qualquer.De-
pois, quando ela carrega Pinóquio du-
rante três dias na barriga, no ventre, en-
tão é a baleia porque não setrata deuma
baleia qualquer".Então,foireescrito:"Pi-
nóquio caiu no mar e uma baleia o en-
goliu. A baleia ficou com ele em seu
ventre durante três dias e logo o jogou
na praia".
Como a professora fez para que os
alunos incorporassemessa prática?
MIRTA Durante a produção, ela recor-
dou com a turma como e por que havia
sidosubstituídoo nome Pinóquio a fim
de que fosse elaboradauma regra geral,
registrada no caderno:"Quando se fala
em um personagem e o leitor sabe que
sefaladele,não C necessárioescreverseu
nome. Podemos colocar'o', 'a', 'os', 'as"'.
Paraescrever bem, 6fundamental ser
um bom leitor?
MIRiASim.Aformaçãoleitoraajuda na
formação do escritor. A familiaridade
com outros'textosfornecemodelos e co-
nhecimento sobre outros gêneros e es-
truturas. Devemos ler como escritores:
voltar ao texto para verificar de que ma-
neira um autor resolveu um problema
semelhante ao que temos em mãos,por
exemplo. No mais, a leitura desperta o
desejo de escrever. Cabe 21escola abrir
diversaspossibilidades: oferecer titulos
quefascinamcriançasejovens semrefor-
çar o queo mercadojá oferecedemanei-
ra excessiva.Não precisa ofertarlivrosdo
Harry Potter,mas obrasde Robert Louis
Stevenson (1850-1894), comoA Ilha do
Tesouro,precisamser recomendadas.Arn-
bossãovaliosos,sóque,seosdosegundo
tipo não forem oferecidos, dificilmente
os leitoresvão decidirlê-los.Mas há que
destacar que nem todo bom leitor d um
bom escritor. Muitosde nóssomosexce-
lentes leitores, porém somente escreve-
mos de modo aceitável.
O que se espera de um educador co-
mo leitor?
MIRTA Ele deve desfrutar da leitura,es-
tar atento aos gostos dos estudantes e
considerar sua importância como uma
ponte entre elese os textos. Pequenas,as
criançasnão podem sozinhase,já maio-
res, precisam de ajuda para acessar gran-
des obras, que não enfrentariam por
iniciativaprópria. É válido destacar que
odocentequesejaum bom leitor 6capaz
dedescobrira ambiguidade,aobscurida-
de ou a pobreza presentes nos textos e
compartilhar isso com o grupo.
A partir de quando os alunos devem
produzirtextos?
MIRTA Essa atividadepode ser anterior
A aquisiçãoda habilidade de escrever.As
discussóesentre eles e o professor sobre
''como fica melhor","como se poderia
10 Especial Produgáo de Texto www.ne.org.br
6. dizer'', "o que falta colocar" permitem
refletir sobre a escrita. Assim, muitos,
antesde estarem plenamente alfabetiza-
dos, já conhecem as características da
linguagem escrita por terem escutado
bastante leitura em voz alta.Quer dizer,
já podem se dedicar à produção de tex-
tos, como ditames. Lembro-me de um
projeto chamadoCuentosde Piratas,de-
senvolvido com crianças de 5 anos. A.
professora lia para elas os contos e todos
levavam os livros para casa para reler e
folhear. Depois,juntamente com a do-
cente, faziam listas de personagens, to-
mavamnota dosconflitosque apareciam
em históriasde piratas,colocavam legen-
dasna imagemde um barco:timão,vela,
proa, popa. Finalmente,em grupo, cria-
ram uma história de piratas.
Quaissão asetapasessenciaisda pro-
dução de texto?
MIRTAAescrita propriamente dita leva
tempo: se escrevee se relê para saberco-
mo prosseguir, o que falta, se está indo
bem, se convém substituir algum pará-
grafo ou reescrever tudo. O processo de
leiturae correçãonão 6 posteriorà escri-
ta, mas parte dela. Ao considerar termi-
nado, o passo seguinte é reler ou dar
para outro leitor fazer isso e opinar.Fei-
tas as cor:eçÕes finais,passa-se o texto a
limpo com o formato mais ou menos
definitivo.Contudo,asetapasnão devem
ser enumeradas porque não são fias e
sucessivas.Elas constituem um processo
de vai e vem.
Comooeducador deve escolher o que
enfocar primeiro na revisão?
MIRTA Cada texto é único. Todavia, 6
ikprescindivel - sobretudo com turmas
quejá têm autonomia na produção-fa-
zer uma primeira leitura para checar a
coerência.Se os alunosse concentrarem
((AS etapas
de produ~ãode
texto não devem
ser enumeradas
porque não são fixas
e sucessivas, mas
um processo
de vai e vem. 13
....................................................
MIRTA As situações didáticasde escrita
não são todas iguais. Em alguns casos,é
interessanteobservarosescritos durante
o processo para ajudar aturma arelê-los,
aretomar o fiodo relato e acorrigiruma
expressão. Em outros, é melhor deixar
que escrevam sem intervir. Há alguns
anos, em um projeto com crianças de 7
e 8 anos, lançamos mão de um recurso
didático que deu ótimos resultados. Or-
ganizávamosas aulas de modo que não
houvessetempo suficientepara terminar
os textos,fazendo com que o gmpo pro-
duzisse apenas uma parte dele. Na aula
seguinte,a produção era lida para recor-
dar até onde haviam chegado e decidir
como continuar. Essa situação genuína
da releitura permitedescobrir erros,pen-
sar formas apropriadasde expressão,en-
fim,ajuda a tomar distânciado escrito e
retomá-lo como leitor.
É válido que os própriosalunos revi-
sem os textos dos colegas?
MIRTA Minha experiência mostra que
nein sempreé produtivoque osestudan-
tes leiam mutuamente as produções dos
i~m~anheiros.Os menores não enten-
ções. O texto eleito para ser revisado co-
letivamentedeverepresentar osobstácu-
los que a maioria encontra. Uma vez
descobel-tosno texto do companheiroos
aspectosque devemserrevistos,oprofes-
sor pode sugerir que cada um revise sua
própria produção.
Como ensinar gramática e as normas
da língua no interior das práticasde
leitura e escrita?
MtRTA Efetivamente,se recorrem à gra-
mática e às normas da língua quando é
necessáriopenetrar em aspectosda com-
preensão de um texto, como "qual é o
sujeito do parágrafo?", mas principal-
mente para revisar.De acordocom a ida-
de da garotada,alguns aspectossão reto-
mados em outros momentos,dedicados
s6 A reflexão gramatical.
É comum encontrarmospessoasque
dizem não saber escrever bem e se
sentem mais seguras ao falar, o que
leva a entender que a passagem do
oral para o escrito é o ponto de di-
ficuldade delas. Como isso pode ser
enfrentando na escola?
MIRTA Não creio que isso se deva à pas-
sagem do oral para o escrito.A fala per-
mite gestos,alusõesquereforçam o peso
do que foi dito. Temos uma grande prá-
tica cotidiana na comunicação oral e
muito menor na escrita.Quem considera
mais fácil se comunicar oralmente está,
sem dúvida,pensandoemtrocas familia-
res enão em apresentaçõesoraisformais,
como as conferências,que exigem verba-
lizar e organizar todos os momentos da
exposição.Nesses casos, as dificuldades
encontradas são parecidas com a de es-
crever.Ensinara escrevere a falarde for-
ma aceitável exige empenho do profes-
sor, que deve guiar a turma com mãos
firmese seguras. a
em detalhes,podem não conseguir che- dem a letra e os maiores nem sempre
car a coerênciageral. sabemo que procurar,o quefazcom que 8 : ....................
fiquem detidos em detalhes que não in- i: MirtaTorres, mirtatorres5@Jgmail.com
Fazerintervençõesenquantoos estu- terferem na qualidade final. A revisão :internet b
dantes produzemé correto?Ou é me- dos colegasganha valor quandoo profes- i Em abc.gov.arllainstitucion~digite na busca
:sobre enseiiar a leery escribir e acesseo texto
Ihordeixá-losterminar e revisarsó ao sor propõe revisar conjuntamente o tex- i hombnimode ~i~ castedo(em espanhol), 1fim do trabalho? to, orientando a leitura e sugerindo op- ' H
www.ne.org.br Especial Produqáo de Texto 11
7. Producão3 detexto 10aopam
tscrever
de verdade
Para produzir textos de qualidade, seus alunos têm de saber o que
querem dizer, para quem escrevem e qual é o gênero que melhor
exprime suas ideias. A chave é ler muito e revisar continuamente
THAIS GURGEL novaescola@atleitor.com.br Colaborou Tadeu Breda
Narração, descrição e dissertação.
Por muito tempo, essestrês tipos
de texto reinaram absolutosnas propos-
tasde escrita.Consensoentre professores,
essa maneira de ensinar a escrever foi
uma dasresponsáveispela faltadeprofi-
ciênciaentre nossos estudantes.O traba-
lho baseadonas composiçõese redações
escolares tem uma fragilidade: ele não
garanteo conhecimentonecessário para
produzirostextosqueosalunosterão de
escrever ao longo da vida."Nessa antiga
abordagem, ninguém aprendia a consi-
derar quem seriam os leitores. Por isso,
não havia a reflexão sobre a melhor es-
tratégia para pôr as ideiasno papel",diz
Telma Ferraz Leal, da Universidade Fe-
deral de Pernambuco (UFPE).
Para aproximaraprodução escritadas
necessidadesenfrentadasno dia a dia, o
caminho atual é enfocar o desenvolvi-
mento dos comportamentos leitores e
escritores.Ou seja: levar a criança a par-
ticipar de forma eficientede atividades
da vida socialque envolvam ler e escre-
ver. Noticiar um fato num jornal, ensi-
nar'os passos para fazer uma sobremesa
ou argumentar para conseguir que um
problema seja resolvido por um órgão
público: cada uma dessas ações envolve
um tipo de texto com uma finalidade,
um suporte e um meio de veiculação
específicos.Conhecer esses aspectos é a
condição mínima para decidir, enfim, o
que escrever e de que forma fazer isso.
Fica evidentequenãosãoapenasasques-
tões gramaticaisou notacionais (a orto-
grafia,por exemplo) que ocupam o cen-
tro dasatençõesna constniçãodaescrita,
mas a maneira de elaborar o discurso.
Há outro ponto fundamental nessa
transformaçãodas atividades de produ-
ção de texto: quem vai ler. E, nesse caso,
você não conta."Entregar um textopara
o professoré cumprirtarefa",diz Feman-
da Liberali, da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP)."Para
que o aluno fiqueestimuladocom a pro-
posta, 6 preciso que veja sentido nisso."
O objetivo é fazer com que um leitor
ausenteno momento da produçãocom-
preenda o que se quis comunicar.
O primeiro passo é conheceros diver-
sos gêneros. Isso não significaque os re-
cursos discursivos,textuais e linguísticas
doscontosde fadase dareportagem,por
exemplo, sejam conteúdos a apresentar
aosalunossem que elesostenham iden-
tificado pela leitura. Um risco é cair na
tentação de transmitir verbalmente as
diferentes estruturas textuais. Cabe ao
professorpermitir que ascriançasadqui-
ram os comportamentos do leitor e do
escritor pela participação em situações
práticase não por meras verbalizações.
Ensinar a produzir textos nessa pers-
pectiva prevê abordar três aspectosprin-
cipais:aconstruçãodascondiçõesdidáti-
cas, a revisão e a criação de um percurso
de autoria,como explicadoa seguir.
Os textos redigidosem classe
precisam de um destinatário
"Escreva um texto sobre a primavera."
Quemsedeparacomuma proposta como
essaimediatamentedeveriasefazeralgu-
mas perguntas. Para quê? Que tipo de
escrita será essa? Quem vai lê-la? Certas
informações precisam estar claras para
que se saibapor onde começarum texto
esepossa avaliarseelecondizcom o que
foi pedido. Nas pesquisas didáticas de
práticasde linguagem,essasdelimitações
sedenominam condiçõesdidáticasde*
12 Especial Produgão de Texto www.ne.org.br
8. I-I
DESV TERM(
DESNECESSAR
As palavras
"marginaisJ;
"assa1tantes"e
"criminosos"são
usadascom o mesmo
propósito, o que
deixa a produção
com Poucafluidez.
ASSU,. m w
Oautor chama
'tenção para a
'estão dos assaltos,
1"s logo foca em
utras situações qt
r envolvem men ,
de idade sem s,
iprofundar.
V a r u r l u ar1
que.0~jove êm
consciênciapara
assumir os crimes
que cometem,
mas não expõe
nada queju que
essa ideia.
. .L'.,' J..
, .
9. ......................................................................................................................................................................................
qoducão3
detexto 10ao. a-
-.......
BIOGRAFIA
Dados ordenados cro ogicamente e recursos linguísticas que asseguram a c
tem --I 'como os advérbios) são algumas das características do gêner
1
t
L~ . .-
,DOS 3t_F
:ORMAÇÕES PLICAÇn -E C-
O - Alguns te- i*lw ~ ~ ~ p o r t a n t e w a m ' * - ~
"v.-.-- ,inich d«-m claroo 4*
a grod~w d«te texta
mectiV<n e
,ignroinniiian> m a de P.R *O
~t~~CwiRCntei orgíni# as
1"lwrn~- em f-
e a f r a e r-11 que -, -vewconjugadolM mwc'
d m d,erinslmtntO O autm cdheu or
d*s para o tmodo biograf*
respondendo 6 aw~ln"--uracterfrtkis
.........que marom o @nem. ~ I J C S ~ ~ ~ Sde uma li+,: :,? ~l~-~~c-.p!O.-1, ?.::::,; ;,:.:.,:..L,, e.-.T..Ia:-v?;.+.-...... ..,-:+.,...., , . I
q : .:, , -L' .-.,r ..., :L.. -. .-..#?.i.: .-;,i;i<. ,. !,;i; ,;:-i;:;*.;i.<,<;:,;<>sF!J
10. ,.produçãotextual.No queserefereao
exemplo citado, fica difícil responder às
perguntas,já queessetipo de redaçãonão
existefora da escola,ou seja,não faz par-
te de nenhum gênero.
De acordo com Bernard Schneuwlye
Joaquim Dolz,o trabalho com um gêne-
ro em sala é o resultado de uma decisão
didática que visa proporcionar ao aluno
conhecê-lomelhor,apreciá-loou compre-
endê-lo para que ele se torne capaz de
produzi-lo na escola ou fora dela. No ar-
tigo Os GênerosEscolares -DasPráticas de
Linguagemaos ObjetosdeEnsino,os pesqui-
sadoressuíçoscitamainda como objetivo
desse trabalho desenvolver capacidades
transferíveispara outrosgêneros.
Para que a criançapossa encontrarso-
luçõespara sua produção, ela precisa ter
um amplo repertório de leituras. Essa
possibilidadefoi dada àturma de 9 O ano
da professora Maria Teresa Tedesco, do
Centrode Educaçãoe HumanidadesIns-
tituto de AplicaçãoFernando Rodrigues
da Silveira-conhecidocomoColégiode
Aplicação da Universidade Estadual do
RiodeJaneiro(Uerj). Procurandodesen-
volver a leitura crítica de textosjomalis-
ticos e o conhecimento das estruturas
argumentativas na produção textual,ela
propôsuma atividadepermanente:acada
semana, um grupo elegia uma notícia e
expunhaA turma aformacomoelatinha
sidotratadanosjornais. Depois,seguia-se
um debate sobre o tema ou a maneira
como 9s reportagenstinham sido veicu-
ladas. Paralelamente, os estudantes tive-
ram contato com textos de finalidades
' comunicativas diversas no jornal, como
cartasde leitores,editoriaise artigos opi-
nativos."O objetivo era que elesanalisas-
sem os materiais, refletissem sobre os
propósitosdecada um e adquirissemum
repertório discursivoelinguístico",conta
Maria Teresa, que lançou um desafio:
produzir um jornal mural.
A proposta era trabalhar com textos
opinativos,como os editoriais. Para que
a escritaganhasse sentido,ela avisouque
o jornal seria afixado no corredor e que
toda a comunidadeescolar teria acesso a'
ele. Os assuntos escolhidostratavam das
principais notíciasdo momento,comoo
surto de dengue no Rio de Janeiro e a
discussãosobreamaioridadepenal.Com
as características do gênero já discutidas
e frescas na memória, todos passaram à
produção individual(7eiaotextodeum dos
alunos na página 13).
A primeira versão foi lida pela profes-
sora."Sempre havia observações a fazer,
mas eu deixava que osprópriosmeninos
ajudassem a identificar as fragilidades",
diz MariaTeresa.Divididosempequenos
grupos, os alunos revisaram a produção
de um colega,escrevendoum bilhetepa-
ra o autor com sugestõese avaliando se
ela estava adequada para a publicação.
Eram comuns comentárioscomo"argu-
mento fraco"e"falta conclusão".
"Envolverestudantesde 6O a 9 O anona
produção textual é um grande desafio",
ressalta Roxane Rojo, da Universidade
Estadualde Campinas(Unicarnp)."Mui-
tas vezes,eles tiveram de produzir textos
sem função comunicativa durante a es-
colaridadeiniciale,por acreditaremque
escreverC uma chatice,sãomais resisten-
tes."Atenta, Maria Teresa soube driblar
o problema. Percebendo que a turma
andavainquietacom aproibiçãopor par-
te da direção do uso de short entre as
meninas, ela fez diko o tema de um edi-
torial do jornal mural.
"Para que algudmse coloque na posi-
çãodeescritor,é preciso quesuaprodução
tenha circulação garantida e leitoresde
verdade",diz Roxane.Etodossaberiama
opinião do alunosobrea q'uestão,inclu-
sive a diretoria. "Só assim ele assume
responsabilidade pela comunicação de
seu pensamento e se coloca na posição
do leitor,antecipandocomoelevai inter-
pretá-lo."Aargumentaçãodagarotadafoi
tão bem estruturada que a diretoria re-
solveuvoltaratráseliberar maisuma vez
o uso da roupa entre as garotas.
A criação de condições didáticas nas
propostas para as turmas de l0 a S0 ano
segueos mesmospreceitosutilizadospe-
la professoraMariaTeresa."Em qualquer
série,como na vida,produzir um textoC
resolver um problema", ensina Telma
Ferraz Leal."Maspara isso6 precisocom-
preender quais são os elementos princi-
pais desse problemaen
A revisãovai além da ortografia
e foca os propósitosdo texto
Produzir textosé um processoque envol-
ve diferentes etapas: planejar, escrever,
revisar ereescrever. Essescomportamen-
tosescritoressãoosconteúdosfundamen-
tais da produção escrita. A revisão não
consisteemcorrigir apenaserrosortográ-
ficos e gramaticais,como se fazia antes,
mas cuidar para que o texto cumpra sua
finalidadecomunicativa."Deve-se olhar
para a produção dosestudantese identi-
ficar aque provoca o estranhamento no
leitordentrodosusossociaisqueelaterá",
explica Fernanda ~iberali.
Com a ajuda do professor, as tumas
aprendem a analisar se ideias e recursos
utilizados foram eficazes e de que forma
o materialpode sermelhorado.Asalade
3O ano de Ana Clara Bin, na Escola da
Vila, em SãoPaulo,avançou muito com
um trabalho sistemático de revisão. Por
um semestre,todos se dedicaram a um
projetosobrea históriadasfamílias,que
culminou na publicação de um livro,
distribuídotambém para ospais. Dentro
desse contexto, ela propôs a leitura de
contosemqueescritoresnarramhistórias
da própria iXancia.Os estudantesse en-
volveram na reescritade um dos contos,
narradoemprimeirapessoa.Elestiveram
de reescrevê-lo na perspectiva de um ob-
servador-ou seja, em terceira pessoa. A
segundamissãofoiaindamaisdesafiado-
ra: contar uma história da infincia dos
pais. Para isso,cadaum entrevistoufami-
liares, anotou as informações em forma
de tópicos e colocou tudo no papel (leia
o texto de um dos alunos à esquerda).
Ana Clara leu os trabalhos e elegeu
algunspontos para discutir."O mais co-
mum era encontrar só o relato de um
fato",diz."Recorremos, então,aoscontos
lidospara saber que informações e deta-
lhes tornavam a história interessante e
comoorganizá-lospara dar emoção."Ca-
da um releu seu conto, realizou outra
entrevista com o parente-personagem e
produziu uma segundaversão. e
www.ne.org.br Especial Produgáo de Texto 15
12. e Tiveraminícioaidiferentesformas
de revisão -análisecoletiva de uma pro-
duçãono quadro,revisão individualcom
baseemdiscussõescom ogrupoerevisões
emduplas-,realizadasváriosdiasdepois
para que houvesse o distanciarnentoem
relação aotrabalho.Aprimeiraproposta
foi a"revisão de ouvido".Para realizá-la,
Ana Clara leuemvoz altaum doscontos
para a turma, que identificoua omissão.
depalavras einformações.Elaselecionou
algunsaspectos a enfocar na revisão:or-
tografia,gramáticae pontuação.
Quandoaclassefoidivididaemduplas,
um dospropósitos da professoraera que
uns dessem sugestõesaos outros. A pes-
quisadora argentina em didática Mirta
Castedok defensoradessetipodepropos-
ta. Para ela, as situações de revisão em
grupo desenvolvem a reflexão sobre o
que foíproduzido ior meiojustamente
da troca de opiniõese críticas."Revisar o
queos colegasfazem k interessante,pois
o aluno se coloca no lugar de leitor",
emenda Telma. "Quando volta para a
própria produção e revisa,a criançatem
maiscondiçõesdecriarodistanciamento
dela e enxergar as fragilidades."
Um escritor proficiente, no entanto,
não faz a revisão só no fim do trabalho.
Durante aescrita,é comum relerotrecho
já produzido e verificar se ele está ade-
quadoaosobjetivoseàsideiasquetinha
a intenção de comunicar-só então pla-
neja-se a continuação. E isso k feito por
todo escritor profissional.
A revisão em processo e a final são
passos fundamentais para conseguir de
fato uma boa escrita. Nesse sentido, a
maneira como você escreve e revisa no
quadro, por exemplo, pode colaborar
para que acriançao tome comoum mo-
deloe se familiarizecom.0procedimen-
to. Sobreo assunto,Mirta Castedoescre-
ve em sua tese de doutorado: "Os bons
escritores adultos (...) são pessoas que
pensamsobreoquevãoescrever,colocam
em palavrasevoltam sobreojá produzi-
do para julgar sua adequação. Mas não
realizam astrês ações (planejar,escrever
e revisar) sucessivamente:vão e voltam
de umas às outras, desenvolvendo um
complexoprocesso de transformação de
seusconhecimentosem um texto".
Ser autor exige pensar
no enredo e na estrutura
O terceiro aspecto fundamental no tra-
balho deprodução textualé garantirque
a criança ganhe condiçõesde pensar no
todo.Do enredoàformadeestruturaros
elementos no papel: k preciso aprender
a dar conta de tudo para atingir o leitor.
Esse processo denomina-se construção
de um percurso de autoria e se adquire
com tempo, prática e reflexão.
Osestudosemdidáticadaspráticas de
linguagem fizeram cair por terra o pen-
samentodequearedaçãocomtema livre
estimulaacriatividade.Hojesabe-seque
depois da alfabetização há ainda uma
longa lista de aprendizagens. Foi consi-
derando a complexidade desse processo
que Edileuza dos Santos,professora da
EM deSantoAmaro,no Recife,desenvol-
veu um projeto de fábulascom a skrie
(leia o textode um dos alunos à esquerda).
Ela deu infcio ao trabalho investindo
na ampliaçãodorepertório dentro desse
gêneroliterário.Assim foipossívelobser-
var regularidadesna estrutura discursiva
e linguística,como o fato de que os ani-
mais são os protagonistas. "Escolhi esse
gênero porque ele tem começo,meio e
fim bem marcados, algo que eu queria
trabalhar com a garotada?
A primeiraproposta foio recontooral
de uma fábula conhecida."Isso envolve
organizar ideias e pode ser uma forma
de planejar a escrita", endossa Patrícia
Corsino,daUniversidadeFederaldoRio
deJaneiro(UFRJ).Quandojá dominamos
todas as informações de uma narrativa,
podemos nos focar apenas na forma de
expor oselementos-mas esseéum gran-
de desafio no inicio da escola-idade.
Na turma de Edileuza, as propostas
seguintesforam a reescrita individual e
a produção de versõesde fábulasconhe-
cidascom modificaçõesdospersonagens
ou do cenário.Aos poucos,todos ganha-
ram condições de inventar situações.A
professora percebeu que os estudantes
não entendiam bem o sentidoda moral
da história. Pediu, então, uma pesquisa
sobreprovérbios eseuusocotidiano.Com
essa compreensão e um repertório de
ditados populares, Edileuza sugeriu a
criação de uma fábula individual. Ela
discutiu com o grupo que esse gênero
geralmentetem como protagonistasini-
migostradicionais(cãoegato,por exem-
plo). Estava coiocada uma restrição.Em
seguida,relembrou provérbios que po-
deriam ser a moral dashistórias criadas.
Desde o início, todos sabiam que as
produçõesseriam lidaspor outrosalunos,
o que serviu de estimulo para bolar tra-
mas envolventes."Há uma diferençaen-
tre escrevertextoscom autonomia-obe-
decendo à estrutura do gênero,sem pro-
blemas o r t o ~ i c o se de coerência-e se
tornar autor", explica Patrícia."No pri-
meiro caso,basta aprender as caracterís-
ticasdo gêneroe conhecer o enredo,por
exemplo. No segundo, 6 preciso desen-
volver ideias." Para chegar lá,a interação
comprofessoresecolegase o acessoaum
repertório literáriosão importantes.
Do 6 O ao 9 O ano, o processo de cons-
trução daautoriapodeexigirdesafiosque
sejam cada vez mais complexos:a elabo-
ração de tensões na narrativaou a parti-
cipação em debates para desenvolver a
argumentação,comofez MariaTeresa."A
reescritapode vir com propostas de pro-
dução de paródias,no caso dos maiores,
queexigemmaiselaboração",diz Roxane.
Uma boa forma de fazer circular textos
nessa fase são os meios digitais, como
blogs e ositeda própriaescola.Osjovens
podem seresponsabilizarpor toda a pro-
dução.Levarosestudantesase expressar
cada vez melhor, afinal,deve ser o obje-
tivo de todo professor. (3
OUER SABER MAIS ? Il
i-
: Centro de Educaçãoe
i Humanidades Instituto de Aplicação i
i Fernando Rodrigues da Sllveira,
: tel. (21) 2333-7873, cap-uerjQhotmail.com i
i EM de Santo Amaro, tel. (81) 3232-5919 :
i Escolada Vila, tel. (11) 3726-3578,
j vilaQvila.com.br
: Fernanda Liberali, Iiberali@uoi.com.br
i Roxane Rojo, rrojoQiel.unicamp.br
: Teima Ferraz Leal, tfleal@terra.com.br 1
www.ne.org.br Especial Produgão de Texto 17
13. Práticasde linguagem 10,50am '
Gêneros,
como usarEles invadiram a escola - e isso é bom. Mas é preciso parar de ficar só
ensinando suas características para passar a utilizá-los no dia a dia de
todas as turmas com o objetivo de formar leitores e escritores de verdade
ANDERSON MOÇO anderson.moco@abril.com.br
18 Especial Produgão de Texto www.ne.org.br
14. seja,se é um texto com função comuni-
cativa,tem um gênero.
Na última década, a grandemudança
nas aulasdeLíngua~or&guesafoi ache-
gadadosgêneroshescola. Essa mudança
é uma novidade a ser comemorada. Po-
rém muitosespecialistase formadoresde
professoresdestacamque há uma peque-
* na confusão na forma de trabalhar. Ex-
plorar apenas as característicasde cada
gênero (cartatem cabeçalho,data,sauda-
Todo dia, você acorda de manhã e
pega ojornal para saberdasúltimas
novidadesenquanto toma o caféda ma-
nhã. Em seguida,vai até a caixa de cor-
reio e descobre que recebeu folhetos de
propaganda e (surpresa!) a carta de um
amigo que está morando em outro país.
Depois, vai ate a escola e separa livros
para planejar uma atividade com seus
alunos. No fim do dia, de volta h casa,
pega uma coletâneadepoemasna estan-
te da sala e lê alguns antes de dormir.
Não C de hoje que nossa relaçãocom os
textosescritosé assim: eles têm formato
próprio,suporteespecífico,possíveispro-
pósitos de leitura - em outras palavras,
possuem o que os especialistaschamam
de "características sociocomunicativas",
definidas pelo conteúdo, pela função,
pelo estilo e pela composição do mate-
rial aser lido. EC essasoma de caracterís-
ticasquedefineosdiferentesgêneros.Ou
çáo inicial, despedida etc.) não faz com
que ninguém aprenda a, efetivamente,
escreveruma carta.Falta discutirpor que
epara quem escrevera mensagem,certo?
Afinal, quem vai se dar ao trabalho de
escreverpara guardá-la?Essa é adiferen-
ça entre tratar os gêneros como conteú-
dos em si e ensiná-los no interior das
práticas de leitura e escrita.
' Essa postura equivocada tem raízes
claras:é uma infeliz reediçãodojeito de
ensinarLínguaPortuguesaquepredomi-
nou durante a maior parte do século
passado.A regra era falarsobreo idioma
e memorizar definilões:"Adjetivo: pala-
vra que modifica o substantivo,indican-
do qualidade, caráter, modo de ser ou
estado.Sujeito:termo da oraçãoa respei-
to do qual se enuncia algo".Eassim por
diante,numa lista quilométrica.Podeaté
parecer maisfácileeconômicotrabalhar
apenas com os aspectos estruturais da
língua,masé garantido:a turma não vai
aprender."O que importa é fazer agaro-
tada transitar entre asdiferentesestrutu-
ras e funçõesdos textos como leitores e
escritores",explica a linguista Beth Mar-'
cuschi, da Universidade Federal de Per-
nambuco (UFPE).
É por isso que não faz sentido pedir
para os estudantes escreverem só para
você ler (e avaliar). Quando alguém es-
creve uma carta, C porque outra pessoa
vai recebê-la. Quando alguém redige
uma notícia, é porque muitos vão lê-la.
Quando alguémproduz um conto,uma
crbnica ou um romance,é porqueespera
emocionar, provocar ou simplesmente
entreter diversos leitores.E isso é perfei-
tamente possível fazer na escola: a carta
podeserenviadapara amigos,paren- e
www.ne.org.br Especial Produgão de Texto 19
15. Práticasde linguagem 1°a050ano
etes ou colegas de outras turmas; a
notícia pode ser diwlgada num jornal
distribuído internamente ou transfor-
mado em mural; o texto literário pode
dar origem a um livro,produzidodefor-
ma coletiva pela moçada.
Os especialistasdizem que os gêneros
são,na verdade,uma "condiçãodidática
para trabalhar com os comportamentos
leitoreseescritores".Asutilezaé que eles
devem estar a serviço dos verdadeiros
conteúdos:oschamados"comportamen-
tos leitoreseescritores"(lerpara estudar,
encontrar uma informação específica,
tomar notas,organizarentrevistas,elabo-
rar resumos, sublinhar as informações
mais re.levantes,comparir dados entre
textos e,claro, enfrentar o desafio de es-
crevê-los)."Cabe aoprofessorpossibilitar
que os alunos pratiquem esses compor-
tamentos,utilizandotextos de diferentes
gêneros",diz Beatriz Gouveia,coordena-
dora do Programa Alem das Letras, do
Instituto Avisa Lá,em São Paulo, e sele-
cionadora do Prêmio Victor Civita -
Educador Nota 10.
As boas opções para abordar
os gêneros em sala de aula
Existem muitas formas de trabalhar os
gêneros na prática. Nos quadros que
acompanham esta reportagem,você co-
nhece ecomparaduaspropostascurricu-
lares,deuma instituiçãoprivada edeurna
rede pública. A primeira (publicada à di-
reita e naspáginas 22 e 23) é da Secretaria
de Educação de Nova Lima, na região
metropolitana de Belo Horizonte.A se-
gunda (da página 24 à 27) é da Escola
Projeto Vida, em São Paulo. Ambas co-
brem do loao 5 O ano do Ensino Funda-
mental e podem servir de exemplopara
distribuirosconteúdosporque represen-
tam um passo além da chamada"norma-
tizaçãodescritiva"(atendência deexplicar
s6 as característicasde cada gênero).
Antes de detalhar como funciona a
abordagem que privilegia o ensino dos
comportamentos leitores e escritores,
vale uma palavrinha sobre os conteúdos
clássicos da disciplina: ortografia e gra-
mática.Elescontinuamsendomuito e
lJl<UIJU3IA LUI<I<ILULAI<UU MUNILIIJIC
Dividida em semestres, cobre 1O ao 5 O ano
e é adotada em toda a rede municipal
cantigas e adivinhas).
Objetivos Desenvolver
Objetivos Desenvolver ' comportamentos leitorese ler antes
coqportamentos leitorese de saber ler convencionalmente,
escritores, ler antes de saber tentando estabelecer relaçõesentre
ler e escrever sem saber o oral e o escrito.
escreverconvencionalmente. Conteúdos Leitura, escrita
Conteúdos Leitura, escrita e comportamentos leitores.
e comportamentosleitores.
do sistema de escrita). Produçãocoletiva ou em dupla
Recontode contos conhecidos de bilhetes,convites, receitas, regras
com o professorcomo escriba, de jogos, propagandase anúncios.
preservandoos elementos Reescritacoletiva de contos
da linguagem escrita. conhecidos.
Objetivos Refletir sobre Objetivos Refletir sobre o
o funcionamento do sistema funcionamento do sistema de escrita
de escrita e apropriar-se e produzir um texto em linguagem
das caracterlsticas da escrita, recuperandoos principais
linguagem escrita. elementos da narrativa.
Conteúdos Leitura e escrita Conteúdos Leiturae escrita e produção
e produção de texto oral com de texto oral com destino escrito.
destino escrito.
Agenda de telefones eendereços
dos alunos da turma. Coletânea de reescritasde contos
Livrode parlendas preferidas ditados para o professor.
pelogrupo.
Objetivos Produzir um texto
ibjetivos Estabelecerum sentido em linguagem escrita, recuperando
, ara o uso do alfabeto,favorecer os principais elementos da narrativa,
situaçõesde escrita com baseem e perceber a diferença entre
textos de memória e refletir sobre o a linguagemoral e a escrita.
funcionamento do sistema de escrita. Conteúdo Linguagem escrita.
Conteúdos Ordem alfabgtica
e leitura e escrita.
16. c ,Leituradiária de contos e poemas Leituradiária de textos literários Leitura diária de textos literários
pelo professor.
I.
e informativos pelo professor. pelo professor.
Roda de conversa com media ão do Roda de conversa (emissão de Roda de conversa (escuta atenta
professor sobre temas diversiÁcados. opiniões pessoais). e manifestaçãode opiniões).
Roda de biblioteca(emprkstimo Roda de biblioteca(emprkstimo Roda de biblioteca (emprkstimo de
-1
de livros e compartilhamento de livroscom comentários, lembrança livrose apreciaçãode textos literários).
de impressões sobre eles). de trechos, indicação aos colegas Leitura compartilhada de textos
Leiturae escrita de textos de e apreciaçãode textos literários). informativos para estudar os
memória (poesias, adivinhas, Leitura e escrita de textos práticos temas tratados nas diferentes
cantigase trava-llnguas). (bilhetes, cartões, avisos, anúnciosetc.). áreas de conhecimento.
Leitura pelo aluno de diferentesgêneros
Objetivos Desenvolvercomportamentos Objetivos Familiarizar-secom textos para localizare selecionar informações.
leitorese utilizar as estratkgias de literários e informativos e desenvolver Escritade textos práticos(bilhetes,
seleção, antecipaçãoe verificação, o comportamento leitor. cartões, avisos, anúncios etc.)
considerando aquilo quejá se sabe sobre Conteúdos Leitura, produção de texto
o sistemade escrita. e comportamentosleitores. Objetivos Desenvolvercomportamentos
Conteúdos Leitura, escrita e leitores, aprender procedimentosque
comportamentos leitores. leitoresexperientes usamao procurar
informaçõesnostextos e pôr emjogo
os conhecimentos sobre a escrita,
considerando as caracterlsticasdo gênero.
Conteúdos Leitura, produçãode texto
e revisão(pontuação, coesão, coerência
e aspectos referentesa regularidades
e irregularidadesortográficas).
Leiturade várias versões do mesmo Reescritaem dupla de contos
conto para apreciare comparar selecionados pelaturma. Reescritade contos conhecidos
textos de qualidade. Revisão coletiva das reescritas. (individualmente ou em dupla),
a Recontoe reescrita de umaversão Leitura, com a ajuda do professor, considerando as ideias principais do texto
do conto escolhida pelos alunos. de textos de diferentesgêneros, e as caracterlsticasda linguagemescrita.
Escrita em dupla de textos de memória. apoiando-seem conhecimentos sobre Escrita coletivade brincadeiras
Revisãocoletiva dostextos produzidos o tema do texto, as caracterlsticasdo infantis coletadas em entrevistas
em dupla. seu portador e o gênero. e registrosescritos.
n
Revisãocoletiva (aspectos
Objetivos Conhecere valorizar os Objetivos Participar de uma situação notacionaise discursivos).
recursos lingulsticos utilizados pelo de revisãocom a ajuda do professor,
autor e considerar a importancia da visando aprimorar a escrita e ler Objetivos Produzir textos utilizando
escrita correta para ser mais bem diferentesgêneroscom maisfluência. recursos de linguagemescrita e
entendida pelos leitores. Conteúdos Leitura, produçãoe revisão desenvolvercomportamentosde escritor
Conteúdos Leitura,produçãode texto de textos (aspectos notacionais (planejar, redigir, revisar e passar a limpo).
e revisão(ausência de marcasde ediscursivos,considerando as Conteúdos Produçãodetexto oral
nasalização,hipoe hiperssegmentação, caracterlsticas lingulsticas do gênero). com destino escrito e revisãode
entre outros). textos (pontuação, coesão, coerência
e ortografia).
i Livrode cantigas de roda preferidas Leitura de contos de própria autoria Manual de brincadeirasinfantis antigas
pelosalunos. para outrasturmas (após o reconto, para serem desenvolvidasnas aulas
a reescritae a revisão). de Educação Flsica.
Objetivos Escrever alfabeticamente Cadernode relatos de memórias Saraus literários (narração, reconto
textos de memória e pôr emjogo da turma com fotos e registrosescritos. de contos conhecidose declamação
os conhecimentos sobre a escrita. de poesiase trava-llnguas).
Conteúdo Ortografia. Objetivos Desenvolvercomportamentos
leitorese escritores eescrever relatos, Objetivos Desenvolvercomportamentos
rh considerandoas caracterlsticastextuais escritores(planejar o que se vai escrever,
e discursivas do gênero. escolher umaentre várias possibilidades
Conteúdos Leitura, produçãoe revisão de e rever após aescrita), identificar
textos (ortografia e aspectos relacionados caracterlsticasdos gêneros orais e' 3 linguagemque se usa para escrever). escritose participar de situaçõesde
L usode linguagemoral.
Conteúdos Comportamentosleitores,
-comunicaçãooral, produçãode texto e
17. Práticasde linguagem 1°m50am
/
Leituradiária de textos literários, Leitura diária de textos literários,
I
Leitura diária de diferentes
informativos e instrucionais informativos e práticospelo professor. gêneros pelo professor.
Leituracompartilhada de textos Rodade bibliotecae roda depelo professor.
Roda de conversa (manifestação informativos e de divulgaçãocientlfica. conversa relacionada aos projetos.
de opiniões). Roda de bibliotecae rodade conversa Leitura pelo aluno de gibis,
Roda de biblioteca (empréstimo de (discussõesrelacionadasaos projetos). enciclop6dias,jornais (para buscar
livros e comparaçãode livros lidos). Leitura de textos em diferentes informações,se divertir e aprender
Leituracompartilhada de textos portadorespara buscar informações. sobre o tema).
informativos e discussãode temas.
Escritade notlcias e de textos Objetivos Familiarizar-secomtextos Objetivos Familiarizar-secom
publicitários (propagandas, cartazes, de diferentesgêneros e selecionartextos diferentesggneros e selecionar
folhetos, slogans, outdoors etc.). em diferentesfontes, observandoseu textos em diferentesfontes,
propósito enquanto leitor. observandoseus propósitos.
Objetivos Desenvolver Conteúdo Comportamentosleitores Conteúdos Comportamentosleitores.
comportamentosleitores, aprender (seleçãode informaçõese leitura
procedimentosque leitoresexperientes de textos informativos).
usam para fazer perguntas e fazer
colocações ertinentes e por em
jogo os con(ecimentos sobre
a escrita considerando as
caracterlsticasdo gênero.
Conteúdos Leitura, produ ão de
texto e revisão(regularidaies e
irregularidadesortográficas,
coerência, coesão e pontuação).
*.Leitura para refletir sobre os Leiturae reescrita de contos Leiturade vários textos de um
recursos lingulsticos utilizados tradicionais tendo um mesmo autor, analisando os recursos
pelo autor (identificação nos contos personagemcomo narrador. lingulsticos utilizados por ele.
dos recursose as caracterlsticas Reescrita individual ou em dupla Produ ão de textos práticos, informativos
próprias desse gênero). de textos informativos. e literjrios individualmente ou em dupla,
Produçãode contos. Revisãocoietivaou em dupla utilizando procedimentosde escritor.
Revisãocoletiva(ortografia (coerência,coesão e ortografia). Revisãode textos produzidosem dupla
e pontuação). e com a ajuda do professor.
Objetivos Reescrever um conto
Objetivos Reconhecer a leitura em primeira pessoa (o personagem Objetivos Conhecercaracterlsticas
como umafonte essencial para 6 ao mesmotempo narrador) discursivas e comunicativasdesses gêneros,
produzir textos, aprender e desenvolvercomportamentos saber reconhecer, organizar e utilizar
procedimentosde revisãoe escritores. os recursoslingulsticos presentes nos textos
conhecercaracterlsticas discursivas ConteSidos Leiturade contos e aprender procedimentosde revisão.
e comunicativasdesse gênero. tradicionais, produçãotextual e Conteúdos Leitura, produçãodetexto e
Conteúdos Leitura, produçãode revisão(ortografia, pontuaçãoe revisão(ortografia, pontuação, concordância
texto e revisão(ortografia, pontuação, concordânciasverbale nominal). nominale verbal e aspectosdiscursivos).
Apresentação de um conto Leiturae produçãodejornal mural. Roda de leitura com a participação
produzido pela turma para os alunos Indicaçãoliterária de vários livros dos pais (apresentações,apreciações
da escola. e autores ara a maior circulação
de livros bibliotecada escola.
Objetivos Recuperar os elementos
da narrativa com base na linguagem Objetivos Reescrevere produzir textos
que se usa para escrever. utilizando procedimentosde escritor.
Conteúdos Leiturae Conteúdos Leituradejornais, Objetlvos Favorecer a troca de
produçãode texto. produçãode texto e revisão experiênciasde leitura e p8r em
(aspectos notacionaise discursivos). jogo os conhecimentos sobre a escrita
considerando as caracterlsticasdo gênero.
Conteúdos Leitura, produçãode texto.
e revisão(ortografia, pontuação
e aspectosdiscursivos).
18. Leitura diária dediferentesgeneros Leitura diáriadediferentesg@neros
textuais pelo professor. textuais pelo professor.
Roda de biblioteca (comemprkstimo Roda de biblioteca (emprkstimo
de livros). de livros).
Roda de conversa (emissãodeopiniões Roda de conversa,participação
sobredeterminadoassuntopara em seminárioseentrevistas.
argumentar econtra-argumentar). Leitura pelo alunocom diferentes
Leitura detextos para buscar propósitos.
informações,compreendereestudar.
ObjetivosParticipar de situações
ObjetivosParticipar de situações de intercâmbiooral,trocando
de interclmbiooral,trocandoopiniões, opiniões,planejandoejustificando sua
planejandoejustificando sua fala, fala,e adquirir comportamentosleitores.
e adquirircomportamentos leitores. Conteúdos Leitura e comunicação
ConteúdosComportamentosleitores oral (seminárioe entrevista).
ecomunicaçãooral.
* Leitura para refletir sobrea escrita Revisãodetextos produzidos por
(reconheceros recursos lingulsticos alunosdeoutrasturmas(elaborar
presentes nos diversostiposdetexto). devolutivas,fazendoalgumas
Pesquisa sobredeterminadoassunto consideraçõessobreotexto revisado).
(selecionarostextosde acordocom os -Leitura de artigosde opinião,noticias,
propósitosda leitura efazer resumos). re ortagense resenhas para desenvolver
Produçãodetextos informativos. a gmiliaridadecom esses eneros.
Revisãodas produções escritas. Produçbode resenhasdos!ivros lidos.
ObjetivosReconhecera leitura como ObjetivosRevisartextosassumindo
o ponto de vista do leitoreconhecer
informaçõese revisartextosassumindo
o ponto devista do leitor. Conteúdos Leitura,produção de
ConteúdosAnálisee reflexão sobre resenhas e revisão(pontuação,ortografia,
a Ilngua,produqãodetexto e revisão concord%nciaverbal e nominal, adequação
(aspectosnotacionaisediscursivos). aog@nero,coerencia ecoesãotextual).
Livrode cruzadinhasda turma Produçãodejornal da turma.
com verbetes(reflexãoorto ráfica Elaboraçãode resenhasde livros para
considerandoas regularidales apresentar a outrasturmas da escola.
e irregularidades ortográficas).
Elaboração de um folheto informativo ObjetivosExpressar sentimentos,
sobre um tema estudado. ideias eopiniões com base na leitura
efavorecera familiaridadee ouso
ObjetivosRefletir sobrea escrita dosdiversosgênerostextuais em
das palavras,considerandoas regularidades situaçõessignificativas.
e irregularidades ortográficas,e p8r Conteúdo Produçãode textos
em jogo os conhecimentossobrea escrita, jornallsticos e resenhas.
considerandoas caracterlsticasdogenero.
ConteúdosOrtografiae produção
detextos informativos.
& importantes nesse novojeito de pla-
nejar, pois conhecê-losé essencial para
que os alunos superem as dificuldades.
Que tempo verbal usar para contar algo
que já ocorreu? Que recursos de coesão
e coerenciagarantem a compreensão de
uma história? "Saber utilizar a língua é
o que mais influencia a qualidade textu-
al: ressaltaBethMarcuschi.Para alcançar
isso, porém, não é necessário colocar a
ortografia e a gramática como um fim
em si mesmo, ocupando o centro das
aulas. Assim como os gêneros, elas são
um meio para ensinar a ler e escrever
cada vez melhor.
Nas propostas curriculares da Escola
Projeto Vida e da rede de Nova Lima,
você vai notar que não existe uma pro-
gressão de aspectos "mais fáceis" para
outros "mais dificeis", pois qualquer gê-
nero pode ser trabalhado em qualquer
ano."O quedevevariarconformea idade
é a complexidadedostextos",afirma Re-
ginaScarpa,coordenadorapedagógicade
NOVA ESCOLA.Alemdisso,é fundamen-
tal retomar oestudo sobre determinado
g&nero(em diferentes momentos, mas
para atender a necessidadesespecíficas
de aprendizagem).
A turma deve saber que cada
tipo de textotem um suporte
A apresentaçãodostextos 6outro ponto
essencial:elesdevem sertrabalhados em
seusuportereal.Sevocê quer usar repor-
tagens,tem de levar para a salajornais e
revistas deverdade.Paraexplorarreceitas,
6precisoqueosalunosmanuseiemobras
de culinária. Na análise de bio@ias, é
fundamental cada um dispor de livros
desse tipo. E assim sucessivamente. Por-
tanto, nada de oferecerapenasuma carta
que esteja publicada (ou resumida) nas
páginas do livro didático.
Isso posto, é hora de mergulhar nos
currículos.Ofio condutor que aproxima
as duas propostas é a preocupação de
fazeraturina transitar pelastrêsposições
enunciativas do texto: ouvinte, leitor e
escritor.Énessa"viagemJ'de possibilida-
des que a garotada exercita os tais com-
portamentos leitoreseescritores.Em e
19. Praticasde linguagem 10,50ano
eNova Lima,todo professor lê diaria-
mente, ao longo do primeiro semestre,
contospara aturma de 2 O ano.Ao ouvir,
os alunos se familiarizamcom diversos
exemplosdetexto,apreciando-oseapren-
dendo a identificarascaracterísticasque
cada um delescontem.
Ao mesmo tempo, eles atuam como
leitores, comparando diferentesversões
de um conto,por exemplo,com o obje-
tivo de refletir sobreosrecursoslinguís-
ticosescolhidospelosautores.E o profes-
sor também coloca a garotada para tra-
balhar-pede quetodoscaracterizemum
personageme,portanto,escrevam.Nessa
hora, eles vão usar termos como "bom",
"mau","bonito","nervoso"etc."S6então
cabe explicar que esses termos são cha-
mados de adjetivos e são muito impor-
tantes em diversos textos, sobretudo os
contos e as propagandas, mas não são
adequados em outros,comoasnoticias",
explica Beth Marcuschi.
Nessa integração de atividades com
diferentes propósitos, os estudantesvão
muito alem das caracteristicas de cada
gênero -e aprendem de fato a ler e es-
crever,inclusive fazendouso da ortogra-
fia e da gramática em situações reais.
Tudo isso permite dar o pontapé inicial
aoqueosespecialistaschamamde"carni-
nho da autoria'' Uma possibilidade .C
propor a reescrita (individual) de um
conto.Maso percursopelastrêsposições
enunciativass6 estará completoquando
a garotada produzir o próprio conto (no
casode Nova Lima,issoé feitono semes-
tre seguinte, com direito a ler as produ-
ções para outrasturmas).
Organização do trabalho
pede mescla de modalidades
Para integraressa multiplicidadedepro-
postas e dar conta da evoluçãodos con-
teiidos,o melhor caminhoé organizar as
aulasconformeasmodalidadespropostas
pelapesquisadoraargentinaDelia Lemer
e dividir os trabalhos entre-atividades
permanentes,sequênciasdidáticase pro-
jetos didáticos -que podem ser interli-
gados ou usados separadamente,depen-
dendodosobjetivosaseremalcança-e
PROPOSTA CURRICULAR DA ESCOLA PR
Organizada n o l0ano de forma semestral.
Do 2 O ano em dian nestral
Leitura pelo professorde textos
de diversos gêneros e de jornal.
Leituracompartilhada de gibis.
Roda de leitura (contos).
Roda de conversa (seminário de
apresentação dos conteúdos estudados).
Leitura peloaluno de gêneros diversos.
Objetivos Avançar no modocomo entende
a escrita, a leitura e a comunicaçãooral.
Conteúdos Leiturae comunicaçãooral.
de memória (quadrinhas preferidas).
Escritados tltulos das histórias lidas
e dos personagens.
I
Objetlvos Refletir sobre o funcionamento
do sistemade escrita e apropriar-sedas
caracterlsticasda linguagemescrita.
Contelidos Leitura, escrita e letra cursiva
I para os alfabkticos.
Produçãode resenhas de indicação
literária.
Objetivos Refletir sobre a organização
e a produçãode textos e familiarizar-se
com alguns gêneros.
Conteúdos Leiturae escrita,
comportamentos leitores, comportamentos
?scritores(revisão. análisede texto bem
~eiturapelo professorde uma
coletâneadetextos.
Leitura compartilhada de contos e
gibis.
Rodade leitura (contos indianos).
Roda de conversa.
Recontode conto pelo aluno.
Leitura e escrita detextos de
memória.
Objetivos Avançar no modo como
entende a escrita, a leitura e a
comunicaçãooral.
Conteúdos Leitura, comunicação
oral e comportamentos leitores.
Reescritae recontode
contos de RicardoAzevedo
e Clarice Lispector(1920.1977).
Objetivos Refletir sobre a
organizaçãoe a produção
de textos e analisar textos
bem escritos.
Conteúdo Produção
de texto (planejamento, escrita e
revisão-organizaçãotextual).
20. OJETUVIDA, EM 5AU W L w SY
l0trimestre
Roda de leitura
(apresentaçãoe
apreciaçãode livros
lidos).
Roda de curiosidades
(comunicaçãooral de
notlcias lidasem jornais
e revistase contadas
para os colegas).
Dbjetivos Desenvolver
i linguagemoral e
amiliarizar-secom
)s gêneros.
:onteúdos Leitura,
:omunicaçãooral e
:omportamentosleitores.
Roda de leitura ..
(apresentaçãoe .
apreciaçãode livros
lidos).
Roda de curiosidades
(comunicaçãooral de
, notíciaslidas emjorn
e revistas e contadas
1ais
1para os colegas).
I
Objetivos Desenvolver
comportamentos leitores
e a linguagem oral
e familiarizar-secom
os gêneros.
Conteúdos Leitura,
comunicaçãooral e
comportamentos leitores.
Leitura de biografias
de poetasbrasileiros.
Leitura compartilhada
de poemas.
Reescritade poemas.
lbjetivos Ampliar
) repertóriode poemas,
:onhecer recursos da
Leitura compartilhada
de mitos e lendas
indlgenas.
Leitura compartilhada,,-
de textos expositivos
de ciências naturais
e humanas.
bietivo Ler Dara estudarI tinguagempoetica régistrar informações
t aproximar-sedo e diferentesfontes. I~ênerobiografia. nteúdos
:onteúdos Leitura omportamentos leitores
!comportamentos speclficosde ler para
!scritores. rstudar: sublinhar. tomar
rotas e fazer resumos.
I
Roda de leitura
(apresentação e
apreciaçãode
livros lidos).
Roda de curiosidades
(comunicaçãooral
de notlcias lidas
emjornais e revistas
e contadas para
os colegas).
Objetivos Desenvolver
comportamentos
leitorese a linguagem
oral e familiarizar-se
com os gêneros.
Conteúdos Leitura,
comunicaçãooral e
comportamentosleitores.
I
Produçãoescrita Leitura, interpretação, Continuaçãodo projeto
e revisãode texto reescrita e revisão sobre conto de fada
autobiográfico. de contos de fada. (produção escrita
3bjetivos Aproximar-se
io gênero biografia.
:onteúdos Produção
ie texto, comportamentos
pscritorese revisão
,segmentaçãode palavras,
~rganizaçãode ideias,
iubstituição das marcas
ia oralidadee ortografia).
Objetivos Reescrever
contosde fada respeitando
caracterlsticasdo gênero
e a sequência de ideias
dos textos-referência.
Conteúdos
Comportamentos
leitorese escritores,
revisão(ortografia
e segmentação do
texto em parágrafos).
Roda de leitura _ Roda de leitura
(apresentação (apresentação
e apreciaçãode e apreciaçãode
livros lidos). livros lidos).
Roda de curiosidades Roda de curiosidades
(comunicação oral de (comunicaçãooral de
notlcias lidasemjornais notkias lidas emjornais
e revistase contadas e revistase contadas
para os colegas). paraos colegas).
Objetivos Desenvolver Objetivos Desenvolver
comportamentosleitores comportamentosleitores
e a linguagem oral e e a linguagemoral
familiarizar-secom efamiliarizar-secom -
os gêneros. os gêneros.
Conteúdos Leitura, Conteúdos Leitura,
comunicaçãooral e comunicação oral e
comportamentos leitores. comportamentosleitores.I T
Ie revisão para
organizaçãode livro).
I
Objetivos Escrever
um conto de fada
considerando
as caracterlsticas do
gênero, a se mentação
em parágraise a
sequência de ideias.
Conteúdo
Comportamentos
I
escritores e revisão
(ortografia, organização
de ideias e segmentação
do texto). I
Catálogode leituras
(leitura compartilhada
de textos ficcionais
de diferentesgêneros
/ e produçãoescrita
e revisãode resenhas -
1 organizadasem forma
de catálogooferecido
a biblioteca de uma
escolavisitada).
1 Leitura de textos
1 ficcionais de
diferentesgêneros.
1
Leituracompartilhada
de contos popularec
Produçãoescrita
e revisãode contos
populares para
coletâneade textos,
I
Objetivo: Conhecer
apreciar a leitura de
contos populares,
planejar, produzir e
revisar um conto popular
Conteúdos
I os livros lidos(do
Comportamentos
leitorese escritores e
revisão(ortografia,
coerênciae coesão, letra
iaiúscula e adjetivos).
21. .....................
A
I
Práticasde linguagem 1°m50am I
Roda de leitura Roda de leitura (apresentação .Roda de leitura
(apresentação e apreciaçãode livros).
1
(apresentação e apreciaçã"
e apreciaçãode livros). Roda de curiosidades de livros lidos).
Rodade curiosidades (comunicaçãopral de noticias .Roda de curiosidades
(comunicação oral de lidas em jornais (comunicaçãooral de
notícias lidasem jornais e revistase contadas notícias lidasemjornais
e revistase contadas para os colegas). e revistase contadas
para os colegas). para os colegas).
Objetivos Desenvolver ,,
Objetivos Desenvolver comportamentosleitores -. : Objetivos Desenvolver
comportamentos leitores e a linguagem oral . - 3 comportamentos leitores
e a linguagem oral efamiliarizar-secom - 8 e a linguagem oral e
efamiliarizar-secom os gêneros. familiarizar-se com os
os gêneros. Conteúdos Leitura, . gêneros.
Conteúdos Leitura, comunicaçãoorabe . ConteCidos Leitura,
comunicaçãooral e comportamento3reitores. comunicaçãooral e
comportamentos leitores. ,E A comportamentosleitores.
L .:.,
Leitura d e x s i t i v o s Leitura, anblise e reflexãz
de ciências naturaise sobre os recursos
humanas, explicitando linguisticos das narrativas
I
sua organização. de Monteiro Lobato
Produçãode textos (1882-1948).
expositivostendo como
referência textos de ciências Objetivos Ler, analisar
naturais e humanas. e interpretar textos
Leitura de textos ficcionais. variados do autor,
caracterizarpersonagens,
Objetivos Analisar textos identificando os modos
expositivos, refletindo de pensare sentir, e
sobre a organizaçãotextual utilizar recursos da
(subtftulos, uso de imagens e linguagem lobatiana.
gráficos como complemento Conteúdos Produção
das informações), organizar e revisãode texto
informações e registrá-Ias usando OS recursos
para expor ideias). de escrita de Lobato
(vocabuláriode época,
riqueza de detalhes
descritivos, pontuação
dentro do estilo
I
do autor).
Leitura compartilhada
de contosde aventura
e produçãoescrita de
livro da classe.
Objetivos Organizar
Objetivos Desenvolver informaçõese registrá-Ias
comportamentos leitores paraexpor ideias.
e escritores e identificar Conteúdo Revisão
caracteristicas dos
personagensque
sustentam a aventura.
Conteúdos Leitura,
produçãoe revisão
de texto (discursodireto
e indireto, ortografia,
coesão, organizacãodas
ideiase caracterlsticas
a do gênero).
PROPOSTA CURRI( LAR DA ESCOLA PROJETOVIDA, EM SÃO PAULO, SP (continuação:
r 4OA
' '$,?-<
Roda de leitura .?^i
(apresentação e apreciação"
de livros lidos).
Roda de curiosidades
(comunicação oral de
noticias lidas em jornais Ie revistase contadas para
os colegas).
Objetivos Desenvolver
comportamentosleitores
e a linguagem oral e
familiarizar-secom os
gêneros.
Conteúdos Leitura,
comunicacãooral e
comportainentos leitores.
,.4
Leitura, produçãoescrita
e revisãode poemas para
compor coletânea.
Objetivos Ampliar o
conhecimentosobre o gênero,
analisando bons modelos de
diversosestilosde poemas.
Conteúdos Comportamentos
leitorese escritores e revisão,
contemplandoo uso de rimas,
a escolha das palavras para
expressar imagens, os recursos
associativosentre os poemas
e aforma de expressá-los
no papel.
22. Roda de leitura
(apresentação e
apreciaçãode
livros lidos).
Roda de curiosidades
(comunicaçãooral de
e a linguagemoral
efamiliarizar-secom
os gêneros.
Conteúdos Leitura,
comunicaçãooral e
r comportamentosleitores.
Cku e Mar (Amyr Klink, Produçãoescrita e
de diversosgêneros.
Conteúdos
e escritores, leitura,
Objetivos Identificar
diferentes propósitosde
relato pessoal e o narrador
recursosde linguagem
e ortografia).
dos."Achaveé pensarnuma progres-
são das dificuldades",recomenda a lin-
guista Vera LúciaCristóvão,da Universi-
dade Estadual de Londrina (UEL).
Oprojetodidáticoéamodalidademais
indicadapara trabalhar a escrita-afinal,
ao criar um produto final com público
definido,aturma aprendeafocarem um
gêneroesaberoquê,por queepara quem
escrever.Num projetodidáticosobrepro-
pagandas, por exemplo, a exibição das
criaçõespara outros estudantespermite
reproduzir o que ocorre com a publici-
dade na vida real. Alem disso, a tarefa
adquire outro sentido,pois o aluno sabe
que escrevepara que outros leiame,por-
tanto, passa a prestar mais atenção na
necessidadede se fazer entender.
Já as sequências didáticas são ideais
para a leitura de diferentes exemplares
de um mesmo gênero,de obrasvariadas
deum mesmoautorou dediversostextos
sobreum tema. Elasgarantem uma pro-
gressão que respeita o objetivo a ser al-
cançado. Ao planejá-las, é importante
colocá-lasantesdosprojetosdeprodução
textual.No município de Nova Lima, os
textos informativossãoexploradosantes
da criação de um jornal mural. E as ati-
vidades permanentes têm como meta
criar familiaridadecom osdiversoscom-
portamentos leitores.
Na Projeto Vida, os alunos do 2 O ao
5 O ano realizam semanalmente rodas de
curiosidades,em que contam para os co-
legas o que leram nosjornais. Com isso,
são estimuladosa comentar as notícias.
Por fim,vale destacar que, quando os
gêneros são ensinadoscomo um instru-
mento para acompreensãodalíngua,não
importam quantosou em quaisvocê tra-
balha, desde que o objetivo seja usá-los
como um jeito de formar alunos que
aprendam a ler e escreverde verdade. (J
:-
:Beatriz Couveia, biagouveia@uol.com.br i
j Escola ProjetoVida, tel. (11) 22361425, .
atendimento@projetovida.com.br
:Secretaria Municipal de Educação
i de Nova Lima, tel. (31) 3541-4855
:Vera LúciaCristóvão, I
23. ...................................................................................................................................................................................
Propostasde escrita 3"aoõoano
O que e para que(m)
Propostasde escrita devem ter intenqão comunicativa e gênero e
destinatário claros. Projetos didáticos ajudam a conjugar esses fatores
TATIANA PINHEIR 0 novaescola@atleitor.com.br
ou duas linhas e desistem? Não dizem
nada com nada? Misturam gêneros -
pior, ficam sempre no mesma, ou, pior
ainda, não têm a menor noção do que se
trata? Para resolver isso,um caminho 6
refletir sobre sua prática em sala. Mais
especificamente, sobre suas propostas
de produção de textos. É bem provável
queesteja nelas a raiz damaior parte das
queixas citadas.
O argumento é simples: uma boa
proposta de texto precisa ter propósitos
comunicativos claros. Trata-se, segundo
os estudiosos, de garantir as chamadas
condições didáticas da escrita: o que es-
crever?Para que escrever?E,finalmente,
para quem escrever? Somente respon-
dendo a essas perguntas 6 possivel de-
terminar comoescrever (aquientram os
gênerosespecíficos: conto,fábula etc.).
Textos de tema livre costumam des-
considerar esses requisitos básicos. O re-
sultado, quase sempre,6 desastroso. Em
seu livro Passado e Presente dos .Verbos
Ler e Escrever, a pesquisadora argentina
Emilia Ferreiro demonstra claramente
a diferença que uma boa proposta de
escrita faz. Enquanto uma redação de
tema livre sobre o frango (por incrível
que pareça, a proposta era essa) gerou
uma composição pobre de conteúdo
e de forma indefinida, outra -em que
destinatários,tema e motivo da escrita
estavam explicitamentedefinidos -deu
origem a um texto,com diversasmarcas
doigênero,muito mais coerente e coeso
(leia oquadroà direita).
S PROF! .MAS DO TEXTO DE TEMA LIVRE
'-:~&ênero,r . destinatárioi -0pósitoclarosfazem muita fal
,,a m.ISTAS E
l k
MAIS LISTAS
Há muitos ite-
! enfileirados u
após o outro.
% "Quando não
:se sabe o que a
I, escrever, mas se
,:sabe que é preciso -
preencher a página, -
recorrer a lista é
umatábua de
salvação", analisa
Emilia Ferreiro.
diSTpREBA
DE CENEROS
A partir deste ponto,
o texto, que até
então poderia ser
considerado uma
descrição, se
transforma er
receita culinária.
Para completar
a composição,
o aluno recorre
aos modos de
preparo do frz i.
FIM
DESCONEXO
Na última f r a ~ -
Ramón revela
aliviado por
terminar a escrita
Você consegue
dizer se este texto
é bom? Sem gênero, i
destinatárioe
propósito claros, i
é impossível ter i
ritérios para aval^
ALUNO ~ a m 6 n ,7 anos.
COM A LINGUA EsCRm
vive emumacomunidade Vrai Pequena
e is0iada. Na ~ s c o ~ ,sua P~~~~~~~~
acha perda de tempo ler*
pR~pOSTADE ESCRITAEscrever um
. texmlivre sobre 0frango.
28 Especial Produgèo de Texto www.ne.org.br
24. A2 GOLUCOES DO TEXTO DE PROJETODIDATICO
Encaminhamentosclaros e corretos fazem toda a diferença
- . -
4%~ / eUM 4 ,/e, r n - R
I.."
dg5*.*e h < a h b , ~ hV,,,, .
O 4d;Ãs Ihes d;sçe AYIAO .-.
, I .
- ----,> .':
ALUNA Teresa, 6 anos. g .
.
CONTATOCOM A LINGUAESCRITA - . I;L--7-
A 3constante, Unto em casa como na escola.
- r-*Nasaulas, escuta a leitura de contosmdo dia L . 42d
PROPOSTA DE ESCRITA
Criar um contoque ser5 transformado
num Ilvrinh0 Para OS colegas.Teresa escolhe *
-c0fIIo tema o arco-(ris.
. -FONTE A(SUW EPRÈSENTEwsVERBQ(
E EscRNERIx FERREIRQOS T m o u * A ~ ~ T A W ~
0 WRNCUe5 I- c
EMv E w m ~ ~ ~ ~ í c mCORREÇ&Z ORTOCIL(F,~)
I
Essa clarezadepropósitosprecisa estar
presenteem todasaspropostas deescrita.
Mashá alternativasdetrabalhoqueacen-
tuam essascaracterísticas.Aprincipalde-
lasC oprojetodidático,uma modalidade
organizativacomposta de sequênciase
atividadesque culminamnum produto
final com destinatário definido."O pro-
jeto 6a melhor forma de realizar o que
i MARCAS
DO GÊNERO
A aluna conhece
as construções
típicas que são
usadasem um
conto, tanto
nício ("era uma
') como nofim
veram felizes
. ,-. 3 sempre",que
i registracomo......
: "e estavam
muito feliz").
NO RITMO
CORRETO
Apesar de
tropeçar no
início do texto,
ela logo resolve
o problema e faz
a história evoluir a
~ a r t i rdeste ponto,. .
i criando uma
i sequênciade fatos
i que confere,
bom rit
compos
GANIZAÇAO
EQUADA
A maneira como
Teresa constrói O
texto demonstra
conhecimentosdas
particularidades
da língua escrita
O fim de cada
fragmento, por
exemplo, 6
. retomadoe
i reelaboradopara
iniciaro seguinte.
estamos falando.Vamos supor que a in-
tenção seja propor um projeto didático
sobreavida dosdinossaurospara alunos
de4 O ou S0 ano.Oprodutofinalpodeser
um livro, com uma coletânea de textos
infolmativos,queficarádisponívelna bi-
blioteca.Nesse caso,ospropósitosdidáti-
cos-aprendera reconhecer e a produzir
textos expositivos-e o propósito social
ou comunicativo-produzir um livroso-
bre dinossaurospara a consulta dos de-
mais alunos -são do conhecimentode
.
todos desde o início das atividades.Isso
aumenta o entusiasmo para participar
das tarefas. Quando sabem que aquela
produção terá leitoresreais, o empenho
e ocuidadoemtodasasetapasda produ-
çãosãoredobrados.
Outroaspectoquediferenciaoprojeto
didático é a duração. De acordo com a
quantidadedeconteúdos,elepodeserfei-
to duranteumbimestre ouum semestre,
seguindo um planejamento detalhado
dasatividades:comoserãofeitas,quanto
tempo levarão,qual a meta de cada uma
e como serão avaliadas.Nos projetos de
produçãode texto,C essencialconsiderar
que cada etapa deve conter práticas de
leitura e escritaou de análise e reflexão
sobre a língua (leia o projeto didático na
página seguinte).
osespecialistaschamamde transposição
didáticadosusossociaisda escritapor co-
locaro aluno diantede uma prática que
consideraa função comunicativada lin-
guagem",diz Beatriz Gouveia,formadora
de professores do Instituto Avisa Lá, na
capital paulista,e selecionadora do Prê-
mio Victor Civita-EducadorNota 10.
Um exemploajudaa esclarecerdoque
Interdisciplinaridadee
culminância, palavrõesa evitar
Seaintençãoprincipal fortrabalhar pro-
dução detexto,é precisotomar cuidado
para não exagerar na interdisciplinari-
dade. A tentação de querer ensinar de
tudo um pouco, forçando a barra para
misturar diversasáreas,nãocostumadar
bons resultados. Para ficar no exemplo
dos dinossauros,não precisa quebrar a
cabeça para inserir a qualquer custoum
conteúdo de Matemática,por exemplo.
TarnbCm não vale pedir tarefas que a
turma já sabe e achar que a missão está
cumprida.Voltandoaosdinosmais uma
vez, imaginemos que os estudantes já
possuem algumafamiliaridadecom alei-
tura de mapas. Pedir que eles localizem
os bichos num mapa-múndi,defínitiva-
mente, não C um bom exemplo de e
www.ne.org.br Especial Produgão de Texto f9
25. Propostasdeescrita 3Oaoboano
ecomo abordar Geografia nesse pro-
jeto didático. Nãose podeperderdevista
que umbom projeto deve levar o aluno
a aprender coisasque antesdesconhecia.
Trata-se de fazê-lo colocar em jogo seus
conhecimentos para resolver umdelafio,
perceber que o que sabe é insuficiente e,
com a ajuda do professor, encontrar ca-
minhos para reorganizar suas hipóteses
e seguir avançando.
Outro pecadomuito comumnospro-
jetos é a atenção demasiada ?ichamada
"culminância", o produto final das ativi-
dades. A ideia é que a apresentaçãoou a
entrega do projeto concluam umacami-
'nhada permeada pelo aprendizado, na
qual as crianças partiram de um estágio
menor de conhecimento e chegaram a
um maior. "Em nenhum momento da
execução do projeto, o propósito social
e aculminânciadevemsuperar os objeti-
vos didáticos. Nãose pode perder noites
de sono pensando no que servir de lan-
chinho n o dia do sarau o u matutando
em que tipo de papel olivro de poesias
das crianças será impresso", alerta Silvia
Carvalho, especialistaem Educaçãoe co-
ordenadora do InstitutoAvisa Lá.
E Csempre válido lembrar quenãova-
le apostar apenasnos projetos didáticos.
Apesar de bons, é precisomesclá-losaou-
tras modalidades organizativas paraque
os alunos escrevam mais. O ideal é que
escrevamtodo dia, em todas assituações
que surgireme complementem o proje-
to principal: tomar nota em situação de
estudo, escrever cartas e bilhetes, traba-
lhar outros gêneros e assim por diante.
E mtodas elas, vale a regra de ouro: você
deve deixar bem claro para a turma as
perguntas essenciais -o quê, para quem
e para quê escrever. [J
i-
:Beatriz Couveia,
j biagouveia@uol.com.br
:SilviaCarvalho, siivia@avisala.org.br I
Ob)etlu#
iFamiliarizar-secom o gCnero
expositivo.
iAprender procedimentos de revisão.
Reconheceras caracterlsticas
de fichas técnicase produzi-las para
um mural a ser exibido na escola.
-iProduçãotextual (textos
informativos).
r Procedimentosde pesquisa.
Revisão.
lkapo Três meses.
rmrdrbEnciclopédias
e revistas de informação,tesoura, cola,
cartolina, canetinhase papéis.
I Para trabalhar com alunos com
i deficiência auditiva, acesse
i www.ne.org.br e digite na busca
i mural de animais em extinção.
i-
i 81aetapa
I Iniciecompartilhando com? turma
como será o produto final. E o
i momento de dividir com os alunos o
que o desafio é organizar, em fichas
técnicas, o que sabem sobre o assunto
para apresentar 2 comunidade da escola
e As famflias.
m 2' etapa
Paraque os estudantesescrevam um
texto informativo, precisamantes
se familiarizar com ele. Aborde esse
aspecto pedindo que eles levem livros,
fotos e reportagens quejulguem
interessantessobre animais em extinção.
Amplie esse acervo com enciclopédias,
livros, revistas e sites sobre o assunto,
cuidando para incluir fichas técnicas,
pois elas serão uma referência para o
trabalho da turma. Organize situações
de leitura, conversandosobre como o
texto 6 escrito, qual tipo de informação
ele traz, de que modo os dados são
descritose quais os termos mais usados.
8 3"etapa
Depois da familiarização com os
materiais, é hora de se debruçar
sobre eles para selecionar informações.
Divida a garotada em grupos e distribua
os materiais para pesquisa. Aborde
procedimentos como busca, seleçãoe
anotação das informações relevantes,
rediscutindo-os ate que o resultadoda
pesquisaseja satisfatório.
de escrita tanto em grupo como
individualmente. A comparação
e a referência a bons exemplosde
fichas técnicas, assimcomo o retorno
aos textos para recuperar e ampliar
as informações são sempre Úteis.
iSa etapa
Organize uma ou mais sessões de
revisão-coletivaque sirvam de modelo
para a atuação dos alunos. Destaque
todos os aspectos que podem ser
revisados:organizaçãoda linguagem,
ortografia e informações.
i6' etapa
Traga exemplos para que aturma saiba
como montar um mural. Alerte para
a necessidadede ilustração,de tftulo
e do tamanho das letras das fichas
para a leitura, tendo sempre em vista
as especificidadesdo público.
-tliul
Mural de fichas técnicas.
-Durante todo o desenvolvimento do iprojeto, avalie, nasfalas e nas produções i
das crianças, se elas conseguiram obter i
informações corretase suficientes em i
tabelas e esquemas, transpondo-as
adequadamentepara o mural.
i que vão aprender, a razão de estudar i4" etapa
o conteúdo, o quevão produzir e para Momento de usar as informdções Consultoria BEATRIZCOUVEIA e
DÉBORARANA(deborarana@ajato.
i quem vão apresentar. NOcaso do levantadas para a elaboração das fichas com,br),formadorasdo instituto
i hural de animais em extinção, conte I técnicas. Para isso, preveja situações I Avisa Li,em São Paulo, SI?
26. Diagnóstico 30m50ano
O que cada um sabe
Analisar detalhadamente a forma como os alunos escrevem é a primeira
providência para determinar os pontos que devem ser ensinados
ANDERSON MOÇO anderson.moco@abril.com.br
Aplicar atividades de diagnóstico C
algo fundamental para dar o pon-
tape inicialaotrabalho de qualquercon-
teúdo. Sobretudo do 3 O ao S0 ano do
Ensino Fundamental, a prática é indis-
pensável porque, enquanto alguns estu-
dantes demonstram mais familiaridade
comosconteúdosgramaticaisea organi-
zação textual,outros, recém-alfabéticos,
aindaenfrentamdificuldadesbásicas em
questões de ortografia,que precisam ser
sanadas com o passar do tempo. É claro
que nada disso é problema: erros desse
tipo são parte do processo de apropna-
ção da linguagem. Mas às vezes as difi-
culdades são tão alarmantes e variadas
que fica a sensação de que não há nem
por onde começar...Por isso, organizar
atividadespara descobrir o que a turma
já sabeé tão importante.
A sondagem inicial serve justamen-
te para mostrar - com o perdão do tão
surrado ditado -'que o diabo não 6 tão
feio quanto se pinta. "Nos diagnósticos
bem feitos,o objetivonão 6contabilizar
os erros um a um. O foco deles deve ser
agrupar problemas semelhantes para
direcionar o planejamento de ativida-
des que vão ajudar a corrigi-lose fazer a
garotada avançar maisn,explica Cláudio
Bazzoni, assessor de Língua Portuguesa
da prefeitura de São Paulo e seleciona-
dor do PrêmioVictor Civita-Educador
Nota 10.Em outraspalavras,isso signifi-
ca que entender as principais dificulda-
des da turma é fundamental para saber
o que é mais importante ser ensinado
e também para definir as melhorespro-
póstas didáticas e as abordagens mais
eficazes a serem aplicadas em sala.
Uma lista para mapear .
as dificuldadesda turma
Antes de começar a atividade,é preciso
montar uma lista com ositensque serão
analisados.Não podem faltar aspectos
relacionados aos padrões de escrita e às
o foco deve recair sobre a ortogr&a e a
1característicasdo texto. Do 3 O ao S0 ano, ,
pontuação e é essencialverificarseatur-
ma conhecee respeitaostraços do gêne-
ro escolhido(veja no quadro à direita um
exemplode diagndsticocom base em alguns
dos erros mais comuns nessafase).
Emseguida,vocêjá pode pedirque os
alunos escrevam. Não há segredo:como
I
emqualquerpropostadeproduçãoescri-
ta,osaluriosprecisamsaberpara quevão
escrever (ou seja, a intenção comunica-
I
tiva deve estar bem definida),o que vão
escrever (o gênero selecionado) e quem
vai ler o material (o destinatáriodo tex-
to)."TambémC importanteexplicarque
essas produções servempara mostrar ao
professor como ajudá-losa ser escritores
cada vez mais competentes",afirma So-
raya Freire de Oliveira,professora da EE
CarvalhoLeal,em Manaus. Em sua clas-
1
se de S0 ano, ela prop8s que a garotada
produzisse uma autobiografia, gênero
quevinha sendotrabalhado desdeo ano
anterior - uma opção válida,já que os
estudantestinham familiaridadecom o
tipo de texto. Contudo, os especialistas
apontamquepode serainda maisprodu-
tivo sugerir que os alunos recriem, com
suasprópriaspalavras,histórias conheci-
das,comouma fábula(leiamais noplano
de aula da página 34)."Assim,você pode
seconcentrarnosaspectosquetêm deser
,
,
melhorados para aproximar o textoe I
T m de letras
por dexouikimento
de qulariddar.
Iprouosta Enfatlze
as rcpularidaber
ortogtdfic~r,analisando,
por meiade listas,a
poryEo da ktra na
palavra ('C", porexemplo,
una ocorre no inkioh I
j-&lema CcmmdAnc
ertml.
~ 0 l ~ 3 9 t aRefletirs h r e
queé erro na norma
ulta e na linguagem
ihda pela comparagiío
e texto3 dê alunos
om reportagens(Neles
n>curozr>deve dar lugar
TAVAm
roMcm interferência
a fala mradial.
E!Rma ULSQI,
precisomemorizar
palma e aprender
ue as deriwaqiks
artem sempredo
=mo i?Edbl (em ven
eYwanIaestwa~que
pgg&jTrabalhar
~fewnpsentre a filo
a d t a . A a q e S B o c
transcrever Mrasde
em wz de"chego").
&lema Usode sílabas
iferentcs do padrao
>nroante-vogal.
ropasta Reflexa0sobre
alwras com sllabas de
.&sktras ("resol-WU").
ma opçso C destaca-lar
rn textos para que
escubram o que elas
5m em comum.
32Especial Produgáo de Texto www.ne.org.br
27.
28. .........................,.........................................................................................................................
Diagnóstico 3 0 w ~ a n o Vida-3 -I
d ~ b ottn,
*que os alunos fazem daquilo que é
considerado bem escrito", recomenda o
professor Bazzoni.
Com as produções em mãos, Soraya,
a professora de Manaus, partiu para a
análise, anotando na lista de aspectos
sondados quantas vezes cada tipo de
erro se repetia nas produções. N o fim,
descobriu que muitas crianças não utili-
zavam sinais de pontuação."Percebi que
esse deveria ser o conteúdo prioritário
naquele início de ano", ressalta.
Do3 O ao 5 O ano, a ortografia
é um dos problemascomuns
O resultado do diagnóstico de Soraya é
bastantecomum: ortografia epontuação
costumam ser os pontos maiscriticos pa-
ra as crianças dessa faixa etária. "Muitos
alunos escrevem do jeito que falam e
ate inventam palavras", conta Bazzoni.
Mesmo assim, dizer que a turma tem
problemas com "ortografia e pontua-
ção" é vago demais.Quais problemas, es-
pecificamente? Faltamvírgulas? Muitos
trocam letras? Poucos sabem dividir os
parágrafos? Mais uma vez, a sondagem
podeajudar: seositens analisadosforem
bemdeterminados, você saberácombas-
tante precisão que pontos atacar.
Éimportantelembrar, ainda, que cada
conteúdo deve ser abordado por meio
de novas propostas de textos, sempre
com etapas de revisão. Refletir sobre os
aspectos notacionais (relativos As regras
de uso da língua) e discursivos (relativos
ao contexto de produção) 6 o jeito mais
eficaz de levar os alunos a aprender os
padrões de escrita e superar os proble-
mas que enfrentam ao escrever. [3
I....................
-:~1áud10Bazzoni, bazzoni@uol.com.br
i EECarvalhoLeal, tel. (92) 32169053,
:eecleal@seduc.am.gov.br
i Soraya FreiredeOliveira,
soraya.oliveira@yahoo.com.br
:IIIOLIIIL
i Emeducacao.prefeitura.sp.gov.br,
i naseção Biblioteca Pedag~ígica,
:odocumentoAprender os Padrõesda
LinguagemEscrita de Modo Reflexivo,
I sobrecomorealizarumdiagnóstico
:'de produçãodetexto. I
robmb
i iIdentificar o domlnio de cada
J aiuno em relaçãoaos padrões
i da linguagem escrita.
I -
I iProduçãode texto.
I.iFábulas.
I Aiiar 3O ao 5O.
i uaaw-
i Folhas para escrever,
i lápis e borracha.
iFMwlrqa
i Paratrabalhar com alunos
i com deficiência ffsica, acesse
I www.ne.org;br e digite na busca
i diagndstico inicial produção texto.
i-
f Conversecom a turma sobre
i a atividade, explicando que ela será
: importante para o planejamento
i das próximas aulas e que vai ajudar
a escrevercom mais segurança. A
i tarefa é reproduzir por escrito uma
i fábula (de conhecimento de todos)
i que será contadaem sala. Depoisde
i recitá-la, conversesobre o enredo
i para que as crianças se familiarizem
i com a história.Você pode solicitar
i que contem a fábula oralmente
para ter acerteza de que todos
i têm condiçõesde reproduzi-la por
i escrito. Por fim, peça que os alunos
i a escrevam por conta própria.
i ~ w ~ ~ i ~ b
i O diagnóstico é feito ao analisar
i os textos de acordocom uma
i lista de problemase dificuldades
i previamente estabelecida, que
i consideretanto padrõesde escrita
i como caracterfsticasdo gênero
i escolhido. No caso das fábulas, uma
i sugestão posslvelé a seguinte:
i Padróes de escrita
: @Apresentamuitas dificuldades para
<I >> r< JJ <I JJ I< J> <I JJ <I
r Irr , s / ss , g IguJ;"m>T'nn)
por desconheceras regularidades
contextuais do sistema ortográfico.
iTroca letras ("cJT<ç"l"s"/"ssJJ/"xJ~
« JJ I#JJ « >II< JJ ll JJ I<'JJ
s / z , x l c h , g / ~)por
desconhecer as múltiplas
representaçõesdo mesmosom.
Realiza trocas de consoantes
surdas (produzidas sem vibração
das cordasvocais, como"pJJe"t")
e sonoras (com vibração das cordas,
como"b" e"d").
iRevela problemas na
representação da nasalização
("ãJJ/"an").
iNão domina as regras básicas
de concordância nominal e verbal
da lingua.
iNão segmenta o texto em frases
usando letras maiúsculase ponto
(final, interrogação, exclamação).
iNão emprega avlrgula em frases.
iNão segmenta o texto
em parágrafos.
iNãodispõe o texto (margens,
parágrafos, tltulos, cabeçalhos)
de acordo com as convenções.
Características do gênero
iModifica o conflito principal
da história.
iNão evidencia a relaçãoentre
os personagens.
iNão constrói o clímax.
@Transformao desfechoda história.
iNão constrói o texto de modo
a retomar ideias anteriores para
dar unidadede sentido (coesão
referencial).
iNão usa marcadores temporais.
Depois de verificar quantas vezes
os problemas listados aparecem
no texto de cada criança, registre
o total de vezes que esse problema
aparece na classe. Com base nesse
diagnóstico, liste os problemas
principais que precisam ser
trabalhados com toda a turma,
tratando-os como conteúdos
prioritários para o semestre
em curso.
i representarsllabas cuja estrutura
I ConsultoriaCIAUDIOBAZZONI,
i seja diferente de consoante-vogal. assessor de Llnaua Portuauesa
i iApresenta erros por interferência
da fala na escrita em fim de palavras.
i iApresenta erros por interferência
i da fala na escrita no radical.
i iTroca letras("c"/"ç", "cJJ/"quJ',
da prefeitura dé São ~ a u be
selecionadordo PrêmioVictor Civita- iEducador Nota 10,com base no
documentoAprender os Padrõesda
Linguagem Escritade Modo Reflexivo,
da prefeitura de São Paulo.
34 Especial Produgão de Texto www.ne.org.br
29. ...............................................................................................................................................................................
~~~5~~~~ Leitura
Ler para escrever
Bons leitores são bons escritores? Nem sempre. Para enfrentar o desafio
da escrita, é preciso investigar as solucões de autores reconhecidos
RODRIGO RATIER rratier@abriI.com.br
Todo mundo já ouviu (e provavel-
mente também já repetiu) a ideia
de que, para escrever bem, é preciso ler
bem. Aprimeira vista, parece um prin-
cipio básico e indiscutíveldo ensino da
Língua Portuguesa. Tanto que a opção
de nove entre dez professores tem sido
propor aos alunos a tarefa. Ler muito,
ler de tudo, na esperança de que os
textos automaticamente melhorem de
qualidade. E, muitas vezes, a garotada
de fato devora página atrás de página,
mas - pense um pouco no exemplo de
suaclasse-atal evoluçãosimplesmente
não aparece. Por que será?
Antes de mais nada, ninguém aqui
vai defender que não se deva dar livros
às crianças.A leitura diária é, sim,uma
necessidade para o letramento. Mas ler
para escrever bem exigeoutra pergunta:
de qual leitura estamos falando? Para
fazer avançar a escrita,a prática tem de
ser um ato de compromissoe com foco
(as ilustrações desta reportagem mostram
alguns exemplos). Pelo contrário: exige
intenqão e um encadeamento definido
deatividades,quetenham como objetivo
mostrar como redigir textos específicos
(leia a sequência didática napágina 37).
"Aleiturapara escrever 6 um momen-
to que coloca os estudantes numa posi-
çãode leitordiferente.Atarefadelesserá
encontraraspectosdotextoqueauxiliem
a resolverseusprópriosproblemas dees-
crita'',afirmaDébora Rana,formadorade
professoresdo InstitutoAvisa Lá, emSão
Paulo,eselecionadorado PrêmioVictor
Civita -EducadorNota 10.
Éum trabalhoquedestacaaforma(es-
tamosfalandode intençãocomunicativa
eestilo,portanto),um tema relacionado
a inquietaçõesque tiram o sonode rnui-
tos docentes:por queascomposiçõesdos
alunos têm tão poucas linhas? Por que
eles não conseguem transmitir emoção
ou humor? Por que asdescriçõesde luga-
res e personagensnão são detalhadas?
Trechos de contostrazem
6timas sugestões para os textos
A ideiadotrabalhoé analisar osefeitose
o impactoquecadaobracausa em quem
a lê. Sensações,claro, são subjetivas,va-
riandode pessoa para pessoa.Mas,quan-
do lê diversos textos bons, com expres-
sõesecaracterísticasrecorrentes,aturma
consegue,aospoucos,entenderqueé e
FONTE DE INSPIRAÇAO
Confiracomo usar a leitura a serviço da produçãode texto
"OS PEDACINHOS DE GENGIBRE
L VAMOS VER COMOOAUTOR
FEZ? "LENTAMENTE,
SE CONVERTERAM EM CRIANÇAS!'
ESSEVERBO É RAPIDO. COMO
OS PEDACINHOSDE GENGIBRE
POSSO FAZ~?-LOLENTO?
"SE CON-VER-TE-RAM?"
30. Leitura 3. ao s0ano
I
a linguagem que gera os tais efeitos
,-2 nos comovem ou divertem. Nesse
sentido, o conto, um dos tipos de texto
mais usuaisnas classesde 3 O a S0 ano,ofe-
rece excelentesrecursospara enriquecer
produções de gêneros literários.
Cabe ao professor, no papel de leitor
mais experiente, compartilhar com a
turma asprincipaispreciosidades,ilumi-
nando onde está o "ouronde cada obra.
Abaixo, listamos alguns dos principais
pontos a ser observados e trabalhados
nos textos da garotada.Também elenca-
mosexemplosdecomooscontospodem
ajudar a melhorá-los.
iLinguageme expressões caracterlsti-
cas de cada gênero. Cada tipo de texto
tem uma forma específica de dizer de-
terminadas coisas. "Era uma vez", por
exemplo, 6 certamente a forma mais
tradicionalde dar início a um conto de
fadas (note que ela não seria adequada
para uma composição informativa ou
instrucional). Alem de colaborar para
que a turma identifique essas constru-
ções, a leitura de contos clássicos pode
municiá-la de alternativas para fugir do
lugar-comum.O Príncipe-Rãou Henrique
de Ferro, na versão dos Irmãos Grirnrn,
começaassim:"Num tempo quejá sefoi,
quando ainda aconteciam encantamen-
tos,viveu um rei que tinha uma porção
de filhas,todas lindas".
iDescrição psicológica. Trazendo ele-
mentosimportantespara acompreensão
da trama, a explicitação de intenções e
estadosmentais ajuda aconstruirasima-
gens de cada um dospersonagens,apro-
ximando ou afastando-os do leitor. Em
OSoldadinhode Chumbo,HansChristian
Andersen (1805-1875)desvela empoucas
linhasostraços dapersonalidadetímida,
amorosae respeitosadoprotagonista:"O
soldadinhoolhou para abailarina, ainda
maisapaixonado:elaolhou para ele,mas
não trocaram palavra alguma.Ele deseja-
va conversar, mas não ousava. Sentia-se
feliz apenas por estar novamente perto
dela e poder contemplá-la".
iDescriçãode cenários.O detalhamen-
to do ambiente em que se passa a ação
4 importante não apenas para trazer o
leitor "para dentro" do texto mas tam-
bém para, dependendo da intenção do
autor,transmitir uma atmosferade mis-
tério, medo, alegria, encantamento etc.
Em O Patinho Feio, Andersen retrata a
tranquilidade do ninho das aves: "Um
cantinho bem protegido no meio da
folhagem,perto do rio que contornava
o velhocastelo.Mais adiante estendiam-
se o bosque e um lindo jardim florido.
Naquele lugar sossegado, a pata agora
aquecia pacientemente seus ovos".
iRitmo. É possível controlar a veloci-
dade da história usando expressões que
indiquem a intensidade da passagem do
tempo ("vagarosamente", "após longa
espera","de repente", "num estalo" etc.).
Outros recursos mais sofisticados são
recorrer aflashbacksou divagações dos
personagens(pararetardarahistória)ou
enfileiraruma ação atrás da outra (para
acelerar). Charles Perrault (1628-1703)
combina construções temporais e enca-
deamento de fatos para gerar um clima
agitado e tenso neste trecho de Chapeu-
zinho Vermelho: "O lobo lançou-se sobre
a boa mulher e a devorou num segun-
do, pois fazia mais de três dias que não
comia. Em seguida, fechou a porta e se
deitou na cama".
mCaracterizaçãodospersonagens.Mais
do que apelar para a descrição do tipo
lista ("era feio e medroso"), feita geral-
mente por um narrador que não parti-
cipa da ação,que tal incentivar a garota-
da a explorar diálogos para mostrar os
principaistraços dospersonagens?Nesse
aspecto, a pontuação e o uso preciso de
FONTE ADAPTAGO DAAmIDAOE PRIMEIRA REESCRITA DECONTODITADO A PROFESSORA.REALIZADAPORALEJANDRAPAIONE,ACUSTINA PEdEZ E MIRTAWTEDO.