SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 6
Downloaden Sie, um offline zu lesen
O PACIENTE DIFÍCIL

                      (Dr Marcelo Benedet Tournier – UFSC)

                          Médico Fisiatra com posgrad. em Dor

                                   www.tournier.tk



“A Sra M. tem 45 anos de idade.        É diabética, hipertensa, obesa e portadora de
dislipidemia severa. Também sofre de depressão e cefaléia crônica diária.

Seus indicadores clínicos e laboratoriais estão sempre descompensados. Ela não
segue orientações de nenhum tipo e está ganhando cada vez mais peso.          Nesta
consulta, está demandando do profissional medicamentos para emagrecer, pois cada
vez que fica nervosa “desconta na comida”.

Quando a prescrição destes medicamentos lhe é negada, ela fica agressiva, entrando
em conflito com o médico dizendo a ele que ele não a entende e não tem idéia de
como é terrível viver com tanto peso e tantas doenças.”



 15% dos pacientes que atendemos são considerados difíceis.



São características comuns dos pacientes difíceis:

      Múltiplas consultas sem motivo claro em um curto espaço de tempo

      Não aparenta melhora com os tratamentos propostos

      Conflitos constantes envolvendo o paciente, em várias esferas sociais (com
       cônjuge, família, colegas de trabalho, vizinhos...)

      Foco em assuntos aparentemente sem relação direta com o problema
COMUNICAÇÃO



Muitos dos problemas relacionados ao manejo de pacientes difíceis se dá por má
comunicação.



Evidências mostram que uma boa comunicação:

      Aumenta a satisfação do paciente com o tratamento

      Aumenta a satisfação profissional do médico/profissional de saúde

      Melhora o prognóstico dos pacientes

      Diminui o nº processos por erro médico



Para uma abordagem mais adequada a estes pacientes, deve-se prestar atenção em
problemas relacionados a três esferas:

      Pacientes

      Profissionais de Saúde

      Sistemas de Saúde



Problemas relacionados aos pacientes



O “Paciente Estressado” é reconhecido como:

      Aquele que usa excessivamente os recursos do sistema de saúde

      Frequentemente tem alterações psiquiátricas

      Apresenta várias alterações somáticas associadas ao quadro, como

          o    Dores (em um ou mais lugares do corpo, ou até no corpo todo)

          o    Queixas vagas de Fadiga, Tontura

          o    Insônia

          o    Hipocondríase (Preocupação excessiva com doenças, remédios e
               questões relacionadas ao corpo)
Um número considerável destes pacientes tem alterações de personalidade que se
encaixam no Eixo II do DSM-IV:

      Transtorno de personalidade Borderline (Limítrofe) – Aqueles que levam tudo
       aos extremos, como “tudo ou nada”,”8 ou 80”

       Transtorno de personalidade Esquizóide - Falta de interesse em relações
       sociais, tendência ao isolamento e à introspecção e frieza emocional.

      Transtorno de personalidade Histriônica – Tendência a dramatizar seus
       comportamentos; Chama a atenção de todos a qualquer custo; Manipula e
       seduz com muita frequência

      Transtorno de personalidade Narcisista – Auto-erotismo: Culto frenético pela
       própria pessoa

      Transtorno de personalidade Anti-social (Sociopata) – Impulsivo, despreza
       normas e leis de convívio social. Indiferente aos sentimentos e desejos dos
       outros. Geralmente é manipulador e talentoso



Mesmo que tenha alterações subclínicas discretas, estas podem atrapalhar bastante
na relação profissional – paciente.



Profissional de Saúde



Geralmente os profissionais que encontram mais problemas com os pacientes difíceis
são aqueles que trabalham demais e que têm menos experiência.



O perfil de profissional que se preocupa em excesso com diagnósticos também
encontra dificuldades, já que estes casos envolvem, com muita frequência, múltiplos
diagnósticos.



Profissionais que atendem muito rapidamente estes pacientes têm a tendência de
serem mal vistos por eles, pois se sentem ignorados, tendendo a retornar mais vezes
para suprir esta carência pela atenção do profissional.
Sistema de Saúde



Na nossa realidade, o Sistema de Saúde também colabora para gerar pacientes
difíceis, pois temos poucas vagas para tratamentos especializados (necessários com
frequência para estes casos), difícil acesso a medicamentos que poderiam melhorar o
quadro clínico dos pacientes, assim como exames complementares para auxiliar no
diagnóstico mais adequado.



Manejo dos pacientes difíceis



Alguns dos princípios abaixo podem ajudar a melhorar a relação profissional-paciente,
assim como no prognóstico e na aderência ao tratamento.



Duas perguntas para perceber alterações psiquiátricas:

   1. Em alguns casos, ir direto ao ponto com o “paciente estressado” pode ajudar
       (Você parece bem irritado. Pode me contar o por quê?)

   2. Perguntar ao paciente se os problemas de saúde estão prejudicando suas
       tarefas domésticas/profissionais/sociais/de lazer ajuda a estabelecer metas e
       planos a serem seguidos

Caso as respostas sejam positivas, há forte indício de necessidade de tratamento.



Uso de Psicofármacos: Podem ajudar nos pacientes disfóricos, muito ansiosos ou
com altos níveis de agressividade. Recomenda-se utilizar um tratamento breve de
Inibidores de Recaptação Seletiva de Serotonina (IRSS), durando cerca de 6
semanas. É importante explicar ao paciente que a medicação tem objetivo de reduzir
o impacto dos sintomas psiquiátricos na saúde do paciente. Muito cuidado para que
não se dê uma impressão de que seu problema é “psicológico”, o que não é verdade.
Cuidando de quem cuida


Aos Profissionais de Saúde, é fundamental que reconheçam seus limites. O aforisma
Ayurveda de que “a Medicina é a arte de enganar a doença enquanto a natureza faz a
sua parte” deve ser incorporado às nossas práticas diárias. Quando presentes, as
frustrações com casos que nos marcaram negativamente devem ser trabalhadas e
compartilhadas.



Higiene mental: Fazer atividade física regularmente, dormir o número de horas que o
seu corpo precisa para restaurar suas energias e ter momentos de prazer (boa
comida, bom sexo, boas companhias, bons livros e boas artes, reflexão e
espiritualidade) também são fundamentais, não só para nossos pacientes, mas para
todos os Profissionais da Saúde manterem-se saudáveis.



Estratégias úteis para a abordagem de pacientes difíceis


      Ouvir mais e falar menos: Em média, um médico deixa uma pessoa falar por
       cerca de 20 segundos antes de interrompê-la pela primeira vez.         Após a
       primeira interrupção, o paciente não consegue falar mais de 10 segundos sem
       ser interrompido novamente. Em casos drásticos, fita adesiva tipo “Silver tape”
       pode ser usada para vedar a boca do profissional, deixando o paciente se
       expressar à vontade.

      Melhorar a empatia – Empatia é definida como a capacidade de perceber e
       sentir o estado emocional do seu próximo, sem que se necessite de
       comunicação verbal. O contato com as artes tende a melhorar a empatia,
       especialmente aquelas em que se envolve a expressão corporal (música,
       teatro, dança...)

      Transferir o ônus do tratamento ao doente – Costumo dizer que 50% do
       tratamento está nas mãos do paciente. Em alguns casos, pode ser até mais,
       mas é vital que ele entenda que o maior responsável (e interessado) em
       melhorar é ele.
   Seja firme e estabeleça limites – Alguns pacientes costumam “exagerar na
       dose” quanto à atenção dos profissionais – procurando o serviço de saúde
       semanalmente sem uma real necessidade, telefonando várias vezes ao
       médico, etc. Quando perceber algum comportamento que sugira este tipo de
       manipulação do paciente sobre o profissional, é importante que este seja rígido
       com o paciente, colocando as partes da relação em seu devido lugar.



Sugestões de leitura:


O Corpo Fala - A Linguagem Silenciosa da Comunicação Não-verbal. Pierre Weil
& Roland Tompakow. Editora Vozes (Uma maneira simples, elegante e divertida de
aprender linguagem corporal. Uma excelente forma de melhorar a sua empatia!)



O Cérebro do Futuro - A Revolução do Lado Direito do Cérebro. Daniel Pink.
Editora Elsevier – Campus (O autor cita seis habilidades que são importantes para os
profissionais do futuro – Design, Empatia, Narrativa, Sinfonia, Brincadeira e
Significado. Ele explica que há uma correlação muito grande entre elas e os
profissionais da saúde, nos ajudando a sermos não somente melhores profissionais,
mas pessoas mais felizes).



Referência


HAAS L J, LEISER J P, MAGILL M K.            Management of the Difficult Patient.
American Family Physician 2005:10:2063-2068.

Link para o artigo: http://www.aafp.org/afp/2005/1115/p2063.html

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Aula sobre Taxonomia de segurança_do_paciente
Aula sobre Taxonomia de segurança_do_pacienteAula sobre Taxonomia de segurança_do_paciente
Aula sobre Taxonomia de segurança_do_pacienteProqualis
 
anotaodeenfermagem-150109140742-conversion-gate02.pdf
anotaodeenfermagem-150109140742-conversion-gate02.pdfanotaodeenfermagem-150109140742-conversion-gate02.pdf
anotaodeenfermagem-150109140742-conversion-gate02.pdfAndriellyFernandaSPi
 
Dor em Membros Superiores
Dor em Membros SuperioresDor em Membros Superiores
Dor em Membros Superiorespauloalambert
 
Passagem de plantão correção final
Passagem de plantão correção finalPassagem de plantão correção final
Passagem de plantão correção finalDaniel Valente
 
Piso salarial da enfermagem: Portaria nº 597 do Ministério da Saúde é republi...
Piso salarial da enfermagem: Portaria nº 597 do Ministério da Saúde é republi...Piso salarial da enfermagem: Portaria nº 597 do Ministério da Saúde é republi...
Piso salarial da enfermagem: Portaria nº 597 do Ministério da Saúde é republi...Portal NE10
 
habilidades comunicativas em saúde
 habilidades comunicativas em saúde habilidades comunicativas em saúde
habilidades comunicativas em saúdeFrancisca Maria
 
Unidade de Terapia Intensiva (parte 1)
Unidade de Terapia Intensiva (parte 1)Unidade de Terapia Intensiva (parte 1)
Unidade de Terapia Intensiva (parte 1)Will Nunes
 
Morte E Luto No Contexto Hospitalar
Morte E Luto No Contexto HospitalarMorte E Luto No Contexto Hospitalar
Morte E Luto No Contexto HospitalarWashington Costa
 
Tecnicas de Bandagem - Socorro de Urgência
Tecnicas de Bandagem - Socorro de UrgênciaTecnicas de Bandagem - Socorro de Urgência
Tecnicas de Bandagem - Socorro de UrgênciaGizele Lopes
 
Modelo de evolução técnico de enfermagem
Modelo de evolução técnico de enfermagemModelo de evolução técnico de enfermagem
Modelo de evolução técnico de enfermagemRaíssa Soeiro
 
Uti - PLANEJAMENTO FÍSICO
Uti - PLANEJAMENTO FÍSICOUti - PLANEJAMENTO FÍSICO
Uti - PLANEJAMENTO FÍSICOGibran Neves
 
Situação de Aprendizagem
Situação de AprendizagemSituação de Aprendizagem
Situação de AprendizagemRicardoLima360
 
Períodos Perioperatórios: Pré Operatório AULA 4
Períodos Perioperatórios: Pré Operatório AULA 4Períodos Perioperatórios: Pré Operatório AULA 4
Períodos Perioperatórios: Pré Operatório AULA 4Aline Bandeira
 

Was ist angesagt? (20)

Aula sobre Taxonomia de segurança_do_paciente
Aula sobre Taxonomia de segurança_do_pacienteAula sobre Taxonomia de segurança_do_paciente
Aula sobre Taxonomia de segurança_do_paciente
 
anotaodeenfermagem-150109140742-conversion-gate02.pdf
anotaodeenfermagem-150109140742-conversion-gate02.pdfanotaodeenfermagem-150109140742-conversion-gate02.pdf
anotaodeenfermagem-150109140742-conversion-gate02.pdf
 
Dor em Membros Superiores
Dor em Membros SuperioresDor em Membros Superiores
Dor em Membros Superiores
 
Punção venosa.
Punção venosa.Punção venosa.
Punção venosa.
 
Passagem de plantão correção final
Passagem de plantão correção finalPassagem de plantão correção final
Passagem de plantão correção final
 
Piso salarial da enfermagem: Portaria nº 597 do Ministério da Saúde é republi...
Piso salarial da enfermagem: Portaria nº 597 do Ministério da Saúde é republi...Piso salarial da enfermagem: Portaria nº 597 do Ministério da Saúde é republi...
Piso salarial da enfermagem: Portaria nº 597 do Ministério da Saúde é republi...
 
habilidades comunicativas em saúde
 habilidades comunicativas em saúde habilidades comunicativas em saúde
habilidades comunicativas em saúde
 
Unidade de Terapia Intensiva (parte 1)
Unidade de Terapia Intensiva (parte 1)Unidade de Terapia Intensiva (parte 1)
Unidade de Terapia Intensiva (parte 1)
 
Morte E Luto No Contexto Hospitalar
Morte E Luto No Contexto HospitalarMorte E Luto No Contexto Hospitalar
Morte E Luto No Contexto Hospitalar
 
Tecnicas de Bandagem - Socorro de Urgência
Tecnicas de Bandagem - Socorro de UrgênciaTecnicas de Bandagem - Socorro de Urgência
Tecnicas de Bandagem - Socorro de Urgência
 
Abordagem Centrada na Pessoa
Abordagem Centrada na PessoaAbordagem Centrada na Pessoa
Abordagem Centrada na Pessoa
 
Modelo de evolução técnico de enfermagem
Modelo de evolução técnico de enfermagemModelo de evolução técnico de enfermagem
Modelo de evolução técnico de enfermagem
 
Uti - PLANEJAMENTO FÍSICO
Uti - PLANEJAMENTO FÍSICOUti - PLANEJAMENTO FÍSICO
Uti - PLANEJAMENTO FÍSICO
 
Comunicação e Interação Médico-Paciente
Comunicação e Interação Médico-PacienteComunicação e Interação Médico-Paciente
Comunicação e Interação Médico-Paciente
 
Situação de Aprendizagem
Situação de AprendizagemSituação de Aprendizagem
Situação de Aprendizagem
 
Períodos Perioperatórios: Pré Operatório AULA 4
Períodos Perioperatórios: Pré Operatório AULA 4Períodos Perioperatórios: Pré Operatório AULA 4
Períodos Perioperatórios: Pré Operatório AULA 4
 
Quando nem tudo vai bem: a comunicação de notícias difíceis
Quando nem tudo vai bem: a comunicação de notícias difíceisQuando nem tudo vai bem: a comunicação de notícias difíceis
Quando nem tudo vai bem: a comunicação de notícias difíceis
 
Relatórios de enfermegem
Relatórios de enfermegemRelatórios de enfermegem
Relatórios de enfermegem
 
Relacao terapeutica
Relacao terapeuticaRelacao terapeutica
Relacao terapeutica
 
Manual de goniometria
Manual de goniometriaManual de goniometria
Manual de goniometria
 

Ähnlich wie O paciente difícil

Tra. oti
Tra. otiTra. oti
Tra. oti9589
 
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...biacastro
 
2008 ROA, OLIVEIRA, SAVASSI et al. Medicina Centrada nas Pessoas
2008  ROA, OLIVEIRA, SAVASSI et al. Medicina Centrada nas Pessoas2008  ROA, OLIVEIRA, SAVASSI et al. Medicina Centrada nas Pessoas
2008 ROA, OLIVEIRA, SAVASSI et al. Medicina Centrada nas PessoasLeonardo Savassi
 
Ansiedade generalizada.pdf
Ansiedade generalizada.pdfAnsiedade generalizada.pdf
Ansiedade generalizada.pdfEraldo Carlos
 
Transtornos mentais comuns e somatização
Transtornos mentais comuns e somatização Transtornos mentais comuns e somatização
Transtornos mentais comuns e somatização Inaiara Bragante
 
Aula PAR reumato
Aula PAR reumatoAula PAR reumato
Aula PAR reumatoReumatoguia
 
UFCD -6579- Cuidados de Saúde Mental
UFCD -6579-  Cuidados de Saúde MentalUFCD -6579-  Cuidados de Saúde Mental
UFCD -6579- Cuidados de Saúde MentalNome Sobrenome
 
enfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptx
enfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptxenfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptx
enfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptxFabianeSousa11
 
GUIA DO PACIENTE MODERNO - DR JOÃO VITOR NASSARALLA
GUIA DO PACIENTE MODERNO - DR JOÃO VITOR NASSARALLAGUIA DO PACIENTE MODERNO - DR JOÃO VITOR NASSARALLA
GUIA DO PACIENTE MODERNO - DR JOÃO VITOR NASSARALLAJoão Vitor Romeiro
 
6579-_cuidados_de_saude_mental.pptx
6579-_cuidados_de_saude_mental.pptx6579-_cuidados_de_saude_mental.pptx
6579-_cuidados_de_saude_mental.pptxLuis Monteiro
 
TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15
TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15
TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15Eleonora Lins
 
MEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULO
MEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULOMEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULO
MEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULOEleonora Lins
 
JaneiroBranco.pptx cuidados com a saude mental
JaneiroBranco.pptx cuidados com a saude mentalJaneiroBranco.pptx cuidados com a saude mental
JaneiroBranco.pptx cuidados com a saude mentalLedianeDias
 
Comunicação de má notícias - Como sistematizar?
Comunicação de má notícias - Como sistematizar?Comunicação de má notícias - Como sistematizar?
Comunicação de má notícias - Como sistematizar?Daniel Valente
 

Ähnlich wie O paciente difícil (20)

Tra. oti
Tra. otiTra. oti
Tra. oti
 
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...
ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE IDOSO HOSPITALIZADO E O PAPEL DO PSICÓLOGO HO...
 
2008 ROA, OLIVEIRA, SAVASSI et al. Medicina Centrada nas Pessoas
2008  ROA, OLIVEIRA, SAVASSI et al. Medicina Centrada nas Pessoas2008  ROA, OLIVEIRA, SAVASSI et al. Medicina Centrada nas Pessoas
2008 ROA, OLIVEIRA, SAVASSI et al. Medicina Centrada nas Pessoas
 
Ansiedade generalizada.pdf
Ansiedade generalizada.pdfAnsiedade generalizada.pdf
Ansiedade generalizada.pdf
 
outro.pptx
outro.pptxoutro.pptx
outro.pptx
 
Transtornos mentais comuns e somatização
Transtornos mentais comuns e somatização Transtornos mentais comuns e somatização
Transtornos mentais comuns e somatização
 
Joana_Atenção_centrada_pessoa
Joana_Atenção_centrada_pessoaJoana_Atenção_centrada_pessoa
Joana_Atenção_centrada_pessoa
 
Psicologia hospitalar
Psicologia hospitalarPsicologia hospitalar
Psicologia hospitalar
 
Aula PAR reumato
Aula PAR reumatoAula PAR reumato
Aula PAR reumato
 
Aula 5 as doenças os doentes e os medicos
Aula 5 as doenças os doentes e os medicosAula 5 as doenças os doentes e os medicos
Aula 5 as doenças os doentes e os medicos
 
Palestra positivo
Palestra positivoPalestra positivo
Palestra positivo
 
UFCD -6579- Cuidados de Saúde Mental
UFCD -6579-  Cuidados de Saúde MentalUFCD -6579-  Cuidados de Saúde Mental
UFCD -6579- Cuidados de Saúde Mental
 
enfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptx
enfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptxenfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptx
enfermagem em saúde mental 1º aula pendencias.pptx
 
GUIA DO PACIENTE MODERNO - DR JOÃO VITOR NASSARALLA
GUIA DO PACIENTE MODERNO - DR JOÃO VITOR NASSARALLAGUIA DO PACIENTE MODERNO - DR JOÃO VITOR NASSARALLA
GUIA DO PACIENTE MODERNO - DR JOÃO VITOR NASSARALLA
 
6579-_cuidados_de_saude_mental.pptx
6579-_cuidados_de_saude_mental.pptx6579-_cuidados_de_saude_mental.pptx
6579-_cuidados_de_saude_mental.pptx
 
TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15
TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15
TEXTO_MEDICINA INTEGRATIVA_fev15
 
MEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULO
MEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULOMEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULO
MEDICINA INTEGRATIVA_DRª ELEONORA LINS_SÃO PAULO
 
Tg ds
Tg dsTg ds
Tg ds
 
JaneiroBranco.pptx cuidados com a saude mental
JaneiroBranco.pptx cuidados com a saude mentalJaneiroBranco.pptx cuidados com a saude mental
JaneiroBranco.pptx cuidados com a saude mental
 
Comunicação de má notícias - Como sistematizar?
Comunicação de má notícias - Como sistematizar?Comunicação de má notícias - Como sistematizar?
Comunicação de má notícias - Como sistematizar?
 

Mehr von Marcelo Benedet Tournier

Miopatias de neurologia ufsc dezembro de 2010
Miopatias de neurologia ufsc dezembro de 2010Miopatias de neurologia ufsc dezembro de 2010
Miopatias de neurologia ufsc dezembro de 2010Marcelo Benedet Tournier
 
DESMISTIFICANDO A DISLEXIA: PEQUENAS ADAPTAÇÕES PARA GRANDES HABILIDADES
DESMISTIFICANDO A DISLEXIA:  PEQUENAS ADAPTAÇÕES PARA GRANDES HABILIDADES DESMISTIFICANDO A DISLEXIA:  PEQUENAS ADAPTAÇÕES PARA GRANDES HABILIDADES
DESMISTIFICANDO A DISLEXIA: PEQUENAS ADAPTAÇÕES PARA GRANDES HABILIDADES Marcelo Benedet Tournier
 
Drez Dor Neuropatica Mielopatica Lesao Medular
Drez Dor Neuropatica Mielopatica Lesao MedularDrez Dor Neuropatica Mielopatica Lesao Medular
Drez Dor Neuropatica Mielopatica Lesao MedularMarcelo Benedet Tournier
 
Sindrome PóS Laminectomia Failed Back Surgery Syndrome
Sindrome PóS Laminectomia   Failed Back Surgery SyndromeSindrome PóS Laminectomia   Failed Back Surgery Syndrome
Sindrome PóS Laminectomia Failed Back Surgery SyndromeMarcelo Benedet Tournier
 
LesãO Plexo Braquial E Paralisia Obstetrica
LesãO Plexo Braquial E Paralisia ObstetricaLesãO Plexo Braquial E Paralisia Obstetrica
LesãO Plexo Braquial E Paralisia ObstetricaMarcelo Benedet Tournier
 

Mehr von Marcelo Benedet Tournier (18)

Abuso de remédio aula dezembro de 2010
Abuso de remédio   aula dezembro de 2010Abuso de remédio   aula dezembro de 2010
Abuso de remédio aula dezembro de 2010
 
Miopatias de neurologia ufsc dezembro de 2010
Miopatias de neurologia ufsc dezembro de 2010Miopatias de neurologia ufsc dezembro de 2010
Miopatias de neurologia ufsc dezembro de 2010
 
Prevenindo a neurocisticercose
Prevenindo a neurocisticercosePrevenindo a neurocisticercose
Prevenindo a neurocisticercose
 
DESMISTIFICANDO A DISLEXIA: PEQUENAS ADAPTAÇÕES PARA GRANDES HABILIDADES
DESMISTIFICANDO A DISLEXIA:  PEQUENAS ADAPTAÇÕES PARA GRANDES HABILIDADES DESMISTIFICANDO A DISLEXIA:  PEQUENAS ADAPTAÇÕES PARA GRANDES HABILIDADES
DESMISTIFICANDO A DISLEXIA: PEQUENAS ADAPTAÇÕES PARA GRANDES HABILIDADES
 
Prevenindo a neurocisticercose
Prevenindo a neurocisticercosePrevenindo a neurocisticercose
Prevenindo a neurocisticercose
 
Prevalencia de transtornos
Prevalencia de transtornos Prevalencia de transtornos
Prevalencia de transtornos
 
Reabilitação na anemia falciforme
Reabilitação na anemia falciformeReabilitação na anemia falciforme
Reabilitação na anemia falciforme
 
Drez Dor Neuropatica Mielopatica Lesao Medular
Drez Dor Neuropatica Mielopatica Lesao MedularDrez Dor Neuropatica Mielopatica Lesao Medular
Drez Dor Neuropatica Mielopatica Lesao Medular
 
Imobilismo
ImobilismoImobilismo
Imobilismo
 
Sindrome PóS Laminectomia Failed Back Surgery Syndrome
Sindrome PóS Laminectomia   Failed Back Surgery SyndromeSindrome PóS Laminectomia   Failed Back Surgery Syndrome
Sindrome PóS Laminectomia Failed Back Surgery Syndrome
 
Avc Reab
Avc ReabAvc Reab
Avc Reab
 
LesõEs Do Manguito Rotador (Mr)
LesõEs Do Manguito Rotador (Mr)LesõEs Do Manguito Rotador (Mr)
LesõEs Do Manguito Rotador (Mr)
 
LesãO Plexo Braquial E Paralisia Obstetrica
LesãO Plexo Braquial E Paralisia ObstetricaLesãO Plexo Braquial E Paralisia Obstetrica
LesãO Plexo Braquial E Paralisia Obstetrica
 
Imagens AnatôMicas Da MãO
Imagens AnatôMicas Da MãOImagens AnatôMicas Da MãO
Imagens AnatôMicas Da MãO
 
Dmr Aula Dor Em Pc
Dmr Aula Dor Em PcDmr Aula Dor Em Pc
Dmr Aula Dor Em Pc
 
Eim
EimEim
Eim
 
Dor NeuropáTica
Dor NeuropáTicaDor NeuropáTica
Dor NeuropáTica
 
FasceíTe Plantar
FasceíTe PlantarFasceíTe Plantar
FasceíTe Plantar
 

O paciente difícil

  • 1. O PACIENTE DIFÍCIL (Dr Marcelo Benedet Tournier – UFSC) Médico Fisiatra com posgrad. em Dor www.tournier.tk “A Sra M. tem 45 anos de idade. É diabética, hipertensa, obesa e portadora de dislipidemia severa. Também sofre de depressão e cefaléia crônica diária. Seus indicadores clínicos e laboratoriais estão sempre descompensados. Ela não segue orientações de nenhum tipo e está ganhando cada vez mais peso. Nesta consulta, está demandando do profissional medicamentos para emagrecer, pois cada vez que fica nervosa “desconta na comida”. Quando a prescrição destes medicamentos lhe é negada, ela fica agressiva, entrando em conflito com o médico dizendo a ele que ele não a entende e não tem idéia de como é terrível viver com tanto peso e tantas doenças.” 15% dos pacientes que atendemos são considerados difíceis. São características comuns dos pacientes difíceis:  Múltiplas consultas sem motivo claro em um curto espaço de tempo  Não aparenta melhora com os tratamentos propostos  Conflitos constantes envolvendo o paciente, em várias esferas sociais (com cônjuge, família, colegas de trabalho, vizinhos...)  Foco em assuntos aparentemente sem relação direta com o problema
  • 2. COMUNICAÇÃO Muitos dos problemas relacionados ao manejo de pacientes difíceis se dá por má comunicação. Evidências mostram que uma boa comunicação:  Aumenta a satisfação do paciente com o tratamento  Aumenta a satisfação profissional do médico/profissional de saúde  Melhora o prognóstico dos pacientes  Diminui o nº processos por erro médico Para uma abordagem mais adequada a estes pacientes, deve-se prestar atenção em problemas relacionados a três esferas:  Pacientes  Profissionais de Saúde  Sistemas de Saúde Problemas relacionados aos pacientes O “Paciente Estressado” é reconhecido como:  Aquele que usa excessivamente os recursos do sistema de saúde  Frequentemente tem alterações psiquiátricas  Apresenta várias alterações somáticas associadas ao quadro, como o Dores (em um ou mais lugares do corpo, ou até no corpo todo) o Queixas vagas de Fadiga, Tontura o Insônia o Hipocondríase (Preocupação excessiva com doenças, remédios e questões relacionadas ao corpo)
  • 3. Um número considerável destes pacientes tem alterações de personalidade que se encaixam no Eixo II do DSM-IV:  Transtorno de personalidade Borderline (Limítrofe) – Aqueles que levam tudo aos extremos, como “tudo ou nada”,”8 ou 80”  Transtorno de personalidade Esquizóide - Falta de interesse em relações sociais, tendência ao isolamento e à introspecção e frieza emocional.  Transtorno de personalidade Histriônica – Tendência a dramatizar seus comportamentos; Chama a atenção de todos a qualquer custo; Manipula e seduz com muita frequência  Transtorno de personalidade Narcisista – Auto-erotismo: Culto frenético pela própria pessoa  Transtorno de personalidade Anti-social (Sociopata) – Impulsivo, despreza normas e leis de convívio social. Indiferente aos sentimentos e desejos dos outros. Geralmente é manipulador e talentoso Mesmo que tenha alterações subclínicas discretas, estas podem atrapalhar bastante na relação profissional – paciente. Profissional de Saúde Geralmente os profissionais que encontram mais problemas com os pacientes difíceis são aqueles que trabalham demais e que têm menos experiência. O perfil de profissional que se preocupa em excesso com diagnósticos também encontra dificuldades, já que estes casos envolvem, com muita frequência, múltiplos diagnósticos. Profissionais que atendem muito rapidamente estes pacientes têm a tendência de serem mal vistos por eles, pois se sentem ignorados, tendendo a retornar mais vezes para suprir esta carência pela atenção do profissional.
  • 4. Sistema de Saúde Na nossa realidade, o Sistema de Saúde também colabora para gerar pacientes difíceis, pois temos poucas vagas para tratamentos especializados (necessários com frequência para estes casos), difícil acesso a medicamentos que poderiam melhorar o quadro clínico dos pacientes, assim como exames complementares para auxiliar no diagnóstico mais adequado. Manejo dos pacientes difíceis Alguns dos princípios abaixo podem ajudar a melhorar a relação profissional-paciente, assim como no prognóstico e na aderência ao tratamento. Duas perguntas para perceber alterações psiquiátricas: 1. Em alguns casos, ir direto ao ponto com o “paciente estressado” pode ajudar (Você parece bem irritado. Pode me contar o por quê?) 2. Perguntar ao paciente se os problemas de saúde estão prejudicando suas tarefas domésticas/profissionais/sociais/de lazer ajuda a estabelecer metas e planos a serem seguidos Caso as respostas sejam positivas, há forte indício de necessidade de tratamento. Uso de Psicofármacos: Podem ajudar nos pacientes disfóricos, muito ansiosos ou com altos níveis de agressividade. Recomenda-se utilizar um tratamento breve de Inibidores de Recaptação Seletiva de Serotonina (IRSS), durando cerca de 6 semanas. É importante explicar ao paciente que a medicação tem objetivo de reduzir o impacto dos sintomas psiquiátricos na saúde do paciente. Muito cuidado para que não se dê uma impressão de que seu problema é “psicológico”, o que não é verdade.
  • 5. Cuidando de quem cuida Aos Profissionais de Saúde, é fundamental que reconheçam seus limites. O aforisma Ayurveda de que “a Medicina é a arte de enganar a doença enquanto a natureza faz a sua parte” deve ser incorporado às nossas práticas diárias. Quando presentes, as frustrações com casos que nos marcaram negativamente devem ser trabalhadas e compartilhadas. Higiene mental: Fazer atividade física regularmente, dormir o número de horas que o seu corpo precisa para restaurar suas energias e ter momentos de prazer (boa comida, bom sexo, boas companhias, bons livros e boas artes, reflexão e espiritualidade) também são fundamentais, não só para nossos pacientes, mas para todos os Profissionais da Saúde manterem-se saudáveis. Estratégias úteis para a abordagem de pacientes difíceis  Ouvir mais e falar menos: Em média, um médico deixa uma pessoa falar por cerca de 20 segundos antes de interrompê-la pela primeira vez. Após a primeira interrupção, o paciente não consegue falar mais de 10 segundos sem ser interrompido novamente. Em casos drásticos, fita adesiva tipo “Silver tape” pode ser usada para vedar a boca do profissional, deixando o paciente se expressar à vontade.  Melhorar a empatia – Empatia é definida como a capacidade de perceber e sentir o estado emocional do seu próximo, sem que se necessite de comunicação verbal. O contato com as artes tende a melhorar a empatia, especialmente aquelas em que se envolve a expressão corporal (música, teatro, dança...)  Transferir o ônus do tratamento ao doente – Costumo dizer que 50% do tratamento está nas mãos do paciente. Em alguns casos, pode ser até mais, mas é vital que ele entenda que o maior responsável (e interessado) em melhorar é ele.
  • 6. Seja firme e estabeleça limites – Alguns pacientes costumam “exagerar na dose” quanto à atenção dos profissionais – procurando o serviço de saúde semanalmente sem uma real necessidade, telefonando várias vezes ao médico, etc. Quando perceber algum comportamento que sugira este tipo de manipulação do paciente sobre o profissional, é importante que este seja rígido com o paciente, colocando as partes da relação em seu devido lugar. Sugestões de leitura: O Corpo Fala - A Linguagem Silenciosa da Comunicação Não-verbal. Pierre Weil & Roland Tompakow. Editora Vozes (Uma maneira simples, elegante e divertida de aprender linguagem corporal. Uma excelente forma de melhorar a sua empatia!) O Cérebro do Futuro - A Revolução do Lado Direito do Cérebro. Daniel Pink. Editora Elsevier – Campus (O autor cita seis habilidades que são importantes para os profissionais do futuro – Design, Empatia, Narrativa, Sinfonia, Brincadeira e Significado. Ele explica que há uma correlação muito grande entre elas e os profissionais da saúde, nos ajudando a sermos não somente melhores profissionais, mas pessoas mais felizes). Referência HAAS L J, LEISER J P, MAGILL M K. Management of the Difficult Patient. American Family Physician 2005:10:2063-2068. Link para o artigo: http://www.aafp.org/afp/2005/1115/p2063.html