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PEDAGOGIA DA AUTONOMIA | Paulo Freire
Texto Completo: http://bit.ly/29cS0Ex
Gostaria, por outro lado, de sublinhar a nós mesmos, professores e professoras, a nossa
responsabilidade ética no exercício de nossa tarefa docente. Sublinhar esta
responsabilidade igualmente àquelas e àqueles que se acham em formação para exerce-
la. Este pequeno livro se encontra cortado ou permeado em sua totalidade pelo sentido da
necessária eticidade que conota expressivamente a natureza da pratica educativa,
enquanto prática formadora. Educadores e educandos não podemos, na verdade,
escapar à rigorosidade ética.
Mas, é preciso deixar claro que a ética de que falo não é a ética menor, restrita, do
mercado, que se curva obediente aos interesses do lucro. Em nível internacional começa
a aparecer uma tendência em acertar os reflexos cruciais da "nova ordem mundial", como
naturais e inevitáveis. Num encontro internacional de ONGs, um dos expositores afirmou
estar ouvindo com certa freqüência em países do Primeiro Mundo a idéia de que crianças
do Terceiro Mundo, acometidas por doenças como diarréia aguda, não deveriam ser
salvas, pois tal recurso só prolongaria uma vida já destinada à miséria e ao sofrimento.
Não falo, obviamente, desta ética. Falo, pelo contrário, da ética universal do ser humano.
Da ética que condena o cinismo do discurso citado acima, que condena a exploração da
força de trabalho do ser humano, que condena acusar por ouvir dizer, afirmar que alguém
falou A sabendo que foi dito B, falsear a verdade, iludir o incauto, golpear o fraco e
indefeso, soterrar o sonho e a utopia, prometer sabendo que não cumprirá a promessa,
testemunhar mentirosamente, falar mal dos outros pelo gosto de falar mal.
A ética de que falo é a que se sabe traída e negada nos comportamentos grosseiramente
imorais como na perversão hipócrita da pureza em puritanismo. A ética de que falo é a
que se sabe afrontada na manifestação discriminatória de raça, de gênero, de classe. É
por esta ética inseparável da prática, jovens ou com adultos, que devemos lutar.
E a melhor maneira de por ela lutar é vive-la em nossa prática, é testemunhá-la, vivaz,
aos educandos em nossas relações com eles. Na maneira como lidamos com os
conteúdos que ensinamos, no modo como citamos autores de cuja obra discordamos ou
com cuja obra concordamos. Não podemos basear nossa crítica a um autor na leitura
feita por cima de uma ou outra de suas obras. Pior ainda, tendo lido apenas a crítica de
quem só leu a contracapa de um de seus livros.
Posso não aceitar a concepção pedagógica desde ou daquela autora e devo inclusive
expor aos alunos as razoes por que me oponho a ela mas, o que não posso, na minha
crítica, é mentir. É dizer inverdades em torno deles. O preparo científico do professor ou
da professora deve coincidir com sua retidão ética.
É uma lástima qualquer descompasso entre aquela e esta.
Formação científica, correção ética, respeito aos outros, coerência, não permitir que o
nosso mal-estar pessoal ou a nossa antipatia com relação ao outro nos façam acusá-lo do
que não fez são obrigações a cujo cumprimento devemos humilde mas
perseverantemente nos dedicar.
É não só interessante mas profundamente importante que os estudantes percebam as
diferenças de compreensão dos fatos, as posições às vezes antagônicas entre
professores na apreciação dos problemas e no equacionamento de soluções. Mas é
fundamental que percebam o respeito e a lealdade com que um professor analisa e critica
as posturas dos outros.
De quando em vez, ao longo deste texto, volto a este tema.
É que me acho absolutamente convencido da natureza ética da prática educativa,
enquanto prática especificamente humana. É que, por outro lado, nos achamos, ao nível
do mundo e não apenas do Brasil, de tal maneira submetidos ao comando da malvadez
da ética do mercado, que me parece ser pouco tudo o que façamos na defesa e na
prática da ética universal do ser humano.
Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura, da opção,
como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos éticos.
Neste sentido, a transgressão dos princípios éticos é uma possibilidade mas não é uma
virtude. Não podemos aceita-la.
Não é possível ao sujeito ético viver sem estar permanentemente exposto á transgressão
da ética. Uma de nossas brigas na História, por isso mesmo, é exatamente esta: fazer
tudo o que possamos e favor da eticidade, sem cair no moralismo hipócrita, ao gosto
reconhecidamente farisaico. Mas, faz parte igualmente desta luta pela eticidade recusar,
com segurança, as críticas que vêem na defesa da ética, precisamente a expressão
daquele moralismo criticado.
Em mim, a defesa da ética jamais significou sua distorção ou negação.
Quando, porém, falo da ética universal do ser humano estou falando da ética enquanto
marca da natureza humana, enquanto algo absolutamente indispensável à convivência
humana. Ao faze-lo estou advertindo das possíveis críticas que, infiéis a meu
pensamento, me apontarão como ingênuo e idealista.
Na verdade, falo da ética universal do ser humano da mesma forma como falo de sua
vocação ontológica para o ser mais, como falo de sua natureza constituindo-se social e
historicamente não como um "a priori" da Historia. A natureza que a ontologia cuida se
gesta socialmente na Historia.
É uma natureza em processo de estar sendo com algumas conotações fundamentais sem
as quais não teria sido possível reconhecer a própria presença humana no mundo como
algo original e singular. Quer dizer, mais do que um ser no mundo, o ser humano se
tornou uma Presença no mundo, com o mundo e com os outros.
Presença que, reconhecendo a outra presença como um "não-eu" se reconhece como "si
própria". Presença que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém, que
transforma, que fala do que faz mas também do que sonha, que constata, compara,
avalia, valora, que decide, que rompe.
E é no domínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção, que se
instaura a necessidade da ética e se impõe a responsabilidade.
A ética se torna inevitável e sua transgressão possível é um desvalor, jamais uma virtude.

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Pedagogia autonomia Paulo Freire - Trecho sobre Ética

  • 1. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA | Paulo Freire Texto Completo: http://bit.ly/29cS0Ex Gostaria, por outro lado, de sublinhar a nós mesmos, professores e professoras, a nossa responsabilidade ética no exercício de nossa tarefa docente. Sublinhar esta responsabilidade igualmente àquelas e àqueles que se acham em formação para exerce- la. Este pequeno livro se encontra cortado ou permeado em sua totalidade pelo sentido da necessária eticidade que conota expressivamente a natureza da pratica educativa, enquanto prática formadora. Educadores e educandos não podemos, na verdade, escapar à rigorosidade ética. Mas, é preciso deixar claro que a ética de que falo não é a ética menor, restrita, do mercado, que se curva obediente aos interesses do lucro. Em nível internacional começa a aparecer uma tendência em acertar os reflexos cruciais da "nova ordem mundial", como naturais e inevitáveis. Num encontro internacional de ONGs, um dos expositores afirmou estar ouvindo com certa freqüência em países do Primeiro Mundo a idéia de que crianças do Terceiro Mundo, acometidas por doenças como diarréia aguda, não deveriam ser salvas, pois tal recurso só prolongaria uma vida já destinada à miséria e ao sofrimento. Não falo, obviamente, desta ética. Falo, pelo contrário, da ética universal do ser humano. Da ética que condena o cinismo do discurso citado acima, que condena a exploração da força de trabalho do ser humano, que condena acusar por ouvir dizer, afirmar que alguém falou A sabendo que foi dito B, falsear a verdade, iludir o incauto, golpear o fraco e indefeso, soterrar o sonho e a utopia, prometer sabendo que não cumprirá a promessa, testemunhar mentirosamente, falar mal dos outros pelo gosto de falar mal. A ética de que falo é a que se sabe traída e negada nos comportamentos grosseiramente imorais como na perversão hipócrita da pureza em puritanismo. A ética de que falo é a que se sabe afrontada na manifestação discriminatória de raça, de gênero, de classe. É por esta ética inseparável da prática, jovens ou com adultos, que devemos lutar. E a melhor maneira de por ela lutar é vive-la em nossa prática, é testemunhá-la, vivaz, aos educandos em nossas relações com eles. Na maneira como lidamos com os conteúdos que ensinamos, no modo como citamos autores de cuja obra discordamos ou com cuja obra concordamos. Não podemos basear nossa crítica a um autor na leitura feita por cima de uma ou outra de suas obras. Pior ainda, tendo lido apenas a crítica de quem só leu a contracapa de um de seus livros. Posso não aceitar a concepção pedagógica desde ou daquela autora e devo inclusive expor aos alunos as razoes por que me oponho a ela mas, o que não posso, na minha crítica, é mentir. É dizer inverdades em torno deles. O preparo científico do professor ou da professora deve coincidir com sua retidão ética. É uma lástima qualquer descompasso entre aquela e esta.
  • 2. Formação científica, correção ética, respeito aos outros, coerência, não permitir que o nosso mal-estar pessoal ou a nossa antipatia com relação ao outro nos façam acusá-lo do que não fez são obrigações a cujo cumprimento devemos humilde mas perseverantemente nos dedicar. É não só interessante mas profundamente importante que os estudantes percebam as diferenças de compreensão dos fatos, as posições às vezes antagônicas entre professores na apreciação dos problemas e no equacionamento de soluções. Mas é fundamental que percebam o respeito e a lealdade com que um professor analisa e critica as posturas dos outros. De quando em vez, ao longo deste texto, volto a este tema. É que me acho absolutamente convencido da natureza ética da prática educativa, enquanto prática especificamente humana. É que, por outro lado, nos achamos, ao nível do mundo e não apenas do Brasil, de tal maneira submetidos ao comando da malvadez da ética do mercado, que me parece ser pouco tudo o que façamos na defesa e na prática da ética universal do ser humano. Não podemos nos assumir como sujeitos da procura, da decisão, da ruptura, da opção, como sujeitos históricos, transformadores, a não ser assumindo-nos como sujeitos éticos. Neste sentido, a transgressão dos princípios éticos é uma possibilidade mas não é uma virtude. Não podemos aceita-la. Não é possível ao sujeito ético viver sem estar permanentemente exposto á transgressão da ética. Uma de nossas brigas na História, por isso mesmo, é exatamente esta: fazer tudo o que possamos e favor da eticidade, sem cair no moralismo hipócrita, ao gosto reconhecidamente farisaico. Mas, faz parte igualmente desta luta pela eticidade recusar, com segurança, as críticas que vêem na defesa da ética, precisamente a expressão daquele moralismo criticado. Em mim, a defesa da ética jamais significou sua distorção ou negação. Quando, porém, falo da ética universal do ser humano estou falando da ética enquanto marca da natureza humana, enquanto algo absolutamente indispensável à convivência humana. Ao faze-lo estou advertindo das possíveis críticas que, infiéis a meu pensamento, me apontarão como ingênuo e idealista. Na verdade, falo da ética universal do ser humano da mesma forma como falo de sua vocação ontológica para o ser mais, como falo de sua natureza constituindo-se social e historicamente não como um "a priori" da Historia. A natureza que a ontologia cuida se gesta socialmente na Historia. É uma natureza em processo de estar sendo com algumas conotações fundamentais sem as quais não teria sido possível reconhecer a própria presença humana no mundo como
  • 3. algo original e singular. Quer dizer, mais do que um ser no mundo, o ser humano se tornou uma Presença no mundo, com o mundo e com os outros. Presença que, reconhecendo a outra presença como um "não-eu" se reconhece como "si própria". Presença que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém, que transforma, que fala do que faz mas também do que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe. E é no domínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção, que se instaura a necessidade da ética e se impõe a responsabilidade. A ética se torna inevitável e sua transgressão possível é um desvalor, jamais uma virtude.