1. MIA COUTO ganha Prémio Camões 2013 (25ª edição)
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http://imagens5.publico.pt/imagens.aspx/774405?tp=UH&db=IMAGENS
"Literatura não é produzir livros, é esta dinâmica que anda à volta da escrita literária, que
envolve as escolas, as famílias, as bibliotecas, a circulação dos livros. Tudo isso faz uma
literatura. Não pensemos que há literatura moçambicana porque há meia dúzia de escritores
que têm alguma projeção"
Mia Couto
http://sicnoticias.sapo.pt/cultura/2013/05/28/
2. António Emílio Leite Couto, escritor moçambicano, nascido na Beira em 1955, no
seio de uma família de emigrantes portugueses,
passou a ser conhecido como Mia Couto visto
o
seu
irmão
mais
novo
não
conseguir
pronunciar corretamente Emílio. No entanto, de
acordo com o autor, o apelido também se
prende com a sua paixão por felinos.
Começou por estudar Medicina na Universidade de Lourenço Marques (atual
Maputo), interrompendo o curso para se dedicar ao jornalismo, logo a seguir à
independência, na sequência do 25 de Abril de 1974. Trabalhou em publicações
como A Tribuna, Tempo e Notícias, tendo sido diretor da Agência de Informação de
Moçambique. Mais tarde, na década de 1980, regressa à universidade e forma-se
em Biologia. Em 1983, publica o seu primeiro livro de poesia, Raiz de Orvalho.
"O livro surgiu em 1983, numa altura em que a revolução de Moçambique estava em
plena pujança e todos nós tínhamos, de uma forma ou de outra, aderido à causa da
independência. E a escrita era muito dominada por essa urgência política de mudar o
mundo, de criar um homem e uma sociedade nova, tornou-se uma escrita muito
panfletária”, comentou Mia Couto em entrevista ao PÚBLICO (20/11/1999),
aquando da reedição daquele título pela Caminho.
Em 1986 edita o seu primeiro livro de crónicas, Vozes Anoitecidas, que lhe valeu o
prémio da Associação de Escritores Moçambicanos. Mas é com o romance, e
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3. nomeadamente com o seu título de estreia neste género, Terra Sonâmbula (1992),
que Mia Couto manifesta os primeiros sinais de “desobediência” ao padrão da língua
portuguesa, criando fórmulas vocabulares inspiradas da língua oral que irão marcar a
sua escrita e impor o seu estilo muito próprio.
“Só quando quis contar histórias é que se me colocou este desafio de deixar entrar a
vida e a maneira como o português era remoldado em Moçambique para lhes dar
maior força poética. A oralidade não é aquela coisa que se resolve mandando por aí
umas brigadas a recolher histórias tradicionais, é muito mais que isso”, disse, na
citada entrevista. E acrescentou: “Temos sempre a ideia de que a língua é a grande
dama, tem que se falar e escrever bem. A criação poética nasce do erro, da
desobediência.”
Foi nesse registo que se sucederam romances, sempre na Caminho, como A Varanda
do Frangipani (1996), Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra
(2002 – que o realizador José Carlos Oliveira haveria de adaptar ao grande ecrã), O
Outro Pé da Sereia (2006), Jesusalém (2009), ou A Confissão da Leoa (2012). A
propósito dos seus últimos livros, o escritor confessou algum cansaço por a sua obra
ser muitas vezes confundida com a de um jogo de linguagem, por causa da
quantidade de palavras e expressões “novas” que neles aparecem.
Paralelamente aos romances, Mia Couto continuou a escrever e a editar crónicas e
poesia – “Eu sou da poesia”, justificou, numa referência às suas origens literárias.
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4. Na sua carreira, foi também acumulando distinções, como os prémios Vergílio Ferreira
(1999, pelo conjunto da obra), Mário António/Fundação Gulbenkian (2001), União
Latina de Literaturas Românicas (2007) ou Eduardo Lourenço (2012).
O escritor brasileiro João Ubaldo Ribeiro, Prémio Camões 2008, disse à Lusa, no
Rio de Janeiro, que “Mia Couto é, sem dúvida, um dos escritores mais importantes da
língua portuguesa, e esse prémio é o reconhecimento que sua obra já há tempo faz
por merecer”. E congratulou-se “festivamente com Mia Couto e com a literatura
moçambicana, que ele honra com sua arte e exemplo”.
E o escritor português Vasco Graça Moura considerou também ser esta uma
atribuição perfeitamente merecida. “Mia Couto é um grande escritor, parece-me
perfeitamente justificado”, disse à Lusa. Mia Couto é um “grande autor de língua
portuguesa” e tem “uma capacidade de invenção verbal surpreendente. Por isso, na
perspetiva do escritor português, a obra de Mia Couto “ultrapassa, de algum modo, os
limites normais da prosa escrita em português”.
O júri justificou a distinção de Mia Couto tendo em conta a “vasta obra ficcional
caracterizada pela inovação estilística e a profunda humanidade”, segundo disse à
agência Lusa José Carlos Vasconcelos, um dos jurados.
A obra de Mia Couto, “inicialmente, foi muito valorizada pela criação e inovação
verbal, mas tem tido uma cada vez maior solidez na estrutura narrativa e
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5. capacidade de transportar para a escrita a oralidade”, acrescentou Vasconcelos.
Além disso, conseguiu “passar do local para o global”, numa produção que já conta
30 livros, que tem extravasado as suas fronteiras nacionais e tem “tido um grande
reconhecimento da crítica”. Os seus livros estão, de resto, traduzidos em duas
dezenas de línguas.
Do júri, que se reuniu durante a tarde desta segunda-feira no Palácio Gustavo
Capanema, sede do Centro Internacional do Livro e da Biblioteca Nacional, fizeram
também parte, do lado de Portugal, a professora catedrática da Universidade Nova de
Lisboa Clara Crabbé Rocha (filha de Miguel Torga, o primeiro galardoado com o
Prémio Camões, em 1989), os brasileiros Alcir Pécora, crítico e professor da
Universidade de Campinas, e Alberto da Costa e Silva, embaixador e membro da
Academia Brasileira de Letras, o escritor e professor universitário moçambicano João
Paulo Borges Coelho e o escritor angolano José Eduardo Agualusa.
Também em declaração à Lusa, Mia Couto disse-se "surpreendido e muito feliz" por
ter sido distinguido com o 25º. Prémio Camões, num dia que, revelou, não lhe estava
a correr de feição. “Recebi a notícia há meia hora, num telefonema que me fizeram do
Brasil. Logo hoje, que é um daqueles dias em que a gente pensa: vou jantar, vou
deitar-me e quero me apagar do mundo. De repente, apareceu esta chamada
telefónica e, obviamente, fiquei muito feliz”, comentou o escritor, sem adiantar as
razões.
(…)
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6. (…) esta distinção não o vai desviar do seu novo romance, sobre Gungunhana,
personagem histórico de Moçambique. "O prémio não me desvia. Estou a escrever
uma coisa que já vai há algum tempo, um ano, mais ou menos, e é sobre um
personagem histórico da nossa resistência nacionalista, digamos assim, o
Gungunhana, que foi preso pelo Mouzinho de Albuquerque, depois foi reconduzido
para Portugal e acabou por morrer nos Açores”, disse Mia Couto, à agência Lusa.
“Há naquela figura uma espécie de tragédia à volta desse herói, que foi mais
inventado do que real, e que me apetece retratar”, sublinhou.
Criado por Portugal e pelo Brasil em 1989, e atualmente com o valor monetário de
cem mil euros, este é o principal prémio destinado à literatura em língua portuguesa e
consagra anualmente um autor que, pelo valor intrínseco da sua obra, tenha
contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum.
http://www.publico.pt/cultura/noticia/xxxxxx-premio-camoes-foi-para-o-escritor-1595653 (adaptado)
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7. Mia Couto gostaria de usar Prémio Camões a favor de jovens escritores
moçambicanos
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O escritor Mia Couto disse hoje que gostaria de usar o valor do Prémio Camões
para
desenvolver
um
projeto
que
dê
"espaço
aos
jovens
escritores
moçambicanos", algo que, considera, Moçambique não dispõe nesta altura.
"Gostaríamos (o escritor e os seus irmãos) muito de poder intervir (...) em áreas
junto do livro, dos jovens escritores que não têm espaço", disse Mia Couto, quando
falava, em Maputo, numa conferência de imprensa a propósito do Prémio Camões,
que lhe foi atribuído ontem.
Segundo Mia Couto, "todas as semanas", algum jovem escritor lhe bate à porta com
um "manuscrito para mostrar", o que lhe causa "muita impressão", pois revela "uma
grande solidão", uma vez que "essas pessoas" não têm com quem partilhar a
"preocupação" do valor da obra.
"Não existe instituição em Moçambique que possa receber esta gente, que possa
organizar um momento que é essencial, que é alguém escutar, olhar aquele texto
preparado pelo jovem e poder ver se ali há uma potencialidade de alguém que pode
ser amanhã um escritor", disse.
8. Sobre a importância do Prémio Camões que recebeu para a literatura moçambicana,
Mia Couto afirmou ter dúvidas quanto ao seu significado, argumentando que ela "é
muito maior que a contribuição de um escritor", apontando ainda críticas à situação
que o país vive neste aspeto.
"Se a política oficial e prática do Governo não a tomar como prioridade, estamos a
colocar em risco isso que se chama de literatura moçambicana", acrescentou.
Sobre o espaço da lusofonia e do seu potencial literário no mundo, Mia Couto
entende que é necessário "acertar, dentro da família" de países de expressão
portuguesa, "determinadas coisas", antes de se começar a "pensar num território tão
grande, que é o mundo".
"Se não nos impomos, se não somos capazes de mostrar alguma coisa que tem um
valor único, alguma espécie de contribuição inovadora, o mundo não quer saber de
nós", considerou.
"Mesmo nós (Moçambique) temos uma posição de grande ambiguidade: às vezes a
língua portuguesa é nossa, outras vezes, não é nossa; às vezes, é tida como língua
nacional, outras vezes, não", lamentou.
http://sicnoticias.sapo.pt/cultura/2013/05/28/mia-couto-gostaria-de-usar-premio-camoes-a-favor-de-jovens-escritoresmocambicanos
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9. LISTA DE VENCEDORES DO PRÉMIO CAMÕES
Ano
Autor
País
Miguel Torga
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Portugal
1989
João Cabral de Melo Neto
1990
Brasil
José Craveirinha
1991
Moçambique
Vergílio Ferreira
1992
Portugal
Rachel Queiroz
1993
Brasil
11. Autran Dourado
2000
Brasil
11
Eugénio de Andrade
2001
Portugal
Maria Velho da Costa
2002
Portugal
Rubem Fonseca
2003
Brasil
Augustina Bessa-Luís
2004
Portugal
Lygia Fagundes Telles
2005
Brasil