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                        88
Paulo José de Siqueira Tiné Observa-se que, neste caso, o verso
  cantados pelo coro .                                                  corresponde à semifrase. Portanto,
Procedimentos Modais na Música Brasileira:
Do campo étnico do Nordeste ao popular da década de da sentença.
  as duas quadras compõem a estrutura binária 1960.
PAGINA 92 A 95

                                                   M R Fraseologia                     cad. melódica
                        Juazeiro, juazeiro          7 a      Semifrase 1       Frase a
                    Me aresponda por favor          7 b      Semifrase 2          ‘’       1+3
                     Juazeiro velho amigo           7 c      Semifrase 1      Frase a’
                    Onde anda o meu amor            7 b Semifrase 2’              ‘’        2-1
                             Ai juazeiro            4 a      Semifrase 3       Frase b
                     Ela nunca mais voltou          7 d      Semifrase 4          ‘’       1+3
                             Viu juazeiro           4 a Semifrase 3’ Frase b’
                   Onde anda o meu amor? 7 b Semifrase 4’                         ‘’        2-1
                                                    Tab. 4.1 Juazeiro



         A preferência pela redondilha maior pode ser atribuída à tradição dos cantadores, já
 que é muito comum o uso dessa métrica nos padrões do repente como os Oito Pés à Quadrão
 e Quadrão Alagoano, Mineiros, etc. É importante ressaltar que tais menções não dizem
 respeito às regiões mencionadas, mais ao tipo de rima (“ão”, “eiro”, “ano”, etc.).89


 4.2 Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)


         Trata-se da canção que lança o gênero de música e dança na condição de moda no
 final da década de 1940.90 A melodia da seção A encontra-se também no 5º modo (mixolídio);
 entretanto, quando há a mudança harmônica para o IV grau, este também vem com a 7ª
 menor, resultando, assim, em uma transposição do mesmo modo uma 4ª justa abaixo. Trata-se
 de uma sentença que apresenta uma curiosa cadência harmônica na frase cadencial: VIIb – V
 – I, sendo todos acordes maiores com 7ª menor, ou seja, todos da tipologia dominante mas
 apenas o da relação V-I exercendo a função de Dominante, quer dizer, tonalizando o final da
 seção. Esta seção também é apresentada pela sanfona, indicada pelas notas inferiores da
 melodia, apresentando a maneira como ela ficou mais conhecida.

 88
    Em todos os exemplos deste trabalho, a escansão é realizada a partir da interpretação realizada na gravação de
 referência.
 89
    Zé Francisco & Palmeirinha da Bahia. Literatura de Cordel, Repentistas e Cantadores. São Paulo: Meridional
 Ed. Limitadas, 1977.
 90
    RCA-Victor 800605b, 1949.
93




                                        Fig. 4.4 Baião: seção A.


         Entre as seções A e B há uma pequena ponte de sete compassos que enfatiza a tônica
(I) e o ritmo. A seção seguinte apresenta uma nova melodia no 5º modo (mixolídio) agora no
IV grau, sempre com 7ª menor. Em um primeiro momento se tem a impressão de que se está
em uma nova tonalidade. Entretanto, a cadência é a mesma da seção anterior, concluindo esta
seção na tonalidade original. A estrutura é praticamente idêntica à da seção anterior,
excetuando-se pelo fato de que a frase b é de menor extensão, gerando uma irregularidade
fraseológica que resulta em uma seção de catorze em vez de dezesseis compassos, ou seja,
uma estrutura binária irregular. Os finais de frases se dão em transposições, conforme indica o
parêntese, ou seja, o final 1+3 é, na relação com a harmonia, um 5+7, final suspensivo na 7ª
menor.
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                                     Fig. 4.5 Baião: seção B.


      Após a seção B, há também uma pequena extensão de sete compassos que enfatiza os
mesmos aspectos referidos na ponte. Trata-se de uma função similar à do vamp, aqui num
único acorde, que estabelece a modalidade – F7, 5º modo – e o elemento rítmico
característico: o baião. Comparando esses dois elementos, verifica-se que eles são
praticamente o mesmo, com algumas variações melódicas.




                                        Fig. 4.6 Baião: ponte




                                  Fig. 4.7 Baião: codeta da seção B


          Nesta gravação de referência (1949), o arranjo se dá da seguinte maneira:
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           Introd. A (instrumental); A (cantado); ponte; B codeta; A (instrumental) cod.;
                                          B cod. (fade out).


       A letra de Humberto Teixeira aponta para o largo uso da redondilha maior, muito
popular entre os repentistas e, aqui, com o uso da rima “ão”, muito própria ao quadrão.
Observa-se que a quebra do uso do verso de sete sílabas se dá no momento de alteração da
semifrase e da frase cadencial.


                                          M R Fraseologia                       Cad. Melódica
              Eu vou mostrar pra vocês      7 a semifrase 1        Frase a
              como se dança o baião         7 b semifrase 1’       “        “     6-5
              E quem quiser aprender        7 c semifrase 1”       Frase a’
              é favor prestar atenção       8 b semifrase 2        “        “     2+3
              Morena chegue pra cá          7 d semifrase 1”’ Frase b
              bem junto ao meu coração      7 b semifrase 1”’ “             “     5-4
              Agora é só me seguir          7 e semifrase 3        Frase c
              pois eu vou dançar o baião 8 b semifrase 4           Cad.           2-1
                                         Tab. 4.2 Baião seção A


       Já a seção B apresenta um número incomum de sete versos que é correspondente à
irregularidade métrica da sentença irregular apresentada na análise fraseológica.


                                           M R Fraseologia                      Cad.
           Eu já dancei balancei             7 a Semifrase 1       Frase a
           chamego, samba e xerém,           7 b Semifrase 2       “        “     4(1)
           Mas o baião tem um quê           7 c Semifrase 1’ Frase a’
           que as outras danças não tem, 7 b Semifrase 2’ “                 “     1+3(7)
           E quem quiser só dizer,          7 d                    Frase b        1+3(7)
           pois eu com satisfação,           7 e semifrase 3       Frase c
           vou dançar cantando o baião       8 e semifrase 4       (cad.)         2-1
                                        Tab. 4.3 Baião: seção B.

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  • 1. 92 88 Paulo José de Siqueira Tiné Observa-se que, neste caso, o verso cantados pelo coro . corresponde à semifrase. Portanto, Procedimentos Modais na Música Brasileira: Do campo étnico do Nordeste ao popular da década de da sentença. as duas quadras compõem a estrutura binária 1960. PAGINA 92 A 95 M R Fraseologia cad. melódica Juazeiro, juazeiro 7 a Semifrase 1 Frase a Me aresponda por favor 7 b Semifrase 2 ‘’ 1+3 Juazeiro velho amigo 7 c Semifrase 1 Frase a’ Onde anda o meu amor 7 b Semifrase 2’ ‘’ 2-1 Ai juazeiro 4 a Semifrase 3 Frase b Ela nunca mais voltou 7 d Semifrase 4 ‘’ 1+3 Viu juazeiro 4 a Semifrase 3’ Frase b’ Onde anda o meu amor? 7 b Semifrase 4’ ‘’ 2-1 Tab. 4.1 Juazeiro A preferência pela redondilha maior pode ser atribuída à tradição dos cantadores, já que é muito comum o uso dessa métrica nos padrões do repente como os Oito Pés à Quadrão e Quadrão Alagoano, Mineiros, etc. É importante ressaltar que tais menções não dizem respeito às regiões mencionadas, mais ao tipo de rima (“ão”, “eiro”, “ano”, etc.).89 4.2 Baião (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) Trata-se da canção que lança o gênero de música e dança na condição de moda no final da década de 1940.90 A melodia da seção A encontra-se também no 5º modo (mixolídio); entretanto, quando há a mudança harmônica para o IV grau, este também vem com a 7ª menor, resultando, assim, em uma transposição do mesmo modo uma 4ª justa abaixo. Trata-se de uma sentença que apresenta uma curiosa cadência harmônica na frase cadencial: VIIb – V – I, sendo todos acordes maiores com 7ª menor, ou seja, todos da tipologia dominante mas apenas o da relação V-I exercendo a função de Dominante, quer dizer, tonalizando o final da seção. Esta seção também é apresentada pela sanfona, indicada pelas notas inferiores da melodia, apresentando a maneira como ela ficou mais conhecida. 88 Em todos os exemplos deste trabalho, a escansão é realizada a partir da interpretação realizada na gravação de referência. 89 Zé Francisco & Palmeirinha da Bahia. Literatura de Cordel, Repentistas e Cantadores. São Paulo: Meridional Ed. Limitadas, 1977. 90 RCA-Victor 800605b, 1949.
  • 2. 93 Fig. 4.4 Baião: seção A. Entre as seções A e B há uma pequena ponte de sete compassos que enfatiza a tônica (I) e o ritmo. A seção seguinte apresenta uma nova melodia no 5º modo (mixolídio) agora no IV grau, sempre com 7ª menor. Em um primeiro momento se tem a impressão de que se está em uma nova tonalidade. Entretanto, a cadência é a mesma da seção anterior, concluindo esta seção na tonalidade original. A estrutura é praticamente idêntica à da seção anterior, excetuando-se pelo fato de que a frase b é de menor extensão, gerando uma irregularidade fraseológica que resulta em uma seção de catorze em vez de dezesseis compassos, ou seja, uma estrutura binária irregular. Os finais de frases se dão em transposições, conforme indica o parêntese, ou seja, o final 1+3 é, na relação com a harmonia, um 5+7, final suspensivo na 7ª menor.
  • 3. 94 Fig. 4.5 Baião: seção B. Após a seção B, há também uma pequena extensão de sete compassos que enfatiza os mesmos aspectos referidos na ponte. Trata-se de uma função similar à do vamp, aqui num único acorde, que estabelece a modalidade – F7, 5º modo – e o elemento rítmico característico: o baião. Comparando esses dois elementos, verifica-se que eles são praticamente o mesmo, com algumas variações melódicas. Fig. 4.6 Baião: ponte Fig. 4.7 Baião: codeta da seção B Nesta gravação de referência (1949), o arranjo se dá da seguinte maneira:
  • 4. 95 Introd. A (instrumental); A (cantado); ponte; B codeta; A (instrumental) cod.; B cod. (fade out). A letra de Humberto Teixeira aponta para o largo uso da redondilha maior, muito popular entre os repentistas e, aqui, com o uso da rima “ão”, muito própria ao quadrão. Observa-se que a quebra do uso do verso de sete sílabas se dá no momento de alteração da semifrase e da frase cadencial. M R Fraseologia Cad. Melódica Eu vou mostrar pra vocês 7 a semifrase 1 Frase a como se dança o baião 7 b semifrase 1’ “ “ 6-5 E quem quiser aprender 7 c semifrase 1” Frase a’ é favor prestar atenção 8 b semifrase 2 “ “ 2+3 Morena chegue pra cá 7 d semifrase 1”’ Frase b bem junto ao meu coração 7 b semifrase 1”’ “ “ 5-4 Agora é só me seguir 7 e semifrase 3 Frase c pois eu vou dançar o baião 8 b semifrase 4 Cad. 2-1 Tab. 4.2 Baião seção A Já a seção B apresenta um número incomum de sete versos que é correspondente à irregularidade métrica da sentença irregular apresentada na análise fraseológica. M R Fraseologia Cad. Eu já dancei balancei 7 a Semifrase 1 Frase a chamego, samba e xerém, 7 b Semifrase 2 “ “ 4(1) Mas o baião tem um quê 7 c Semifrase 1’ Frase a’ que as outras danças não tem, 7 b Semifrase 2’ “ “ 1+3(7) E quem quiser só dizer, 7 d Frase b 1+3(7) pois eu com satisfação, 7 e semifrase 3 Frase c vou dançar cantando o baião 8 e semifrase 4 (cad.) 2-1 Tab. 4.3 Baião: seção B.