Versão integral da edição n.º 60 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 22.10.2008.
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1. DIRECTOR JORGE CASTILHO
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ANO III N.º 60 (II série) 22 de Outubro a 4 de Novembro de 2008 1 euro (iva incluído)
CICLO DE CONFERÊNCIAS EVOCA MIGUEL TORGA EM COIMBRA
Clara Rocha
fala sobre
“A Casa
de meus Pais”
A Casa-Museu Miguel Torga promove um Ciclo de Conferências que se inicia
no próximo dia 31 (sexta-feira), com a filha do poeta, Clara Rocha, que irá falar
sobre a casa e seus Pais (ao lado, Miguel Torga e Andrée Crabbé Rocha)
PÁG. 3
PERSONALIDADES DE DIVERSOS PAÍSES ELOGIARAM A LAUREADA PÁG. 12 e 13
NA CERIMÓNIA REALIZADA EM PARIS
Cristina
Robalo Cordeiro
recebeu Prémio
“Richelieu Senghor”
ROTARY / OLIVAIS MUNDO ANIMAL FIGUEIRA DA FOZ GUERRA COLONIAL
Pedro Roma Conselhos Zé Penicheiro Ex-militares:
escolhido para evitar regressa 150 mil ainda
“Profissional ataques com mostra dependentes
do Ano” de cães no CAE de fármacos
PÁG. 2 PÁG. 4 PÁG. 5 PÁG. 17
2. 2 NACIONAL 22 DE OUTUBRO A 4 DE NOVEMBRO DE 2008
HOMENAGEM DO ROTARY CLUBE DE COIMBRA / OLIVAIS
Pedro Roma (guarda-redes da Académica)
distinguido como “Profissional do Ano”
- MÁRIO CAMPOS FALOU DA ACADÉMICA DE OUTROS TEMPOS
O Rotary Club de Coimbra/Olivais
homenageou anteontem (segunda-feira)
o guarda-redes da Académica Pedro
Roma com o título de “Profissional do
Ano”.
A distinção foi entregue durante um
jantar que contou com a participação de
dezenas de elementos rotários, mas tam-
bém de diversos convidados, entre os
quais os dirigentes da Académica OAF
(José Eduardo Simões, Presidente da
Direcção; Paulo Mota Pinto, Presidente
da Assembleia Geral, e António Preto,
Presidente do Conselho Fisal), o Presi-
dente da Associação Académica de Co-
imbra, André Oliveira, e alguns antigos
jogadores da “Briosa”: Manuel António, José Eduardo Simões, Helena Goulão e Manuel António Manuel António e Mário Campos
Mário Campos e Francisco Andrade na cerimónia de saudação das bandeiras
(que foi também treinador da Académi-
Clube de Pombal, de onde veio para a
ca, tendo levado o clube à final da Taça
Académica para uma longa carreira, só
de Portugal, em 1969).
interrompida durante quatro anos (de
A Presidente do Rotary Club de Co-
1992 a 1996) em que representou o Ben-
imbra /Olivais, Helena Goulão, salientou
fica e outros clubes (de realçar que Pe-
que se tratava de uma homenagem sin-
dro Roma, com os seus 38 anos de ida-
gela, mas muito significativa, pois pre-
de, é um dos mais velhos atletas da Aca-
tendia distinguir, como exemplo de “Por-
démica de sempre em actividade).
fissional do Ano”, um jogador de futebol
De seguida foi Mário Campos, médi-
com um longo percurso, muito credenci-
co e antigo internacional da Académica,
ado, mas que sempre foi um exemplo em
que fez uma palestra dobre o que foi a
termos de solidariedade, ao mesmo tem-
Académica nos seus tempos gloriosos,
po que foi construindo uma carreira aca-
nomeadamente nos anos 40, 60 e 70, em
démica (Pedro Roma licenciou-se em
que, a par dos bons resultados desporti-
Ciências do Desporto na Universidade
vos, o clube levava a cabo uma função
de Coimbra e pretende continuar a pro-
única e muito meritória de proporcionar
gredir na formação académica).
condições de estudo aos seus jogadores,
Coube a Fernanda Mota Pinto fazer a
o que permitiu que muitos deles viessem
apresentação de Pedro Roma, referindo
a concluir os seus cursos e a ser hoje
o seu nascimento em Pombal em 1970,
figuras destacadas na sociedade.
onde começou a praticar futebol no Sport
Sublinhou que para isso contrbuíram
também os excelentes treinadores que a
Académica foi tendo, que flexibilizavam
os treinos para que os jogadores-estu-
dantes pudessem frequentar as aulas. E
destacou o apoio que então existia às
Director: Jorge Castilho camadas jovens.
(Carteira Profissional n.º 99) Contou alguns episódios curiosos, como
o sucedido logo após a Revolução de 25
Propriedade: Audimprensa
NIF: 501 863 109 de Abril de 1974, em que ele e outros
elementos da Académica se deslocaram
Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho
a Lisboa a uma entrevista com o então
ISSN: 1647-0540 Primeiro Ministro Vasco Gonçalves, a fim
Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930
de garantir a continuidade da Académi-
ca (que alguns então quiseram extinguir
Composição e montagem: Audimprensa enquanto equipa de futebol a disputar o
Rua da Sofia, 95, 2.º e 3.º - 3000-390 Coimbra
Campeonato da I Divisão).
Telefone: 309 801 277 - Fax: 309 819 913 Também Francisco Andrade evocou
alguns momentos da história da Acadé- Helena Goulão entrega o diploma de “Profissional do Ano” a Pedro Roma
e-mail: centro.jornal@gmail.com
mica, antes do próprio Pedro Roma agra- Referiu depois que apesar de nos obter a sua licenciatura. E concluiu
Impressão: CIC - CORAZE decer a distinção. tempos actuais o futebol ser diferente agradecendo a homenagem e afirman-
Oliveira de Azeméis
O homenageado começou por subli- de há uns anos atrás, a Académica tam- do que continuará a tentar transmitir aos
Depósito legal n.º 250930/06 mais novos os valores que aprendeu na
nhar que “ser da Académica não se ex- bém continua a ser um clube diferente,
Tiragem: 10.000 exemplares plica, implica!”. que muito fez por ele, permitindo-lhe Académica.
3. 22 DE OUTUBRO A 4 DE NOVEMBRO DE 2008 NACIONAL 3
NO PRÓXIMO DIA 31, NA CASA-MUSEU MIGUEL TORGA, EM COIMBRA
Clara Rocha vem falar sobre “A Casa de meus Pais”
- MÁRIOS SOARES É O PRÓXIMO INTERVENIENTE NO CICLO DE COLÓQUIOS MENSAIS
Na Casa-Museu Miguel Torga, perten- terrogações suscitadas pela obra e pelo vi-
cente A‘Câmara Municipal de Coimbra, vai vido de Miguel Torga, encerrará este ciclo,
decorrer um Ciclo de Colóquios, a iniciar já no mês de Junho”.
no próximo dia 31 (sexta-feira), pelas 18 Antevê-se o especial interesse deste pri-
horas, com a filha do Poeta, Clara Rocha, a meiro colóquio, já que Clara Rocha certa-
abordar o tema “A Casa de meus Pais”. mente irá falar das vivências que ela pró-
Cristina Robalo Cordeiro, Conserva- pria teve na casa onde habtou desde a in-
dora da Casa-Museu, refere, a propósi- fância e até rumar a Lisboa (onde é Profes-
to deste Ciclo: sora Catedrática da Faculdade de Letras
“Aberta desde Agosto de 2007 aos nu- da Universidade Nova). Mas deverá focar,
merosos visitantes que, de todos os pontos sobretudo, aspectos relacionados com a vida
do país e do estrangeiro, vêm render ho- e obra de seu Pai, o escritor Miguel Torga, e
menagem à memória do escritor, a Casa- de sua Mãe, Andrée Crabbé Rocha (inves-
Museu, para plenamente cumprir a função tigadora e professora universitária, que igual-
que lhe foi confiada no momento da sua mente publicou diversas obras)
inauguração, deve ser, sob a inspiração de Segundo revelou Cristina Robalo Cordei-
Clara Rocha
Miguel Torga, um lugar de diálogo, de aná- ro, os participantes previstos para este ciclo
lise e de criação. mento, a palavra e a escrita no contacto da identidade, ou melhor das identidades, de colóquios mensais são os seguintes: Má-
Chegou assim agora a altura de, favo- com os seus textos”. não nos viesse fornecer um fio condutor. É rio Soares (Novembro), Almeida Faria (De-
recendo a concentração e a autenticida- E acrescenta: pois esta noção que escolhemos como prin- zembro), Maria Alzira Seixo (Janeiro), An-
de intelectuais que o escritor prezava aci- “A diversidade de temas, ideias e formu- cípio ordenador de uma primeira série de tónio Arnaut (Fevereiro), José Carlos Sea-
ma de tudo, privilegiar o debate de ideias lações contida nos livros de Miguel Torga conversas, que, de Outubro a Maio, preen- bra Pereira (Março), José Luís Peixoto
e a troca de experiências a partir da re- poderia parecer um obstáculo à concepção cherão o ano de 2008-2009. Um Colóquio, (Abril), José Augusto Bernardes (Maio).
flexão do escritor, estimulando o pensa- de um programa de Encontros se a questão cuja problemática se prenderá com as in- A entrada é livre.
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gueses, com reconhecimento mesmo rio passará a receber directamente em SA), para a seguinte morada: CONTAMOS CONSIGO!
a nível internacional, estando repre-
sentado em colecções espalhadas por
vários pontos do Mundo.
Neste trabalho, Zé Penicheiro, Desejo oferecer/subscrever uma assinatura anual do CENTRO
com o seu traço peculiar e a incon-
fundível utilização de uma invulgar
paleta de cores, criou uma obra que
alia grande qualidade artística a um
profundo simbolismo.
De facto, o artista, para represen-
tar a Região Centro, concebeu uma
flor, composta pelos seis distritos que
integram esta zona do País: Aveiro,
Castelo Branco, Coimbra, Guarda,
Leiria e Viseu.
Cada um destes distritos é repre-
sentado por um elemento (remeten-
do para o respectivo património his-
tórico, arquitectónico ou natural).
A flor, assim composta desta for-
4. 4 MUNDO ANIMAL 22 DE OUTUBRO A 4 DE NOVEMBRO DE 2008
Porcos farejam trufas de mais de 500 euros
O produtor Orlando Barroso ensinou os mais duras e são raspadas como o queijo,
porcos que cria a farejarem as trufas pela sendo servidas com massas ou risotos, en-
florestas de Boticas, vendendo depois esta tre muitos outros pratos”, salientou.
espécie de cogumelo subterrâneo a 500 ou Agora, em Portugal, o chefe gosta de
600 euros o quilo para restaurantes locais e estufar as trufas, juntando-lhes presunto,
estrangeiros. alho, azeite e vinho branco.
Orlando Barroso é construtor civil mas, Na prática quem manda nesta activida-
há cerca de dois anos, tirou um curso de de é o porco e, por isso, segundo diz Orlan-
tubérculos e cogumelos e decidiu ensinar do Barroso, a apanha das trufas vai sendo
os porcos que o próprio cria em sua casa, feita consoante a vontade dos animais.
na localidade de Carvalhelhos, a fareja- Normalmente, o produtor treina entre dois
rem trufas. a três porcos de cada vez, mas o trabalho
O trabalho é árduo mas recompensa, e destes farejadores no campo é feito por um
bem. É que, por cada quilo de trufas que animal de cada vez.
apanha, o produtor disse à Agência Lusa O grande inimigo do nariz deste animal é
que ganha cerca de 500 ou 600 euros. o cio das fêmeas.
“O preço varia consoante a procura e “Depois de farejarem uma porca com cio,
quantidade de trufas que consigo apa- os animais já não prestam para nada. São
nhar”, frisou. capados e depois abatidos para produção
O método de ensino dos porcos é sim- de carne”, referiu.
ples. Orlando Barroso pega nas pequenas isso, o trabalho é mais facilitado”, referiu. Orlando vende ainda para Itália, Ingla- Depois, segundo Orlando Barroso há que
crias destes animais e alimenta-as com esta Quando o animal fareja o fungo, normal- terra, Canadá ou Luxemburgo. treinar novos animais.
espécie de cogumelo. mente enterrado a cerca de oito a 15 centí- “Ainda não é um produto muito conheci- Agora, o produtor diz que está a tentar
Quando os animais têm cinco ou seis metros, Orlando Barroso apanha o produto do. Falta alguma divulgação para termos treinar um cão a farejar as trufas.
meses “estão completamente domestica- com “todo o cuidado” para não o danificar também mais procura”, salientou. No ano passado, o preço das trufas-bran-
dos” e prontos para irem para a floresta à ou às raízes que, meses depois, produzirão O chefe José Pinheiro trabalha na Ta- cas de Alba, na região italiana de Piemonte,
procura das trufas, um fungo subterrâneo novas trufas. berna do Ti João, em Carvalhelhos, e diz rondava os cinco mil euros, sendo que al-
que nasce nas raízes de castanheiros, pi- As trufas são apanhadas entre Feverei- que as trufas são também um produto mui- guns dos melhores exemplares chegaram
nheiros ou carvalhos. ro e Março ou entre Agosto e Outubro. to caro para poder fazer parte da ementa aos sete mil euros.
“Abro a porta da carrinha e os porcos Apenas numa manhã de trabalho, o pro- daquele restaurante. As trufas-negras são consideradas as
entram logo. Depois, percorro os montes dutor pode ganhar “muitos euros” com este José Pinheiro trabalhou durante 22 anos mais raras e mais caras.
com o animal preso por uma trela à procu- produto considerado de gourmet e, por isso, como chefe na Suiça, no cantão italiano,
ra. Neste momento já sei mais ou menos região onde as trufas são muito procuradas.
Texto de Paula Lima e foto
procurado apenas por um número reduzido
onde podemos encontrar as trufas e, por de restaurantes. “São um pouco diferentes das nossas. São de João Miranda (LUSA)
As agressões de cães aos donos
Salvador St.Aubyn
Mascarenhas
e formas de as combater
Médico Veterinário
salvadorvet@gmail.com
o que representa um elemento de conflito, que é raro, mas deve ser descartado, visto mer, ser afagado, brincar ou ir dar um
A agressão dos cães aos donos é uma ansiedade ou medo nas motivações do cão. que situações dolorosas ou de doença po- passeio.
alteração comportamental, que acontece O cão pode parecer deprimido e este dem aumentar a tendência para comporta- Durante as primeiras 2-3 semanas, os
com alguma frequência, caracterizada por comportamento pode ser o sinal para pro- mentos agressivos) donos devem dar atenção ao cão só por bre-
um comportamento agressivo como rosnar, vável agressão. A punição inapropriada ou inconsistente ves períodos, e só durante os momentos em
mostrar os dentes, latir, ou morder, usual- O cão pode demonstrar um comporta- ou uma relação entre o cão e o dono sem que ele obedece aos comandos e é recom-
mente contra os membros que vivem em mento de medo, como não olhar directa- regras, podem contribuir para o desenvolvi- pensado. Noutros momentos, o cão deve
casa ou contra pessoas que lhe são familia- mente, meter a cauda entre as pernas e mento de um comportamento de conflito e ser ignorado, especialmente se ele solicitar
res em situações que envolvem acesso aos evitar contacto nos primeiros episódios, mas agressivo. atenção.
objectos preferidos, como brinquedos, ou à que tendem a desaparecer à medida que O tratamento consiste na modificação do Devemos ensinar comandos usando re-
comida. fica mais confiante no resultado da sua comportamento e administração de alguns forço positivo (como comida, brinquedos,
Também referido como agressão por agressão medicamentos. jogos, festas) que ensinem comportamen-
dominância, agressão relacionada com o Esse animal exibe uma notável ansie- Devem ser evitadas todas as situações tos que são contra os que resultaram em
status, agressão competitiva ou por conflito. dade, que pode ser observada nomeada- que lembrem as agressões. agressões no passado – por exemplo, ensi-
Usualmente manifesta-se no início da mente quando o dono parte ou quando está Para alterar este comportamento de nar “sai” para sair do sofá ou “solta” para
maturidade social (entre os 12 e os 36 me- perante situações novas. agressividade, devemos usar métodos indi- largar os brinquedos.
ses, dependendo da raça) mas pode ser ob- Esse comportamento pode fazer parte rectos, que ensinem o cão a ver as pessoas Um aumento da actividade física tam-
servada em cães mais novos, existindo uma do repertório comportamental canino nor- da casa como os líderes da matilha. bém ajuda a diminuir a incidência das
predominância nos machos relativamente às mal, mas a sua expressão é influenciada Devemos começar por ensiná-lo a agressões.
fêmeas. pelo ambiente, pela aprendizagem e pela obedecer ordens, usando recompensas, Alguns medicamentos e alimentos
Uma postura hirta, parada, com a cabe- genética. sem que ele fique agressivo ou em con- com baixo teor proteico e alto em tripto-
ça erguida, as orelhas apontadas para a A manifestação da agressão pode ser flito. Antes de permitir que o cão obte- fano podem ajudar, mas não terão ne-
frente e a cauda levantada normalmente influenciada por experiências precoces em nha qualquer coisa que deseje das pes- nhum efeito sem uma terapia no sentido
acompanham o comportamento agressivo. que o animal aprendeu que a agressão fun- soas, devemos fazer com que ele obe- de modificação do comportamento, sen-
Uma combinação destas posturas pode ser ciona, controlando as situações e por in- deça a um comando. Esta técnica tam- do também recomendável castrar os
observada com outras posturas de submis- consistência ou ausência de regras e roti- bém é conhecida como “Nada é de bor- cães inteiros.
são, como a cauda levantada mas as ore- nas em casa ou na sua relação com as la na vida”, e um exemplo é mandar o Afinal, “de pequenino é que se tor-
lhas dobradas e os olhos virados para baixo, pessoas. Também por razões médicas (o cão sentar-se ou deitar-se antes de co- ce o pepino”.
5. 22 DE OUTUBRO A 4 DE NOVEMBRO DE 2008 REGIÃO CENTRO 5
EXPOSIÇÃO ATÉ AO PRÓXIMO DIA 2 DE NOVEMBRO
Zé Penicheiro regressa à Figueira da Foz
Dedicada ao Povo Português e à sua museus e galerias de arte de diversos paí-
Pátria – eis como Zé Penicheiro classifica ses, mas criou um estilo próprio, inconfundí-
a mostra de trabalhos de sua autoria inau- vel, onde magistralmente joga com planos
gurada no passado sábado na Figueira da geométricos e simbologias cromáticas.
Foz, no CAE (Centro de Artes e Espectá- Tem larga representação da sua obra em
culos), na sala de exposições que tem o Museus nacionais e em colecções particu-
seu nome. lares espalhadas pelo mundo.
A inauguração contou com a presença Tem sido, com a sua obra e o seu pres-
do artista (ainda a recuperar de uma que- tígio, um ilustre embaixador da Figueira
da), de muitos dos seus amigos e admirado- da Foz, razão pela qual foi distinguido com
res, e de diversas entidades oficiais, como o o títulode Cidadão Honorário e atribuído
Delegado Regional da Cultura do Centro, o nome “Zé Penicheiro” à galeria de arte
António Pedro Pita, o Presidente e o Vice- no CAE.
Presidente da Câmara Municipal da Figuei- Esta mostra, de visita obrigatória, é cons-
ra da Foz, Duarte Silva e Lídio Lopes, res- tituída por 27 trabalhos e estará patente até
pectivamente, e a Administradora Executi- ao próximo dia 2 de Novembro.
va da Figueira Grande Turismo - EM, Ana Zé Penicheiro esteve presente na inauguração da mostra na Figueira da Foz
Registe-se, por último, que está prestes a
Redondo. ções de Lisboa, Porto e outras cidades do tando, sobretudo, as profissões mais liga- ser publicada uma volumosa e luxuosa edi-
Recorde-se que Zé Penicheiro nasceu País. Foi criador de uma expressão plástica das ao mar, como o pescador e a varina. ção sobre a vida e obra do pintor, que mes-
na aldeia beirã de Candosa, Tábua. Passou original, que denomina Caricatura em Vo- Desenvolveu também actividade no do- mo antes de sair a público está já a suscitar
a juventude na Figueira da Foz, onde iniciou lume, iniciando o seu ciclo de exposições mínio da publicidade e é autor de diversos grande interesse. Os interessados poderão
a sua carreira artística, como caricaturista e em 1948. São dessa época os originais bo- painéis e murais dispersos pelo país. reservar um exemplar da obra através do
ilustrador, colaborando em diversas publica- necos que esculpiu em madeira, represen- Efectuou diversas viagens de estudo a telemóvel 919690069).
Serra da Lousã
fância à memória, quando, segurando
uma pequena haste no cimo da qual pre-
Varela Pècurto gávamos um “moinho”, velas de papel
colorido, corríamos contra o vento para
as fazer girar mais depressa.
O sedentarismo do Homem Primitivo As torres vistas de longe iludem qual-
foi diminuindo à medida que a sua inteli- quer observador. É necessário estar-se
gência desabrochou, lentamente mas muito perto para darmos conta do seu
segura. volume.
Nesses longínquos tempos, tal criatu- Por mim, confesso que não me sinto
ra pouco se devia importar com a boa ou incomodado ao olhar esta nova paisagem.
má paisagem que a rodeava. Mas, for- Pelo contrário. (Veja a gravura).
çada por condições adversas, era obri- E ainda que assim não fosse, confron-
gada a procurar lugares mais favoráveis tados com a crise energética (e é enor-
e então, aí sim, ganhando novos horizon- me a nossa dependência neste sector),
tes teria que os olhar, ao menos para re- colocaríamos as torres no sopé da mon-
conhecimento. tanha?
Tudo evoluiu e as inovações tornaram Para um ou outro descontente tenho
as deslocações fáceis, transformando-as uma recomendação: sejam realistas!
num prazer.
Hoje, qualquer endinheirado pode
mudar facilmente de fusos horários em sentidos porque à sua volta sempre pode mostrando a adopção científica que é a
poucas horas, deixando o sol tropical e ver algo com algum interesse. Entre coroação com torres eólicas, cada uma
passar às neves eternas ou vice-versa. momentos menos bons está a esperança com a altura de 35 andares, onde se gera
Há cerca de um século, o português que leva a tirar partido do que nos envol- energia “à borla” porque o vento é grá-
comum começou por viajar timidamente ve. tis. Além deste ouro do nosso tempo, os
até Espanha. Alegre e ruidoso acenava Tudo isto vem a propósito do actual acessos construídos beneficiam as po-
e batia palmas aos que, já de regresso, aspecto da Serra da Lousã. Quem tem o pulações e são defesa contra incêndios.
com ele se cruzavam, sintoma de como privilégio de habitar numa terra que é das A Câmara Municipal recebe impostos e
eram raras estas aventuras além-fron- mais belas do nosso distrito, está em van- os donos dos terrenos, rendas.
teiras, prenúncio das grandes saídas para tagem, acrescida agora com algo mais A energia gerada pelo rodopio das pás
outras paragens, que muitos agora fazem para contemplar. com 41 metros de comprimento é limpa
depois do empréstimo bancário, caindo Levantando o olhar, vê a imponente e assim nos vamos aproximando da meta
no logro do convite “viaje agora e pague Serra, aldeias pelas encostas, entre ver- que nos foi estabelecida em Quioto e que
depois”. des e outras tonalidades que mudam ao temos o compromisso de alcançar.
O Zé, esse coitado representante das longo do dia. É assim, haja sol, chuva ou O receio de que as torres provocas-
gerações que poucas vezes mudam de nevoeiro. A montanha desce até nós, sem impacto visual negativo não se con-
sítio, vai olhando o que está à sua volta, entra por algumas portas e janelas, num firmou, pois a vastidão da paisagem ab-
alheado, pensando mais como sustentar sortilégio de luz e cores sempre em mu- sorve qualquer aspecto de que alguns não
Esta imagem parcial da base de uma
a família. Mas os que têm por cenário a tação, enchendo de vida a senhorial vila. gostem. Até o movimento das pás pren-
das torres eólicas permite avaliar
parede do vizinho, devem espevitar os O panorama agora tem novidade, de a nossa atenção, trazendo-nos a in- a sua grande dimensão
6. 6 INTERNACIONAL 22 DE OUTUBRO A 4 DE NOVEMBRO DE 2008
Missão russa na ONU recebe Vaticano promove
encontro
um pedido de fundos com muçulmanos
da campanha McCain Um encontro no Vaticano com re-
presentantes muçulmanos vai realizar-
se a 4 e 5 de Novembro, anunciou o
A missão diplomática russa junto da políticas nos países estrangeiros”, de- publicano e vem acompanhada por um presidente do Conselho Pontifício para
ONU afirmou ter rejeitado um pedido clara o comunicado. formulário de apoio pré-redigido para o Diálogo Inter-Religioso, cardeal
de contribuição financeira para a cam- Interrogado por telefone, o porta- datar, assinar e devolver com uma con- Jean-Louis Tauran, citado pela agên-
panha presidencial do candidato repu- voz da missão russa, Rouslan Bakhti- tribuição para o estado-maior da cam- cia católica Ecclesia.
blicano à Casa Branca John McCain. ne, precisou que a carta, datada de 29 panha McCain-Palin. Na reunião, que terá como mote “o
Num comunicado, a missão russa de Setembro tinha chegado à missão Interrogado pelo France Presse, um amor de Deus no amor ao próximo”,
diz ter recebido “uma carta do sena- por correio ordinário a 16 de Outu- porta-voz da campanha de McCain, participarão alguns dos 138 signatári-
dor John McCain pedindo uma contri- bro. Brian Rogers, afirmou não estar ao os da Carta “Uma palavra comum
buição financeira para a sua campa- Esta carta de quatro páginas, a que corrente do envio de tal carta e suge- entre nós e vós”, publicada há um ano
nha presidencial”. a agência France Presse teve aces- riu que pode tratar-se de um erro. por intelectuais e religiosos muçulma-
“A este respeito, desejamos reite- so, é assinada por John McCain e é “Não tenho ideia nenhuma do que nos.
rar que nem os responsáveis russos, dirigida ao embaixador russo na ONU, eles (os russos) falam. A priori, pode A delegação dos participantes será
nem a missão permanente da Federa- Vitaly Tchurkine. ser que este correio tenho sido envia- chefiada pelo príncipe da Jordânia,
ção da Rússia junto da ONU, nem o A carta contém um resumo das do para um endereço errado “, decla- Ghazi bin Muhammad bin Talal.
governo russo financiam actividades principais posições do candidato re- rou.
As eleições nos EUA e a Rússia
O objectivo de Barack Obama – resta- Nos anos da governação de George W. ciativas com vista a transformar o sistema
belecer a liderança norte-americana com Bush, Washington tornou-se num bode ex- global que começou a tropeçar.
Fiodor Lukyanov * métodos opostos aos usados pela adminis- piatório autodesignado. Tendo como pano Infelizmente, na diplomacia russa tem
tração que abandona a Casa Branca. Há de fundo a estupidez, os erros e a presun- predominado ultimamente uma linha de es-
A duas semanas das eleições presiden- que esperar uma mudança do estilo, e da ção da potência mais poderosa do planeta, tranha sinceridade no que respeita aos ob-
ciais nos EUA a chance de Barack Obama estilística, no comportamento dos EUA. O as acçõs dos outros participantes das rela- jectivos da sua política externa. Essa práti-
entrar na Casa Branca parece cada vez mais contraste com George W. Bush vai criar ções internacionais pareciam muito mais ca não só não desarma, como, pelo contrá-
crível, sobretudo depois da sua vitória folga- uma forte impressão. Barack Obama aponta inofensivas. E as tentativas dos EUA de rio, arma os adversários. Vejamos, a decla-
da nos três importantes debates televisivos. para a necessidade de amplo diálogo e de chamar à resposta alguns destes intervien- ração sobre a esfera de «interesses privile-
Contudo, não se deve esquecer que a fortalecimento das instituições internacionais. tes provocavam apenas sarcasmo. giados» da Rússia pode ser facilmente utili-
América profunda continua ainda bastante A nova retórica vai formar um ambiente A mudança da imagem dos EUA, bem zada contra a declarante. Quem gosta da
racista. Um prognóstico elucidativo de pos- político favorável em torno da futura ad- possível em caso de vitória de Barack Oba- pretenção de um Estado de ter direitos es-
sível desfecho do escrutínio em 4 de No- ministração. ma, deixa vago o lugar do «polo de rejei- peciais?
vembro foi-me apresentado ainda em Maio, Além disso, Barack Obama goza de po- ção». E a Rússia tem a chance de o ocupar, A política russa exibe muitas abordagens
num táxi que me transportava do aeroporto pularidade no mundo. A Europa Ocidental caso não corrigir urgentemente as formas positivas, capazes de reunir um amplo apoio
nova-iorquino. À minha pergunta: «Quem vê nele uma chance de aproximação tran- de comportamento e a linguagem de comu- no mundo. Por exemplo, durante a eleição
substituirá George W. Bush?», o taxista, um satlântica, baseada numa proximidade dos nicar com o mundo. de director geral do FMI em 2007, Mosco-
homem branco de meia-idade, respondeu valores políticos e intelectuais, e não impos- Até ao conflito no Cáucaso, Moscovo vo avançou com um candidato alternativo e
sem pestanejar: «John McCain». «E por que ta à força. Para o Terceiro Mundo importa- sempre defendia claras posições em apoio insistia na necessidade de uma séria refor-
não Barack Obama?», indaguei. «Porque o rá positivamente o facto da única superpo- ao direito internacional e acções colectivas ma desta instituição. Agora, no auge da cri-
sítio onde trabalha o Presidente chama-se a tência ter um líder não branco. O significa- na solução de inúmeros problemas mundi- se financeira, salta aos olhos a incapacida-
Casa Branca», disse o taxista. do de tudo isso para a política global ainda ais. Essa abordagem firme irritava muitos de de agir do FMI. Numa palavra, a Rússia
Entretanto, a provável vitória do senador será necessário estudar e analisar, mas o países, mas era difícil rejeitá-la, pois a Rús- tinha toda a razão e pode continuar a de-
negro criará uma nova situação, que obri- acontecimento, caso tenha lugar, augura mui- sia agia com base nos princípios claros e senvolver a sua iniciativa.
gará Moscovo a reagir. O contexto geral da tas e consideráveis alterações. justos. O reconhecimento da Abcásia e da Também continuam válidas as propostas
política externa dos EUA vai mudar e a Tudo isto não significa que a política nor- Ossétia do Sul, em 26 de Agosto, pôs em do Presidente russo sobre um novo sistema
Rússia corre o risco de se ver numa situa- te-americana mude radicalmente e os EUA dúvida essa linha de comportamento de de segurança atlântica, avançadas em Ju-
ção desfavorável, se não corrigir a tempo o de repente desistam da ideia de domínio Moscovo. É verdade que, na situação cria- nho deste ano. Mais um passo nesta direc-
modo de abordar as questões internacionais. mundial. Por outro lado, é pouco provável da pela agressão militar da Geórgia, o Kre- ção foi dado em Outubro, na cidade france-
que o novo rumo tenha êxito. O apoio nas mlin não tinha outra alternativa. No entanto, sa de Eviane. Os 5 princípios de novo trata-
RECORDES instituições internacionais, agora em franca agora é preciso demonstrar que as acções do de segurança, anunciados por Dmitri
NORTE-AMERICANOS degradação, dificilmente trará resultados empreendidas não passam de uma excep- Medvedev, são uma continuação de sérias
desejados. ção forçada e o rumo geral da política russa conversas.
A administração de George W.Bush Também é difícil supor que a Casa Branca não mudou. Todos os Estados se orientam pelos seus
bateu todos os recordes de impopularida- esteja pronta a iniciar uma profunda refor- Em caso contrário, pode parecer que interesses nacionais, o que constitui, aliás,
de tanto no país, como no estrangeiro. As ma da gestão, pois neste caso os EUA seri- Moscovo decidiu adoptar a prática de Wa- um axioma das relações internacionais. Mas,
enormes ambições, os preconceitos ideo- am obrigados a partilhar «as competênci- shington – «cada um faz aquilo que lhe para os conseguir, cada um procura reduzir
lógicos, a soberba em relação aos parcei- as» contra a sua expressa vontade. apetece e para que tem forças» – exac- ao mínimo a resistência do meio externo.
ros, as aspirações agressivas de conse- tamente no momento quando os EUA ten- Uma orgulhosa e repetida declaração pú-
guir o seu objectivo a qualquer preço, o PERIGOS PARA A RÚSSIA tarão distanciar-se dela, com aprovação blica de interesses nacionais como a única
desprezo pelas normas da convivência in- do resto do mundo. estrela guia para a política russa cai bem
ternacional, o apoio na força militar e a No entanto, a mudança de tom e o anún- À Rússia convém pôr em foco o tema nos ouvidos dentro do país, mas não dá nada
incompetência em várias direcções cha- cio de nova agenda dos EUA vão, sem dú- de reforma das instituições internacionais, do ponto de vista de aquisição de apoios fora.
ve, tornaram os EUA num exemplo de vida, influir na política mundial. O que isto antes que o faça a nova administração dos
como não se deve comportar-se. significa para a Rússia? EUA. Também deve apresentar novas ini- * in revista A Rússia na Política Global
7. 22 DE OUTUBRO A 4 DE NOVEMBRO DE 2008 NACIONAL 7
Igreja contra nova lei do divórcio comunicado o seu verdadeiro pensar”.
O Presidente da República “fundamenta
[a sua decisão] no parecer de bons juristas
O presidente da Conferência Episcopal ção última que tem saído nesta área, na “li- mulheres de mais fracos recursos e os fi- e isso dá-me uma certa tranquilidade”, afir-
Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, consi- nha de facilitar, não é normalmente o me- lhos menores”. mou também à Lusa o prelado católico, su-
derou ontem que a nova lei do divórcio, pro- lhor caminho”. Cavaco Silva salienta que esta é uma blinhando que a maneira de “agir e actuar”
mulgada pelo Presidente da República, é “A lei devia apontar para caminhos, por- convicção “partilhada por diversos opera- de Cavaco Silva tem “simplesmente uma
facilitadora e poderá levar ao aumento do ventura, de alguma austeridade, mas que dores judiciários, com realce para a Associ- preocupação: defender os mais fracos”.
número de divórcios em Portugal. gerassem um verdadeiro bem-estar nas ação Sindical dos Juízes Portugueses, por “Seja aqueles que têm menos posses, seja
“Estou convencido de que por detrás de pessoas e nas famílias”, sustentou à Lusa. juristas altamente qualificados no âmbito do também, no caso concreto, muitas vezes
toda esta lei do divórcio com certeza que O Presidente da República promulgou a Direito da Família e por entidades como a dentro do matrimónio litigioso, as mulheres”,
acontecerão muitos mais divórcios, porque nova lei do divórcio, mas deixou um alerta Associação Portuguesa das Mulheres Ju- especificou o presidente da CEP, conside-
é tudo muito mais fácil”, disse à Agência para as situações de “profunda injustiça” a ristas”. rando esta preocupação um “facto positivo
Lusa D. Jorge Ortiga, também Arcebispo que este regime jurídico alegadamente irá D. Jorge Ortiga considerou “positiva” a e um elemento que devia ser devidamente
de Braga. conduzir na prática, sobretudo para os mais atitude do Presidente da República ao apro- pensado e equacionado na discussão parla-
D. Jorge Ortiga considerou que a legisla- vulneráveis, “como é mais frequente, as var a lei, mas “manifestando através de um mentar”.
ponto . por . ponto
O buraco negro
Por Sertório Pinho Martins
que os nossos problemas reais, de uma eco- em lamentos e noites mal dormidas. Gor- mo, com versões que o dão como de salva-
Depois das férias de Verão, que o Cen- nomia moribunda e gerida a martelo, que don Brown passou de político inábil, em que- ção nacional, outras como eleitoralista e
tro também teve direito a gozar em paz, pedi antecedeu em muito o cataclismo das bol- da nas sondagens e já com sucessor à per- outras ainda que o temem quando em 2010
ao Jorge Castilho que me concedesse um sas e o afundamento dos planos optimistas na, para salvador da nação europeia, levan- tocar a rebate perante a réplica fiscal que o
fôlego para ver claro no meio da desbunda de um Portugal à beira do sétimo céu, esses tando atrás um coro de elogios dos mesmos atravessa em toda a extensão. E a ‘bolsa
que já tinha ameaçado na Primavera e que marcharam para o esgoto infinito da crise que na véspera o tinham sepultado vivo. de garantia’ de 20.000.000.000 de •uros (já
deixava antever um Verão de torrar: o pre- planetária. E razão tinha o Jorge Castilho E nós entregues à nossa sorte! O mal viram a catrefa de zeros, que pagava seis
ço do petróleo liderava as dores de cabeça quando me ‘desculpou’ o tempo de ausên- doméstico está na economia real, na para- aeroportos novos?), para pôr muletas virtu-
no universo da economia real, a crise do sub- cia na rentrée do Centro, vaticinando que gem cardíaca que no Verão de 2007 era já ais na banca portuguesa, é um sinal inequí-
prime nos EUA era tentadamente abafada não era daí a duas semanas (como eu supu- uma verdade incontornável, ainda que be- voco de que o ESSENCIAL é tranquilizar a
portas adentro para deixar George Bush sera) que a borrasca desabaria: “deixa as- suntada com loas e promessas de vida far- malta, uma vez que toda esta crise é antes
chegar calmamente ao fim do mandato sem sentar bem a poeira e vamos ver depois o ta. A banca portuguesa respirava saúde até de mais ‘de confiança’ – e é, não se duvide,
rabos de palha que lhe chamuscassem a que vem ao de cima”. Mas já desisti de es- há meia dúzia de semanas, à boa maneira tal como é também de ‘desconfiança’: gato
petulância desbragada, e os nossos respon- perar por esse tempo de bonança, que vem da ‘alegria no trabalho’ que nos embalou o escaldado tem medo de água fria, e a velei-
sáveis políticos viviam na estratosfera do não- longe, muito longe! berço durante décadas (e os jornais arreba- dade dos políticos de todos os quadrantes
te-rales a debitar patetices que nem caloiros Depois da escalada impensável, o petró- nhados têm por tradição não contrariar a passou a ser um dos maiores contributos
de qualquer mestrado de meia-tijela. E nem leo caiu de súbito para ‘acompanhar’ a bai- verdade dos regimes), – pese embora as para o buraco negro da nossa camada de
vale a pena relembrar o sobe-sobe da certe- xa das expectativas de retoma mundial da trapalhadas com o BCP e as suas guerri- protecção social que costumava sossegar o
za no crescimento económico, o controlo da economia, e porque naturalmente a procura lhas e reformas milionárias, os solavancos contribuinte anónimo. Dir-se-á que HOJE
inflação com um simples estalido de dedos, diminuiu – não porque o mundo árabe, ve- do BPN com Miguel Cadilhe a mandar car- é fundamental restaurar a abertura da ban-
ou a reafirmação da nossa imunidade ao ter- nezuelano ou russo, se compadeçam com o ga tóxica pela borda fora, ou o crescimento ca ao financiamento da economia real (so-
ramoto que passava ao largo – para na se- apertar de cinto dos países crudo-dependen- multiexponencial da entrega de casas aos bretudo das iniciativas do tecido empresari-
mana seguinte se cair na desilusão mais con- tes. O tempo da solidariedade das nações já vendedores de sonho a crédito… por im- al), mas esse pressuposto já tem barbas.
frangedora e a prenunciar o fim da civiliza- foi, e todos sabemos que neste fim de déca- possibilidade real de cumprimento das obri- Então mudou o quê? Mudou a credibilidade
ção ocidental, tudo isto sem nenhuma base da do novo século, é cada um por si. E a gações e porque a prioridade vai neste mo- na atitude reguladora e incentivadora do
séria de argumentação ou simples cálculo União Europeia, perguntarão? Essa só rea- mento para as exigências da barriga da fa- Estado, mudou (e caiu a pique) a confiança
previsional que desse consistência ao alar- ge à desgraça, não previne a tragédia e é mília e para os impostos a que não é possí- dos contribuintes na classe política, mudou
me deixado no esgoto da opinião pública. um peso lento congénito, à boa imagem dos vel fugir. o espírito de missão para o salve-se-quem-
Falar continua a não pagar imposto! que se assumiram como seus sócios maio- Estamos no fio da navalha! E mais do puder, e está aí em força o cada-um-por-si.
E a crise financeira internacional apenas ritários – e é ver como a Alemanha e a Fran- que o medo do desconhecido, apavora-me E que mais é preciso para, empurrados pela
veio ajudar a manter a face do nosso peque- ça sucumbiram ao primeiro abanão, deixando perceber que não há alternativas à vista barriga a dar horas, resvalarmos para um
no mundo de tias e de festas da socialite afinal para um Reino Unido auto-marginali- desarmada, e que depois de 2013 ninguém caudilhismo populista à boa maneira sul-
onde os políticos se sentem como peixe na zado do clube do •uro a missão de Messias quererá ser governo quando o QREN não americana, com o regresso às ’santas da
água, reflectindo no copo e no pastel de ba- salvador, no meio de uma tormenta onde for mais que um corpo a enterrar. O Orça- ladeira’ por esse país além? Caudilhismo,
calhau a triste sina de os ter ao leme. Por- Ângela Merkel e Sarkozy se embrulharam mento para 2009 já é o reflexo disso mes- disse? Perdão pelo lapso: esse já chegou.
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8. 8 OPINIÃO 22 DE OUTUBRO A 4 DE NOVEMBRO DE 2008
cracia... ferenciou claramente a impossibilidade de constitutivos, da respectiva força política.
Se virmos além da pequena política con- crescer no curto prazo; a inexistência de Será isto utópico, impossível? De ma-
juntural e da pretensa “desforra” ideológica instrumentos políticos para fazer a econo- neira nenhuma. Era isto que estava nos Es-
contida há quase duas décadas, que moti- mia crescer; o País encravado perante o tatutos do PRD e funcionou perfeitamente
vam muitas destas afirmações, logo se con- endividamento externo. O seu discurso foi quando, em 1985, o partido recém-
clui, porém, que, quando a poeira assentar, de grande brutalidade, porque absolutamente -criado teve 18% dos votos e foi o «fiel»
grande parte delas parecerá descabida. (...) verdadeiro, já que a nossa realidade é bruta. da balança no Parlamento, no qual teve um
(...) papel muito activo e positivo. E o PRD fa-
Paulo Mota Pinto lhou não por esses e outros princípios ino-
Diário As Beiras Paula Teixeira da Cruz vadores, tendentes a assegurar a maior par-
Correio da Manhã 16/Outubro/08 ticipação dos cidadãos, a democraticidade
ORÇAMENTO PARA A CRISE e a transparência, mas, pelo contrário, por-
AGUARDAR VEZ que lhes deixou de ser fiel.
(...) Manuela Ferreira Leite abandonou
A CRISE E A BANCA a sua condição de múmia para vir dizer que Tanto silêncio nesta casa e tanta voz que José Carlos de Vasconcelos
o PSD votará contra, antes mesmo da dis- me fala. Da janela vejo as mulheres que Visão
Quando, no passado domingo, o Ministé- cussão na AR, porque é “o pior Orçamento sobem a rua levando os sacos do super-
rio das Finanças anunciou que o Governo que se fez em Portugal desde 1974”. O exa- mercado. A rua é inclinada e elas devagari- A CIÊNCIA E A VIDA
vai prestar uma garantia de 20 mil milhões gero é de tal ordem que descredibiliza esta nho passeio acima, com os tendões dos bra-
de euros aos bancos até ao fim do ano, res- jactância de última hora de Manuela Ferrei- ços saídos, os tendões do pescoço saídos, o A extraordinária e fascinante evolução
pirei de alívio. Em tempos de gravíssima crise ra Leite. Se ouvirmos o PCP e o BE, igual- cabelo a tremer. Porque razão me como- da ciência foi, mais uma vez, destacada nos
mundial, devemos ajudar quem mais preci- mente de um exagero absoluto, chega a ser vem na manhã suja, outonal, de setembro? prémios Nobel da Medicina. Este ano, fo-
sa. E se há alguém que precisa de ajuda são ridículo. O PCP, com a cassete do costume, As árvores começam a perder as folhas, ram galardoados investigadores fundamen-
os banqueiros. De acordo com notícias de reclama e exige coisas do arco-da-velha. pombos por aqui e por ali, vários cinzentos tais no combate a dois flagelos do século
Agosto deste ano, Portugal foi o país da Se o PCP diz “mata”, o BE diz “esfola”. O feios nas nuvens. Um par de homens a con- XX: a sida e o cancro. A infecção com VIH
Zona Euro em que as margens de lucro dos que dizem o PCP e o BE não conta para sertarem não sei quê num buraco. Deve ser já não é uma sentença de morte e já existe
bancos mais aumentaram desde o início da nada, não produz resultado, não gera nenhu- isto o que as pessoas chamam vida e, se é uma vacina que previne o cancro do colo
crise. Segundo notícias de Agosto de 2007, ma consequência. Vale zero, como antiga- isto, que miséria: ninguém sorri. Tenho de ir do útero. Diariamente surgem triunfos da
os lucros dos quatro maiores bancos priva- mente sentenciava Jô Soares nos seus pro- aos Correios buscar livros da América, de cura contra a doença e estas vitórias quase
dos atingiram 1,137 mil milhões de euros, só gramas de humor. França, do raio que o parta: tira-se um pa- nos convencem de que podemos ambicio-
no primeiro semestre desse ano, o que re- Este Orçamento, que retira o tapete de- pelinho com um número, espera-se entre nar a imortalidade. Mas sabemos que não é
presentava um aumento de 23% relativa- baixo dos pés às oposições sem ideias, é, gente que espera. Da última vez tirei o nú- assim.(...)
mente aos lucros dos mesmos bancos em referem os especialistas, uma grande arma mero 65, ia a procissão no 12. Fico séculos
igual período do ano anterior. Como é que do Governo para enfrentar a crise econó- para ali, a olhar. Espera—se para tudo, so- Teresa Caeiro
esta gente estava a conseguir fazer face à mica. Está orientado para ajudar as famílias mos feitos não de carne, de paciência, se Correio da Manhã 14/Outubro/08
crise sem a ajuda do Estado é, para mim, na resolução dos seus problemas mais gra- calhar já nascemos com um papelinho na
um mistério. ves (habitação, endividamento, arrendamen- mão. Retire aqui o seu bilhete e aguarde a DEMOCRACIA
A partir de agora, porém, o Governo dis- tos, etc.) e para o apoio efectivo de todas as sua vez. Aguardo a minha vez. Desde que EM TRANSFORMAÇÃO
ponibiliza aos bancos dinheiro dos nossos pequenas e médias empresas, com inúme- me conheço que aguardo a minha vez. A
impostos. Significa isto que eu, como contri- ras medidas de auxílio efectivo a este sec- minha vez de quê? E lá fora uma chuvinha (...) É o argumentário da irresponsabili-
buinte, sou fiador do banco que é meu cre- tor importante da economia real. Os impos- sem peso. Um princípio não bem de frio, de dade: durante muito tempo, procedeu-se
dor. Financio o banco que me financia a mim. tos baixaram e os funcionários públicos têm desconforto. como se “as coisas” não tivessem conse-
Não sei se o leitor está a conseguir captar o maior aumento salarial da década. Este – O que fazes no mundo, António? quências. E, quando estas eclodiram, pre-
toda a profundidade deste raciocínio. Eu Orçamento em época de crise não resolve – Aguardo a minha vez. (...) tendeu-se que tudo aconteceu porque não
consegui, mas tive de pensar muito e fiquei todos os problemas mas ajuda o País a não se viram as respectivas causas. Por trás
com dor de cabeça. Ou muito me engano parar e alivia as famílias e as pequenas e António Lobo Antunes desta “ilusão retrospectiva da fatalidade”,
ou o que se passa é o seguinte: os contribu- médias empresas. Garante crescimento eco- Visão como diria Bergson, esconde-se há muito o
intes emprestam o seu dinheiro aos bancos nómico e afasta o fantasma da recessão grau zero da política.
sem cobrar nada, e depois os bancos em- A ECONOMIA DO PAPEL Porque a verdade é que se conheciam
prestam o mesmo dinheiro aos contribuin- Emídio Rangel tão bem as consequências, como hoje se
tes, mas cobrando simpáticas taxas de juro. Correio da Manhã 18/Outubro/09 (...) Aliás, se a regra é, como continua a conhecem as causas. E foram muitos os
A troco de apenas algum dinheiro, os ban- ser, a da disciplina de voto, para que são que as apontaram: J. Stiglitz, E. Todd, G.
cos emprestam-nos o nosso próprio dinhei- FRAGILIDADES necessários 230 deputados na Assembleia Soros, J. Peyrelevade, J. K. Galbraith, etc.
ro para que possamos fazer com ele o que da República? Com essa regra, o Parlamen- E também Paul Krugman, que acaba de ser
quisermos. A nobreza desta atitude dos ban- Em intervenção televisiva, na passada to podia funcionar, pelo menos ao nível de- galardoado com o Prémio Nobel da Econo-
cos deve ser sublinhada. (...) terça-feira, Henrique Medina Carreira – em cisório, como uma assembleia geral de uma mia.
curto espaço de tempo – disse tudo sobre o sociedade, tendo cada partido só um repre- O problema, é que quando a ilusão é gran-
Ricardo Araújo Pereira nosso país, no tom directo e sem papas na sentante com um número de votos corres- de, nenhuma razão consegue ser maior. Por
Visão língua que o caracterizam. As suas inter- pondente à sua expressão eleitoral... isso, os dirigentes da União Europeia conti-
venções fazem a diferença. No caso fê-la Julgo ser indispensável uma reforma (ou nuam, apesar dos esforços da última sema-
A CRISE FINANCEIRA logo de forma muito pouco comum entre uma revolução?) na concepção e funciona- na, incapazes de encontrar respostas efica-
E O MERCADO nós. Recusando-se a falar do que desco- mento dos partidos, pela qual há muito me zes para contrariar a crise que, durante mais
nhecia, nem podia conhecer: o Orçamento bato, com propostas concretas. Sem ela, os de um ano, tão infantilmente pretenderam
Em tempos de crise no mundo das finan- entregue menos de hora e meia antes da Parlamentos não recuperarão o prestígio ignorar.
ças, logo surgiram vozes a prognosticar a intervenção a que faço referência. perdido, condição sine qua non da sua efi- Para já, estamos apenas no controlo de
derrocada do capitalismo e da economia do Depois vergastou o sistema político indo cácia e da valorização da insubstituível de- danos. E do “plano” europeu ao “governo”
mercado ou o “fim do mundo de prosperi- directo ao cancro que o mina e explicou por mocracia representativa. Para isso uma das europeu, vai um caminho que, surpreenden-
dade tal como o conhecemos”, ou a criticar que não cresce Portugal (pôs em causa todo medidas fundamentais, mais fáceis de esta- temente, ninguém parece querer fazer. Os
os mercados financeiros como o “jogo da o sistema com exemplos lineares, próprios belecer e cumprir, é exactamente a liberda- líderes europeus fariam bem em reflectir
bolsa”, de uma dita “economia de casino”. de quem sabe do que fala porque só quem de de voto como regra que só pode ter ex- seriamente nas palavras do novo Nobel da
Até já se comparou a presente crise com a sabe do que fala pode ser simples nas suas cepções por imperiosas razões de governa- Economia, que há dias chamou a atenção,
queda do muro de Berlim, esquecendo que explicações) e começou por questionar o bilidade (nas votações do Orçamento do não só para a “inevitável, generalizada e
esta, além da liberdade económica, devol- princípio da disfunção do nosso regime: o Estado, de moções de censura e confian- prolongada recessão” que se anuncia, mas
veu a muitos povos e a centenas de milhões sistema educativo e a falta de atenção de ça); ou em algum caso especialíssimo em também para a dramática falta de crédito
de pessoas a liberdade política e a demo- uma geração para com os seus filhos. Re- que estejam em causa princípios nucleares, que atinge todos aqueles que estimularam a
9. 22 DE OUTUBRO A 4 DE NOVEMBRO DE 2008 OPINIÃO 9
irresponsável cegueira dos últimos tempos. JANELA DE OPORTUNIDADE contraste flagrante com temas reduzidamen- do, e as notícias alarmantes sucedem-se
Como já aqui escrevemos várias vezes, te circunscritos a quase coisa nenhuma, em catadupa: crescimento zero, economia
Manuel Maria Carrilho a resposta à crise financeira internacional como o do casamento gay -, Sócrates apro- estagnada, subida do desemprego, falta de
DN 18/Outubro/08 passa por dois tempos: a estabilização ime- veitou a onda, qual bom surfista, vendo aqui dinheiro para obras públicas, indisponibili-
diata dos mercados e do crédito interbancá- a grande oportunidade de redireccionar o dade crónica dos empresários para corre-
A BÍBLIA: 73 LIVROS rio e a definição de regras que visem as debate político, a agenda política, as priori- rem riscos...
causas da crise, impedindo a sua reedição. dades políticas. Com a Espanha atrapalhadíssima aqui ao
A palavra Bíblia vem do grego e signifi- E se as duas fases não se sucedem cro- Neste estado de necessidade, assente em lado e toda a Europa a antever recessões e
ca livros, no plural. Em latim e, por deriva- nologicamente de forma pura, elas impli- factos mas também muito em factores psi- falências, resta saber até onde irão os efei-
ção, em português, transformou-se num sin- cam-se, pois que só da sua conjugação cológicos, quem vai lembrar-se do passado tos negativos que a crise acabará por pro-
gular feminino: a Bíblia como “O Livro”. pode resultar o restabelecimento da con- recente da governação de Sócrates, dos duzir em Portugal.
Quem não estiver atento pensará que se trata fiança necessário ao funcionamento da péssimos indicadores sociais, do desempre- Manuela Ferreira Leite já mostrou que a
de um livro como os outros. Na realidade, é, economia global. go, da contestação de rua, das meias refor- crise não pode ser um álibi para Sócrates,
segundo o cânone católico, o conjunto de 73 Neste quadro, há que registar que o acor- mas, do Estado vulnerável, dos camionistas, por muito que o primeiro-ministro se agarre
livros - uma pequena biblioteca -, e a sua do entre os países da Zona Euro do passa- da insegurança, das maleitas da justiça? desesperadamente a essa ideia: primeiro,
redacção e formação prolongaram-se por do domingo, seguindo de perto o plano anti- Sabendo tudo isto, foi fácil ao primeiro- porque toda a gente sabe que o buraco por-
mais de mil anos. crise britânico e definido em concertação ministo marcar o tom: responsabilidade, ri- tuguês era muito anterior, por obra e graça
Assim, como reconhece o Sínodo dos gor, sentido de Estado, interesse público, dos governos PS; segundo, porque o álibi
Bispos, reunido em Roma até 26 deste não enche barriga: os empréstimos para
mês, para tratar precisamente da Bíblia, compra de casa não se pagam com álibis e
o magno problema bíblico é o da inter- a subida do custo de vida também não.
pretação. De tal modo foi possível, com Vasco Graça Moura
base na Bíblia, fazer leituras díspares que DN 15/Outubro/08
o filósofo Hegel tem o dito famoso de
que ela é como um nariz de cera, ex- A MUDANÇA
pressão que já vem de Alain de Lille, no Desde a fundação da ONU talvez o apelo
fim do século XII. à mudança seja o mais frequente, e de me-
Dou exemplos, um pouco ao acaso, ape- nores consequências, com as resoluções da
nas para mostrar, perante o emaranhado de Assembleia Geral facilmente ignoradas por-
textos, a urgência da tarefa gigantesca da que são apenas directivas. Com frequência,
exegese e da hermenêutica. os efémeros presidentes da Assembleia ini-
No primeiro livro - o Génesis -, há duas ciam o brevíssimo mandato anunciando ur-
narrativas da criação, que não são coinci- gências e alarmes, mas a estrutura absorve
dentes. Logo por aí se vê que não podem no esquecimento os anúncios e os propósi-
ser tomadas à letra. tos.
Sobre o amor, encontra-se na Bíblia um O mesmo apelo à mudança transita para
dos livros mais eróticos da história da litera- os programas dos governos estaduais, e
tura: o Cântico dos Cânticos é um poema agora tem presença altamente ressonante
que canta o amor de um homem e de uma no processo eleitoral americano, cujo povo
mulher, com a sua expressão sexual, e não decide consequências para todas as latitu-
são casados. Mas, no Levítico, lê-se: “O des e povos que não influenciam o proces-
homem e a mulher adúlteros serão punidos so. No discurso dominante que ali marca a
com a morte”; “Se um homem coabitar se- disputa pelo governo, foi acrescentado um
xualmente com um varão serão os dois pu- As eleições nos EUA e o humor na internet esperançoso “podemos”, embora seja sufi-
nidos com a morte”. Na Bíblia, ao lado de cientemente vaga a definição dos objecti-
uma ética sexual do amor, da justiça e da com o próprio Governo de Gordon Brown, capacidade de decisão. E como nós, portu- vos a concretizar. (...)
bondade, encontramos éticas da pureza e constitui uma preciosa janela de oportuni- gueses, gostamos disso, de um chefe, firme Adriano Moreira
da propriedade. (...) dade para que se gere uma dinâmica da saída e seguro, bastando-nos, até, que apenas o DN 15/Outubro/08
a prazo da crise. (...) pareça! (...)
Anselmo Borges Esta crise é assim uma janela de oportu- Não deixa de ser irónico que esta crise O “CRASH” E O PÂNICO
DN 18/Outubro/08 nidade para julgar da vontade de reconhe- do sistema financeiro à escala mundial, que (...) Com efeito, já começaram a circular
cer que o mundo global e interdependente tem parte da sua origem na morte generali- rumores que põem em causa a existência
A LEI QUE RENDE em que vivemos é pertença de todos e não zada da política, do seu pensamento e da do euro... Num momento de tão grande cri-
INJUSTIÇAS apenas a quinta de alguns. sua prática, vá servir para anular o pouco se - maior do que a de 1929 -, os líderes
Creio que será possível manter a janela debate político-partidário que ainda esperá- políticos fracos, que nos governam, têm ten-
(...) Numa altura em que se discutem aberta à espera de um novo inquilino na Casa vamos ver neste tempo pré-eleitoral. Iróni- dência a aceitar qualquer disparate na ânsia
as rendas “incrivelmente” baixas das ca- Branca no começo do ano que vem. co e perverso. de esconder as suas fragilidades...
sas da Câmara de Lisboa, um diploma com António Vitorino Maria José Nogueira Pinto A questão, como tenho dito e repetido,
três anos atenta olimpicamente contra o DN 17/Outubro/08 DN 16/Outubro/08 não é remendar a crise e tentar salvar o
princípio da igualdade. E, já agora, da ra- sistema, os banqueiros e os gestores que dele
cionalidade: como pode um Governo di- CRISE E POLÍTICA ALIBIS se serviram é que são responsáveis. É mu-
zer que quer incrementar o mercado de É sabido que no meio de uma grande cri- NÃO ENCHEM BARRIGA dar o sistema neoliberal, que nos conduziu
arrendamento quando mantém em vigor se só conta quem manda. O cidadão co- (...) A irresponsabilidade e o espírito de onde estamos. Como? Regulamentando a
uma lei que decreta a perseguição e o mum quer ouvir algo que o tranquilize e só o meia bola e força continuam a caracterizar globalização, introduzindo regras éticas es-
sacrifício dos senhorios? Não é preciso tranquilizam decisões, não meras opiniões. a governação. É assim com o Magalhães. tritas, o que passa, necessariamente, pela
decerto ser constitucionalista nem sequer Por isso, nas crises, conta o Governo e, nes- É assim com os atrasos na utilização do reforma do FMI, do Banco Mundial e da
jurista para perceber que estamos peran- ta, conta Sócrates, que pediu o debate par- QREN. É assim com o reforço dos efecti- Organização Mundial do Comércio, inte-
te uma aberração jurídica. O NRAU é lamentar da passada semana, transforman- vos das forças da ordem. É assim com a grando estas instituições obsoletas no uni-
uma obscenidade em forma de lei, uma do-o na sua verdadeira rentrée política. lentidão da administração da justiça ou com verso das Nações Unidas, democratizan-
lei que rende injustiça. E se nunca é tarde Valeu a pena ver e ouvir este debate para a prestação dos cuidados de saúde. É as- do-as, combatendo a corrupção, punindo os
para reconhecer erros, a sua revogação entender muito do que se passa com o sis- sim com a segurança de pessoas e bens. culpados e acabando com os paraísos fis-
virá sempre tarde de mais. tema político português. Tendo como pano Vai ser assim com os grandes projectos. cais, por onde passam tantas negociatas
de fundo uma crise financeira com contor- Afinal nem tudo está pelo melhor no menos transparentes. (...)
Fernanda Câncio nos perigosamente inovadores, de escala melhor dos mundos possíveis, como pan- Mário Soares
DN 17/Outubro/08 global e um efeito de baralho de cartas - em glossianamente o Governo vinha afirman- DN 15/Outubro/08