2. A definição de gótico
Os historiadores do Renascimento foram os
primeiros a utilizar o termo gótico. Surgido então
da relação com a palavra godo, referente a um
povo bárbaro que invadiu o Império Romano.
Buscou-se através dessa semelhança caracterizar
o estilo gótico como bárbaro, obscuro, carregado
de apelos decorativos e com uma exagerada
altura das torres.
Essa visão foi amplamente difundida e
permanece forte até hoje, com o termo gótico
sendo sinônimo de trevas, escuridão e tristeza.
3. Contexto Histórico
O surgimento da arte gótica está relacionado à
expansão urbana do século XII. Resultado da
superação da crise dos séculos anteriores com o
aumento da produção rural. Entre 1150 a 1300, a
população do reino da França praticamente duplica, é
um crescimento demográfico que tem como cenário as
cidades. Nelas existe uma organização militar
possuindo a função primária de garantir a circulação
das mercadorias e do dinheiro.
No entanto, a cidade se constituiu rapidamente em
uma entidade jurídica e territorial: nela se concentram
- no interior de uma estrutura que facilita a
coexistência - a nobreza, o clero, e a nascente
burguesia.
4. Resultado desse crescimento urbano, ocorre
também uma expansão comercial, uma
transformação econômica ocorrida
principalmente na região de Flandres, ao redor
do rio Reno e do Rio Sena.
E nesse ressurgimento das cidades, faz- se
necessário identificar e compreender os agentes
que contribuíram para o nascimento e a firmação
da arte dentro do ambiente urbano.
5. O nascimento do gótico
O nascimento do gótico ocorreu entre os anos
de 1137 e 1144, na região de Ile de France ,
com a reedificação, dirigida pelo abade Suger ,
da abadia real de Saint Dennis, situada então
às portas de Paris. Para se compreender
porque o estilo surgiu nesse lugar e não em
qualquer outro, é preciso conhecer a relação
especial que existia entre Saint Dennis, Suger
e a monarquia francesa.
6. Os reis franceses fundamentavam seus
direitos na tradição carolíngia, embora
pertencessem dinastia capetíngia*.
Entretanto, a autoridade do monarca foi
enfraquecida diante dos nobres, que
teoricamente eram seus vassalos, chegando
ao extremo de todo o território real ficar
reduzido a Ile-de-France.
* Dinastia fundada por Hugo Capeto, depois da
morte do último rei carolíngio, em 987.
7. Reino de
França
(apenas a Ile
de France)
em fins do
século X
Cté: Condato
Duché: Ducado
Vté: Viscondato
8. O poder do rei só começaria impor-se e
estender-se no início do século XII. O abade
Suger, conselheiro principal de Luís VI,
desempenhou um papel decisivo nesta
mudança. Foi ele quem forjou a aliança entre
a Igreja e a Monarquia trazendo os bispos de
França e de seus vassalos para o lado do rei,
além de apoiar o Papado na luta contra os
Imperadores germânicos.
9. Além disso, Suger foi
importante no plano da
política espiritual. Conferiu
à dignidade régia uma
significa religiosa e
glorificou-a como o braço
direito da justiça,
procurando com isso
agrupar o reino junto ao
soberano.
Representação de Suger em um
vitral em St Dinis
10. A reforma da Abadia de Saint Denis fazia parte do
seu plano, porque essa igreja erguida no final do
século VIII detinha um duplo prestígio, ideal para
as intenções de Suger : era o santuário do Apóstolo
da França, o protetor sagrado do reino e, ao
mesmo tempo, o principal monumento
comemorativo da dinastia Carolíngia, pois, tanto
Carlos Magno, como seu pai, Pepino, o Breve,
tinham sido ali sagrados reis, e também lá estavam
sepultados Carlos Martel , Pepino, o Breve e
Carlos, o Calvo. Suger quis fazer da Abadia o centro
espiritual da França, uma igreja de peregrinação
que ofuscasse o esplendor de todas as outras, o
centro de todo o fervor religioso e patriótico.
11. Pepino, o Breve
Carlos Martel
Representação de
Carlos Magno Charles, o Calvo
12. A essa reforma da abadia
Saint-Denis, o marco inicial
do gótico, seguiu-se uma
competição entre cada
cidade da Europa Ocidental
para ver em qual delas
estaria o monumento mais
esplendoroso, e quanto
mais fosse, mais o olhar
protetor de Deus estaria
presente. Essa preocupação
com o olhar do criador para
a cidade reflete outra
preocupação presente no
Catedral de São Vito , no Castelo
de Praga (República Checa)
período.
13. Mosteiro da Batalha
Portugal
Duomo di Milano, Itália
Catedral de Colônia
Alemanha
14. Entre os séculos XII e XIII há
uma acentuação da espiritualidade
no Ocidente, e a filosofia teológica
de Suger reflete essa efervescência.
Segundo esse pensamento, Deus representa
a luz inicial e criadora, onde toda a criatura
participa recebendo e transmitindo a iluminação
divina segundo a sua capacidade, isto segundo o
lugar que ocupa na escala dos seres, segundo o
nível em que o pensamento de Deus
hierarquicamente a situou. Desta forma, esse
ideal também legitimava a divisão em três
ordens presente na sociedade medieval.
15. Essa centralização proposta através do
pensamento de Suger foi uma forma de alcançar
uma unidade religiosa combatendo a presença e
a ameaça da heresia, e também os falsos
profetas, reconduzindo os pecadores a verdadeira
fé cristã.
Portanto, a Igreja gótica seria um edifício amplo,
diverso e firmemente ordenado tendo uma
função doutrinal, que através de sua
magnificência mostraria as seduções necessárias
para, ao mesmo tempo, ressaltar as fraquezas
dos pensamentos contrários e reconduzir ao
caminho verdadeiro todos os crentes recém
chegados à vida urbana.
16. Apesar de Suger ser
considerado o marco inicial
do gótico, ele próprio não
tinha a consciência de estar
criando um estilo realmente
novo. A reforma da Abadia de
Saint Denis considerada uma
forma transitória entre o
estilo artístico anterior (o
românico) e o gótico. No
entanto, a filosofia sugeriana
e os elementos inovadores
que trouxe foram a grande
base para que o gótico
ganhasse força como
movimento artístico Abadia de Saint Denis, França
medieval.
17. Outra característica
presente no contexto do
surgimento do gótico é de
que a catedral também
representava o orgulho
burguês. Pois ela
representava o símbolo da
riqueza de toda a
aglomeração urbana. Por
isso, os burgueses foram os
principais colaboradores
da construção de novas
catedrais em várias cidades
francesas, investindo
Catedral de Notre Dame, França
imensos capitais para sua
construção.
18. O interesse burguês era devido ao fato de que
esse símbolo urbano não era usado apenas
para oração, mas era também um local de
reunião das associações de ofício. Além deste
monumento ser importante para atrair mais o
comércio a uma região, e facilitar a
identificação do núcleo de poder de uma
cidade.
19. Brasão da Ordem de Cister
A expansão do gótico ocorre
inicialmente para o sul da
França e logo para o resto
da Europa, onde os monges
cisterciences* começaram, a
partir do século XII, a
exportar a arte gótica.
*Monges pertencentes a
ordem de Cister.
20. Na Inglaterra o estilo chega
em meados do século XIII, e
modifica-se para uma forma
de gótico curvilíneo que
ocupa o período que vai
aproximadamente de 1250 a
1330. Os princípios
fundamentais da arquitetura
gótica se desenvolvem na
Inglaterra com a mesma
rapidez que na França, no
entanto com a diferença de
que no caso a inglês se
consagra uma preocupa
preocupação maior com a
ornamentação.
Catedral de Westminster, Inglaterra
21. Características arquitetônicas
A seguir serão
apresentados a
ideologia e os principais
traços arquitetônicos
que identificam o estilo
gótico.
Catedral de Chartes, França
22. Três portais, Notre Dame, França
A primeira diferença que notamos entre a igreja
gótica e a românica é a fachada. Enquanto, de
modo geral, a igreja românica apresenta um único
portal, a igreja gótica tem três portais que dão
acesso à três naves do interior da igreja: a nave
central e as duas naves laterais.
23. A rosácea é um
elemento
arquitetônico
muito
característico do
estilo gótico e
está presente em
quase todas as
igrejas
construídas entre
os séculos XII e
Rosácea, Notre Dame, França
XIV.
25. Outro aspecto importante da catedral gótica é o
traçado em direção ao céu. Tanto no exterior
quanto no interior, todas as linhas da sua
construção apontam para o alto.
26. Esse verticalismo da
arte gótica é um
esforço para mostrar
como esse edifício
está mais próximo de
seu criador, além de
ressaltar sua
magnificência dentro
da cidade numa clara
referência de poder.
Catedral Sagrada Família, Espanha
27. Principais elementos da arquitetura
gótica
ABÓBADA
A abóbada é uma cobertura côncava. Caracteriza-
se por um teto arqueado, usualmente constituído
por pedras aparelhadas, tijolos ou betão.É um
elemento pesado e que gera vários impulsos, em
diversas direções, que devem ser equilibrados ou
apoiados. Assim, enquanto que as forças verticais
se distribuem pelas paredes ou pelos arcos e
pilares, os impulsos horizontais são contidos
através do uso de contrafortes ou arcobotantes.
29. ARCOBOTANTE
O arcobotante (ou botaréu) é construção em
forma de meio arco, erguida na parte exterior
dos edifícios góticos para apoiar as paredes e
repartir o peso das paredes e colunas. Desta
forma foi possível aumentar a altura das
edificações dando forma e função com a
técnica da época.
32. CONTRAFORTE
As paredes góticas ao
contrário das românicas são
finas ou inexistentes, sendo o
contraforte tipicamente gótico
composto de duas partes. A
primeira, o contraforte
propriamente dito, inspira-se
no contraforte românico e está
colocado em ângulo reto em
relação a igreja, contra a
parede lateral, e, eleva-se
muito altamente, num enorme
grau de perfeição. O peso
deste elemento neutraliza a
pressão das abóbadas.
33. • Foi graças a esse
elemento que o gótico
ousou construir naves
tão altas e tão claras.
Assim, a catedral gótica
eleva-se para o céu
como uma oração e, tal
como a filosofia
medieval, exprime o
intangível e transcende
o homem, na sua
procura do além.
34. Esculturas
As esculturas estão ligadas à arquitetura e se
alongam para o alto, demonstrando
verticalidade, alongamento exagerado das
formas, e as feições são caracterizadas de
formas a que o fiel possa reconhecer
facilmente a personagem representada.
35. Arcanjo Gabriel e a Virgem
(Anunciação)
Estátuas (séc.XIII) do portal
central da Catedral de Reims,
França
36. Os Vitrais
Além da função decorativa e de elemento de forte
simbologia eles fornecem-nos inúmeras informações
acerca das características e do modo de vida durante a
Idade Média. Os vitrais eram amplamente utilizados na
ornamentação de igrejas e catedrais, o efeito da luz solar
que por eles penetrava, conferia uma maior imponência
e espiritualidade ao ambiente, efeito reforçado pelas
imagens retratadas, em sua maioria, cenas religiosas.
Essas imagens funcionavam também como uma
narrativa para instruir os fiéis, principalmente a maior
parte da população que não tinha condições de ler.
Tornou desta maneira uma forma potente de fazer com
que os fiéis pudessem sempre ter em mente os
ensinamentos da Igreja.
38. Iluminuras
• Iluminura é a ilustração sobre o pergaminho de livros manuscritos (a gravura não fora ainda
inventada, ou então é um privilégio da quase mítica China)
• Durante o século XII e até o século XV, a arte ganhou forma de expressão também nos objetos
preciosos e nos ricos manuscritos ilustrados. Os copistas dedicavam-se à transcrição dos textos
sobre as páginas. Ao realizar essa tarefa, deixavam espaços para que os artistas fizessem as
ilustrações, os cabeçalhos, os títulos ou as letras maiúsculas com que se iniciava um texto..
• Da observação dos manuscritos ilustrados podemos tirar duas conclusões: a primeira é a
compreensão do caráter individualista que a arte da ilustração ganhava, pois destinava-se aos
poucos possuidores das obras copiadas, a segunda é que os artistas ilustradores ao períodos gótico
tornaram-se tão habilidosos na representação do espaço tridimensional e na compreensão analítica
de uma cena, que seus trabalhos acabaram influenciando outros pintores.
• Iluminura é a ilustração sobre o pergaminho de livros manuscritos (a gravura não fora ainda
inventada, ou então é um privilégio da quase mítica China)
• Durante o século XII e até o século XV, a arte ganhou forma de expressão também nos objetos
preciosos e nos ricos manuscritos ilustrados. Os copistas dedicavam-se à transcrição dos textos
sobre as páginas. Ao realizar essa tarefa, deixavam espaços para que os artistas fizessem as
ilustrações, os cabeçalhos, os títulos ou as letras maiúsculas com que se iniciava um texto..
• Da observação dos manuscritos ilustrados podemos tirar duas conclusões: a primeira é a
compreensão do caráter individualista que a arte da ilustração ganhava, pois destinava-se aos
poucos possuidores das obras copiadas, a segunda é que os artistas ilustradores ao períodos gótico
tornaram-se tão habilidosos na representação do espaço tridimensional e na compreensão analítica
de uma cena, que seus trabalhos acabaram influenciando outros pintores.
39. Pintura
A pintura gótica desenvolveu-se nos séculos
XII, XIV e no início do século XV, quando
começou a ganhar novas características que
prenunciam o Renascimento. Sua principal
particularidade foi a procura o realismo na
representação dos seres que compunham as
obras pintadas.
40. Giotto
A característica principal do seu trabalho foi a
identificação da figura dos santos com seres humanos
de aparência bem comum. E esses santos com ar de
homem comum eram o ser mais importante das cenas
que pintava, ocupando sempre posição de destaque na
pintura. Assim, a pintura de Giotto vem ao encontro de
uma visão humanista do mundo, que vai cada vez mais
se firmando até ganhar plenitude no Renascimento.
Obras destacadas
Afrescos da Igreja de São Francisco de Assis (Itália) e
Retiro de São Joaquim entre os Pastores.
42. • Jan Van Eyck
• Procurava registrar nas suas pinturas os
aspectos da vida urbana e da sociedade de
sua época. Nota-se em suas pinturas um
cuidado com a perspectiva, procurando
mostrar os detalhes e as paisagens.
• Obras destacadas
• O Casal Arnolfini e Nossa Senhora do
Chanceler Rolin.
44. • Divisão da abóbada gótica. Os arcos ogivais
(arcos cruzados em diagonal) distribuem o peso
da abóbada, tornanda com isso mais leve
Outros elementos característicos da arquitetura
gótica são os arcos góticos ou ogivais e os vitrais
coloridíssimos que filtram a luminosidade para o
interior da igreja.
As catedrais góticas mais conhecidas são:
Catedral de Notre Dame de Paris e a Catedral de
Notre Dame de Chartres.