3. Foi seu tio avô, o cego, quem me falou sobre o crime, quando completei quinze anos. Já tinha ouvido um rumor, pela boca de outros, mas nunca assuntei.
4. Ele morava longe, a pelo menos três dias de viagem da cidade e poucos falavam dele.
5. A bem dizer já o tinham enterrado, pois todo o clã disputava suas glebas e a posse dos lotes. Por estas terras se atracaram alguns, outros foram escorraçados e houve até quem matasse – ofendendo assim, seu próprio sangue.
6. Se queres saber, eu me lembro que o vi de perto, uma vez. Distante de tudo seguia ele, nômade errante. Sempre levantando suas tendas, nunca ajuntando nada, nunca amealhando.
7. Roça boa ou ruim lhe eram iguais. Raramente ficava para a terceira safra.
8. A mulher resignada sofria o desterro involuntário. Assim, ela acabou por adorar três deuses, para nas festas, justificar viagens solitárias e ver velhas irmãs e primas enviuvadas.
9. Após meu casamento me determinei decifrá-lo. Arrumei um álibi - uma paga: lhe devolver uma foice sua. Mera desculpa a fim de ouvir sua versão do crime e vê-lo face-a-face.
14. Chocou-me a marca (não me lembrava dela!) de cor viva, indo da testa ao queixo e olhos que me invadiram fundo.
15. Me ver chocado o fez curvar-se de novo e prosseguir com a lâmina. Num gesto quis limpar o suor do rosto, mas o braço sujo ensangüentou a face, sem que ele notasse.
16. A voz bem rouca, como dos loucos, que alucinados, gritam há tempos pelas ruas e estradas.