Redação nota 1000 no enem 2007

Redação nota 1000 no ENEM-2007
Manoel Neves

ENEM-2007
analisando redação nota 1000
estrutura da aula
competências avaliadas pela Redação do ENEM;
proposta de redação do ENEM-2007;
análise da Redação nota 1000.

ANALISANDO AS COMPETÊNCIAS
enem-2007

COMPETÊNCIAS AVALIADAS
01
demonstrar domínio da norma culta
mecanismos
de
coesão
textual
[retomada,
ar3culação
e
progressão]

pontuação

ortograﬁa

regência

colocação
pronominal

concordância
nominal

concordância
verbal

a
dica
é:
releia
seu
texto,
atentando
aos
princípios
arrolados
acima

02
compreender a proposta de redação e aplicar conceitos de várias
áreas do conhecimento para desenvolver o tema dentro dos
limites do texto dissertativo-argumentativo
os
textos-‐base
devem
ser
lidos
cautelosamente
[procurar
“tema”
e
“tese”]

é
desejável
que
se
associe
o
assunto
abordado
a
outros
conteúdos
escolares

[interdisciplinaridade]

teoricamente
o
texto
é
exposi3vo-‐argumenta3vo
[dissertação
tradicional]

[ﬁque
atento
à
estrutura
e
às
técnicas
de
construção
deste
gênero
textual]

planeje
seu
texto:
levante
argumentos
e
ampliações,
atentando
aos
tópicos
acima
discu3dos

03
selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos,
opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista
sua
redação
deve
obedecer
a
um
planejamento

01.
levante
argumentos
[a
par3r
dos
textos
lidos
e
de
seu
conhecimento
de
mundo]

02.
discuta
os
argumentos
levantados
[convém
fazer,
no
mínimo,
duas
ampliações]

03.
expor
também
é
argumentar
[levante
dados
rela3vos
ao
tema
e
os
associe
à
tese]

04.
é
admi3do
o
uso
do
fato-‐exemplo
[uma
vez
apenas
+
análise
do
exemplo
citado]

05.
convém
usar
estratégias
de
modalização
e
focalização

a
dica
é:
um
argumento
consistente
é
um
argumento
exposto,
deba3do
e
ampliado

04
demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos
necessários para a construção da argumentação
seu
texto
deve
ser
claro
[não
use
termos/palavras
que
não
conheça
plenamente]

use
o
“tópico
frasal”
para
apresentar
o
tema
e
a
tese

explicite
os
ar3culadores
de
ideias
ao
longo
do
texto
[conjunções,
advérbios]

estabeleça
conexão
entre
os
parágrafos
do
desenvolvimento
[ar3culadores]

explicite
o
ar3culador
conclusivo
no
úl3mo
parágrafo

a
dica
é:
explicite
ar3culadores
e
u3lize
uma
linguagem
simples
e,
ao
mesmo
tempo,
obje3va

05
elaborar proposta de solução para o problema abordado,
mostrando respeito aos valores humanos e considerando
a diversidade sociocultural
tenha
em
mente
que
a
proposta
de
redação
trará
uma
situação-‐problema

atente
às
perspec3vas
que
os
locutores
seguiram
nos
textos
fornecidos

proponha
soluções
para
os
problemas
[de
preferência
na
conclusão
–
peroração]

tenha
em
mente
soluções
é3cas
e
que
respeitem
as
diferenças
socioculturais

a
dica
é:
depois
de
discu3r
o
assunto,
indique
soluções
plausíveis
para
a
situação-‐problema

APRESENTANDO A PROPOSTA DE REDAÇÃO
enem-2007

TEXTO
enem-2005
Há
tantos
quadros
na
parede

há
tantas
formas
de
se
ver
o
mesmo
quadro

há
tanta
gente
pelas
ruas

há
tantas
ruas
e
nenhuma
é
igual
a
outra

(ninguém
=
ninguém)

me
espanta
que
tanta
gente
sinta

(se
é
que
sente)
a
mesma
indiferença

há
tantos
quadros
na
parede

há
tantas
formas
de
se
ver
o
mesmo
quadro

há
tantas
palavras
que
nunca
são
ditas

há
muitas
vozes
repe3ndo
a
mesma
frase

(ninguém
=
ninguém)

me
espanta
que
tanta
gente
minta

(descaradamente)
a
mesma
men3ra

todos
iguais,
todos
iguais

mas
uns
mais
iguais
que
os
outros

ENGENHEIROS
DO
HAWAII.
Ninguém
=
ninguém.
Disponível
em:
hep://letras.mus.br/engenheiros-‐do-‐hawaii/12894/

TEXTO
enem-2005
Os
homens
são
todos
iguais
[...]

Brancos,
pretos,
orientais

Todos
são
ﬁlhos
de
Deus
[...]

Kaiowas
contas
Xavantes

Árabes,
turcos
e
iraquianos

São
iguais
os
seres
humanos

São
uns
iguais
aos
outros,

São
uns
iguais
aos
outros.

Americanos
contra
la3nos

Já
nascem
mortos
os
nordes3nos

Os
re3rantes
e
os
jagunços

O
sertão
é
do
tamanho
do
mundo

Dessa
vida
nada
se
leva

Nesse
mundo
se
ajoelha
e
se
reza

Não
importa
que
língua
se
fala

Aquilo
que
une
é
o
que
separa

Não
julgue
pra
não
ser
julgado
[...]

Tanto
faz
a
cor
que
se
herda
[...]

Todos
os
homens
são
iguais

São
uns
iguais
aos
outros.

TITÃS.
Uns
iguais
aos
outros.
Disponível
em:
hep://letras.mus.br/3tas/86576/.

TEXTO
enem-2007
A
cultura
adquire
formas
diversas
através
do
tempo
e
do
espaço.
Essa
diversidade
se
manifesta

na
originalidade
e
na
pluralidade
de
iden3dades
que
caracterizam
os
grupos
e
as
sociedades

que
compõem
a
humanidade.
Fonte
de
intercâmbios,
de
inovação
e
de
cria3vidade,
a

diversidade
cultural
é,
para
o
gênero
humano,
tão
necessária
como
a
diversidade
biológica
para

a
natureza.
Nesse
sen3do,
cons3tui
o
patrimônio
comum
da
humanidade
e
deve
ser

reconhecida
e
consolidada
em
beneucio
das
gerações
presentes
e
futuras.

Declaração
universal
sobre
a
diversidade
cultura.
UNESCO.

A PROPOSTA DE REDAÇÃO
enem-2007

Todos
reconhecem
a
riqueza
da
diversidade
no
planeta.
Mil
aromas,
cores,
sabores,
texturas,

sons
encantam
as
pessoas
no
mundo
todo;
nem
todas,
entretanto,
conseguem
conviver
com
as

diferenças
individuais
e
culturais.
Nesse
sen3do,
ser
diferente
já
não
parece
tão
encantador.

Considerando
a
ﬁgura
e
os
textos
acima
como
mo3vadores,
redija
um
texto
disserta3vo-‐
argumenta3vo
a
respeito
do
seguinte
tema:
O
desaﬁo
de
se
conviver
com
a
diferença.

O TEXTO
ENEM-2007: redação nota 1000
UM
NOVO
MOLDE

Na
primeira
metade
do
século
XX,
o
mundo
conheceu
os
horrores
do
nazismo
quando
a

Alemanha
liderada
por
Adolf
Hitler
perseguiu
e
massacrou
judeus.
Essa
triste
história
se
torna

ainda
pior
ao
se
perceber
que
hoje,
décadas
depois,
a
mesma
essência
permanece
presente:
a

intolerância
às
diferenças.
Na
contemporaneidade,
esse
sen3mento
mesquinho
e
egoísta
causa

exclusão
social,
discriminação
e
até
morte,
por
isso
é
dever
do
poder
público,
das
ins3tuições
de

ensino
e
da
família
promover
o
respeito.

Há
dez
anos,
adolescentes
da
classe
média
de
Brasília
incendiaram
um
índio
que
dormia
na
rua.

No
entanto,
os
mesmos
se
encontram
em
liberdade.
Poucos
meses
atrás,
uma
domés3ca
foi

espancada
por
jovens
na
Barra
da
Tijuca,
bairro
nobre
do
Rio
de
Janeiro.
Para
que
tais

atrocidades
não
con3nuem
se
repe3ndo,
os
mecanismos
de
julgamentos
e
atribuições
de
penas

precisam
ser
mais
eﬁcazes
e
não
podem
permi3r
casos
de
impunidade,
especialmente
em

relação
às
classes
mais
altas,
que
desfrutam
de
privilégios
tácitos
na
(in)Jus3ça
brasileira.

Injusta
também
é
a
falta
de
reconhecimento
da
importância
das
diferenças
culturais
para
o

progresso
da
humanidade.
Os
números
romanos
e
os
ensinamentos
de
Dalai
Lama,
por

exemplo,
são
conhecidos
por
quase
todos.
A
tecnologia
dos
meios
de
comunicação
facilita
esse

acesso,
porém
isso
está
longe
de
bastar
para
acabar
com
o
preconceito
existente
na
sociedade.

Os
professores,
junto
às
escolas
e
faculdades,
têm
o
poder
e
o
dever
de
transformar
a

mentalidade
de
seus
alunos.
Incen3var
pesquisas
sobre
a
vida
da
população
em
diversos
países

é
um
ó3mo
começo.

O TEXTO
No
entanto,
não
é
apenas
responsabilidade
do
Estado
e
dos
proﬁssionais
da
educação
transmi3r

valores.
É
papel
também
da
família
fazê-‐lo.
Desde
criança,
o
cidadão
tem
que
aprender
a

respeitar
os
valores
humanos,
e
o
exemplo,
nessa
idade,
está
em
casa.
Assim,
é
necessário
que,

desde
cedo,
os
jovens
aprendam
não
só
a
valorizar
sua
própria
individualidade,
mas
também
a

respeitar
as
dos
outros.
Nesse
sen3do,
conversas
e
histórias
sobre
os
antepassados
familiares

podem
ajudar
a
mostrar
ao
jovem
de
hoje
que
as
diferenças
étnicas
e
culturais
são
bem
menos

profundas
e
distantes
do
que
podem
parecer
em
uma
análise
inicial.

Torna-‐se
evidente,
portanto,
a
importância
de
se
respeitar
a
individualidade
alheia.
A
criação
de

leis
e
punições
mais
severas
e
o
trabalho
de
um
governo
que
valorize
as
diferenças
existentes

em
seu
país
são
caminhos
para
que
gerações
futuras
sofram
menos
discriminações.
Dessa

forma,
pequenas
mudanças
como
a
inclusão,
no
programa
do
ensino
médio,
de
aulas
de

cidadania
e
de
valores
humanos,
e
a
promoção
de
campanhas
que
es3mulem
bons
exemplos

em
casa
parecem
capazes
de
ajudar
a
mudar
a
mentalidade
da
humanidade.
Aﬁnal,
na
mudança

do
presente,
molda-‐se
o
futuro.

ANALISANDO A REDAÇÃO
UM
NOVO
MOLDE

comentário
Título
curto
que
apresenta
o
assunto
de
forma
indireta.

Na
primeira
metade
do
século
XX,
o
mundo
conheceu
os
horrores
do
nazismo
quando
a

Alemanha
liderada
por
Adolf
Hitler
perseguiu
e
massacrou
judeus.
Essa
triste
história
se
torna

ainda
pior
ao
se
perceber
que
hoje,
décadas
depois,
a
mesma
essência
permanece
presente:
a

intolerância
às
diferenças.
Na
contemporaneidade,
esse
sen3mento
mesquinho
e
egoísta
causa

exclusão
social,
discriminação
e
até
morte,
por
isso
é
dever
do
poder
público,
das
ins3tuições
de

ensino
e
da
família
promover
o
respeito.

comentário
O
assunto
é
apresentado
por
intermédio
de
três
técnicas
diferentes:
a)
trajetória
histórica

[frases
01
,
02
e
03],
b)
confronto
[frases
01
e
02]
e
c)
exempliﬁcação
[frase
01].

Há
dez
anos,
adolescentes
da
classe
média
de
Brasília
incendiaram
um
índio
que
dormia
na
rua.

No
entanto,
os
mesmos
se
encontram
em
liberdade.
Poucos
meses
atrás,
uma
domés3ca
foi

espancada
por
jovens
na
Barra
da
Tijuca,
bairro
nobre
do
Rio
de
Janeiro.
Para
que
tais

atrocidades
não
con3nuem
se
repe3ndo,
os
mecanismos
de
julgamentos
e
atribuições
de
penas

precisam
ser
mais
eﬁcazes
e
não
podem
permi3r
casos
de
impunidade,
especialmente
em

relação
às
classes
mais
altas,
que
desfrutam
de
privilégios
tácitos
na
(in)Jus3ça
brasileira.

comentário
Para
discu3r
o
assunto,
o
locutor
apresenta
dois
exemplos
[de
desrespeito
à
diferença]
e
indica

como
resolver
o
problema.

Normalmente,
para
se
apresentar
uma
solução
de
problemas,
é
necessário,
antes,
apresentar
o

problema
e
discu3-‐lo,
para,
só
então,
indicar
como
e
por
que
resolvê-‐lo.
Na
dissertação
em

análise,
o
debate
do
problema
[por
que
ocorre
–
o
desrespeito
ao
diferente
–,
por
que
se
deve

respeitar
a
diferença]
só
ocorreu
em
uma
frase
[úl3ma
frase
do
quarto
parágrafo].
Apesar
de
ter

ob3do
nota
total
[de
acordo
com
o
site
do
MEC],
a
redação
aqui
analisada
peca
nesse
quesito
e

poderia
ter
sido
penalizada
por
não
haver
deba8do
o
problema,
antes
de
propor
soluções.

Injusta
também
é
a
falta
de
reconhecimento
da
importância
das
diferenças
culturais
para
o

progresso
da
humanidade.
Os
números
romanos
e
os
ensinamentos
de
Dalai
Lama,
por

exemplo,
são
conhecidos
por
quase
todos.
A
tecnologia
dos
meios
de
comunicação
facilita
esse

acesso,
porém
isso
está
longe
de
bastar
para
acabar
com
o
preconceito
existente
na
sociedade.

Os
professores,
junto
às
escolas
e
faculdades,
têm
o
poder
e
o
dever
de
transformar
a

mentalidade
de
seus
alunos.
Incen3var
pesquisas
sobre
a
vida
da
população
em
diversos
países

é
um
ó3mo
começo.

comentário
Tal
qual
no
parágrafo
anterior,
o
locutor
ar3cula
sua
argumentação
por
intermédio
de
provas

concretas.
Note-‐se
a
conexão
com
o
parágrafo
anterior
[estabelecida
pelo
uso
do
adje3vo

injusta,
que
retoma
seman3camente
o
substan3vo
jus3ça,
usado
ao
ﬁnal
do
parágrafo
anterior],

o
diálogo
com
outra
área
do
conhecimento
e
nova
indicação
de
solução
de
problemas.

No
entanto,
não
é
apenas
responsabilidade
do
Estado
e
dos
proﬁssionais
da
educação
transmi3r

valores.
É
papel
também
da
família
fazê-‐lo.
Desde
criança,
o
cidadão
tem
que
aprender
a

respeitar
os
valores
humanos,
e
o
exemplo,
nessa
idade,
está
em
casa.
Assim,
é
necessário
que,

desde
cedo,
os
jovens
aprendam
não
só
a
valorizar
sua
própria
individualidade,
mas
também
a

respeitar
as
dos
outros.
Nesse
sen3do,
conversas
e
histórias
sobre
os
antepassados
familiares

podem
ajudar
a
mostrar
ao
jovem
de
hoje
que
as
diferenças
étnicas
e
culturais
são
bem
menos

profundas
e
distantes
do
que
podem
parecer
em
uma
análise
inicial.

comentário
Este
é
o
parágrafo
em
que
o
candidato
se
põe,
na
úl3ma
frase,
a
discu3r
o
problema.
Note-‐se

confronto
com
ideias
dos
parágrafos
anteriores
[no
entanto],
seguido
de
indicação
de
solução
de

problemas.

Reitero:
em
todo
o
texto,
uma
frase
apenas
indica
por
que
se
deve
respeitar
as
diferenças.
Isso

não
re3ra
o
caráter
argumenta3vo
do
texto,
mas
o
empobrece,
na
medida
em
que,
para
o

candidato,
o
mo3vo
de
se
respeitar
a
diferença
passa
a
ser
consensual,
tautológico
[parece
que,

para
o
candidato,
deve-‐se
respeitar
a
diferença
apenas
porque
o
diferente
é
diferente]
e
não

explícito,
lógico,
claro.

Torna-‐se
evidente,
portanto,
a
importância
de
se
respeitar
a
individualidade
alheia.
A
criação
de

leis
e
punições
mais
severas
e
o
trabalho
de
um
governo
que
valorize
as
diferenças
existentes

em
seu
país
são
caminhos
para
que
gerações
futuras
sofram
menos
discriminações.
Dessa

forma,
pequenas
mudanças
como
a
inclusão,
no
programa
do
ensino
médio,
de
aulas
de

cidadania
e
de
valores
humanos,
e
a
promoção
de
campanhas
que
es3mulem
bons
exemplos

em
casa
parecem
capazes
de
ajudar
a
mudar
a
mentalidade
da
humanidade.
Aﬁnal,
na
mudança

do
presente,
molda-‐se
o
futuro.

comentário
Neste
úl3mo
parágrafo,
o
candidato
explicita
ar3culadores
conclusivos
[portanto,
dessa
forma,

aﬁnal]
e
indica
soluções
de
problemas
concretas
e
calcadas
no
real.

ANÁLISE GLOBAL DA REDAÇÃO
texto de natureza expositivo-argumentativa;
pertinência do título;
correção gramatical;
o assunto foi relacionado com sucesso a outra área do conhecimento;
uso do tópico frasal para apresentar o assunto [introdução];
explicitação dos articuladores no início de cada parágrafo;
conexão semântica e sintática entre os parágrafos [articuladores];
discussão do assunto proposto;

ANÁLISE GLOBAL DA REDAÇÃO
uso da estrutura exposição-debate-ampliação no desenvolvimento;
proposta de solução de problema calcada na realidade;
respeito aos direitos humanos e às diferenças socioculturais.

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