Apresentação | Dia da Europa 2024 - Celebremos a União Europeia!
Análise de auto da barca do inferno
1. Auto da barca do inferno,
de Gil Vicente
Manoel Neves
2. CRONOLOGIA DO HUMANISMO
marcos históricos
1418 1527
Fernão Lopes Sá de Miranda
é nomeado guarda-mor da Torre do Tombo volta da Itália, trazendo novas formas literárias
3. CONCEITOS
humanismo
o que é
humanismo é o nome dado ao período de transição da Idade Média para o Renascimento
principal característica
a principal característica do humanismo é o antropocentrismo
outras designações
pré-renascimento ou quatrocento
4. IDEAIS HUMANISTAS
humanismo
retomada da cultura antiga
imitação e estudo dos poetas greco-latinos caráter clássico
neoplatonismo
retomada das ideias do filósofo Platão distinção entre amor carnal e amor espiritual
crítica à hierarquia medieval
o homem reivindica uma posição de destaque não se aceita a ideia de destino outorgado
bifrontismo
teocentrismo medieval antropocentrismo renascentista
5. ESPÉCIES LITERÁRIAS
humanismo
poesia prosa teatro
poesia palaciana crônica histórica autos e farsas
6. O TEATRO DE GIL VICENTE
humanismo
peças representadas no Paço Real;
crítica aos comportamentos condenáveis e enaltecimento das virtudes;
seu alvo é o comportamento humano e não as instituições;
uso de alegorias [personagens representam comportamento/instituição];
autos pastoris, autos de moralidades e farsas;
uso das redondilhas: não adere à medida nova;
“castigat ridendo moris”.
7. ASPECTOS GERAIS
a obra de Gil Vicente
um autor palaciano
Gil Vicente tinha prestígio na Corte, para a qual os autos eram escritos
isso lhe permitiu satirizar todas as camadas da sociedade, inclusive a nobreza e o clero
um teatro moderno
não se segue, no Auto da barca do inferno, à regra das três unidades do teatro grego nem à
concentração dramática [poucas personagens no palco], ao contrário, Gil Vicente põe em cena
várias personagens, isso permitiu uma amplitude temática – o aumento da duração da ação.
8. A TRILOGIA DAS BARCAS
a obra de Gil Vicente
Auto da barca do inferno
Auto da barca do purgatório
Auto da barca da glória
cenário comum
duas embarcações na praia do purgatório
uma vai para o Paraíso; outra, para o Inferno
argumento
as peças são estruturadas em torno da antítese: salvação x condenação
9. O AUTO A SERVIÇO DA MORALIDADE
a obra de Gil Vicente
gênero e espécie
gênero dramático
peça teatral de fundo religioso cujo objetivo é a conversão do fiel aos princípios da fé católica
intencionalidade
Gil Vicente combate o formalismo religioso e as práticas da Igreja de então, desde o
obscurantismo e a corrupção dos padres até a venda de indulgências, muito discutida na época.
aspectos estilísticos
neste auto, temos pequenas “peças” [esquetes] humorísticas, em que se veem o diabo e anjo
disputando as almas das pessoas q morreram recentemente e tentam embarcar p/ a eternidade.
10. UM TEATRO ALEGÓRICO
tipos presentes no Auto da barca do inferno
fidalgo nobreza exploradora e arrogante
juiz corregedor magistratura corrupta
procurador magistratura corrupta
enforcado magistratura corrupta
alcoviteira prostituição
sapateiro artesão desonesto [misto de industriais e comerciantes]
onzeneiro usurário [corresponderia aos banqueiros de hoje em dia]
frade a igreja corrupta, que se preocupa apenas com o prazer gustativo e sexual
judeu judeu, aquele cuja religião nega que Cristo seja o Senhor;
parvo homem do povo, simples, q traz no coração a bondade e a justiça; não é dissimulado
cruzados guerreiros de Cristo; aqueles que morrem em defesa do nome e da crença em Jesus
11. ENREDO
Auto da barca do inferno
A peça se inicia num porto imaginário, onde se encontram duas barcas: uma com o Diabo e seu Companheiro e outra,
em que há um Anjo na proa. Ambos esperam pelas almas dos homens que acabaram de morrer.
FIDALGO [primeiro embarque]: mau caráter
o Fidalgo [personagens coletivas = ausência de nome] entra em cena com seu pajem [roupa elegante + cadeira]
o Diabo os convida a embarcar e diz ser bom navegante; ao saber q tal barca iria para o Inferno, o Fidalgo critica o
estado da embarcação e as roupas do Diabo [de mulher]; o Anjo entretanto diz q não em sua barca espaço p∕ o Fidalgo
desolado, o Fidalgo se dirige à barca do Inferno; diz q na terra havia quem rezasse por ele [pai - morreu]; o Fidalgo
procura sua amante [se mataria por ele – mentira]; o Diabo diz ao Pajem p∕ se retirar, pois sua hora não havia chegado
ONZENEIRO [segundo embarque]: avareza, roubo, ganância
perguntado por que havia demorado tanto, o Onzeneiro responde q foi devido ao dinheiro q tentara ganhar; o mesmo
dinheiro o havia levado à morte; o Onzeneiro é rechaçado pelo Anjo q diz q ele havia roubado muito e q era ganancioso
PARVO [terceiro embarque]: nada havia feito de mal em sua vida
um homem pergunta ao Diabo se aquela era a Barca dos Tolos e este responde q sim; o Parvo diz q morreu de diarréia
e q ainda não era sua hora; ao saber aonde iria a barca se irrita e xinga o Diabo e é aceito na barca do céu
12. ENREDO
Auto da barca do inferno
SAPATEIRO [quarto embarque]: apego às coisas mundanas
o Sapateiro chega carregando formas e pecados; tenta enrolar o Diabo e conta todas as suas benfeitorias, mas o Diabo
se irrita e o manda entrar logo na barca; o Anjo não dá lugar ao Sapateiro pq sua carga não caberia naquela barca
FRADE [quinto embarque]: uma vida de pecados, sensualidade
o Frade chega com uma moça; traz consigo escudo, espada, capacete; dança; perguntado se a moça era sua, o Frade
diz que isso era comum no convento; ao saber aonde iria aquele batel, o Frade insulta o Diabo, pois acredita q, pela
sua posição, deveria ir ao céu, apesar de ter tido várias mulheres e de ter sido aventureiro; ao se dirigir para a outra
barca é chacoteado pelo Parvo, q pergunta onde roubara aquela espada; cabisbaixo dirige-se à outra barca;
BRÍSIDA VAZ [sexto embarque]: permissividade – vida licenciosa
Brísida traz consigo Joana de Valdês; diz ao Diabo q, pelos seus feitos [acredita q ajudava garotas pobres], iria ao céu;
ajoelha-se diante do Anjo diz merecer o céu, mas é enxotada por ele; resignada, caminha para a barca do inferno
JUDEU [sétimo embarque]: desrespeito ao catolicismo
traz consigo um cabrito e é impedido de entrar na barca do inferno; o Judeu diz q pagaria para o Diabo aceitar o animal;
na outra barca, é xingado pelo Parvo [havia urinado numa Igreja e desrespeitado sacramentos]; embarca com o Diabo
13. ENREDO
Auto da barca do inferno
CORREGEDOR [oitavo embarque]: corrupção e glutonaria
o Corregedor chega trazendo processos relativos a crimes; por ter recebido muitos subornos [perdizes] em sua vida,
é convidado a embarcar com o Diabo; discutem em latim [cultura, Igreja, magistratura]; o Corregedor julga-se superior
ao Diabo, mas este cita as falcatruas e os subornos q a mulher daquele recebia d judeus; então chega outra personagem
PROCURADOR [nono embarque]: corrupção
o Corregedor e o Procurador declaram-se fiéis em Deus e procuram a barca em melhores condições, entretanto o Anjo
e o Parvo zombam dos representantes da Lei e afirmam q eles agiram muito mal e por isso pagariam indo para o inferno
ENFORCADO [décimo embarque]: mentira
o Enforcado diz ao Diabo q não iria para o inferno, pois Deus o perdoara porque ele fôra condenado e ter morrido,
isso era mentira; desmascarado, o Enforcado acaba aceitando seu destino e ajudando o Diabo a empurrar a barca
QUATRO CAVALEIROS [undécimo embarque]: combate aos muçulmanos
os Quatro Cavaleiros chegam cantando e portam, cada um, uma Cruz de Cristo; morreram combatendo infiéis no norte
da África, por isso, foram perdoados de toda culpa e de toda pena; perguntados pelo Diabo por que não pararam para
saber aonde a barca dele iria, ouve deles q quem morre por Cristo iria para o céu; boas vindas e embarque para o céu.
14. SÁTIRA SOCIAL
Auto da barca do inferno
a peça de Vicente critica as doenças da corroíam a sociedade em que vivia [Portugal, século XVI];
o objetivo da peça é fazer um julgamento das almas;
o título se justifica porque a maioria das almas vai para o inferno.
15. ELEMENTOS ESTRUTURAIS
Auto da barca do inferno
linguagem
rica e variada tradições populares
termos chulos [palavrões] frases feitas [provérbios] ditados populares
trocadilhos falares regionais
estrutura
ato único subdividido em cenas em que ora aparece o Anjo, ora o Diabo
cenário
ancoradouro
personagens
tipos sociais: ausência de profundidade psicológica
16. ESTUDO DAS PERSONAGENS
Auto da barca do inferno
diabo
conhece bem cada personagem q chega à barca; é zombeteiro, irônico e bom argumentador;
revela o que cada personagem tenta esconder; não é responsável pela queda dos homens.
fidalgo
a luxúria, a tirania e a falta de modéstia são responsáveis por sua condenação; de nada valeram
valeram as indulgências, as orações; crítica à arrogância, à tirania e ao orgulho da elite medieval.
onzeneiro
é condenado ao inferno devido a sua usura, avareza e ganância; tenta voltar ao mundo dos vivos
para pegar o dinheiro q acumulara, mas é impedido pelo Diabo; é considerado parente do Diabo.
sapateiro
desonesto e aproveitador do povo.
17. ESTUDO DAS PERSONAGENS
Auto da barca do inferno
parvo
seus valores legítimos e sua sinceridade é que levam-no ao céu; em inúmeros momentos,
ironiza a pretensão das outras personagens que se declaram inocentes e puras.
frade
alegre, dançarino, apegado às coisas do mundo
brísida vaz
sua devassidão e sua falta de escrúpulos levam-na ao inferno; conhece outras personagens sem
escrúpulos; ardilosa; por intermédio dela, é possível conhecer o caráter de outras personagens.
judeu
desrespeita a Igreja; é rejeitado até pelo Diabo.
18. ESTUDO DAS PERSONAGENS
Auto da barca do inferno
corregedor e procurador
corrupção da justiça; o primeiro é juiz e o segundo, advogado
enforcado
é condenado por suas mentiras
cavaleiros cruzados
sua vida impecável os conduz à salvação/redenção
anjo
julga e separa os bons dos maus.