O documento discute a poética modernista de Mário de Andrade, destacando seus aspectos formais e temáticos, como o uso de versos livres para declarar amor a São Paulo e criticar a burguesia. Também analisa como Andrade incorporou ideias futuristas e tradições populares em suas obras e buscou conciliar a vida cotidiana com reflexões íntimas.
2. A PRIMEIRA GERAÇÃO DO MODERNISMO
a sedimentação da literatura e da identidade brasileiras
fase iconoclasta: quer romper com o passado literário-cultural;
anarquismo: “não sabemos o que queremos”;
eleição do moderno como um valor em si mesmo;
busca de originalidade a qualquer preço;
luta contra o tradicionalismo;
juízos de valor sobre a realidade brasileira;
valorização poética do cotidiano;
nacionalismo xenófobo e intransigente.
3. LINHAS GERAIS
primeira geração do modernismo brasileiro
IDEIAS
FUTURISTAS
TRADIÇÕES
POPULARES
Pauliceia
desvairada
Clã
do
jabu2
4. DESDOBRAMENTOS DAS VANGUARDAS
na poesia
poesia hermética e que incorpora a civilização material;
verso livre; metalinguagem e coloquialismo;
dessacralização da arte;
humor [poema-piada];
cosmopolitismo do processo literário;
antiacademicismo, anticonvercionalismo;
humor [poema-piada];
abolição da diferença entre temas poéticos e prosaicos;
linguagem mais simples.
5. DESDOBRAMENTOS DAS VANGUARDAS
na prosa
o autor ausenta-se da narrativa;
a ação e o enredo perdem importância;
destacam-se emoções, estados mentais e reações das personagens;
fala-se dos temas individuais e específicos;
aumenta o interesse pelos estados mentais, pela vida profunda do eu;
antiacademicismo, anticonvercionalismo;
fluxo de consciência;
a literatura torna-se subjetiva, interiorizada e abstrata;
uso da sugestão, da associação, da expressão indireta.
6. ASPECTOS TEMÁTICO-FORMAIS
a poética modernista de Mário de Andrade
versos livres e brancos;
tentativa de conciliar a vida cotidiana com reflexões íntimas;
meditações: poemas longos de caráter metafísico;
meditações: a experiência imediata se transforma em reflexão;
reflexões: vida, pátria, nacionalismo, identidade;
discussão sobre nacionalismo e defesa de uma língua brasileira;
pesquisador do folclore nacional.
7. INSPIRAÇÃO
Mário de Andrade
São
Paulo!
comoção
da
minha
vida…
Os
meus
amores
são
flores
feitas
de
original…
Arlequinal!…
Traje
de
losangos…
Cinza
e
Ouro…
Luz
e
bruma…
Forno
e
inverno
morno…
Elegâncias
su2s
sem
escândalos,
sem
ciúmes…
Perfumes
de
Paris…
Arys!
Bofetadas
líricas
no
Trianon…
Algodoal!
São
Paulo!
comoção
de
minha
vida…
Galicismo
a
berrar
nos
desertos
da
América!
aspectos
formais:
versos
livres
e
brancos
aspectos
temá2cos:
declaração
de
amor
a
São
Paulo.
8. ODE AO BURGUÊS [fragmentos]
Mário de Andrade
Eu
insulto
o
burguês!
O
burguês-‐níquel,
o
burguês-‐burguês!
A
digestão
bem-‐feita
de
São
Paulo!
O
homem-‐curva!
o
homem-‐nádegas!
O
homem
que
sendo
francês,
brasileiro,
italiano,
é
sempre
um
cauteloso
pouco-‐a-‐pouco!
Eu
insulto
as
aristocracias
cautelosas!
Os
barões
lampiões!
os
condes
Joões!
os
duques
zurros!
que
vivem
dentro
de
muros
sem
pulos;
e
gemem
sangues
de
alguns
mil-‐réis
fracos
para
dizerem
que
as
filhas
da
senhora
falam
o
francês
e
tocam
os
"Printemps"
com
as
unhas!
Eu
insulto
o
burguês-‐funesto!
O
indigesto
feijão
com
toucinho,
dono
das
tradições!
Fora
os
que
algarismam
os
amanhãs!
Olha
a
vida
dos
nossos
setembros!
Fará
Sol?
Choverá?
Arlequinal!
Mas
à
chuva
dos
rosais
o
èxtase
fará
sempre
Sol!
Morte
à
gordura!
Morte
às
adiposidades
cerebrais!
[...]
9. ODE AO BURGUÊS [fragmentos]
Mário de Andrade
"–Ai,
filha,
que
te
darei
pelos
teus
anos?
–Um
colar...
–Conto
e
quinhentos!!!
Mas
nós
morremos
de
fome!"
Come!
Come-‐te
a
2
mesmo,
oh
gela2na
pasma!
Oh!
purée
de
batatas
morais!
Oh!
cabelos
nas
ventas!
oh!
carecas!
Ódio
aos
temperamentos
regulares!
Ódio
aos
relógios
musculares!
Morte
à
infâmia!
Ódio
à
soma!
Ódio
aos
secos
e
molhados!
Ódio
aos
sem
desfalecimentos
nem
arrependimentos,
sempiternamente
as
mesmices
convencionais!
De
mãos
nas
costas!
Marco
eu
o
compasso!
Eia!
Dois
a
dois!
Primeira
posição!
Marcha!
Todos
para
a
Central
do
meu
rancor
inebriante
Ódio
e
insulto!
Ódio
e
raiva!
Ódio
e
mais
ódio!
Morte
ao
burguês
de
giolhos,
cheirando
religião
e
que
não
crê
em
Deus!
Ódio
vermelho!
Ódio
fecundo!
Ódio
cíclico!
Ódio
fundamento,
sem
perdão!
Fora!
Fu!
Fora
o
bom
burgês!...
10. ODE AO BURGUÊS [fragmentos]
Mário de Andrade
aspectos
formais:
versos
livres
e
brancos
aspectos
temá<cos:
condensação
do
ideal
modernista
de
crí2ca
ao
burguês
e
ao
senso
comum
11. MEDITAÇÃO SOBRE O TIETÊ
Mário de Andrade
Porque
os
homens
não
me
escutam!
Por
que
os
governadores
Não
me
escutam?
Por
que
não
me
escutam
Os
plutocratas
e
todos
os
que
são
chefes
e
são
fezes?
Todos
os
donos
da
vida?
Eu
lhes
daria
o
impossível
e
lhes
daria
o
segredo,
Eu
lhes
dava
tudo
aquilo
que
fica
pra
cá
do
grito
Metálico
dos
números,
e
tudo
O
que
está
além
da
insinuação
cruenta
da
posse.
E
si
acaso
eles
protestassem,
que
não!
que
não
desejam
A
borboleta
translúcida
da
humana
vida,
porque
preferem
O
retrato
a
ólio
das
inaugurações
espontâneas,
Com
bés2as
de
operário
e
do
oficial,
imediatamente
inferior.
E
palminhas,
e
mais
os
sorrisos
das
máscaras
e
a
profunda
comoção,
Pois
não!
Melhor
que
isso
eu
lhes
dava
uma
felicidade
deslumbrante
De
que
eu
consegui
me
despojar
porque
tudo
sacrifiquei.
Sejamos
generosíssimos.
E
enquanto
os
chefes
e
as
fezes
De
mamadeira
ficassem
na
creche
de
laca
e
lacinhos,
Ingênuos
brincando
de
felicidade
deslumbrante:
Nós
nos
iríamos
de
camisa
aberta
ao
peito,
Descendo
verdadeiros
ao
léu
da
corrente
do
rio,
Entrando
na
terra
dos
homens
ao
coro
das
quatro
estações.
12. MEDITAÇÃO SOBRE O TIETÊ
Mário de Andrade
aspectos
formais
versos
livres
e
brancos
aspectos
formais
nas
águas
do
Tietê
são
projetados
os
principais
mo2vos
da
obra
de
Mário
de
Andrade
amor,
sonhos
e
lutas
são
imagens
iluminadas