2. Surgido como um subgênero do filme histórico,
o faroeste, como também é conhecido, contou
de maneira romanceada a história da
conquista do Oeste dos EUA e foi, durante
décadas, o maior representante da produção
cinematográfica norte-americana. Surgiu ainda
na época do cinema mudo e seguiu impávido
até os anos 60. Na década seguinte, graças a
algumas modificações estruturais, ganhou
sobrevida, perdendo fôlego com a proximidade
dos anos 80.
3. A conquista do Oeste por milhares de aventureiros em busca de
riqueza ou, na pior das hipóteses, uma vida melhor, faz parte da
história estadunidense e foi retratada em diversos filmes. A
maioria dessas produções, feitas antes de 1950, procurava
legitimar a conquista dos territórios ocupados pelos indígenas,
retratando-os como selvagens impiedosos, bárbaros que
precisavam ser pacificados. A intenção era validar a atitude dos
conquistadores e, por isso, era comum exagerarem na
agressividade e selvageria das tribos. Na verdade, como se sabe
hoje, a história era outra. Com raras exceções, os índios fugiam
do combate e suas técnicas de guerra eram rudimentares diante
do poderio dos invasores. Sem contar que as doenças levadas
pelos brancos eram, por si só, uma arma bem eficaz. A vida dos
índios era bem diferente da retratada em filmes como No
Tempo das Diligências (1939) e Sangue de Heróis (1948), de
John Ford, Rio da Aventura (1962), de Howard Hawks, ou Os
Comancheiros (1962), de Michael Curtiz; produções que
ajudaram a fixar uma imagem deturpada dos indígenas.
4. Foi só a partir de meados da década de 50 que se deu uma
ruptura com o western clássico, que tratava o índio como
um estranho em sua própria terra. Dois cineastas tiveram
papel de destaque nesse movimento: Anthony Man e
Delmer Daves. São deles os filmes emblemáticos desse
período: O Caminho do Diabo (1950), de Man, e Flechas
de Fogo (1954), de Daves. Outras obras que merecem ser
citadas como contestadoras são O Último Bravo (1954), de
Robert Aldrich, e Renegando o meu Sangue (1957), de
Samuel Fuller. Nelas, os índios deixam de ser
ridicularizados ou tratados como selvagens impiedosos e
sem alma.
5. No início dos anos 60, surgiu na Itália uma nova faceta do
gênero, o spaghetti. Diferente dos faroestes americanos,
as produções italianas exploravam mais a violência. O
sangue jorrava das feridas, os caubóis elegantes davam
lugar a homens sujos e com a barba por fazer. Mas não se
engane, a verossimilhança para por aí. Em matéria de
enredo, os spaghetti westerns costumavam beirar o
cômico. Eram comuns sequências na qual um pistoleiro,
sozinho, liquidava seis oponentes de uma vez. Ou então
arrancavam-lhes as armas das mãos com tiros certeiros e
improváveis. A primeira produção do gênero foi O Dólar
Furado (1962), de Giorgio Ferroni.
6.
7. Mas foi com Sergio Leone, considerado o pai do spaghetti, que o
subgênero ganhou renome internacional. Leone dirigiu uma
trilogia hoje considerada clássica: Por um Punhado de Dólares
(1964), Por uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em
Conflito (1966), todos protagonizados por Clint
Eastwood, ilustre desconhecido na época. A inventividade do
diretor aliada à marcante trilha sonora de Ennio Morricone
fizeram dos filmes grandes sucessos, que superaram todos os
recordes de bilheteria dos faroestes feitos até então.
Eastwood, cuja a carreira não decolava nos EUA, se alçou a
posição de astro internacional. Em 1968, já famoso, Leone
dirigiu o que hoje é considerado um dos grandes westerns de
todos os tempos: Era Uma Vez no Oeste, estrelado por Henry
Fonda e Charles Bronson, dois atores com quem o cineasta
sempre quis trabalhar. O filme conta em seu final com a cena de
duelo tida com a mais bem dirigida da história do cinema.
8. O western hoje não é mais um gênero com produção
continuada. A fórmula que fez seu sucesso - a criação de uma
ficção em cima de um fato histórico – foi, curiosamente, a causa
de seu fim, quando começou a ser acusado de deturpar a
História. Em meados dos anos 80, teve início uma tentativa de
ressuscitar o gênero, com o lançamento de filmes como
Silverado (1985), Os Jovens Pistoleiros (1988), Jovens Demais
para Morrer (1990), Wyatt Earp, Tombstone e Quatro Mulheres
e Um Destino, todos de 1994. A produção caprichada, o elenco
de estrelas e a exploração de velhos clichês não foram o
bastante para fazer o western decolar novamente. Mas nem
tudo foi em vão. Nessa época, o público foi presenteado com os
excelentes Dança com Lobos (1990) e Os Imperdoáveis
(1994), ambos vencedores do Oscar de Melhor Filme. Antes
deles, apenas um faroeste havia sido premiado na categoria:
Cimarron (1931), de Wesley Ruggles.
9.
10. Mesmo ultrapassado, o gênero mostra que ainda tem
força. Em 2010, a refilmagem de Bravura Indômita, cujo
original de 1969 foi estrelado pela lenda John Wyane,
arrasou nas bilheterias e deu aos irmãos Coen a maior
arrecadação de suas carreiras. Este ano, com o lançamento
de Django Livre, de Quentin Tarantino, um legítimo
western volta a figurar entre os candidatos ao Oscar de
Melhor Filme.