O documento descreve o amor entre Baltasar e Blimunda no romance Memorial do Convento. Eles representam o amor verdadeiro e eterno, em oposição à relação real do rei e da rainha. Seu amor sobrevive até a morte de Baltasar na fogueira da Inquisição, quando Blimunda prende sua vontade dentro de si para unirem-se para sempre.
Apresentação para décimo ano de 2017 8, aula 35-36
Apresentação para décimo segundo ano de 2013 4, aula 78-79
1.
2. Baltasar e Blimunda constituem, ao
longo do romance, o símbolo do amor
verdadeiro, incondicional e eterno.
Amam-se mal se conhecem, unem-se
por um ritual não canónico («cerimónia» da
colher), não escondem nada um do outro
(atitude de que o amarem-se nus é o
símbolo), não necessitam de procriar para
provar o seu amor, desejam-se mesmo
quando os sinais do tempo (rugas e
cabelos brancos) já os marcam, e vivem,
em conjunto, o mesmo sonho: voar.
3. Este amor, que se opõe à relação
convencional do rei e da rainha, atinge o
clímax na morte de Baltasar, na fogueira,
num auto-de-fé. Aí, Blimunda aprisiona a
«vontade» do seu homem, não a
deixando subir ao céu e prendendo-o,
para sempre, dentro de si.
(120 palavras)
4.
Ao contrário do que aconteceu com
os príncipes reais e com os seus
progenitores, o relacionamento de Baltasar
e de Blimunda surge repleto de
autenticidade.
Com efeito, do encontro ocasional do
par amoroso pertencente ao povo surge
uma relação pura, autêntica e emotiva, que
o fará viver um para o outro até ao dia em
que o destino fatídico fez desaparecer
Baltasar. Contudo, assiste-se, depois, à
5. incessante procura por parte de Blimunda
que, durante nove anos, calcorreou o país,
procurando-o e reencontrando-o no auto
de fé onde recolheu a sua vontade para
que a sua união se eternizasse.
Por isso, o amor deste casal perdurou
na vida e na morte, transformando-se num
amor espiritual, numa união eterna, que se
opõe à de D. João V e D. Maria Ana.
(129 palavras)
6.
7. Comente a opinião, a seguir transcrita,
sobre a teoria do fingimento poético em
Pessoa ortónimo, referindo-se a poemas
relevantes para o tema em análise. Escreva
um texto de oitenta a cento e vinte palavras.
«É na poesia ortónima que o Pessoa ‘restante’, o que
não cabe nos heterónimos laboriosamente inventados,
se afirma e ‘normaliza’: é então que ele ‘faz’ de si e os
seus poemas são ‘chaves’ para compreender o seu
extraordinário universo literário.»
António Mega Ferreira, Visão do Século — As Grandes Figuras do Mundo nos
Últimos Cem Anos, Linda-a-Velha, Visão, 1999
8. A criação poética de Pessoa é, como
aponta Mega Ferreira, um «extraordinário
universo literário», composto por uma
diversidade de eus que não passam de
simulações na procura de uma verdadeira
identidade.
«Fingir é conhecer-se» diz o poeta
dos poetas. E, então, na base da criação
de uma nova teoria artística, assume que
«o poeta é um fingidor» («Autopsicografia»), é aquele que racionaliza «a dor que
deveras sente» para a dar aos outros.
9. Assim, um poema é um produto intelectual,
cujo processo implica uma distanciação do
real, como o refere Pessoa em «Isto»: «Por
isso escrevo em meio / Do que não está ao
pé, / Livre do meu enleio, / Sério do que
não é. / Sentir? Sinta quem lê!».
(120 palavras)
12. a.
O poeta observa-se atentamente / e
reconhece a sua multiplicação em
«pessoas diversas».
O poeta não só se observa atentamente /
mas também reconhece a sua
multiplicação em «pessoas diversas».
13. b.
O sujeito poético recorre à repetição
expressiva dos adjetivos «disperso /
dispersas» e «diverso / diversas» / a fim
de que [para que] reforce a ideia de
fragmentação do «eu».
14. c.
A personalidade do eu lírico divide-se em
«pedaços», / que o transformam num ser
«impreciso e diverso», / como o universo
se dispersa por vários elementos.
Assim como o universo se dispersa por
vários elementos, / também a
personalidade do eu lírico se divide em
«pedaços», / que o transformam num ser
«impreciso e diverso».
15. Como o universo se dispersa por vários
elementos, / [assim] a personalidade do
eu lírico se divide em «pedaços», / que o
transformam num ser «impreciso e
diverso».
16.
17. Cerca de metade deste poema é uma
série de declarações da estranheza do
poeta por si mesmo («Não sei quantas
almas tenho»; «Continuamente me
estranho»; «Nunca me vi nem achei»;
«Diverso, móbil e só, não sei sentir-me
onde estou»).
18. Entretanto, os versos «Sou minha
própria paisagem» e «vou lendo / como
páginas meu ser» servem de metáfora
da necessidade que o poeta tem de se
auto-analisar. Também remetem para a
fragmentação do eu, na medida em que
parecem supor uma consciência
exterior ao próprio poeta (que o
pudesse observar de fora).
21. No primeiro momento (as duas
primeiras estrofes), o sujeito poético
reconhece-se como um ser multifacetado,
que continuamente se vai revelando,
resultando daí uma espécie de
desencanto consigo mesmo («Nunca me
vi nem achei»). Este ser excessivo vai
criar uma grande inquietação no sujeito
poético («Quem tem alma não tem calma»,
«Não sei sentir-me onde estou») e, ao
mesmo tempo, uma distanciação,
responsável por uma postura passiva em
relação ao desfile dos outros eus.
22. O segundo momento (última estrofe),
introduzido pelo conector «por isso»,
constitui uma sequência relativamente ao
primeiro, tentativa de conhecimento de si
próprio como se de um livro se tratasse:
«vou lendo / Como páginas, meu ser». O
resultado é, porém, um estranhamento,
acabando por responsabilizar Deus pelo
acto de escrita, que lhe pertence. Numa
atitude de humildade, o sujeito poético não
atribui a si próprio o mérito do ato de
criação. Saliente-se ainda a atitude de
alheamento do poeta, responsável pelo
sentimento de solidão.
23. Os sentimentos que dominam o sujeito
poético são a angústia e a inquietação,
provocados pela incapacidade de controlar
as várias manifestações do seu eu. As
expressões que melhor documentam este
estado de espírito são «Quem tem alma não
tem calma» e «Assisto à minha passagem /
Diverso, móbil e só». O verso que melhor
sintetiza o conteúdo do poema é
«Continuamente me estranho».
24. A nível formal verifica-se uma certa
regularidade estrófica (três oitavas),
métrica (redondilha maior) e rimática
(rima cruzada e emparelhada), a qual nos
pode remeter para a ideia de regularidade de fragmentação do eu poético.
Esta regularidade a nível formal pode
justificar-se ainda por uma necessidade
de busca de unidade.
25.
26. a. Com a introdução do conector «por
isso» (v. 17),
1. o enunciador estabelece um nexo de
causalidade.
27. b. Com a utilização do adjetivo «alheio»
(v. 17),
7. o enunciador contribui com
informação não essencial para a sua
caracterização.
28. c. Com o uso do complexo verbal «vou
lendo» (v. 17),
2. o enunciador confere à ação uma ideia
de continuidade.
29. d. Com o recurso a «como» (v. 18),
4. o enunciador estabelece uma relação
de comparação.
30. e. Com o uso de aspas em «Fui eu?» (v.
23),
5. o enunciador isola uma passagem
discursiva em discurso direto.
33. (Fernando Pessoa / Ana Lains, Paulo Loureiro)
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê.
Quem sente não é quem é.
34. Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce, e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
35. Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo, «Fui eu?»
Deus sabe, porque o escreveu.
36.
37. (Mário de Sá-Carneiro / Adriana Calcanhoto)
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.
Fevereiro de 1914
38.
39. Resolve o ponto 1.2.1 da p. 55 (nas
linhas que sobram na folha).
40. TPC — A ficha 1 (de modelos de
grupo II de exame) nas pp. 25-26 do
Caderno de atividades é a continuação da
citação B, de Maria Luísa Couto Soares,
na p. 65 do manual. Ensaia resolvê-la
(tens as soluções no final do Caderno;
porei reprodução desta ficha e das
soluções em Gaveta de Nuvens, para
aqueles que não têm o caderno de
atividades). No manual, lê o texto
expositivo «A poesia de Fernando Pessoa
ortónimo» (p. 63).