O documento apresenta críticas do poeta à elite portuguesa por desprezar a poesia e a cultura. Afirma que, ao contrário do que acontecia na antiguidade, onde até os grandes generais cultivavam as artes, os portugueses heroicos não eram apreciados em poemas por desconhecerem a arte poética. Isso impedia que suas façanhas fossem devidamente celebradas e glorificadas.
4. Memorial = romance (talvez romance
histórico)
«Epopeia» é aceitável apenas como
como metáfora
5. Relativo caráter épico
de Memorial do Convento
tem subjacente um herói coletivo (o
povo português, os humildes);
glorifica feitos (o esforço do povo,
pelo menos);
7. história como bitola, como referência;
desmedida de certos episódios
(transporte da pedra; voo da
passarola).
in media res;
narração.
8.
9. 70
E calcula agora quão miseráveis e
quão perdidos andaríamos todos, por
climas e mares desconhecidos, e sob
céus inclementes, inimigos da natureza
humana; já tão quebrantados pelas
privações e tempestades, e tão cansados
do longo esperar, quanto dispostos a
desesperar de todo,
10. 71
vendo já putrefactos e avariados os
mantimentos, tornados nocivos e
perniciosos para os nossos enfraquecidos
organismos, e não colhendo, além disso,
uma alegria que nos alimentasse a
esperança, embora iludindo-nos! Cuidas tu
que, se este grupo de militares, que me
acompanha, não fosse português,
porventura persistiria tanto tempo na
obediência ao seu rei e ao seu
comandante?
11. 72
Cuidas que se não teriam já revoltado
contra o seu capitão, se ele os
contrariasse, fazendo-se piratas, levados
pelo desespero, pela fome e pela cólera?
Grandemente experimentados estão eles
já, por certo, visto que nem as grandes
fadigas a que têm sido submetidos os
fizeram desviar daquela alta virtude
portuguesa que consiste na firme lealdade
e na obediência.
12. 86
Podes agora avaliar, ó rei, se houve
um dia no mundo homens que se
atrevessem a semelhante expedição.
Supões acaso que tanto Eneias como
Ulisses houvessem dilatado a tal ponto as
suas viagens? Ousou alguém, por mais
versos que a seu respeito se escrevessem,
ver, do profundo mar, a oitava parte do
que eu tenho visto a poder de valor e de
ciência, e do que espero ver ainda?
13. 89
deixem-nos fantasiar e inventar ventos
soltos dos odres, Calipsos enamoradas,
Harpias que lhes conspurquem a comida, e
descidas aos ; que, por muito que
se aperfeiçoem nessas mentirosas fábulas,
tão bem delineadas, as verdades e
cruas que eu venho de contar sobrepujam
todos esses sublimes poemas».
14. 90
Todos os ouvintes, extasiados,
pendiam ainda da boca do eloquente
Capitão quando ele pôs termo à extensa
narração dos altos, grandes e sublimes
feitos dos portugueses. Então, o rei de
Melinde elogiou o ânimo nobilíssimo dos
reis de Portugal, notabilizados em tantas
guerras, e a histórica valentia, a lealdade
de coração e a nobreza do povo
português.
15. 92
Quão doce não é o louvor e a justa
glória dos nossos feitos, quando os
vemos proclamados! Todo o homem de
nobre sentimentos se esforça por vencer
ou igualar em fama os antepassados
ilustres. As emulações produzidas pela
história dos outros dão lugar, muitas
vezes, a gloriosos feitos. A quem se
propõe à prática de obras valiosas, muito
o incita e estimula o louvor alheio.
16. 93, 1-4
Alexandre Magno tinha em menos
apreço os feitos gloriosos de Aquiles na
guerra que os maviosos versos do seu
cantor. Só a estes encarecia e fazia jus.
17. 94, 1-4
Vasco da Gama esforçou-se por
mostrar que essas antigas expedições
navais exalçadas por todo mundo não
merecem tamanha glória e tão alta fama
como a sua, que assombrou o céu e a
terra.
18. 95, 1-6
A terra portuguesa produz também
Cipiões, Césares, Alexandres e
Augustos; mas não lhes concede, a
esses heróis, aqueles dotes cuja falta os
torna rudes e incultos. Octaviano, entre
as mais angustiosas conjunturas,
compunha versos eruditos e formosos.
19. 97
Enfim, não houve general romano,
grego, ou mesmo bárbaro, que não fosse
ao mesmo tempo ilustrado e sabedor; só
entre os portugueses não acontece
assim. Não o digo sem vergonha; porque
o motivo de não serem muitos heróis
portugueses cantados em poemas é não
serem os versos apreciados por eles,
pois que quem desconhece a arte poética
não pode amá-la.
20. 99
Pode o nosso Gama agradecer às
Musas portuguesas o intenso amor da
pátria que as levou a dar aos seus
descendentes fama e nomeada, cantando
os seus gloriosos e bélicos trabalhos;
visto que nem ele, nem quem da sua
geração usa o seu nome, usufrui tanto a
amizade de Calíope, ou das ninfas do
Tejo, que estas se dignassem abandonar
as telas de oiro para o glorificarem.
23. 1.1
A forma verbal «imagina» encontra-
se no modo imperativo e introduz uma
sequência discursiva em que Vasco da
Gama apela à capacidade imaginativa do
rei para que ele possa conceber como
reais todas as privações e todos os
perigos que caracterizaram a viagem dos
portugueses.
24. 1.2
A expressão é repetida ao longo do
texto para chamar a atenção do rei para o
carácter extraordinário das ações e
vivências dos marinheiros, capazes de
suscitarem dúvidas quanto à sua
veracidade, dada a sua excecionalidade.
25. 1.2.1
Para o mesmo efeito contribuem as
interrogações retóricas presentes nas
estâncias 71,72 e 86, a adjetivação
múltipla e expressiva (est. 70, vv. 1-3; 71,
vv. 1-2) e as enumerações (est. 70, v. 3;
est. 72, v. 4).
26. 1.3
Ambas as estâncias destacam o
carácter heroico das ações dos
portugueses, apresentados como os
únicos a empreender a difícil missão de
conquistar o mar. Mesmo quando
comparados com os heróis das epopeias
clássicas (Eneias e Ulisses), saem
vitoriosos, pois aqueles textos eram
«fábulas vãs» (est. 89, v. 6), enquanto a
atuação dos nautas lusitanos é «verdade»
(est. 89, v. 7) e, por isso, superior a
qualquer «escritura» (est. 89, v. 8).
27. 1.4.
Ao referir-se às provações vividas pelos
marinheiros, o narrador apresenta-os como
sofredores, resistentes e corajosos («coitados»,
«perdidos», «quebrantados», «cansados», est.
70, vv. 1-3 e 5) ainda que desesperançados
(«nenhum contentamento, / Que sequer da
esperança fosse engano», est. 71, vv. 3-4). Por
outro lado, apenas a sua personalidade
«obediente» (est. 71, v. 7) e marcada pela
«lealdade firme» (est. 72, v. 8) lhes permitiu
superar em conjunto as dificuldades e manter o
objetivo coletivo de chegar à Índia.
29. 2.2
«Dá a terra Lusitana Scipiões, / Césares,
Alexandros, e dá Augustos; / Mas não lhe
dá, contudo, aqueles dões / Cuja falta os
faz duros e robustos» = A (o poeta
censura os portugueses que desprezam
a poesia)
30. «Octávio, entre as maiores opressões, /
Compunha versos doutos e venustos» =
B (ao contrário do que sucedia na
antiguidade)
31. «Em fim, não houve forte Capitão / Que
não fosse também douto e ciente, / Da
Lácia, Grega ou Bárbara nação» = B
32. «Sem vergonha o não digo: que a rezão /
De algum não ser por versos excelente /
É não se ver prezado o verso e rima: /
Porque quem não sabe arte, não na
estima» = A e C (o poeta afirma que é por
falta de cultura que elite portuguesa
despreza a arte)
33. «Que ele, nem quem na estirpe seu se
chama, / Calíope não tem por tão amiga /
Nem as Filhas do Tejo, que deixassem /
As telas de ouro fino e que o
cantassem». = A e C
34.
35. TPC — Prepara a leitura em voz alta
das estâncias nas pp. 178-179 (já pedidas).
Responde ao ponto 1 da p. 177 (em cerca
de 150 palavras, ou até um pouco menos).