SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 22
Downloaden Sie, um offline zu lesen
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 838
ARTIGOTEMÁTICO
JUVENTUDES
UNIVERSITÁRIAS:
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E
PROCESSOS EDUCATIVOS
EM UMA UNIVERSIDADE DO
INTERIOR DE MINAS GERAIS
Luís Antonio Groppo 1
Resumo: São feitas reflexões, a partir de revisão bibliográfica e de casos
observados em uma universidade pública, sobre o tema da participação
política e processos formativos no trabalho cotidiano de organizações ju-
venis. Parte de pesquisa em fase inicial, o texto foi fundamento de confe-
rência realizada no II Colóquio Internacional Educação e Sociedade. Trata
de algumas características dos jovens na Educação Superior no Brasil atu-
al, da noção de organizações juvenis e de algumas dimensões educativas
destas na universidade pesquisada. Conclui a respeito da riqueza dos pro-
cessos formativos presentes no cotidiano de tais organizações, em que se
praticam metodologias participativas, democráticas e auto-organizadas.
Palavras-chave: organizações juvenis, universidade, formação política,
participação.
INTRODUÇÃO
Neste artigo trouxe o tema da educação – via educação
não-formal e formação política – ao âmago dos meus dizeres.
1	 Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Uni-
camp); Professor da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), atuando
nos cursos de graduação em Ciências Sociais, Pedagogia, História e no Pro-
grama de Pós-Graduação em Educação; Pesquisador do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). E-mail > prograd@
unifal-mg.edu.br
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 839
Fundamentalmente, revisitei a proposta da pesquisa que venho
atualmente desenvolvendo e trouxe alguns de seus primeiros re-
sultados. Trata-se da pesquisa “A dimensão educativa das orga-
nizações juvenis: Estudo dos processos educativos não formais e
da formação política no interior de organizações juvenis de uma
universidade pública do interior de Minas Gerais”, apoiada com
Bolsa de Produtividade em Pesquisa pelo CNPq (Conselho Na-
cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR
A juventude, do ponto de vista das Ciências Sociais, par-
ticularmente da Sociologia, pode ser considerada como uma ca-
tegoria social que compõe a estrutura das categorias etárias, em
sociedades que reconhecem a juventude como parte do curso da
vida. (GROPPO, 2000).
Defende-se aqui o que se chama de concepção dialética das
juventudes modernas e contemporâneas. Por meio desta, conce-
be-se o processo de modernização também como a tentativa de
instituições sociais “moldarem” a juventude: escolas, orfanatos,
grupos juvenis controlados por adultos (ligados a Estados, par-
tidos, igrejas etc.), universidades, mídias eletrônicas e indústria
cultural. Deste modo, emerge uma nova realidade social, em que
indivíduos com idades semelhantes vivem próximos, ou nutrem
expectativas comuns mesmo quando distantes do espaço. É des-
ta nova realidade que podem vir a surgir manifestações concre-
tas ou o desejo de mais autonomia, quando indivíduos e grupos
juvenis desenvolvem identidades, vivências e valores destoantes
em parte ou em sua totalidade dos padrões sociais estabelecidos.
Neste sentido, criam grupos juvenis informais (não controlados
por adultos), podem mobilizar-se politicamente em movimentos
estudantis ou participarem de revoltas, greves, guerrilhas etc.,
podem traduzir seu desconforto para com os valores tradicionais
por meio de revoltas comportamentais e revoluções culturais,
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 840
podem despejar suas insatisfações diante das estruturas socioe-
conômicas via vandalismo, delinquência ou “conflito com a lei”.
(GROPPO, 2008, GILLIS, 1981).
Cabe defender ainda a diversidade das vivências da juven-
tude, mesmo em dado contexto bem destacado. Para compreen-
der dada condição juvenil, é necessário correlacionar o aspecto
juvenil com outros fatores sociais, tais como classe social, gê-
nero, condição urbano-rural, religiosidade, etnia etc. Saltam
aos olhos, na realidade concreta, do mundo vivido, juventudes.
(GROPPO, 2000). Compreender as muitas formas de ser da con-
dição juvenil em nosso tempo, sob um olhar inclusive histórico,
é uma importante contribuição que a as ciências sociais podem
dar aos que se debruçam sobre a relação entre juventude e ensi-
no superior.
Antes, porém, é preciso lembrar que há uma grande hete-
rogeneidade na conformação da educação superior no Brasil e no
mundo. É errado tratar a educação superior de modo homogêneo,
como se houvesse, no caso de nosso país, uma “universidade bra-
sileira”. Há ampla diversidade institucional e a diferença não é
apenas entre IES (Instituições de Educação Superior) públicas e
privadas, mas também dentro delas. “Universidade” é mesmo ex-
ceção: havia no Brasil 130 universidades em 2010 (8% do total das
IES). (SOUSA, 2013). E ainda assim, na prática, muitas vezes o que
é chamado de universidade é um mero agregado de faculdades,
dada a origem tardia da universidade no Brasil. (CUNHA, 2007).
Entretanto, é inegável a importância da “universidade”,
até hoje, como modelo de IES. Mesmo agora, é forte este modelo
em nosso imaginário. Se o movimento histórico, até certo ponto,
pareceu realizar este modelo imaginado e desejado, a partir de
certo momento, distanciou-se muito dele. Este movimento his-
tórico de quase-realização e crise do modelo universidade pode
ser observado dentro do conjunto de países que afirmam formar
o “mundo ocidental”, de modo mais característico a Europa e Es-
tados Unidos, mas também a América Latina. Trata-se da pas-
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 841
sagem da universidade como instituição hegemônica na educa-
ção superior, de autonomia relativa, a uma educação superior de
caráter mais “operacional”, com grande diversidade de tipos de
instituições e modalidades de ensino. (SANTOS, 2001, CHAUÍ,
2003, GROPPO, 2011).
Deste modo, os governos de Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002) colocaram em questão o próprio conceito de uni-
versidade no Brasil, em especial a pública, mais ainda a federal,
descontruindo o pouco que havia sido efetivado em nosso país
da universidade-instituição de autonomia relativa. (BRANDÃO,
2005). Há também um fenômeno de privatização da esfera públi-
ca, com IES públicas tendo de buscar recursos alternativos para
se financiar, prestando serviços como assessorias, consultorias,
cursos de especialização e extensão pagos, passando também a
ser controlados pelo mercado, além do Estado. (CHAUÍ, 2003).
Nos primeiros anos dos governos de Luís Inácio Lula da
Silva (2003-2010), a educação superior ainda viveu sob os efeitos
das reformas do período anterior. Relatório elaborado por Grupo
de Trabalho Interministerial em 2003, de certa forma, legitimou
a reforma do Estado e da educação superior dos governos Fer-
nando Henrique Cardoso. Apesar de fortes críticas vindas da so-
ciedade contra o Relatório, as políticas de governo nele baseados
foram paulatinamente implementadas, mas nem todas os pro-
gramas, projetos e ações foram mera continuidade do que estava
dado. (RODRIGUES, 2007, SOUSA, 2013).
Como diferenciação, destacam-se medidas para a chama-
da “democratização da educação superior, pública, gratuita e de
qualidade” para o acesso de estudantes das classes populares
às IES públicas, como o sistema de cotas, o Reuni (Programa de
Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais) e a criação e expansão dos IFs (Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia).
Contudo, outras medidas tiveram caráter mais polêmico,
para os que defendem o modelo da universidade pública: a cria-
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 842
ção do SINAES (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Su-
perior) em 2004, forma menos grosseira de avaliação, mas que
reforça o papel avaliador do Estado; o ProUni (Programa Univer-
sidade para Todos) e a ampliação do FIES (Fundo de Financia-
mento ao Estudante do Ensino Superior) para financiar estudan-
tes em IES privadas.
Enquanto forma-se um sistema complexo na educação
superior, dominado por um mercado crescentemente controla-
do por grandes empresas, as taxas de escolarização no grau su-
perior continuam sofríveis em nosso país. Considerando a taxa
bruta de escolarização universitária (total de matrículas na edu-
cação superior em relação ao total da população na faixa etária
de 18 a 24 anos), o Brasil tinha taxa de 13% em 1990, 17,3% em
2004 e 26,7% em 2009. Só para motivo de comparação, esta taxa
era, em 2009, de 52% no Chile, 64% no Uruguai e 82% nos EUA.
(SOUSA, 2013).
Se a educação superior no Brasil se massificou nos últi-
mos anos, ela está muito longe da democratização, ou seja, ao
acesso de todos a um direito social a ser garantido por recursos
públicos, preferencialmente em instituições públicas, e de qua-
lidade. Mais característica que a sua generalização, é a hetero-
geneidade da educação superior no Brasil. Primeiro, no tipo de
instituições: cursos isolados, faculdades, faculdades integradas,
centros universitários, universidades, ensino superior não-uni-
versitário (como os institutos tecnológicos). Segundo, no tipo de
mantenedores: públicos (governo federal, estados e municípios)
e privados (confessionais, filantrópicos, comunitários e particu-
lares). Terceiro, de objetivos: pesquisa, formação profissional,
propedêutica científica, extensão, especialização, formação de
pesquisador (pós-graduação stricto sensu). Há também que se
considerar a heterogeneidade no próprio interior das institui-
ções, em especial naquelas de maior porte, já que, no Brasil as
universidades, faculdades integradas e centros universitários,
em geral, são mera reunião de cursos, sem contar a diversidade
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 843
interna nos objetivos e no grau de prestígio ou importância das
unidades-membro (cursos, departamentos, institutos).
Se há heterogeneidade no sistema educacional superior
no Brasil hoje, o mesmo pode ser dito dos seus estudantes. Pri-
meiro, há de se considerar a diversidade gerada por fatores so-
cioculturais, tais como classe social, região, etnia, gênero e até
idade. Sobre a idade, é preciso relativizar a imagem do estudante
da educação superior como jovem. Vários estudantes estão para
além da faixa etária que tradicionalmente se associa à juventude.
Mas isto pode significar que é necessário relativizar a própria
juventude pensada apenas a partir do fator “idade”: mais impor-
tante, para definir a juventude, pode ser a relação experimental
com a realidade social e os valores (GROPPO, 2006), relação que
os sujeitos podem estabelecer em diferentes momentos de sua
vida – e a ida à educação superior, ou o seu retorno, mesmo na
idade “adulta”, pode ser uma reedição desta relação experimen-
tal, portanto juvenil, com a realidade social.
Outro fator de heterogeneidade advém do fato de que este
estudante não é sempre universitário. Larga parcela deles estão
em IES que não são universidades (como centros universitários,
faculdades integradas e faculdades isoladas), e vários até em
cursos superiores não-universitários, como aqueles matricula-
dos em Institutos Técnicos Federais e centros tecnológicos es-
taduais, municipais e privados. Há também a possibilidade, pre-
vista na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) de 1996, de
cursos sequenciais e cursos por áreas de saber.
Há de se considerar a heterogeneidade das motivações para
a busca da educação superior. Entretanto, talvez aí se encontre
um denominador comum. Cresce, a ponto de não ser desmedido
afirmar ser ela hoje hegemônica, a busca por melhores posições
no mundo do trabalho (em geral, entendido pelos próprios estu-
dantes no sentido estrito de “mercado” de trabalho). (CARNEI-
RO & BEHR, 2012, GROPPO, 2005). É uma condição que marca
boa parte dos adultos que retorna à educação formal, para sua
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 844
primeira ou mesmo segunda graduação: são homens e mulhe-
res trabalhadores, em busca de ascensão ou “empregabilidade”.
(SILVA, 2000).
Mas não é apenas dos estudantes adultos a preocupação
enorme, ansiosa, com o mundo do trabalho. É parte da condição
juvenil no Brasil atual, mesmo, a centralidade da questão do tra-
balho na definição da identidade de seus jovens. A questão do
trabalho ganha posição fundamental no pensamento dos jovens,
mais do que a educação (ABRAMO & BRANCO, 2005), e a própria
educação muitas vezes é pensada como formação para o trabalho
ou como meio para um melhor acesso ao mundo do trabalho.
A centralidade do fator trabalho, ao lado de outros fatores,
faz com os que os jovens estudantes das IES,sobretudo das priva-
das, destoem bastante da imagem que por vezes estabelecemos
para o estudante “ideal”: politizado, radical em suas convicções
políticas e contestador contracultural. Trabalhando por muitos
anos em uma IES privada de caráter confessional, conheci ou-
tras formas de rebeldia estudantil, por vezes tachada de “indisci-
plina”, derivada de uma concepção instrumental do ensino e do
saber, que perguntava apenas sobre o que seria útil para “se dar
bem no mercado” ou, ainda menos, apenas o que era preciso para
“passar na matéria”. Apesar do seu alto teor de instrumentalida-
de, havia nesta IES alguma forma de auto-organização juvenil e
estudantil, como centros acadêmicos e eventos culturais.
Ao iniciar a docência em uma universidade pública, não me
surpreendi em reencontrar uma importante dose desta relação
instrumental com o saber e o ensino, bem como não foi espanto
reencontrar a preocupação central com o trabalho. Mas a me-
lhor – e mais grata – surpresa foi encontrar uma pulsante vida
coletiva juvenil-estudantil, que oferecia aos estudantes – mas
também aos seus professores – outras lições e possibilidades de
se relacionar com o conhecimento e conceber sua inserção na
sociedade (para além da “empregabilidade”). É claro que a vida
auto-organizada dos estudantes não passa apenas pela atuação
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 845
diretamente política, nem apenas por ideologias ditas progres-
sistas. Há coletivos estudantis atuantes em campos como a cul-
tura, a religião e o lazer. Há manifestações, nem sempre tão pú-
blicas,que indicam processos educativos informais e não formais
que cultivam valores conservadores e retrógrados. Mas toda esta
vibrante “cultura juvenil-estudantil” é tema importante de estu-
do, no esforço de compreender a dimensão educativa não formal
envolvida nas suas práticas e discursos, bem como as relações
que têm ou que que podem estabelecer com os processos formais
da universidade, como a extensão e o ensino.
Alguns colegas há mais tempo atuando nesta universida-
de do Sul de Minas Gerais comentaram que, a princípio, a vida
estudantil não era assim tão pulsante. A Unifal-MG formou-se
apenas em 2005, a partir de uma tradicional escola de farmá-
cia e odontologia, e sua grande expansão deu-se com o Reuni,
em 2008. O crescimento da instituição e a adoção de cursos na
área das ciências humanas e licenciaturas são fatores apontados
como responsáveis por esta politização da vida estudantil, que
tem favorecido inclusive os docentes. Contudo, desconfio que
outros fatores vêm se somar em favor da gestação desta vibrante
educação não formal no meio estudantil. Tratam-se de práticas e
organizações, de caráter cultural, social, político, esportivo etc.,
que parecem irradiar-se de fora para dentro da universidade. Se
houve um tempo em que ser jovem era ser “estudante”, hoje são
muitas as fontes da identidade juvenil (MISCHE, 1997), fontes
que vão inclusive influir no modo de ser jovem dos estudantes
universitários e em suas organizações.
É verdade que esta pesquisa propõe tratar da formação po-
lítica em um tipo de IES – uma universidade pública de porte
mediano – que não representa a maioria das IES no Brasil atual.
Entretanto, ela pode demonstrar a importância deste modelo de
ensino superior para gerar um ambiente favorável à auto-for-
mação social e política dos jovens estudantes – ainda que pouco
pela ação consciente da instituição, e mais pela iniciativa dos
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 846
próprios estudantes. Reverter a tendência atual do ensino supe-
rior – ainda acessível a poucos e favorável às instituições priva-
das – ou seja, apostar no ensino público ao alcance de muitos,
quiçá de todos que assim o desejarem, pode contribuir para a
própria (auto)formação política dos nossos jovens.
Mesmo no presente, contudo, este efeito formador pode-
ria ser multiplicado por um maior reconhecimento, por parte da
universidade, do caráter educativo das organizações juvenis que
atuam em seu seio.
ORGANIZAÇÕES JUVENIS
A escolha do termo “organizações juvenis”, em detrimento
de outras, como organizações estudantis ou movimento estu-
dantil, para tratar dos coletivos auto-organizados de jovens es-
tudantes nas IES, foi influenciada por uma estudante de Ciências
Sociais, militante de uma rede de organizações juvenis. Ela argu-
mentou sobre a pertinência deste termo para tratar de uma série
de coletivos formados por estudantes, no interior da universi-
dade, que não tinha necessariamente a intenção de disputar as
entidades estudantis oficiais (como CAs e DCE) e que poderiam
ter sido originalmente formados fora da universidade, atuando
em temas diversos da chamada política estudantil e para além
dos muros da universidade.
As organizações juvenis, neste sentido mais lato, parecem
referendar recentes teorizações sobre a participação política.
Tratando de bibliografia sobre participação (FARNETI, 1998, PI-
ZZORNO, 1975, BORBA, 2012, MISCHE, 1997, CARRANO, 2002,
KRISCHKE, 2005, SOUZA, 2009, SOUZA, 2011, RIZZINI & TIS-
DALL, 2012) podemos dizer que há três tipos de teorias ou con-
cepções, no interior da sociologia política, sobre a participação:
tradicionais, críticas e contemporâneas.
As concepções tradicionais ou clássicas de participação
partem do suposto de que é desejável ou normal a manuten-
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 847
ção/ reprodução da macroestrutura social e política dada, ou a
sua “evolução” linear e progressiva. Compõem o paradigma da
“representação”, que reconhece tão somente a participação nos
mecanismos institucionalizados da democracia representativa
(eleições, partidos e governos).
As concepções críticas de participação privilegiam as ma-
cro-transformações, reformistas ou revolucionárias, da estrutura
sócio-política. Elas tendem a compor o paradigma da militância,
ou seja, a defesa de que a verdadeira participação é a adesão em
tempo integral do sujeito político à organização formal que per-
tence, como partido, sindicato e movimento estudantil.
Já as concepções contemporâneas de participação têm
duas tendências principais. Uma delas, hegemonizada atual-
mente pelas agências supranacionais de desenvolvimento (Or-
ganização das Nações Unidas, Unesco [Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura], Banco Mundial
etc.), pelos últimos governos brasileiros e pelo chamado “ter-
ceiro setor” (fundações empresariais e boa parte das ONGs [Or-
ganizações Não Governamentais]), é uma atualização das con-
cepções tradicionais. Tal concepção valoriza a participação ou
“protagonismo”, especialmente dos jovens, em prol do consenso
ou da adesão a objetivos principais já definidos por organizações
controladas por adultos. Veja-se lá a crítica ao protagonismo ju-
venil feita por Souza (2009) e Carrano (2012). Buscam menos a
participação dissidente e sim a “concertação social”, em projetos
que, por exemplo, promoveriam a “cultura da paz” nas escolas.
(CASTRO, J. 2009).
Outra concepção, que permite compreender melhor as or-
ganizações juvenis que esta pesquisa pretende investigar, se ins-
pira nos chamados Novos Movimentos Sociais (NMS) e no pós-
-estruturalismo. (MESQUITA, 2003, BUTLER & PRINCESWAL,
2012, MENDONÇA & LEITE, 2013). Tal concepção valoriza so-
bretudo as novas formas de participação não-formalizada, a que-
bra da rigidez na divisão entre o público e o privado (publicizan-
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 848
do e politizando questões outrora tratadas como tendo apenas
“cunho privado”), a articulação entre os níveis micro e macro
de participação, as temáticas identitárias (étnico-racial, de gê-
nero, ecológica, cultural etc.) e a atuação cultural ou simbólica
nas questões de poder e dominação presentes no cotidiano (tais
como racismo, machismo, degradação ambiental etc.). Em geral,
esta concepção destaca a informalidade ou a baixa formalidade
da participação e dos coletivos auto-organizados, a possibilida-
de de se formar redes (articulando o micro e o macro), a fluidez
da participação e das próprias organizações e a participação em
diversas questões e coletivos (a “militância múltipla”).
Mesquita (2003) propõe analisar as tendências mais re-
centes do ME (Movimento Estudantil) e as novas organizações
estudantis a partir do referencial teórico dos Novos Movimen-
tos Sociais (NMS). Ou seja, tanto no interior das entidades es-
tudantis tradicionais (CAs, DCEs, Uniões Estudantis Estaduais
e União Nacional dos Estudantes [UNE]), quanto nos coletivos
identitários que se formam nas IES e buscam intervir no mo-
vimento estudantil clássico (MESQUITA, 2008), há tendências
que vão criando organizações estudantis não ligadas aos canais
“tradicionais” (partidos, sindicatos e governos) e que enfatizam
aspectos culturais e lutas cotidianas e identitárias. As entidades
estudantis clássicas, como a UNE, buscaram aglutinar estes no-
vos temas. Mas o fizeram pela via institucionalizadora tradicio-
nal, como a criação de secretarias específicas para as questões de
gênero e étnico-raciais, e continuam tendo grande dificuldade
em mobilizar boa parte dos estudantes das IES. (BARBOSA, 2008,
BRANDÃO, 2008).
Em contrapartida às dificuldades da UNE, novas lingua-
gens e métodos vão aparecendo no meio estudantil, como as
executivas de curso (que já existem desde o início dos anos 1970,
mas que só ganharam força a partir dos anos 1990), os coletivos
de cultura, os grupos de estudantes negros, os coletivos de mu-
lheres universitárias, os grupos de extensão universitária orga-
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 849
nizados pelos próprios estudantes, entre outros. Eles tendem a
ser autônomos, mais democráticos e com organização mais hori-
zontal. Vêm ganhando força com ações coletivas que respondem
a muitas demandas dos estudantes e parecem expressar o sur-
gimento de uma nova “sociabilidade militante” no ME, a qual é
capaz de incorporar melhor os temas racial, de gênero, cultura e
juventude, assim como novas metodologias. (MESQUITA, 2003).
Têm aparecido inclusive organizações focadas na política
estudantil, mas independentes em relação às entidades oficiais,
muitas delas no polo ainda mais à esquerda do espectro ideoló-
gico em comparação com os “partidos” estudantis que têm he-
gemonizado a UNE. Estas organizações foram as principais res-
ponsáveis pela ocupação de diversas reitorias de universidades
públicas em 2007 e 2008 (SILVA & CASTRO, 2013). Leher (2007,
p. 98) associa estas ocupações, especialmente a da USP (Univer-
sidade de São Paulo) em 2007, a outros movimentos estudantis
recentes, principalmente na América Latina, tais como “ […] a
Revolta dos Pinguins no Chile (2006), a insurreição da juventude
francesa (2005, 2006), a Comuna de Oaxaca (2006), as gigantes-
cas mobilizações populares contra a fraude eleitoral no México
(2006) e, antes, a longa greve na Universidad Nacional Autónoma
de México (Unam), em 1999, que, na forma, aproxima-se muito
da ocupação da USP”.
Entretanto, para compreender o sentido destas novas
manifestações, talvez seja necessário ir para além da categoria
estudante e movimento estudantil. Segundo Mische (1997, p.
140), no Brasil, certamente a partir dos anos 1990, a categoria
“estudante” já não tinha mais a “multivalência” necessária para
dar conta da “diversidade de projetos em formação dos jovens”
que participaram do movimento Fora Collor. Estes jovens prefe-
riram adotar como identidade uma categoria mais abrangente,
mas mais ambígua, a de “cidadão”. Revelava-se assim a dispersão
das identidades juvenis no contexto brasileiro dos anos 1990, em
que as IES e o movimento estudantil não eram mais os “centros
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 850
da vida cultural e política juvenil” e perderam o “monopólio da
mobilização juvenil”(p.143): primeiro,pela extensão da“cultura
jovem” aos jovens trabalhadores e periféricos; segundo, porque
a rede de formação das identidades juvenis se tornou múltipla e
dispersa, incluindo, além das instituições escolares, o trabalho,
shopping centers, clubes, bairros, ruas etc. Há de se incluir tam-
bém o acesso ao consumo e ao ensino formal por mais jovens e a
diversificação do meio universitário, discutidos acima.
Müxel (1997) detectou, em pesquisa sobre a socialização
política de jovens franceses dos anos 1990, características e ten-
dências gerais que atravessavam inclusive as diferentes classes
sociais francesas, e que parecem ilustrar também nossas tendên-
cias, inclusive as atuais – como indicam resultados da pesqui-
sa de Sousa (1999) sobre novas formas de militância juvenil nos
anos 1990 e de Silva & Castro (2013) sobre os coletivos juvenis
atuais. Em linhas gerais, segundo Müxel (1997), havia uma com-
binação entre o pessimismo dos jovens em relação à política ins-
titucional (representativa e partidária) e as expectativas fortes
e ambiciosas para com a política em seu sentido amplo. Estas
expectativas aparecem na forma como a participação social po-
lítica é feita e verbalizada por estes jovens, em que se valoriza a
“democracia direta”, especialmente em ações pontuais, em fun-
ção de interesses específicos e em prol de resultados imediatos e
visíveis. Estas ações atacam concretamente tanto os problemas
reais do dia-a-dia quanto os problemas concretos em escala pla-
netária (como a questão ecológica e campanhas humanitárias).
Os modelos de associação praticados parecem combinar idea-
lismo e utilitarismo em um engajamento mais “fraternal”, que
tende a recusar rótulos ideológicos, prega a reconciliação dos in-
teresses partidários, a rejeição dos conflitos e a atuação imediata
na realidade concreta.
No Brasil atual, a forma mais marcante de realizar estas
tendências gerais dos jovens – não apenas dos franceses nos
anos 1990 – são os coletivos fluidos, ou seja, que têm baixo grau
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 851
de formalidade ou institucionalização e são formados pela asso-
ciação de jovens que têm relações de amizade ou proximidade,
como grupos culturais, artísticos, educacionais, assistenciais,
religiosos e até mesmo políticos, como o MPL (Movimento Pas-
se Livre). Silva & Castro (2013, p. 31) consideram que os jovens
engajados nestes coletivos fluidos estão “em busca de uma ‘po-
lítica sem rótulos’”. Isto significaria, primeiro, a flexibilidade
nas formas de adesão ao grupo, sem precisar assumir um projeto
ideológico bem definido, usando de modo amplo e vago o ter-
mo “solidariedade” para justificar a natureza da ação. Segundo,
a definição do grupo como “apolítico”, “apartidário” e/ou “neu-
tro”. Terceiro, o rechaço à delegação e distribuição de papéis, a
importância da amizade na fundação e manutenção do grupo,
certo temor à institucionalização do coletivo, certa evitação de
parcerias mais institucionalizadas com organizações formaliza-
das e grande importância atribuída à liberdade individual e à au-
tonomia (do indivíduo e do grupo).
Silva & Castro (2013) consideram que esta valorização
da fluidez grupal se baseia em uma noção liberal de liberdade,
que entra em choque com projetos de ordem coletiva e dificulta
lidar com a diferença e o conflito, dimensões que seriam fun-
damentais na política. Também, que a noção “subjetivista” de
transformação social adotada por estes coletivos os distancia de
uma visão da sociedade como uma totalidade imersa em jogos
de poder. Suas ações localizadas não teriam força para impactar
a macroestrutura sócio-política vigente.
Algumas das organizações juvenis da universidade que pre-
tendo investigar podem ser caracterizadas como novas formas de
organização estudantil, no sentido atribuído acima por Mesquita
(2003).Algumas são voltadas à política estudantil, outras a ques-
tões mais propriamente identitárias. Mas há uma organização
que atua ainda como um “partido” estudantil em busca de cargos
eletivos no DCE e nos colegiados acadêmicos, expressão juvenil
de tendência no interior de um partido político da esquerda.
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 852
Também existem no interior da universidade grupos que
podem ser caracterizados como coletivos fluidos,no sentido atri-
buído por Silva & Castro (2013), voltados à cultura e à religião.
No entanto, as Atléticas são organizações estudantis voltadas ao
lazer e ao esporte que se enraízam em tradições universitárias
de longa data, que por vezes expressam valores conservadores e
antidemocráticos, tais como as fraternidades universitárias pre-
sentes na Europa, Estados Unidos e mesmo no Brasil.
Ou seja, a realidade concreta da universidade é compos-
ta, em sua especificidade social e histórica, por organizações
estudantis que representam distintos processos socioculturais
e diversas camadas históricas. Não é uma situação simples, na
qual um dos autores citados acima por si só poderia dar con-
ta integralmente. Vale, portanto, ainda mais a pesquisa, a busca
por entender por meio das vozes destes estudantes como estão
se dando os processos educativos não formais no interior destes
coletivos, suas direções, contradições e possibilidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: DIMENSÕES EDUCATIVAS
DAS ORGANIZAÇÕES JUVENIS NA UNIVERSIDADE
Um evento que assisti, promovido pela organização de es-
tudantes feministas no Dia Internacional da Mulher, foi o que
deu ensejo a esta pesquisa. Nele se discutiam as relações entre os
gêneros e a necessidade de os homens repensarem suas práticas
e valores em tais relações. As mulheres estudantes convidaram
homens estudantes para darem seus relatos, sendo seguidos por
um interessante debate em que participaram mulheres e outros
homens. Tratou-se de um momento de aprendizagem, distinto
do ensino disciplinar em sala de aula. Institucionalmente, ligou-
-se à Extensão Universitária, campo que tem amparado formal-
mente muitas atividades dos jovens estudantes que são, ao seu
modo, também atividades educativas, mas de caráter não for-
mal. No caso do evento supracitado, para além de uma educação
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 853
não formal, tratou-se de uma prática educativa autogerida e que
promoveu uma espécie de autoeducação entre os estudantes.
(GROPPO, 2006). Mais ainda, também dos professores que foram
assistir, que, do papel de educadores-educandos, tornaram-se
educandos-educadores. (FREIRE, 1987).
Estava diante de um evento que promovia uma coeducação
entre gerações (PERALVA, 1997, CASTRO, L. 2009), de modo não
formal, quebrando a rígida divisão tradicional entre professor e
aluno, bem como a divisão entre adultos que sabem e jovens que
aprendem. Tal qual a proposta de Paulo Freire, ou a utopia da
autogestão dos movimentos estudantis de 1968, aprendíamos,
mestres e estudantes, adultos e jovens, em comunhão.
Tratava-se, também, de uma formação política. Não a polí-
tica pensada apenas como aquela promovida por instituições es-
tatais que supostamente detém o monopólio da força legítima ou
lutam para ocupar os cargos de mando nestas instituições (par-
tidos). Na verdade, o evento tornava público e digno de debate
questões que se pensaram durante muito tempo como reclusas
ao mundo privado: as relações entre os gêneros e o machismo.
(MESQUITA, 2008, KOLONTAI, 2011). Também, tornava patente
uma forma de atuação política em que a participação de todos os
sujeitos é valorizada, seja pela forma horizontal das relações en-
tre os membros dos coletivos feministas, seja pela livre abertura
do debate e o anseio de que seria possível intervir diretamente
na realidade, sem passar necessariamente pelo Estado e pela re-
presentação. (MÜXEL, 1997, SILVA & CASTRO, 2013).
Enfim, ficava marcada a realidade de uma formação social
e política que ia para além da noção tradicional de socialização
política. Na noção tradicional, a socialização política é promovi-
da por instituições comandadas por adultos (família e escola) e
direcionada para o aprendizado de valores vigentes nas institui-
ções políticas formais (Estado, partidos, sindicatos etc.). (OPPO,
1998). Na realidade observada, organizações e coletivos juvenis
promoviam, com apoio da universidade (da Extensão e de alguns
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 854
professores) ou sem apoio, de modo oficial, paralelo ou marginal
em relação às rotinas oficiais da instituição universitária, uma
formação política que mais se pode considerar uma autossocia-
lização política e, até mesmo, uma coeducação política entre
gerações, desafiando os limites tradicionalmente dados entre
as funções dos agentes educacionais (professores e estudantes),
das categorias etárias (jovens e adultos) e dos espaços sociais
(público e privado).
Um levantamento inicial encontrou um grande número de
organizações e coletivos juvenis atuando no interior da universi-
dade que irei investigar.
A princípio, parecem interessar mais a esta pesquisa as
organizações que têm cunho diretamente político. Elas são de
dois tipos. Primeiro, as entidades estudantis de caráter “clássi-
co”: CAs (Centros Acadêmicos) de diversos cursos e o DCE (Di-
retório Central Estudantil). Segundo, organizações juvenis que
atuam politicamente, seja no interior de partidos políticos e com
a intenção de vencer as eleições para as entidades estudantis,
seja para mobilizar os estudantes para participar de outras prá-
ticas políticas e sociais (como a que promove “escrachos” con-
tra pessoas que foram torturadores durante o regime militar e
atos de apoio ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
[MST], e os estudantes que promovem um cursinho universitá-
rio popular em uma escola pública). Recentemente, foi formado
um “Movimento das Repúblicas”, em reação à lei municipal que,
desejando coibir som alto em festas universitárias, tem levado a
polícia efetuar inúmeras multas contra repúblicas de estudantes
(mesmo quando seus moradores estão apenas ouvindo música
privadamente).
Mas a pesquisa se interessa também em conhecer possíveis
influências na formação política de outras organizações e coleti-
vos juvenis não necessariamente ligados à política institucional
ou aos movimentos sociais ditos clássicos. Alguns deles parecem
ter atuação política evidente, mas naquele sentido mais amplo,
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 855
que leva a publicizar, trazer ao debate público, questões que se
quis outrora relegar apenas ao privado, como questões de gênero
e étnico-raciais. Destacam-se os coletivos que tratam das ques-
tões das mulheres e da diversidade sexual.
Há uma miríade de outros coletivos que, se parecem atuar
em campos que se querem distantes dos sentidos de política ex-
postos acima, nem por isto deixam de ter efeitos políticos na for-
mação dos estudantes que passam por eles. Primeiro, voltados
ao lazer e aos esportes, mas principalmente promovendo festas
universitárias, as Atléticas de diversos cursos. Segundo, grupos
religiosos, não apenas cristãos (evangélicos e católicos carismá-
ticos), mas também de outras manifestações religiosas (como
um grupo de meditação budista). Terceiro, manifestações cultu-
rais ligadas à Extensão Universitária, como o grupo de maracatu.
Já em seu início, a pesquisa vem demonstrando a impor-
tância de se conhecer mais e melhor a dimensão educativa não
formal destas organizações e coletivos juvenis, que atuam ao
lado ou à margem dos processos formais de ensino. Segundo a
literatura consultada (BRANDÃO, 2001, CASTRO & MATTOS,
2009) e primeiras observações,têm grande presença na formação
política dos jovens estudantes que participam deles. Trata-se de
uma formação distinta, a princípio, daquela preconizada pelos
estudos clássicos de socialização política (OPPO, 1998), pois se
dão por meio de processos participativos, em que os jovens são
atores centrais, e que incidem diretamente na chamada esfera
pública, por vezes tornando públicas questões outrora restritas
ao mundo privado (como a assistência estudantil, a qualidade do
ensino, as relações de gênero, o preconceito racial, a homofobia
etc.). (CASTRO, 2009, MESQUITA, 2008).
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 856
UNIVERSITY YOUTH: POLITICAL PARTICIPATION AND
EDUCATIONAL PROCESSES IN A UNIVERSITY IN THE
INTERIOR OF MINAS GERAIS
Abstract: Reflections are made from literature review and cases observed
in a public university, about political participation and training processes
in the daily work of youth organizations.The text is part of research in early
stage and it was basis of conference held at the II International Colloqui-
um Education and Society. It deals about characteristics of young people
in higher education in Brazil today, the notion of youth organizations and
some educational dimensions of these in the university. Concludes about
the wealth of formative processes in the daily routine of such organiza-
tions, which participatory, democratic and self-organized methodologies.
Keywords: youth organizations,university,political education,participation.
REFERÊNCIAS
ABRAMO, H. W. & BRANCO, P. P. M. Retratos da juventude brasileira: análises de
uma pesquisa nacional. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, Instituto
Cidadania, 2005.
BARBOSA, A. O Movimento Estudantil Brasileiro: do início da década de 1990
a 2001.In: GROPPO, L. A.; ZAIDAN FILHO, M.; MACHADO, O. L. Movimentos ju-
venis na contemporaneidade. Recife: Editora Universitária UFPE, 2008, p. 53-65
BRANDÃO, C. F. Política educacional para a educação superior brasileira na
última década. Impulso. Piracicaba, 16 (40): 69-80, 2005.
BRANDÃO, C. de S. Movimento Estudantil contemporâneo: temas mobilizado-
res e formas de atuação. In: GROPPO, L. A.; ZAIDAN FILHO, M.; MACHADO,
O. L. Movimentos juvenis na contemporaneidade. Recife: Editora Universitária
UFPE, 2008, p. 66-83.
BRANDÃO, C. de S. O processo de socialização política dos universitários: a im-
portância da universidade e do movimento estudantil. Trabalho apresentado
na 24a Reunião da ANPEd, 2001. Disponível em http://24reuniao.anped.org.br/
P0315005323563.doc, Acesso em: 20/mar. /2015.
BUTLER, U. M. & PRINCESWAL, M. Cultura de participação: jovens e suas per-
cepções e práticas de cidadania. O Social em Questão. Ano XV, n. 27, p. 101-126.
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 857
CARNEIRO, M. P. & BEHR, R. R. Juventude e movimento estudantil: o trabalho
precário dos estudantes-bolsistas da UFES. EccoS – Revista Científica. São Pau-
lo, n. 29, p. 171-198, 2012,
CARRANO, P. C. R. A participação social e política de jovens no Brasil: consi-
derações sobre estudos recentes. O Social em Questão. Ano XV, n. 27, 2012, p.
83-100.
CARRANO, P. C. R. Jovens e participação política: In: SPOSITO, Marília P. (org.).
Juventude e Escolarização (1990-1998). Brasília: MEC, 2002, p. 185-202.
CASTRO, J. P. M. e. A invenção da juventude violenta. Análise da elaboração de
uma política pública. Rio de Janeiro: Laced, 2009.
CASTRO, L. R. de. Juventude e socialização política: atualizando o debate. Psi-
cologia: Teoria e Pesquisas. v. 25, n. 4, 2009, p. 479-487.
CASTRO, L. R. de. & MATTOS, A.R. O que é que a política tem a ver com a
transformação de si? Considerações sobre a ação política a partir da juventude.
Análise Social. v. XLIV (193), 2009, p. 793-823.
CHAUÍ, M. A universidade pública sob nova perspectiva. Revista Brasileira de
Educação. set.-dez./2003, n. 24, p. 5-15.
CUNHA, L. A. A universidade reformada: o golpe de 1964 e a modernização do
ensino superior. 2a. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2007.
FARNETI, P. Sociologia política. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N. & PASQUI-
NO, G. (orgs.). Dicionário de política. 11a ed. Brasília: Editora da UnB, 1998, p.
1217-1221.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
GILLIS, J. Youth and History. Tradition and change in European age relations.
1770-present, Nova York/ London: Academic Press, Expanded Student Edition,
1981.
GROPPO, L. A.; ZAIDAN FILHO, M.; MACHADO, O. L. (orgs.). Movimentos juve-
nis na contemporaneidade. Recife: Editora Universitária UFPE, 2008.
GROPPO, L. A Juventude: ensaios sobre sociologia e história das juventudes
modernas. Rio de Janeiro: Difel, 2000.
GROPPO, L. A. Os jovens estudantes-trabalhadores do Centro Unisal: algumas
reflexões. Revista de Ciências da Educação, v. 7, p. 133-156, 2005.
GROPPO, L. A. Autogestão, universidade e movimento estudantil. Campinas: Au-
tores Associados, 2006.
GROPPO,L.A..Dialética das juventudes e educação.In: MORAIS,R.NORONHA,
O. M. GROPPO, L.A.. (orgs.). Sociedade e educação: estudos sociológicos e inter-
disciplinares. Campinas: Alínea, 2008, p. 233-264.
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 858
GROPPO, L.A. Da universidade autônoma ao ensino superior operacional: con-
siderações sobre a crise da universidade e a crise do Estado nacional. Avaliação.
v. 16, n. 1, p. 37-55, 2011.
KOLONTAI, A. A nova mulher e a moral sexual. São Paulo: Expressão Popular,
2011.
KRISCHKE, P. J. Questões sobre juventude, cultura política e participação de-
mocrática. In: ABRAMO, Helena Wendel & BRANCO, Pedro Paulo Mattoni. Re-
tratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, Instituto Cidadania, 2005, p. 323-350.
LEHER, R. Rebeliões estudantis refundam a luta social pelo público. Margem
Esquerda. n. 10, 2007, p. 97-102.
MENDONÇA, Viviane Melo de & LEITE, Kelen Christina. Uma análise sobre as
relações entre educação, juventude e movimentos sociais: o hip-hop brasileiro.
Impulso, Piracicaba, v. 25, n 36, p. 73-85, 2013.
MESQUITA, M. R. Movimento estudantil brasileiro: práticas militantes na ótica
dos Novos Movimentos Sociais. Revista Crítica de Ciências Sociais. n. 66, 2003,
p. 117-149.
MESQUITA, M. R. O movimento estudantil e as questões de gênero e de diver-
sidade sexual: o desafio de recriar a militância. In: GROPPO, L. A.; ZAIDAN
FILHO, M. & MACHADO, O. L. (org.). Movimentos juvenis na contemporaneidade.
Recife: Editora Universitária da UFPE, 2008, p. 84-107.
MISCHE, A. De estudante a cidadão: rede de jovens e participação política. Re-
vista Brasileira de Educação. n. 5 e 6, 1997, p. 134-150.
MÜXEL, A. Jovens dos anos noventa: à procura de uma política sem “rótulos”.
Revista Brasileira de Educação. maio/ago. de 1997, n. 5-6, p. 151-166.
OPPO, A. Socialização política. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N. & PASQUINO,
G. (org.). Dicionário de política. 11a ed. Brasília: Editora da UnB, 1998, p. 1202-
1206.
PERALVA, A. O jovem como modelo cultural. Revista Brasileira de Educação.
maio/ago. de 1997, n. 5-6, p. 15-24.
PIZZORNO, A. Introducción al estudio de la participación política. In: ______,
KAPLAN, M. & CASTELLS, M. Participación y cambio social em la problemática
contemporânea. Buenos Aires: Ediciones Siape-Planteos, 1975, p. 13-82.
RIZZINI, I. & TISDALL, K. (orgs.) Dossiê: Participação infantil e juvenil. O So-
cial em Questão. Ano XV, n. 27, p. 13-130.
RODRIGUES, J. Frações burguesas em disputa e a educação superior no governo
Lula. Revista Brasileira de Educação. v. 12, n. 34, jan.abr. de 2007, p. 120-136
educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 859
SANTOS,B.de S.Da idéia de universidade à universidade de idéias.In: _________.
Pela mão de Alice. O social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Corte-
za, 2001, p. 187-233.
SILVA, C. F. S. & CASTRO, L. R. de. Para além das fronteiras convencionais do
ativismo político: a inserção de jovens em “coletivos fluidos”. In: BEZERRA,
H. D. & OLIVEIRA, S. M. de. Juventude no século XXI: dilemas e perspectivas.
Goiânia: Cânone Editorial, 2013, p. 14-44.
SILVA, T. M.T. da. Ensino superior noturno: sonhos e desencantos. São Paulo: Ed.
Salesiana, Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2000.
SOUSA, José Vieira de. Educação superior no Distrito Federal: consensos, con-
flitos e transformações na configuração de um campo. Brasília: Faculdade de
Educação da UnB; Libra Livros, 2013.
SOUZA, Janice Tirelli P. de. Os jovens contemporâneos e a política contra o
instituído. In: GROPPO, L. A., ZAIDAN JR., M. e MACHADO, O. L. (orgs.). Mo-
vimentos juvenis na contemporaneidade. Recife: Editora Universitária da UFPE,
2008, p. 117-156.
SOUZA, J. T. P. de. Reinvenções da utopia: a militância política de jovens nos
anos 90. São Paulo: Hucitec, 1999.
SOUZA, P. L.A. de.A participação nas polítcas públicas de juventude: caminhos
trilhados, caminhos a construir. In: PAPA, F. C. de & FREITAS, M. V. de. (orgs.).
Juventude em pauta: políticas públicas no Brasil. São Paulo: Petrópolis, 2011, p.
163-189.
SOUZA, R. M. Protagonismo Juvenil: o discurso da juventude sem voz. Revista
Brasileira. Adolescência e Conflitualidade, 1 (1): 1-28, 2009.

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Dissertação shimamoto - cap i
Dissertação   shimamoto - cap iDissertação   shimamoto - cap i
Dissertação shimamoto - cap iMariclei2011
 
Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...
Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...
Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...Universidad de la Empresa UDE
 
O trabalho do instituto universitário nacional de diretos humanos madres de p...
O trabalho do instituto universitário nacional de diretos humanos madres de p...O trabalho do instituto universitário nacional de diretos humanos madres de p...
O trabalho do instituto universitário nacional de diretos humanos madres de p...fontouramail
 
Texto espaços socioeducativos laura fonseca - dia 30 de setembro
Texto espaços socioeducativos   laura fonseca - dia 30 de setembroTexto espaços socioeducativos   laura fonseca - dia 30 de setembro
Texto espaços socioeducativos laura fonseca - dia 30 de setembroProfesonline
 
A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB
A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEBA CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB
A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEBSilvani Silva
 
Trabalhos - Grupos de Discussão
Trabalhos - Grupos de DiscussãoTrabalhos - Grupos de Discussão
Trabalhos - Grupos de DiscussãoErecssul
 
Saltofuturo Eja Set2004 Progr3
Saltofuturo Eja Set2004 Progr3Saltofuturo Eja Set2004 Progr3
Saltofuturo Eja Set2004 Progr3luzirrege
 
Levantamento da producão GT Educ Popular ANPED
Levantamento da producão GT Educ Popular ANPEDLevantamento da producão GT Educ Popular ANPED
Levantamento da producão GT Educ Popular ANPEDvallmachado
 
Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...
Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...
Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...Universidad de la Empresa UDE
 
Ação afirmativa no ensino superior entre a excelência e a justiça social
Ação afirmativa no ensino superior entre a excelência e a justiça socialAção afirmativa no ensino superior entre a excelência e a justiça social
Ação afirmativa no ensino superior entre a excelência e a justiça socialGeraa Ufms
 
01 freitas, l. c. de. a internalizac a o da exclusa_o
01 freitas, l. c. de. a internalizac a o da exclusa_o01 freitas, l. c. de. a internalizac a o da exclusa_o
01 freitas, l. c. de. a internalizac a o da exclusa_obecker462012
 
Políticas Públicas de Educação
Políticas Públicas de EducaçãoPolíticas Públicas de Educação
Políticas Públicas de EducaçãoPetianos
 
5541
55415541
5541rpabr
 
Limites das políticas públicas no enfrentamento de problemas educacionais: um...
Limites das políticas públicas no enfrentamento de problemas educacionais: um...Limites das políticas públicas no enfrentamento de problemas educacionais: um...
Limites das políticas públicas no enfrentamento de problemas educacionais: um...Gabriel Cardoso
 

Was ist angesagt? (20)

Keila01 projeto
Keila01 projetoKeila01 projeto
Keila01 projeto
 
Dissertação shimamoto - cap i
Dissertação   shimamoto - cap iDissertação   shimamoto - cap i
Dissertação shimamoto - cap i
 
Estados del arte 4
Estados del arte 4Estados del arte 4
Estados del arte 4
 
Estados del arte 2
Estados del arte 2Estados del arte 2
Estados del arte 2
 
Cie cidadania
Cie cidadaniaCie cidadania
Cie cidadania
 
Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...
Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...
Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...
 
O trabalho do instituto universitário nacional de diretos humanos madres de p...
O trabalho do instituto universitário nacional de diretos humanos madres de p...O trabalho do instituto universitário nacional de diretos humanos madres de p...
O trabalho do instituto universitário nacional de diretos humanos madres de p...
 
Texto espaços socioeducativos laura fonseca - dia 30 de setembro
Texto espaços socioeducativos   laura fonseca - dia 30 de setembroTexto espaços socioeducativos   laura fonseca - dia 30 de setembro
Texto espaços socioeducativos laura fonseca - dia 30 de setembro
 
A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB
A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEBA CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB
A CONTRIBUIÇÃO EDUCACIONAL DO MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE- MEB
 
Trabalhos - Grupos de Discussão
Trabalhos - Grupos de DiscussãoTrabalhos - Grupos de Discussão
Trabalhos - Grupos de Discussão
 
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR E CONTEXTOS EMERGENTES
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR E CONTEXTOS EMERGENTESQUALIDADE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR E CONTEXTOS EMERGENTES
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR E CONTEXTOS EMERGENTES
 
Cuaderno de eduación 05 Dra. Lidia Barboza Norbis
Cuaderno de eduación 05 Dra. Lidia Barboza NorbisCuaderno de eduación 05 Dra. Lidia Barboza Norbis
Cuaderno de eduación 05 Dra. Lidia Barboza Norbis
 
Saltofuturo Eja Set2004 Progr3
Saltofuturo Eja Set2004 Progr3Saltofuturo Eja Set2004 Progr3
Saltofuturo Eja Set2004 Progr3
 
Levantamento da producão GT Educ Popular ANPED
Levantamento da producão GT Educ Popular ANPEDLevantamento da producão GT Educ Popular ANPED
Levantamento da producão GT Educ Popular ANPED
 
Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...
Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...
Avances de investigación: Políticas Educativas, Cultura y Tecnologías de la E...
 
Ação afirmativa no ensino superior entre a excelência e a justiça social
Ação afirmativa no ensino superior entre a excelência e a justiça socialAção afirmativa no ensino superior entre a excelência e a justiça social
Ação afirmativa no ensino superior entre a excelência e a justiça social
 
01 freitas, l. c. de. a internalizac a o da exclusa_o
01 freitas, l. c. de. a internalizac a o da exclusa_o01 freitas, l. c. de. a internalizac a o da exclusa_o
01 freitas, l. c. de. a internalizac a o da exclusa_o
 
Políticas Públicas de Educação
Políticas Públicas de EducaçãoPolíticas Públicas de Educação
Políticas Públicas de Educação
 
5541
55415541
5541
 
Limites das políticas públicas no enfrentamento de problemas educacionais: um...
Limites das políticas públicas no enfrentamento de problemas educacionais: um...Limites das políticas públicas no enfrentamento de problemas educacionais: um...
Limites das políticas públicas no enfrentamento de problemas educacionais: um...
 

Ähnlich wie Juventudes universitárias e participação política

Apresentação Rejane
Apresentação RejaneApresentação Rejane
Apresentação Rejanejorgellss
 
Utf 8''ppt por elisangela costa - tr 45 - cap. 5 os jovens, o em e a comuni...
Utf 8''ppt  por elisangela costa - tr 45 - cap. 5  os jovens, o em e a comuni...Utf 8''ppt  por elisangela costa - tr 45 - cap. 5  os jovens, o em e a comuni...
Utf 8''ppt por elisangela costa - tr 45 - cap. 5 os jovens, o em e a comuni...Isabel Santos
 
Conselho escolar e a relação entre a escola e o desenvolvimento com igualdade...
Conselho escolar e a relação entre a escola e o desenvolvimento com igualdade...Conselho escolar e a relação entre a escola e o desenvolvimento com igualdade...
Conselho escolar e a relação entre a escola e o desenvolvimento com igualdade...UBIRAJARA COUTO LIMA
 
Fichamento do livro de Carlos Brandão "O Que é Educação Popular" cap. 2 e 3
 Fichamento do livro de Carlos Brandão "O Que é Educação Popular" cap. 2 e 3 Fichamento do livro de Carlos Brandão "O Que é Educação Popular" cap. 2 e 3
Fichamento do livro de Carlos Brandão "O Que é Educação Popular" cap. 2 e 3Claraluz Gris
 
A sociedade da informação e o novo paradigma de construção de aprendizagens s...
A sociedade da informação e o novo paradigma de construção de aprendizagens s...A sociedade da informação e o novo paradigma de construção de aprendizagens s...
A sociedade da informação e o novo paradigma de construção de aprendizagens s...Happy family
 
Cartilha eliezer final (1)
Cartilha eliezer final (1)Cartilha eliezer final (1)
Cartilha eliezer final (1)tamyris24
 
Enviado fichamento de leitura - eixo vi - justiça, educação e trabalho
Enviado   fichamento de leitura - eixo vi - justiça, educação e trabalhoEnviado   fichamento de leitura - eixo vi - justiça, educação e trabalho
Enviado fichamento de leitura - eixo vi - justiça, educação e trabalhoJoyce Mourão
 
Apostila de práticas pedagogicas III
Apostila de práticas pedagogicas IIIApostila de práticas pedagogicas III
Apostila de práticas pedagogicas IIIUFMA e UEMA
 
Portfólio Gestão do Projeto Educativo
Portfólio Gestão do Projeto Educativo Portfólio Gestão do Projeto Educativo
Portfólio Gestão do Projeto Educativo PatriciaFrana46
 
Ensino superior em tempos de riscos cb martins
Ensino superior em tempos de riscos cb martinsEnsino superior em tempos de riscos cb martins
Ensino superior em tempos de riscos cb martinsProf.º Carlos Lopes
 
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...Otavio Luiz Machado
 
Texto sobre protestos públicos em Recife
Texto sobre protestos públicos em RecifeTexto sobre protestos públicos em Recife
Texto sobre protestos públicos em RecifeOtavio Luiz Machado
 
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08otaviomachado3
 

Ähnlich wie Juventudes universitárias e participação política (20)

Políticas públicas para a educação gerontológica no df
Políticas públicas para a educação gerontológica no dfPolíticas públicas para a educação gerontológica no df
Políticas públicas para a educação gerontológica no df
 
Dualismo perverso - libaneo
Dualismo perverso -  libaneoDualismo perverso -  libaneo
Dualismo perverso - libaneo
 
Apresentação Rejane
Apresentação RejaneApresentação Rejane
Apresentação Rejane
 
Artigo assistente scial na escola
Artigo assistente scial na escolaArtigo assistente scial na escola
Artigo assistente scial na escola
 
Utf 8''ppt por elisangela costa - tr 45 - cap. 5 os jovens, o em e a comuni...
Utf 8''ppt  por elisangela costa - tr 45 - cap. 5  os jovens, o em e a comuni...Utf 8''ppt  por elisangela costa - tr 45 - cap. 5  os jovens, o em e a comuni...
Utf 8''ppt por elisangela costa - tr 45 - cap. 5 os jovens, o em e a comuni...
 
Groppo e fernandes pro jovem
Groppo e fernandes pro jovemGroppo e fernandes pro jovem
Groppo e fernandes pro jovem
 
Ensino pesquisextensão
Ensino pesquisextensãoEnsino pesquisextensão
Ensino pesquisextensão
 
Slides tcc definitivo.
Slides tcc definitivo.Slides tcc definitivo.
Slides tcc definitivo.
 
Conselho escolar e a relação entre a escola e o desenvolvimento com igualdade...
Conselho escolar e a relação entre a escola e o desenvolvimento com igualdade...Conselho escolar e a relação entre a escola e o desenvolvimento com igualdade...
Conselho escolar e a relação entre a escola e o desenvolvimento com igualdade...
 
Fichamento do livro de Carlos Brandão "O Que é Educação Popular" cap. 2 e 3
 Fichamento do livro de Carlos Brandão "O Que é Educação Popular" cap. 2 e 3 Fichamento do livro de Carlos Brandão "O Que é Educação Popular" cap. 2 e 3
Fichamento do livro de Carlos Brandão "O Que é Educação Popular" cap. 2 e 3
 
A sociedade da informação e o novo paradigma de construção de aprendizagens s...
A sociedade da informação e o novo paradigma de construção de aprendizagens s...A sociedade da informação e o novo paradigma de construção de aprendizagens s...
A sociedade da informação e o novo paradigma de construção de aprendizagens s...
 
Cartilha eliezer final (1)
Cartilha eliezer final (1)Cartilha eliezer final (1)
Cartilha eliezer final (1)
 
Enviado fichamento de leitura - eixo vi - justiça, educação e trabalho
Enviado   fichamento de leitura - eixo vi - justiça, educação e trabalhoEnviado   fichamento de leitura - eixo vi - justiça, educação e trabalho
Enviado fichamento de leitura - eixo vi - justiça, educação e trabalho
 
Apostila de práticas pedagogicas III
Apostila de práticas pedagogicas IIIApostila de práticas pedagogicas III
Apostila de práticas pedagogicas III
 
Portfólio Gestão do Projeto Educativo
Portfólio Gestão do Projeto Educativo Portfólio Gestão do Projeto Educativo
Portfólio Gestão do Projeto Educativo
 
Ensino superior em tempos de riscos cb martins
Ensino superior em tempos de riscos cb martinsEnsino superior em tempos de riscos cb martins
Ensino superior em tempos de riscos cb martins
 
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
3 texto correto ciso 2012 otavio luiz machado múltiplas juventudes protestos ...
 
Texto sobre protestos públicos em Recife
Texto sobre protestos públicos em RecifeTexto sobre protestos públicos em Recife
Texto sobre protestos públicos em Recife
 
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
Texto correto ciso 2012 otávio luiz machado gt19 08
 
Curso online unieducar educacao integral
Curso online unieducar educacao integralCurso online unieducar educacao integral
Curso online unieducar educacao integral
 

Juventudes universitárias e participação política

  • 1. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 838 ARTIGOTEMÁTICO JUVENTUDES UNIVERSITÁRIAS: PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E PROCESSOS EDUCATIVOS EM UMA UNIVERSIDADE DO INTERIOR DE MINAS GERAIS Luís Antonio Groppo 1 Resumo: São feitas reflexões, a partir de revisão bibliográfica e de casos observados em uma universidade pública, sobre o tema da participação política e processos formativos no trabalho cotidiano de organizações ju- venis. Parte de pesquisa em fase inicial, o texto foi fundamento de confe- rência realizada no II Colóquio Internacional Educação e Sociedade. Trata de algumas características dos jovens na Educação Superior no Brasil atu- al, da noção de organizações juvenis e de algumas dimensões educativas destas na universidade pesquisada. Conclui a respeito da riqueza dos pro- cessos formativos presentes no cotidiano de tais organizações, em que se praticam metodologias participativas, democráticas e auto-organizadas. Palavras-chave: organizações juvenis, universidade, formação política, participação. INTRODUÇÃO Neste artigo trouxe o tema da educação – via educação não-formal e formação política – ao âmago dos meus dizeres. 1 Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Uni- camp); Professor da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), atuando nos cursos de graduação em Ciências Sociais, Pedagogia, História e no Pro- grama de Pós-Graduação em Educação; Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). E-mail > prograd@ unifal-mg.edu.br
  • 2. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 839 Fundamentalmente, revisitei a proposta da pesquisa que venho atualmente desenvolvendo e trouxe alguns de seus primeiros re- sultados. Trata-se da pesquisa “A dimensão educativa das orga- nizações juvenis: Estudo dos processos educativos não formais e da formação política no interior de organizações juvenis de uma universidade pública do interior de Minas Gerais”, apoiada com Bolsa de Produtividade em Pesquisa pelo CNPq (Conselho Na- cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR A juventude, do ponto de vista das Ciências Sociais, par- ticularmente da Sociologia, pode ser considerada como uma ca- tegoria social que compõe a estrutura das categorias etárias, em sociedades que reconhecem a juventude como parte do curso da vida. (GROPPO, 2000). Defende-se aqui o que se chama de concepção dialética das juventudes modernas e contemporâneas. Por meio desta, conce- be-se o processo de modernização também como a tentativa de instituições sociais “moldarem” a juventude: escolas, orfanatos, grupos juvenis controlados por adultos (ligados a Estados, par- tidos, igrejas etc.), universidades, mídias eletrônicas e indústria cultural. Deste modo, emerge uma nova realidade social, em que indivíduos com idades semelhantes vivem próximos, ou nutrem expectativas comuns mesmo quando distantes do espaço. É des- ta nova realidade que podem vir a surgir manifestações concre- tas ou o desejo de mais autonomia, quando indivíduos e grupos juvenis desenvolvem identidades, vivências e valores destoantes em parte ou em sua totalidade dos padrões sociais estabelecidos. Neste sentido, criam grupos juvenis informais (não controlados por adultos), podem mobilizar-se politicamente em movimentos estudantis ou participarem de revoltas, greves, guerrilhas etc., podem traduzir seu desconforto para com os valores tradicionais por meio de revoltas comportamentais e revoluções culturais,
  • 3. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 840 podem despejar suas insatisfações diante das estruturas socioe- conômicas via vandalismo, delinquência ou “conflito com a lei”. (GROPPO, 2008, GILLIS, 1981). Cabe defender ainda a diversidade das vivências da juven- tude, mesmo em dado contexto bem destacado. Para compreen- der dada condição juvenil, é necessário correlacionar o aspecto juvenil com outros fatores sociais, tais como classe social, gê- nero, condição urbano-rural, religiosidade, etnia etc. Saltam aos olhos, na realidade concreta, do mundo vivido, juventudes. (GROPPO, 2000). Compreender as muitas formas de ser da con- dição juvenil em nosso tempo, sob um olhar inclusive histórico, é uma importante contribuição que a as ciências sociais podem dar aos que se debruçam sobre a relação entre juventude e ensi- no superior. Antes, porém, é preciso lembrar que há uma grande hete- rogeneidade na conformação da educação superior no Brasil e no mundo. É errado tratar a educação superior de modo homogêneo, como se houvesse, no caso de nosso país, uma “universidade bra- sileira”. Há ampla diversidade institucional e a diferença não é apenas entre IES (Instituições de Educação Superior) públicas e privadas, mas também dentro delas. “Universidade” é mesmo ex- ceção: havia no Brasil 130 universidades em 2010 (8% do total das IES). (SOUSA, 2013). E ainda assim, na prática, muitas vezes o que é chamado de universidade é um mero agregado de faculdades, dada a origem tardia da universidade no Brasil. (CUNHA, 2007). Entretanto, é inegável a importância da “universidade”, até hoje, como modelo de IES. Mesmo agora, é forte este modelo em nosso imaginário. Se o movimento histórico, até certo ponto, pareceu realizar este modelo imaginado e desejado, a partir de certo momento, distanciou-se muito dele. Este movimento his- tórico de quase-realização e crise do modelo universidade pode ser observado dentro do conjunto de países que afirmam formar o “mundo ocidental”, de modo mais característico a Europa e Es- tados Unidos, mas também a América Latina. Trata-se da pas-
  • 4. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 841 sagem da universidade como instituição hegemônica na educa- ção superior, de autonomia relativa, a uma educação superior de caráter mais “operacional”, com grande diversidade de tipos de instituições e modalidades de ensino. (SANTOS, 2001, CHAUÍ, 2003, GROPPO, 2011). Deste modo, os governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) colocaram em questão o próprio conceito de uni- versidade no Brasil, em especial a pública, mais ainda a federal, descontruindo o pouco que havia sido efetivado em nosso país da universidade-instituição de autonomia relativa. (BRANDÃO, 2005). Há também um fenômeno de privatização da esfera públi- ca, com IES públicas tendo de buscar recursos alternativos para se financiar, prestando serviços como assessorias, consultorias, cursos de especialização e extensão pagos, passando também a ser controlados pelo mercado, além do Estado. (CHAUÍ, 2003). Nos primeiros anos dos governos de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010), a educação superior ainda viveu sob os efeitos das reformas do período anterior. Relatório elaborado por Grupo de Trabalho Interministerial em 2003, de certa forma, legitimou a reforma do Estado e da educação superior dos governos Fer- nando Henrique Cardoso. Apesar de fortes críticas vindas da so- ciedade contra o Relatório, as políticas de governo nele baseados foram paulatinamente implementadas, mas nem todas os pro- gramas, projetos e ações foram mera continuidade do que estava dado. (RODRIGUES, 2007, SOUSA, 2013). Como diferenciação, destacam-se medidas para a chama- da “democratização da educação superior, pública, gratuita e de qualidade” para o acesso de estudantes das classes populares às IES públicas, como o sistema de cotas, o Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) e a criação e expansão dos IFs (Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia). Contudo, outras medidas tiveram caráter mais polêmico, para os que defendem o modelo da universidade pública: a cria-
  • 5. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 842 ção do SINAES (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Su- perior) em 2004, forma menos grosseira de avaliação, mas que reforça o papel avaliador do Estado; o ProUni (Programa Univer- sidade para Todos) e a ampliação do FIES (Fundo de Financia- mento ao Estudante do Ensino Superior) para financiar estudan- tes em IES privadas. Enquanto forma-se um sistema complexo na educação superior, dominado por um mercado crescentemente controla- do por grandes empresas, as taxas de escolarização no grau su- perior continuam sofríveis em nosso país. Considerando a taxa bruta de escolarização universitária (total de matrículas na edu- cação superior em relação ao total da população na faixa etária de 18 a 24 anos), o Brasil tinha taxa de 13% em 1990, 17,3% em 2004 e 26,7% em 2009. Só para motivo de comparação, esta taxa era, em 2009, de 52% no Chile, 64% no Uruguai e 82% nos EUA. (SOUSA, 2013). Se a educação superior no Brasil se massificou nos últi- mos anos, ela está muito longe da democratização, ou seja, ao acesso de todos a um direito social a ser garantido por recursos públicos, preferencialmente em instituições públicas, e de qua- lidade. Mais característica que a sua generalização, é a hetero- geneidade da educação superior no Brasil. Primeiro, no tipo de instituições: cursos isolados, faculdades, faculdades integradas, centros universitários, universidades, ensino superior não-uni- versitário (como os institutos tecnológicos). Segundo, no tipo de mantenedores: públicos (governo federal, estados e municípios) e privados (confessionais, filantrópicos, comunitários e particu- lares). Terceiro, de objetivos: pesquisa, formação profissional, propedêutica científica, extensão, especialização, formação de pesquisador (pós-graduação stricto sensu). Há também que se considerar a heterogeneidade no próprio interior das institui- ções, em especial naquelas de maior porte, já que, no Brasil as universidades, faculdades integradas e centros universitários, em geral, são mera reunião de cursos, sem contar a diversidade
  • 6. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 843 interna nos objetivos e no grau de prestígio ou importância das unidades-membro (cursos, departamentos, institutos). Se há heterogeneidade no sistema educacional superior no Brasil hoje, o mesmo pode ser dito dos seus estudantes. Pri- meiro, há de se considerar a diversidade gerada por fatores so- cioculturais, tais como classe social, região, etnia, gênero e até idade. Sobre a idade, é preciso relativizar a imagem do estudante da educação superior como jovem. Vários estudantes estão para além da faixa etária que tradicionalmente se associa à juventude. Mas isto pode significar que é necessário relativizar a própria juventude pensada apenas a partir do fator “idade”: mais impor- tante, para definir a juventude, pode ser a relação experimental com a realidade social e os valores (GROPPO, 2006), relação que os sujeitos podem estabelecer em diferentes momentos de sua vida – e a ida à educação superior, ou o seu retorno, mesmo na idade “adulta”, pode ser uma reedição desta relação experimen- tal, portanto juvenil, com a realidade social. Outro fator de heterogeneidade advém do fato de que este estudante não é sempre universitário. Larga parcela deles estão em IES que não são universidades (como centros universitários, faculdades integradas e faculdades isoladas), e vários até em cursos superiores não-universitários, como aqueles matricula- dos em Institutos Técnicos Federais e centros tecnológicos es- taduais, municipais e privados. Há também a possibilidade, pre- vista na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) de 1996, de cursos sequenciais e cursos por áreas de saber. Há de se considerar a heterogeneidade das motivações para a busca da educação superior. Entretanto, talvez aí se encontre um denominador comum. Cresce, a ponto de não ser desmedido afirmar ser ela hoje hegemônica, a busca por melhores posições no mundo do trabalho (em geral, entendido pelos próprios estu- dantes no sentido estrito de “mercado” de trabalho). (CARNEI- RO & BEHR, 2012, GROPPO, 2005). É uma condição que marca boa parte dos adultos que retorna à educação formal, para sua
  • 7. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 844 primeira ou mesmo segunda graduação: são homens e mulhe- res trabalhadores, em busca de ascensão ou “empregabilidade”. (SILVA, 2000). Mas não é apenas dos estudantes adultos a preocupação enorme, ansiosa, com o mundo do trabalho. É parte da condição juvenil no Brasil atual, mesmo, a centralidade da questão do tra- balho na definição da identidade de seus jovens. A questão do trabalho ganha posição fundamental no pensamento dos jovens, mais do que a educação (ABRAMO & BRANCO, 2005), e a própria educação muitas vezes é pensada como formação para o trabalho ou como meio para um melhor acesso ao mundo do trabalho. A centralidade do fator trabalho, ao lado de outros fatores, faz com os que os jovens estudantes das IES,sobretudo das priva- das, destoem bastante da imagem que por vezes estabelecemos para o estudante “ideal”: politizado, radical em suas convicções políticas e contestador contracultural. Trabalhando por muitos anos em uma IES privada de caráter confessional, conheci ou- tras formas de rebeldia estudantil, por vezes tachada de “indisci- plina”, derivada de uma concepção instrumental do ensino e do saber, que perguntava apenas sobre o que seria útil para “se dar bem no mercado” ou, ainda menos, apenas o que era preciso para “passar na matéria”. Apesar do seu alto teor de instrumentalida- de, havia nesta IES alguma forma de auto-organização juvenil e estudantil, como centros acadêmicos e eventos culturais. Ao iniciar a docência em uma universidade pública, não me surpreendi em reencontrar uma importante dose desta relação instrumental com o saber e o ensino, bem como não foi espanto reencontrar a preocupação central com o trabalho. Mas a me- lhor – e mais grata – surpresa foi encontrar uma pulsante vida coletiva juvenil-estudantil, que oferecia aos estudantes – mas também aos seus professores – outras lições e possibilidades de se relacionar com o conhecimento e conceber sua inserção na sociedade (para além da “empregabilidade”). É claro que a vida auto-organizada dos estudantes não passa apenas pela atuação
  • 8. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 845 diretamente política, nem apenas por ideologias ditas progres- sistas. Há coletivos estudantis atuantes em campos como a cul- tura, a religião e o lazer. Há manifestações, nem sempre tão pú- blicas,que indicam processos educativos informais e não formais que cultivam valores conservadores e retrógrados. Mas toda esta vibrante “cultura juvenil-estudantil” é tema importante de estu- do, no esforço de compreender a dimensão educativa não formal envolvida nas suas práticas e discursos, bem como as relações que têm ou que que podem estabelecer com os processos formais da universidade, como a extensão e o ensino. Alguns colegas há mais tempo atuando nesta universida- de do Sul de Minas Gerais comentaram que, a princípio, a vida estudantil não era assim tão pulsante. A Unifal-MG formou-se apenas em 2005, a partir de uma tradicional escola de farmá- cia e odontologia, e sua grande expansão deu-se com o Reuni, em 2008. O crescimento da instituição e a adoção de cursos na área das ciências humanas e licenciaturas são fatores apontados como responsáveis por esta politização da vida estudantil, que tem favorecido inclusive os docentes. Contudo, desconfio que outros fatores vêm se somar em favor da gestação desta vibrante educação não formal no meio estudantil. Tratam-se de práticas e organizações, de caráter cultural, social, político, esportivo etc., que parecem irradiar-se de fora para dentro da universidade. Se houve um tempo em que ser jovem era ser “estudante”, hoje são muitas as fontes da identidade juvenil (MISCHE, 1997), fontes que vão inclusive influir no modo de ser jovem dos estudantes universitários e em suas organizações. É verdade que esta pesquisa propõe tratar da formação po- lítica em um tipo de IES – uma universidade pública de porte mediano – que não representa a maioria das IES no Brasil atual. Entretanto, ela pode demonstrar a importância deste modelo de ensino superior para gerar um ambiente favorável à auto-for- mação social e política dos jovens estudantes – ainda que pouco pela ação consciente da instituição, e mais pela iniciativa dos
  • 9. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 846 próprios estudantes. Reverter a tendência atual do ensino supe- rior – ainda acessível a poucos e favorável às instituições priva- das – ou seja, apostar no ensino público ao alcance de muitos, quiçá de todos que assim o desejarem, pode contribuir para a própria (auto)formação política dos nossos jovens. Mesmo no presente, contudo, este efeito formador pode- ria ser multiplicado por um maior reconhecimento, por parte da universidade, do caráter educativo das organizações juvenis que atuam em seu seio. ORGANIZAÇÕES JUVENIS A escolha do termo “organizações juvenis”, em detrimento de outras, como organizações estudantis ou movimento estu- dantil, para tratar dos coletivos auto-organizados de jovens es- tudantes nas IES, foi influenciada por uma estudante de Ciências Sociais, militante de uma rede de organizações juvenis. Ela argu- mentou sobre a pertinência deste termo para tratar de uma série de coletivos formados por estudantes, no interior da universi- dade, que não tinha necessariamente a intenção de disputar as entidades estudantis oficiais (como CAs e DCE) e que poderiam ter sido originalmente formados fora da universidade, atuando em temas diversos da chamada política estudantil e para além dos muros da universidade. As organizações juvenis, neste sentido mais lato, parecem referendar recentes teorizações sobre a participação política. Tratando de bibliografia sobre participação (FARNETI, 1998, PI- ZZORNO, 1975, BORBA, 2012, MISCHE, 1997, CARRANO, 2002, KRISCHKE, 2005, SOUZA, 2009, SOUZA, 2011, RIZZINI & TIS- DALL, 2012) podemos dizer que há três tipos de teorias ou con- cepções, no interior da sociologia política, sobre a participação: tradicionais, críticas e contemporâneas. As concepções tradicionais ou clássicas de participação partem do suposto de que é desejável ou normal a manuten-
  • 10. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 847 ção/ reprodução da macroestrutura social e política dada, ou a sua “evolução” linear e progressiva. Compõem o paradigma da “representação”, que reconhece tão somente a participação nos mecanismos institucionalizados da democracia representativa (eleições, partidos e governos). As concepções críticas de participação privilegiam as ma- cro-transformações, reformistas ou revolucionárias, da estrutura sócio-política. Elas tendem a compor o paradigma da militância, ou seja, a defesa de que a verdadeira participação é a adesão em tempo integral do sujeito político à organização formal que per- tence, como partido, sindicato e movimento estudantil. Já as concepções contemporâneas de participação têm duas tendências principais. Uma delas, hegemonizada atual- mente pelas agências supranacionais de desenvolvimento (Or- ganização das Nações Unidas, Unesco [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura], Banco Mundial etc.), pelos últimos governos brasileiros e pelo chamado “ter- ceiro setor” (fundações empresariais e boa parte das ONGs [Or- ganizações Não Governamentais]), é uma atualização das con- cepções tradicionais. Tal concepção valoriza a participação ou “protagonismo”, especialmente dos jovens, em prol do consenso ou da adesão a objetivos principais já definidos por organizações controladas por adultos. Veja-se lá a crítica ao protagonismo ju- venil feita por Souza (2009) e Carrano (2012). Buscam menos a participação dissidente e sim a “concertação social”, em projetos que, por exemplo, promoveriam a “cultura da paz” nas escolas. (CASTRO, J. 2009). Outra concepção, que permite compreender melhor as or- ganizações juvenis que esta pesquisa pretende investigar, se ins- pira nos chamados Novos Movimentos Sociais (NMS) e no pós- -estruturalismo. (MESQUITA, 2003, BUTLER & PRINCESWAL, 2012, MENDONÇA & LEITE, 2013). Tal concepção valoriza so- bretudo as novas formas de participação não-formalizada, a que- bra da rigidez na divisão entre o público e o privado (publicizan-
  • 11. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 848 do e politizando questões outrora tratadas como tendo apenas “cunho privado”), a articulação entre os níveis micro e macro de participação, as temáticas identitárias (étnico-racial, de gê- nero, ecológica, cultural etc.) e a atuação cultural ou simbólica nas questões de poder e dominação presentes no cotidiano (tais como racismo, machismo, degradação ambiental etc.). Em geral, esta concepção destaca a informalidade ou a baixa formalidade da participação e dos coletivos auto-organizados, a possibilida- de de se formar redes (articulando o micro e o macro), a fluidez da participação e das próprias organizações e a participação em diversas questões e coletivos (a “militância múltipla”). Mesquita (2003) propõe analisar as tendências mais re- centes do ME (Movimento Estudantil) e as novas organizações estudantis a partir do referencial teórico dos Novos Movimen- tos Sociais (NMS). Ou seja, tanto no interior das entidades es- tudantis tradicionais (CAs, DCEs, Uniões Estudantis Estaduais e União Nacional dos Estudantes [UNE]), quanto nos coletivos identitários que se formam nas IES e buscam intervir no mo- vimento estudantil clássico (MESQUITA, 2008), há tendências que vão criando organizações estudantis não ligadas aos canais “tradicionais” (partidos, sindicatos e governos) e que enfatizam aspectos culturais e lutas cotidianas e identitárias. As entidades estudantis clássicas, como a UNE, buscaram aglutinar estes no- vos temas. Mas o fizeram pela via institucionalizadora tradicio- nal, como a criação de secretarias específicas para as questões de gênero e étnico-raciais, e continuam tendo grande dificuldade em mobilizar boa parte dos estudantes das IES. (BARBOSA, 2008, BRANDÃO, 2008). Em contrapartida às dificuldades da UNE, novas lingua- gens e métodos vão aparecendo no meio estudantil, como as executivas de curso (que já existem desde o início dos anos 1970, mas que só ganharam força a partir dos anos 1990), os coletivos de cultura, os grupos de estudantes negros, os coletivos de mu- lheres universitárias, os grupos de extensão universitária orga-
  • 12. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 849 nizados pelos próprios estudantes, entre outros. Eles tendem a ser autônomos, mais democráticos e com organização mais hori- zontal. Vêm ganhando força com ações coletivas que respondem a muitas demandas dos estudantes e parecem expressar o sur- gimento de uma nova “sociabilidade militante” no ME, a qual é capaz de incorporar melhor os temas racial, de gênero, cultura e juventude, assim como novas metodologias. (MESQUITA, 2003). Têm aparecido inclusive organizações focadas na política estudantil, mas independentes em relação às entidades oficiais, muitas delas no polo ainda mais à esquerda do espectro ideoló- gico em comparação com os “partidos” estudantis que têm he- gemonizado a UNE. Estas organizações foram as principais res- ponsáveis pela ocupação de diversas reitorias de universidades públicas em 2007 e 2008 (SILVA & CASTRO, 2013). Leher (2007, p. 98) associa estas ocupações, especialmente a da USP (Univer- sidade de São Paulo) em 2007, a outros movimentos estudantis recentes, principalmente na América Latina, tais como “ […] a Revolta dos Pinguins no Chile (2006), a insurreição da juventude francesa (2005, 2006), a Comuna de Oaxaca (2006), as gigantes- cas mobilizações populares contra a fraude eleitoral no México (2006) e, antes, a longa greve na Universidad Nacional Autónoma de México (Unam), em 1999, que, na forma, aproxima-se muito da ocupação da USP”. Entretanto, para compreender o sentido destas novas manifestações, talvez seja necessário ir para além da categoria estudante e movimento estudantil. Segundo Mische (1997, p. 140), no Brasil, certamente a partir dos anos 1990, a categoria “estudante” já não tinha mais a “multivalência” necessária para dar conta da “diversidade de projetos em formação dos jovens” que participaram do movimento Fora Collor. Estes jovens prefe- riram adotar como identidade uma categoria mais abrangente, mas mais ambígua, a de “cidadão”. Revelava-se assim a dispersão das identidades juvenis no contexto brasileiro dos anos 1990, em que as IES e o movimento estudantil não eram mais os “centros
  • 13. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 850 da vida cultural e política juvenil” e perderam o “monopólio da mobilização juvenil”(p.143): primeiro,pela extensão da“cultura jovem” aos jovens trabalhadores e periféricos; segundo, porque a rede de formação das identidades juvenis se tornou múltipla e dispersa, incluindo, além das instituições escolares, o trabalho, shopping centers, clubes, bairros, ruas etc. Há de se incluir tam- bém o acesso ao consumo e ao ensino formal por mais jovens e a diversificação do meio universitário, discutidos acima. Müxel (1997) detectou, em pesquisa sobre a socialização política de jovens franceses dos anos 1990, características e ten- dências gerais que atravessavam inclusive as diferentes classes sociais francesas, e que parecem ilustrar também nossas tendên- cias, inclusive as atuais – como indicam resultados da pesqui- sa de Sousa (1999) sobre novas formas de militância juvenil nos anos 1990 e de Silva & Castro (2013) sobre os coletivos juvenis atuais. Em linhas gerais, segundo Müxel (1997), havia uma com- binação entre o pessimismo dos jovens em relação à política ins- titucional (representativa e partidária) e as expectativas fortes e ambiciosas para com a política em seu sentido amplo. Estas expectativas aparecem na forma como a participação social po- lítica é feita e verbalizada por estes jovens, em que se valoriza a “democracia direta”, especialmente em ações pontuais, em fun- ção de interesses específicos e em prol de resultados imediatos e visíveis. Estas ações atacam concretamente tanto os problemas reais do dia-a-dia quanto os problemas concretos em escala pla- netária (como a questão ecológica e campanhas humanitárias). Os modelos de associação praticados parecem combinar idea- lismo e utilitarismo em um engajamento mais “fraternal”, que tende a recusar rótulos ideológicos, prega a reconciliação dos in- teresses partidários, a rejeição dos conflitos e a atuação imediata na realidade concreta. No Brasil atual, a forma mais marcante de realizar estas tendências gerais dos jovens – não apenas dos franceses nos anos 1990 – são os coletivos fluidos, ou seja, que têm baixo grau
  • 14. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 851 de formalidade ou institucionalização e são formados pela asso- ciação de jovens que têm relações de amizade ou proximidade, como grupos culturais, artísticos, educacionais, assistenciais, religiosos e até mesmo políticos, como o MPL (Movimento Pas- se Livre). Silva & Castro (2013, p. 31) consideram que os jovens engajados nestes coletivos fluidos estão “em busca de uma ‘po- lítica sem rótulos’”. Isto significaria, primeiro, a flexibilidade nas formas de adesão ao grupo, sem precisar assumir um projeto ideológico bem definido, usando de modo amplo e vago o ter- mo “solidariedade” para justificar a natureza da ação. Segundo, a definição do grupo como “apolítico”, “apartidário” e/ou “neu- tro”. Terceiro, o rechaço à delegação e distribuição de papéis, a importância da amizade na fundação e manutenção do grupo, certo temor à institucionalização do coletivo, certa evitação de parcerias mais institucionalizadas com organizações formaliza- das e grande importância atribuída à liberdade individual e à au- tonomia (do indivíduo e do grupo). Silva & Castro (2013) consideram que esta valorização da fluidez grupal se baseia em uma noção liberal de liberdade, que entra em choque com projetos de ordem coletiva e dificulta lidar com a diferença e o conflito, dimensões que seriam fun- damentais na política. Também, que a noção “subjetivista” de transformação social adotada por estes coletivos os distancia de uma visão da sociedade como uma totalidade imersa em jogos de poder. Suas ações localizadas não teriam força para impactar a macroestrutura sócio-política vigente. Algumas das organizações juvenis da universidade que pre- tendo investigar podem ser caracterizadas como novas formas de organização estudantil, no sentido atribuído acima por Mesquita (2003).Algumas são voltadas à política estudantil, outras a ques- tões mais propriamente identitárias. Mas há uma organização que atua ainda como um “partido” estudantil em busca de cargos eletivos no DCE e nos colegiados acadêmicos, expressão juvenil de tendência no interior de um partido político da esquerda.
  • 15. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 852 Também existem no interior da universidade grupos que podem ser caracterizados como coletivos fluidos,no sentido atri- buído por Silva & Castro (2013), voltados à cultura e à religião. No entanto, as Atléticas são organizações estudantis voltadas ao lazer e ao esporte que se enraízam em tradições universitárias de longa data, que por vezes expressam valores conservadores e antidemocráticos, tais como as fraternidades universitárias pre- sentes na Europa, Estados Unidos e mesmo no Brasil. Ou seja, a realidade concreta da universidade é compos- ta, em sua especificidade social e histórica, por organizações estudantis que representam distintos processos socioculturais e diversas camadas históricas. Não é uma situação simples, na qual um dos autores citados acima por si só poderia dar con- ta integralmente. Vale, portanto, ainda mais a pesquisa, a busca por entender por meio das vozes destes estudantes como estão se dando os processos educativos não formais no interior destes coletivos, suas direções, contradições e possibilidades. CONSIDERAÇÕES FINAIS: DIMENSÕES EDUCATIVAS DAS ORGANIZAÇÕES JUVENIS NA UNIVERSIDADE Um evento que assisti, promovido pela organização de es- tudantes feministas no Dia Internacional da Mulher, foi o que deu ensejo a esta pesquisa. Nele se discutiam as relações entre os gêneros e a necessidade de os homens repensarem suas práticas e valores em tais relações. As mulheres estudantes convidaram homens estudantes para darem seus relatos, sendo seguidos por um interessante debate em que participaram mulheres e outros homens. Tratou-se de um momento de aprendizagem, distinto do ensino disciplinar em sala de aula. Institucionalmente, ligou- -se à Extensão Universitária, campo que tem amparado formal- mente muitas atividades dos jovens estudantes que são, ao seu modo, também atividades educativas, mas de caráter não for- mal. No caso do evento supracitado, para além de uma educação
  • 16. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 853 não formal, tratou-se de uma prática educativa autogerida e que promoveu uma espécie de autoeducação entre os estudantes. (GROPPO, 2006). Mais ainda, também dos professores que foram assistir, que, do papel de educadores-educandos, tornaram-se educandos-educadores. (FREIRE, 1987). Estava diante de um evento que promovia uma coeducação entre gerações (PERALVA, 1997, CASTRO, L. 2009), de modo não formal, quebrando a rígida divisão tradicional entre professor e aluno, bem como a divisão entre adultos que sabem e jovens que aprendem. Tal qual a proposta de Paulo Freire, ou a utopia da autogestão dos movimentos estudantis de 1968, aprendíamos, mestres e estudantes, adultos e jovens, em comunhão. Tratava-se, também, de uma formação política. Não a polí- tica pensada apenas como aquela promovida por instituições es- tatais que supostamente detém o monopólio da força legítima ou lutam para ocupar os cargos de mando nestas instituições (par- tidos). Na verdade, o evento tornava público e digno de debate questões que se pensaram durante muito tempo como reclusas ao mundo privado: as relações entre os gêneros e o machismo. (MESQUITA, 2008, KOLONTAI, 2011). Também, tornava patente uma forma de atuação política em que a participação de todos os sujeitos é valorizada, seja pela forma horizontal das relações en- tre os membros dos coletivos feministas, seja pela livre abertura do debate e o anseio de que seria possível intervir diretamente na realidade, sem passar necessariamente pelo Estado e pela re- presentação. (MÜXEL, 1997, SILVA & CASTRO, 2013). Enfim, ficava marcada a realidade de uma formação social e política que ia para além da noção tradicional de socialização política. Na noção tradicional, a socialização política é promovi- da por instituições comandadas por adultos (família e escola) e direcionada para o aprendizado de valores vigentes nas institui- ções políticas formais (Estado, partidos, sindicatos etc.). (OPPO, 1998). Na realidade observada, organizações e coletivos juvenis promoviam, com apoio da universidade (da Extensão e de alguns
  • 17. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 854 professores) ou sem apoio, de modo oficial, paralelo ou marginal em relação às rotinas oficiais da instituição universitária, uma formação política que mais se pode considerar uma autossocia- lização política e, até mesmo, uma coeducação política entre gerações, desafiando os limites tradicionalmente dados entre as funções dos agentes educacionais (professores e estudantes), das categorias etárias (jovens e adultos) e dos espaços sociais (público e privado). Um levantamento inicial encontrou um grande número de organizações e coletivos juvenis atuando no interior da universi- dade que irei investigar. A princípio, parecem interessar mais a esta pesquisa as organizações que têm cunho diretamente político. Elas são de dois tipos. Primeiro, as entidades estudantis de caráter “clássi- co”: CAs (Centros Acadêmicos) de diversos cursos e o DCE (Di- retório Central Estudantil). Segundo, organizações juvenis que atuam politicamente, seja no interior de partidos políticos e com a intenção de vencer as eleições para as entidades estudantis, seja para mobilizar os estudantes para participar de outras prá- ticas políticas e sociais (como a que promove “escrachos” con- tra pessoas que foram torturadores durante o regime militar e atos de apoio ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra [MST], e os estudantes que promovem um cursinho universitá- rio popular em uma escola pública). Recentemente, foi formado um “Movimento das Repúblicas”, em reação à lei municipal que, desejando coibir som alto em festas universitárias, tem levado a polícia efetuar inúmeras multas contra repúblicas de estudantes (mesmo quando seus moradores estão apenas ouvindo música privadamente). Mas a pesquisa se interessa também em conhecer possíveis influências na formação política de outras organizações e coleti- vos juvenis não necessariamente ligados à política institucional ou aos movimentos sociais ditos clássicos. Alguns deles parecem ter atuação política evidente, mas naquele sentido mais amplo,
  • 18. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 855 que leva a publicizar, trazer ao debate público, questões que se quis outrora relegar apenas ao privado, como questões de gênero e étnico-raciais. Destacam-se os coletivos que tratam das ques- tões das mulheres e da diversidade sexual. Há uma miríade de outros coletivos que, se parecem atuar em campos que se querem distantes dos sentidos de política ex- postos acima, nem por isto deixam de ter efeitos políticos na for- mação dos estudantes que passam por eles. Primeiro, voltados ao lazer e aos esportes, mas principalmente promovendo festas universitárias, as Atléticas de diversos cursos. Segundo, grupos religiosos, não apenas cristãos (evangélicos e católicos carismá- ticos), mas também de outras manifestações religiosas (como um grupo de meditação budista). Terceiro, manifestações cultu- rais ligadas à Extensão Universitária, como o grupo de maracatu. Já em seu início, a pesquisa vem demonstrando a impor- tância de se conhecer mais e melhor a dimensão educativa não formal destas organizações e coletivos juvenis, que atuam ao lado ou à margem dos processos formais de ensino. Segundo a literatura consultada (BRANDÃO, 2001, CASTRO & MATTOS, 2009) e primeiras observações,têm grande presença na formação política dos jovens estudantes que participam deles. Trata-se de uma formação distinta, a princípio, daquela preconizada pelos estudos clássicos de socialização política (OPPO, 1998), pois se dão por meio de processos participativos, em que os jovens são atores centrais, e que incidem diretamente na chamada esfera pública, por vezes tornando públicas questões outrora restritas ao mundo privado (como a assistência estudantil, a qualidade do ensino, as relações de gênero, o preconceito racial, a homofobia etc.). (CASTRO, 2009, MESQUITA, 2008).
  • 19. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 856 UNIVERSITY YOUTH: POLITICAL PARTICIPATION AND EDUCATIONAL PROCESSES IN A UNIVERSITY IN THE INTERIOR OF MINAS GERAIS Abstract: Reflections are made from literature review and cases observed in a public university, about political participation and training processes in the daily work of youth organizations.The text is part of research in early stage and it was basis of conference held at the II International Colloqui- um Education and Society. It deals about characteristics of young people in higher education in Brazil today, the notion of youth organizations and some educational dimensions of these in the university. Concludes about the wealth of formative processes in the daily routine of such organiza- tions, which participatory, democratic and self-organized methodologies. Keywords: youth organizations,university,political education,participation. REFERÊNCIAS ABRAMO, H. W. & BRANCO, P. P. M. Retratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, Instituto Cidadania, 2005. BARBOSA, A. O Movimento Estudantil Brasileiro: do início da década de 1990 a 2001.In: GROPPO, L. A.; ZAIDAN FILHO, M.; MACHADO, O. L. Movimentos ju- venis na contemporaneidade. Recife: Editora Universitária UFPE, 2008, p. 53-65 BRANDÃO, C. F. Política educacional para a educação superior brasileira na última década. Impulso. Piracicaba, 16 (40): 69-80, 2005. BRANDÃO, C. de S. Movimento Estudantil contemporâneo: temas mobilizado- res e formas de atuação. In: GROPPO, L. A.; ZAIDAN FILHO, M.; MACHADO, O. L. Movimentos juvenis na contemporaneidade. Recife: Editora Universitária UFPE, 2008, p. 66-83. BRANDÃO, C. de S. O processo de socialização política dos universitários: a im- portância da universidade e do movimento estudantil. Trabalho apresentado na 24a Reunião da ANPEd, 2001. Disponível em http://24reuniao.anped.org.br/ P0315005323563.doc, Acesso em: 20/mar. /2015. BUTLER, U. M. & PRINCESWAL, M. Cultura de participação: jovens e suas per- cepções e práticas de cidadania. O Social em Questão. Ano XV, n. 27, p. 101-126.
  • 20. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 857 CARNEIRO, M. P. & BEHR, R. R. Juventude e movimento estudantil: o trabalho precário dos estudantes-bolsistas da UFES. EccoS – Revista Científica. São Pau- lo, n. 29, p. 171-198, 2012, CARRANO, P. C. R. A participação social e política de jovens no Brasil: consi- derações sobre estudos recentes. O Social em Questão. Ano XV, n. 27, 2012, p. 83-100. CARRANO, P. C. R. Jovens e participação política: In: SPOSITO, Marília P. (org.). Juventude e Escolarização (1990-1998). Brasília: MEC, 2002, p. 185-202. CASTRO, J. P. M. e. A invenção da juventude violenta. Análise da elaboração de uma política pública. Rio de Janeiro: Laced, 2009. CASTRO, L. R. de. Juventude e socialização política: atualizando o debate. Psi- cologia: Teoria e Pesquisas. v. 25, n. 4, 2009, p. 479-487. CASTRO, L. R. de. & MATTOS, A.R. O que é que a política tem a ver com a transformação de si? Considerações sobre a ação política a partir da juventude. Análise Social. v. XLIV (193), 2009, p. 793-823. CHAUÍ, M. A universidade pública sob nova perspectiva. Revista Brasileira de Educação. set.-dez./2003, n. 24, p. 5-15. CUNHA, L. A. A universidade reformada: o golpe de 1964 e a modernização do ensino superior. 2a. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2007. FARNETI, P. Sociologia política. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N. & PASQUI- NO, G. (orgs.). Dicionário de política. 11a ed. Brasília: Editora da UnB, 1998, p. 1217-1221. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. GILLIS, J. Youth and History. Tradition and change in European age relations. 1770-present, Nova York/ London: Academic Press, Expanded Student Edition, 1981. GROPPO, L. A.; ZAIDAN FILHO, M.; MACHADO, O. L. (orgs.). Movimentos juve- nis na contemporaneidade. Recife: Editora Universitária UFPE, 2008. GROPPO, L. A Juventude: ensaios sobre sociologia e história das juventudes modernas. Rio de Janeiro: Difel, 2000. GROPPO, L. A. Os jovens estudantes-trabalhadores do Centro Unisal: algumas reflexões. Revista de Ciências da Educação, v. 7, p. 133-156, 2005. GROPPO, L. A. Autogestão, universidade e movimento estudantil. Campinas: Au- tores Associados, 2006. GROPPO,L.A..Dialética das juventudes e educação.In: MORAIS,R.NORONHA, O. M. GROPPO, L.A.. (orgs.). Sociedade e educação: estudos sociológicos e inter- disciplinares. Campinas: Alínea, 2008, p. 233-264.
  • 21. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 858 GROPPO, L.A. Da universidade autônoma ao ensino superior operacional: con- siderações sobre a crise da universidade e a crise do Estado nacional. Avaliação. v. 16, n. 1, p. 37-55, 2011. KOLONTAI, A. A nova mulher e a moral sexual. São Paulo: Expressão Popular, 2011. KRISCHKE, P. J. Questões sobre juventude, cultura política e participação de- mocrática. In: ABRAMO, Helena Wendel & BRANCO, Pedro Paulo Mattoni. Re- tratos da juventude brasileira: análises de uma pesquisa nacional. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, Instituto Cidadania, 2005, p. 323-350. LEHER, R. Rebeliões estudantis refundam a luta social pelo público. Margem Esquerda. n. 10, 2007, p. 97-102. MENDONÇA, Viviane Melo de & LEITE, Kelen Christina. Uma análise sobre as relações entre educação, juventude e movimentos sociais: o hip-hop brasileiro. Impulso, Piracicaba, v. 25, n 36, p. 73-85, 2013. MESQUITA, M. R. Movimento estudantil brasileiro: práticas militantes na ótica dos Novos Movimentos Sociais. Revista Crítica de Ciências Sociais. n. 66, 2003, p. 117-149. MESQUITA, M. R. O movimento estudantil e as questões de gênero e de diver- sidade sexual: o desafio de recriar a militância. In: GROPPO, L. A.; ZAIDAN FILHO, M. & MACHADO, O. L. (org.). Movimentos juvenis na contemporaneidade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2008, p. 84-107. MISCHE, A. De estudante a cidadão: rede de jovens e participação política. Re- vista Brasileira de Educação. n. 5 e 6, 1997, p. 134-150. MÜXEL, A. Jovens dos anos noventa: à procura de uma política sem “rótulos”. Revista Brasileira de Educação. maio/ago. de 1997, n. 5-6, p. 151-166. OPPO, A. Socialização política. In: BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N. & PASQUINO, G. (org.). Dicionário de política. 11a ed. Brasília: Editora da UnB, 1998, p. 1202- 1206. PERALVA, A. O jovem como modelo cultural. Revista Brasileira de Educação. maio/ago. de 1997, n. 5-6, p. 15-24. PIZZORNO, A. Introducción al estudio de la participación política. In: ______, KAPLAN, M. & CASTELLS, M. Participación y cambio social em la problemática contemporânea. Buenos Aires: Ediciones Siape-Planteos, 1975, p. 13-82. RIZZINI, I. & TISDALL, K. (orgs.) Dossiê: Participação infantil e juvenil. O So- cial em Questão. Ano XV, n. 27, p. 13-130. RODRIGUES, J. Frações burguesas em disputa e a educação superior no governo Lula. Revista Brasileira de Educação. v. 12, n. 34, jan.abr. de 2007, p. 120-136
  • 22. educativa, Goiânia, v. 19, n. 1, p. 838-859, set./dez. 2016 859 SANTOS,B.de S.Da idéia de universidade à universidade de idéias.In: _________. Pela mão de Alice. O social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Corte- za, 2001, p. 187-233. SILVA, C. F. S. & CASTRO, L. R. de. Para além das fronteiras convencionais do ativismo político: a inserção de jovens em “coletivos fluidos”. In: BEZERRA, H. D. & OLIVEIRA, S. M. de. Juventude no século XXI: dilemas e perspectivas. Goiânia: Cânone Editorial, 2013, p. 14-44. SILVA, T. M.T. da. Ensino superior noturno: sonhos e desencantos. São Paulo: Ed. Salesiana, Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2000. SOUSA, José Vieira de. Educação superior no Distrito Federal: consensos, con- flitos e transformações na configuração de um campo. Brasília: Faculdade de Educação da UnB; Libra Livros, 2013. SOUZA, Janice Tirelli P. de. Os jovens contemporâneos e a política contra o instituído. In: GROPPO, L. A., ZAIDAN JR., M. e MACHADO, O. L. (orgs.). Mo- vimentos juvenis na contemporaneidade. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2008, p. 117-156. SOUZA, J. T. P. de. Reinvenções da utopia: a militância política de jovens nos anos 90. São Paulo: Hucitec, 1999. SOUZA, P. L.A. de.A participação nas polítcas públicas de juventude: caminhos trilhados, caminhos a construir. In: PAPA, F. C. de & FREITAS, M. V. de. (orgs.). Juventude em pauta: políticas públicas no Brasil. São Paulo: Petrópolis, 2011, p. 163-189. SOUZA, R. M. Protagonismo Juvenil: o discurso da juventude sem voz. Revista Brasileira. Adolescência e Conflitualidade, 1 (1): 1-28, 2009.