1. GESTÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA
MICRO E PEQUENA EMPRESA
Ademir Vicente da Silva
Mestrando em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente
Centro Universitário Senac Santo Amaro – SP
E-mail: ademir.vicente@fiepr.org.br
RESUMO
Este artigo utiliza-se de estratégia de pesquisa constituída essencialmente por revisão da
literatura. O resultado da pesquisa aqui apresentado é marco parcial de projeto de pesquisa que
envolverá pesquisa de campo e aplicação de questionário para identificação das ferramentas e
indicadores de gestão da responsabilidade social empresarial. Considera-se que a contribuição de
originalidade é a aplicação de tais práticas de ferramentas e de indicadores em pequenas
empresas, particularmente no Estado do Paraná.
PALAVRAS CHAVE: Responsabilidade social empresarial, Gestão responsável,
Sustentabilidade.
1 - INTRODUÇÃO
1.1 - Considerações Iniciais:
As organizações empresariais estão buscando novas formas de gestão para assegurar mercado,
reter talentos e produzir com qualidade. Para Grayson & Hodges (2002), Agregar valor ao
processo de gestão empresarial ficou mais complexo e algumas questões, tais como: uso de
recursos naturais, saúde e segurança, educação e cidadania, relação com a comunidade e gestão
baseada na ética e transparência das ações que não integravam a pauta de decisões e eram
variáveis irrelevantes para o sucesso, tornaram-se estratégicas para a perpetuidade das empresas.
Segundo Orchis (2002), a empresa deve assumir compromisso com a qualidade ambiental,
eqüidade social, retorno econômico, além de incorporar conceitos e práticas da responsabilidade
social empresarial como princípio de existência.
Para o Instituto Ethos (2000), a empresa socialmente responsável é aquela que possui capacidade
de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviços,
fornecedores, consumidores, comunidade, meio ambiente, governo e sociedade).
2. 2
Para a FNQ – Fundação Nacional da Qualidade (2005), responsabilidade social é o
relacionamento ético e transparente da organização com todas as partes interessadas, visando o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as
gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais.
A responsabilidade social deixou de ser uma opção para as empresas. É uma questão de visão, de
estratégia e, muitas vezes, de sobrevivência. Prova disso é que o número de empresas que
aplicaram os indicadores ETHOS de responsabilidade social em seus negócios saltou de 71, no
ano 2000, para 442 em 2004.
Segundo Grayson & Hodges (2002), o tema emergente de gestão sobre comunidades refere-se a
mudanças nas relações humanitárias e ao fato de que o que era considerado por muitos executivos
e gerentes como “é legal fazer” hoje “é obrigatório fazer”.
No entanto, responsabilidade social está geralmente relacionada à imagem de grandes
corporações que investem em projetos sociais e comunicam através do relatório e balanço social
conhecido no mercado como diferencial destas organizações.
1.2 - Situação Problema
As grandes organizações empresariais, graças à riqueza que acumulam, trazem em si o grande
potencial de mudar e melhorar o ambiente social, enquanto que as micros e pequenas lutam para
manter-se em funcionamento assegurando renda para milhares de cidadãos brasileiros, possuem
capacidade de articulação comunitária e principalmente uma pré-disposição para a formação de
redes associativas.
É neste contexto de gestão moderna e competitividade empresarial que surge o desafio de
responder a seguinte questão: Responsabilidade social empresarial na micro e pequena empresa –
Por onde iniciar? Quais ferramentas e indicadores de gestão da responsabilidade social
empresarial podem ser recomendados? Por que adotar ferramentas e indicadores de gestão de
responsabilidade social empresarial?
1.3 - Objetivos da pesquisa
Identificar ferramentas e indicadores sociais, oriundos de práticas empresariais em
responsabilidade social que possam ser aplicados na gestão de micros e pequenas empresas no
Estado do Paraná.
3. 3
1.4 - Estratégia de pesquisa
Neste estudo foi adotada a pesquisa de natureza bibliográfica e descritiva, para identificação do
estado da arte da gestão da responsabilidade social na micro e pequenas empresas. Esta revisão
bibliográfica fundamenta e sistematiza o assunto em questão através do levantamento de
informações em livros, artigos, dissertações, sites e revistas especializadas da área. Os assuntos
pesquisados referem-se a micro e pequena empresa, responsabilidade social e ambiental.
2. - REVISÃO DA LITERATURA
2.1 - Considerações iniciais
A micro, segundo o SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (2005),
no setor industrial, possui até 19 funcionários e a pequena empresa é aquela que possui entre 20 e
99 funcionários.
De acordo com o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (2003), as micros e
pequenas empresas foram responsáveis por 40% dos salários pagos aos trabalhadores formais,
96% dos estabelecimentos na década de 90, das 4,7 milhões de empresas abertas 55% eram
micros empresas, além do que enquanto as grandes aumentaram pouco mais de 2% as micros e
pequenas aumentaram mais de 25% entre o ano 1995 e 2000.
Em todo o mundo e principalmente no Brasil a micro e pequena empresa é um segmento
importante de inclusão econômica e social. O setor tem destacada participação no acesso às
oportunidades de emprego e no desenvolvimento econômico do País. Por gerarem grande parte
dos postos de trabalho e oportunidades de geração de renda, as micros e pequenas empresas
tornam-se o principal sustentáculo da livre iniciativa e da democracia no Brasil.
Segundo o SEBRAE (2005), o segmento representa nada menos que 99% do total de
empreendimentos do País, contribuem com 20% do PIB. Além disso, os pequenos negócios são
responsáveis por 95% dos novos empregos líquidos gerados a cada ano. Ainda, 60 % dos
empregos formais estão nas empresas que se encaixam nestes perfis, porém, cerca de 70% delas
desaparecem até o segundo ano de existência. Em geral, as principais causas, dentre outras, são as
deficiências de gestão empresarial e planejamento.
Para estas empresas é urgente que suas lideranças saibam responder às demandas do mercado de
responsabilidade social. Além da lucratividade, precisam preocupar-se também com o bem-estar
4. 4
das partes impactadas pelo seu negócio e responder às demandas sócio-ambientais emergentes
principalmente para manter suas relações comerciais com as grandes corporações empresariais,
com o consumidor final e com mercados externos, que a cada dia tornam-se mais exigentes.
2.2 - A importância crescente da responsabilidade social para as empresas
Segundo Lourenço & Schröeder (2003), de acordo com a pesquisa da BSR – Business for Social
Responsability (1999), 76% dos consumidores americanos preferem marcas e produtos
associados a algum tipo de ação social.
No Brasil, em pesquisa do Instituto Ethos, Valor Econômico e Indicador de Opinião Pública
(2000), denominada “Responsabilidade Social das Empresas – Percepção do Consumidor
Brasileiro” apresentou as atitudes mais valorizadas pelo consumidor: Contratação de deficientes
físicos (46%), Colaboração com escolas, posto de saúde e entidades sociais da comunidade
(43%), Manter programa de alfabetização para os funcionários e familiares (32%) e Adotar
práticas efetivas de combate à poluição (27%).
O processo de gestão empresarial é um tema amplamente estudado a partir de objetivos que
visam garantir maior retorno econômico sobre os investimentos. Adotar um sistema de gestão
eficiente é uma estratégia de competitividade empresarial. Todavia, a competência acumulada em
métodos e tecnologias tradicionais, e no caso da micro empresa, que quase sempre é de origem
familiar, já não respondem aos princípios da responsabilidade social. No mundo, o
desenvolvimento é monitorado principalmente a partir do indicador de crescimento econômico
denominado PIB – Produto Interno Bruto, traduzido para o ambiente das empresas como
indicador de produtividade (retorno sobre investimento, lucratividade, aumento de produção,
sustentabilidade financeira, etc.).
Segundo Jannuzzi (2003), a despeito do crescimento do produto interno bruto (PIB), persistiam
altos os níveis de pobreza e acentuavam-se as desigualdades sociais em vários países.
Crescimento econômico não era, pois, condição suficiente para garantir o desenvolvimento
social. Ora, é coerente observar que empresas rentáveis pelos indicadores tradicionais,
necessariamente podem não garantir compromisso com a responsabilidade social empresarial.
Na última década o desafio da responsabilidade social baseada na proposta de equilíbrio entre os
fatores econômicos, sociais e ambientais tornou-se tema permanente em fóruns nacionais e
internacionais, especialmente no meio empresarial. Com isso determinam à necessidade de novas
5. 5
ferramentas e ou indicadores para a gestão de empresas, mais abrangentes, éticos e transparentes,
sobretudo convergentes com a necessidade de gerar valor “hoje” sem comprometer as futuras
gerações.
De acordo com Kofi Annan, Secretário Geral da ONU, Fórum Econômico Mundial, Davos
(1999) a expansão dos mercados é muito mais rápida do que a capacidade das sociedades e de
seus sistemas políticos de se adaptarem a eles, quanto mais de ditar o rumo que eles tomam.
Este estudo é parte de um projeto de pesquisa que visa à dissertação do curso de mestrado em
gestão integrada em saúde do trabalho e meio ambiente que será desenvolvido junto às indústrias
do pólo moveleiro de Arapongas no estado do Paraná.
Considerando o desafio da micro e pequena empresa permanecer e se fortalecer no mercado, o
volume de empregos gerados anualmente, renda e ainda, que a gestão de responsabilidade social
é uma ação estratégica para uma organização, as micros e pequenas empresas devem inserir-se no
contexto e adotar ferramentas e indicadores de gerenciamento que permitam alinhar-se ao
conceito de responsabilidade social.
2.3 – A importância de ferramentas de gestão para micro e pequena empresa na geração de
desenvolvimento econômico
Segundo Drucker (2003), não é possível administrar o que ainda não se conhece. Portanto é
necessário relacionar, de acordo com as bibliografias existentes, alternativas e ou indicadores de
gestão de responsabilidade social empresarial que possam ser recomendados para a micro e
pequena empresa. Relacionados os indicadores de gestão de responsabilidade social será
necessária à realização de pesquisa de campo para identificar o uso dos mesmos na gestão das
micros e pequenas empresas. Logicamente não será possível a realização da pesquisa neste
estudo, mas, estaremos contribuindo para o estabelecimento de um novo paradigma na gestão de
micros e pequenos negócios socialmente responsáveis.
Para Krüger (2003), poucos se dão conta de que uma das maiores forças das unidades produtivas
capitalistas – e em decorrência do próprio sistema capitalista – reside em ter como seu objetivo e
finalística, obter um resultado unificado e mensurado por meio de apenas uma variável, e de
natureza integralmente quantitativa, qual seja, a quantidade monetária apropriada como lucro.
6. 6
Segundo Jannuzzi (2003), um indicador social é uma medida, em geral quantitativa, dotada de
significado social substantivo, usado para substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito
social abstrato, de interesse teórico (para pesquisa acadêmica) ou programático (para formulação
de políticas). É um recurso metodológico, empiricamente referido, que informa algo sobre um
aspecto da realidade social e sobre mudanças que estão processando na mesma.
Para Passos (2003), indicadores são instrumentos de mediação, na medida em que são utilizados
para captar aspectos dos fenômenos e processos da realidade social, cuja totalidade é impossível
apreender.
2.4 - Gestão sistêmica para empresas: base da sustentabilidade
Para Gray (2003), a sustentabilidade é um conceito difícil de aplicar em qualquer corporação
individual. Ele é basicamente um conceito global. Mas isto não significa que não tenha aplicação
em corporações – como um número cada vez maior de empresas, grupos de pressão e
solucionadores de problemas corporativos estão rapidamente reconhecendo.
Segundo Bateson (1987), um sistema vivo não se sustenta somente com a energia que recebe de
fora, mas fundamentalmente pela organização da informação que o sistema processar.
As empresas, para Capra apud Callenbach (1993), são sistemas vivos cuja compreensão não é
possível apenas pelo prisma econômico. Como sistema vivo, a empresa não pode ser rigidamente
controlada por meio de intervenção direta, porém, pode ser influenciada pela transmissão de
orientações e emissão de impulsos. Esse novo estilo de administração é conhecido como
administração sistêmica.
No Brasil, de acordo com o IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, citado pela
Revista Exame – Guia de Boa Cidadania Corporativa (2003), 60% das empresas do país
desenvolvem ou apóiam ações sociais e apenas 2% das companhias controlam a destinação de
seus recursos, avaliam e monitoram os resultados de seus projetos sociais; 12% acompanham os
resultados informalmente; 86% delas apenas disponibilizam verbas num mercado de 2,5 bilhões
de dólares em investimentos em projetos comunitários, anualmente.
Assim entendemos que o lucro financeiro justifica o esforço econômico, então, gerenciar e
mensurar o resultado do esforço social da micro e pequena empresa se justifica por apresentar o
7. 7
“lucro” social. Podemos ainda acreditar que conhecer ferramentas e indicadores possam subsidiar
os gestores na reflexão sobre a gestão dos micros e pequenos negócios brasileiros.
2.5 Ferramentas e indicadores de gestão identificados
Através de pesquisa bibliográfica, identificaram-se um conjunto de ferramentas e de indicadores
sociais que estão sendo utilizados por empresas e instituições comprometidas com a
responsabilidade social empresarial.
2.5.1 - Responsabilidade social empresarial para micro e pequena empresa - ETHOS e
SEBRAE
O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e o SEBRAE publicaram os
“Indicadores de Responsabilidade Social Empresarial para as Micros e Pequenas
Empresas”( 2003), baseados em sete diretrizes que coincidem com os públicos definidos pelo
Ethos para o tratamento da responsabilidade social empresarial, a saber: governo e sociedade,
meio ambiente, comunidade, consumidores e clientes, fornecedores, público interno, valores,
transparência e governança.
O documento desenvolvido pelo Sebrae e Ethos indica o passo-a-passo para adoção da
responsabilidade social na micro e pequena empresa. Está estruturado em sete diretrizes que
formam um conjunto de frases afirmativas e apreciativas, a saber: “adote valores e trabalhe com
transparência, valorizem empregados e colaboradores, façam sempre mais pelo meio ambientes,
envolva parceiros e fornecedores, proteja clientes e consumidores, promova sua comunidade e
comprometa-se com o bem comum”.
Como exemplo de aplicação de tais Indicadores, cita-se a sua aplicação específica para o público
interno: cuidados com a saúde, segurança e condições de trabalho em dois níveis:
1. Nível básico - cumprimento de legislação;
2. Nível elevado - gestão de indicadores e participação da pauta de elaboração do plano
estratégico da empresa.
2.5.2 - Relatório e balanço social
O Instituto ETHOS também disponibiliza guias com as orientações e modelos para as empresas
que desejam apresentar aos seus públicos impactados um relatório e balanço anual de
8. 8
responsabilidade social empresarial. Para especialistas e o próprio ETHOS, o balanço social
constitui-se numa das ferramentas mais importantes na gestão ética e transparente das
organizações alem de um excelente diagnóstico para o monitoramento da evolução dos resultados
dos indicadores.
O modelo ETHOS de relatório e balanço social está estruturado em 15 campos: Introdução,
estrutura do balanço social, missão e visão da empresa, mensagem do presidente, perfil do
empreendimento, setor da economia, histórico, princípios e valores, estrutura e funcionamento,
governança corporativa, diálogo entre as partes interessadas, indicadores de desempenho
econômico, social e ambiental (qualitativos e quantitativos), demonstrativo do balanço social,
iniciativas de interesse da sociedade (projetos sociais) e notas gerais.
O próprio Instituto Ethos ainda recomenda os nove princípios do pacto global da ONU –
Organização das Nações Unidas, que tratam do respeito aos direitos humanos, trabalho e meio
ambiente que podem ser adotados e monitorados na forma de indicadores para a gestão
empresarial, a saber: respeitar e proteger os direitos humanos, impedir violações de direitos
humanos, apoiar a liberdade de associação ao trabalho, abolir o trabalho forçado e o trabalho
infantil, eliminar a discriminação no ambiente de trabalho, apoiar abordagem preventiva aos
desafios ambientais, promover a responsabilidade ambiental e encorajar tecnologias que não
agridam ao meio ambiente.
2.5.3 - AA 1000
Também no contexto da responsabilidade social encontra-se a AA1000 – uma norma que não
certifica, mas que confere consistência às ações socialmente responsável da empresa que a adota
como modelo de gestão. Foi desenvolvida pelo ISEA – Institute of Social Ethical Accountability,
e define algumas das melhores práticas de prestação de contas a partir dos princípios da
responsabilidade social empresarial. A implementação da norma ocorre em 05 fases:
Planejamento, contabilidade, auditoria e relatório, implementação e engajamento das partes
interessadas.
2.5.4 - SA 8000
De acordo com o Guia da Sustentabilidade e Cidadania Corporativa (2005), há a norma SA 8000
da SAI – Social Accountability International, que tem a finalidade de certificar empresas que
atendam a um conjunto de requisitos sociais tais como: extinção do trabalho infantil ou o trabalho
9. 9
forçado, discriminação ou práticas abusivas de gestão, saúde e segurança no trabalho, liberdade
de associação, negociação coletiva e remuneração justa. A SA 8000 busca aferir o grau de
responsabilidade social das empresas no que diz respeito à implantação e manutenção de
condições de trabalho.
2.5.5 - As Metas do Milênio, ONU
O guia trata também dos ODM’s – Oito Objetivos do Milênio, definidas pela ONU em setembro
de 2000, com a finalidade de definição de grandes metas mundiais. São elas: redução da pobreza,
desigualdades sociais e promover o desenvolvimento sustentável. Os oito objetivos são:
erradicação da pobreza e da fome, universalização do acesso à educação básica, igualdade entre
os gêneros, redução da mortalidade infantil, melhoria da saúde materna, combate a AIDS, malária
e outras doenças, promoção da sustentabilidade ambiental e desenvolvimento de parcerias para o
desenvolvimento global.
2.5.6 - O Global reporting initiative - GRI
Na década de 90 surgiu o GRI – Global Reporting Initiative, com a finalidade de se tornar um
padrão internacional de sustentabilidade. Baseado em indicadores de gestão empresarial o GRI já
é adotado por mais de 250 empresas do mundo sendo considerado um dos mais completos
modelos de relatório social.
Quadro 1 - Elementos e indicadores GRI.
Inclui, por exemplo, os gastos e benefícios, produtividade no trabalho, criação
de emprego, despesas em serviços externos, despesas em investigação e
desenvolvimento, investimentos em educação e outras formas de capital
humano. O aspecto econômico inclui, embora não se limite só a ele, a
Econômico informação financeira e respectivas declarações.
Inclui, por exemplo, impacto dos processos, produtos, serviços no ar, água, solo,
Ambiental biodiversidade e saúde humana.
Inclui, por exemplo, o tratamento que se dá aos grupos minoritários e às
mulheres, o trabalho feito em favor dos menores, a saúde e a segurança
ocupacionais, estabilidade do empregado, direitos laborais, direitos humanos,
Social
10. 10
salários e condições de trabalho nas relações externas.
Fonte: http://www.globalreporting.org citado por Kraemer (2005).
2.5.7 – International organization for standardization – ISO 14000
Ainda a série ISO 14000 – norma internacional que estabelece requisitos e parâmetros para o
desempenho ambiental das organizações. A norma é um excelente recurso para estimular a
definição de políticas ambientais, auditorias, gestão de resíduos, monitoramento ambiental,
comunicação e disseminação de informações. No entanto, os indicadores selecionados devem ser
relacionados aos aspectos ambientais significativos da organização, influir no seu desempenho
ambiental e refletir as visões das partes interessadas no negócio. A norma está fundamentada na
lógica do PDCA - plan (planejar), do (executar), check (avaliar) e action (agir corretivamente) e
leva em consideração os indicadores gerenciais, operacionais e de condições ambientais, além de
aspectos culturais e econômicos.
2.5.8 – Prêmio SESI qualidade no trabalho
No setor industrial encontramos o Prêmio SESI Qualidade no Trabalho que pode ser definido
como uma campanha nacional desenvolvida pelo Serviço Social da indústria – SESI, cujo
objetivo é estimular a responsabilidade social empresarial da indústria brasileira, despertando
colaboradores e empregadores para o exercício da ética e da transparência nas relações de
trabalho.
O prêmio é baseado em cinco áreas temáticas (gestão, educação/desenvolvimento,
saúde/segurança e meio ambiente, ações sociais e lazer/cultura). As avaliações ocorrem no
ambiente empresarial de acordo com sete fundamentos, a saber:
1. Introdução a processos inovadores na gestão de pessoas;
2. Melhoria constante na qualidade de vida do colaborador;
3. Aumento da qualidade e competitividade;
4. Melhoria da qualidade no ambiente de trabalho;
5. Valorização das relações interpessoais;
11. 11
6. Satisfação do cliente interno e crescente investimento em capital social.
As informações coletadas nas avaliações serão consolidadas em um relatório de indicadores
denominado de “devolutivas do Prêmio SESI”. Poderão ser adotados pelas empresas como
parâmetros de reflexão sobre o ambiente de trabalho e a imagem da empresa (comunicada e
percebida) pelos trabalhadores, pelo SESI e por representantes de instituições ligadas às questões
do trabalho que integram uma comissão julgadora responsável por definir as empresas
vencedoras.
2.5.9 – Critérios de excelência do Prêmio Nacional da Qualidade – PNQ
Também encontramos disponível para as empresas junto a FNQ (2005), o documento rumo a
excelência - critérios para avaliação do desempenho e diagnóstico organizacional. Os critérios
facilitam a identificação do grau de aderência das organizações empresariais aos fundamentos de
excelência, que são valores e diretrizes encontrados em organizações de sucesso consideradas de
“classe mundial”. Os critérios são baseados nos fundamentos de excelência do PNQ – Prêmio
Nacional da Qualidade: visão sistêmica, aprendizado organizacional, agilidade, inovação,
liderança e constância de propósitos, visão de futuro, foco no cliente e no mercado,
responsabilidade social, gestão baseada em fatos, valorização das pessoas, abordagem por
processos e orientação para resultados.
É no critério quatro (Sociedade) que o documento examina como a organização contribui para o
desenvolvimento econômico, social e ambiental de forma sustentável, por meio da minimização
dos impactos negativos potenciais de seus produtos, operações na sociedade e como a
organização interage com a sociedade de forma ética e transparente.
Segundo a FNQ (2005), excelência é uma situação excepcional da gestão e dos resultados obtidos
pela organização, alcançada por meio da prática continuada dos fundamentos do modelo
sistêmico.
Em geral as ferramentas e indicadores adotados pelas empresas socialmente responsáveis se
estruturam em torno do equilíbrio entre os aspectos ambiental, social e financeiro.
Figura 1 – Desenvolvimento Sustentável – Tripé da sustentabilidade empresarial
12. 12
Fonte: www.copesul.com.br citado por Kraemer (2005).
A figura acima dá a dimensão do desafio das micros e pequenas empresas na busca de um
modelo de ferramentas e indicadores que possam definir o modelo de gestão de responsabilidade
social empresarial que atendam as demandas de seu público impactado.
4- Considerações finais
As ferramentas e indicadores de responsabilidade social descritas sinteticamente neste estudo,
indicam a riqueza de alternativas que podem ser adotadas pela micro e pequena empresa
brasileira na gestão de negócios socialmente responsáveis.
Logicamente não se trata de seguir uma prescrição, mas apontar caminhos para a reflexão sobre a
incorporação dos princípios da responsabilidade social na gestão deste segmento que tem forte
impacto na sociedade brasileira.
Considera-se que a micro e pequena empresa, pelas suas limitações de recursos, deve se iniciar na
responsabilidade social empresarial através de um diagnóstico reflexivo sobre o ambiente de
trabalho, observando as legislações sociais relacionadas à sua atividade. Neste contexto, observar
o cumprimento das Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego, requisitos
da SA 8000 e a observação/adequação as legislações ambientais impactantes na atividade
empresarial.
Não está descartada a possibilidade de uma micro e pequena empresa buscar uma certificação
ISO 14000 ou SA 8000. Também não podemos negar a importância dos projetos sociais com a
13. 13
comunidade de entorno cuja finalidade principal é consolidar a imagem empresarial além de
beneficiar a sociedade local. Fundamentalmente, entendemos que uma das principais
oportunidades de desenvolvimento é a reflexão de como os gestores e trabalhadores das micros e
pequenas empresas estão conduzindo seus processos produtivos. Esta reflexão, deve ser de tal
forma a permitir que a gestão assegure a qualidade de vida no trabalho, relacionamento com a
comunidade de entorno, além de tecnologias e processos de produção que assegurem a
preservação do meio ambiente.
Contudo, o gestor da micro e pequena empresa deve integrar os princípios da responsabilidade
social em seu sistema de gestão ao optar por ferramentas e indicadores sociais que respondam aos
objetivos estratégicos de sua empresa para garantir melhores condições de competitividade,
atuação ética, transparência e justiça social nos negócios.
Naturalmente este estudo não tem a finalidade de esgotar o assunto e será aprofundado na
pesquisa de campo que dará fundamentação a dissertação no curso de mestrado de gestão
integrada em saúde do trabalho e meio ambiente do centro universitário do SENAC – SP. A
pesquisa pretendida e sugerida pelo autor destina-se a identificar práticas socioambientais que já
estão sendo utilizados pelo micro e pequena empresa, possíveis resultados que podem ser
referenciadas para o desenvolvimento da micro e pequena empresa no Brasil.
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