O documento discute a história da compreensão do sofrimento mental e da psicopatologia. Ao longo dos séculos, houve visões míticas, religiosas, filosóficas, médicas e científicas sobre o tema. Jung contribuiu com estudos empíricos em hospital psiquiátrico e com a noção de que os sintomas mentais têm significado e propósito para o paciente.
3. (IN)DEFINIÇÕES
CONJUNTO DE CONHECIMENTOS REFERENTES
AO SOFRIMENTO MENTAL DO SER HUMANO
Mítico, moral, religioso, filosófico, sociológico,
biológico, psicológico, etc.
RAMO DA CIÊNCIA QUE TRATA DA
NATUREZA ESSENCIAL DA DOENÇA MENTAL
- Busca observar, identificar e compreender os diversos
fenômenos da doença mental
- Pretende ser autônoma, sem se confundir com outros campos
do conhecimento às quais está associada, como a medicina,
a psicologia e a filosofia.
5. PRA COMEÇAR:
QUAL É A NOSSA RELAÇÃO
COM A PSICOPATOLOGIA?
Como enxergamos o sofrimento?
E as alterações de comportamento?
O que é normal/saudável ou patológico?
Quais as nossas relações pessoais
com o sofrimento psíquico?
Experiências pessoais, familiares, etc.
6. Quais as nossas “psicopatologias”?
Como as vivenciamos?
Como lidamos com elas?
A “psicopatologia” já está presente,
naturalmente, em qualquer pessoa...
7. O que o paciente espera de mim?
Qual o significado que ele traz sobre seu problema?
Como eu enxergo seu sofrimento, e meu papel diante dele?
Sempre há uma relação transferencial e ideológica sobre a psicopatologia!
NO ENCONTRO TERAPÊUTICO,
COMO O “PROBLEMA”
VAI SER ABORDADO?
8. E A MANEIRA DE ABORDAR O PROBLEMA PODE SER
MAIS “PATOLOGIZANTE” QUE O PATHOS EM SI...
Por isso a necessidade de se conhecer as diferentes formas
de se lidar com o sofrimento mental, quer se acredite nelas ou não...
Somos obrigados a nos relacionar com as crenças dos nossos
pacientes, de outros profissionais e da sociedade em geral...
9.
10. A psicopatologia é tão antiga quanto a humanidade?
COMPREENSÃO DO SOFRIMENTO E
DAS ALTERAÇÕES DE COMPORTAMENTO
MITOLOGIA
E
RELIGIÃO
18. ILUMINISMO (SÉCULO 18)
Cisão objetividade x subjetividade
Impulso da visão científica e racional sobre o mundo
Desvalorização das visões místicas/espirituais.
19. A FILOSOFIA DO ROMANTISMO E
A CRÍTICA DA RAZÃO PURA (SÉC. 19)
20. O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA (SEC. 19)
A revolução na medicina
Preocupação com as doenças e sua sintomatologia
Observar, classificar e ordenar
Fisiopatologia (desenvolvimento normal e suas alterações)
21. INÍCIO DA PSIQUIATRIA (SÉC. 19)
Pinel e a diferenciação da alienação mental como matéria médica
22. W. WUNDT E A FUNDAÇÃO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA
Psicologia experimental x social
1875 – primeiro laboratório de psicologia
Nascimento
C.G Jung
24. Altas expectativas em relação à psicologia (e psicopatologia)
Respostas às questões universais sobre a mente humana
Superação das especulações religiosas e metafísicas
Porém, os problemas metodológicos eram grandes...
No início do século 20:
Proliferava uma grande confusão de teorias e conceitos
25. E, no século 21...
Depois da revolução da genética e das neurociências!
26. O que não impediu que a psicologia, em suas mais diversas formas,
Da lavagem cerebral à liberdade sexual, tenha sido associada
aos grandes movimentos e transformações do século 20.
E provavelmente a sua multiplicidade e falta de coerência paradigmática
tenha facilitado o seu alcance e difusão popular
Psicologia, visão de mundo e mitologia
27. A psicologia depara-se com um problema metodológico
parecido com o da física quântica:
O observador interfere na qualificação do objeto de pesquisa
e nos resultados observados.
A psicologia está sendo constantemente reconstruída de acordo
Com pressupostos (ideologias) sobre o que é “ser humano”...
29. A própria psicologia analítica se tornou um arquipélago de teorias,
que muitas vezes usam seus conceitos de formas bem diferentes,
chegando a se opor em questões fundamentais.
Mas todas são “psicologias junguianas”...
30. As ideias de Jung com alcance epistemológico e metodológico foram
negligenciadas, começando por ele mesmo...
32. METODOLOGIA
METODO
O caminho que leva a algum lugar
Consequência da epistemologia
A maneira como Jung aplicou
seus princípios teóricos na prática clínica
AS BASES PARA NOSSA VISÃO SOBRE A PSICOPATOLOGIA
34. 'Border Zones of Exact Science‘
- Crítica tanto à ciência materialista como a
filosofia metafísica transcendente.
- Na época, defendeu o Vitalismo, que enxergava
o princípio vital distinto dos reinos da física e da
química, mas ao mesmo tempo conectado a eles.
Uma posição que Jung manteve ao longo de sua obra:
- A independência da dimensão psicológica
- A experiência do mundo seria a realidade (subjetiva)
- Mas era contrário a um subjetivismo radical (o mundo como ilusão)
35. Doutorado
“Psicologia e psicopatologia dos assim
chamados fenômenos ocultos”
Helene Preiswerk
- Experiências mediúnicas
- Jung participava das sessões como observador,
mas não se limitou a investigar apenas o conteúdo das sessões,
e se interessou fortemente pela transformação da personalidade de Helene
ao longo do processo, de uma menina insegura para uma mulher madura.
36. Jung não se focou em comprovar ou refutar a veracidade
Das experiências mediúnicas, mas sim em observar suas
Consequências psicológicas e influências sobre o
Desenvolvimento da personalidade de Helene
A conexão de Helene com os “espíritos”
teria uma função TELEOLÓGICA
Ivenes
37. Trabalho em Burgholzli
Jung mantém a postura de compreender as verbalizações de seus pacientes
Apoio de Bleuler, o diretor do hospital (criador do conceito de “esquizofrenia”)
Ambiente de pesquisa aprofundada sobre as doenças mentais
Instrumentos de mensuração psicofisiológica
Pesquisas sobre linguagem
Imersão no ambiente e contato íntimo com pacientes
Médicos moravam no hospital
Entrevistas que duravam horas...
39. As pesquisas com o Teste de Associação de Palavras
Filme: Um método perigoso
A descoberta das “personalidades divididas”
E não só em esquizofrênicos...
Conexão entre psicopatologia e psicologia da “normalidade”
O “outro” que mora dentro de nós mesmos
A dissociabilidade natural da Psique
Visão sistêmica da mente
Neurociências do séc. 19...
40. As diversas idéias estão interligadas segundo as diferentes
leis de associação (semelhança, coexistência, etc).
Mas, para a formação de associações superiores, elas são
selecionadas e agrupadas por meio de um afeto.
Jung, Sobre a psicologia da demência precoce, Halle, 1907,pg 44, in complexo, arquétipo, símbolo
O CONCEITO DE COMPLEXO
(DE ACENTO EMOCIONAL)
DÉCADA DE 1900
Envolvido na psicopatologia, mas também
um componente estruturante da Psique
Uma entidade autônoma da mente
41. EGO
C
C
C
Questionamentos sobre a autonomia do Ego.
Multiplicidade da Psique (psiques parciais).
Os complexos estão radicados no corpo
(reações emocionais)
Corroboravam a teoria psicanalítica da autonomia do inconsciente
COMPLEXO
42. Somente depois desse longo período de estudos e trabalho
(e experiências) ocorreu o encontro entre Jung e Freud...
Freud oferecia uma chave para a compreensão
da dinâmica do inconsciente.
O que desejavam “os outros” que vivem em nós?
44. O ESTUDO DOS SÍMBOLOS PELA AMPLIFICAÇÃO HISTÓRICO - CULTURAL
O COMPLEXO COMO COMPONENTE NATURAL DA PSIQUE
SÍMBOLOS E TRANSFORMAÇÕES DA LIBIDO (1911-1912)
(Ampliação do conceito de libido)
RUPTURA
COM
PSICANÁLISE
CRISE
PESSOAL
A VALORIZAÇÃO DO UNIVERSO DAS IMAGENS
45. A INFLUÊNCIA DAS VIVÊNCIAS DA INFÂNCIA DE JUNG
NA CONCEPÇÃO DE SUA TEORIA
PERSONALIDADE No. 1
X
PERSONALIDADE No. 2
46. INTERNO X EXTERNO
ESPECÍFICO/INDIVIDUAL X GERAL/COLETIVO
PESSOAL/INTRAPSÍQUICO X SOCIAL/SIMBÓLICO
Interno x Externo (Cisão e Reconciliação)
Vivências animísticas da infância
A personalidade cindida (no. 1 e no. 2)
Os Complexos
Os Arquétipos/Símbolos
Religião/Religare
O problema do “mundo sem alma”
Psicopatologia social
47. Jung não queria se restringir à análise
descritiva dos fenômenos psicopatológicos.
Era importante compreender o que os
Esquizofrênicos falavam...
(Escola de Bleuler)
Para Jung, era importante entender
a “mensagem” da psicopatologia
48. The empirical intellect, occupying itself with the minutiae of case
histories, involuntarily imports its own philosophical premises not only
into the arrangement but also into the judgement of the material and
even into the apparently objective presentation of data.
C.G. Jung, 'Editorial for Zentralblatt 8:1', in CW 10: par. 548
Jung se manteve crítico em relação
a possibilidade da descrição
Objetiva e “ateórica” dos casos clínicos...
Mihai Criste
51. A abordagem causal teria um efeito desintegrador sobre
o real significado do produto do inconsciente (o sintoma),
pois redutivamente o leva de volta aos seus antecedentes
históricos, aniquilando-o, ou apenas conectando-o novamente
aos processos elementares de onde nasceu.
(Jung, Psychological Types, par. 788)
Mitch Griffths
52. A neurose deve ser compreendida, em última instância, como
o sofrimento de uma Alma que não se descobriu seu significado.
(Jung, Ulisses – Um monológo, par. 497)
Elton Fernandes
53. Atenção à contratransferência
De onde vêm as minhas reações em relação ao paciente?
Qual a base sobre a qual estou usando meu conhecimento?
Jung e a ênfase na análise didática
A contratransferência como instrumento, e não algo a ser evitado
Seria impossível...
A “SENSIBILIDADE EPISTEMOLÓGICA” DE JUNG
54. Geração de significado
X
Descoberta de significado
A função teleológica como um caminho que leva a um
desdobramento de experiências.
Ênfase no processo de individuação, e não no seu produto final.
Erik Johansson
55. O objetivo seria se relacionar com as imagens.
Em uma abordagem construtiva, teleológica.
O engajamento com as
profundezas do ser...
Nekya
57. A ligação da consciência com os Arquétipos
Uma conexão significativa
Relacionamento/Interação/Vínculo
Criar um caminho, através do qual,
em processo construtivo/ativo,
uma experiência viva,
emerge um novo contexto,
uma atenção diferenciada,
um novo conhecimento,
e um sentimento de propósito/significado.
58. Cuidado com análise, tradução e interpretação
das imagens e influências arquetípicas, o que
Seria um retorno ao método redutivo.
59. A força do “numinoso”!
O que é capaz de nos carregar através dos desafios da vida?
Como lidar com a solidão, o egoísmo e a falta de sentido?
60. Um confronto de epistemologias
Ignorância socrática
X
Sabedoria gnóstica
Crítica de James Hillman
Picos e vales (o livro do Puer)
A distinção Alma/Espírito como base para as
diferenças ente psicoterapia e disciplina espiritual
Psicoterapeuta
X
Profeta
61.
62. Jung e a psicopatologia social
Visões de mundo (religiões/mitologias/filosofias)
perderam a força diante da crítica da razão, que
questionou a existência de uma verdade absoluta.
Mas então, ficamos perdidos/vazios...
Embora muitas vezes a ciência ocupe esse lugar mítico...
63. “Os Deuses tornaram-se doenças; Zeus não mais governa o
Olimpo mas, ao invés, o plexo solar, e produz amostras curiosas
para o consultório médico, ou desordena o cérebro de políticos e
jornalistas que nvoluntariamente liberam epidemias psíquicas no
mundo.”
(Jung, Alchemical Studies)
64. Para Jung, a psicologia analítica era uma ciência , não uma visão de mundo.
Mas ela tinha um papel especial a desempenhar na formação de
uma nova visão de mundo.
Sua contribuição consistia na importância do reconhecimento dos conteúdos
inconscientes, o que permitiria a construção de uma visão de mundo relativista ,
com uma concepção não mais considerada absoluta .
É verdade que , após Jung, sua psicologia deu origem a um sem-número
de visões de mundo.
O que ele teria a dizer sobre elas é totalmente outra questão.
Sonu Shamdasani