O documento discute a importância dos grupos na vida social e como as pessoas se organizam em grupos para viverem juntas de forma eficiente. Apresenta os conceitos de institucionalização, organização e grupo, e como esses elementos se relacionam na construção da realidade social. Também aborda temas como a dinâmica grupal, liderança, tipos de grupos e a produção grupal.
1. D R A . M A R I A A U XI L I A D O R A M O T TA B A R R E TO
PROCESSO GRUPAL
2. Vida cotidiana = vida em grupo tempo todo nos relacionando com
outras pessoas.
Mesmo sozinhos, a referência são os outros: amigos, próxima atividade
que, provavelmente, envolverá mais de uma pessoa, o namoro, a família.
Raramente uma pessoa vive completamente isolada e mesmo um eremita
levará, para o exílio voluntário, suas lembranças, seu conhecimento, sua
cultura.
Por encontrarmos determinantes sociais em qualquer circunstância
humana, podemos afirmar que toda Psicologia é, no fundo, uma
Psicologia Social.
3. As pessoas precisam combinar algumas regras para viverem
juntas se estiver num ponto de ônibus às cinco horas da
tarde, é preciso ter alguma certeza de que ele passará por ali
mais ou menos neste horário, para não perder aula
Dependemos do outro em nosso cotidiano. Um funcionário
precisou abrir o portão da escola, cujas dependências já
estavam devidamente limpas; um professor os espera; ao
chegar à escola, encontra colegas que também têm aulas no
mesmo horário. A esse tipo de regularidade normatizada pela
vida em grupo, chamamos de institucionalização.
4. A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA REALIDADE
“instituição” = O termo é utilizado, de forma corriqueira, para
designar o local onde se presta um determinado tipo de serviço
— geralmente público, como os serviços de saúde e social.
Freqüentemente ouvimos alguém mencionar que trabalha na
instituição tal, ou somos orientados a procurar determinada
instituição para resolver um tipo de problema - hospitais e
centros de saúde, ou locais que atendem a crianças e
adolescentes.
Outro emprego = determinadas organizações sociais, como a
família —“A família é uma instituição modelar”
# do empregado no texto
5. O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO
O processo de institucionalização começa com o estabelecimento
de regularidades comportamentais (Berger e Luckmann).
As pessoas vão descobrindo a forma mais rápida, simples e
econômica de desempenhar as tarefas do cotidiano.
homem primitivo: no momento em que começou a ter
consciência da realidade que o cercava, passou a estabelecer
essas regularidades – pesca – formas práticas que garantissem a
maior eficiência possível na realização da tarefa.
6. um hábito se estabelece quando uma dessas formas repete-se muitas
vezes. Um hábito estabelecido, com o passar do tempo e das gerações,
transforma-se em tradição
A tradição se impõe porque é uma herança dos antepassados. Se
eles determinaram que essa é a melhor forma, é porque tinham
alguma razão...
Após muitas gerações, a regra estabelecida perde essa referência de
origem (o grupo de antepassados), e pode-se dizer que essa regra
social foi institucionalizada.
7. A monogamia pode ser considerada uma dessas instituições.
As sociedades primitivas não a conheciam - casamentos eram poligâmicos.
surge, na Grécia antiga e no Oriente Médio com o estabelecimento da
propriedade privada e a descoberta da paternidade biológica.
Povos primitivos, o papel de pai era atribuído ao irmão materno mais velho;
as famílias eram matrilineares (baseadas na linhagem materna).
O surgimento das cidades, da propriedade privada e a descoberta da
paternidade biológica colocavam o homem da época diante de uma questão: a
herança - os homens que acumulavam riquezas durante sua vida não tinham
para quem deixá-las.
A família paterlinear e o casamento monogâmico foi a forma de organização
encontrada - perpetuar a propriedade através da herança. O filho passou a ser
o herdeiro dos bens paternos os homens proprietários passaram a
estabelecer, como regra, que suas mulheres deveriam manter relações sexuais
somente com eles (em função da descoberta do funcionamento da paternidade
biológica) e, assim, teriam certeza de que o filho lhes pertencia.
8. Hoje, se questionada sobre a monogamia, qualquer pessoa de
nossa sociedade dirá que o casamento se dá desta forma
porque “é natural”.
Ainda há culturas, como a muçulmana, que não adotam a monogamia como
regra e, mesmo assim, alguém da cultura ocidental continuará considerando
a monogamia natural.
A este fenômeno chamamos de instituição.
9. INSTITUIÇÕES,
ORGANIZAÇÕES E GRUPOS
A instituição é um valor ou regra social reproduzida no cotidiano com
estatuto de verdade, que serve como guia básico de comportamento e de
padrão ético para as pessoas, em geral.
Se a instituição é o corpo de regras e valores, a base concreta da
sociedade é a organização.
As organizações representam o aparato que reproduz o quadro de instituições no
cotidiano da sociedade.
A organização pode ser um complexo organizacional — um Ministério,
como, por exemplo, o Ministério da Saúde; uma Igreja, como a
Católica; uma grande empresa, como a Volkswagen do Brasil; ou pode
estar reduzida a um pequeno estabelecimento, como uma creche de uma
entidade filantrópica.
10. As instituições sociais são mantidas e reproduzidas nas
organizações.
A organização é o pólo prático das instituições.
Grupo = elemento que completa a dinâmica de construção
social da realidade — o lugar onde a instituição se realiza.
Se a instituição constitui o campo dos valores e das regras (um
campo abstrato), e se a organização é a forma de materialização
destas regras através da produção social, o grupo, por sua vez,
realiza as regras e promove os valores.
11. O grupo é o sujeito que reproduz e que reformula as regras.
É responsável pela produção dentro das organizações e pela
singularidade — ora controlado, submetido de forma acrítica a
essas regras e valores, ora sujeito da transformação, da
rebeldia, da produção do novo.
12. A IMPORTÂNCIA DO
ESTUDO DOS GRUPOS
primeiros estudos sobre grupos - final do século 19
Um dos primeiros pesquisadores deste assunto foi Gustav Le
Bon
O que se perguntava no campo da Psicologia era o que levaria
uma multidão a seguir a orientação de um líder mesmo que
fosse preciso colocar em risco a própria vida.
13. Hitler – hipnotismo coletivo , Jim Jones – suicídio coletivo
nem sempre os episódios de mobilização popular podem ser
considerados um fenômeno irracional em que as pessoas perdem
momentaneamente sua capacidade de discernir a realidade,
ficando à mercê de um líder carismático que, na verdade,
tenciona manipulá-las em função de interesses particulares ou
políticos.
14. em diversas ocasiões, as pessoas se unem e formam massas compactas
muito organizadas e autônomas, com objetivos claros e racionais.
Um exemplo: Diretas Já, episódio importante para a queda da ditadura militar.
Mas com grupos menores, com objetivos claramente definidos é que se
desenvolveu a pesquisa de grupos (a partir de 1930)
Kurt Lewin — professor alemão refugiado do nazismo, nos EUA –
desenvolveu a primeira teoria consistente sobre grupos.
também influenciou o desenvolvimento de uma teoria organizacional
psicológica que, nas empresas, é aplicada no estudo das relações
humanas no trabalho.
15. Na década de 30, Elton Mayo realizou uma pesquisa que se tornaria o
paradigma dos estudos motivacionais na área organizacional.
Relevância do fenômeno das relações interpessoais (entre os
operários, entre os operários e a administração) - prioridade ao estudo
da organização social do grupo de trabalho, das relações sociais entre
o supervisor e os subordinados, dos padrões informais que dirigem o
comportamento dos participantes num grupo de trabalho, dos motivos
e das atitudes dos operários no contexto do grupo.
16. A DINÂMICA DOS GRUPOS
temas comuns na dinâmica grupal:
coesão do grupo (condições necessárias para a sua manutenção);
pressões e padrão do grupo (argumentos reais ou imaginários,
manifestos ou velados que seus membros utilizam para garantir a
fidelidade dos demais aos objetivos do grupo e ao padrão de conduta
estabelecido);
motivos individuais e objetivos do grupo (elementos que garantem
fidelidade e que estão relacionados com a escolha que cada indivíduo
faz ao decidir participar de um grupo);
liderança e realização do grupo (força de convencimento — carisma —
exercida por um ou mais indivíduos sobre os outros e o tipo de
atividade exercida pelo grupo);
as propriedades estruturais dos grupos (padrões de comunicação,
desempenho de papéis, relações de poder etc.).
17. as pessoas vivem, em nossa sociedade, em campos institucionalizados =
moram com suas famílias, vão à escola, ao emprego, à igreja, ao clube;
convivem com grupos informais, como o grupo de amigos da rua, do bar,
do centro acadêmico ou grêmio estudantil etc.
Em alguns casos, a institucionalização nos obriga a conviver com pessoas
que não escolhemos.
Solidariedade mecânica = forma de convívio que independe da nossa
escolha
Solidariedade orgânica = forma de convívio na qual nos afiliamos a um
grupo porque escolhemos nossos pares
Nos grupos em que predomina a solidariedade mecânica, geralmente formam-
se subgrupos que se caracterizam pela solidariedade orgânica, como é o caso
das “panelinhas” em sala de aula ou do grupo de amigos no trabalho
18. O grupo
Grupo = um todo dinâmico
o que significa dizer que ele é mais que a simples soma de seus
membros),
a mudança no estado de qualquer subparte modifica o estado do grupo
como um todo.
se caracteriza pela reunião de um número de pessoas com um
determinado objetivo, compartilhado por todos os seus membros, que
podem desempenhar diferentes papéis para a execução desse objetivo.
Quando um grupo se estabelece, os fenômenos grupais passam a
atuar sobre as pessoas individualmente e sobre o grupo, ao que
chamamos de processo grupal.
19. A coesão é a forma encontrada pelos grupos para que seus membros sigam as
regras estabelecidas.
É a “certeza” da fidelidade dos membros
Grupos com baixo grau de coesão tendem a se dissolver, como geralmente acontece
com associações de pais em colégios.
Além de reunirem-se eventualmente, poucos membros participam das reuniões
A fidelidade ao grupo dependerá do tipo de pressão exercida pelo grupo em
relação aos novatos e aos outros membros
Os motivos individuais são importantes para a adesão ao grupo.
Alguém que pretenda ingressar num grupo jovem de góticos está se dispondo,
individualmente, a mudar o seu modo de ser.
as diferenças individuais são admitidas desde que não interfiram nos objetivos
centrais do grupo, na sua idéia central ou nas suas características básicas.
20. A questão da liderança
Lewin argumentava que o clima democrático, autoritário ou o
laissez-faire dependiam da vocação do grupo e do estabelecimento
de lideranças que os viabilizassem.
os grupos democráticos são, a longo prazo, os mais eficientes.
Já os autoritários têm uma eficiência imediata. Mas são pouco produtivos, pois
funcionam a partir da demanda do líder, e seus membros são, geralmente,
cumpridores de tarefas.
Os grupos democráticos exigem maior participação de todos os membros, que
dividem a responsabilidade da realização da tarefa cora sua liderança.
21. GRUPOS OPERATIVOS
Pichon-Rivière, francês radicado na Argentina, desenvolveu
uma abordagem de trabalho em grupo - “Grupos Operativos”.
De acordo com o psicólogo Saidon, estudioso da obra de
Pichon-Rivière,
“o grupo operativo se caracteriza por estar centrado, de forma explícita, em uma
tarefa que pode ser o aprendizado, a cura (no caso da psicoterapia), o diagnóstico de
dificuldades etc. Sob essa tarefa, existe outra implícita subjacente à primeira, que
aponta para a ruptura das estereotipias que dificultam o aprendizado e a
comunicação”
22. configura-se como um modo de intervenção,
organização e resolução de problemas grupais, baseado
em uma teoria consistente, desenvolvida por Pichon-
Rivière e conhecida como Teoria do Vínculo.
Tal abordagem transformou-se num poderoso
instrumento de intervenção
23. Silvia Lane - categorias de produção grupal:
1. Categoria de produção — produção das relações grupais..
2. Categoria de dominação — os grupos tendem a reproduzir as
formas sociais de dominação.
3. Categoria grupo-sujeito — trata-se do nível de resistência à
mudança apresentada pelo grupo. Grupos com capacidade de
crescimento através da mudança, são considerados grupos-sujeitos. Os
grupos que se submetem cegamente às normas institucionais e
apresentam muita dificuldade para a mudança são os grupos-sujeitados
24. Finalizando
O conhecimento da dinâmica grupal facilita a adaptação a
qualquer grupo
O trabalho em equipe é mais eficaz quando se respeita a
individualidade dos membros em interface com os
objetivos do grupo