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Letras Taquarenses Nº 51 * Antonio Cabral Filho - Rj
1. MEUS INESQUECÍVEIS
Maria!...Quando esse nome
Deixar de ser puro e terno,
Formiga morre de fome,
Cigarra canta no inverno.
Pedro Giusti – RJ
Existe a disparidade,
Há diferenças demais...
Só mesmo a dignidade
Fará dois homens iguais.
Fernando Vasconcelos – PR
O amor chega sem jeito,
Balança meu coração,
Que bate forte no peito
Temendo desilusão.
Osael de Carvalho – RJ
HAICAIS
Só eu e o salgueiro –
Que procuram nossos olhos
Sempre para o chão?
Neide Rocha Portugal - PR
Conta mil façanhas
Para a amada impressionar:
Fogo que não queima.
João Batista Serra-Ce
No meio da noite,
Um súbito despertas:
Pernilongos a postos.
Renata Paccola – SP
Seis horas em ponto.
As andorinhas me acolhem
Brincando na rua.
Humberto Del Maestro – ES
Menino extasiado,
A pandorga atingiu
Altura do telhado.
Manoel F. Menendez – SP
Chove de mansinho
Na manhã de primavera:
Frio tropical.
No baile das flores,
Beija-flores fazem festa:
Eis a primavera.
Caminho do mar:
A navalha no meu rosto,
Corta que nem gelo.
Sacrifício algum
Vale prazer mais intenso
Que matar o tempo.
Antonio Cabral Filho - RJ
TROVAS
Passa o vento num arrulho.
A noite é fria lá fora...
Como é gostoso o barulho
Da chuva, caindo agora.
Humberto Del Maestro - ES
À sombra dos arvoredos
Da praça, paz e alegrias,
Vou sonhando meus segredos
E envelhecendo meus dias.
Jessé Nascimento – RJ
Vem chegando a primavera,
Os jardins ficam floridos...
Almas cheias de quimera
E corações coloridos.
Henny Kropf – RJ
Suscitando a inquietude
De uma longa odisséia,
A trova, mais que virtude,
É gênese de uma idéia.
Silvério da Costa – SC
Urubu sobre o telhado
E voando abertamente
Ficou muito bem olhado
Pelo suspiro da gente.
FranciscodeAssisNascimento
Uma pedra no caminho
Fez Drummond poetizar;
Um poeta faz seu ninho
No rochedo que encontrar.
Olivaldo Júnior - SP
Trovadores, em verdade,
São irmãos na inspiração,
Na partilha da amizade,
No carinho e na emoção.
Eliana Ruiz Jimenez - SC
Camomila e poesia
Mais o cobertor de orelhas
Fazem a minha alegria
Numa noite sem estrelas.
&
No Largo da Abolição
Ouvi berimbau nos ares,
Lembrei que a escravidão
Fez do Brasil seu Palmares.
&
Minha pedra, minha vida,
Diz o craqueiro a cantar,
Sem saber que aquela “vida”
Acaba de se queimar...
&
Marinheiro que se presa,
Não sofre câimbras em nado;
Quem não crê também não reza
Nem pode ser perdoado.
&
Poesia é um trem
Que parte para os confins;
Quem vai sabe muito bem
Que a viagem é sem fim.
&
Nascer é pegar um trem
Sem dizer aonde vai,
Todos vão nele também,
Ninguém diz sequer um ai.
&
Tempo passa, tempo voa,
Nele a gente vai e vem,
Viajamos numa boa
Como os pingentes de trem.
Antonio Cabral Filho – RJ
Assinatura Anual: R$20,00 Dep Ag:2905.013 Cp00.010.778-3CEF Ano VII nº51 Out 2013 Editor:Antonio Cabral Filho
Rua São Marcelo, 50/202 Curicica-Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: letrastaquarenses@yahoo.com.br
http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC
2. EIS
Eis, mais que os nomes do nada,
Menos que os nomes de tudo,
Só alguns píncaros,
Pouco demais do mundo,
Eis, dificuldade, a louca recusa
De compreender que é breve
A eternidade.
Eis, linguagem que vivemos,
(a linguagem que nos vive)
O ser, a casa,
O lugar-pátria:
Eis todo o universo,
Dicionários
& enciclopédias
Como alicerces.
Aricy Curvello – MG
Desejos
Há um céu de silêncios
E um mar de mistérios
Em teus olhos
Entretanto, a distância
Levanta ardentes
Desejos de posse
Deixando intata
A doce pele de tua mão.
Terezinka Preira – EUA
Acolhimento
O caos
É o cais
Que me acolhe.
Nele busco a ordenação
De meus sentidos
E viro síntese.
Silvério da Costa – SC
Último Desejo
Todo beijo que seja
Com a força do derradeiro
Pois a morte se esconde na vida
E os beijos (desde o primeiro)
Já escondem consigo
a despedida.
Clei de Souza – PA
Classe de Palavras
O substantivo é Amor.
O verbo é Amar.
O adjetivo é Amoroso.
Os pronomes são: Eu e Você.
Os numerais são: dois e um.
A conjunção é a aditiva: e.
A preposição é com.
O advérbio sim.
A interjeição é Viva!
Rosilene Jorge dos Ramos – RJ
LIÇÃO NÃO HÁ
A paisagem é dura
Os amores se assustam
No meu corpo
Lição não há
Imagem não há
Para o efêmero
Tudo se entrega
Ao que está morto
Iacyr Anderson Freitas – MG
DESCOBRIMENTO
No meio da mata fechada
A índia nua e virgem...
O português cristão
Nunca amou tanto o próximo
Como a si mesmo.
Eryck Magalhães – RJ
A CULTURA DO MEDO
Se fizeres amor, terás AIDS.
Se fumares, terás câncer.
Se comeres, terás colesterol.
Se beberes, terás acidentes.
Se respirares, terás
Contaminação.
Se leres, terás confusão.
Se pensares, terás angustia.
Se sentires, terás loucura.
Se falares, perderás o emprego
.
Eduardo Galeano
ENCANTAMENTO
No balde de juçaras
O homem busca
A água de que precisa
No terreno seco
Procura o vento
Encontra Deus
Disfarçado de sabiá.
Luiz Otávio Oliani – RJ
Canção da Mulher Amada
Não quero a estrela
Líder da preferência
Nas oficinas mecânicas,
Não quero a estrela
Que brilha na telenovela
Dos horários nobres,
Não quero a estrela
Líder de audiências
Nas termas da cidade,
Não quero a estrela
Morta no matagal
Como queima de arquivo,
Não quero a estrela
Que deixa estar como está
Só pra ver como é que fica,
Não quero a estrela
Que não seja a estrela
Que brilha nos meus sonhos.
Antonio Cabral Filho – RJ
MARTINHO DA VILA
Domingo de chuva e sossego,
Docinhos, biscoitos, café,
E o beijo morno de Amélia;
Fosse domingo de sol,
Eu estaria açodado,
Geladas, batidas, salgados,
E o batuque solto na cozinha
Enquanto a sinhá não vem.
Antonio Cabral Filho - RJ