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Design nos espaços públicos: um presente para a
cidade
Design in public spaces: a gitf to the city

Beraldo, Leyla; Graduanda em Design de Produto e Pesquisadora PET Design; Instituto
Federal de Santa Catarina. leylaberaldo@gmail.com

Jorge, Letícia Pinto; Graduanda em Design de Produto e Pesquisadora do CNPQ; Instituto
Federal de Santa Catarina. leticiapjorge@gmail.com

Levitan, Cynthia; Graduanda em Design de Produto e Pesquisadora PET Design; Instituto
Federal de Santa Catarina. cynthia.levitan@gmail.com

Sielski, Isabela Mendes; Dr. e Profª. do Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto,
Instituto Federal de Santa Catarina. isabelasielski@hotmail.com

Silva, Ramon Martins da; Graduando em Design de Produto e Pesquisador PET Design;
Instituto Federal de Santa Catarina. ramonms9@gmail.com


Resumo

Os espaços públicos da cidade, em geral, carecem de atrativos e cuidados causando certo
desinteresse nas pessoas pelos ambientes urbanos, o que dificulta uma relação experiencial
direta entre o espaço público e todos os outros elementos que compõem uma cidade. É nesse
cenário que entra o design como uma alternativa capaz de modificar a relação existente entre
as pessoas e o espaço público, ao utilizar seu potencial criativo e referencial para o
desenvolvimento de projetos que valorizem os espaços públicos.

Palavras Chave: espaço público; cidade; arte pública.


Abstract

The city's public spaces, in general, lack of attractive and care causing disaffection in certain
persons for urban environments, which complicates a direct experiential relationship between
public space and all other elements that make a city. Is this scenario going into the design as
an alternative capable of modifying the relationship between people and public space, to use
their creative potential and reference for the development of projects making use of public
spaces.

Keywords: public spaces; city; public art.

§
Design nos espaços públicos: um presente para a cidade



1 Introdução
      Este artigo é resultado de um projeto interdisciplinar, que relacionou as disciplinas de
Semiótica, Estética, Metodologia de Projeto, Fotografia e Rendering, proposto no terceiro
módulo do Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto do Instituto Federal de Santa
Catarina (Campus Florianópolis). Esse projeto, o qual foi orientado por um grupo de
professores, teve como tema o “ato de presentear”, sendo que a partir disso, a equipe deveria
encontrar um problema que relacionasse essa questão, para que fosse desenvolvida uma
fundamentação teórica que impulsionasse o desenvolvimento de um produto capaz de gerar
soluções para tal problema.
      Ao encontrar problemas referentes à carência de design nos espaços públicos e sensíveis
a isso, desenvolveu-se um projeto com o objetivo de proporcionar um dispositivo urbano que
presenteasse os lugares da cidade por meio da interação dos elementos que a compõem. Na
execução das etapas do projeto de produto, o processo projetual foi dividido em dois grupos
de ações, os quais, compostos por tarefas, foram solucionadas por meio de artifícios
científicos: análise do problema e desenvolvimento conceitual.
      A primeira etapa, análise do problema, serviu para fundamentar o desenvolvimento
conceitual de um dispositivo urbano que veiculasse a comunicação entre a sociedade e o
espaço urbano, tendo como foco o design para espaços públicos. E é dessa fundamentação
referente ao design incorporado aos espaços públicos que o presente artigo se ocupa. Portanto,
a seguir, reflete-se o problema encontrado e a partir disso são discorridos temas que são de
interesse ao design para espaços públicos: o presentear, a cidade e a arte da cidade.

2 A problemática da falta de design nos espaços públicos
      Todo objeto que é transformado em presente carrega consigo algo que vai além de sua
interface, geralmente eles visam transmitir uma mensagem ao indivíduo que o recebe, assim,
possuem funções tanto práticas quanto estéticas, e principalmente simbólicas (LÖBACH,
2001). Portanto, quando se escolhe um presente, logo, acrescenta-se um significado ao
mesmo, subentendendo-se que, de acordo com a mensagem transmitida, o indivíduo
presenteado terá uma relação muito mais afetiva com o produto recebido. Segundo Flüsser
(2007), o ser humano tem tido cada vez mais consciência do caráter efêmero dos produtos,
toda matéria tende a perder sua forma, ou seja, sua informação; assim pode-se dizer que parte
das escolhas feitas por quem quer presentear possui características muito mais simbólicas.
      Ao ter-se a ciência de que a relação homem-objeto se torna cada vez mais próxima,
percebeu-se uma carência dessa relação no espaço público da cidade, local onde a integração
entre as pessoas deveria ser intensificada.
      As cidades caracterizam-se por serem áreas urbanas que possuem uma população e um
estatuto legal. Suas culturas e histórias variam de região para região, mas não modificam o
fato de que é por seus bairros e ruas que a sociedade transita diária e continuamente. Assim:
                           Surgem dois planos nem sempre harmônicos, mas sempre coincidentes na estrutura
                           da cidade enquanto fenômeno de comunicação: de um lado, está o plano construtivo
                           como suporte da cidade que se transforma em meio a criar um ambiente
                           comunicativo e, de outro lado, concretiza-se a imagem midiática da cidade que
                           agasalha o cotidiano, a sociabilidade e as trocas interativas que transformam a
                           cidade na maior experiência comunicativa da humanidade. (FERRARA, 2008, p.
                           42)

     Quando se tem em mente o espaço ‘cidade’, não se pode pensar em cada elemento que o
constitui de maneira particular, deve-se refletir como um conjunto de partes que se
complementam e permeiam uma população. Cada elemento possui seu valor e contribui para


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Design nos espaços público: um presente para a cidade



a construção de um ambiente no qual a comunidade e a estrutura citadina funcionem de
maneira social (FERREIRA, 2002). Essa mesma função social, assim como está previsto no
Estatuto das Cidades que regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, deve ser
assegurada em qualquer planejamento urbano (ESTATUTO DA CIDADE).
     Todavia, verificou-se, no Brasil e em especial na cidade de Florianópolis, que faltam nos
espaços urbanos meios e atrativos que propiciem a interação entre as pessoas e o ambiente
urbano. Praças, ruas e vias públicas estão abandonadas. Além desta problemática ainda existe
a questão dos condomínios que têm projetado suas áreas de lazer, de certa forma, retirando do
poder público a obrigação de revitalização desses espaços. Essa carência de atrativos e
cuidados provoca nos indivíduos certo desinteresse pelos ambientes urbanos, o que faz com
que eles não se sintam familiarizados com os elementos integrantes da cidade.

Presentear – Um ato afetivo
      Não se sabe ao certo o momento exato do nascimento da tradição em dar e receber
presentes. Independente da motivação para se presentear, os presentes não representam
apenas objetos que atuam em rituais de comemoração, representam também a materialização
de uma relação criada ou mantida pelos indivíduos por meio desse ato (ANTUNES, 2009). O
real sentido do ato de presentear tem como finalidade criar ou reavivar as relações sociais. A
preocupação atual em relação a sugestões afetivas e emocionais no design indica a
necessidade de reinserir as relações humanas no meio social:

                       [...] a preocupação atual de sugestões afetivas e emocionais no design parece indicar
                       a vontade de reinserir as relações humanas no ambiente imediato. Cada vez mais as
                       relações institucionais e pessoais tomam-se soltas nas dimensões de tempo e de
                       espaço. O novo papel do design de objetos e sistemas de comunicação parece ser o
                       de reinserir os valores humanos e da sensibilidade humana no mundo material, para
                       fazer nossas interações com o produto, menos impessoais e estritamente funcionais,
                       e mais relacionais, agradáveis e confiáveis. (NIEMEYER, 2003, p. 51)

        Segundo Pépece (2002) o ato de presentear está intimamente ligado à integração e tal
prática atua como agente descritivo e mantenedor dos relacionamentos. Tal afirmação se deve
ao fato de que apesar de os presentes, em algum momento, serem dados com o objetivo de
atender alguma função prática (LÖBACH, 2001), a relação que esses estabelecem com os
indivíduos, coloca os aspectos simbólicos e estéticos em primeiro plano.
        Graças a tais aspectos, os produtos contêm inúmeros significados, logo, por meio dos
presentes, as pessoas procuram comunicar sua identidade, seus valores intrínsecos e crenças
em relação aos objetos. Portanto, os produtos, como veículos de comunicação entre as
pessoas, possibilitam, pela interação, experiências únicas e singulares.
        Partindo dessas considerações, verifica-se que o ato de presentear transcende as
funções mercadológicas e econômicas imbuídas em seu contexto. Juntamente ao design nos
espaços urbanos podem-se explorar elementos que façam os cidadãos sentirem-se
presenteados por meio de um produto que incentive as práticas sociais e que promova,
mediante a coletividade de uso do produto, encontros, inserções e interações com o espaço
urbano.

A cidade – Um organismo
     A cidade pode ser entendida como o mundo criado pelo homem, assim como descreve o
sociólogo urbano Robert Park (apud HARVEY, 2008, p. 11):



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Design nos espaços públicos: um presente para a cidade



                          [...] a mais consistente e, no geral, a mais bem sucedida tentativa do homem de
                          refazer o mundo onde vive de acordo com o desejo de seu coração. Porém, se a
                          cidade é o mundo que o homem criou, então é nesse mundo que de agora em diante
                          ele está condenado a viver. Assim, indiretamente, e sem nenhuma idéia clara da
                          natureza de sua tarefa, ao fazer a cidade, o homem refez a si mesmo.

      A partir dessa e de outras concepções, a cidade apresenta-se como ponto central do
cruzamento entre espaço, tempo e variantes como a liberdade cultural e significativa. Por
haver essa intersecção de elementos, o que a torna repleta de características que constituem
significados diferentes, não é possível ter uma leitura geral que sintetize uma definição exata
capaz de expressar precisamente qualquer cidade do espaço no qual se vive. Talvez essa
definição precisa e com seus limiares bem definidos seja aquela que se encontra em um
dicionário:
                          CIDADE, s.f. Centro populacional permanente, altamente organizado, com funções
                          urbanas e políticas próprias; o conjunto dos habitantes desse centro; o centro
                          comercial; sede do município. (TERSARIOL, 1996, p. 129)

      Porém, a morfologia da palavra cidade vai além da definição aparentemente inequívoca
que qualquer dicionário carrega, observa-se aqui que é levada em consideração a capacidade
de geração de signos, advindos principalmente por meio da estética, que o sistema nomeado
cidade possui. Como afirma Jeudy (2005, p. 82), “a cidade se nutre de tudo que serve de
signo”, portanto, a integração e a maneira como esses signos se relacionam e coexistem no
mesmo espaço faz surgir o que é conhecido como cidade. Ferrara (1988, p. 15) sustenta a
idéia da relação entre signos para fazer existir:

                          A integração de signos produz associação de idéias pelas relações de similaridade,
                          causalidade e contigüidade entre aqueles signos, referência da e na cidade, o
                          contexto e as conexões produzidas pelo usuário no seu dia-a-dia, um uso-leitura que
                          incorpora e integra movimento, cor, textura, dimensão, frio ou calor, cheiro,
                          envolvência: uma cidade-organismo dotada de elementos e propriedades
                          bioquímicos.

     Ferrara (1988, p. 45) elucida alguns dos principais signos que fazem parte do espaço
urbano de uma cidade:

                          [...] o ambiente urbano é um complexo de signos: os formais (a própria forma do
                          objeto construído), os lingüísticos (nome das ruas), os de propaganda (cartazes), os
                          indicadores de direção, os estéticos (os materiais empregados, as características
                          estilísticas de fachadas, jardins, iluminação etc.), os contextuais (a situação urbana
                          em que se localiza), e os signos usuários (a especificidade dos comportamentos
                          humanos tomados como signo).

      Ao falar dos elementos que constituem o organismo cidade, Ferrara (1988) entra na
estética como fator desencadeador para a construção de significado. Pode-se considerar então,
o design como uma ferramenta para atribuir tais aspectos estéticos aos elementos que compõe
o organismo, utilizando seu potencial criativo para o desenvolvimento de projetos que
valorizem os espaços públicos.
      Esses espaços públicos são espaços onde há o direito de ir e vir. Ruas, parques, praças e
jardins que possuem livre circulação e são destinados à coletividade são ditos como públicos.
É de extrema importância para a saúde social de uma cidade que espaços desse tipo sejam
oferecidos às mais diversas formas de socialização dos membros de uma sociedade. Logo:


9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Design nos espaços público: um presente para a cidade



                        As cidades precisam oferecer para seus cidadãos espaços de convivência, de lazer,
                        de integração e de cultura, para que homens e mulheres possam exercer o direito de
                        uso coletivo, de ‘estar na rua ou no parque com a família’, da (re)valorização das
                        relações humanas, enfim, a cidade deve ter em seus espaços lugares que oferecem
                        qualidade de vida. Os cidadãos identificam-se com lugares, na medida que
                        reconhecem sua importância, que assumem a condição de espaços de uso coletivo e
                        que representem a identidade local ou global. (REIS, p. 02)

      Portanto, um espaço público, teoricamente, é aquele no qual é possível encontrar pessoas
de todas as camadas sociais, culturais e econômicas; ou seja, a diversidade é característica
principal desse lugar.
      No entanto, a realidade atual das cidades nos mostra outro panorama, segundo Ferreira
(2002). A perda e o descuido dos espaços públicos degradam a relação de convivência dos
indivíduos dentro desses espaços, e assim, há uma maior busca por entidades privadas para
realizar tais encontros. O aparente descaso do Estado com os espaços sociais da cidade tem se
intensificado, uma vez que grupos empresariais têm procurado parcerias com o poder público
para “presentear” a cidade com obras como shopping centers, obras com caráter
majoritariamente comercial, o que acentua ainda mais o desenvolvimento urbano desigual. Os
espaços urbanos comuns devem ser pensados de maneira inclusiva (HARVEY, 2008) para
que possam cumprir com eficiência o seu papel social para com os cidadãos.
      Harvey (2008, p. 14) afirma que a grande urbanização que ocorre nesses últimos tempos
não permite que haja reflexão da sociedade a respeito do fato de que “[...] individualmente e
coletivamente, fazemos nossa cidade através de nossas ações diárias e de nossos
engajamentos políticos, intelectuais e econômicos”. Portanto, há necessidade de fazer com
que os cidadãos se sintam os próprios personagens desse espaço, que são capazes de interferir
na cidade através das práticas diárias, mesmo inconscientes de seus atos, pois estes possuem
direito à cidade. Kunsch (2008, p. 04) explica esse direito com base numa abordagem de
Harvey:
                         Harvey defende o direito à cidade como ‘inalienável’, ou seja, o direito do qual não
                         podemos abrir mão. Exercer o direito à cidade significa assumir a nossa
                         responsabilidade no processo de produção e de transformação da cidade.


A Arte da cidade
      A cidade é uma temática complexa compreendida por diversas áreas do conhecimento.
Ítalo Calvino, em Cidades Invisíveis, nos lembra que o espaço nada significa numa mera
exterioridade, ele só existe em relação aos sujeitos que os significam. Intrínseca à cidade, está
sua história, seu cotidiano e os atores que estão inseridos no contexto do espaço.
      Na contemporaneidade, os centros urbanos são cenários concretos de diversidade e de
desigualdade. Por esse fato, faz-se necessário pensar a estética relacional (BOURRIAUD,
2006) como alternativa à sociabilidade, e percebê-la como estimuladora de experiências e
também como artifício para solucionar a carência de laços sociais que uma sociedade
capitalista e globalizada provoca.
      Em benefício do individualismo, a sociedade do consumo esquece as questões
subjetivas, as ligações afetivas e os espaços coletivos. Como meio de revitalizar as relações e
vivência dos lugares, busca-se analisar três áreas do conhecimento em que ocorre uma
profunda intersecção em relação ao contexto urbano, são elas: a arte, o design e a arquitetura.




                                         9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Design nos espaços públicos: um presente para a cidade



Dialogando entre a arte, o design e a arquitetura
      Como conseqüência da “era Pós-Industrial”, a urbanização e o desenho da cidade foram
expandidos e, como conseqüência, criou-se espaço para o surgimento do design nos espaços
urbanos, o que estreitou as fronteiras entre a arte e a arquitetura.
       Na sociedade contemporânea, o sistema capitalista nos induz a criar as relações com os
objetos meramente com o intuito de comercializá-los, o que pode gerar um grande vazio de
significações. Assim sendo, o papel do designer nos espaços urbanos é de tentar criar táticas
restauradoras das relações.
      O design passa a ser compreendido como intervenção cultural no espaço, que é dado
através do complexo de idéias que englobam a estética, a sociologia e a semiótica. Para isso,
Flüsser (1992) afirma que o design é a essência funda da cultura. É através dessa cultura que o
design vai atuar como mediador entre o objeto e o espectador, possibilitando a vivência de
experiências estéticas que gerem situações intensificadas de encontro e socialização.
      Esta vertente que relaciona o design no espaço público como intervenção cultural pode
ser compreendida pela transformação da arte no último século. As décadas de sessenta e
setenta foram o estopim para as grandes manifestações artísticas e culturais. A arte passou
nesse período por uma imensa expansão em seus conceitos e práticas que acabaram por
refletir na visão do que seria considerado “arte pública”. Interpretada anteriormente como
uma escultura e/ou monumento que visava valorizar o espaço físico, a arte era representada
por meio da história da arte e muitas vezes não considerava a própria cidade, seu contexto e a
historia cultural de seus habitantes. Assim como elucida Krauss (1979, p. 88):

                          [...] ao longo que os anos 60 se prolongavam aos 70, o termo escultura começou a se
                          tornar problemático e obscuro, no sentido de que cada vez mais abarcava um campo
                          tão heteróclito que corria o risco de entrar em colapso.

      Essa transição da arte para fora dos museus possibilitou uma maior relação com o
público e foi de suma importância para o desenvolvimento de uma arte pública, crítica e
política. Jeudy (2005, p. 129) enfatiza que:
                          Não se trata mais da arte dentro dos museus, mas da arte nas ruas ou em lugares
                          indeterminados. E essa arte coletiva, arte cotidiana, pode se tornar um procedimento
                          de salvação pública contra a degradação das relações sociais.

      Para Amaral (1998), a experiência artística vem em busca de um olhar crítico por meio
de uma arte que seja problematizadora de espaços, lugares, campos e estruturas, e assim o
design também deve se portar. A arte pública, e consequentemente o design para o ambiente
urbano, não está focada especificamente no objeto estético, mas no contexto da obra e na
intervenção social que a mesma ocasiona. Como principal característica nota-se a
flexibilidade por possibilitar a mudança de acordo com as circunstâncias e condições de cada
lugar específico, criando provocações e gerando o debate cívico.
      O artista passa, nesse contexto, a ter o papel de criar descontinuidades, não só no espaço
público, urbano e coletivo, mas também no seu próprio cotidiano e percurso. O percurso
mencionado converge para o que Bourriaud (2006) chama de “estética relacional”, uma
estética centrada nas práticas sociais que busca ampliar ao máximo as suas possibilidades
conotativas, a procurar a participação ativa do espectador. Através da interação, visa
proporcionar um intercâmbio mediante a experiência da proximidade, ao transformar a arte
em um estado de encontro.




9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Design nos espaços público: um presente para a cidade



Considerações
      Tratar os elementos que compõem um espaço público da cidade como um presente à
sociedade é uma alternativa para o desenvolvimento de dispositivos que contribua para o bem
estar social, na medida em que esses sejam capazes de proporcionar novas experiências
estéticas e afetivas às pessoas.
      É nesse contexto que o design encontra mais um âmbito em que pode desempenhar seu
papel de agregar valores aos produtos:o design nos espaços públicos. A partir disso,
impulsiona-se a discussão de novas abordagens acerca do envolvimento do designer nos
espaços que formam a cidade.

Referências
AMARAL, Lilian. Arte pública: Arte do público. 1998.

ANTUNES, Vinícius R.S. Caliente!: Linha de presentes para a empresa Uati. Trabalho de
Conclusão de Curso do curso de Design de Produto, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.

BOURRIAUD, Nicolas. Estética relacional. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2006 .

ESTATUTO DA CIDADE. Disponível em: <http://www.estatutodacidade.com.br/>. Acesso
em: out. 2009.

FERRARA, Lucrecia D’Aléssio. Ver a cidade. São Paulo: Nobel, 1988.

FERREIRA, William Rodrigues. O espaço público nas áreas centrais: a rua como
referência - um estudo de caso em Uberlândia-MG. Tese de doutorado. Universidade de São
Paulo, 2002. Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-28042006-
103725/ >. Acesso em 19 de setembro de 2009.

FLÜSSER, Vilém. O mundo codificado. São Paulo: Cosac & Naify, 2007.

______. On the term "design". Artforum, 1992.

HARVEY, David. A liberdade da cidade. Revista Urbânia 3. Editora Pressa, 2008.

JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das cidades. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005.

KRAUSS, Rosalind. A escultura no campo ampliado. Revista Gávea da Pontifícia

KUNSCH, Graziela. Editorial. Urbânia 3. Pressa, 2008. Universidade Católica - PUC. Rio de
Janeiro, 1995.

LÖBACH, Bernard. Design Industrial: Base para a configuração dos produtos industriais.
São Paulo: Edgar Blücher, 2001.

NIEMEYER, Lucy. Elementos da Semiótica Aplicados ao Design. Rio de Janeiro: 2AB,
2003.



                                    9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Design nos espaços públicos: um presente para a cidade



PÉPECE, Olga M.C. O ato de presentear: o único capaz de transmitir mensagens sem
utilizar palavras, de expressar carinho sem utilizar o toque. In: CONGRESSO BRASILEIRO
DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, XXV, 2002, Salvador. Anais, São Paulo: Intercom,
2002.

REIS, Fábio José Garcia. Patrimônio cultural: revitalização e utilização. Disponível em:
<http://www.google.com.br/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=1&ved=0CAsQFjAA&url=ht
tp%3A%2F%2Fwww.lo.unisal.br%2Fnova%2Fpublicacoes%2Fpatrimoniocultural.doc&ei=I
2HOSszsA4iZ8AbU0f36Aw&rct=j&q=patrim%C3%B4nio+cultural+revitaliza%C3%A7%C
3%A3o+e+utiliza%C3%A7%C3%A3o&usg=AFQjCNHr7JamFTUjLxdXhglwlc5Z3N-
aGA&sig2=aX-tee0v2LLu6lotoscLww> Acesso em: out. 2009.

TERSARIOL, Alpheu. Minidicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio Grande do Sul:
Edelbra, 1997.

ZIMERMANN, Giovana. Arte pública na cidade contemporânea. Jul. 2009. Disponivel
em: <http://artepublicaemflorianopolis.blogspot.com>. Acesso em: out. 2009.




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Design nos espacos publicos - Um presente para a cidade

  • 1. Design nos espaços públicos: um presente para a cidade Design in public spaces: a gitf to the city Beraldo, Leyla; Graduanda em Design de Produto e Pesquisadora PET Design; Instituto Federal de Santa Catarina. leylaberaldo@gmail.com Jorge, Letícia Pinto; Graduanda em Design de Produto e Pesquisadora do CNPQ; Instituto Federal de Santa Catarina. leticiapjorge@gmail.com Levitan, Cynthia; Graduanda em Design de Produto e Pesquisadora PET Design; Instituto Federal de Santa Catarina. cynthia.levitan@gmail.com Sielski, Isabela Mendes; Dr. e Profª. do Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto, Instituto Federal de Santa Catarina. isabelasielski@hotmail.com Silva, Ramon Martins da; Graduando em Design de Produto e Pesquisador PET Design; Instituto Federal de Santa Catarina. ramonms9@gmail.com Resumo Os espaços públicos da cidade, em geral, carecem de atrativos e cuidados causando certo desinteresse nas pessoas pelos ambientes urbanos, o que dificulta uma relação experiencial direta entre o espaço público e todos os outros elementos que compõem uma cidade. É nesse cenário que entra o design como uma alternativa capaz de modificar a relação existente entre as pessoas e o espaço público, ao utilizar seu potencial criativo e referencial para o desenvolvimento de projetos que valorizem os espaços públicos. Palavras Chave: espaço público; cidade; arte pública. Abstract The city's public spaces, in general, lack of attractive and care causing disaffection in certain persons for urban environments, which complicates a direct experiential relationship between public space and all other elements that make a city. Is this scenario going into the design as an alternative capable of modifying the relationship between people and public space, to use their creative potential and reference for the development of projects making use of public spaces. Keywords: public spaces; city; public art. §
  • 2. Design nos espaços públicos: um presente para a cidade 1 Introdução Este artigo é resultado de um projeto interdisciplinar, que relacionou as disciplinas de Semiótica, Estética, Metodologia de Projeto, Fotografia e Rendering, proposto no terceiro módulo do Curso Superior de Tecnologia em Design de Produto do Instituto Federal de Santa Catarina (Campus Florianópolis). Esse projeto, o qual foi orientado por um grupo de professores, teve como tema o “ato de presentear”, sendo que a partir disso, a equipe deveria encontrar um problema que relacionasse essa questão, para que fosse desenvolvida uma fundamentação teórica que impulsionasse o desenvolvimento de um produto capaz de gerar soluções para tal problema. Ao encontrar problemas referentes à carência de design nos espaços públicos e sensíveis a isso, desenvolveu-se um projeto com o objetivo de proporcionar um dispositivo urbano que presenteasse os lugares da cidade por meio da interação dos elementos que a compõem. Na execução das etapas do projeto de produto, o processo projetual foi dividido em dois grupos de ações, os quais, compostos por tarefas, foram solucionadas por meio de artifícios científicos: análise do problema e desenvolvimento conceitual. A primeira etapa, análise do problema, serviu para fundamentar o desenvolvimento conceitual de um dispositivo urbano que veiculasse a comunicação entre a sociedade e o espaço urbano, tendo como foco o design para espaços públicos. E é dessa fundamentação referente ao design incorporado aos espaços públicos que o presente artigo se ocupa. Portanto, a seguir, reflete-se o problema encontrado e a partir disso são discorridos temas que são de interesse ao design para espaços públicos: o presentear, a cidade e a arte da cidade. 2 A problemática da falta de design nos espaços públicos Todo objeto que é transformado em presente carrega consigo algo que vai além de sua interface, geralmente eles visam transmitir uma mensagem ao indivíduo que o recebe, assim, possuem funções tanto práticas quanto estéticas, e principalmente simbólicas (LÖBACH, 2001). Portanto, quando se escolhe um presente, logo, acrescenta-se um significado ao mesmo, subentendendo-se que, de acordo com a mensagem transmitida, o indivíduo presenteado terá uma relação muito mais afetiva com o produto recebido. Segundo Flüsser (2007), o ser humano tem tido cada vez mais consciência do caráter efêmero dos produtos, toda matéria tende a perder sua forma, ou seja, sua informação; assim pode-se dizer que parte das escolhas feitas por quem quer presentear possui características muito mais simbólicas. Ao ter-se a ciência de que a relação homem-objeto se torna cada vez mais próxima, percebeu-se uma carência dessa relação no espaço público da cidade, local onde a integração entre as pessoas deveria ser intensificada. As cidades caracterizam-se por serem áreas urbanas que possuem uma população e um estatuto legal. Suas culturas e histórias variam de região para região, mas não modificam o fato de que é por seus bairros e ruas que a sociedade transita diária e continuamente. Assim: Surgem dois planos nem sempre harmônicos, mas sempre coincidentes na estrutura da cidade enquanto fenômeno de comunicação: de um lado, está o plano construtivo como suporte da cidade que se transforma em meio a criar um ambiente comunicativo e, de outro lado, concretiza-se a imagem midiática da cidade que agasalha o cotidiano, a sociabilidade e as trocas interativas que transformam a cidade na maior experiência comunicativa da humanidade. (FERRARA, 2008, p. 42) Quando se tem em mente o espaço ‘cidade’, não se pode pensar em cada elemento que o constitui de maneira particular, deve-se refletir como um conjunto de partes que se complementam e permeiam uma população. Cada elemento possui seu valor e contribui para 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
  • 3. Design nos espaços público: um presente para a cidade a construção de um ambiente no qual a comunidade e a estrutura citadina funcionem de maneira social (FERREIRA, 2002). Essa mesma função social, assim como está previsto no Estatuto das Cidades que regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, deve ser assegurada em qualquer planejamento urbano (ESTATUTO DA CIDADE). Todavia, verificou-se, no Brasil e em especial na cidade de Florianópolis, que faltam nos espaços urbanos meios e atrativos que propiciem a interação entre as pessoas e o ambiente urbano. Praças, ruas e vias públicas estão abandonadas. Além desta problemática ainda existe a questão dos condomínios que têm projetado suas áreas de lazer, de certa forma, retirando do poder público a obrigação de revitalização desses espaços. Essa carência de atrativos e cuidados provoca nos indivíduos certo desinteresse pelos ambientes urbanos, o que faz com que eles não se sintam familiarizados com os elementos integrantes da cidade. Presentear – Um ato afetivo Não se sabe ao certo o momento exato do nascimento da tradição em dar e receber presentes. Independente da motivação para se presentear, os presentes não representam apenas objetos que atuam em rituais de comemoração, representam também a materialização de uma relação criada ou mantida pelos indivíduos por meio desse ato (ANTUNES, 2009). O real sentido do ato de presentear tem como finalidade criar ou reavivar as relações sociais. A preocupação atual em relação a sugestões afetivas e emocionais no design indica a necessidade de reinserir as relações humanas no meio social: [...] a preocupação atual de sugestões afetivas e emocionais no design parece indicar a vontade de reinserir as relações humanas no ambiente imediato. Cada vez mais as relações institucionais e pessoais tomam-se soltas nas dimensões de tempo e de espaço. O novo papel do design de objetos e sistemas de comunicação parece ser o de reinserir os valores humanos e da sensibilidade humana no mundo material, para fazer nossas interações com o produto, menos impessoais e estritamente funcionais, e mais relacionais, agradáveis e confiáveis. (NIEMEYER, 2003, p. 51) Segundo Pépece (2002) o ato de presentear está intimamente ligado à integração e tal prática atua como agente descritivo e mantenedor dos relacionamentos. Tal afirmação se deve ao fato de que apesar de os presentes, em algum momento, serem dados com o objetivo de atender alguma função prática (LÖBACH, 2001), a relação que esses estabelecem com os indivíduos, coloca os aspectos simbólicos e estéticos em primeiro plano. Graças a tais aspectos, os produtos contêm inúmeros significados, logo, por meio dos presentes, as pessoas procuram comunicar sua identidade, seus valores intrínsecos e crenças em relação aos objetos. Portanto, os produtos, como veículos de comunicação entre as pessoas, possibilitam, pela interação, experiências únicas e singulares. Partindo dessas considerações, verifica-se que o ato de presentear transcende as funções mercadológicas e econômicas imbuídas em seu contexto. Juntamente ao design nos espaços urbanos podem-se explorar elementos que façam os cidadãos sentirem-se presenteados por meio de um produto que incentive as práticas sociais e que promova, mediante a coletividade de uso do produto, encontros, inserções e interações com o espaço urbano. A cidade – Um organismo A cidade pode ser entendida como o mundo criado pelo homem, assim como descreve o sociólogo urbano Robert Park (apud HARVEY, 2008, p. 11): 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
  • 4. Design nos espaços públicos: um presente para a cidade [...] a mais consistente e, no geral, a mais bem sucedida tentativa do homem de refazer o mundo onde vive de acordo com o desejo de seu coração. Porém, se a cidade é o mundo que o homem criou, então é nesse mundo que de agora em diante ele está condenado a viver. Assim, indiretamente, e sem nenhuma idéia clara da natureza de sua tarefa, ao fazer a cidade, o homem refez a si mesmo. A partir dessa e de outras concepções, a cidade apresenta-se como ponto central do cruzamento entre espaço, tempo e variantes como a liberdade cultural e significativa. Por haver essa intersecção de elementos, o que a torna repleta de características que constituem significados diferentes, não é possível ter uma leitura geral que sintetize uma definição exata capaz de expressar precisamente qualquer cidade do espaço no qual se vive. Talvez essa definição precisa e com seus limiares bem definidos seja aquela que se encontra em um dicionário: CIDADE, s.f. Centro populacional permanente, altamente organizado, com funções urbanas e políticas próprias; o conjunto dos habitantes desse centro; o centro comercial; sede do município. (TERSARIOL, 1996, p. 129) Porém, a morfologia da palavra cidade vai além da definição aparentemente inequívoca que qualquer dicionário carrega, observa-se aqui que é levada em consideração a capacidade de geração de signos, advindos principalmente por meio da estética, que o sistema nomeado cidade possui. Como afirma Jeudy (2005, p. 82), “a cidade se nutre de tudo que serve de signo”, portanto, a integração e a maneira como esses signos se relacionam e coexistem no mesmo espaço faz surgir o que é conhecido como cidade. Ferrara (1988, p. 15) sustenta a idéia da relação entre signos para fazer existir: A integração de signos produz associação de idéias pelas relações de similaridade, causalidade e contigüidade entre aqueles signos, referência da e na cidade, o contexto e as conexões produzidas pelo usuário no seu dia-a-dia, um uso-leitura que incorpora e integra movimento, cor, textura, dimensão, frio ou calor, cheiro, envolvência: uma cidade-organismo dotada de elementos e propriedades bioquímicos. Ferrara (1988, p. 45) elucida alguns dos principais signos que fazem parte do espaço urbano de uma cidade: [...] o ambiente urbano é um complexo de signos: os formais (a própria forma do objeto construído), os lingüísticos (nome das ruas), os de propaganda (cartazes), os indicadores de direção, os estéticos (os materiais empregados, as características estilísticas de fachadas, jardins, iluminação etc.), os contextuais (a situação urbana em que se localiza), e os signos usuários (a especificidade dos comportamentos humanos tomados como signo). Ao falar dos elementos que constituem o organismo cidade, Ferrara (1988) entra na estética como fator desencadeador para a construção de significado. Pode-se considerar então, o design como uma ferramenta para atribuir tais aspectos estéticos aos elementos que compõe o organismo, utilizando seu potencial criativo para o desenvolvimento de projetos que valorizem os espaços públicos. Esses espaços públicos são espaços onde há o direito de ir e vir. Ruas, parques, praças e jardins que possuem livre circulação e são destinados à coletividade são ditos como públicos. É de extrema importância para a saúde social de uma cidade que espaços desse tipo sejam oferecidos às mais diversas formas de socialização dos membros de uma sociedade. Logo: 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
  • 5. Design nos espaços público: um presente para a cidade As cidades precisam oferecer para seus cidadãos espaços de convivência, de lazer, de integração e de cultura, para que homens e mulheres possam exercer o direito de uso coletivo, de ‘estar na rua ou no parque com a família’, da (re)valorização das relações humanas, enfim, a cidade deve ter em seus espaços lugares que oferecem qualidade de vida. Os cidadãos identificam-se com lugares, na medida que reconhecem sua importância, que assumem a condição de espaços de uso coletivo e que representem a identidade local ou global. (REIS, p. 02) Portanto, um espaço público, teoricamente, é aquele no qual é possível encontrar pessoas de todas as camadas sociais, culturais e econômicas; ou seja, a diversidade é característica principal desse lugar. No entanto, a realidade atual das cidades nos mostra outro panorama, segundo Ferreira (2002). A perda e o descuido dos espaços públicos degradam a relação de convivência dos indivíduos dentro desses espaços, e assim, há uma maior busca por entidades privadas para realizar tais encontros. O aparente descaso do Estado com os espaços sociais da cidade tem se intensificado, uma vez que grupos empresariais têm procurado parcerias com o poder público para “presentear” a cidade com obras como shopping centers, obras com caráter majoritariamente comercial, o que acentua ainda mais o desenvolvimento urbano desigual. Os espaços urbanos comuns devem ser pensados de maneira inclusiva (HARVEY, 2008) para que possam cumprir com eficiência o seu papel social para com os cidadãos. Harvey (2008, p. 14) afirma que a grande urbanização que ocorre nesses últimos tempos não permite que haja reflexão da sociedade a respeito do fato de que “[...] individualmente e coletivamente, fazemos nossa cidade através de nossas ações diárias e de nossos engajamentos políticos, intelectuais e econômicos”. Portanto, há necessidade de fazer com que os cidadãos se sintam os próprios personagens desse espaço, que são capazes de interferir na cidade através das práticas diárias, mesmo inconscientes de seus atos, pois estes possuem direito à cidade. Kunsch (2008, p. 04) explica esse direito com base numa abordagem de Harvey: Harvey defende o direito à cidade como ‘inalienável’, ou seja, o direito do qual não podemos abrir mão. Exercer o direito à cidade significa assumir a nossa responsabilidade no processo de produção e de transformação da cidade. A Arte da cidade A cidade é uma temática complexa compreendida por diversas áreas do conhecimento. Ítalo Calvino, em Cidades Invisíveis, nos lembra que o espaço nada significa numa mera exterioridade, ele só existe em relação aos sujeitos que os significam. Intrínseca à cidade, está sua história, seu cotidiano e os atores que estão inseridos no contexto do espaço. Na contemporaneidade, os centros urbanos são cenários concretos de diversidade e de desigualdade. Por esse fato, faz-se necessário pensar a estética relacional (BOURRIAUD, 2006) como alternativa à sociabilidade, e percebê-la como estimuladora de experiências e também como artifício para solucionar a carência de laços sociais que uma sociedade capitalista e globalizada provoca. Em benefício do individualismo, a sociedade do consumo esquece as questões subjetivas, as ligações afetivas e os espaços coletivos. Como meio de revitalizar as relações e vivência dos lugares, busca-se analisar três áreas do conhecimento em que ocorre uma profunda intersecção em relação ao contexto urbano, são elas: a arte, o design e a arquitetura. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
  • 6. Design nos espaços públicos: um presente para a cidade Dialogando entre a arte, o design e a arquitetura Como conseqüência da “era Pós-Industrial”, a urbanização e o desenho da cidade foram expandidos e, como conseqüência, criou-se espaço para o surgimento do design nos espaços urbanos, o que estreitou as fronteiras entre a arte e a arquitetura. Na sociedade contemporânea, o sistema capitalista nos induz a criar as relações com os objetos meramente com o intuito de comercializá-los, o que pode gerar um grande vazio de significações. Assim sendo, o papel do designer nos espaços urbanos é de tentar criar táticas restauradoras das relações. O design passa a ser compreendido como intervenção cultural no espaço, que é dado através do complexo de idéias que englobam a estética, a sociologia e a semiótica. Para isso, Flüsser (1992) afirma que o design é a essência funda da cultura. É através dessa cultura que o design vai atuar como mediador entre o objeto e o espectador, possibilitando a vivência de experiências estéticas que gerem situações intensificadas de encontro e socialização. Esta vertente que relaciona o design no espaço público como intervenção cultural pode ser compreendida pela transformação da arte no último século. As décadas de sessenta e setenta foram o estopim para as grandes manifestações artísticas e culturais. A arte passou nesse período por uma imensa expansão em seus conceitos e práticas que acabaram por refletir na visão do que seria considerado “arte pública”. Interpretada anteriormente como uma escultura e/ou monumento que visava valorizar o espaço físico, a arte era representada por meio da história da arte e muitas vezes não considerava a própria cidade, seu contexto e a historia cultural de seus habitantes. Assim como elucida Krauss (1979, p. 88): [...] ao longo que os anos 60 se prolongavam aos 70, o termo escultura começou a se tornar problemático e obscuro, no sentido de que cada vez mais abarcava um campo tão heteróclito que corria o risco de entrar em colapso. Essa transição da arte para fora dos museus possibilitou uma maior relação com o público e foi de suma importância para o desenvolvimento de uma arte pública, crítica e política. Jeudy (2005, p. 129) enfatiza que: Não se trata mais da arte dentro dos museus, mas da arte nas ruas ou em lugares indeterminados. E essa arte coletiva, arte cotidiana, pode se tornar um procedimento de salvação pública contra a degradação das relações sociais. Para Amaral (1998), a experiência artística vem em busca de um olhar crítico por meio de uma arte que seja problematizadora de espaços, lugares, campos e estruturas, e assim o design também deve se portar. A arte pública, e consequentemente o design para o ambiente urbano, não está focada especificamente no objeto estético, mas no contexto da obra e na intervenção social que a mesma ocasiona. Como principal característica nota-se a flexibilidade por possibilitar a mudança de acordo com as circunstâncias e condições de cada lugar específico, criando provocações e gerando o debate cívico. O artista passa, nesse contexto, a ter o papel de criar descontinuidades, não só no espaço público, urbano e coletivo, mas também no seu próprio cotidiano e percurso. O percurso mencionado converge para o que Bourriaud (2006) chama de “estética relacional”, uma estética centrada nas práticas sociais que busca ampliar ao máximo as suas possibilidades conotativas, a procurar a participação ativa do espectador. Através da interação, visa proporcionar um intercâmbio mediante a experiência da proximidade, ao transformar a arte em um estado de encontro. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
  • 7. Design nos espaços público: um presente para a cidade Considerações Tratar os elementos que compõem um espaço público da cidade como um presente à sociedade é uma alternativa para o desenvolvimento de dispositivos que contribua para o bem estar social, na medida em que esses sejam capazes de proporcionar novas experiências estéticas e afetivas às pessoas. É nesse contexto que o design encontra mais um âmbito em que pode desempenhar seu papel de agregar valores aos produtos:o design nos espaços públicos. A partir disso, impulsiona-se a discussão de novas abordagens acerca do envolvimento do designer nos espaços que formam a cidade. Referências AMARAL, Lilian. Arte pública: Arte do público. 1998. ANTUNES, Vinícius R.S. Caliente!: Linha de presentes para a empresa Uati. Trabalho de Conclusão de Curso do curso de Design de Produto, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, Florianópolis, 2009. BOURRIAUD, Nicolas. Estética relacional. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2006 . ESTATUTO DA CIDADE. Disponível em: <http://www.estatutodacidade.com.br/>. Acesso em: out. 2009. FERRARA, Lucrecia D’Aléssio. Ver a cidade. São Paulo: Nobel, 1988. FERREIRA, William Rodrigues. O espaço público nas áreas centrais: a rua como referência - um estudo de caso em Uberlândia-MG. Tese de doutorado. Universidade de São Paulo, 2002. Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-28042006- 103725/ >. Acesso em 19 de setembro de 2009. FLÜSSER, Vilém. O mundo codificado. São Paulo: Cosac & Naify, 2007. ______. On the term "design". Artforum, 1992. HARVEY, David. A liberdade da cidade. Revista Urbânia 3. Editora Pressa, 2008. JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das cidades. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005. KRAUSS, Rosalind. A escultura no campo ampliado. Revista Gávea da Pontifícia KUNSCH, Graziela. Editorial. Urbânia 3. Pressa, 2008. Universidade Católica - PUC. Rio de Janeiro, 1995. LÖBACH, Bernard. Design Industrial: Base para a configuração dos produtos industriais. São Paulo: Edgar Blücher, 2001. NIEMEYER, Lucy. Elementos da Semiótica Aplicados ao Design. Rio de Janeiro: 2AB, 2003. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
  • 8. Design nos espaços públicos: um presente para a cidade PÉPECE, Olga M.C. O ato de presentear: o único capaz de transmitir mensagens sem utilizar palavras, de expressar carinho sem utilizar o toque. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, XXV, 2002, Salvador. Anais, São Paulo: Intercom, 2002. REIS, Fábio José Garcia. Patrimônio cultural: revitalização e utilização. Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=t&source=web&ct=res&cd=1&ved=0CAsQFjAA&url=ht tp%3A%2F%2Fwww.lo.unisal.br%2Fnova%2Fpublicacoes%2Fpatrimoniocultural.doc&ei=I 2HOSszsA4iZ8AbU0f36Aw&rct=j&q=patrim%C3%B4nio+cultural+revitaliza%C3%A7%C 3%A3o+e+utiliza%C3%A7%C3%A3o&usg=AFQjCNHr7JamFTUjLxdXhglwlc5Z3N- aGA&sig2=aX-tee0v2LLu6lotoscLww> Acesso em: out. 2009. TERSARIOL, Alpheu. Minidicionário da língua portuguesa. 2. ed. Rio Grande do Sul: Edelbra, 1997. ZIMERMANN, Giovana. Arte pública na cidade contemporânea. Jul. 2009. Disponivel em: <http://artepublicaemflorianopolis.blogspot.com>. Acesso em: out. 2009. 9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design