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A origem do
patriarcado
Síntese da parte inicial do 

texto de Humberto Maturana
• De coletores a caçadores
• De caçadores a pastores
• De pastores a patriarcas
• De patriarcas a guerreiros
• De guerreiros a bárbaros
• De bárbaros a desumanos
• O pastoreio surge não apenas de modo ocasional,
mas sim como prática cotidiana que se mantém de
maneira transgeracional, por meio da
aprendizagem corrente e espontânea das crianças
que crescem nessa comunidade.
De caçadores a pastores
• A cultura do pastoreio, isto é, a rede de
conversações que o constitui, surge quando os
membros de uma comunidade humana, que vive
seguindo alguma manada específica de animais
migratórios, começa a restringir o acesso a eles de
outros comensais naturais, como os lobos.
De caçadores a pastores
• A vida pastoril de nossos ancestrais surgiu quando
uma família que vivia seguindo os movimentos
livres de alguma manada silvestre adotou o hábito
de impedir a outros animais - que eram comensais
naturais - seu livre acesso à dita manada.
• Em tal processo, esse hábito se transformou numa
característica conservada de modo
transgeracional, como forma de vida cotidiana
dessa família.
De caçadores a pastores
• O primeiro passo foi a operação inconsciente que
constitui a apropriação, isto é, o estabelecimento
de um limite operacional que negou aos lobos o
acesso a seu alimento natural, que eram os
animais da mesma manada da qual vivia a família
que começou tal exclusão.
De caçadores a pastores
• A implementação do limite operacional cedo ou
tarde levou à morte dos lobos. Matar um animal
não era, seguramente, uma novidade para nossos
ancestrais. O caçador tira a vida do animal que irá
comer. Contudo, fazer isso e matar um animal
restringindo-lhe o acesso a seu alimento natural - e
agir assim de modo sistemático - são ações que
surgem sob emoções diferentes.
De caçadores a pastores
• No primeiro caso, o caçador realiza um ato
sagrado, próprio das coerências do viver no qual
uma vida é tirada para que outra possa continuar.
No segundo caso, aquele que mata o faz dirigindo-
se diretamente à eliminação da vida do animal que
mata.
• Essa matança não é um caso no qual uma vida é
tirada para que outra possa prosseguir; aqui, uma
vida é suprimida para conservar uma propriedade,
que fica definida como tal nesse mesmo ato.
De caçadores a pastores
• As emoções que tornam essas duas atitudes
completamente diferentes são de todo opostas. Na
primeira circunstância o animal caçado é um ser
sagrado, que é morto como parte do equilíbrio da
existência; aqui, o caçador que tira a vida do
animal caçado fica agradecido.
• Na segunda alternativa, o animal cuja vida se tira é
uma ameaça à ordem artificial, criada em seu ato
pela pessoa que se transforma em pastor. Nessa
situação, ela fica orgulhosa.
De caçadores a pastores
• No primeiro caso: caçar
• Na segunda hipótese: matar ou assassinar
• Note-se que tão logo as emoções que constituem
essas duas ações se tornam aparentes, também
fica claro que na ação de caça o animal caçado é
um amigo, enquanto que na ação de matar o
animal morto é um inimigo.
De caçadores a pastores
• Com efeito, acho que com a origem do pastoreio
surgiu o inimigo - aquele cuja vida a pessoa que
se torna um pastor quer destruir para assegurar a
nova ordem que se instaura por meio desse ato,
que configura a defesa de algo que se
transforma em propriedade nessa mesma atitude
de defesa.
• A adoção desse hábito numa família deve ter comportado,
como um traço desse mesmo processo, mudanças adicionais
no emocionar. Estas a levaram a incluir, juntamente com o
emocionar da apropriação, outras emoções, como:
• a inimizade;
• a valorização da procriação
• a associação da sexualidade das mulheres 

a esta procriação
• o controle da sexualidade das mulheres 

como procriadoras pelo patriarca
• o controle da sexualidade do homem 

pela mulher como propriedade
• a valorização das hierarquias
• a valorização da obediência
O patriarcado
• Devido ao modo humano de generalizar o
entendimento, a rede de conversações que
constituiu a vida pastoril patriarcal se tornou a
mesma rede que estruturou o patriarcado como
uma maneira de viver independentemente do
pastoreio.
O patriarcado
• a) relações de apropriação e exclusão, inimizade e
guerra, hierarquia e subordinação, poder e
obediência;
• b) relações com o mundo natural, que se
deslocaram da confiança ativa na harmonia
espontânea de toda a existência para a
desconfiança ativa nessa harmonia e para um
desejo de dominação e controle;
O patriarcado
• c) relações com a vida que se deslocaram da
confiança na fertilidade espontânea de um mundo
sagrado, que existe na legitimidade da
abundância harmônica e do equilíbrio natural de
todos os modo de vida, para a busca ansiosa da
segurança. Esta traz consigo a abundância
unidirecional, obtida pela valorização da
procriação, a apropriação e o crescimento
ilimitado;
O patriarcado
• d) relações de existência mística, que se
deslocaram da aceitação original da participação
na unidade dos seres vivos, por meio de uma
experiência de pertença a uma comunidade
humana que se estende à totalidade vivente. 



Tal deslocamento leva ao desejo de abandonar a
comunidade viva, mediante experiências de
pertença a uma unidade cósmica, a qual configura
um domínio de espiritualidade invisível que
transcende os vivos.
• MATURANA, Humberto R. Amar e brincar: fundamentos
esquecidos do humano do patriarcado à democracia.
São Paulo: Palas Athena, 2004.
• MATURANA, Humberto R. Prefácio. In: EISLER, Riane. O
cálice e a espada: nosso passado, nosso futuro. São
Paulo: Palas Athena, 2007, p. 13-20.





luiz.algarra@gmail.com

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A origem do patriarcado

  • 1. A origem do patriarcado Síntese da parte inicial do 
 texto de Humberto Maturana
  • 2.
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  • 5.
  • 6.
  • 7.
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  • 9.
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  • 14.
  • 15.
  • 16.
  • 17.
  • 18.
  • 19.
  • 20.
  • 21.
  • 22. • De coletores a caçadores • De caçadores a pastores • De pastores a patriarcas • De patriarcas a guerreiros • De guerreiros a bárbaros • De bárbaros a desumanos
  • 23.
  • 24.
  • 25. • O pastoreio surge não apenas de modo ocasional, mas sim como prática cotidiana que se mantém de maneira transgeracional, por meio da aprendizagem corrente e espontânea das crianças que crescem nessa comunidade.
  • 26. De caçadores a pastores • A cultura do pastoreio, isto é, a rede de conversações que o constitui, surge quando os membros de uma comunidade humana, que vive seguindo alguma manada específica de animais migratórios, começa a restringir o acesso a eles de outros comensais naturais, como os lobos.
  • 27. De caçadores a pastores • A vida pastoril de nossos ancestrais surgiu quando uma família que vivia seguindo os movimentos livres de alguma manada silvestre adotou o hábito de impedir a outros animais - que eram comensais naturais - seu livre acesso à dita manada. • Em tal processo, esse hábito se transformou numa característica conservada de modo transgeracional, como forma de vida cotidiana dessa família.
  • 28. De caçadores a pastores • O primeiro passo foi a operação inconsciente que constitui a apropriação, isto é, o estabelecimento de um limite operacional que negou aos lobos o acesso a seu alimento natural, que eram os animais da mesma manada da qual vivia a família que começou tal exclusão.
  • 29. De caçadores a pastores • A implementação do limite operacional cedo ou tarde levou à morte dos lobos. Matar um animal não era, seguramente, uma novidade para nossos ancestrais. O caçador tira a vida do animal que irá comer. Contudo, fazer isso e matar um animal restringindo-lhe o acesso a seu alimento natural - e agir assim de modo sistemático - são ações que surgem sob emoções diferentes.
  • 30. De caçadores a pastores • No primeiro caso, o caçador realiza um ato sagrado, próprio das coerências do viver no qual uma vida é tirada para que outra possa continuar. No segundo caso, aquele que mata o faz dirigindo- se diretamente à eliminação da vida do animal que mata. • Essa matança não é um caso no qual uma vida é tirada para que outra possa prosseguir; aqui, uma vida é suprimida para conservar uma propriedade, que fica definida como tal nesse mesmo ato.
  • 31. De caçadores a pastores • As emoções que tornam essas duas atitudes completamente diferentes são de todo opostas. Na primeira circunstância o animal caçado é um ser sagrado, que é morto como parte do equilíbrio da existência; aqui, o caçador que tira a vida do animal caçado fica agradecido. • Na segunda alternativa, o animal cuja vida se tira é uma ameaça à ordem artificial, criada em seu ato pela pessoa que se transforma em pastor. Nessa situação, ela fica orgulhosa.
  • 32. De caçadores a pastores • No primeiro caso: caçar • Na segunda hipótese: matar ou assassinar • Note-se que tão logo as emoções que constituem essas duas ações se tornam aparentes, também fica claro que na ação de caça o animal caçado é um amigo, enquanto que na ação de matar o animal morto é um inimigo.
  • 33.
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  • 38. De caçadores a pastores • Com efeito, acho que com a origem do pastoreio surgiu o inimigo - aquele cuja vida a pessoa que se torna um pastor quer destruir para assegurar a nova ordem que se instaura por meio desse ato, que configura a defesa de algo que se transforma em propriedade nessa mesma atitude de defesa.
  • 39. • A adoção desse hábito numa família deve ter comportado, como um traço desse mesmo processo, mudanças adicionais no emocionar. Estas a levaram a incluir, juntamente com o emocionar da apropriação, outras emoções, como: • a inimizade; • a valorização da procriação • a associação da sexualidade das mulheres 
 a esta procriação • o controle da sexualidade das mulheres 
 como procriadoras pelo patriarca • o controle da sexualidade do homem 
 pela mulher como propriedade • a valorização das hierarquias • a valorização da obediência
  • 40. O patriarcado • Devido ao modo humano de generalizar o entendimento, a rede de conversações que constituiu a vida pastoril patriarcal se tornou a mesma rede que estruturou o patriarcado como uma maneira de viver independentemente do pastoreio.
  • 41. O patriarcado • a) relações de apropriação e exclusão, inimizade e guerra, hierarquia e subordinação, poder e obediência; • b) relações com o mundo natural, que se deslocaram da confiança ativa na harmonia espontânea de toda a existência para a desconfiança ativa nessa harmonia e para um desejo de dominação e controle;
  • 42. O patriarcado • c) relações com a vida que se deslocaram da confiança na fertilidade espontânea de um mundo sagrado, que existe na legitimidade da abundância harmônica e do equilíbrio natural de todos os modo de vida, para a busca ansiosa da segurança. Esta traz consigo a abundância unidirecional, obtida pela valorização da procriação, a apropriação e o crescimento ilimitado;
  • 43. O patriarcado • d) relações de existência mística, que se deslocaram da aceitação original da participação na unidade dos seres vivos, por meio de uma experiência de pertença a uma comunidade humana que se estende à totalidade vivente. 
 
 Tal deslocamento leva ao desejo de abandonar a comunidade viva, mediante experiências de pertença a uma unidade cósmica, a qual configura um domínio de espiritualidade invisível que transcende os vivos.
  • 44. • MATURANA, Humberto R. Amar e brincar: fundamentos esquecidos do humano do patriarcado à democracia. São Paulo: Palas Athena, 2004. • MATURANA, Humberto R. Prefácio. In: EISLER, Riane. O cálice e a espada: nosso passado, nosso futuro. São Paulo: Palas Athena, 2007, p. 13-20.
 
 
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