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Mary Wine

A Impostora




      Realização/Créditos:
     Tradução/Pesquisas: GRH

      Revisão Inicial: Joelma

   Revisão Final: Nadia Cortez

  Formatação e Arte: Ana Paula G.
                               G


                                    1
Resumo
       Anne se sentia acuada, pois a
    esposa de seu pai pretendia
    casá-la     com        um   escocês
    selvagem no lugar de sua meia-
    irmã, filha legítima e ela não
    poderia fazer nada, pois era
    apenas a filha bastarda.

              Brodick escolhera uma
    esposa inglesa por causa de seu
    dote e estava preparado para
    todos      os     problemas     que
    ocorreriam por isso, ele era um
    valoroso guerreiro e laird de seu
    clã e conseguiria dominá-la

         Anne aprendera amar seu
    marido e esperava um filho seu,
    mas ela deveria retorna para
    Inglaterra,     pois    assim   sua
    senhora o exigia para entregar
    seu filho a sua irmã, em troca da
    vida de sua mãe e irmãos. E
    agora o que seria dela?




2
Revisão Final: Nadia Cortez
    Achei o livro muito bem estruturado e desenvolvido, está na
categoria dos gostosos de ler, algumas passagens são bem
quentes a ponto de soltar fagulhas, mas não chegam a ser
grosseiros.

    A personagem feminina é uma mistura de donzela tímida e
mulher valente, pois no ínicio sabe se impor, só que durante a
passsagem do tempo ela se torna muito submissa ao marido.

   Ele é o guerreiro belo, forte e poderoso, que na verdade toda
mulher gostaria de encontrar pelo menos uma vez na vida. Mas
sabe ser humano e correto como lider do clã.

         Eu apreciei o romance, mas não existe cenas de luta nem
grandes conflitos, entretanto o enredo envolve e satisfaz no
final.

         Nota da Moderação do GRH:
         Quando começamos a revisão deste livro, ele ainda não
havia sido digitalizado.Quando foi, conversando com a revisora
inicial,       concordamos   em   continuar   a   revisão   porque
duvidávamos que a versão brasileira mantivesse as partes hots
deste livro, sem cortes. E acertamos! Leiam os dois e
comparem!! Fora vários trechos que foram suprimidos na
versão lançada no Brasil!
           3
Capítulo 1

                      Castelo de Warwick, 1578

   — Não tocará nas minhas pérolas! A condessa de Warwickshire era uma mulher
formosa, no entanto tinha os lábios retorcidos, numa arrepiante expressão, enquanto
fulminava com o olhar a amante de seu marido.

  — É obvio que as tocará, esposa. O conde entrou no quarto sem fazer ruído, nem
sequer suas esporas emitiram algum som. Manteve a voz serena embora houvesse
um inconfundível timbre autoritário nela. Todos os criados presentes na residência
abaixaram a cabeça num gesto de deferência ao senhor da casa, antes de continuar
com as suas tarefas. Entretanto, eles escutavam atentos tudo o que se dizia, já que
seguiam com interesse a evolução do crescente descontentamento da condessa. E
este tinha aumentado desde o dia que souberam que a amante do conde estava
grávida, e fazia tempo que esperavam um desenlace para semelhante situação.

  — Levará as pérolas e as novas roupas, que a encarreguei de providenciar para
quando a criança nascesse. Lady Philipa mordeu o lábio inferior para reprimir a
mordaz resposta que lhe veio à mente. Não se atreveu a expressá-la em voz alta
porque sabia quão volúveis eram os homens quando a paixão cruzava em seu
caminho. Em lugar disso, seus lábios formaram uma careta ao mesmo tempo em que
fazia uma reverência ao seu marido. Ao levantar o rosto, seus lábios estavam
relaxados de novo, um testemunho dos anos de aprendizagem nas mãos de sua aia.
As mulheres tinham que saber controlar-se muito mais do que os homens, pois,



         4
naquele mundo que lhes havia tocado viver, seus destinos estavam em mãos de seus
maridos.

  — Milorde acaso eu não vou usufruir de nenhuma comodidade? Terei que me ver
rebaixada a ver meus melhores adornos em sua amante? Deseja por acaso me ver
desonrada em minha própria casa? O conde se colocou diante de sua esposa e ergueu
um dedo acusatório diante de seu nariz enquanto percorria seu rosto com um olhar
escuro.

  — Não é mais que uma rameira, Philipa. Uma rameira malcriada e ressentida que
nem sequer tem a dignidade de cumprir com seu único dever. Sua mão se fechou em
um punho que agitou em frente aos alarmados olhos da condessa.

  — Escute bem! Não haverá mais hipocrisias nesta casa! Alegue diante de uma só
pessoa ou diante todos que não desfruta dos privilégios de sua categoria e farei que
desapareçam de seus aposentos as tapeçarias, tapetes. Seus finos vestidos e suas
jóias estarão fora de seu alcance e se fechará com chave o armário das especiarias
para que possa viver, realmente, sem comodidades. A condessa soltou um grito
abafado, mas cobriu a boca por temor que lhe escapasse uma furiosa réplica e selar
assim seu destino. O conde assentiu com a cabeça reafirmando suas próprias palavras
antes de agarrá-la pelo braço, para fazê-la virar-se para sua amante, Ivy Copper, que
estava deitada na cama abraçando a recém-nascida. O bebê dava suspiros e apertava
um punho gordinho contra o peito de sua mãe enquanto mamava. Ninguém tinha se
importado de vestir a menina, já que os tecidos custavam dinheiro e Ivy não tinha
nem voz nem voto em relação ao que lhe entregavam. Os serviçais, por sua parte,
estavam às ordens de Philipa e ela não tinha indicado ninguém para que tomasse
providências de envolver ao bebê para assegurar-se de seu perfeito crescimento, por
isso a menina apenas vestia um longo vestido, como se fosse filha de um camponês.


           5
O cabelo de Ivy estava escovado e brilhava suavemente sobre seu ombro, pois
comemorava o primeiro dia que havia saído da cama. Philipa tinha alimentado a
secreta esperança de que a amante de seu marido morresse de febre depois do parto,
mas estava ali sentada representando a viva imagem da boa saúde. Inclusive lhe tinha
subido o leite para garantir que sua filha bastarda crescesse forte.

  — É certo que foi envergonhada, esposa, mas foi sua própria covardia que a levou a
esta situação. O Conde a fez virar-se para que o olhasse, fazendo um estremecimento
percorrer Philipa ao captar seu aroma másculo, seu débil corpo feminino o desfrutou,
e teve que admitir que evitar o leito conjugal requeria disciplina. — É uma covarde,
esposa. Abandonou meu leito por medo do parto. Olhe a minha nova filha, Philipa.
Deus honra aos corajosos. Seu olhar suavizou por um momento e seus olhos
refletiram bondade. — É minha esposa, retorna a minha cama e assuma seu dever. Se
o fizer, juro que nenhuma outra ocupará seu lugar. Nenhum bastardo se colocará por
cima de seus filhos. Philipa agitou a cabeça de um lado a outro enquanto tentava
escapar dele. O medo a sufocou, a impedindo de falar. Dar a luz era perigoso, mortal!
Mais da metade de suas amigas tinham acabado mortas, depois do parto por causa de
febres ou, pior ainda, haviam falecido depois de sofrer durante horas em dolorosa
agonia para os bebês abandonar o corpo de suas mães.

  O conde bufou indignado, apontou-lhe o dedo e sua voz ressoou através dos muros
do castelo.

  — Irá se encarregar pessoalmente de colocar o colar de pérolas ao redor do pescoço
de minha amante e de segui-la até a igreja. E também será a madrinha de minha nova
filha.

   — Pretende reconhecer à bastarda? Conturbada, Philipa sentiu que lhe tremia o
lábio inferior. — E quanto a Mary? Dei-lhe uma filha, Milorde!

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— E por isso a honrei como devia. Soltou-lhe o braço e deslizou o dorso de sua mão
pela face dela. – A honrarei de novo e esquecerei tudo isto se retornar ao meu leito
como deve. Abaixou a voz para que Ivy não pudesse ouvi-lo. – Deixá-la-ei, de lado,
Philipa, por ti e por um filho legítimo, pense nisso. Mas não recorrerei à violação, não
permitirei que me imponha semelhante peso, estamos casados e seu dever, igual ao
meu, é conceber filhos no leito conjugal. Depois de dizer aquelas palavras, o conde se
afastou de Philipa para unir-se ao grupo de visitantes que festejavam o fato de que Ivy
tivesse sobrevivido ao parto. Nas próximas duas semanas, se ainda vivesse, a nova
mãe iria à igreja para ser purificada pelo Clérigo do castelo e, a partir de então, lhe
seria permitido assistir de novo aos ofícios religiosos.

  A bastarda logo seria batizada, pois as tradições deviam ser seguidas, tal e como
vinha acontecendo há séculos. Se Ivy morresse antes de ir à igreja, ela não seria
enterrada em solo sagrada e se o bebê falecesse sem ser batizado, também lhe seria
negado à sepultura em solo santo. Os suaves sons que a menina emitia ao mamar
ecoavam no quarto, enquanto Philipa observava como seu marido se inclinava para
beijar a sua amante. A cama era o vivo exemplo do luxo. Grossas tapeçarias de lã
cobriam o dossel e caíam como cortinas nas laterais. Seus lençóis, agora limpos, eram
do fio mais fino, e o lençol manchado do dia do parto se mostrava com orgulho junto
à janela, onde todos os visitantes podiam tocá-lo ao passar, para que lhes desse, boa
sorte. Ivy usava um vestido comprido procedente do próprio armário de Philipa e o
delicado tecido resplandecia sobre sua cremosa e suave pele. Havia vinho quente a
disposição da nova mãe e bolos assados com especiarias da reserva particular do
conde. Tudo fora preparado tão grandiosamente como quando ela tinha sido mãe e
permitiu que sua filha Mary fosse vista pela primeira vez. A única diferença era que
uma ama de leite tinha amamentado a sua menina, porque, como uma mulher
pertencente à nobreza, a condessa podia permitir-se ao luxo de não ter que atender

          7
as necessidades básicas de um recém-nascido. Philipa olhou os seios de Ivy e
observou que o leite deslizava pela bochecha do bebê. O conde riu e a limpou com
sua própria mão. A amante de seu marido sorria satisfeita diante dos cuidados que ela
e sua filha recebiam, aquela imagem produziu em Philipa um amargo sabor na boca
que a fez se estremecer, ao dar-se conta, o que precisaria fazer, para ganhar a
atenção de seu marido, afastando-o assim de sua amante. Não poderia fazê-lo. Outra
vez não. Havia padecido dois dias para trazer sua filha ao mundo. Dois longos,
dolorosos e intermináveis dias, e na realidade, ela não pudera amamentar seu bebê,
porque a odiava por tê-la feito sofrer daquela maneira horrível. Esse ódio, além disso,
estendeu-se ao seu marido e a sua exigência de ter mais filhos. Sua mãe tivera que
suportar o mesmo de seu pai, mas agora tudo era diferente.

  A Inglaterra era governada por uma Rainha e Mary poderia herdar tudo. Elizabeth
Tudor se encarregaria para que assim fosse. Os homens já não tinham o poder
absoluto sobre as mulheres de suas famílias, Philipa se virou fazendo brilhar suas
anáguas de seda e partiu. Que aquela bastarda fosse reconhecida! Isso não alteraria o
fato de que ela era a senhora do castelo. O conde voltaria a ser chamado à corte e
então, Ivy e sua filha estariam a sua mercê.




   Capela de Warwick:
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— Que nome colocará na menina? Os participantes da cerimônia contiveram a
respiração esperando escutar o nome do bebê, pois nunca se dava nome a uma
criança antes de ser batizado para que o diabo não pudesse enviar um dos seus
servidores com o fim de lhe arrebatar a alma.

   — Anne. Philipa falou com clareza quando o sacerdote a olhou, já que como
madrinha era a encarregada de decidir o nome. — Igual à querida e defunta mãe da
Rainha.

 O padre, nervoso e com os olhos totalmente abertos, quase deixou cair à menina na
pia batismal. Philipa, no entanto, pestanejou com ar inocente e ignorou o murmúrio
que se estendeu entre os paroquianos diante do fato de que a bastarda levasse um
nome maldito. Anne Bolena tinha sido executada por ordens do Enrique VIII muito
antes que sua filha ostentasse a coroa da Inglaterra. Ninguém objetou a decisão da
Condessa. Nem sequer os pais da recém-nascida puderam protestar, já que não lhes
foi permitido assistir ao batismo na intenção de purificar à menina por completo sem
a presença de seus progenitores. Philipa fulminou com o olhar o sacerdote e este
mergulhou o bebê na água com muita mais força do que era habitual nele. Anne
gritou quando a tiraram da pia batismal, Philipa franziu o cenho ao observar que o
bebê ficava avermelhado e ao escutar que os fiéis lançavam vivas de aceitação. Se a
menina não tivesse gritado para expulsar o diabo, teria sido rechaçada pela Igreja.
Mas Anne gritou tempo suficiente para alcançar até o último banco do templo. Ao
menos, Philipa tinha conseguido dar àquela criança um nome portador de má sorte. O
pároco resmungou uma oração de despedida antes de envolver a menina numa
toalha e entregá-la a sua madrinha.

  A condessa controlou o impulso de ostentar um ar depreciativo ao sair da capela
com sua afilhada, mas assim que entraram no corredor particular que ia para seus
aposentos entregou-a bruscamente a uma criada lhe dando as costas. Por isso não viu
          9
os olhares de desaprovação que lhe lançaram suas criadas enquanto embalavam e
acalmavam a menina que consideravam como uma das suas.

  Anne soltou vários gemidos, antes que se aninhasse nos braços que a sustentava e
permitiu que acariciassem seu escuro cabelo. A governanta lançou um olhar para o
corredor por onde se afastava sua senhora e franziu o cenho.

  — Algumas pessoas não têm coração. Não o têm absolutamente! Um bebê sempre
é uma bênção para o castelo! Todo mundo sabe. A senhora se envenenará com tanta
mesquinharia e atrairá tempos escuros para os habitantes destas terras.

  — Guardem bem o que lhes digo. As duas criadas à suas ordens se limitaram a
guardar silêncio, já que falar mal da Senhora do castelo era motivo para ser mandado
embora. Mas, por outro lado, nenhuma delas reconheceria ter ouvido nada do que
dissera a governanta, conscientes de que ter a antipatia daquela mulher significava
encarregar-se das piores tarefas, assim se limitaram a acariciar a recém-nascida,
fazendo sorrir a aqueles diminutos lábios rosa. Um bebê saudável trazia consigo sorte
para todo mundo. A vida era dura e teria que desfrutar dos bons momentos sempre
que fosse possível.




 Warwickshire, na primavera seguinte:



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— Mãe, veja, os cisnes estão nascendo. Philipa sorriu ao contemplar como sua filha
brincava de correr pelo corredor, seguida de perto por sua babá. — Pois claro que
mamãe irá ver minha menina preciosa.

  A condessa seguiu sua filha. Abaixou o olhar e sorriu ao ver o modo como o cabelo
de Mary brilhava sob o sol. Não havia dúvida de que por suas veias corria sangue
nobre, tudo nela era suave e delicado. Diferente da bastarda de Ivy, sua filha Mary era
perfeita e legítima, seu coração se encheu de alegria ao pensá-lo, mas essa sensação
morreu no instante que olhou para o outro lado do pátio e viu o Ivy e aquela rameira
que voltara a ficar grávida e todos auguravam que o bebê seria um menino.

  — Mãe, venha, olhe! Mary apontou com a mão gordinha os cisnes, sem saber que
Philipa tinha deixado de desfrutar do momento. A condessa lançou um olhar furioso à
amante de seu marido, enquanto Alice, sua dama de companhia, falava-lhe em voz
baixa: — Deveria reconsiderar Milady, e convidar seu marido de novo ao seu leito. A
condessa, vestida com a mais fina lã, voltou-se para a Alice com fúria, mas sua dama
de companhia se manteve firme diante de seu aborrecimento, apesar de que agora
Philipa ostentava um título aristocrático, Alice a tinha criado e sabia manter-se
imperturbável diante da desaprovação que havia em seus olhos. Para ela, sua senhora
ainda era uma menina a quem podia repreender.

 — Poderia divorciar-se de você e a devolver ao seu pai, milady. É seu dever, só teria
que lhe dar um filho varão.

  — Mas, e se eu der à luz a outra filha inútil? Philipa estremeceu. Já escutou à
parteira, Alice, meus quadris são muito estreitos. Se Mary tivesse sido um bebê
maior... Eu poderia... Haveria... Nem sequer pôde acabar a frase, Alice meneou a
cabeça lhe oferecendo sua compaixão.



         11
— Milady, o primeiro parto é sempre o mais difícil. Dê um filho varão ao senhor e
sua posição estará assegurada, logo, deixe que essa rameira conceba o resto. Um
violento estremecimento sacudiu Philipa ao mesmo tempo em que unia as coxas com
força sob as saias. O simples fato de pensar no parto fazia com que seu corpo
adquirisse uma friagem mortal. Não poderia fazê-lo. Queria viver, não morrer em
meio de um atoleiro formado por seu próprio sangue.

  — Não o farei, Alice. —Não voltarei a deitar-me com meu marido! Juro-o! Embora
isso signifique que ele me envie de volta para meu pai. Philipa sentiu as lágrimas
sulcando suas faces enquanto olhava Ivy. A inveja a encharcou, mas ela acolheu
agradecida a chegada daquele sentimento porque fez desaparecer o medo. O ódio
começou a aumentar ao mesmo tempo em que abraçava sua ira. Uma intensa
aversão por Ivy, seus bastardos e por tudo que os deslumbrassem, inundou seu
coração. Odiava-os. Odiava-os, odiava-os... Odiava-os




                                  Capítulo 2

                           Castelo de Warwick,


         12
— Se apresse Anne. A senhora está de muito mau humor hoje.

 — Que novidade.

  Joyce, a governanta, lançou um severo olhar à jovem que estava ao seu cargo e
enrugou o nariz.

 — Cuidado com essa língua. A condessa é superior a você e foi Deus quem a pôs aí.
Anne inclinou a cabeça enquanto mantinha em equilíbrio a bandeja do café da manhã
da senhora do castelo. Era certo que tinha que morder a língua, embora não o fazia
por ela mesma. De fato, importava-lhe pouco seu próprio conforto, mas a jovem
estava bem consciente de que Lady Philipa não castigaria só a ela, ficaria encantada
de descarregar sua cólera também sobre sua mãe, a amante do conde. Com um
suspiro, seguiu Joyce para a ala oeste, apressando-se para que a bandeja estivesse
ainda quente quando a condessa despertasse.

 Uma grande terrina de prata polida protegia o variado café da manhã. Cada terrina
estava adornada com gravuras de flores e pássaros, e eram aquecidas sobre o fogo
antes de ser colocadas sobre cada prato para mantê-lo quente. Anne tinha levantado
com os primeiros raios do amanhecer com o intuito de atender à condessa quando
despertasse. Estava encarregada daquele dever desde que iniciou seu fluxo
menstrual. Os primeiros meses lhe tinham doído os braços devido ao excessivo peso
da bandeja com toda aquela prata, mas agora se movia sem problemas. Philipa
também tinha ordenado que Anne a vestisse cada manhã para se assegurar de que
dormisse atrás da cozinha, junto às outras criadas, e sob a vigilância da governanta.
Desse modo não conheceria nenhum homem e permaneceria virgem, a razão era
singela. Anne era filha bastarda de um conde, e apesar de que Philipa detestava vê-la
e a seus irmãos, não era nenhuma estúpida. Sabia que Anne poderia ser de utilidade
em alguma negociação de matrimônio. Havia cavalheiros de posições inferiores que

         13
dariam valor ao sangue nobre numa esposa, embora também fosse possível que a
condessa tivesse intenções de convertê-la em rameira, ao serviço dos caprichos de
algum gordo mercador. Fosse o que fosse, o que a condessa tinha em mente, ainda
não a preocupava. Anne permaneceu de pé em silêncio enquanto abriam as cortinas
da cama e Philipa virava a cabeça para o pessoal que esperava suas ordens, seus olhos
inspecionaram cada um das criadas, da apertada touca à prega da saia. A condessa
não tolerava nenhuma falha, seus lábios nunca pareciam sorrir e em seu rosto se
distinguiam as rugas que eram prova disso. Uma pintura no salão inferior a mostrava
em sua juventude como uma alegre recém casada, mas não havia nenhuma alegria na
mulher que estava recostada no leito. Anne observou Philipa através de suas pestanas
quando a fila de criadas inclinou a cabeça em sinal de deferência. — Senti frio nos pés
esta noite, retiraram-lhe as mantas para que se acomodasse e lhe colocaram uns
almofadões macios nas costas.

   — O fogo não foi aceso como deveria e as brasas não mantiveram seu calor,
nenhuma das criadas disse uma só palavra, abaixavam a cabeça cada vez que Philipa
falava e se moviam pelo quarto como se fizessem movimentos ensaiados. Abriram as
pesadas cortinas de tapeçaria de par em par com muito cuidado, conscientes de quão
caro era aquele tecido. Limparam rapidamente as cinzas da enorme lareira e
acenderam outro fogo para esquentar a alcova.

  Anne aguardou até parecer que a senhora estava o suficientemente confortável,
para colocar o café da manhã sobre seu colo, assegurando-se de que as pequenas
alças douradas da bandeja deslizassem suavemente por ambos os lados das pernas da
condessa sem sequer roçá-la. Carrancuda, Philipa começou a inspecionar o que havia
oculto sob as grandes tampas de prata polida que cobriam seu café da manhã. Um
segundo depois, apertou os lábios numa dura linha e deixou cair uma tampa sobre o
que a cozinheira tinha preparado.

         14
— Diga à cozinheira que se apresente diante de mim ao meio-dia. As criadas se
retesaram visivelmente, já que todas elas tinham sido em alguma ocasião objeto do
desgosto da senhora. A cozinheira não teria um dia agradável, Philipa começou a
comer de um dos pratos enquanto observava às criadas com olhar crítico. Todas
aprenderam a mover-se com passos suaves e cuidadosos para passar totalmente
despercebidas, e mantinham o olhar baixo por medo a chamar a atenção.

 — Estou pronta para me levantar. Philipa largou os talheres desleixadamente e uma
criada lhe retirou a bandeja quase no mesmo instante, enquanto outra retirava as
mantas até os pés da cama. Anne trouxe água e se uniu ao resto das criadas,
dependendo do humor de Philipa, podia custar até duas horas vesti-la. As criadas se
moveram com eficiência ao redor da condessa, lhe lavando os pés e as mãos antes de
deslizar as meias de lã por suas pernas. Cobriram-na com uma fina camisa e depois
com umas anáguas forradas. A roupa não podia ser mais luxuosa, a lã mais áspera
ficava coberta pelo caro algodão da Índia, e os arremates estavam adornados com
elaborados desenhos. As criadas trabalhavam em excesso para abrigar a sua senhora
apesar da chegada da primavera, porque o condado de Warwickshire ficava muito ao
norte. Era o último território sob comando inglês antes da temível fronteira escocesa.
De fato, o conde era requisitado continuamente na corte por sua importância como
dono e senhor de terras fronteiriças. Anne sentia muito a falta de seu pai. Tudo era
mais fácil quando o conde se encontrava no castelo. Os lábios da jovem tremeram
nervosamente e, ao se dar conta disso, apressou-se a apertá-los numa fina linha com
medo de ofender a Philipa. No entanto, não podia evitar que seu coração se enchesse
de alegria ao pensar em seu pai. Sua mãe transbordava felicidade quando ele
retornava e, apesar dos anos transcorridos, sempre dançava ao ver que os primeiros
cavaleiros atravessavam as portas do castelo para anunciar a chegada do senhor. Por
desgraça, seu pai tinha passado todo o inverno na corte, quatro longos meses nos

         15
quais a família de Anne tinha suportado o azedo temperamento de Philipa sem os
carinhosos cuidados do conde. Entretanto, apesar de que o senhor do castelo adorava
seus filhos bastardos, agarrava-se à tradição, no que implicava que Anne estivesse sob
as ordens de Philipa. Mesmo assim, aquilo era melhor do que muitos tinham, pois ao
menos a jovem dispunha de um teto onde cobrir-se e comida na mesa dos servos.
Usava um bom vestido de lã e botas feitas sob medida. Tinha que sentir-se agradecida
de muitas coisas, porque, certamente, estar ao serviço de uma mulher como a
condessa era menos do que muitos sofriam.

 Por sorte, Mary não se encontrava em casa. Anne estremeceu. Sabia muito bem que
a herdeira legítima do castelo era realmente perversa, Mary choramingava como um
bebê e tinha violentos ataques de raiva, inclusive chegava ao ponto de rasgar tecidos
de boa qualidade porque não eram tão finas como as que luziam algumas de suas
amigas na corte. Philipa, por sua parte, consentia, e sempre encontrava dinheiro nos
cofres do conde para comprar as coisas que sua filha exigia. Quando teve certeza de
que Philipa não podia vê-la, Anne franzia o cenho severamente, era ela que
encontrava os recursos que faziam Lady Mary deixar de dar gritos, por tradição, os
livros de contas deveriam ser administrados pela Philipa, que tinha a obrigação de
ensinar aquele dever a Mary, mas esse não era o caso no Warwickshire. Depois de
ajudar a vestir à condessa, Anne tinha que passar o resto das horas do dia, e inclusive
algumas da noite, fazendo a contabilidade dos livros. Seu pai tinha insistido para que
ela e seus irmãos estudassem, mas tinha deixado que Philipa decidisse onde aplicar a
educação recebida. O dever de Anne eram os livros de contas e assegurar-se de que
estivessem de acordo, assim cada vez que Lady Mary pedia mais ouro, era Anne quem
se encarregava de encontrá-lo onde o senhor não pudesse sentir falta. Conseguia o
dinheiro da venda de cordeiros ou da roupa tecida pelo pessoal do castelo, apesar de
que realmente odiava tanto esbanjamento, Warwickshire seria muito mais forte se

         16
não fosse saqueada tão freqüentemente por pura vaidade. De repente, ouviu-se um
forte golpe na porta e uma faxineira se apressou a abrir, quando o amplo painel de
madeira deixou passar uma criada, escutou-se claramente o repique dos sinos da
muralha.

 — O Conde retornou Milady, informou-lhe a recém chegada, Philipa franziu o cenho.
— Bem, acabem de me vestir, estúpidas, todo mundo se apressou a seguir com suas
tarefas mantendo o olhar baixo. Anne se limitou a entregar as coisas às outras criadas,
tinha aprendido a ficar fora do alcance da condessa quando estava se preparando
para receber seu marido, pois Philipa estava acostumada golpear as serviçais antes de
seus encontros com o conde por puro nervosismo. Provando a teoria de Anne, a
condessa desferiu um sonoro bofetão numa das criadas quando ela deixou cair um
sapato. –Fora! A criada abaixou a cabeça e retrocedeu para a porta aberta, uma
intensa mancha vermelha marcava seu rosto. Ao ver aquilo, Anne reuniu coragem e se
ajoelhou para recolher o sapato.

   — Por que tenho a desgraça de contar com os piores servos da Inglaterra? As
famílias de Warwickshire só criam filhas idiotas. Ninguém falou, mas os olhos das
criadas se encontraram a costas da senhora para compartilhar seu descontentamento
com olhadas silenciosas. Anne se levantou, agradecida de ter acabado com sua tarefa,
mas não conseguiu inclinar a cabeça a tempo e Philipa a repreendeu.

  — Bastarda! Anne se apressou a abaixar a cabeça e a condessa lhe dedicou uma
careta de desprezo.

   — Nascer bastardo significa ter sido concebido em pecado. Será melhor que
agradeça a Igreja por ter sido misericordiosa, porque, de outro modo, nunca teria sido
batizada.



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— Sim, milady. Suas palavras não lhe doeram, tinha suportado muitos insultos da
malvada língua de Philipa e sabia que era melhor que receber suas bofetadas.

  Mary, recém chegada da corte, surpreendeu a todos ao entrar a toda pressa na
estadia em um revôo de saias de seda.

 — Pai me prometeu! OH, mãe, não quero ir à Escócia, lançou-se sobre a condessa e
gemeu ruidosamente sobre seu peito.

  — Diga a ele, que não terei que ir, mamãe. Por favor! Começou a chorar com uma
violência inusitada, enormes lágrimas alagavam seus olhos ao mesmo tempo em que
se agarrava ao vestido de Lady Philipa.

 — Me diga que não terei que ir ao leito de nenhum escocês.

 — Já basta, Mary! Rugiu o conde da soleira. Todos os presentes se viraram quando o
senhor do castelo irrompeu no cômodo, seu cabelo salpicado de prata não diminuía o
poder da sua imponente presença, inclusive Philipa inclinou a cabeça num gesto de
deferência, arrastando sua filha com ela.

 — Não permitirei que me envergonhe, filha. Advertiu-lhe o conde.

  — Assumi um compromisso firme com o jovem Brodick e o cumprirei, além disso,
possui um título nobiliário.

 — Mas é escocês! Os lábios de Mary formaram uma careta quando choramingou. —
Os tempos estão mudando, filha. Logo seremos uma única nação, governados sob um
rei escocês. Brodick McJames é uma boa escolha, muito melhor que qualquer de seus
amigos da corte.

   O senhor do castelo olhou em direção a sua esposa e de repente seus olhos
repararam em Anne, que não pôde evitar que seus lábios se curvassem para cima lhe

         18
dando a boas-vindas ao mesmo tempo em que inclinava a cabeça, uma faísca
iluminou os olhos do conde e Mary soltou um grave som ao ver a troca de olhares.
Observou sua meia-irmã por cima do ombro de sua mãe e o ódio resplandeceu em
seus olhos. Seu pai ficou tenso ao dar-se conta do que estava ocorrendo e voltou a
dirigir o olhar para sua esposa.

  — Os homens do Conde do Alcaon chegarão esta semana, o rei só me permitiu
partir para escoltar Mary em sua volta a casa, devo voltar para a corte na alvorada.
Assinalou a Mary com um dedo. — Assumirá seu lugar tal e como o arranjei e não
haverá mais lágrimas. Amadureça de uma vez! Encarregue-se disso, esposa.

 — Deve casar-se? Perguntou Philipa.

   O conde franziu o cenho. — Por Deus santo, mulher! Tem vinte e seis anos e
desprezou a todos os pretendentes que lhe tenho proposto, não haverá mais
discussões, tudo isto é minha culpa por permitir que vocês duas me influíssem, Mary
devia ter-se casado faz quatro anos, mas tentei esperar até que aceitasse a algum
pretendente ou me apresentasse algum de sua própria preferência. – Milady passou-
se oito anos desde que a levamos a corte!

 — Mas é escocês, pai.

 — É um Conde. Mary se encolheu ao ver que o senhor do castelo avançava para ela,
um homem cujas terras fronteiriças com as nossas, o qual o transforma numa boa
escolha como marido para você. Mary soluçou mais forte, fazendo que seu pai
emitisse um grave grunhido de desgosto e dirigisse sua irritação para a Philipa. — Vê
isto, esposa? É a única filha que tem que se encarregar e a transformou numa criança
chorona que não sabe agradecer a boa sorte que a vida lhe oferece. — O que quer de
mim, filha? Acaso você gostaria de ficar solteira para sempre? Ou se converter numa
rameira como essas amigas cortesãs, com bastardos crescendo em seus ventres? Não
         19
há muitos nobres que a queiram devido ao fato de que sua mãe nunca concebeu um
filho varão.

  Aterrorizada, Mary negou com a cabeça, estremeceu e ficou em pé com os olhos
totalmente abertos sob o duro olhar de seu pai. Anne sentiu realmente dó de sua
meia-irmã a sociedade era cruel ao carregar às filhas com o estigma de suas mães.
Como Philipa se negou dar a seu marido um herdeiro, suspeitava-se que Mary seguiria
seu exemplo.

  — Sim, agora começa a enxergar a verdade do assunto, um ano mais e quem te
quererá? É hora de se casar e ter filhos. Isto não é um compromisso, filha, e sim uma
aliança por poderes. O Laird do clã McJames não quer esperar que se organize uma
celebração, o assunto está resolvido. Agora é uma esposa com deveres para atender.
Sem mais, o conde deu meia volta, e saiu fazendo que suas esporas ressoassem sobre
o chão de pedra. Seus homens, que tinham presenciado toda a cena, apressaram-se a
seguir seus passos, Philipa ignorou as criadas presentes na alcova, a intimidade era
um luxo extremo, e, como esposa de um conde, Mary teria que aprender a conviver
com os muitos olhos que conheceriam todos e cada um de seus movimentos. Era
melhor que se acostumasse agora do que num castelo que se esperava que dirigisse.

  — Mãe, terá que me ceder a Anne para que faça os livros de contabilidade, disse
Mary de repente. — Não sei como fazê-los.

   A garganta de Anne se fechou ao captar o olhar que sua meia-irmã lhe lançou,
parecia a maneira, que alguém, analisava uma nova égua que estivesse considerando
comprar. Philipa se virou para considerar a idéia e Anne abaixou a cabeça apesar de
que a fúria começava a bulir com força em seu interior. — Todo mundo, fora! Anne,
você fica. Joyce lhe dirigiu um olhar de impotência enquanto fazia sair ao resto das
criadas do quarto.

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— Venha aqui, Anne. Philipa estava em seu elemento e sua voz transbordava
autoridade, a jovem se aproximou dela sem que se ouvisse o menor som de suas
botas. Era obrigada a servir à condessa, mas não lhe tinha medo. O medo era para os
meninos e os idiotas.

 — Tire a toca. Anne desabotoou o botão que prendia a touca de linho com uma fita
no pescoço e olhou à condessa com o cabelo solto para ver o que desejava os olhos
de Philipa a estudaram durante um longo momento com atenção.

 — Vá! Anne voltou a por touca e já tinha chegado à porta quando Philipa a deteve.
— Prestou atenção aos seus estudos, moça?

 A jovem virou-se para encarar a Condessa e respondeu: — Sim, Milady. Mas não por
suas ordens, Anne tinha um forte temperamento e às vezes não podia evitar que
surgisse, mas também residia em seu interior um firme desejo de aprender, de saber,
por isso tinha absorvido com avidez tudo o que tinham lhe ensinado.

   — Vá ocupar-se dos livros e não saia dali. Anne abaixou a cabeça, já que não
confiava em que sua voz pudesse ser suave ou chegasse a ser minimamente
respeitosa. O fato de que Lady Mary se casasse não era razão suficiente para que a
condessa liberasse o seu mau humor. Todos estiveram aguardando por essa noticia
durante anos, era incrível que seu pai precisara arrastá-la de volta para casa. Mary
tinha sorte que seu marido desconhecesse sua maneira de ser, pois, se não fosse
assim, poderia realizar o desejo de ser recusada. Mas isso faria os falatórios
aumentarem e as suspeitas crescerem, pois todo mundo se perguntaria por que Mary
resistia tanto a envolver-se num matrimônio que lhe proporcionaria uma enorme
propriedade para governar mais rica inclusive que do seu pai, com a união de seu
dote às terras de seu marido, seus filhos viveriam melhor do que eles o faziam. Eram
umas magníficas bodas. Entretanto, Lady Mary era muito obtusa para compreender

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como aparecia comida na mesa quando ela se sentava. Anne, pelo contrário, conhecia
a procedência de cada grão, de cada pedaço de pão, e sabia quando a colheita fora
escassa ou a razão de que as ovelhas não parissem tão freqüentemente como
devessem, requeria-se um grande engenho para ajustar a contabilidade e assegurar-
se de que houvesse suficiente estoque para manter aos habitantes do castelo durante
o inverno. Se, vendesse muito haveria estômagos vazios. E nessa época tinha que ser
verdadeiramente inteligente para governar um castelo e se encarregar com as
responsabilidades de dirigir uma grande propriedade.

  — O que queria? Perguntou-lhe Joyce a governanta, que se escondia num rincão e
retorcia o avental enquanto aguardava para escutar o que tinha acontecido depois de
ter abandonado o quarto. — Ordenou-me que me encarrega-se dos livros,
arrumando-o, pois planeja saquear de novo os cofres para destinar o ouro ao armário
de Mary.

  — Essa tua língua herdou de seu pai, só um nobre falaria assim, será melhor que
tome cuidado moça, a condessa não a aprecia absolutamente nada.

 — Sei muito bem.

 Joyce suavizou seu severo olhar. — OH, pequena, sinto muito. Ela não sabe o que é
a bondade e você é uma filha leal. Seu pai deveria estar orgulhoso de você ao ver
como mostra respeito a essa amargurada mulher. Anne sentiu que seu rosto
resplandecia. Seu pai estava em casa e poderia desfrutar de sua presença nos
aposentos de sua mãe essa noite. Sempre ia ali quando estava em casa, por mais que
isso despertasse o ódio de Philipa. Entretanto, às vezes, Anne suspeitava que ela o
fizesse para enfurecer a sua esposa de sangue azul.

                                     *****


           22
Depois do pôr-do-sol...

  Anne se apressou ao cruzar o corredor, seus deveres a tinham entretido até tarde
essa noite. Um sorriso começou a iluminar seu rosto à medida que se aproximava do
quarto de sua mãe, que se achava no extremo norte do castelo. Era fria no inverno,
mas Ivy se negou a abandoná-la mesmo quando o conde o sugeriu. Ivy não queria
problemas, já que sua família tinha que viver com a Philipa enquanto o conde se
encontrasse na corte. Philipa havia designado aquele cômodo, assim se conformaria
com ele por mais frio que fosse. Anne abriu a porta e viu que o quarto estava
iluminado pela suave luz das velas.

  — Aqui minha menina, Philipa afirma que é a pior criada que já teve que tolerar. —
Boa noite, pai. Anne inclinou a cabeça num gesto de sincero respeito. Seu pai assentiu
satisfeito e seu rosto permaneceu indecifrável durante um longo momento até que
abriu os braços. Imediatamente, a jovem correu a refugiar-se neles, rendendo-se
enquanto ele a estreitava com força, finalmente a soltou e lhe tocou no nariz com um
dedo.

  — É uma boa garota por não se queixar, não é culpa sua que nada agrade a minha
esposa.

 — Prometo me esforçar mais amanhã, pai.

  O Conde sorriu. — Sei que o fará, também sei que Philipa seguirá insatisfeita. Mas
não estou aqui para falar de minha esposa, lançando uma gargalhada, estreitou Ivy
entre seus braços e lhe deu um beijo na face. — Senti falta de todos.

  — Nos fale da corte, por favor. Bonnie, a menor, aguardava com impaciência as
histórias de seu pai.



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O conde levantou um grosso dedo. — Suponho que poderia lhes falar da máscara
que o conde do Southampton levou a semana passada... Bonnie se moveu inquieta e
se dispôs a escutar sob o carinhoso olhar de Anne. Sorrindo, a jovem agarrou uma
fruta seca que havia num prato, a humilde mesa que freqüentemente só continha
papa e soro de leite, nessa noite oferecia frutas, pães-doces e cerveja enfraquecida
com água. Brenda levou várias torteletes de fruta para ressarcir-se dos insultos que
lhe tinha dirigido Philipa essa manhã, aquele tipo de manjar só se preparava para a
condessa, mas como à senhora do castelo não fazia nem a mínima idéia de como
preparar uma comida, seus serviçais podiam vingar-se usando mais quantidade do
exigido. Philipa daria um ataque se visse que os meninos de Ivy comiam o mesmo que
ela e Mary. Isso fazia as torteletes parecerem muito melhor, pensou Anne, que tentou
inutilmente repreender a si mesma por ter pensamentos tão mesquinhos.

  Os ricos manjares contribuíam para criar um ambiente festivo, no entanto era a
presença de seu pai que alegrava a todos os presentes, havia luz no quarto até bem
tarde da noite e as risadas escapavam através das frestas da porta. Quando Anne
finalmente foi à cama, sentia o coração transbordante de felicidade. Não, os insultos
de Philipa nunca poderiam manchar o amor que Anne recebia do conde. Pode ser que
a condessa se sentisse poderosa, mas não poderia romper nunca o vínculo que seu pai
compartilhava com ela. Todo mundo tinha que suportar algo desagradável em sua
vida e lhe havia tocado lidar o desprezo de Philipa, mas não era nada do que tivesse
que preocupar-se. A verdade é que não era importante.

                                  *****

 Ao amanhecer

   O Conde de Warwickshire saltou sobre seu cavalo com a mesma destreza que
qualquer guerreiro de seu séquito. Não usava finas roupas, além da grossa lã inglesa

         24
para proteger do frio. Anne e sua irmã Bonnie observavam sua partida de uma janela
do segundo andar que tinha as portinhas abertas.

  — Acredita que o papai lhe trará um marido da próxima vez que vier? Bonnie, de
quatorze anos, ainda não era consciente da dura realidade de ter nascido fora do
matrimônio, é obvio, toda a família se esforçava por protegê-la, apesar de que Bonnie
logo cresceria e teria que enfrentar à verdade.

 — Não sei tesouro, mas tentarei não me preocupar com isso. Papai sempre cuida de
nós. Bonnie riu e seus olhos azuis lançaram belos brilhos. — Irá trazer-lhe um homem
que ganhou suas esporas com uma nobre façanha e que foi nomeado cavalheiro pela
rainha. Bonnie suspirou absorta em suas fantasias, e Anne não pôde evitar desfrutar
daquele momento. Inclusive gostava de acreditar em finais felizes.

  — Provavelmente esse cavalheiro esteja esperando que você cresça. Alisou-lhe o
cabelo e lhe sorriu. Os olhos do Bonnie resplandeceram ao tempo mesmo que abria a
boca de par em par surpreendida.

  — Realmente crê que poderia estar me esperando? — Sim. Todos os povoados
daqui a Londres sabem quão bela você é e certamente terá que escolher entre vários
pretendentes.

  — Zomba de mim. O lábio do Bonnie tremeu ligeiramente. — Isso não é muito
engraçado, além disso, poderia me tornar vaidosa.

  — Vamos tesouro, só me junto a ti no seu sonho, não irá negar-me esse prazer,
verdade?

  Quando o Conde esporeou sua montaria e se dirigiu para o portão externo, Bonnie
levantou uma mão para despedir-se. Entretanto, Anne deixou as mãos apoiadas sobre
o marco de madeira da janela, consciente de que seu pai não se voltaria para olhar.

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Nunca o fazia, Philipa e Mary se encontravam de pé na escada dianteira, em seu lugar
como senhoras da casa, e o conde jamais se virava para despedir-se delas.

    — Você se casará Anne, sonhei ontem à noite. Anne fechou a portinhola,
assegurando-se de passar bem o fecho. Em seguida deu uma olhada de um lado ao
outro do corredor, e sacudiu a cabeça em direção a sua irmã.

 — Bonnie, já sabe o que mãe disse sobre seus sonhos. A menina se negou a ceder e
ergueu o queixo em teima. — Virá para você, só lhe digo isso para que esteja
preparada, ficará grávida na primavera e terá um varão antes da lua cheia de outono.
Vi. Não tema, não morrerá. Um estremecimento percorreu a espinha dorsal de Anne
enquanto olhava fixamente sua irmã, Bonnie tinha um dom, toda a família sabia e
tentava encobri-lo, já que corria o risco de ser queimada na fogueira como bruxa,
devido à avançada idade da rainha, os magistrados exerciam seu poder com extrema
crueldade.

 — Não falou a ninguém mais? Bonnie negou com a cabeça.

  — Sabe que prometi a mãe que não falaria de meus sonhos a ninguém que não
pertencesse à família, e não tenho quebrado minha palavra.

  — Muito bem, tesouro, mas não conte a ninguém mais, os cavalheiros não gostam
das mulheres que não param de falar durante todo o dia.

  — Mas virá, irmã. Vi-o sobre um corcel negro leva uma enorme espada nas costas,
como os escoceses que vimos na feira na primavera passada. Anne negou com a
cabeça.

  — É Lady Mary quem está casada por contrato com um escocês, não eu. Foi isso o
que viu.



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— Não, lhe vi. E ele estava entrando a cavalo no pátio inferior para lhe pegar. Seus
olhos são como a meia-noite. Uma parte de Anne se sentiu tentada a escutar sua
irmã, entretanto, controlou-se imediatamente. A vida era dura e consolar-se com
sonhos infantis não a ajudaria. Quão único conseguiria seria que lhe resultasse mais
difícil levar a carga que Philipa decidisse colocar sobre seus ombros. Joyce e o resto do
pessoal doméstico podiam sonhar com o amor, mas ela não. Bonnie também o
descobriria muito em breve. O sangue de seu pai era tanto uma maldição como uma
bênção, e era impossível que ela pudesse chegar algum dia a apaixonar—se.
Impossível.

                                 *****

 Terras dos McJames

 — Está mais irascível que de costume, pensava que isto era o que desejava. Brodick
McJames grunhiu em direção ao seu irmão e Cullen riu baixo a modo de resposta.

  — Não posso me casar seguindo meus próprios desejos, Cullen. As propriedades
dele divisam com as nossas e seu dote incrementará a riqueza dos McJames. E não se
trata só de terras, mas sim de terras férteis com água, se seu pai não tiver mais filhos
legítimos, todas suas posses passarão algum dia as nossas mãos.

  — Mesmo assim, continuo dizendo que parece muito furioso, tendo em conta o
quão benéfico será para todos. Cullen agarrou um bolo de aveia, mas não o mordeu.

  — Provavelmente é o leito conjugal o que o incomoda. — Não se preocupe irmão,
nem todos os homens são tão bem dotados como eu, não deveria invejar minha
habilidade com as mulheres. Isso é pecado.

 — Também o é gabar-se, disse Brodick.



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Cullen sorriu-lhe mostrando os dentes. — Não o faço, só digo a verdade. Meu
membro é...

   — Reserva-o para suas conquistas, irmão. Cullen riu acompanhado pelo coro
formado pelo grupo de homens que se sentavam perto. Brodick, por sua parte,
levantou-se e começou a caminhar afastando do acampamento.

  Cullen estava certo, não poderia estar com o humor pior, ir à busca de sua esposa
deveria ser um prazer, não um dever. Era uma boa união, tinha que reconhecer. Boa
para sua gente, boa para seus filhos, mas isso não alterava o fato de que lhe dava
pavor ter que levar a uma dama da corte inglesa a suas terras. Estivera nessa corte e
seria feliz se morresse sem ter que pôr os pés nela novamente, estava repleto de
rameiras, criaturas falsas com mais pintura em seus rostos, do que usavam os
highlanders na batalha. Seus grossos e pesados vestidos exibiam muito seus seios e
ocultavam o resto de seus corpos, fazendo desaparecer qualquer interesse que
pudessem despertar nele. Sua ira cresceu ao recordar que aquelas mulheres até
maquiavam seus mamilos, devido aos decotes dos vestidos que permitiam que os
vissem quase continuamente. Não era um homem ciumento por natureza, mas sua
mulher teria que lhe conservar fidelidade e só ele veria seus mamilos. Aqueles
pensamentos só conseguiram enfurecê-lo mais ainda.

  Olhou para baixo na fronteira, e se amaldiçoou por entre os dentes, apesar da
proximidade de suas terras com as da esposa, eles não poderiam ser mais diferentes
como o dia e a noite. Nunca lhe permitiria que se comportasse de um modo tão
vergonhoso e isso a faria odiá-lo, assim sua união tinha poucas possibilidades de ser
pacífica e muito menos agradável.

 Não obstante, por muito que lhe pesasse, era seu dever como primogênito, casar-se
com aquela mulher e apesar de saber tudo aquilo, Cullen ainda se perguntava por que

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estava tão furioso. Com um bufo, Brodick deu um pontapé numa pedra. A tradição o
obrigava a tomar uma esposa que melhorasse a vida de seu povo, e o fato de que isso
não o fizesse feliz não importava.

 Ele era o Conde do Alcaon. Sorveu uma profunda inspiração, sentindo que o orgulho
o inundava. Ter um título nobiliário não significava tão somente que as pessoas
inclinassem suas cabeças a sua passagem, ganhou também o respeito de seus
vassalos ao longo dos anos e tinha direito de ostentar o título. Suas terras fronteiriças
do norte não eram tão pacíficas como as do sul e quando seu pai recebeu uma
machadada na perna durante uma escaramuça, correspondeu ao Brodick à
responsabilidade de liderar ao clã dos McJames. Em muitos aspectos, preferia a
batalha ao matrimônio, fortalecendo sua determinação, olhou ao redor das terras
inglesas que logo seriam suas. De algum modo, o matrimônio era exatamente como a
batalha, só os fortes saíam vitoriosos. Reclamaria a sua esposa inglesa junto com seu
dote e logo teria um herdeiro, ele era o Laird do clã McJames, um homem que não
conhecia a derrota.

                                        *****

 Castelo do Warwick

  — Lady Mary deseja tomar um banho e você a atenderá. Brenda, a cozinheira,
proferiu aquelas palavras por cima do ruído que a água fazia ao encher duas jarras
idênticas de cobre que estavam sobre um enorme fogão, Brenda atiçou o fogo e
acrescentou um grosso pedaço de lenha.

  — Espere até que esteja pronta a água. Anne observou a fogão, então esfregou os
olhos, as chamas prenderam seu cansado olhar enquanto lutava contra fechar as
pálpebras para descansar uns minutos.


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—Né, moça. Não pode dormir agora.

 Anne riu em resposta.

  — A noite de ontem foi muito longa, mas bonita. Brenda sorriu. A água ferveu
finalmente e Anne colocou um suporte de madeira sobre os ombros para carregar as
duas jarras.

   — Vá com cuidado e não se queime, recomendou-lhe a cozinheira. Anne se
apressou em subir as escadas com passos muito curtos até o andar superior. As
senhoras da casa se banhavam em seus aposentos, que exigia transportar a água até
ali. O vapor subia das jarras de cobre quando bateu na porta de serviço que lhe
permitiria acessar aos aposentos da condessa através de uma pequena entrada
lateral, a maior parte dos habitantes do castelo ignoravam a existência daquela
entrada, só a conheciam pessoas de confiança designadas pela governanta ou a
cozinheira.

  — Adiante. Mary ainda estava totalmente vestida. Anne ficou olhando-a confusa
enquanto levava a água quente até a tina que aguardava junto ao fogo, metros de
linho se esquentavam sobre um fogareiro e mais jarras de água estavam alinhadas no
chão. Um caro sutiã francês repousava sobre uma bandeja de prata, esperando a ser
usado.

 — Tranca a porta, Mary.

  Mary pareceu tão assombrada como Anne ao ouvir a ordem de Philipa, ao ver a
indecisão de sua filha, a condessa a olhou carrancuda.

 — Depressa! Nós precisamos de absoluto segredo sobre isso, não quero que corram
rumores entre os serviçais, a menos que tenha mudado de idéia, nesse caso, deveria



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se banhar. Mary negou com a cabeça, correu para a porta e deixou cair à pesada viga
de madeira antes de dar a volta para olhar fixamente a sua meia-irmã.

 — Coloque a água na tina, Anne.

  — Claro... A jovem apertou a mandíbula com força ao dar-se conta de que estava
falando, algo que não lhe era permitido ouvir. Os olhos de Philipa se entreabriram ao
observar que um tênue rubor coloria o rosto de Anne, que agarrou uma das jarras
envolvendo parte da asa quente com a saia, à espera que a condessa a repreendesse.
Entretanto, nada à exceção do som da água se escutou na alcova. Surpresa, Anne
agarrou a segunda jarra e verteu a água quente na tina.

  — Agora tire esse vestido e se coloque dentro. Anne se virou e ficou olhando à
condessa, convencida de que não a tinha entendido bem. Mas Philipa a estava
observando atentamente e seus olhos refulgiam com firme autoridade.

 — Vai banhar-se, Anne. Mary e eu a ajudaremos.

  — Aqui? Anne não se importou que sua voz não soasse tão suave ou fraca como
deveria ter sido. Sem dúvida, Philipa tinha bebido muito aquela noite. A condessa riu
entre dentes e o horripilante som fez que um estremecimento percorresse a espinha
dorsal de Anne.

 — Sim, aqui. Philipa deu uma palmada e sorriu, entrará na tina e se lavará dos pés a
cabeça, finalmente vai pagar até o último xelim de prata que fui obrigada a gastar
com sua mãe e irmãos. — Se dispa, agora!

  Anne ficou olhando assombrada à condessa. O ódio deformava horrivelmente seus
olhos, agora compreendia por que tinha mudado tanto desde que pintaram seu
retrato; sua alma estava cheia de ódio. — Se dispa Anne. Vai substituir a Mary com
esse conde escocês.

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— Não! Não farei tal coisa, afirmou Anne com rudeza, à comoção não lhe permitiu
suavizar sua resposta.

  Mary soltou um grito sufocado ao escutar o tom de sua voz, mas Anne mal prestou
atenção.

  — Não? Fará o que lhe digo ou jogarei a sua mãe daqui esta noite mesmo. Philipa
deixou que um lento sorriso surgisse em seus lábios, provocando novamente um
estremecimento em Anne.

  — Meu pai não permitirá, replicou a jovem sentindo que o horror a invadia.

   — Meu marido não está aqui, e se a expulso, estará morta muito antes que ele
retorne. Anne levantou uma mão para cobrir a boca e ocultar a indignação que a
afligia.

  — Isso seria assassinato, Milady, cometeria um pecado mortal.

   — Eu chamo justiça! Philipa tremeu de raiva, mas se recuperou e arqueou uma
sobrancelha. — Só você pode evitá-lo, Mary é muito delicada para suportar o contato
de um homem. Você, por outro lado, é o feto de uma rameira, assim que o fato de
que um homem use seu corpo umas quantas noites não deveria lhe resultar
complicado.

  — Minha mãe é fiel ao meu pai, não tem outros amantes.

  Philipa agitou a mão, desprezando suas palavras. — Se for uma mulher com certo
caráter, melhor. Espero que tenha sido educada com um pouco do sentido de
responsabilidade, se sua mãe for tão honrada como diz. A condessa estendeu o braço
para a fita que mantinha presa a touca de Anne abriu o botão e a tirou de sua cabeça.
— Irá banhar-se e se vestirá como eu lhe disser.


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— Não posso. A voz de Anne não tremeu apesar de que jamais tinha discutido as
ordens da senhora da casa.

  Philipa lançou um suspiro irritado. — Irá fazê-lo. E terá que interpretar o papel à
perfeição se não desejar que seus irmãos sofram destinos pior que o seu. Anne abriu
os olhos de par em par e a condessa riu entre dentes ao perceber o horror da jovem.
— Vejo que agora tenho sua atenção, assumirá o lugar de Mary, ou me encarregarei
de que sua irmã se encontre casada antes que amanheça com o homem mais horrível
que possa encontrar! E a respeito a seus irmãos, conheço umas quantas prostitutas
que necessitam maridos. Temos que ser piedosos com esse tipo de mulheres, o
matrimônio poderia ser justo o que necessitam para fazê-las arrependerem-se da vida
que levam.

   — São desprezíveis. Anne se negou a morder a língua. Nem sequer Deus a
condenaria por afirmar algo tão certo.

 — Sou a senhora desta casa e minha palavra é lei. Philipa a olhou fixamente com os
olhos resplandecentes pelo triunfo e assinalou a tina com o rosto impassível.

 — Não sei mentir, asseverou Anne. Não saberia como enganar a um homem.

 A condessa voltou a agitar a mão, não haverá necessidade de mentir. É filha de meu
marido, simplesmente mantenha a boca fechada, se coloque na cama do escocês, e
tudo irá bem. Uma vez que fique grávida, pedirá que lhe permita retornar para casa
para ter a sua mãe perto quando chegar a hora de dar a luz. Vê? É muito simples.

 — Pensam que o conde é estúpido e que não se dará conta da mudança?

  Philipa moveu a mão de forma desdenhosa. – Esse homem é escocês e, portanto,
amante da guerra, Provavelmente a tomará várias vezes, garantirá que esteja grávida
e partirá em busca de mais guerras, os homens perdem interesse quando suas

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esposas estão grávidas e este não será diferente. Certamente tem uma amante e a
abandonará assim que souber que vai ter um herdeiro. Quando o bebê tiver nascido e
desejar ver seu filho, terá passado mais de um ano e Mary, como é costume entre a
nobreza já terá ido à corte depois de ter cumprido com seu dever de esposa, não terá
que vê-lo, além disso, nem sequer recordará de que cor são seus olhos. Por outro
lado, minha filha e você se parecem muito. Mas escuta bem, moça terá que se
assegurar de conceber um filho varão ou todo o plano virá abaixo.

 — Não posso fazer parte deste engano, meu pai já entregou Mary a esse homem.

  — E eu vou lhe entregar sua filha, outra diferente, mas, mesmo assim, filha dele.
Tenho autoridade para fazê-lo.

 — Não lhe deu o poder de mentir a respeito. Serão condenadas por fazer algo assim.
Philipa franziu o cenho.

 — Você decide. Tire o vestido e se banhe, ou se prepare para ver como sua mãe sai
pelo portão enquanto seus irmãos se vêem obrigados a permanecer no castelo, uma
acusação de roubo contra ela deverá ser suficiente para convencer os guardas de que
a expulsem da fortaleza. Com seu pai na corte, em quem pensa que o capitão
acreditará? À senhora da casa ou em você?




         34
Capítulo 3

                                A maldade

  Anne ficou olhando Philipa e soube que o que brilhava em seus olhos era pura
maldade, nunca imaginara que alguém fosse capaz de ter algo assim em seu interior.
Apenas um olhar para Mary, bastou para Anne entender que ela valorizava o seu
conforto, acima das vidas dos criados que o proporcionava. Tampouco havia o menor


        35
rastro de compaixão em seu rosto, só um leve medo de que sua meia-irmã não se
dobrasse ao capricho de sua mãe.

   Ocupar o lugar dela no leito nupcial... Anne estremeceu incapaz de assimilar
semelhante idéia. Aceitar algo assim, quase a transformaria numa prostituta, uma
mulher que deixaria que usassem seu corpo em troca do que necessitava. Mas
realmente não tinha escolha, o amor por sua família estava acima dela, assim ergueu
a mão para o botão do avental e o abriu.

 — Bem. Alegra-me que se comporte de um modo razoável. Philipa parecia satisfeita.
Ajude-a, Mary, temos que acabar com isso antes que alguma das criadas suspeite de
algo. O avental de Anne caiu no chão e Mary se encarregou do laço que amarrava a
cintura da saia, o traje formou redemoinhos ao redor de seus tornozelos deixando-a
apenas com a camisa e o espartilho. Anne sentiu como os dedos de Mary afrouxavam
os laços das poucas roupas que a cobriam e as tirava pela cabeça até que seus seios
ficaram expostos. Em qualquer outra ocasião, teria saboreado a liberdade de não
estar apertada pelo espartilho, mas os olhos de Philipa inspecionaram seu corpo com
atenção e seus lábios se curvaram num gesto de desprezo.

  — Com esse peito tão grande, não terá problema em conceber logo, grunhiu a
Condessa. — Tomei uma sábia decisão quando me encarreguei de que a mantivesse
sob vigilância, se não o fizesse, agora teria tantos bastardos como sua mãe.

 — Não sou promíscua!

  Philipa a fulminou com o olhar. — Mas é propensa a esquecer com facilidade sua
posição social.

   Anne se sentou num pequeno tamborete para se descalçar, ocultou sua ira ao
concentrar o olhar nos laços das botas, consciente de que se dissesse o que pensava,

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sua família sofreria a ira de Philipa. Entretanto, ansiava pronunciar cada palavra que
sempre havia reprimindo. Aquela mulher era maquiavélica, capaz de qualquer coisa
para ver seus desejos realizados.

  — Se apresse! Mary se ajoelhou e começou a tirar a outra bota, não temos muito
tempo, seus olhos resplandeceram de alegria quando conseguiu descalçá-la e abaixar
a grossa meia num puxão. De repente Anne sentiu vergonha, porque nunca estivera
nua diante de ninguém, Mary ficou em pé e se dirigiu a suas costas para desfazer sua
trança. Apesar de que nunca fizera aquilo, saiu-se melhor do que Anne imaginou. Em
seguida sua meia-irmã pegou uma escova e começou a desembaraçar-lhe o cabelo.
Parecia que Mary aprendera algo na corte enquanto servira à rainha.

 — Levante-se, quero vê-la.

 Anne obedeceu, cobrindo-se o máximo possível com as mãos.

  — Deixe de se encolher ordenou-lhe a Condessa estalando os dedos furiosos, a
jovem deixou cair às mãos ao lado do corpo. Philipa percorreu seu corpo com o olhar
enquanto apertava os lábios numa linha dura.

  — Entre na tina, esse escocês, espera que sua esposa tome banho antes de sua
chegada.

 A água ainda estava quente e Anne se sentiu ainda mais furiosa pelo fato de não ser
capaz de desfrutar do momento, sempre tomara banho com a camisa, porque a tina
que os serviçais de Warwickshire utilizavam não se encontrava num cômodo
resguardado. Além disso, todos precisavam de auxílio para lavar o cabelo, se não
quisessem correr o risco de manchar o chão quando usavam a água para enxaguar-se.
Agora, a visão de seus próprios mamilos a distraiu levemente, já que raras vezes os
olhava.

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A barra de sabão caiu de repente diante dela, lhe salpicando água nos olhos, esticou
a mão instintivamente e o agarrou num gesto automático, normalmente, ninguém
jogava desse modo um item tão caro. Ninguém exceto Philipa, um suave aroma de
lavanda inundou seus sentidos, quando Mary jogou uma jarra de água sobre sua
cabeça. Estava fria e fez cócegas no nariz, seguiu-se mais água até que seu cabelo
ficou totalmente molhado. Mas o fogo queimava e esquentava sua pele nua. Nunca
desfrutara de um banho tão delicioso, nem de um sabão perfumado.

 O sabão francês deslizou sobre sua pele e, de repente, compreendeu por que Philipa
gostava tanto de banhar-se. De fato, se lhe permitissem fazê-lo nessas condições,
também aproveitaria o máximo possível. Entretanto, Mary a fez apressar-se lhe
esfregando o cabelo com movimentos bruscos. Após, apenas um quarto de hora,
Anne se encontrava diante do fogo com o corpo envolto em linho. O desespero
tentou apropriar-se de sua mente. Não era tarefa fácil resistir a ela, mas sabia que o
pânico só ajudaria Philipa.

 — Isso não vai funcionar. E se o Conde desejar, permanecer aqui, algumas noites no
castelo Warwickshire antes de retornar as suas terras?

  A condessa escarneceu das palavras de Anne. — É escocês e sem dúvida desejará
retornar as suas terras o quanto antes, ouvi que os clãs se atacam entre si quando
seus senhores não estão presentes, mais um motivo pelo qual eu não enviarei minha
única filha a essa terra de bárbaros. Philipa sacudiu uma camisa íntima, e se decidir
ficar, não haverá nenhum problema, lhe direi que minha filha está doente e você
permanecerá oculta até que esteja tudo preparado para partir. — Coloque isso, Mary
lhe estendeu tão finas meias, que Anne ficou olhando-as, já vestira Philipa com
aquelas belas e diminutas peças, mas nunca sonhou usá-las. Logo estará pronta,
também lhe entregou uma fina camisa, um espartilho e anáguas bordadas, depois a
ajudaram a por um vestido que pertencia a Mary. A faixa da cintura parecia lã grossa
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para viajar, mas a única finalidade do luxuoso cós que o rodeava, era a vaidade.
Finalmente, Mary lhe escovou o cabelo até que ficasse seco e em seguida o trançou.

  — Já está pronta, usará um véu quando se encontrar com esse escocês para que
nenhum servo possa suspeitar e ficará no quarto até que eu vá buscá-la. — Não
cometa nenhum engano, ouviu-me? Contrarie-me, e expulsarei sua mãe daqui sem
nenhum pedaço de pão e nenhuma capa.

  Dito isso, Philipa agitou a mão em direção às escadas de trás. Anne seguiu suas
instruções, mas não abaixou a cabeça antes de mover-se. Em lugar disso, olhou
diretamente à Condessa negando-se a mostrar respeito. O rosto da mulher adquiriu
então um vivo tom vermelho devido à ira.

   — Suba essas escadas e medite sobre o que pode acontecer para sua família
qualquer outro ato de rebeldia de sua parte. Vá! Voltou-se para sua filha e ordenou.
— Mary, recolhe esse uniforme, terá que vestir isso para sair de Warwickshire, não
pode deixar que ninguém a veja ou todos nossos esforços serão inúteis.

  As escadas de trás estavam envoltas numa inquietante escuridão um lance com
degraus estreitos, levava a uma torre usada pelos arqueiros em tempos de ataque. No
momento, era onde se encontravam os livros contábeis do castelo, e não havia
nenhum modo de acessá-los a não ser através dos aposentos da senhora. Anne subiu
envolvendo seu corpo com os braços, ao sentir o gélido vento se infiltrar até os ossos,
parecia que aquele frio vinha do seu interior, e provavelmente assim fosse, doía-lhe o
coração nunca saíra dos domínios de Warwickshire. Dormia no quarto das criadas, e
isso era o mais afastado que já estivera de sua mãe. Podia ser uma loucura que
lamentasse abandonar o castelo, mas era o único lar que conhecera. Não foi capaz de
reprimir um calafrio ao chegar ao pequeno cômodo, era realmente minúsculo e
entrava pouca luz devido aos muros cobertos de pedras cinzentas, o vento assobiou

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através das estreitas aberturas, provocando mais calafrios. Sem sombra de dúvida
estava sonhando, certamente tudo que acontecera nas últimas horas, não era mais
que um pesadelo e que logo despertaria. Seus dedos acariciaram a frente da saia e
encontraram os luxuosos bordados. Ajudara a fazer alguns deles com suas próprias
mãos, sentada junto às outras criadas, depois que adicionavam lenha ao fogo para
passar a noite, pois, devido à ânsia de Mary pela moda, até o último par de mãos
auxiliava a fazer seus trajes. O vestido era magnífico, mas não fora confeccionado
para ela, o espartilho ficava comprido na cintura e cravava nos quadris. Teria que
ajustá-lo, mas não se atreveu a fazê-lo nesse momento, porque o marido de sua meia-
irmã podia chegar a qualquer momento. “Bem, na realidade, seu marido”.

  Anne pensou nisso, os homens não lhe davam medo, entretanto não sabia nada
sobre eles, ao ter sido submetida a uma rigorosa vigilância, obrigou a si mesma a não
olhar para os servos que tentavam conquistar sua atenção. Proibiram-na de flertar e
agora esse fato podia voltar-se contra ela, e se não gostasse do escocês? Não saberia
como atraí-lo ao seu leito. Um estremecimento a sacudiu ao pensar nesse dever.
Provavelmente deveria evitá-lo. Se afinal concebesse o bebê que Philipa exigia, já não
seria necessária e possivelmente ela seria capaz de assassiná-la. Um gélido terror lhe
envolveu o coração enquanto considerava a mentira que a condessa estava decidida a
levar a cabo. Anne engoliu o nó que formara na garganta e ordenou a si mesma, não
deixar-se levar pelo pânico, tinha que pensar era imperioso que descobrisse um modo
de levar as notícias ao seu pai. Não podia falar com escocês do golpe, pois a enviaria
de volta para casa, sob o cuidado de Philipa. A idéia de ver sua doce irmã Bonnie
casada fez o estômago se revolver. Seu pai era o único que tinha poder para protegê-
la, a ela e a sua família.

  E o faria, estava segura disso, tinha que acreditar porque era sua única esperança.
Iria escrever-lhe uma carta, virou-se e olhou para a mesa onde tinha passado tantas

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horas com os livros de contas. Sim, havia papel de pergaminho e tinta. Mas, como a
faria chegar? A corte era um lugar incerto onde os nobres formavam redemoinhos ao
redor da rainha. Só um homem com determinação poderia encarregar-se de que uma
carta chegasse às poderosas mãos de seu pai. De fato, seu mordomo-mor mantinha
em seu poder manuscritos durante meses antes de entregar ao Conde. Mesmo assim,
negava-se a aceitar docilmente seu destino Philipa a mataria uma vez que desse a luz
estava segura disso. Porque se vivesse, sempre existiria o perigo de que pudesse
expor a verdade. Sentou-se e abriu um pequeno tinteiro de cerâmica que continha
uma generosa quantidade de tinta escura, levantou uma pluma e a imergiu antes de
apoiar a ponta sobre o papel e escreveu com cuidado, riscando as letras com destreza
enquanto escutava com atenção, temerosa de ouvir passadas que interrompessem
sua tarefa. Depois que acabou de relatar o que estava ocorrendo, lacrou a carta, mas
não lhe pôs o selo da casa. Colocou-a com cuidado nos livros de contas e rezou para
que seu pai estivesse em casa no primeiro dia do próximo semestre, quando pagaria
os criados, faltavam ainda quatro meses, mas era esperado que o Conde pagasse cada
servo pessoalmente. Seu pai mantinha essa tradição, desde quando Anne podia se
recordar, ele colocava sobre sua palma a prata que ela mesma ganhava desde que se
tornou grande o suficiente para merecê-la, não podia lhe entregar à carta, mas a
deixaria onde pudesse descobri-la. Sem o selo, ninguém saberia de onde vinha à
missiva e com sorte, iria deixá-la ali para que fosse o senhor quem a abrisse. Dessa
vez, a vadiagem de Philipa seria uma bênção. Anne rezou como nunca o fizera para
que assim fosse. Enquanto isso, ela teria que empregar qualquer tática que
conseguisse imaginar, para evitar que o escocês consumasse a união. Precisava de
tempo, uma pontada de culpa a assaltou, mas se obrigou a deixar de lado. Não podia
tratar com honestidade aquele homem, era a primeira vez que planejava ser
desagradável com um desconhecido, embora soubesse muito bem, que não tinha
escolha, evitaria seu contato o maior tempo possível, e rezaria para que Deus lhe
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concedesse a habilidade de manter distância dele. Era sem dúvida a prece mais
estranha que seus lábios já tinham murmurado. O tempo passava lentamente, uma
vez que os livros estavam em ordem, Anne incapaz de ficar sentada, começou a
caminhar. Não estava acostumada a não fazer nada e o estômago roncou durante
horas até que Mary apareceu com comida, pouco antes do pôr-do-sol. Sua meia-irmã
encolheu os ombros a modo de desculpa. — Não estou acostumada a servir, por isso
esqueci trazer algo no meio do dia. Deixou a bandeja com um som metálico, voltou-se
e olhou a pequena sala.

  —Mamãe disse que irá dormir aqui, tenho que conseguir algo para você poder
deitar e esperar que o escocês apareça. Mamãe diz que não poderei retornar a corte
até que tenha um bebê, Oxalá seja rápido.

 Maldita egoísta! Anne aguardou que Mary começasse a descer os degraus de pedra
para amaldiçoá-la. Ela era mais que um ventre fecundo para filha legítima da casa.
Mesmo assim, foi bastante prudente para morder língua, aquela sala seria muito fria
de noite sem um fogo e só esperava que sua meia-irmã se lembrasse de trazer algo
com o que se agasalhar. Não havia tampas de prata para manter os pratos quentes,
tampouco era variada a comida. Uma terrina de sopa fria, queijo e pão duro, duas
tartaletas sobressaíam entre a pobreza dos pratos que Mary levara. Uma lágrima
ardeu no olho ao recordar que compartilhara uma com Brenda poucas horas antes,
mas Anne enxugou aquela única lágrima, negando-se a se deixar levar pela
compaixão, a vida era dura e chorar era para crianças, que ainda não enfrentaram à
realidade. Sentiu que o estômago rangia então pegou o prato de sopa, faminta que
estava, achou o gosto suportável. Não tinha talheres, assim teve que arrumar-se sem
eles, havia uma pequena jarra de soro de leite junto à terrina, Anne franziu o cenho
enquanto o bebia. O soro era a parte menos valorizada do leite, pois era extraído
depois que fosse separado a nata para a manteiga, mas ao menos a ajudava a engolir

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a sopa fria, já que não tinha água, nem cerveja ou cidra. Alguns passos nas escadas a
interromperam.

 — Isto terá que bastar, bufou Mary quando chegou ao alto dos degraus. Não posso
tirar nenhum colchão dos quartos dos criados, sem levantar suspeitas, deixou cair no
chão o que trazia entre as mãos e se virou, partindo a toda pressa. É uma bênção que
nenhum dos cavalos esteja ao seu cargo... Anne franziu o cenho ao notar que estava
falando consigo mesma. Lavou os dedos com um pouco de soro e os secou na prega
da saia, odiava sujar a roupa, mas não lhe ocorreu nenhuma outra solução.
Aproximou-se da pilha de pano que havia no chão, pegou-o e o estendeu com uma
sacudida, era uma capa de viagem de grossa lã, tinha um enorme capuz para proteger
das intempéries, quem a usasse, o vento soprava através das janelas, fazendo que a
sala fosse tão fria como o pátio que havia em baixo. Mesmo com a capa, passaria a
noite tremendo. Ao menos, usava anáguas forradas, Anne se virou com um bufo e
olhou as tartaletas e o pão. Deu-lhe água na boca, mas resistiu o impulso de comer,
pois ignorava quando lhe levariam mais comida, o melhor seria guardar algo, um
estômago meio cheio era mais fácil de suportar do que um vazio.

 O sol declinou e a luz atenuou, as velas eram guardadas a chave num armário junto
à cozinha e usavam com cuidado para conservar os recursos, de pé junto a uma
janela, Anne observou o pátio uma luz tremulava no estábulo, enquanto os serviçais
concluíam as últimas tarefas e os, sentinelas caminhavam pelas muralhas, vigiando
como sempre faziam. Ficou tentada em descer as escadas, às escondidas para
entregar a carta ao capitão, mas era muito arriscado, Philipa dirigia seus domínios
com punho de ferro. Tinha banido mais de um servo sem se importar com sua
situação pessoal e o capitão certamente entregaria a carta à condessa em lugar de
seu senhor, porque, com o conde na corte tão amiúde, muitos dos habitantes de
Warwickshire ansiavam ganhar a boa vontade de Philipa. O desespero a dominou

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enquanto recolhia a capa, e umas garras enregeladas envolveram seu coração ao
cobrir seu corpo com a peça de lã, estava muito perto de todos aqueles que ela amava
e, no entanto, nem sequer poderia despedir-se deles, a solidão encheu seus olhos de
lágrimas apesar de seus esforços por manter-se firme. Com a escuridão como única
companheira, não teve força suficiente para evitar o pranto. Escorregou pela parede e
aproximou os joelhos ao corpo porque a noite estava cada vez mais fria, sem saber
como, adormeceu e sonhou com o fogo que ardia na sala de Philipa, tentou
aproximar-se dele para aquecer-se, mas parecia que não podia se mover, o seu corpo
tremia tanto que não conseguia afastar-se do muro de pedra. Despertou mais
cansada do que o estava antes de dormir, os olhos ardiam e as mãos doíam de
segurar as extremidades da capa e uni-las no peito. Tinha o corpo rígido depois de ter
dormido sobre o chão duro, e os dedos dos pés gelados apesar das botas. Era tão
doloroso mover-se como ficar quieta, quando os primeiros raios do amanhecer
alcançaram as janelas, infiltrando-se até onde ela se encontrava, a jovem se levantou
e ergueu o rosto para sentir como o calor banhava sua face gelada.

 — Cavaleiros à vista!

   Anne abriu os olhos de par em par ao ouvir o grito que chegava do pátio,
aproximou-se apressadamente da janela e viu que os portões ainda encontravam-se
fechados além da muralha externa, um estandarte azul e dourado ondeava na
distância. Era imperceptível e dançava sem cessar porque o cavaleiro que o levava
avançava com rapidez. O capitão se apressou a subir pelas escadas até o alto das
muralhas em mangas de camisa, pois era evidente que acabava de levantar-se da
cama, usou um cristal de aumento para estudar o estandarte durante um extenso
momento e depois gritou: — Guerreiros de Alcaon. Que se reúnam todos os homens.
O segundo em comando fez soar um grande sino preso muralha de pedra externa e
imediatamente começaram a sair ao pátio, homens provenientes dos barracões

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abotoando-se armaduras e embainhando espadas. O estandarte ainda se achava
longe devido ao castelo ser construído sobre uma colina. “Então enfim chegara o
momento.” Que Deus a perdoasse o suficiente para lhe permitir viver.

  — Se apresse! Mary estava sem fôlego e nem sequer chegou até o último degrau.
Lívida, fez sinais frenéticos com uma mão para que Anne a acompanhasse ao quarto
de Philipa, Um nó formou no estômago de Anne, enquanto descia a escada, certa de
que sua alma se dirigia mais e mais para a condenação em cada degrau.

  — Ai está! Espero que a noite tenha melhorado sua atitude e aceite seu destino.
Philipa já estava vestida e parecia nervosa, coisa estranha.

  — Mary coloque-lhe essa touca francesa marrom com o véu, sua filha obedeceu
com presteza. A touca cobriria o cabelo de Anne e cobriria suas orelhas por completo,
um acessório de lã fina, a parte de trás da touca manteria abrigado seu pescoço, e um
comprido véu confeccionado com fino algodão da Índia ocultaria seu rosto. Poderia
ver através dele, embora não muito bem, as damas freqüentemente usavam véus
parecidos nas viagens, para proteger a maquiagem, porque os pós para o rosto
manchavam, quando os flocos de neve derretiam sobre a pele.

   Mary colocou a touca sobre o cabelo de Anne sem se importar que as bordas
apertassem seu rosto, logo pôs o véu em seu lugar, bloqueando a maior parte da luz
do amanhecer. – Perfeito! Isso evitará que alguém descubra, Mary esboçou um
sorriso triunfal enquanto os lábios de Anne formavam uma dura linha. Por costume,
começou a inclinar a cabeça, mas se deteve antes de completar o respeitoso
movimento, ao perceber seu gesto, sua meia-irmã franziu o cenho e o desgosto
retesou seu rosto. Um forte golpe soou na porta de repente.

  — Se esconda Mary, rápido minha menina! Mary se virou e correu para as escadas
que davam na saleta dos livros. Philipa sorriu ao olhá-la com uma estranha felicidade
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resplandecendo em seus olhos, mas desvaneceu no exato momento que sua atenção
recaiu sobre Anne. — Será melhor que recorde o que lhe disse, assim que estiver
grávida, diga para esse homem que deseja retornar para junto de sua mãe, nem
sequer um selvagem como ele lhe negará semelhante conforto.

 Voltaram a soar golpes na porta. – Adiante! Ordenou a condessa.

 O capitão da guarda apareceu na soleira, inclinando-se diante de Philipa.

 — O Conde de Alcaon a aguarda no pátio, Milady.

  — Estamos preparadas. Philipa segurou Anne pelo braço, lhe enterrando os dedos
na carne, certamente que estamos.

 Não! Anne não estava preparada absolutamente, nem o estaria nunca.

  — Deus santo! — Anne ficou paralisada ao ver pela primeira vez os homens que
estavam esperando, eles eram enormes, Ela era virgem e não tinha flertado para não
se arriscar em despertar a ira de Philipa, mas sabia que aparência os homens tinham,
mais ou menos. Aqueles diante dela, eram muito maiores do que qualquer um que se
recordava, à exceção de um ou dois dos aldeãos.

 Eram fortes e musculosos, os olhos de Anne demoraram nas mangas enroladas e na
quantidade de pele nua à vista. O frio da manhã não parecia incomodá-los e davam a
impressão de gozar de uma excelente saúde, vários usavam saias, de fato, as calças
eram a exceção entre eles. Em lugar de camisas, cobriam-se com peças de amplas
mangas e sem punhos, seus coletes eram feitos de pele e a maioria estava apenas
enrolada algumas vezes na altura do estômago. Usavam botas amarradas na
panturrilha com tiras de pele e utilizavam botões de chifre de animais para prendê-
las, suas roupas não eram absolutamente elegantes, mas sim práticas, com exceção
das saias, confeccionadas com largas tiras de pano tecidos com vários tons de cor para

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formar tartans azuis, amarelos e laranjas. A única coisa que se repetia no traje
daqueles homens era que a ponta dos tartans descansava sobre o ombro de cada um
deles e que mantinham o tecido preso por grandes alfinetes de metal, não parecia
haver nenhum homem entre eles que não estivesse em forma, e todos e cada um
levavam enormes espadas presas com uma correia nas costas.

  “Virá por ti...” As palavras de Bonnie repercutiram na mente de Anne quando um
deles desmontou e se separou de outros, seu cabelo era tão negro como a noite e
seus olhos de um azul muito escuro. Usava as mangas da camisa amarradas ao ombro
mostrando os poderosos bíceps de seus braços. Parecia uma estátua romana, só
músculo.

 — Sou Brodick McJames.

  Philipa se inclinou, puxando o pulso de Anne para assegurar-se de que fazia o
mesmo.

  — Bem vindo a Warwickshire, Milorde. Por favor, aceitem nossa hospitalidade! A
reverência de Philipa foi profunda e mais delicadamente do que Anne já havia visto.
Mas o escocês não estava interessado em sua mostra de respeito, evitou à senhora do
castelo e cravou seu olhar na silenciosa silhueta de Anne. Estudou sua cabeça
inclinada, tentando ver através do véu, e a jovem rezou em silêncio para que o
escocês aceitasse o convite de Philipa e ficassem algumas noites, isso desarmaria o
cruel plano da condessa, antes sequer que se colocasse em marcha.

  — Lamento, mas não tenho tempo para desfrutar de seu amável convite, devo
retornar as minhas terras imediatamente.




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— Compreendo. Philipa quase falou muito rápido, embora conseguisse dissimular
seu regozijo com um grave gemido, garanto que entendo. O escocês pareceu
surpreso, mas esqueceu aquela sensação rapidamente.

 — Bem. Sua voz era sonora e profunda, e seu tom mostrava que estava habituado a
mandar. Dou-lhe minha palavra de que sua filha terá uma escolta segura, subiu os
degraus dianteiros, tornando-se maior com cada passo que dava, quando estava no
mesmo patamar que elas, seus ombros ficaram acima do nariz de Anne.

  — Obrigada, Milorde. Anne nunca ouvira Philipa com um tom de voz tão dócil,
voltou à cabeça para olhar fixamente aquela mulher, atônita ao ver como interpretava
semelhante farsa, as sobrancelhas da condessa se arquearam levemente.

  — Agora Mary, cumpra com seu dever e trate seu senhor respeitosamente. Um
brilho de ira surgiu em seus olhos Anne conhecia bem esse olhar.

 — Milorde, disse a jovem em voz baixa. Inclinou a cabeça e ficou assim durante um
longo tempo.

  — Milady. O escocês lhe estendeu a mão com a palma para cima e um calafrio
percorreu na Anne, quando a olhou. Eva deve ter sentido o mesmo calafrio quando
enfrentou à serpente. Philipa lhe deu um beliscão e a jovem colocou sua pequena
mão sobre a dele, era muito maior. Com controlada força, os dedos do escocês
envolveram sua mão por completo e usou-a para atraí-la para si, enquanto tentava
ver através do véu. O fato de não conseguir não pareceu ser um motivo de demora,
porque se virou e a fez descer as escadas ao seu lado. Um de seus homens segurava
com firmeza uma égua enquanto o conde a guiava até ela. Anne agarrou a saia para
subir o pé até o estribo e deixou escapar um grito abafado ao sentir que as mãos de
seu marido a seguravam inesperadamente pela cintura, seus pés abandonaram
rapidamente o chão quando ele a ergueu sobre o lombo da égua. Nesse instante, seus
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homens lançaram vitórias e risadas ao ar da manhã. O conde lhe dedicou um sorriso
que transformou seu rosto por um momento no de um menino, antes que se
desvanecesse na segurança de um homem, observou como Anne se agarrava à parte
dianteira da sela e acomodava seus quadris de forma que ficasse equilibrada com as
duas pernas para o mesmo lado.

  — Em marcha! O escocês gritou a ordem ao mesmo tempo em que saltava sobre
seu próprio corcel, o cavalo era negro como o carvão e seus olhos resplandeciam. “O
vi sobre um corcel negro...” Anne ergueu o olhar para o homem que lhe tinha
reservado o destino e observou como enrolava as rédeas ao redor de uma poderosa
mão e guiava o animal com habilidade. Seus olhos estavam fixos nela, tentando
penetrar seu véu, e seu kilt de madra escocesa deixava ver a maneira de como suas
musculosas pernas sujeitavam o cavalo. Anne pôde comprovar então que eram tão
poderosas como seus braços. Quando o viu girar, ficou olhando a espada presa na
suas costas e as palavras de Bonnie fizeram seu coração se contrair. “Terá um bebê
antes da lua cheia de outono” Não, isso não podia ser, precisava haver um modo de
evitá-lo. O homem que dominava suas rédeas não as soltou quando montou sobre
seu próprio cavalo, e começou mandar para que o seguisse. Anne estremeceu ao
escutar que os habitantes do castelo se despediam, gritando seus melhores desejos.
Não voltou a cabeça e olhando tensamente as amplas e fortes costas dos homens que
tinha diante dela, muito consciente do poder que irradiava de seu líder ao atravessar
os portões do castelo. Sua égua seguiu ao grupo de escoceses, aumentando o ritmo
quando eles transpuseram a muralha externa, reforçando sua determinação, Anne
não olhou para trás em lugar disso, cravou o olhar nas costas do homem que teria que
enganar. Encontraria a maneira de fazê-lo, isso foi à única coisa que teve tempo de
pensar, o sonho do Bonnie não se cumpriria daquela vez, ela faria que assim fosse.
Não havia Santos suficientes, Anne se encolheu com mais força na sela, lamentando a

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falta de ouvidos celestiais a quem dirigir suas preces. Considerando sua premente
situação, necessitava que mais Santos intercedessem em seu nome. Seu olhar vagou
sobre os ombros do Conde, tinha uma compleição tão poderosa que certamente não
acreditaria ser real, se não tivesse visto por si mesma. Nem sequer estava certa se era
normal que os homens fossem tão grandes. Entretanto, o escocês parecia em perfeita
harmonia com o enorme corcel que montava. Ambos exalavam confiança enquanto
aquelas firmes mãos seguravam as rédeas e suas fortes pernas apertavam com força
os flancos do animal, mantendo as costas retas na dura escalada daquele morro.
Guardar distância com aquele homem iria ser uma provação para ele, ela era sua
esposa. Sim precisava de muito mais Santos. Anne franziu o cenho. Rezar fazia muito
bem, mas devia elaborar um plano sólido se quisesse dar tempo ao seu pai para
descobrir sua desesperada situação. Seu estômago protestou ao mesmo tempo em
que sentia que puxavam seu cavalo para que avançasse pelo caminho. O castelo de
Warwickshire foi diminuindo à medida que o sol se movia sobre eles riscando um arco
para o oeste. O espartilho, muito comprido se enterrava no quadril, mas ao mudar de
posição só conseguiu transferir a dor de um ponto ao outro até que o corpo palpitou
em protesto, tentou dissimular seu mal-estar trocando de posição quando o cavalo se
movia. Por causa disso todos os homens que acompanhavam o conde tinham um
motivo para olhá-la. Tentavam disfarçar, observando o caminho que ficava atrás de
Anne ou examinando as adagas que tinham embainhado na parte superior da bota.
Fosse como fosse, a questão era que seus curiosos olhos sempre encontravam uma
razão para olhar em sua direção.

   De sua parte, Anne também se sentia atraída por eles, seus joelhos nus a
desconcertava. Warwickshire estava nas terras fronteiriças e para os ingleses era um
lugar frio. O último par de joelhos inglês que vira fora no quarto de banho e fora de
um dos jovens ajudantes do estábulo e era um menino que estava acostumado a se

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esquecer de vestir-se adequadamente. Entretanto, os homens que a acompanhavam
não tinham problemas, levavam os coletes abertos, deixando que o ar da tarde
agitasse o linho de suas camisas, e todos tinham arregaçado as mangas como fossem
claramente desnecessárias para proteger do frio. Anne, entretanto, estremecia toda
só de ver que usavam o pescoço descoberto. Mas nenhum deles parecia ter frio e isso
chamou sua atenção, todos pareciam bem e impaciente por chegar a casa, e suas
montarias avançavam confiantes através do atalho rochoso. Não podia culpá-los por
sua alegria, porque o fato de saber que retornavam ao seu lar devia ser uma sensação
maravilhosa. Uma sensação que ela desejava e fez que a inveja se instalasse em seu
peito. Nem sequer tinham permitido despedir-se de sua família.

 Resistiu ao impulso de olhar para trás. Ver Warwickshire tão longe na distância seria
muito doloroso. Ao menos, evitaria as lágrimas, chorar era inútil. De fato, ela
considerara Lady Mary um ser impotente por chorar com tanta freqüência, esse
pensamento redobrou sua determinação de manter-se serena à medida que o dia se
prolongou. O conde deteve seus homens duas vezes. Em ambas as ocasiões, pararam
perto de um rio para que os cavalos pudessem beber. Anne tinha os pés amortecidos
e ao desmontar sentiu pontadas de dor que subiram por suas pernas inchadas, nunca
cavalgara durante tanto tempo, já que não tivera nenhuma necessidade de fazê-lo. Os
cavalos eram muito dispendiosos, sua comida era cara e geravam gastos nos
estábulos. Além disso, sua vida se limitava ao Warwickshire e às aldeias que o
circundava e lhe bastava seus pés para chegar até elas. Sabia que, em todo um ano,
não ganharia o suficiente para comprar um cavalo tão magnífico como o que montava
esse dia, Anne deu um tapinha na égua, e passou os dedos por sua brilhante pelagem.

  —É um bom animal, sem dúvida. Ao ouvir aquilo, a jovem voltou à cabeça e se
deparou com um dos guerreiros McJames a menos de um metro a suas costas. O


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homem a analisava com olhos do mesmo tom que um céu celestial, tinha o cabelo
claro, ao contrário do conde.

 — A verdade é que é muito bonito. O homem levantou uma mão para aplaudir com
firmeza os quartos traseiros do cavalo.

 — Forte isso é o que importa.

  Anne soltou as rédeas e deixou à égua livre, que com um suave relincho, seguiu os
outros cavalos para a margem do rio.

   — Provém dos estábulos pessoais de meu irmão, os cavalos McJames são os
melhores de Escócia, continuou ele.

 — Entendo.

 O escocês a olhou com atenção tentando ver mais por trás do véu. Como Anne não
o levantou, seu olhar deslizou por sua silhueta, examinando-a do mesmo modo como
fizera com a égua.

  — Imaginava que as damas inglesas usavam luvas para manter suas mãos suaves.
Anne agradeceu o véu, porque a ajudou a ocultar a repentina expressão de surpresa
em seus olhos. Sem poder evitá-lo, dobrou seus gelados dedos formando punhos.

  — Esqueci essa manhã. Retraiu-se, consciente de que cometera um erro, nenhuma
dama viajava sem luvas. Quando me avisaram de sua chegada, fiquei nervosa e não
reparei que não as usava.

  Um sorriso atravessou o rosto do escocês. — Não diga isso ao meu irmão, seu ego
não precisa de nenhuma adulação, lhe piscou um olho e sua divertida expressão a
deixou pasmada. Não imaginava que os escoceses pudessem mostrar-se tão abertos.



         52
— Bem, será melhor que se ocupe em satisfazer suas necessidades antes que
voltemos a montar, o escocês assinalou uma grande saliência entre as rochas e o
rosto de Anne ficou de uma viva cor vermelha.

   — Sim obrigada, disse com voz fraca ao mesmo tempo em que o rubor se
acentuava. Quando se dirigiu às rochas, sentiu-se como se todos os olhos estivessem
cravados nela. Retornar lhe custou uma grande quantidade de disciplina e ordenou a
si mesma agir com sensatez. O corpo tinha necessidades, não era um motivo para
ruborizar-se.   Agora mais homens a olhavam, observando a maneira como se
aproximava da água. O conde montava de novo seu corcel e esquadrinhava o
horizonte de sua privilegiada altura com o rosto convertido em pedra. Não parecia
rufião e nem ocioso, uma sólida determinação emanava dele enquanto percorria com
o olhar a zona que os rodeava antes de posar seus olhos nela. Anne sentiu que o calor
voltava a lhe subir pela face e que uma comichão atravessava sua pele, mordeu o
lábio inferior e tirou a boina lhe devolvendo o olhar sem poder romper a conexão. Ele
franziu o cenho antes de girar a cabeça, gesto que feriu o orgulho de Anne e que a
enfureceu ao sentir de novo um ardente calor no rosto, como podia ruborizar por ele?
E por que não o agradava? Sua própria ira a deixou assombrada, paralisando sua
mente enquanto tentava descobrir por que se importava com o que aquele homem
pensasse dela. Era melhor que não a achasse atraente, pois certamente isso a ajudaria
a evitar sua cama. Mesmo assim ela não pôde negar a onda de decepção que a
atravessou, fora tão real como aqueles homens vestidos com saias que estavam junto
dela. Bastante inesperada, mas verdade.

 — Os dois terão que esperar zombou o irmão do conde ao aproximar-se com a égua,
provocando gargalhadas entre os homens, Cullen dedicou um sorriso a Anne e lhe
ofereceu uma mão para ajudá-la a montar. A jovem, irritada, estendeu um braço para


         53
o pomo da sela, apoiou um pé sobre o estribo e ergueu seu corpo no ar sem ajuda.
Podia arrumar-se muito bem sozinha.

  — Oh! Nunca conheci uma dama inglesa que pudesse fazer isso. Provavelmente
meu irmão fez uma escolha melhor do que imagina, Anne abaixou o olhar e se sentiu
tentada a retirar o véu para que aquele homem pudesse ver o olhar carrancudo que
lhe dirigia. Foi outro impulso, um que pareceu muito difícil de resistir, no entanto ao
descobrir o escocês sorrindo de orelha a orelha e com aqueles olhos azuis como o
céu, cintilando com alegria, sua raiva desapareceu imediatamente, já que ele a fez se
lembrar muito de Bonnie.

 — Sabe muito sobre mulheres inglesas, não é?

  Os lábios do escocês deixaram de sorrir, adotando uma expressão pensativa. —
Estive na corte de sua rainha com meu irmão, sendo assim sim, conheço-as. Seus
olhos resplandeceram com algo que parecia desconfiança, embora reconheça que
você não é exatamente o que esperava, quando meu irmão me disse que viríamos
buscá-la. Olhou-a com olhar crítico, um gesto que fez a jovem se perguntar o que era,
na opinião dele, o que lhe faltava.

  — Como não nos conhecemos, replicou Anne, recuso-me a formar uma opinião
sobre você ou seu irmão até que passe um pouco de tempo.

  Uma das sobrancelhas do escocês se arqueou. Uma suave zombaria surgiu em seus
lábios e seus olhos voltaram a brilhar com diversão. — Oh, Deus, eis aí um tom que
me lembro muito bem. As mulheres inglesas são tão frias como as Valkirias,
poderosas guerreiras nórdicas, gélidas como a neve quando pretendem pôr a um
homem em seu lugar.




         54
O primeiro impulso de Anne ao escutar aquilo foi desculpar-se, mas as palavras de
Philipa fizeram que se reprimisse.

  Familiarizar-se com um daqueles homens não seria prudente, tendo em conta a
precária posição de sua família. Mesmo assim, não era sua natureza ser grosseira e
lamentava suas palavras.

  — Meu nome é Cullen. O escocês lhe entregou um pano dobrado, aqui têm algo
para comer, a viagem até o castelo do Sterling dura dois dias a cavalo, assim precisará
ser forte.

  — Obrigada, disse em voz baixa enquanto segurava o que ele lhe oferecia. Cullen
pendurou no pomo de sua sela a alça de um odre com vinho, as faces de Anne
coloriram-se dessa vez envergonhada por ser tão direta em seu comentário. Não
deveria permitir que Philipa a transformasse numa pessoa ressentida, mas guardou
para si suas palavras, selando assim os lábios, por temor do que pudesse acontecer
com sua família. Teria que interpretar esse papel, até seu pai descobrir a situação em
que se encontrava.

 Cullen assentiu. — Bem-vinda à família.

 Sua voz estava áspera, embora com certeza, Anne merecesse por ser tão altiva. Uma
pontada de arrependimento fez seu estômago contrair, enquanto o escocês se dirigia
ao seu próprio cavalo. Entretanto, não podia agir de outra maneira, não podia ser ela
mesma, sabia que a amabilidade era a melhor maneira de enfrentar novas situações,
contudo, mesmo assim, devia mostrar-se grosseira, encontrava-se numa encruzilhada
que se tornava mais escura, a cada palavra que pronunciava. O ódio de Philipa a tinha
colocado numa situação impossível e ser correta não a ajudaria na sua atual situação.
Todos os raciocínios e justificativas apoiados no fato dela ser a vítima não conseguiam
aplacar a culpa que a estava devorando. Era uma impostora e não acreditava que
             55
erguer preces aos Santos a ajudasse em algo, pois no fim, a maioria dos Santos tinha
aceitado seu martírio, para não agir de um modo não cristão. Apesar de saber isso,
não descerrou os lábios, manteve-os totalmente fechados resolvidos a interpretar o
papel de esposa que lhe fora atribuído, enquanto o conde os fazia avançar.




                                  Capítulo 4

                            Uma esposa falsa.

 O conde não parou a marcha até o sol quase se pôr. Só uma mancha rosa coloria o
horizonte quando levantou a mão para que o grupo se detivesse, parecia que seus
homens sabiam exatamente o que aquele gesto significava, porque em seguida
desmontaram e começaram a organizar o acampamento. O lugar escolhido estava
resguardado por árvores, os ramos tinham poucas folhas, mas um grupo de grandes
rochas fazia o lugar ser perfeito para passarem despercebidos. Uma rocha estava
manchada com escura fuligem negra e dois dos guerreiros se dispuseram a preparar
ali uma pequena fogueira, enquanto outros dois reuniam os cavalos. Tiraram as selas
das montarias, mas se certificaram de que todas as bridas estivessem bem presas,
depois prenderam os cavalos entre si, deixando alguns metros de distância entre eles
         56
para evitar que vagassem sozinhos durante a noite. Um guerreiro subiu no penhasco,
apoiou as costas sobre vários ramos, então deixou que a espada desembainhada
descansasse sobre uma das coxas.

  O resto dos homens falava em voz baixa, mas Anne pôde escutar a alegria em seu
tom, e igualmente o marcante acento escocês.

  A solidão a dominou como se fosse um laço de aço que se fechava mais e mais a
cada detalhe estrangeiro que percebia.

  Com um suspiro, virou-se e se dirigiu ao rio. Ouvia o murmúrio da água fluindo
rápido, mas o córrego não estava à vista. Teve que subir uma encosta para, por fim,
poder ver a água mais abaixo. Com atenção para não cair, conseguiu finalmente
descer até a margem. O odre não estivera cheio de vinho doce, mas sim de água.

  Mesmo assim, foi grata, pois seus lábios ressecavam com o ar invernal. Apoiou um
pé numa rocha e teve a precaução de subir saias sobre as coxas antes de inclinar-se
para tornar a encher o odre.

  A brisa noturna acariciou a pele nua acima das meias de lã, fazendo-a arrepiar-se.
Assim que encheu o odre, ergueu-se colocando os pés com firmeza sobre a borda e
fechou o odre antes de virar-se e erguer o olhar.

  Ao encontrar-se frente a frente com o Conde soltou um grito abafado, apenas os
separava meio metro de distância e o corpo dele, parecia ainda maior do que pela
manhã. Anne deu um salto para trás tentando afastar-se dele sem pensar no tanto
que estava perto do rio, de forma que suas botas afundaram no chão úmido e o odre
caiu na lama. Agindo com rapidez, o escocês a segurou pelo braço para afastá-la do
rio. A jovem lhe golpeou o peito de forma instintiva e arregalou os olhos ao sentir que
ele deslizava o braço por suas costas para segurá-la melhor.

         57
— Está realmente decidida a fugir no meio da noite? Não havia dúvida da ira que
impregnava a voz do Conde, olhava-a com o cenho franzido e a desconfiança gravada
no rosto.

 — Só desejava encher o odre, defendeu-se.

 O escocês soltou um som rouco. — E desempenhou essa tarefa sem dizer a ninguém
aonde se dirigia, Saindo na escuridão o mais silenciosamente possível.

 — Fiz sem pensar.

  Mas não deveria fazê-lo, outro erro seu. Mary teria enviado alguém para encher o
odre, sem se importar que tivessem que ocupar-se dos cavalos.

  — Ficarei grato se ficar com meus guerreiros, para não precisarmos resgatá-la dos
homens de qualquer outro clã que a encontre sem escolta, se não se importa com o
que possam lhe fazer, preocupe-se ao menos pelo sangue que será derramado
quando tivermos que a libertar lutando.

 — Eu não quero que ninguém lute por mim, afirmou Anne, horrorizada.

 O rosto do escocês era tão severo como o de um carrasco.

  — Se assegure para que assim seja. Não deixarei que ninguém roube o que é meu,
Milady, se fugir, a encontrarei suas palavras eram tão duras e implacáveis como o
braço que a retinha junto a ele.

 — Não estava fugindo assegurou-lhe a jovem.

 O conde voltou a soltar um bufo, duvidando claramente dela, Anne fechou os lábios
com força, consciente de que começava a perder a paciência e que protestar não lhe
facilitaria as coisas. Só lhe restava era consolar-se, pensando que Mary sem dúvida o
teria insultado.
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  • 1. Mary Wine A Impostora Realização/Créditos: Tradução/Pesquisas: GRH Revisão Inicial: Joelma Revisão Final: Nadia Cortez Formatação e Arte: Ana Paula G. G 1
  • 2. Resumo Anne se sentia acuada, pois a esposa de seu pai pretendia casá-la com um escocês selvagem no lugar de sua meia- irmã, filha legítima e ela não poderia fazer nada, pois era apenas a filha bastarda. Brodick escolhera uma esposa inglesa por causa de seu dote e estava preparado para todos os problemas que ocorreriam por isso, ele era um valoroso guerreiro e laird de seu clã e conseguiria dominá-la Anne aprendera amar seu marido e esperava um filho seu, mas ela deveria retorna para Inglaterra, pois assim sua senhora o exigia para entregar seu filho a sua irmã, em troca da vida de sua mãe e irmãos. E agora o que seria dela? 2
  • 3. Revisão Final: Nadia Cortez Achei o livro muito bem estruturado e desenvolvido, está na categoria dos gostosos de ler, algumas passagens são bem quentes a ponto de soltar fagulhas, mas não chegam a ser grosseiros. A personagem feminina é uma mistura de donzela tímida e mulher valente, pois no ínicio sabe se impor, só que durante a passsagem do tempo ela se torna muito submissa ao marido. Ele é o guerreiro belo, forte e poderoso, que na verdade toda mulher gostaria de encontrar pelo menos uma vez na vida. Mas sabe ser humano e correto como lider do clã. Eu apreciei o romance, mas não existe cenas de luta nem grandes conflitos, entretanto o enredo envolve e satisfaz no final. Nota da Moderação do GRH: Quando começamos a revisão deste livro, ele ainda não havia sido digitalizado.Quando foi, conversando com a revisora inicial, concordamos em continuar a revisão porque duvidávamos que a versão brasileira mantivesse as partes hots deste livro, sem cortes. E acertamos! Leiam os dois e comparem!! Fora vários trechos que foram suprimidos na versão lançada no Brasil! 3
  • 4. Capítulo 1 Castelo de Warwick, 1578 — Não tocará nas minhas pérolas! A condessa de Warwickshire era uma mulher formosa, no entanto tinha os lábios retorcidos, numa arrepiante expressão, enquanto fulminava com o olhar a amante de seu marido. — É obvio que as tocará, esposa. O conde entrou no quarto sem fazer ruído, nem sequer suas esporas emitiram algum som. Manteve a voz serena embora houvesse um inconfundível timbre autoritário nela. Todos os criados presentes na residência abaixaram a cabeça num gesto de deferência ao senhor da casa, antes de continuar com as suas tarefas. Entretanto, eles escutavam atentos tudo o que se dizia, já que seguiam com interesse a evolução do crescente descontentamento da condessa. E este tinha aumentado desde o dia que souberam que a amante do conde estava grávida, e fazia tempo que esperavam um desenlace para semelhante situação. — Levará as pérolas e as novas roupas, que a encarreguei de providenciar para quando a criança nascesse. Lady Philipa mordeu o lábio inferior para reprimir a mordaz resposta que lhe veio à mente. Não se atreveu a expressá-la em voz alta porque sabia quão volúveis eram os homens quando a paixão cruzava em seu caminho. Em lugar disso, seus lábios formaram uma careta ao mesmo tempo em que fazia uma reverência ao seu marido. Ao levantar o rosto, seus lábios estavam relaxados de novo, um testemunho dos anos de aprendizagem nas mãos de sua aia. As mulheres tinham que saber controlar-se muito mais do que os homens, pois, 4
  • 5. naquele mundo que lhes havia tocado viver, seus destinos estavam em mãos de seus maridos. — Milorde acaso eu não vou usufruir de nenhuma comodidade? Terei que me ver rebaixada a ver meus melhores adornos em sua amante? Deseja por acaso me ver desonrada em minha própria casa? O conde se colocou diante de sua esposa e ergueu um dedo acusatório diante de seu nariz enquanto percorria seu rosto com um olhar escuro. — Não é mais que uma rameira, Philipa. Uma rameira malcriada e ressentida que nem sequer tem a dignidade de cumprir com seu único dever. Sua mão se fechou em um punho que agitou em frente aos alarmados olhos da condessa. — Escute bem! Não haverá mais hipocrisias nesta casa! Alegue diante de uma só pessoa ou diante todos que não desfruta dos privilégios de sua categoria e farei que desapareçam de seus aposentos as tapeçarias, tapetes. Seus finos vestidos e suas jóias estarão fora de seu alcance e se fechará com chave o armário das especiarias para que possa viver, realmente, sem comodidades. A condessa soltou um grito abafado, mas cobriu a boca por temor que lhe escapasse uma furiosa réplica e selar assim seu destino. O conde assentiu com a cabeça reafirmando suas próprias palavras antes de agarrá-la pelo braço, para fazê-la virar-se para sua amante, Ivy Copper, que estava deitada na cama abraçando a recém-nascida. O bebê dava suspiros e apertava um punho gordinho contra o peito de sua mãe enquanto mamava. Ninguém tinha se importado de vestir a menina, já que os tecidos custavam dinheiro e Ivy não tinha nem voz nem voto em relação ao que lhe entregavam. Os serviçais, por sua parte, estavam às ordens de Philipa e ela não tinha indicado ninguém para que tomasse providências de envolver ao bebê para assegurar-se de seu perfeito crescimento, por isso a menina apenas vestia um longo vestido, como se fosse filha de um camponês. 5
  • 6. O cabelo de Ivy estava escovado e brilhava suavemente sobre seu ombro, pois comemorava o primeiro dia que havia saído da cama. Philipa tinha alimentado a secreta esperança de que a amante de seu marido morresse de febre depois do parto, mas estava ali sentada representando a viva imagem da boa saúde. Inclusive lhe tinha subido o leite para garantir que sua filha bastarda crescesse forte. — É certo que foi envergonhada, esposa, mas foi sua própria covardia que a levou a esta situação. O Conde a fez virar-se para que o olhasse, fazendo um estremecimento percorrer Philipa ao captar seu aroma másculo, seu débil corpo feminino o desfrutou, e teve que admitir que evitar o leito conjugal requeria disciplina. — É uma covarde, esposa. Abandonou meu leito por medo do parto. Olhe a minha nova filha, Philipa. Deus honra aos corajosos. Seu olhar suavizou por um momento e seus olhos refletiram bondade. — É minha esposa, retorna a minha cama e assuma seu dever. Se o fizer, juro que nenhuma outra ocupará seu lugar. Nenhum bastardo se colocará por cima de seus filhos. Philipa agitou a cabeça de um lado a outro enquanto tentava escapar dele. O medo a sufocou, a impedindo de falar. Dar a luz era perigoso, mortal! Mais da metade de suas amigas tinham acabado mortas, depois do parto por causa de febres ou, pior ainda, haviam falecido depois de sofrer durante horas em dolorosa agonia para os bebês abandonar o corpo de suas mães. O conde bufou indignado, apontou-lhe o dedo e sua voz ressoou através dos muros do castelo. — Irá se encarregar pessoalmente de colocar o colar de pérolas ao redor do pescoço de minha amante e de segui-la até a igreja. E também será a madrinha de minha nova filha. — Pretende reconhecer à bastarda? Conturbada, Philipa sentiu que lhe tremia o lábio inferior. — E quanto a Mary? Dei-lhe uma filha, Milorde! 6
  • 7. — E por isso a honrei como devia. Soltou-lhe o braço e deslizou o dorso de sua mão pela face dela. – A honrarei de novo e esquecerei tudo isto se retornar ao meu leito como deve. Abaixou a voz para que Ivy não pudesse ouvi-lo. – Deixá-la-ei, de lado, Philipa, por ti e por um filho legítimo, pense nisso. Mas não recorrerei à violação, não permitirei que me imponha semelhante peso, estamos casados e seu dever, igual ao meu, é conceber filhos no leito conjugal. Depois de dizer aquelas palavras, o conde se afastou de Philipa para unir-se ao grupo de visitantes que festejavam o fato de que Ivy tivesse sobrevivido ao parto. Nas próximas duas semanas, se ainda vivesse, a nova mãe iria à igreja para ser purificada pelo Clérigo do castelo e, a partir de então, lhe seria permitido assistir de novo aos ofícios religiosos. A bastarda logo seria batizada, pois as tradições deviam ser seguidas, tal e como vinha acontecendo há séculos. Se Ivy morresse antes de ir à igreja, ela não seria enterrada em solo sagrada e se o bebê falecesse sem ser batizado, também lhe seria negado à sepultura em solo santo. Os suaves sons que a menina emitia ao mamar ecoavam no quarto, enquanto Philipa observava como seu marido se inclinava para beijar a sua amante. A cama era o vivo exemplo do luxo. Grossas tapeçarias de lã cobriam o dossel e caíam como cortinas nas laterais. Seus lençóis, agora limpos, eram do fio mais fino, e o lençol manchado do dia do parto se mostrava com orgulho junto à janela, onde todos os visitantes podiam tocá-lo ao passar, para que lhes desse, boa sorte. Ivy usava um vestido comprido procedente do próprio armário de Philipa e o delicado tecido resplandecia sobre sua cremosa e suave pele. Havia vinho quente a disposição da nova mãe e bolos assados com especiarias da reserva particular do conde. Tudo fora preparado tão grandiosamente como quando ela tinha sido mãe e permitiu que sua filha Mary fosse vista pela primeira vez. A única diferença era que uma ama de leite tinha amamentado a sua menina, porque, como uma mulher pertencente à nobreza, a condessa podia permitir-se ao luxo de não ter que atender 7
  • 8. as necessidades básicas de um recém-nascido. Philipa olhou os seios de Ivy e observou que o leite deslizava pela bochecha do bebê. O conde riu e a limpou com sua própria mão. A amante de seu marido sorria satisfeita diante dos cuidados que ela e sua filha recebiam, aquela imagem produziu em Philipa um amargo sabor na boca que a fez se estremecer, ao dar-se conta, o que precisaria fazer, para ganhar a atenção de seu marido, afastando-o assim de sua amante. Não poderia fazê-lo. Outra vez não. Havia padecido dois dias para trazer sua filha ao mundo. Dois longos, dolorosos e intermináveis dias, e na realidade, ela não pudera amamentar seu bebê, porque a odiava por tê-la feito sofrer daquela maneira horrível. Esse ódio, além disso, estendeu-se ao seu marido e a sua exigência de ter mais filhos. Sua mãe tivera que suportar o mesmo de seu pai, mas agora tudo era diferente. A Inglaterra era governada por uma Rainha e Mary poderia herdar tudo. Elizabeth Tudor se encarregaria para que assim fosse. Os homens já não tinham o poder absoluto sobre as mulheres de suas famílias, Philipa se virou fazendo brilhar suas anáguas de seda e partiu. Que aquela bastarda fosse reconhecida! Isso não alteraria o fato de que ela era a senhora do castelo. O conde voltaria a ser chamado à corte e então, Ivy e sua filha estariam a sua mercê. Capela de Warwick: 8
  • 9. — Que nome colocará na menina? Os participantes da cerimônia contiveram a respiração esperando escutar o nome do bebê, pois nunca se dava nome a uma criança antes de ser batizado para que o diabo não pudesse enviar um dos seus servidores com o fim de lhe arrebatar a alma. — Anne. Philipa falou com clareza quando o sacerdote a olhou, já que como madrinha era a encarregada de decidir o nome. — Igual à querida e defunta mãe da Rainha. O padre, nervoso e com os olhos totalmente abertos, quase deixou cair à menina na pia batismal. Philipa, no entanto, pestanejou com ar inocente e ignorou o murmúrio que se estendeu entre os paroquianos diante do fato de que a bastarda levasse um nome maldito. Anne Bolena tinha sido executada por ordens do Enrique VIII muito antes que sua filha ostentasse a coroa da Inglaterra. Ninguém objetou a decisão da Condessa. Nem sequer os pais da recém-nascida puderam protestar, já que não lhes foi permitido assistir ao batismo na intenção de purificar à menina por completo sem a presença de seus progenitores. Philipa fulminou com o olhar o sacerdote e este mergulhou o bebê na água com muita mais força do que era habitual nele. Anne gritou quando a tiraram da pia batismal, Philipa franziu o cenho ao observar que o bebê ficava avermelhado e ao escutar que os fiéis lançavam vivas de aceitação. Se a menina não tivesse gritado para expulsar o diabo, teria sido rechaçada pela Igreja. Mas Anne gritou tempo suficiente para alcançar até o último banco do templo. Ao menos, Philipa tinha conseguido dar àquela criança um nome portador de má sorte. O pároco resmungou uma oração de despedida antes de envolver a menina numa toalha e entregá-la a sua madrinha. A condessa controlou o impulso de ostentar um ar depreciativo ao sair da capela com sua afilhada, mas assim que entraram no corredor particular que ia para seus aposentos entregou-a bruscamente a uma criada lhe dando as costas. Por isso não viu 9
  • 10. os olhares de desaprovação que lhe lançaram suas criadas enquanto embalavam e acalmavam a menina que consideravam como uma das suas. Anne soltou vários gemidos, antes que se aninhasse nos braços que a sustentava e permitiu que acariciassem seu escuro cabelo. A governanta lançou um olhar para o corredor por onde se afastava sua senhora e franziu o cenho. — Algumas pessoas não têm coração. Não o têm absolutamente! Um bebê sempre é uma bênção para o castelo! Todo mundo sabe. A senhora se envenenará com tanta mesquinharia e atrairá tempos escuros para os habitantes destas terras. — Guardem bem o que lhes digo. As duas criadas à suas ordens se limitaram a guardar silêncio, já que falar mal da Senhora do castelo era motivo para ser mandado embora. Mas, por outro lado, nenhuma delas reconheceria ter ouvido nada do que dissera a governanta, conscientes de que ter a antipatia daquela mulher significava encarregar-se das piores tarefas, assim se limitaram a acariciar a recém-nascida, fazendo sorrir a aqueles diminutos lábios rosa. Um bebê saudável trazia consigo sorte para todo mundo. A vida era dura e teria que desfrutar dos bons momentos sempre que fosse possível. Warwickshire, na primavera seguinte: 10
  • 11. — Mãe, veja, os cisnes estão nascendo. Philipa sorriu ao contemplar como sua filha brincava de correr pelo corredor, seguida de perto por sua babá. — Pois claro que mamãe irá ver minha menina preciosa. A condessa seguiu sua filha. Abaixou o olhar e sorriu ao ver o modo como o cabelo de Mary brilhava sob o sol. Não havia dúvida de que por suas veias corria sangue nobre, tudo nela era suave e delicado. Diferente da bastarda de Ivy, sua filha Mary era perfeita e legítima, seu coração se encheu de alegria ao pensá-lo, mas essa sensação morreu no instante que olhou para o outro lado do pátio e viu o Ivy e aquela rameira que voltara a ficar grávida e todos auguravam que o bebê seria um menino. — Mãe, venha, olhe! Mary apontou com a mão gordinha os cisnes, sem saber que Philipa tinha deixado de desfrutar do momento. A condessa lançou um olhar furioso à amante de seu marido, enquanto Alice, sua dama de companhia, falava-lhe em voz baixa: — Deveria reconsiderar Milady, e convidar seu marido de novo ao seu leito. A condessa, vestida com a mais fina lã, voltou-se para a Alice com fúria, mas sua dama de companhia se manteve firme diante de seu aborrecimento, apesar de que agora Philipa ostentava um título aristocrático, Alice a tinha criado e sabia manter-se imperturbável diante da desaprovação que havia em seus olhos. Para ela, sua senhora ainda era uma menina a quem podia repreender. — Poderia divorciar-se de você e a devolver ao seu pai, milady. É seu dever, só teria que lhe dar um filho varão. — Mas, e se eu der à luz a outra filha inútil? Philipa estremeceu. Já escutou à parteira, Alice, meus quadris são muito estreitos. Se Mary tivesse sido um bebê maior... Eu poderia... Haveria... Nem sequer pôde acabar a frase, Alice meneou a cabeça lhe oferecendo sua compaixão. 11
  • 12. — Milady, o primeiro parto é sempre o mais difícil. Dê um filho varão ao senhor e sua posição estará assegurada, logo, deixe que essa rameira conceba o resto. Um violento estremecimento sacudiu Philipa ao mesmo tempo em que unia as coxas com força sob as saias. O simples fato de pensar no parto fazia com que seu corpo adquirisse uma friagem mortal. Não poderia fazê-lo. Queria viver, não morrer em meio de um atoleiro formado por seu próprio sangue. — Não o farei, Alice. —Não voltarei a deitar-me com meu marido! Juro-o! Embora isso signifique que ele me envie de volta para meu pai. Philipa sentiu as lágrimas sulcando suas faces enquanto olhava Ivy. A inveja a encharcou, mas ela acolheu agradecida a chegada daquele sentimento porque fez desaparecer o medo. O ódio começou a aumentar ao mesmo tempo em que abraçava sua ira. Uma intensa aversão por Ivy, seus bastardos e por tudo que os deslumbrassem, inundou seu coração. Odiava-os. Odiava-os, odiava-os... Odiava-os Capítulo 2 Castelo de Warwick, 12
  • 13. — Se apresse Anne. A senhora está de muito mau humor hoje. — Que novidade. Joyce, a governanta, lançou um severo olhar à jovem que estava ao seu cargo e enrugou o nariz. — Cuidado com essa língua. A condessa é superior a você e foi Deus quem a pôs aí. Anne inclinou a cabeça enquanto mantinha em equilíbrio a bandeja do café da manhã da senhora do castelo. Era certo que tinha que morder a língua, embora não o fazia por ela mesma. De fato, importava-lhe pouco seu próprio conforto, mas a jovem estava bem consciente de que Lady Philipa não castigaria só a ela, ficaria encantada de descarregar sua cólera também sobre sua mãe, a amante do conde. Com um suspiro, seguiu Joyce para a ala oeste, apressando-se para que a bandeja estivesse ainda quente quando a condessa despertasse. Uma grande terrina de prata polida protegia o variado café da manhã. Cada terrina estava adornada com gravuras de flores e pássaros, e eram aquecidas sobre o fogo antes de ser colocadas sobre cada prato para mantê-lo quente. Anne tinha levantado com os primeiros raios do amanhecer com o intuito de atender à condessa quando despertasse. Estava encarregada daquele dever desde que iniciou seu fluxo menstrual. Os primeiros meses lhe tinham doído os braços devido ao excessivo peso da bandeja com toda aquela prata, mas agora se movia sem problemas. Philipa também tinha ordenado que Anne a vestisse cada manhã para se assegurar de que dormisse atrás da cozinha, junto às outras criadas, e sob a vigilância da governanta. Desse modo não conheceria nenhum homem e permaneceria virgem, a razão era singela. Anne era filha bastarda de um conde, e apesar de que Philipa detestava vê-la e a seus irmãos, não era nenhuma estúpida. Sabia que Anne poderia ser de utilidade em alguma negociação de matrimônio. Havia cavalheiros de posições inferiores que 13
  • 14. dariam valor ao sangue nobre numa esposa, embora também fosse possível que a condessa tivesse intenções de convertê-la em rameira, ao serviço dos caprichos de algum gordo mercador. Fosse o que fosse, o que a condessa tinha em mente, ainda não a preocupava. Anne permaneceu de pé em silêncio enquanto abriam as cortinas da cama e Philipa virava a cabeça para o pessoal que esperava suas ordens, seus olhos inspecionaram cada um das criadas, da apertada touca à prega da saia. A condessa não tolerava nenhuma falha, seus lábios nunca pareciam sorrir e em seu rosto se distinguiam as rugas que eram prova disso. Uma pintura no salão inferior a mostrava em sua juventude como uma alegre recém casada, mas não havia nenhuma alegria na mulher que estava recostada no leito. Anne observou Philipa através de suas pestanas quando a fila de criadas inclinou a cabeça em sinal de deferência. — Senti frio nos pés esta noite, retiraram-lhe as mantas para que se acomodasse e lhe colocaram uns almofadões macios nas costas. — O fogo não foi aceso como deveria e as brasas não mantiveram seu calor, nenhuma das criadas disse uma só palavra, abaixavam a cabeça cada vez que Philipa falava e se moviam pelo quarto como se fizessem movimentos ensaiados. Abriram as pesadas cortinas de tapeçaria de par em par com muito cuidado, conscientes de quão caro era aquele tecido. Limparam rapidamente as cinzas da enorme lareira e acenderam outro fogo para esquentar a alcova. Anne aguardou até parecer que a senhora estava o suficientemente confortável, para colocar o café da manhã sobre seu colo, assegurando-se de que as pequenas alças douradas da bandeja deslizassem suavemente por ambos os lados das pernas da condessa sem sequer roçá-la. Carrancuda, Philipa começou a inspecionar o que havia oculto sob as grandes tampas de prata polida que cobriam seu café da manhã. Um segundo depois, apertou os lábios numa dura linha e deixou cair uma tampa sobre o que a cozinheira tinha preparado. 14
  • 15. — Diga à cozinheira que se apresente diante de mim ao meio-dia. As criadas se retesaram visivelmente, já que todas elas tinham sido em alguma ocasião objeto do desgosto da senhora. A cozinheira não teria um dia agradável, Philipa começou a comer de um dos pratos enquanto observava às criadas com olhar crítico. Todas aprenderam a mover-se com passos suaves e cuidadosos para passar totalmente despercebidas, e mantinham o olhar baixo por medo a chamar a atenção. — Estou pronta para me levantar. Philipa largou os talheres desleixadamente e uma criada lhe retirou a bandeja quase no mesmo instante, enquanto outra retirava as mantas até os pés da cama. Anne trouxe água e se uniu ao resto das criadas, dependendo do humor de Philipa, podia custar até duas horas vesti-la. As criadas se moveram com eficiência ao redor da condessa, lhe lavando os pés e as mãos antes de deslizar as meias de lã por suas pernas. Cobriram-na com uma fina camisa e depois com umas anáguas forradas. A roupa não podia ser mais luxuosa, a lã mais áspera ficava coberta pelo caro algodão da Índia, e os arremates estavam adornados com elaborados desenhos. As criadas trabalhavam em excesso para abrigar a sua senhora apesar da chegada da primavera, porque o condado de Warwickshire ficava muito ao norte. Era o último território sob comando inglês antes da temível fronteira escocesa. De fato, o conde era requisitado continuamente na corte por sua importância como dono e senhor de terras fronteiriças. Anne sentia muito a falta de seu pai. Tudo era mais fácil quando o conde se encontrava no castelo. Os lábios da jovem tremeram nervosamente e, ao se dar conta disso, apressou-se a apertá-los numa fina linha com medo de ofender a Philipa. No entanto, não podia evitar que seu coração se enchesse de alegria ao pensar em seu pai. Sua mãe transbordava felicidade quando ele retornava e, apesar dos anos transcorridos, sempre dançava ao ver que os primeiros cavaleiros atravessavam as portas do castelo para anunciar a chegada do senhor. Por desgraça, seu pai tinha passado todo o inverno na corte, quatro longos meses nos 15
  • 16. quais a família de Anne tinha suportado o azedo temperamento de Philipa sem os carinhosos cuidados do conde. Entretanto, apesar de que o senhor do castelo adorava seus filhos bastardos, agarrava-se à tradição, no que implicava que Anne estivesse sob as ordens de Philipa. Mesmo assim, aquilo era melhor do que muitos tinham, pois ao menos a jovem dispunha de um teto onde cobrir-se e comida na mesa dos servos. Usava um bom vestido de lã e botas feitas sob medida. Tinha que sentir-se agradecida de muitas coisas, porque, certamente, estar ao serviço de uma mulher como a condessa era menos do que muitos sofriam. Por sorte, Mary não se encontrava em casa. Anne estremeceu. Sabia muito bem que a herdeira legítima do castelo era realmente perversa, Mary choramingava como um bebê e tinha violentos ataques de raiva, inclusive chegava ao ponto de rasgar tecidos de boa qualidade porque não eram tão finas como as que luziam algumas de suas amigas na corte. Philipa, por sua parte, consentia, e sempre encontrava dinheiro nos cofres do conde para comprar as coisas que sua filha exigia. Quando teve certeza de que Philipa não podia vê-la, Anne franzia o cenho severamente, era ela que encontrava os recursos que faziam Lady Mary deixar de dar gritos, por tradição, os livros de contas deveriam ser administrados pela Philipa, que tinha a obrigação de ensinar aquele dever a Mary, mas esse não era o caso no Warwickshire. Depois de ajudar a vestir à condessa, Anne tinha que passar o resto das horas do dia, e inclusive algumas da noite, fazendo a contabilidade dos livros. Seu pai tinha insistido para que ela e seus irmãos estudassem, mas tinha deixado que Philipa decidisse onde aplicar a educação recebida. O dever de Anne eram os livros de contas e assegurar-se de que estivessem de acordo, assim cada vez que Lady Mary pedia mais ouro, era Anne quem se encarregava de encontrá-lo onde o senhor não pudesse sentir falta. Conseguia o dinheiro da venda de cordeiros ou da roupa tecida pelo pessoal do castelo, apesar de que realmente odiava tanto esbanjamento, Warwickshire seria muito mais forte se 16
  • 17. não fosse saqueada tão freqüentemente por pura vaidade. De repente, ouviu-se um forte golpe na porta e uma faxineira se apressou a abrir, quando o amplo painel de madeira deixou passar uma criada, escutou-se claramente o repique dos sinos da muralha. — O Conde retornou Milady, informou-lhe a recém chegada, Philipa franziu o cenho. — Bem, acabem de me vestir, estúpidas, todo mundo se apressou a seguir com suas tarefas mantendo o olhar baixo. Anne se limitou a entregar as coisas às outras criadas, tinha aprendido a ficar fora do alcance da condessa quando estava se preparando para receber seu marido, pois Philipa estava acostumada golpear as serviçais antes de seus encontros com o conde por puro nervosismo. Provando a teoria de Anne, a condessa desferiu um sonoro bofetão numa das criadas quando ela deixou cair um sapato. –Fora! A criada abaixou a cabeça e retrocedeu para a porta aberta, uma intensa mancha vermelha marcava seu rosto. Ao ver aquilo, Anne reuniu coragem e se ajoelhou para recolher o sapato. — Por que tenho a desgraça de contar com os piores servos da Inglaterra? As famílias de Warwickshire só criam filhas idiotas. Ninguém falou, mas os olhos das criadas se encontraram a costas da senhora para compartilhar seu descontentamento com olhadas silenciosas. Anne se levantou, agradecida de ter acabado com sua tarefa, mas não conseguiu inclinar a cabeça a tempo e Philipa a repreendeu. — Bastarda! Anne se apressou a abaixar a cabeça e a condessa lhe dedicou uma careta de desprezo. — Nascer bastardo significa ter sido concebido em pecado. Será melhor que agradeça a Igreja por ter sido misericordiosa, porque, de outro modo, nunca teria sido batizada. 17
  • 18. — Sim, milady. Suas palavras não lhe doeram, tinha suportado muitos insultos da malvada língua de Philipa e sabia que era melhor que receber suas bofetadas. Mary, recém chegada da corte, surpreendeu a todos ao entrar a toda pressa na estadia em um revôo de saias de seda. — Pai me prometeu! OH, mãe, não quero ir à Escócia, lançou-se sobre a condessa e gemeu ruidosamente sobre seu peito. — Diga a ele, que não terei que ir, mamãe. Por favor! Começou a chorar com uma violência inusitada, enormes lágrimas alagavam seus olhos ao mesmo tempo em que se agarrava ao vestido de Lady Philipa. — Me diga que não terei que ir ao leito de nenhum escocês. — Já basta, Mary! Rugiu o conde da soleira. Todos os presentes se viraram quando o senhor do castelo irrompeu no cômodo, seu cabelo salpicado de prata não diminuía o poder da sua imponente presença, inclusive Philipa inclinou a cabeça num gesto de deferência, arrastando sua filha com ela. — Não permitirei que me envergonhe, filha. Advertiu-lhe o conde. — Assumi um compromisso firme com o jovem Brodick e o cumprirei, além disso, possui um título nobiliário. — Mas é escocês! Os lábios de Mary formaram uma careta quando choramingou. — Os tempos estão mudando, filha. Logo seremos uma única nação, governados sob um rei escocês. Brodick McJames é uma boa escolha, muito melhor que qualquer de seus amigos da corte. O senhor do castelo olhou em direção a sua esposa e de repente seus olhos repararam em Anne, que não pôde evitar que seus lábios se curvassem para cima lhe 18
  • 19. dando a boas-vindas ao mesmo tempo em que inclinava a cabeça, uma faísca iluminou os olhos do conde e Mary soltou um grave som ao ver a troca de olhares. Observou sua meia-irmã por cima do ombro de sua mãe e o ódio resplandeceu em seus olhos. Seu pai ficou tenso ao dar-se conta do que estava ocorrendo e voltou a dirigir o olhar para sua esposa. — Os homens do Conde do Alcaon chegarão esta semana, o rei só me permitiu partir para escoltar Mary em sua volta a casa, devo voltar para a corte na alvorada. Assinalou a Mary com um dedo. — Assumirá seu lugar tal e como o arranjei e não haverá mais lágrimas. Amadureça de uma vez! Encarregue-se disso, esposa. — Deve casar-se? Perguntou Philipa. O conde franziu o cenho. — Por Deus santo, mulher! Tem vinte e seis anos e desprezou a todos os pretendentes que lhe tenho proposto, não haverá mais discussões, tudo isto é minha culpa por permitir que vocês duas me influíssem, Mary devia ter-se casado faz quatro anos, mas tentei esperar até que aceitasse a algum pretendente ou me apresentasse algum de sua própria preferência. – Milady passou- se oito anos desde que a levamos a corte! — Mas é escocês, pai. — É um Conde. Mary se encolheu ao ver que o senhor do castelo avançava para ela, um homem cujas terras fronteiriças com as nossas, o qual o transforma numa boa escolha como marido para você. Mary soluçou mais forte, fazendo que seu pai emitisse um grave grunhido de desgosto e dirigisse sua irritação para a Philipa. — Vê isto, esposa? É a única filha que tem que se encarregar e a transformou numa criança chorona que não sabe agradecer a boa sorte que a vida lhe oferece. — O que quer de mim, filha? Acaso você gostaria de ficar solteira para sempre? Ou se converter numa rameira como essas amigas cortesãs, com bastardos crescendo em seus ventres? Não 19
  • 20. há muitos nobres que a queiram devido ao fato de que sua mãe nunca concebeu um filho varão. Aterrorizada, Mary negou com a cabeça, estremeceu e ficou em pé com os olhos totalmente abertos sob o duro olhar de seu pai. Anne sentiu realmente dó de sua meia-irmã a sociedade era cruel ao carregar às filhas com o estigma de suas mães. Como Philipa se negou dar a seu marido um herdeiro, suspeitava-se que Mary seguiria seu exemplo. — Sim, agora começa a enxergar a verdade do assunto, um ano mais e quem te quererá? É hora de se casar e ter filhos. Isto não é um compromisso, filha, e sim uma aliança por poderes. O Laird do clã McJames não quer esperar que se organize uma celebração, o assunto está resolvido. Agora é uma esposa com deveres para atender. Sem mais, o conde deu meia volta, e saiu fazendo que suas esporas ressoassem sobre o chão de pedra. Seus homens, que tinham presenciado toda a cena, apressaram-se a seguir seus passos, Philipa ignorou as criadas presentes na alcova, a intimidade era um luxo extremo, e, como esposa de um conde, Mary teria que aprender a conviver com os muitos olhos que conheceriam todos e cada um de seus movimentos. Era melhor que se acostumasse agora do que num castelo que se esperava que dirigisse. — Mãe, terá que me ceder a Anne para que faça os livros de contabilidade, disse Mary de repente. — Não sei como fazê-los. A garganta de Anne se fechou ao captar o olhar que sua meia-irmã lhe lançou, parecia a maneira, que alguém, analisava uma nova égua que estivesse considerando comprar. Philipa se virou para considerar a idéia e Anne abaixou a cabeça apesar de que a fúria começava a bulir com força em seu interior. — Todo mundo, fora! Anne, você fica. Joyce lhe dirigiu um olhar de impotência enquanto fazia sair ao resto das criadas do quarto. 20
  • 21. — Venha aqui, Anne. Philipa estava em seu elemento e sua voz transbordava autoridade, a jovem se aproximou dela sem que se ouvisse o menor som de suas botas. Era obrigada a servir à condessa, mas não lhe tinha medo. O medo era para os meninos e os idiotas. — Tire a toca. Anne desabotoou o botão que prendia a touca de linho com uma fita no pescoço e olhou à condessa com o cabelo solto para ver o que desejava os olhos de Philipa a estudaram durante um longo momento com atenção. — Vá! Anne voltou a por touca e já tinha chegado à porta quando Philipa a deteve. — Prestou atenção aos seus estudos, moça? A jovem virou-se para encarar a Condessa e respondeu: — Sim, Milady. Mas não por suas ordens, Anne tinha um forte temperamento e às vezes não podia evitar que surgisse, mas também residia em seu interior um firme desejo de aprender, de saber, por isso tinha absorvido com avidez tudo o que tinham lhe ensinado. — Vá ocupar-se dos livros e não saia dali. Anne abaixou a cabeça, já que não confiava em que sua voz pudesse ser suave ou chegasse a ser minimamente respeitosa. O fato de que Lady Mary se casasse não era razão suficiente para que a condessa liberasse o seu mau humor. Todos estiveram aguardando por essa noticia durante anos, era incrível que seu pai precisara arrastá-la de volta para casa. Mary tinha sorte que seu marido desconhecesse sua maneira de ser, pois, se não fosse assim, poderia realizar o desejo de ser recusada. Mas isso faria os falatórios aumentarem e as suspeitas crescerem, pois todo mundo se perguntaria por que Mary resistia tanto a envolver-se num matrimônio que lhe proporcionaria uma enorme propriedade para governar mais rica inclusive que do seu pai, com a união de seu dote às terras de seu marido, seus filhos viveriam melhor do que eles o faziam. Eram umas magníficas bodas. Entretanto, Lady Mary era muito obtusa para compreender 21
  • 22. como aparecia comida na mesa quando ela se sentava. Anne, pelo contrário, conhecia a procedência de cada grão, de cada pedaço de pão, e sabia quando a colheita fora escassa ou a razão de que as ovelhas não parissem tão freqüentemente como devessem, requeria-se um grande engenho para ajustar a contabilidade e assegurar- se de que houvesse suficiente estoque para manter aos habitantes do castelo durante o inverno. Se, vendesse muito haveria estômagos vazios. E nessa época tinha que ser verdadeiramente inteligente para governar um castelo e se encarregar com as responsabilidades de dirigir uma grande propriedade. — O que queria? Perguntou-lhe Joyce a governanta, que se escondia num rincão e retorcia o avental enquanto aguardava para escutar o que tinha acontecido depois de ter abandonado o quarto. — Ordenou-me que me encarrega-se dos livros, arrumando-o, pois planeja saquear de novo os cofres para destinar o ouro ao armário de Mary. — Essa tua língua herdou de seu pai, só um nobre falaria assim, será melhor que tome cuidado moça, a condessa não a aprecia absolutamente nada. — Sei muito bem. Joyce suavizou seu severo olhar. — OH, pequena, sinto muito. Ela não sabe o que é a bondade e você é uma filha leal. Seu pai deveria estar orgulhoso de você ao ver como mostra respeito a essa amargurada mulher. Anne sentiu que seu rosto resplandecia. Seu pai estava em casa e poderia desfrutar de sua presença nos aposentos de sua mãe essa noite. Sempre ia ali quando estava em casa, por mais que isso despertasse o ódio de Philipa. Entretanto, às vezes, Anne suspeitava que ela o fizesse para enfurecer a sua esposa de sangue azul. ***** 22
  • 23. Depois do pôr-do-sol... Anne se apressou ao cruzar o corredor, seus deveres a tinham entretido até tarde essa noite. Um sorriso começou a iluminar seu rosto à medida que se aproximava do quarto de sua mãe, que se achava no extremo norte do castelo. Era fria no inverno, mas Ivy se negou a abandoná-la mesmo quando o conde o sugeriu. Ivy não queria problemas, já que sua família tinha que viver com a Philipa enquanto o conde se encontrasse na corte. Philipa havia designado aquele cômodo, assim se conformaria com ele por mais frio que fosse. Anne abriu a porta e viu que o quarto estava iluminado pela suave luz das velas. — Aqui minha menina, Philipa afirma que é a pior criada que já teve que tolerar. — Boa noite, pai. Anne inclinou a cabeça num gesto de sincero respeito. Seu pai assentiu satisfeito e seu rosto permaneceu indecifrável durante um longo momento até que abriu os braços. Imediatamente, a jovem correu a refugiar-se neles, rendendo-se enquanto ele a estreitava com força, finalmente a soltou e lhe tocou no nariz com um dedo. — É uma boa garota por não se queixar, não é culpa sua que nada agrade a minha esposa. — Prometo me esforçar mais amanhã, pai. O Conde sorriu. — Sei que o fará, também sei que Philipa seguirá insatisfeita. Mas não estou aqui para falar de minha esposa, lançando uma gargalhada, estreitou Ivy entre seus braços e lhe deu um beijo na face. — Senti falta de todos. — Nos fale da corte, por favor. Bonnie, a menor, aguardava com impaciência as histórias de seu pai. 23
  • 24. O conde levantou um grosso dedo. — Suponho que poderia lhes falar da máscara que o conde do Southampton levou a semana passada... Bonnie se moveu inquieta e se dispôs a escutar sob o carinhoso olhar de Anne. Sorrindo, a jovem agarrou uma fruta seca que havia num prato, a humilde mesa que freqüentemente só continha papa e soro de leite, nessa noite oferecia frutas, pães-doces e cerveja enfraquecida com água. Brenda levou várias torteletes de fruta para ressarcir-se dos insultos que lhe tinha dirigido Philipa essa manhã, aquele tipo de manjar só se preparava para a condessa, mas como à senhora do castelo não fazia nem a mínima idéia de como preparar uma comida, seus serviçais podiam vingar-se usando mais quantidade do exigido. Philipa daria um ataque se visse que os meninos de Ivy comiam o mesmo que ela e Mary. Isso fazia as torteletes parecerem muito melhor, pensou Anne, que tentou inutilmente repreender a si mesma por ter pensamentos tão mesquinhos. Os ricos manjares contribuíam para criar um ambiente festivo, no entanto era a presença de seu pai que alegrava a todos os presentes, havia luz no quarto até bem tarde da noite e as risadas escapavam através das frestas da porta. Quando Anne finalmente foi à cama, sentia o coração transbordante de felicidade. Não, os insultos de Philipa nunca poderiam manchar o amor que Anne recebia do conde. Pode ser que a condessa se sentisse poderosa, mas não poderia romper nunca o vínculo que seu pai compartilhava com ela. Todo mundo tinha que suportar algo desagradável em sua vida e lhe havia tocado lidar o desprezo de Philipa, mas não era nada do que tivesse que preocupar-se. A verdade é que não era importante. ***** Ao amanhecer O Conde de Warwickshire saltou sobre seu cavalo com a mesma destreza que qualquer guerreiro de seu séquito. Não usava finas roupas, além da grossa lã inglesa 24
  • 25. para proteger do frio. Anne e sua irmã Bonnie observavam sua partida de uma janela do segundo andar que tinha as portinhas abertas. — Acredita que o papai lhe trará um marido da próxima vez que vier? Bonnie, de quatorze anos, ainda não era consciente da dura realidade de ter nascido fora do matrimônio, é obvio, toda a família se esforçava por protegê-la, apesar de que Bonnie logo cresceria e teria que enfrentar à verdade. — Não sei tesouro, mas tentarei não me preocupar com isso. Papai sempre cuida de nós. Bonnie riu e seus olhos azuis lançaram belos brilhos. — Irá trazer-lhe um homem que ganhou suas esporas com uma nobre façanha e que foi nomeado cavalheiro pela rainha. Bonnie suspirou absorta em suas fantasias, e Anne não pôde evitar desfrutar daquele momento. Inclusive gostava de acreditar em finais felizes. — Provavelmente esse cavalheiro esteja esperando que você cresça. Alisou-lhe o cabelo e lhe sorriu. Os olhos do Bonnie resplandeceram ao tempo mesmo que abria a boca de par em par surpreendida. — Realmente crê que poderia estar me esperando? — Sim. Todos os povoados daqui a Londres sabem quão bela você é e certamente terá que escolher entre vários pretendentes. — Zomba de mim. O lábio do Bonnie tremeu ligeiramente. — Isso não é muito engraçado, além disso, poderia me tornar vaidosa. — Vamos tesouro, só me junto a ti no seu sonho, não irá negar-me esse prazer, verdade? Quando o Conde esporeou sua montaria e se dirigiu para o portão externo, Bonnie levantou uma mão para despedir-se. Entretanto, Anne deixou as mãos apoiadas sobre o marco de madeira da janela, consciente de que seu pai não se voltaria para olhar. 25
  • 26. Nunca o fazia, Philipa e Mary se encontravam de pé na escada dianteira, em seu lugar como senhoras da casa, e o conde jamais se virava para despedir-se delas. — Você se casará Anne, sonhei ontem à noite. Anne fechou a portinhola, assegurando-se de passar bem o fecho. Em seguida deu uma olhada de um lado ao outro do corredor, e sacudiu a cabeça em direção a sua irmã. — Bonnie, já sabe o que mãe disse sobre seus sonhos. A menina se negou a ceder e ergueu o queixo em teima. — Virá para você, só lhe digo isso para que esteja preparada, ficará grávida na primavera e terá um varão antes da lua cheia de outono. Vi. Não tema, não morrerá. Um estremecimento percorreu a espinha dorsal de Anne enquanto olhava fixamente sua irmã, Bonnie tinha um dom, toda a família sabia e tentava encobri-lo, já que corria o risco de ser queimada na fogueira como bruxa, devido à avançada idade da rainha, os magistrados exerciam seu poder com extrema crueldade. — Não falou a ninguém mais? Bonnie negou com a cabeça. — Sabe que prometi a mãe que não falaria de meus sonhos a ninguém que não pertencesse à família, e não tenho quebrado minha palavra. — Muito bem, tesouro, mas não conte a ninguém mais, os cavalheiros não gostam das mulheres que não param de falar durante todo o dia. — Mas virá, irmã. Vi-o sobre um corcel negro leva uma enorme espada nas costas, como os escoceses que vimos na feira na primavera passada. Anne negou com a cabeça. — É Lady Mary quem está casada por contrato com um escocês, não eu. Foi isso o que viu. 26
  • 27. — Não, lhe vi. E ele estava entrando a cavalo no pátio inferior para lhe pegar. Seus olhos são como a meia-noite. Uma parte de Anne se sentiu tentada a escutar sua irmã, entretanto, controlou-se imediatamente. A vida era dura e consolar-se com sonhos infantis não a ajudaria. Quão único conseguiria seria que lhe resultasse mais difícil levar a carga que Philipa decidisse colocar sobre seus ombros. Joyce e o resto do pessoal doméstico podiam sonhar com o amor, mas ela não. Bonnie também o descobriria muito em breve. O sangue de seu pai era tanto uma maldição como uma bênção, e era impossível que ela pudesse chegar algum dia a apaixonar—se. Impossível. ***** Terras dos McJames — Está mais irascível que de costume, pensava que isto era o que desejava. Brodick McJames grunhiu em direção ao seu irmão e Cullen riu baixo a modo de resposta. — Não posso me casar seguindo meus próprios desejos, Cullen. As propriedades dele divisam com as nossas e seu dote incrementará a riqueza dos McJames. E não se trata só de terras, mas sim de terras férteis com água, se seu pai não tiver mais filhos legítimos, todas suas posses passarão algum dia as nossas mãos. — Mesmo assim, continuo dizendo que parece muito furioso, tendo em conta o quão benéfico será para todos. Cullen agarrou um bolo de aveia, mas não o mordeu. — Provavelmente é o leito conjugal o que o incomoda. — Não se preocupe irmão, nem todos os homens são tão bem dotados como eu, não deveria invejar minha habilidade com as mulheres. Isso é pecado. — Também o é gabar-se, disse Brodick. 27
  • 28. Cullen sorriu-lhe mostrando os dentes. — Não o faço, só digo a verdade. Meu membro é... — Reserva-o para suas conquistas, irmão. Cullen riu acompanhado pelo coro formado pelo grupo de homens que se sentavam perto. Brodick, por sua parte, levantou-se e começou a caminhar afastando do acampamento. Cullen estava certo, não poderia estar com o humor pior, ir à busca de sua esposa deveria ser um prazer, não um dever. Era uma boa união, tinha que reconhecer. Boa para sua gente, boa para seus filhos, mas isso não alterava o fato de que lhe dava pavor ter que levar a uma dama da corte inglesa a suas terras. Estivera nessa corte e seria feliz se morresse sem ter que pôr os pés nela novamente, estava repleto de rameiras, criaturas falsas com mais pintura em seus rostos, do que usavam os highlanders na batalha. Seus grossos e pesados vestidos exibiam muito seus seios e ocultavam o resto de seus corpos, fazendo desaparecer qualquer interesse que pudessem despertar nele. Sua ira cresceu ao recordar que aquelas mulheres até maquiavam seus mamilos, devido aos decotes dos vestidos que permitiam que os vissem quase continuamente. Não era um homem ciumento por natureza, mas sua mulher teria que lhe conservar fidelidade e só ele veria seus mamilos. Aqueles pensamentos só conseguiram enfurecê-lo mais ainda. Olhou para baixo na fronteira, e se amaldiçoou por entre os dentes, apesar da proximidade de suas terras com as da esposa, eles não poderiam ser mais diferentes como o dia e a noite. Nunca lhe permitiria que se comportasse de um modo tão vergonhoso e isso a faria odiá-lo, assim sua união tinha poucas possibilidades de ser pacífica e muito menos agradável. Não obstante, por muito que lhe pesasse, era seu dever como primogênito, casar-se com aquela mulher e apesar de saber tudo aquilo, Cullen ainda se perguntava por que 28
  • 29. estava tão furioso. Com um bufo, Brodick deu um pontapé numa pedra. A tradição o obrigava a tomar uma esposa que melhorasse a vida de seu povo, e o fato de que isso não o fizesse feliz não importava. Ele era o Conde do Alcaon. Sorveu uma profunda inspiração, sentindo que o orgulho o inundava. Ter um título nobiliário não significava tão somente que as pessoas inclinassem suas cabeças a sua passagem, ganhou também o respeito de seus vassalos ao longo dos anos e tinha direito de ostentar o título. Suas terras fronteiriças do norte não eram tão pacíficas como as do sul e quando seu pai recebeu uma machadada na perna durante uma escaramuça, correspondeu ao Brodick à responsabilidade de liderar ao clã dos McJames. Em muitos aspectos, preferia a batalha ao matrimônio, fortalecendo sua determinação, olhou ao redor das terras inglesas que logo seriam suas. De algum modo, o matrimônio era exatamente como a batalha, só os fortes saíam vitoriosos. Reclamaria a sua esposa inglesa junto com seu dote e logo teria um herdeiro, ele era o Laird do clã McJames, um homem que não conhecia a derrota. ***** Castelo do Warwick — Lady Mary deseja tomar um banho e você a atenderá. Brenda, a cozinheira, proferiu aquelas palavras por cima do ruído que a água fazia ao encher duas jarras idênticas de cobre que estavam sobre um enorme fogão, Brenda atiçou o fogo e acrescentou um grosso pedaço de lenha. — Espere até que esteja pronta a água. Anne observou a fogão, então esfregou os olhos, as chamas prenderam seu cansado olhar enquanto lutava contra fechar as pálpebras para descansar uns minutos. 29
  • 30. —Né, moça. Não pode dormir agora. Anne riu em resposta. — A noite de ontem foi muito longa, mas bonita. Brenda sorriu. A água ferveu finalmente e Anne colocou um suporte de madeira sobre os ombros para carregar as duas jarras. — Vá com cuidado e não se queime, recomendou-lhe a cozinheira. Anne se apressou em subir as escadas com passos muito curtos até o andar superior. As senhoras da casa se banhavam em seus aposentos, que exigia transportar a água até ali. O vapor subia das jarras de cobre quando bateu na porta de serviço que lhe permitiria acessar aos aposentos da condessa através de uma pequena entrada lateral, a maior parte dos habitantes do castelo ignoravam a existência daquela entrada, só a conheciam pessoas de confiança designadas pela governanta ou a cozinheira. — Adiante. Mary ainda estava totalmente vestida. Anne ficou olhando-a confusa enquanto levava a água quente até a tina que aguardava junto ao fogo, metros de linho se esquentavam sobre um fogareiro e mais jarras de água estavam alinhadas no chão. Um caro sutiã francês repousava sobre uma bandeja de prata, esperando a ser usado. — Tranca a porta, Mary. Mary pareceu tão assombrada como Anne ao ouvir a ordem de Philipa, ao ver a indecisão de sua filha, a condessa a olhou carrancuda. — Depressa! Nós precisamos de absoluto segredo sobre isso, não quero que corram rumores entre os serviçais, a menos que tenha mudado de idéia, nesse caso, deveria 30
  • 31. se banhar. Mary negou com a cabeça, correu para a porta e deixou cair à pesada viga de madeira antes de dar a volta para olhar fixamente a sua meia-irmã. — Coloque a água na tina, Anne. — Claro... A jovem apertou a mandíbula com força ao dar-se conta de que estava falando, algo que não lhe era permitido ouvir. Os olhos de Philipa se entreabriram ao observar que um tênue rubor coloria o rosto de Anne, que agarrou uma das jarras envolvendo parte da asa quente com a saia, à espera que a condessa a repreendesse. Entretanto, nada à exceção do som da água se escutou na alcova. Surpresa, Anne agarrou a segunda jarra e verteu a água quente na tina. — Agora tire esse vestido e se coloque dentro. Anne se virou e ficou olhando à condessa, convencida de que não a tinha entendido bem. Mas Philipa a estava observando atentamente e seus olhos refulgiam com firme autoridade. — Vai banhar-se, Anne. Mary e eu a ajudaremos. — Aqui? Anne não se importou que sua voz não soasse tão suave ou fraca como deveria ter sido. Sem dúvida, Philipa tinha bebido muito aquela noite. A condessa riu entre dentes e o horripilante som fez que um estremecimento percorresse a espinha dorsal de Anne. — Sim, aqui. Philipa deu uma palmada e sorriu, entrará na tina e se lavará dos pés a cabeça, finalmente vai pagar até o último xelim de prata que fui obrigada a gastar com sua mãe e irmãos. — Se dispa, agora! Anne ficou olhando assombrada à condessa. O ódio deformava horrivelmente seus olhos, agora compreendia por que tinha mudado tanto desde que pintaram seu retrato; sua alma estava cheia de ódio. — Se dispa Anne. Vai substituir a Mary com esse conde escocês. 31
  • 32. — Não! Não farei tal coisa, afirmou Anne com rudeza, à comoção não lhe permitiu suavizar sua resposta. Mary soltou um grito sufocado ao escutar o tom de sua voz, mas Anne mal prestou atenção. — Não? Fará o que lhe digo ou jogarei a sua mãe daqui esta noite mesmo. Philipa deixou que um lento sorriso surgisse em seus lábios, provocando novamente um estremecimento em Anne. — Meu pai não permitirá, replicou a jovem sentindo que o horror a invadia. — Meu marido não está aqui, e se a expulso, estará morta muito antes que ele retorne. Anne levantou uma mão para cobrir a boca e ocultar a indignação que a afligia. — Isso seria assassinato, Milady, cometeria um pecado mortal. — Eu chamo justiça! Philipa tremeu de raiva, mas se recuperou e arqueou uma sobrancelha. — Só você pode evitá-lo, Mary é muito delicada para suportar o contato de um homem. Você, por outro lado, é o feto de uma rameira, assim que o fato de que um homem use seu corpo umas quantas noites não deveria lhe resultar complicado. — Minha mãe é fiel ao meu pai, não tem outros amantes. Philipa agitou a mão, desprezando suas palavras. — Se for uma mulher com certo caráter, melhor. Espero que tenha sido educada com um pouco do sentido de responsabilidade, se sua mãe for tão honrada como diz. A condessa estendeu o braço para a fita que mantinha presa a touca de Anne abriu o botão e a tirou de sua cabeça. — Irá banhar-se e se vestirá como eu lhe disser. 32
  • 33. — Não posso. A voz de Anne não tremeu apesar de que jamais tinha discutido as ordens da senhora da casa. Philipa lançou um suspiro irritado. — Irá fazê-lo. E terá que interpretar o papel à perfeição se não desejar que seus irmãos sofram destinos pior que o seu. Anne abriu os olhos de par em par e a condessa riu entre dentes ao perceber o horror da jovem. — Vejo que agora tenho sua atenção, assumirá o lugar de Mary, ou me encarregarei de que sua irmã se encontre casada antes que amanheça com o homem mais horrível que possa encontrar! E a respeito a seus irmãos, conheço umas quantas prostitutas que necessitam maridos. Temos que ser piedosos com esse tipo de mulheres, o matrimônio poderia ser justo o que necessitam para fazê-las arrependerem-se da vida que levam. — São desprezíveis. Anne se negou a morder a língua. Nem sequer Deus a condenaria por afirmar algo tão certo. — Sou a senhora desta casa e minha palavra é lei. Philipa a olhou fixamente com os olhos resplandecentes pelo triunfo e assinalou a tina com o rosto impassível. — Não sei mentir, asseverou Anne. Não saberia como enganar a um homem. A condessa voltou a agitar a mão, não haverá necessidade de mentir. É filha de meu marido, simplesmente mantenha a boca fechada, se coloque na cama do escocês, e tudo irá bem. Uma vez que fique grávida, pedirá que lhe permita retornar para casa para ter a sua mãe perto quando chegar a hora de dar a luz. Vê? É muito simples. — Pensam que o conde é estúpido e que não se dará conta da mudança? Philipa moveu a mão de forma desdenhosa. – Esse homem é escocês e, portanto, amante da guerra, Provavelmente a tomará várias vezes, garantirá que esteja grávida e partirá em busca de mais guerras, os homens perdem interesse quando suas 33
  • 34. esposas estão grávidas e este não será diferente. Certamente tem uma amante e a abandonará assim que souber que vai ter um herdeiro. Quando o bebê tiver nascido e desejar ver seu filho, terá passado mais de um ano e Mary, como é costume entre a nobreza já terá ido à corte depois de ter cumprido com seu dever de esposa, não terá que vê-lo, além disso, nem sequer recordará de que cor são seus olhos. Por outro lado, minha filha e você se parecem muito. Mas escuta bem, moça terá que se assegurar de conceber um filho varão ou todo o plano virá abaixo. — Não posso fazer parte deste engano, meu pai já entregou Mary a esse homem. — E eu vou lhe entregar sua filha, outra diferente, mas, mesmo assim, filha dele. Tenho autoridade para fazê-lo. — Não lhe deu o poder de mentir a respeito. Serão condenadas por fazer algo assim. Philipa franziu o cenho. — Você decide. Tire o vestido e se banhe, ou se prepare para ver como sua mãe sai pelo portão enquanto seus irmãos se vêem obrigados a permanecer no castelo, uma acusação de roubo contra ela deverá ser suficiente para convencer os guardas de que a expulsem da fortaleza. Com seu pai na corte, em quem pensa que o capitão acreditará? À senhora da casa ou em você? 34
  • 35. Capítulo 3 A maldade Anne ficou olhando Philipa e soube que o que brilhava em seus olhos era pura maldade, nunca imaginara que alguém fosse capaz de ter algo assim em seu interior. Apenas um olhar para Mary, bastou para Anne entender que ela valorizava o seu conforto, acima das vidas dos criados que o proporcionava. Tampouco havia o menor 35
  • 36. rastro de compaixão em seu rosto, só um leve medo de que sua meia-irmã não se dobrasse ao capricho de sua mãe. Ocupar o lugar dela no leito nupcial... Anne estremeceu incapaz de assimilar semelhante idéia. Aceitar algo assim, quase a transformaria numa prostituta, uma mulher que deixaria que usassem seu corpo em troca do que necessitava. Mas realmente não tinha escolha, o amor por sua família estava acima dela, assim ergueu a mão para o botão do avental e o abriu. — Bem. Alegra-me que se comporte de um modo razoável. Philipa parecia satisfeita. Ajude-a, Mary, temos que acabar com isso antes que alguma das criadas suspeite de algo. O avental de Anne caiu no chão e Mary se encarregou do laço que amarrava a cintura da saia, o traje formou redemoinhos ao redor de seus tornozelos deixando-a apenas com a camisa e o espartilho. Anne sentiu como os dedos de Mary afrouxavam os laços das poucas roupas que a cobriam e as tirava pela cabeça até que seus seios ficaram expostos. Em qualquer outra ocasião, teria saboreado a liberdade de não estar apertada pelo espartilho, mas os olhos de Philipa inspecionaram seu corpo com atenção e seus lábios se curvaram num gesto de desprezo. — Com esse peito tão grande, não terá problema em conceber logo, grunhiu a Condessa. — Tomei uma sábia decisão quando me encarreguei de que a mantivesse sob vigilância, se não o fizesse, agora teria tantos bastardos como sua mãe. — Não sou promíscua! Philipa a fulminou com o olhar. — Mas é propensa a esquecer com facilidade sua posição social. Anne se sentou num pequeno tamborete para se descalçar, ocultou sua ira ao concentrar o olhar nos laços das botas, consciente de que se dissesse o que pensava, 36
  • 37. sua família sofreria a ira de Philipa. Entretanto, ansiava pronunciar cada palavra que sempre havia reprimindo. Aquela mulher era maquiavélica, capaz de qualquer coisa para ver seus desejos realizados. — Se apresse! Mary se ajoelhou e começou a tirar a outra bota, não temos muito tempo, seus olhos resplandeceram de alegria quando conseguiu descalçá-la e abaixar a grossa meia num puxão. De repente Anne sentiu vergonha, porque nunca estivera nua diante de ninguém, Mary ficou em pé e se dirigiu a suas costas para desfazer sua trança. Apesar de que nunca fizera aquilo, saiu-se melhor do que Anne imaginou. Em seguida sua meia-irmã pegou uma escova e começou a desembaraçar-lhe o cabelo. Parecia que Mary aprendera algo na corte enquanto servira à rainha. — Levante-se, quero vê-la. Anne obedeceu, cobrindo-se o máximo possível com as mãos. — Deixe de se encolher ordenou-lhe a Condessa estalando os dedos furiosos, a jovem deixou cair às mãos ao lado do corpo. Philipa percorreu seu corpo com o olhar enquanto apertava os lábios numa linha dura. — Entre na tina, esse escocês, espera que sua esposa tome banho antes de sua chegada. A água ainda estava quente e Anne se sentiu ainda mais furiosa pelo fato de não ser capaz de desfrutar do momento, sempre tomara banho com a camisa, porque a tina que os serviçais de Warwickshire utilizavam não se encontrava num cômodo resguardado. Além disso, todos precisavam de auxílio para lavar o cabelo, se não quisessem correr o risco de manchar o chão quando usavam a água para enxaguar-se. Agora, a visão de seus próprios mamilos a distraiu levemente, já que raras vezes os olhava. 37
  • 38. A barra de sabão caiu de repente diante dela, lhe salpicando água nos olhos, esticou a mão instintivamente e o agarrou num gesto automático, normalmente, ninguém jogava desse modo um item tão caro. Ninguém exceto Philipa, um suave aroma de lavanda inundou seus sentidos, quando Mary jogou uma jarra de água sobre sua cabeça. Estava fria e fez cócegas no nariz, seguiu-se mais água até que seu cabelo ficou totalmente molhado. Mas o fogo queimava e esquentava sua pele nua. Nunca desfrutara de um banho tão delicioso, nem de um sabão perfumado. O sabão francês deslizou sobre sua pele e, de repente, compreendeu por que Philipa gostava tanto de banhar-se. De fato, se lhe permitissem fazê-lo nessas condições, também aproveitaria o máximo possível. Entretanto, Mary a fez apressar-se lhe esfregando o cabelo com movimentos bruscos. Após, apenas um quarto de hora, Anne se encontrava diante do fogo com o corpo envolto em linho. O desespero tentou apropriar-se de sua mente. Não era tarefa fácil resistir a ela, mas sabia que o pânico só ajudaria Philipa. — Isso não vai funcionar. E se o Conde desejar, permanecer aqui, algumas noites no castelo Warwickshire antes de retornar as suas terras? A condessa escarneceu das palavras de Anne. — É escocês e sem dúvida desejará retornar as suas terras o quanto antes, ouvi que os clãs se atacam entre si quando seus senhores não estão presentes, mais um motivo pelo qual eu não enviarei minha única filha a essa terra de bárbaros. Philipa sacudiu uma camisa íntima, e se decidir ficar, não haverá nenhum problema, lhe direi que minha filha está doente e você permanecerá oculta até que esteja tudo preparado para partir. — Coloque isso, Mary lhe estendeu tão finas meias, que Anne ficou olhando-as, já vestira Philipa com aquelas belas e diminutas peças, mas nunca sonhou usá-las. Logo estará pronta, também lhe entregou uma fina camisa, um espartilho e anáguas bordadas, depois a ajudaram a por um vestido que pertencia a Mary. A faixa da cintura parecia lã grossa 38
  • 39. para viajar, mas a única finalidade do luxuoso cós que o rodeava, era a vaidade. Finalmente, Mary lhe escovou o cabelo até que ficasse seco e em seguida o trançou. — Já está pronta, usará um véu quando se encontrar com esse escocês para que nenhum servo possa suspeitar e ficará no quarto até que eu vá buscá-la. — Não cometa nenhum engano, ouviu-me? Contrarie-me, e expulsarei sua mãe daqui sem nenhum pedaço de pão e nenhuma capa. Dito isso, Philipa agitou a mão em direção às escadas de trás. Anne seguiu suas instruções, mas não abaixou a cabeça antes de mover-se. Em lugar disso, olhou diretamente à Condessa negando-se a mostrar respeito. O rosto da mulher adquiriu então um vivo tom vermelho devido à ira. — Suba essas escadas e medite sobre o que pode acontecer para sua família qualquer outro ato de rebeldia de sua parte. Vá! Voltou-se para sua filha e ordenou. — Mary, recolhe esse uniforme, terá que vestir isso para sair de Warwickshire, não pode deixar que ninguém a veja ou todos nossos esforços serão inúteis. As escadas de trás estavam envoltas numa inquietante escuridão um lance com degraus estreitos, levava a uma torre usada pelos arqueiros em tempos de ataque. No momento, era onde se encontravam os livros contábeis do castelo, e não havia nenhum modo de acessá-los a não ser através dos aposentos da senhora. Anne subiu envolvendo seu corpo com os braços, ao sentir o gélido vento se infiltrar até os ossos, parecia que aquele frio vinha do seu interior, e provavelmente assim fosse, doía-lhe o coração nunca saíra dos domínios de Warwickshire. Dormia no quarto das criadas, e isso era o mais afastado que já estivera de sua mãe. Podia ser uma loucura que lamentasse abandonar o castelo, mas era o único lar que conhecera. Não foi capaz de reprimir um calafrio ao chegar ao pequeno cômodo, era realmente minúsculo e entrava pouca luz devido aos muros cobertos de pedras cinzentas, o vento assobiou 39
  • 40. através das estreitas aberturas, provocando mais calafrios. Sem sombra de dúvida estava sonhando, certamente tudo que acontecera nas últimas horas, não era mais que um pesadelo e que logo despertaria. Seus dedos acariciaram a frente da saia e encontraram os luxuosos bordados. Ajudara a fazer alguns deles com suas próprias mãos, sentada junto às outras criadas, depois que adicionavam lenha ao fogo para passar a noite, pois, devido à ânsia de Mary pela moda, até o último par de mãos auxiliava a fazer seus trajes. O vestido era magnífico, mas não fora confeccionado para ela, o espartilho ficava comprido na cintura e cravava nos quadris. Teria que ajustá-lo, mas não se atreveu a fazê-lo nesse momento, porque o marido de sua meia- irmã podia chegar a qualquer momento. “Bem, na realidade, seu marido”. Anne pensou nisso, os homens não lhe davam medo, entretanto não sabia nada sobre eles, ao ter sido submetida a uma rigorosa vigilância, obrigou a si mesma a não olhar para os servos que tentavam conquistar sua atenção. Proibiram-na de flertar e agora esse fato podia voltar-se contra ela, e se não gostasse do escocês? Não saberia como atraí-lo ao seu leito. Um estremecimento a sacudiu ao pensar nesse dever. Provavelmente deveria evitá-lo. Se afinal concebesse o bebê que Philipa exigia, já não seria necessária e possivelmente ela seria capaz de assassiná-la. Um gélido terror lhe envolveu o coração enquanto considerava a mentira que a condessa estava decidida a levar a cabo. Anne engoliu o nó que formara na garganta e ordenou a si mesma, não deixar-se levar pelo pânico, tinha que pensar era imperioso que descobrisse um modo de levar as notícias ao seu pai. Não podia falar com escocês do golpe, pois a enviaria de volta para casa, sob o cuidado de Philipa. A idéia de ver sua doce irmã Bonnie casada fez o estômago se revolver. Seu pai era o único que tinha poder para protegê- la, a ela e a sua família. E o faria, estava segura disso, tinha que acreditar porque era sua única esperança. Iria escrever-lhe uma carta, virou-se e olhou para a mesa onde tinha passado tantas 40
  • 41. horas com os livros de contas. Sim, havia papel de pergaminho e tinta. Mas, como a faria chegar? A corte era um lugar incerto onde os nobres formavam redemoinhos ao redor da rainha. Só um homem com determinação poderia encarregar-se de que uma carta chegasse às poderosas mãos de seu pai. De fato, seu mordomo-mor mantinha em seu poder manuscritos durante meses antes de entregar ao Conde. Mesmo assim, negava-se a aceitar docilmente seu destino Philipa a mataria uma vez que desse a luz estava segura disso. Porque se vivesse, sempre existiria o perigo de que pudesse expor a verdade. Sentou-se e abriu um pequeno tinteiro de cerâmica que continha uma generosa quantidade de tinta escura, levantou uma pluma e a imergiu antes de apoiar a ponta sobre o papel e escreveu com cuidado, riscando as letras com destreza enquanto escutava com atenção, temerosa de ouvir passadas que interrompessem sua tarefa. Depois que acabou de relatar o que estava ocorrendo, lacrou a carta, mas não lhe pôs o selo da casa. Colocou-a com cuidado nos livros de contas e rezou para que seu pai estivesse em casa no primeiro dia do próximo semestre, quando pagaria os criados, faltavam ainda quatro meses, mas era esperado que o Conde pagasse cada servo pessoalmente. Seu pai mantinha essa tradição, desde quando Anne podia se recordar, ele colocava sobre sua palma a prata que ela mesma ganhava desde que se tornou grande o suficiente para merecê-la, não podia lhe entregar à carta, mas a deixaria onde pudesse descobri-la. Sem o selo, ninguém saberia de onde vinha à missiva e com sorte, iria deixá-la ali para que fosse o senhor quem a abrisse. Dessa vez, a vadiagem de Philipa seria uma bênção. Anne rezou como nunca o fizera para que assim fosse. Enquanto isso, ela teria que empregar qualquer tática que conseguisse imaginar, para evitar que o escocês consumasse a união. Precisava de tempo, uma pontada de culpa a assaltou, mas se obrigou a deixar de lado. Não podia tratar com honestidade aquele homem, era a primeira vez que planejava ser desagradável com um desconhecido, embora soubesse muito bem, que não tinha escolha, evitaria seu contato o maior tempo possível, e rezaria para que Deus lhe 41
  • 42. concedesse a habilidade de manter distância dele. Era sem dúvida a prece mais estranha que seus lábios já tinham murmurado. O tempo passava lentamente, uma vez que os livros estavam em ordem, Anne incapaz de ficar sentada, começou a caminhar. Não estava acostumada a não fazer nada e o estômago roncou durante horas até que Mary apareceu com comida, pouco antes do pôr-do-sol. Sua meia-irmã encolheu os ombros a modo de desculpa. — Não estou acostumada a servir, por isso esqueci trazer algo no meio do dia. Deixou a bandeja com um som metálico, voltou-se e olhou a pequena sala. —Mamãe disse que irá dormir aqui, tenho que conseguir algo para você poder deitar e esperar que o escocês apareça. Mamãe diz que não poderei retornar a corte até que tenha um bebê, Oxalá seja rápido. Maldita egoísta! Anne aguardou que Mary começasse a descer os degraus de pedra para amaldiçoá-la. Ela era mais que um ventre fecundo para filha legítima da casa. Mesmo assim, foi bastante prudente para morder língua, aquela sala seria muito fria de noite sem um fogo e só esperava que sua meia-irmã se lembrasse de trazer algo com o que se agasalhar. Não havia tampas de prata para manter os pratos quentes, tampouco era variada a comida. Uma terrina de sopa fria, queijo e pão duro, duas tartaletas sobressaíam entre a pobreza dos pratos que Mary levara. Uma lágrima ardeu no olho ao recordar que compartilhara uma com Brenda poucas horas antes, mas Anne enxugou aquela única lágrima, negando-se a se deixar levar pela compaixão, a vida era dura e chorar era para crianças, que ainda não enfrentaram à realidade. Sentiu que o estômago rangia então pegou o prato de sopa, faminta que estava, achou o gosto suportável. Não tinha talheres, assim teve que arrumar-se sem eles, havia uma pequena jarra de soro de leite junto à terrina, Anne franziu o cenho enquanto o bebia. O soro era a parte menos valorizada do leite, pois era extraído depois que fosse separado a nata para a manteiga, mas ao menos a ajudava a engolir 42
  • 43. a sopa fria, já que não tinha água, nem cerveja ou cidra. Alguns passos nas escadas a interromperam. — Isto terá que bastar, bufou Mary quando chegou ao alto dos degraus. Não posso tirar nenhum colchão dos quartos dos criados, sem levantar suspeitas, deixou cair no chão o que trazia entre as mãos e se virou, partindo a toda pressa. É uma bênção que nenhum dos cavalos esteja ao seu cargo... Anne franziu o cenho ao notar que estava falando consigo mesma. Lavou os dedos com um pouco de soro e os secou na prega da saia, odiava sujar a roupa, mas não lhe ocorreu nenhuma outra solução. Aproximou-se da pilha de pano que havia no chão, pegou-o e o estendeu com uma sacudida, era uma capa de viagem de grossa lã, tinha um enorme capuz para proteger das intempéries, quem a usasse, o vento soprava através das janelas, fazendo que a sala fosse tão fria como o pátio que havia em baixo. Mesmo com a capa, passaria a noite tremendo. Ao menos, usava anáguas forradas, Anne se virou com um bufo e olhou as tartaletas e o pão. Deu-lhe água na boca, mas resistiu o impulso de comer, pois ignorava quando lhe levariam mais comida, o melhor seria guardar algo, um estômago meio cheio era mais fácil de suportar do que um vazio. O sol declinou e a luz atenuou, as velas eram guardadas a chave num armário junto à cozinha e usavam com cuidado para conservar os recursos, de pé junto a uma janela, Anne observou o pátio uma luz tremulava no estábulo, enquanto os serviçais concluíam as últimas tarefas e os, sentinelas caminhavam pelas muralhas, vigiando como sempre faziam. Ficou tentada em descer as escadas, às escondidas para entregar a carta ao capitão, mas era muito arriscado, Philipa dirigia seus domínios com punho de ferro. Tinha banido mais de um servo sem se importar com sua situação pessoal e o capitão certamente entregaria a carta à condessa em lugar de seu senhor, porque, com o conde na corte tão amiúde, muitos dos habitantes de Warwickshire ansiavam ganhar a boa vontade de Philipa. O desespero a dominou 43
  • 44. enquanto recolhia a capa, e umas garras enregeladas envolveram seu coração ao cobrir seu corpo com a peça de lã, estava muito perto de todos aqueles que ela amava e, no entanto, nem sequer poderia despedir-se deles, a solidão encheu seus olhos de lágrimas apesar de seus esforços por manter-se firme. Com a escuridão como única companheira, não teve força suficiente para evitar o pranto. Escorregou pela parede e aproximou os joelhos ao corpo porque a noite estava cada vez mais fria, sem saber como, adormeceu e sonhou com o fogo que ardia na sala de Philipa, tentou aproximar-se dele para aquecer-se, mas parecia que não podia se mover, o seu corpo tremia tanto que não conseguia afastar-se do muro de pedra. Despertou mais cansada do que o estava antes de dormir, os olhos ardiam e as mãos doíam de segurar as extremidades da capa e uni-las no peito. Tinha o corpo rígido depois de ter dormido sobre o chão duro, e os dedos dos pés gelados apesar das botas. Era tão doloroso mover-se como ficar quieta, quando os primeiros raios do amanhecer alcançaram as janelas, infiltrando-se até onde ela se encontrava, a jovem se levantou e ergueu o rosto para sentir como o calor banhava sua face gelada. — Cavaleiros à vista! Anne abriu os olhos de par em par ao ouvir o grito que chegava do pátio, aproximou-se apressadamente da janela e viu que os portões ainda encontravam-se fechados além da muralha externa, um estandarte azul e dourado ondeava na distância. Era imperceptível e dançava sem cessar porque o cavaleiro que o levava avançava com rapidez. O capitão se apressou a subir pelas escadas até o alto das muralhas em mangas de camisa, pois era evidente que acabava de levantar-se da cama, usou um cristal de aumento para estudar o estandarte durante um extenso momento e depois gritou: — Guerreiros de Alcaon. Que se reúnam todos os homens. O segundo em comando fez soar um grande sino preso muralha de pedra externa e imediatamente começaram a sair ao pátio, homens provenientes dos barracões 44
  • 45. abotoando-se armaduras e embainhando espadas. O estandarte ainda se achava longe devido ao castelo ser construído sobre uma colina. “Então enfim chegara o momento.” Que Deus a perdoasse o suficiente para lhe permitir viver. — Se apresse! Mary estava sem fôlego e nem sequer chegou até o último degrau. Lívida, fez sinais frenéticos com uma mão para que Anne a acompanhasse ao quarto de Philipa, Um nó formou no estômago de Anne, enquanto descia a escada, certa de que sua alma se dirigia mais e mais para a condenação em cada degrau. — Ai está! Espero que a noite tenha melhorado sua atitude e aceite seu destino. Philipa já estava vestida e parecia nervosa, coisa estranha. — Mary coloque-lhe essa touca francesa marrom com o véu, sua filha obedeceu com presteza. A touca cobriria o cabelo de Anne e cobriria suas orelhas por completo, um acessório de lã fina, a parte de trás da touca manteria abrigado seu pescoço, e um comprido véu confeccionado com fino algodão da Índia ocultaria seu rosto. Poderia ver através dele, embora não muito bem, as damas freqüentemente usavam véus parecidos nas viagens, para proteger a maquiagem, porque os pós para o rosto manchavam, quando os flocos de neve derretiam sobre a pele. Mary colocou a touca sobre o cabelo de Anne sem se importar que as bordas apertassem seu rosto, logo pôs o véu em seu lugar, bloqueando a maior parte da luz do amanhecer. – Perfeito! Isso evitará que alguém descubra, Mary esboçou um sorriso triunfal enquanto os lábios de Anne formavam uma dura linha. Por costume, começou a inclinar a cabeça, mas se deteve antes de completar o respeitoso movimento, ao perceber seu gesto, sua meia-irmã franziu o cenho e o desgosto retesou seu rosto. Um forte golpe soou na porta de repente. — Se esconda Mary, rápido minha menina! Mary se virou e correu para as escadas que davam na saleta dos livros. Philipa sorriu ao olhá-la com uma estranha felicidade 45
  • 46. resplandecendo em seus olhos, mas desvaneceu no exato momento que sua atenção recaiu sobre Anne. — Será melhor que recorde o que lhe disse, assim que estiver grávida, diga para esse homem que deseja retornar para junto de sua mãe, nem sequer um selvagem como ele lhe negará semelhante conforto. Voltaram a soar golpes na porta. – Adiante! Ordenou a condessa. O capitão da guarda apareceu na soleira, inclinando-se diante de Philipa. — O Conde de Alcaon a aguarda no pátio, Milady. — Estamos preparadas. Philipa segurou Anne pelo braço, lhe enterrando os dedos na carne, certamente que estamos. Não! Anne não estava preparada absolutamente, nem o estaria nunca. — Deus santo! — Anne ficou paralisada ao ver pela primeira vez os homens que estavam esperando, eles eram enormes, Ela era virgem e não tinha flertado para não se arriscar em despertar a ira de Philipa, mas sabia que aparência os homens tinham, mais ou menos. Aqueles diante dela, eram muito maiores do que qualquer um que se recordava, à exceção de um ou dois dos aldeãos. Eram fortes e musculosos, os olhos de Anne demoraram nas mangas enroladas e na quantidade de pele nua à vista. O frio da manhã não parecia incomodá-los e davam a impressão de gozar de uma excelente saúde, vários usavam saias, de fato, as calças eram a exceção entre eles. Em lugar de camisas, cobriam-se com peças de amplas mangas e sem punhos, seus coletes eram feitos de pele e a maioria estava apenas enrolada algumas vezes na altura do estômago. Usavam botas amarradas na panturrilha com tiras de pele e utilizavam botões de chifre de animais para prendê- las, suas roupas não eram absolutamente elegantes, mas sim práticas, com exceção das saias, confeccionadas com largas tiras de pano tecidos com vários tons de cor para 46
  • 47. formar tartans azuis, amarelos e laranjas. A única coisa que se repetia no traje daqueles homens era que a ponta dos tartans descansava sobre o ombro de cada um deles e que mantinham o tecido preso por grandes alfinetes de metal, não parecia haver nenhum homem entre eles que não estivesse em forma, e todos e cada um levavam enormes espadas presas com uma correia nas costas. “Virá por ti...” As palavras de Bonnie repercutiram na mente de Anne quando um deles desmontou e se separou de outros, seu cabelo era tão negro como a noite e seus olhos de um azul muito escuro. Usava as mangas da camisa amarradas ao ombro mostrando os poderosos bíceps de seus braços. Parecia uma estátua romana, só músculo. — Sou Brodick McJames. Philipa se inclinou, puxando o pulso de Anne para assegurar-se de que fazia o mesmo. — Bem vindo a Warwickshire, Milorde. Por favor, aceitem nossa hospitalidade! A reverência de Philipa foi profunda e mais delicadamente do que Anne já havia visto. Mas o escocês não estava interessado em sua mostra de respeito, evitou à senhora do castelo e cravou seu olhar na silenciosa silhueta de Anne. Estudou sua cabeça inclinada, tentando ver através do véu, e a jovem rezou em silêncio para que o escocês aceitasse o convite de Philipa e ficassem algumas noites, isso desarmaria o cruel plano da condessa, antes sequer que se colocasse em marcha. — Lamento, mas não tenho tempo para desfrutar de seu amável convite, devo retornar as minhas terras imediatamente. 47
  • 48. — Compreendo. Philipa quase falou muito rápido, embora conseguisse dissimular seu regozijo com um grave gemido, garanto que entendo. O escocês pareceu surpreso, mas esqueceu aquela sensação rapidamente. — Bem. Sua voz era sonora e profunda, e seu tom mostrava que estava habituado a mandar. Dou-lhe minha palavra de que sua filha terá uma escolta segura, subiu os degraus dianteiros, tornando-se maior com cada passo que dava, quando estava no mesmo patamar que elas, seus ombros ficaram acima do nariz de Anne. — Obrigada, Milorde. Anne nunca ouvira Philipa com um tom de voz tão dócil, voltou à cabeça para olhar fixamente aquela mulher, atônita ao ver como interpretava semelhante farsa, as sobrancelhas da condessa se arquearam levemente. — Agora Mary, cumpra com seu dever e trate seu senhor respeitosamente. Um brilho de ira surgiu em seus olhos Anne conhecia bem esse olhar. — Milorde, disse a jovem em voz baixa. Inclinou a cabeça e ficou assim durante um longo tempo. — Milady. O escocês lhe estendeu a mão com a palma para cima e um calafrio percorreu na Anne, quando a olhou. Eva deve ter sentido o mesmo calafrio quando enfrentou à serpente. Philipa lhe deu um beliscão e a jovem colocou sua pequena mão sobre a dele, era muito maior. Com controlada força, os dedos do escocês envolveram sua mão por completo e usou-a para atraí-la para si, enquanto tentava ver através do véu. O fato de não conseguir não pareceu ser um motivo de demora, porque se virou e a fez descer as escadas ao seu lado. Um de seus homens segurava com firmeza uma égua enquanto o conde a guiava até ela. Anne agarrou a saia para subir o pé até o estribo e deixou escapar um grito abafado ao sentir que as mãos de seu marido a seguravam inesperadamente pela cintura, seus pés abandonaram rapidamente o chão quando ele a ergueu sobre o lombo da égua. Nesse instante, seus 48
  • 49. homens lançaram vitórias e risadas ao ar da manhã. O conde lhe dedicou um sorriso que transformou seu rosto por um momento no de um menino, antes que se desvanecesse na segurança de um homem, observou como Anne se agarrava à parte dianteira da sela e acomodava seus quadris de forma que ficasse equilibrada com as duas pernas para o mesmo lado. — Em marcha! O escocês gritou a ordem ao mesmo tempo em que saltava sobre seu próprio corcel, o cavalo era negro como o carvão e seus olhos resplandeciam. “O vi sobre um corcel negro...” Anne ergueu o olhar para o homem que lhe tinha reservado o destino e observou como enrolava as rédeas ao redor de uma poderosa mão e guiava o animal com habilidade. Seus olhos estavam fixos nela, tentando penetrar seu véu, e seu kilt de madra escocesa deixava ver a maneira de como suas musculosas pernas sujeitavam o cavalo. Anne pôde comprovar então que eram tão poderosas como seus braços. Quando o viu girar, ficou olhando a espada presa na suas costas e as palavras de Bonnie fizeram seu coração se contrair. “Terá um bebê antes da lua cheia de outono” Não, isso não podia ser, precisava haver um modo de evitá-lo. O homem que dominava suas rédeas não as soltou quando montou sobre seu próprio cavalo, e começou mandar para que o seguisse. Anne estremeceu ao escutar que os habitantes do castelo se despediam, gritando seus melhores desejos. Não voltou a cabeça e olhando tensamente as amplas e fortes costas dos homens que tinha diante dela, muito consciente do poder que irradiava de seu líder ao atravessar os portões do castelo. Sua égua seguiu ao grupo de escoceses, aumentando o ritmo quando eles transpuseram a muralha externa, reforçando sua determinação, Anne não olhou para trás em lugar disso, cravou o olhar nas costas do homem que teria que enganar. Encontraria a maneira de fazê-lo, isso foi à única coisa que teve tempo de pensar, o sonho do Bonnie não se cumpriria daquela vez, ela faria que assim fosse. Não havia Santos suficientes, Anne se encolheu com mais força na sela, lamentando a 49
  • 50. falta de ouvidos celestiais a quem dirigir suas preces. Considerando sua premente situação, necessitava que mais Santos intercedessem em seu nome. Seu olhar vagou sobre os ombros do Conde, tinha uma compleição tão poderosa que certamente não acreditaria ser real, se não tivesse visto por si mesma. Nem sequer estava certa se era normal que os homens fossem tão grandes. Entretanto, o escocês parecia em perfeita harmonia com o enorme corcel que montava. Ambos exalavam confiança enquanto aquelas firmes mãos seguravam as rédeas e suas fortes pernas apertavam com força os flancos do animal, mantendo as costas retas na dura escalada daquele morro. Guardar distância com aquele homem iria ser uma provação para ele, ela era sua esposa. Sim precisava de muito mais Santos. Anne franziu o cenho. Rezar fazia muito bem, mas devia elaborar um plano sólido se quisesse dar tempo ao seu pai para descobrir sua desesperada situação. Seu estômago protestou ao mesmo tempo em que sentia que puxavam seu cavalo para que avançasse pelo caminho. O castelo de Warwickshire foi diminuindo à medida que o sol se movia sobre eles riscando um arco para o oeste. O espartilho, muito comprido se enterrava no quadril, mas ao mudar de posição só conseguiu transferir a dor de um ponto ao outro até que o corpo palpitou em protesto, tentou dissimular seu mal-estar trocando de posição quando o cavalo se movia. Por causa disso todos os homens que acompanhavam o conde tinham um motivo para olhá-la. Tentavam disfarçar, observando o caminho que ficava atrás de Anne ou examinando as adagas que tinham embainhado na parte superior da bota. Fosse como fosse, a questão era que seus curiosos olhos sempre encontravam uma razão para olhar em sua direção. De sua parte, Anne também se sentia atraída por eles, seus joelhos nus a desconcertava. Warwickshire estava nas terras fronteiriças e para os ingleses era um lugar frio. O último par de joelhos inglês que vira fora no quarto de banho e fora de um dos jovens ajudantes do estábulo e era um menino que estava acostumado a se 50
  • 51. esquecer de vestir-se adequadamente. Entretanto, os homens que a acompanhavam não tinham problemas, levavam os coletes abertos, deixando que o ar da tarde agitasse o linho de suas camisas, e todos tinham arregaçado as mangas como fossem claramente desnecessárias para proteger do frio. Anne, entretanto, estremecia toda só de ver que usavam o pescoço descoberto. Mas nenhum deles parecia ter frio e isso chamou sua atenção, todos pareciam bem e impaciente por chegar a casa, e suas montarias avançavam confiantes através do atalho rochoso. Não podia culpá-los por sua alegria, porque o fato de saber que retornavam ao seu lar devia ser uma sensação maravilhosa. Uma sensação que ela desejava e fez que a inveja se instalasse em seu peito. Nem sequer tinham permitido despedir-se de sua família. Resistiu ao impulso de olhar para trás. Ver Warwickshire tão longe na distância seria muito doloroso. Ao menos, evitaria as lágrimas, chorar era inútil. De fato, ela considerara Lady Mary um ser impotente por chorar com tanta freqüência, esse pensamento redobrou sua determinação de manter-se serena à medida que o dia se prolongou. O conde deteve seus homens duas vezes. Em ambas as ocasiões, pararam perto de um rio para que os cavalos pudessem beber. Anne tinha os pés amortecidos e ao desmontar sentiu pontadas de dor que subiram por suas pernas inchadas, nunca cavalgara durante tanto tempo, já que não tivera nenhuma necessidade de fazê-lo. Os cavalos eram muito dispendiosos, sua comida era cara e geravam gastos nos estábulos. Além disso, sua vida se limitava ao Warwickshire e às aldeias que o circundava e lhe bastava seus pés para chegar até elas. Sabia que, em todo um ano, não ganharia o suficiente para comprar um cavalo tão magnífico como o que montava esse dia, Anne deu um tapinha na égua, e passou os dedos por sua brilhante pelagem. —É um bom animal, sem dúvida. Ao ouvir aquilo, a jovem voltou à cabeça e se deparou com um dos guerreiros McJames a menos de um metro a suas costas. O 51
  • 52. homem a analisava com olhos do mesmo tom que um céu celestial, tinha o cabelo claro, ao contrário do conde. — A verdade é que é muito bonito. O homem levantou uma mão para aplaudir com firmeza os quartos traseiros do cavalo. — Forte isso é o que importa. Anne soltou as rédeas e deixou à égua livre, que com um suave relincho, seguiu os outros cavalos para a margem do rio. — Provém dos estábulos pessoais de meu irmão, os cavalos McJames são os melhores de Escócia, continuou ele. — Entendo. O escocês a olhou com atenção tentando ver mais por trás do véu. Como Anne não o levantou, seu olhar deslizou por sua silhueta, examinando-a do mesmo modo como fizera com a égua. — Imaginava que as damas inglesas usavam luvas para manter suas mãos suaves. Anne agradeceu o véu, porque a ajudou a ocultar a repentina expressão de surpresa em seus olhos. Sem poder evitá-lo, dobrou seus gelados dedos formando punhos. — Esqueci essa manhã. Retraiu-se, consciente de que cometera um erro, nenhuma dama viajava sem luvas. Quando me avisaram de sua chegada, fiquei nervosa e não reparei que não as usava. Um sorriso atravessou o rosto do escocês. — Não diga isso ao meu irmão, seu ego não precisa de nenhuma adulação, lhe piscou um olho e sua divertida expressão a deixou pasmada. Não imaginava que os escoceses pudessem mostrar-se tão abertos. 52
  • 53. — Bem, será melhor que se ocupe em satisfazer suas necessidades antes que voltemos a montar, o escocês assinalou uma grande saliência entre as rochas e o rosto de Anne ficou de uma viva cor vermelha. — Sim obrigada, disse com voz fraca ao mesmo tempo em que o rubor se acentuava. Quando se dirigiu às rochas, sentiu-se como se todos os olhos estivessem cravados nela. Retornar lhe custou uma grande quantidade de disciplina e ordenou a si mesma agir com sensatez. O corpo tinha necessidades, não era um motivo para ruborizar-se. Agora mais homens a olhavam, observando a maneira como se aproximava da água. O conde montava de novo seu corcel e esquadrinhava o horizonte de sua privilegiada altura com o rosto convertido em pedra. Não parecia rufião e nem ocioso, uma sólida determinação emanava dele enquanto percorria com o olhar a zona que os rodeava antes de posar seus olhos nela. Anne sentiu que o calor voltava a lhe subir pela face e que uma comichão atravessava sua pele, mordeu o lábio inferior e tirou a boina lhe devolvendo o olhar sem poder romper a conexão. Ele franziu o cenho antes de girar a cabeça, gesto que feriu o orgulho de Anne e que a enfureceu ao sentir de novo um ardente calor no rosto, como podia ruborizar por ele? E por que não o agradava? Sua própria ira a deixou assombrada, paralisando sua mente enquanto tentava descobrir por que se importava com o que aquele homem pensasse dela. Era melhor que não a achasse atraente, pois certamente isso a ajudaria a evitar sua cama. Mesmo assim ela não pôde negar a onda de decepção que a atravessou, fora tão real como aqueles homens vestidos com saias que estavam junto dela. Bastante inesperada, mas verdade. — Os dois terão que esperar zombou o irmão do conde ao aproximar-se com a égua, provocando gargalhadas entre os homens, Cullen dedicou um sorriso a Anne e lhe ofereceu uma mão para ajudá-la a montar. A jovem, irritada, estendeu um braço para 53
  • 54. o pomo da sela, apoiou um pé sobre o estribo e ergueu seu corpo no ar sem ajuda. Podia arrumar-se muito bem sozinha. — Oh! Nunca conheci uma dama inglesa que pudesse fazer isso. Provavelmente meu irmão fez uma escolha melhor do que imagina, Anne abaixou o olhar e se sentiu tentada a retirar o véu para que aquele homem pudesse ver o olhar carrancudo que lhe dirigia. Foi outro impulso, um que pareceu muito difícil de resistir, no entanto ao descobrir o escocês sorrindo de orelha a orelha e com aqueles olhos azuis como o céu, cintilando com alegria, sua raiva desapareceu imediatamente, já que ele a fez se lembrar muito de Bonnie. — Sabe muito sobre mulheres inglesas, não é? Os lábios do escocês deixaram de sorrir, adotando uma expressão pensativa. — Estive na corte de sua rainha com meu irmão, sendo assim sim, conheço-as. Seus olhos resplandeceram com algo que parecia desconfiança, embora reconheça que você não é exatamente o que esperava, quando meu irmão me disse que viríamos buscá-la. Olhou-a com olhar crítico, um gesto que fez a jovem se perguntar o que era, na opinião dele, o que lhe faltava. — Como não nos conhecemos, replicou Anne, recuso-me a formar uma opinião sobre você ou seu irmão até que passe um pouco de tempo. Uma das sobrancelhas do escocês se arqueou. Uma suave zombaria surgiu em seus lábios e seus olhos voltaram a brilhar com diversão. — Oh, Deus, eis aí um tom que me lembro muito bem. As mulheres inglesas são tão frias como as Valkirias, poderosas guerreiras nórdicas, gélidas como a neve quando pretendem pôr a um homem em seu lugar. 54
  • 55. O primeiro impulso de Anne ao escutar aquilo foi desculpar-se, mas as palavras de Philipa fizeram que se reprimisse. Familiarizar-se com um daqueles homens não seria prudente, tendo em conta a precária posição de sua família. Mesmo assim, não era sua natureza ser grosseira e lamentava suas palavras. — Meu nome é Cullen. O escocês lhe entregou um pano dobrado, aqui têm algo para comer, a viagem até o castelo do Sterling dura dois dias a cavalo, assim precisará ser forte. — Obrigada, disse em voz baixa enquanto segurava o que ele lhe oferecia. Cullen pendurou no pomo de sua sela a alça de um odre com vinho, as faces de Anne coloriram-se dessa vez envergonhada por ser tão direta em seu comentário. Não deveria permitir que Philipa a transformasse numa pessoa ressentida, mas guardou para si suas palavras, selando assim os lábios, por temor do que pudesse acontecer com sua família. Teria que interpretar esse papel, até seu pai descobrir a situação em que se encontrava. Cullen assentiu. — Bem-vinda à família. Sua voz estava áspera, embora com certeza, Anne merecesse por ser tão altiva. Uma pontada de arrependimento fez seu estômago contrair, enquanto o escocês se dirigia ao seu próprio cavalo. Entretanto, não podia agir de outra maneira, não podia ser ela mesma, sabia que a amabilidade era a melhor maneira de enfrentar novas situações, contudo, mesmo assim, devia mostrar-se grosseira, encontrava-se numa encruzilhada que se tornava mais escura, a cada palavra que pronunciava. O ódio de Philipa a tinha colocado numa situação impossível e ser correta não a ajudaria na sua atual situação. Todos os raciocínios e justificativas apoiados no fato dela ser a vítima não conseguiam aplacar a culpa que a estava devorando. Era uma impostora e não acreditava que 55
  • 56. erguer preces aos Santos a ajudasse em algo, pois no fim, a maioria dos Santos tinha aceitado seu martírio, para não agir de um modo não cristão. Apesar de saber isso, não descerrou os lábios, manteve-os totalmente fechados resolvidos a interpretar o papel de esposa que lhe fora atribuído, enquanto o conde os fazia avançar. Capítulo 4 Uma esposa falsa. O conde não parou a marcha até o sol quase se pôr. Só uma mancha rosa coloria o horizonte quando levantou a mão para que o grupo se detivesse, parecia que seus homens sabiam exatamente o que aquele gesto significava, porque em seguida desmontaram e começaram a organizar o acampamento. O lugar escolhido estava resguardado por árvores, os ramos tinham poucas folhas, mas um grupo de grandes rochas fazia o lugar ser perfeito para passarem despercebidos. Uma rocha estava manchada com escura fuligem negra e dois dos guerreiros se dispuseram a preparar ali uma pequena fogueira, enquanto outros dois reuniam os cavalos. Tiraram as selas das montarias, mas se certificaram de que todas as bridas estivessem bem presas, depois prenderam os cavalos entre si, deixando alguns metros de distância entre eles 56
  • 57. para evitar que vagassem sozinhos durante a noite. Um guerreiro subiu no penhasco, apoiou as costas sobre vários ramos, então deixou que a espada desembainhada descansasse sobre uma das coxas. O resto dos homens falava em voz baixa, mas Anne pôde escutar a alegria em seu tom, e igualmente o marcante acento escocês. A solidão a dominou como se fosse um laço de aço que se fechava mais e mais a cada detalhe estrangeiro que percebia. Com um suspiro, virou-se e se dirigiu ao rio. Ouvia o murmúrio da água fluindo rápido, mas o córrego não estava à vista. Teve que subir uma encosta para, por fim, poder ver a água mais abaixo. Com atenção para não cair, conseguiu finalmente descer até a margem. O odre não estivera cheio de vinho doce, mas sim de água. Mesmo assim, foi grata, pois seus lábios ressecavam com o ar invernal. Apoiou um pé numa rocha e teve a precaução de subir saias sobre as coxas antes de inclinar-se para tornar a encher o odre. A brisa noturna acariciou a pele nua acima das meias de lã, fazendo-a arrepiar-se. Assim que encheu o odre, ergueu-se colocando os pés com firmeza sobre a borda e fechou o odre antes de virar-se e erguer o olhar. Ao encontrar-se frente a frente com o Conde soltou um grito abafado, apenas os separava meio metro de distância e o corpo dele, parecia ainda maior do que pela manhã. Anne deu um salto para trás tentando afastar-se dele sem pensar no tanto que estava perto do rio, de forma que suas botas afundaram no chão úmido e o odre caiu na lama. Agindo com rapidez, o escocês a segurou pelo braço para afastá-la do rio. A jovem lhe golpeou o peito de forma instintiva e arregalou os olhos ao sentir que ele deslizava o braço por suas costas para segurá-la melhor. 57
  • 58. — Está realmente decidida a fugir no meio da noite? Não havia dúvida da ira que impregnava a voz do Conde, olhava-a com o cenho franzido e a desconfiança gravada no rosto. — Só desejava encher o odre, defendeu-se. O escocês soltou um som rouco. — E desempenhou essa tarefa sem dizer a ninguém aonde se dirigia, Saindo na escuridão o mais silenciosamente possível. — Fiz sem pensar. Mas não deveria fazê-lo, outro erro seu. Mary teria enviado alguém para encher o odre, sem se importar que tivessem que ocupar-se dos cavalos. — Ficarei grato se ficar com meus guerreiros, para não precisarmos resgatá-la dos homens de qualquer outro clã que a encontre sem escolta, se não se importa com o que possam lhe fazer, preocupe-se ao menos pelo sangue que será derramado quando tivermos que a libertar lutando. — Eu não quero que ninguém lute por mim, afirmou Anne, horrorizada. O rosto do escocês era tão severo como o de um carrasco. — Se assegure para que assim seja. Não deixarei que ninguém roube o que é meu, Milady, se fugir, a encontrarei suas palavras eram tão duras e implacáveis como o braço que a retinha junto a ele. — Não estava fugindo assegurou-lhe a jovem. O conde voltou a soltar um bufo, duvidando claramente dela, Anne fechou os lábios com força, consciente de que começava a perder a paciência e que protestar não lhe facilitaria as coisas. Só lhe restava era consolar-se, pensando que Mary sem dúvida o teria insultado. 58