2. Biografia
Nascimento: 15/10/1890,
Tavira
Educação: Liceu em
Portugal, cursou Engenharia
Naval em Glasgow, Escócia.
Aspeto físico: Alto, magro e
“com tendência a curvar-se”;
cara rapada, “entre branco e
moreno, tipo vagamente de
judeu português” tinha o
cabelo preto liso e usava
monóculo.
Viajou pelo Oriente, vivendo
depois uns anos entre Londres
e Lisboa. Fixou-se
definitivamente na capital
portuguesa em 1926, entrando
num “pessimismo
3. Álvaro de Campos em Fernando Pessoa
Pessoa afirmava que entrava na personalidade de
Álvaro de Campos quando sentia "um súbito impulso
para escrever" e não sabia o quê, exprimindo
através do seu heterónimo "toda a emoção" que não
era capaz de dar nem a si nem à vida.
4. Fases da escrita de Álvaro de Campos
1ª fase – Fase Decadentista
Predominavam os sentimentos de tédio, cansaço e
necessidade de novas sensações;
Expressão da falta de um sentido para a vida e
desejo de fuga à monotonia;
“O filho indisciplinado das sensações” – imita o
Mestre (Alberto Caeiro) no fluir das sensações, mas
fá-lo com mais imaginação.
Produções: Opiário.
5. “E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter
estas sensações confusas.” sentimento
de tédio e necessidade de novas sensações
“E ver passar a Vida faz-me tédio.” tédio
6. 2ª fase – Fase Futurista
Exaltação da força e da violência – “euforia desmedida”;
Desejo de “sentir tudo de todas as maneiras”
(Sensacionismo), saindo assim da sua fase
decadentista;
Valorização da máquina, da velocidade e da força ao
invés da beleza;
Influência do modernismo;
Transgressão da moral estabelecida;
Predomínio da emoção espontânea – recurso a
interjeições e onomatopeias;
Sadismo/ masoquismo.
Produções: Ode Triunfal, Ode Marítima, Saudação a
Whitman.
7. “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!” ;“Ser
completo como uma máquina.” elogio à
civilização industrial
“Rasgar-me todo, abrir-me completamente”
masoquismo
8. 3ª fase – Fase Intimista/Pessimista
Dor de pensar;
Nostalgia da infância;
Solidão;
Desejo de distanciamento dos outros;
Fragmentação e dissolução do “eu”;
Cansaço, tédio, angústia e melancolia;
Conflito entre a realidade e o poeta;
Desejo de morte;
Produções: Lisbon Revisited; Esta velha angústia;
Aniversário; O que há em mim é sobretudo cansaço.
9. “Raiva de não ter trazido o passado roubado na
algibeira!” ; “Pobre velha casa da minha infância
perdida!” nostalgia da infância
“Esta angústia que trago há séculos em
mim, /Transbordou da vasilha” angústia
“A única conclusão é morrer.” desejo de
morte
“Vão para o diabo sem mim, /Ou deixem-me ir
sozinho para o diabo!/Para que havemos de ir
juntos?”; “Quero ser sozinho”
desejo de distanciamento
10. Traços Estilísticos
Verso livre e longo;
Estilo torrencial e esfuziante, provocando um ritmo
desordenado;
Onomatopeias e aliterações;
Mistura de tipos de linguagem;
Enumerações, repetições, anáforas, exclamações,
interjeições;
Neologismos;
Metáforas, personificações, hipérboles.
11. Análise do poema Lisbon Revisited
NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me
enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das
ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da
técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e
tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário
de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a
todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço.
Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da
companhia!
12. Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me
sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar
sozinho!
13. Revolta, loucura (“Fora disso sou doido, com todo o
direito a sê-lo.”);
Nostalgia (“Ó céu azul — o mesmo da minha infância”);
Solidão e desejo de distanciamento (“Ah, que maçada
quererem que eu seja da companhia!”);
Mágoa (“Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de
hoje!”);
Certeza e desejo da morte (“A única conclusão é
morrer.”);
Procura de ilibação da culpa que sente (“Que mal
fiz eu aos deuses todos?”);
Não reconhecimento da sua cidade e ausência de
sentimento por ela (“Nada me dais, nada me tirais,
nada sois que eu me sinta.”)
14. “NÃO: Não quero nada. /Já disse que não
quero nada. ” repetição
“Não me tragam estéticas! /Não me falem em
moral.”; “Queriam-me casado, … /Queriam-me
o contrário disto, …?” paralelismo
“Ó céu azul…”; “Ó macio Tejo…”; “Ó mágoa
revisitada…” apóstrofe
“Queriam-me casado, fútil, quotidiano e
tributável?”
enumeração
15. “A única conclusão é morrer.” hipérbole
“Ó macio Tejo ancestral e mudo,”
metáfora
“E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio (=morte)
quero estar sozinho!” eufemismo