Neste estudo são analisadas as
concepções de subjetividade de três autores que
se inserem no campo da psicologia sóciohistórica:
Fernando Gonzalez Rey, Odair Furtado
e Maria da Graça Marchina Gonçalves. A
pesquisa realizada, de natureza teórica, teve por
objetivo identificar semelhanças e diferenças que
estão na base do conceito de subjetividade
destes diferentes autores, ainda que se situem
em uma mesma corrente teórica, como forma de
demonstrar a necessidade de avanço na
conceituação desta categoria. Adotou-se como
procedimento o modelo de Thomas Kuhn para a
análise de paradigmas da ciência. Para tanto,
foram selecionados textos dos três autores, em
que se observava uma preocupação com a
definição do conceito de subjetividade e fez-se
uma leitura aprofundada, buscando em suas
concepções os quatro principais aspectos que
caracterizam um paradigma: generalizações
simbólicas, paradigma metafísico, exemplares e
valores. Como resultado, constatou-se o
compartilhamento de idéias na maioria dos
aspectos analisados, revelando que o avanço na
postulação da categoria subjetividade dentro da
perspectiva da psicologia histórico-cultural ou
sócio-histórica parece promissor, o que confere a
esta abordagem teórica lastro para a sustentação
das investigações sobre a subjetividade,
oferecendo possibilidades de explicação dos
fenômenos observados. Contudo, também
aparecem divergências entre os autores, o que
pode estar relacionado ao enfoque que cada um
tem dado às pesquisas que vem realizando.
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O conceito de subjetividade nas teorias sócio-históricas
1. O CONCEITO DE SUBJETIVIDADE NAS TEORIAS
SÓCIO-HISTÓRICAS
Filipe Uveda Martins
Faculdade de Psicologia
Centro de Ciências da Vida
filipeuveda@gmail.com
Vera Lucia Trevisan de Souza
Processos de constituição do sujeito em práticas
educativas
Centro de Ciências da Vida
vera.trevisan@uol.com.br
Resumo: Neste estudo são analisadas as
concepções de subjetividade de três autores que
se inserem no campo da psicologia sócio-
histórica: Fernando Gonzalez Rey, Odair Furtado
e Maria da Graça Marchina Gonçalves. A
pesquisa realizada, de natureza teórica, teve por
objetivo identificar semelhanças e diferenças que
estão na base do conceito de subjetividade
destes diferentes autores, ainda que se situem
em uma mesma corrente teórica, como forma de
demonstrar a necessidade de avanço na
conceituação desta categoria. Adotou-se como
procedimento o modelo de Thomas Kuhn para a
análise de paradigmas da ciência. Para tanto,
foram selecionados textos dos três autores, em
que se observava uma preocupação com a
definição do conceito de subjetividade e fez-se
uma leitura aprofundada, buscando em suas
concepções os quatro principais aspectos que
caracterizam um paradigma: generalizações
simbólicas, paradigma metafísico, exemplares e
valores. Como resultado, constatou-se o
compartilhamento de idéias na maioria dos
aspectos analisados, revelando que o avanço na
postulação da categoria subjetividade dentro da
perspectiva da psicologia histórico-cultural ou
sócio-histórica parece promissor, o que confere a
esta abordagem teórica lastro para a sustentação
das investigações sobre a subjetividade,
oferecendo possibilidades de explicação dos
fenômenos observados. Contudo, também
aparecem divergências entre os autores, o que
pode estar relacionado ao enfoque que cada um
tem dado às pesquisas que vem realizando.
Palavras-chave: subjetividade, desenvolvimento,
teorias sócio-históricas.
Área do Conhecimento: Grande Área do
Conhecimento: Ciências Humanas – Sub-Área do
Conhecimento: Psicologia
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho apresenta os resultados de
uma pesquisa sobre o conceito de subjetividade
nas teorias sócio-históricas
1
, focalizando as
concepções de três autores que desenvolvem
pesquisas sobre o tema e se preocupam com sua
definição. De natureza teórica, a pesquisa
focaliza as idéias que estão na base dos
conceitos desses autores, com ênfase em seu
compartilhamento, utilizando-se, como caminho
metodológico o modelo de análise de paradigma
de Thomas Kuhn. Parte da idéia de subjetividade
desenvolvida pela psicologia sócio-histórica como
aporte teórico à pesquisa.
O cenário histórico do surgimento da psicologia
sócio-histórica é a chamada crise da psicologia.
Tal crise se deu diante do embate entre duas
tendências dentro da psicologia: a objetivista
(empirista e naturalista) e a subjetivista
(mentalista e idealista). As duas tendências,
entretanto, não deram conta do objeto de estudo
da psicologia como um todo, o que é
conseqüência, principalmente, do método que
utilizam, que reduz o fenômeno estudado
restritamente ao aspecto objetivo ou subjetivo
[19].
Entende-se aqui, que o método não só envolve o
aspecto instrumental, mas também a concepção
1
O termo sócio-histórico refere-se a uma
expressão adotada no Brasil para referir a um
conjunto de conceitos desenvolvidos pelo
psicólogo Russo Lev Semminovich Vigotski que
sustentam o que ele denominou de Psicologia
histórico-cultural. A opção por utilizar aqui a
expressão sócio-histórica se dá em razão de dois
dos autores analisados adotarem esta
terminologia e por ser a expressão mais
conhecida no Brasil, embora o psicólogo
Fernando Gonzalez Rey faça uso do termo
Psicologia histórico-cultural.
2. de mundo, de homem e de conhecimento. Além
disso, a questão metodológica não se dissocia
das questões ontológicas e epistemológicas.
Nestes aspectos, o método das vertentes
objetivistas e subjetivistas, influenciado por
correntes filosóficas como o racionalismo e o
empirismo, compreendem a relação sujeito-
objeto de forma dicotômica [9].
A partir disso, Vigotski
2
, fundador da psicologia
sócio-histórica, defendia a necessidade de uma
psicologia geral e uma metodologia
compartilhada, para que possa “avaliar as
descobertas encontradas nos diferentes
domínios de pesquisa, analisar se elas poderiam
ser conciliadas e projetar uma estrutura teórica
consistente” (Veer & Valsiner, 1996, p. 159).
Vigotski era a favor de uma psicologia geral, que
abrangesse seu objeto de estudo como um todo,
já que os resultados de pesquisas das diferentes
escolas de sua época pareciam ter pouco em
comum. “Em resumo, para Vigotski, a psicologia
parecia ser uma mistura confusa de descobertas
de pesquisas não relacionadas ou contraditórias
sem nenhuma idéia unificadora” (Veer & Valsiner,
1996, p. 159).
A psicologia sócio-histórica, postulada por
Vigotski, Luria e Leonchiev, surge como uma
proposta de superação de tal crise na psicologia.
Entendendo a crise na psicologia como sendo
uma crise metodológica. Vigotski, então, propõe
um novo método na psicologia: o materialismo
histórico dialético [9].
A dialética foi proposta primeiramente por Hegel
e tem como fundamento o princípio da
contradição - o ser é e não é, ao mesmo tempo -,
e não o de identidade - o ser é -. Hegel trabalhou
com esse conceito dentro do plano ideal. Mas
Marx, devido a sua base epistemológica, retomou
a dialética, considerando-a a partir da realidade
material. Assim, assumindo os princípios do
método materialista histórico dialético, Vigotski
supera a dicotomia sujeito-objeto, presente nas
outras vertentes da psicologia até então [9].
2
A diferença entre o alfabeto cirílico, utilizado na
Rússia, e o ocidental, impede uma transcrição
precisa entre idiomas, o que pode se constituir
como explicação para as diferentes formas de se
grafar o nome do autor. Adotamos, neste
trabalho, a grafia Vigotski, por corresponder à
maioria dos textos acessados. Contudo,
manteremos a grafia utilizada pelos autores
estudados, quando houver referência em seus
textos.
2. MÉTODO
Esta pesquisa é de natureza teórica e
bibliográfica, na medida em que toma como fonte
de dados textos e artigos produzidos por teóricos
que investigam o tema da subjetividade, em meio
impresso ou digital, em forma de artigos
científicos, livros ou capítulos de livros. Assim,
esses textos se constituem como fontes de dados
utilizadas nesta pesquisa, visto apresentar em
categorias teóricas já trabalhadas.
Seu caráter é descritivo, visto tratar-se de análise
de trabalhos já realizados, visando comparar os
dados e checar as informações.
Os autores escolhidos para a análise proposta
são: Fernando Luis González Rey, psicólogo
cubano, doutor em Psicologia pelo Instituto de
Psicologia Geral e Pedagógica de Moscou (1979),
pós-doutor em psicologia pelo Instituto de
Psicologia da Academia de Ciências de Moscou
(1987), cujo foco de atenção teórica é o
desenvolvimento do tema da subjetividade numa
perspectiva histórico-cultural e os problemas
epistemológicos e metodológicos que derivam do
estudo da subjetividade; Odair Furtado, doutor em
Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (1998) - tem
experiência na área de Psicologia Social
(Psicologia sócio-histórica), com ênfase em
Processos Grupais, Compromisso Social,
Universo Simbólico, Produção de Sentido e
Análise do Discurso, atuando principalmente nos
temas das Relações de Trabalho e subjetividade,
emprego/desemprego, formação/qualificação; e,
Maria da Graça Marchina Gonçalves, doutora em
Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (2003), tem
experiência na área de Psicologia, com ênfase
em Psicologia Sócio-Histórica, atuando
principalmente nos temas psicologia sócio-
histórica, meios de comunicação, adolescência,
história da psicologia, método e materialismo
histórico e dialético, desigualdade social, e
psicologia e políticas públicas. A escolha de tais
autores se justifica por se tratar de pesquisadores
que estudam a subjetividade dentro da
abordagem da Psicologia sócio-histórica, com
vasta publicação na área.
2.1 PROCEDIMENTOS
Visto a complexidade e a natureza do tema
estudado, o conceito de subjetividade é
analisado a partir do modelo de análise de
paradigma proposto por Kuhn.
Thomas Kuhn, filósofo da ciência, defende uma
perspectiva de ciência diferente da concepção
que é tomada na maioria das ciências, inclusive a
psicologia. Kuhn defende que a ciência não se
3. desenvolve de maneira indutiva e cumulativa,
mas sim a partir de revoluções do paradigma que
a guia. A comunidade científica se constitui
através da aceitação de teorias que Kuhn chama
de paradigma. O conceito de paradigma em
Kuhn refere-se não apenas a teoria seguida, mas
a um conjunto de fatores que são compartilhados
por uma comunidade científica, como leis,
valores, teorias, exemplares, modelos lógicos,
etc [2, 17, 18].
As mudanças de paradigma (revoluções
paradigmáticas) ocorrem com a emergência de
uma crise no paradigma vigente, decorrente de
sua incapacidade de resolução de um
determinado problema (anomalia). Dessa forma,
um novo paradigma, capaz de dar conta dos
novos problemas e de uma parte dos antigos é
aderido por uma parte significativa da
comunidade científica [2, 17].
Kuhn [17] indica quatro principais aspectos que
caracterizam um paradigma, os quais utilizamos
para a análise deste trabalho: generalizações
simbólicas, paradigma metafísico, valores e os
exemplares.
As generalizações simbólicas são os
“componentes formais ou facilmente
formalizáveis” (Kuhn, 2000, p. 229). São
expressões, premissas, máximas, em que os
autores se apóiam, e ainda “[...] as
generalizações simbólicas funcionam em parte
como leis e em parte como definições de alguns
símbolos que elas empregam” (Kuhn, 2000, p.
230).
O paradigma metafísico, ou parte metafísica do
paradigma, refere-se ao modelo geral, à visão
heurística, ao fundamento ontológico utilizado.
Não obstante, “fornece ao grupo as analogias ou
metáforas preferidas ou permissíveis” (Kuhn,
2000, p. 231).
Os valores referem-se a questões como quão
acurada deve ser a pesquisa, preferência pelo
aspecto quantitativo ou qualitativo do fenômeno,
se a ciência deve ou não ter uma utilidade social,
etc. De maneira geral, os valores são
compartilhados por diferentes comunidades
científicas mais usualmente do que as
generalizações simbólicas [17].
Embora os valores sejam, de forma geral,
amplamente compartilhados por cientistas, até
mesmo de diferentes comunidades, a aplicação
desses valores se dá de forma diferente, até
mesmo entre cientistas de uma mesma
comunidade. Isso ocorre devido a diferentes
julgamentos dados quanto à coerência interna,
plausibilidade, simplicidade, etc, que variam de
indivíduo para indivíduo e estão relacionados com
a personalidade e a biografia de cada sujeito [17].
Os exemplares, finalmente, são a principal força
do paradigma, já que são fundamentais no ensino
científico e, conseqüentemente, na maneira de se
ver os problemas e como solucioná-los [2]. São
as “soluções concretas de problemas que os
estudantes encontram desde o início de sua
educação científica [...]” (Kuhn, 2000, p. 234).
Assim, dentro do escopo deste trabalho, esses
aspectos propostos pelo autor se revelaram
pertinentes à análise desenvolvida.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Generalizações simbólicas
Observou-se que há algumas premissas máximas
na base do conceito de subjetividade proposto
pelos três autores, que permitem identificar o
compartilhamento das mesmas idéias no que
concerne às generalizações simbólicas: a
interpenetração entre objetividade e
subjetividade, o movimento dialético e
permanente de sua constituição, e a contradição
como característica deste movimento. Essas
premissas podem assumir, neste caso, o status
de lei, por constituírem-se como fundamento do
conceito, a partir do qual deve-se erigir suas
explicações e interpretações. Contudo, o fato de
existir premissas básicas não quer dizer que os
autores não apresentem diferentes enfoques do
conceito, ora relacionando-o à complexidade, ora
destacando a contradição ou à postulação de
outras categorias explicativas como os sentidos
subjetivos.
Paradigma metafísico
O fundamento ontológico que se encontra nas
teorias sócio-históricas é a idéia de historicidade.
Pode-se inferir a princípio que tal aspecto seja
compartilhado pelos autores aqui analisados, e
este fato constitui-se, talvez, como a principal
diferença desta linha de pensamento em relação
às demais.
O que se pode observar em relação a este
aspecto do paradigma é que a posição do sujeito
é ativa e recursiva, e essa dimensão é
fundamental à constituição da subjetividade de
uma perspectiva histórica, dialética e
contraditória, assumindo-se a dimensão complexa
do conceito. Esse seria o modelo geral de sujeito
dentro desta abordagem teórica: um sujeito ativo,
que produz sua história ao mesmo tempo em que
a história o produz, sempre na tensão e
contradição com a cultura que incorpora, a um só
tempo, a história individual do sujeito e a história
social da cultura.
4. Valores
As teorias sócio-históricas são marcadas por um
compromisso ético e de transformação nas
relações de poder [4], que tem sua origem no seu
nascimento, quando seu principal teórico, Lev
Semminovich Vigotski se propôs a construir uma
nova psicologia que, além dos desafios de
superar as dicotomias que via em seus conceitos
de então e no seu método de estudo, deveria
também oferecer subsídios à transformação da
sociedade soviética do início do século XX.
Neste sentido, não se observa uma
despolitização nos textos estudados, ainda que
nos textos de Furtado e Gonçalves tais aspectos
não estejam explicitados. Nos textos de
González Rey [10, 12, 14], além do compromisso
ético é ainda possível ver outra preocupação
explícita: um compromisso teórico-
epistemológico. Tal compromisso se reflete no
caráter dialógico da teoria com a realidade e com
as novas produções, que confere visibilidade a
novas zonas de inteligibilidade. Em suma, tal
caráter dialógico vai em direção oposta à
dogmatização [12]. Há, também, a opção clara
pela metodologia a ser adotada na pesquisa, de
natureza qualitativa, e a proposição de novas
formas e procedimentos para acessar os dados
da pesquisa, cujo autor chama de “construção da
informação”. Neste rumo, Gonzalez Rey
desenvolve a proposta de epistemologia
qualitativa, que entende como adequada ao
desenvolvimento de pesquisas dentro deste
arcabouço teórico.
A epistemologia qualitativa caracteriza-se como
uma alternativa metodológica à epistemologia
positivista, que valoriza como científico apenas o
momento empírico enquanto fonte de informação
para a pesquisa. Assim, podemos destacar três
fundamentos principais que caracterizam a
epistemologia qualitativa: o conhecimento
enquanto produção construtivo-interpretativa; o
caráter interativo do processo de produção do
conhecimento; e a singularidade como nível de
produção de conhecimento [11, 14].
Dessa forma, a epistemologia qualitativa
compreende o conhecimento enquanto produção,
e não uma apropriação direta da realidade. A
partir disso, González Rey [11] defende que o
processo de construção teórica nas ciências
humanas e particularmente na psicologia tem que
ser desenvolvido levando em consideração a
subjetividade do sujeito inserido no seu contexto
social no qual sua experiência acontece [11, 14].
Exemplares
Os exemplares são definidos por Kuhn (2000, p.
234) como “soluções concretas de problemas
que os estudantes encontram desde o início de
sua educação científica [...]”. Assim, os
exemplares das teorias sócio-históricas podem
ser encontrados no seu principal autor: Vigotski.
Um exemplar que elegemos para apresentar no
escopo deste estudo é o conceito de mediação.
Segundo o autor, a constituição do sujeito é
mediada pela cultura em um processo
permanente e contínuo que promove o
desenvolvimento das funções psicológicas de
elementares a superiores. Ou seja, é o processo
pelo qual o indivíduo se humaniza pela
apropriação da produção da cultura. Entende-se
esse conceito como exemplar por ser explicativo
de todos os processos definidos pela teoria como
sendo constitutivos do sujeito.
Essa idéia de mediação fica clara em todas os
autores analisados e nos demais aspectos do
paradigma, o que evidencia que esses aspectos
propostos por Kuhn não podem ser separados
em si, mas complementam-se nas formas de
postular conceitos na ciência. Assim, à idéia de
subjetividade como produzida no e pelo social,
com ênfase na dimensão histórica, dialética e
contraditória, está subjacente o conceito de
mediação, sobretudo se tomamos o aspecto
ontológico do paradigma, em que a posição do
sujeito é ativa e recursiva.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo do desenvolvimento deste trabalho,
constatou-se o compartilhamento de idéias na
maioria dos aspectos analisados, revelando que o
avanço na postulação da categoria subjetividade
dentro da perspectiva da psicologia histórico-
cultural ou sócio-histórica parece promissor, o
que confere a esta abordagem teórica lastro para
a sustentação das investigações sobre a
subjetividade, oferecendo possibilidades de
explicação dos fenômenos observados. Contudo,
também aparecem divergências entre os autores,
relativas, principalmente, às abordagens do
fenômeno da subjetividade, o que pode estar
relacionado ao enfoque que cada um tem dado às
pesquisas que vem realizando.
As divergências que se poderiam inferir podem
ser, entretanto, não divergências, mas sim
apenas reflexos das diferentes atuações dos
autores estudados, o que não produz
incongruência teórica. Kuhn fala de tais
diferenças como sendo devida a traços de
personalidade, experiência profissional,
convicções filosóficas, enfim, características
psicológicas que, segundo Kuhn, são decisivas
na escolha de uma teoria e na produção
científica de um sujeito.
Tal perspectiva defendida por Kuhn remete ao
5. caráter histórico das produções humanas, que
não se pode deixar de levar em consideração,
visto constituir-se como fundamento das teorias
sócio-históricas.
Aprofundar as pesquisas sobre a subjetividade
entendida como objeto de estudo da Psicologia,
se faz necessário em nosso tempo, como forma
de superar o objetivismo ainda presente em
algumas áreas, o qual tem se revelado como
insuficiente para explicar os fenômenos
psicológicos na relação com a cultura. Segundo o
que observamos nesta pesquisa, é necessário
que haja uma perspectiva dialógica entre os
autores que estudam o tema, como sugere
González Rey [12], para que as pesquisas nesta
área não corram o risco de cair no que Kuhn
chama de Incomensurabilidade, que equivaleria à
impossibilidade de diálogo e comparações entre
diferentes autores, levando ao relativismo puro
ou ao dogmatismo, caminhos que não
contribuem para o desenvolvimento da ciência.
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