O documento apresenta um relatório final de uma pesquisa realizada por uma estudante sobre a abordagem jornalística da violência pela televisão e revistas. O relatório descreve os materiais e métodos utilizados, como análise de narrativa jornalística e leitura de publicações, e apresenta os resultados obtidos no estudo de reportagens sobre violência urbana em Paris veiculadas pelo Jornal Nacional e pelas revistas IstoÉ e Veja.
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO
ESPÍRITO SANTO
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica
PIBIC/PIVIC 2005-2006
Grande área do Ciências Sociais e Aplicadas
CNPQ
Área do CNPQ Comunicação Social
Título do Projeto Estudos de Jornalismo Brasileiro e Capixaba
Nome do Orientador Prof. Dr. Victor Gentilli
Título do Sub-Projeto Abordagem jornalística sobre a problemática da violência
pelo viés da televisão e das revistas
Estudante voluntário Juliana de Farias Batista
Edital Relatório Final - Julho 2006
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3. 1. Introdução
A imprensa, inventada, muito antes do tipógrafo de Guttenberg (1453), sempre exerceu
fascínio e credibilidade do público pela sua influência de torna as informações mais
acessíveis.
A partir da possibilidade de reprodução por meio do tipógrafo, o jornalismo teve mais
ferramentas para ampliar suas áreas de atuação. Do boca a boca, passou pelos
impressos, pelo cinema, pelo rádio, pela televisão e hoje, também passa pela Internet.
A necessidade de informações é um dos dados fundamentais de toda a vida social. (..)
A curiosidade do público sempre sucitou a vocação de contadores de histórias que, dos
aedos gregos aos troveiros da idade média e aos feiticeiros africanos, cumpriam uma
função de comunicação e com freqüência também de informação.(História da Imprensa,
Albert e Terrou).
E os jornalistas são contadores de história. A análise da narrativa jornalística deve
observar particularmente o “contrato cognitivo” implícito entre jornalistas (narradores) e
audiência (narratário) em seu contexto operacional. Esse contrato segue as máximas
da objetividade, da co – construção da “verdade dos fatos”: o objetivo é co – construir a
“realidade objetiva”. (...) A comunidade jornalistas – audiência reproduz uma convenção
em que emissores e destinatários dão por convencionado que o jornalismo é o lugar
natural da verdade, do texto preciso, sem implicaturas nem pressuposições
(Comunicação Coordenada, 2005)
Desde do final século XV, ao serem publicadas as primeiras Gazetas, tipo de jornal
que circulava as principais notícias da época, com 4 páginas (História da Imprensa)
existia a preocupação em divulgar as situações de interesse público. Contudo, as
gazetas não tinham periodicidade e a preocupação com a continuação e conexão entre
os fatos como acontece atualmente. No entanto, já existia o sensacionalismo e a
política de “se espremer o jornal sai sangue”.
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4. Ao longo dos séculos, houve uma evolução na forma de exercer jornalismo e muitas
inovações tecnológicas foram criadas. Desta forma, vieram a facilitar a comunicação
entre as diversas sociedades, bem como a troca de informações entre estas.
Nesta trajetória, a figura do jornalista, sempre foi importante para registrar e mediar os
interesses do público, junto às organizações de poder. Além de buscar atender a
demanda da sociedade por informações e notícias a respeito dos mais variados
assuntos.
Antes mesmo de a formação acadêmica ser obrigatória, fato que só aconteceu a partir
de 1970, no Brasil. Este profissional esteve à frente de guerras, reuniões de alta cúpula,
piquetes, só para exemplificar a situação.
A partir disso, se pensou em resgatar este jornalismo que atua como serviço público e
também entender o papel social do jornalista.
Para tanto, era necessário escolher um tema que provoca mudanças na organização
social. Assim, o enfoque desta pesquisa foi estudar a abordagem jornalística sobre a
violência pelo viés da televisão e das revistas.
Até porque este tipo de noticiário demonstra muito sensacionalismo, dramatização e
pouca qualidade na informação sobre Violência. Entende - se qualidade como análises
críticas, variedade de informações e fontes, conexão com fatos, objetividade e
imparcialidade para veículo de jornalismo cujo gênero seja informativo.
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5. 2. Materiais e Métodos
A metodologia desta pesquisa teve 3 eixos centrais: a utilização da proposta de
narratologia, defendida pelo professor Luiz Gonzaga, no artigo Comunicação
Coordenada, no III Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo; a leitura de
textos complementares sobre os assuntos: violência, mídia, televisão e revista;
acompanhamento do telejornal Nacional e das revistas Veja e Istoé.
A narratologia é um campo de estudo antropológico e remete à cultura da sociedade e
não apenas às suas expressões ficcionais (Comunicação coordenada) o que justifica o
entendimento da Violência como um fenômeno social. Além do fato, do próprio
jornalismo ser ferramenta de integração da sociedade, a partir do momento que permite
a inclusão de pessoas em um grupo por meio do acesso às informações.
A Internet é um espaço de consulta enriquecedor, sob o ponto de vista da investigação,
o que pode favorecer a pesquisa do jornalista e também fazê-lo perceber o alcance de
uma informação. Por exemplo, ao não ter oportunidade de divulgar suas impressões
sobre atitudes no governo na mídia, o cidadão pode por meio de um blog criar sua
própria mídia.
No caso do estudo sobre a Violência, essa possibilidade é interessante para aqueles
segmentos da sociedade que não têm voz ativa na mídia. Para explicitar melhor esta
peculiaridade, foi escolhida a pauta sobre os rebeldes em Paris, em novembro de 2005.
Situação semelhante aconteceu no Rio de Janeiro, na mesma época, com o atentado
em que algumas pessoas, inclusive um bebê, morreram queimados devido a um
protesto de traficantes.
A Organização Não Governamental, Viva Rio, atua muito divulgando suas campanhas e
projetos contra a violência no Estado, por meio de seu site: www.vivario.org.br. Após
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6. muitos anos de existência, os jornais do Rio passaram a considerar a Ong como fonte
de informação.
Assim, a pauta escolhida que apresenta os eixos necessários da pesquisa foi o
atentado em Paris durante o mês de novembro de 2005. Pela projeção nacional do
assunto, estabeleceu – se que os veículos estudados seriam as revistas Veja e Istoé,
com periodicidade semanal, alcance nacional, vendagens elevadas e credibilidade junto
ao público. Para telejornal selecionou – se o Nacional, por ser o de maior audiência do
país.
3. Resultados
3. 1.1 Istoé
Elementos retirados da matéria:
Título: França, O 68 da Periferia
Olho: Diante da violência dos jovens excluídos, o governo recorre a medidas dos
tempos colonialistas.
3 Fotos: 1 dos carros incendiados, 1 do Ministro do Interior Nicolas Sarkosy e outra
do Primeiro Ministro francês Dominique Villepin.
Foto – Legenda 1: Vandalismo: pelo menos 7.400 carros foram incendiados desde
o começo da crise
Foto – Legenda 2: Quebra de Braço: Sarkozy e Villepin têm estratégias distintas
para acabar com a crise.
Páginas
Reportagem de Luiza Villaméa
A abertura da matéria sobre violência em Paris, o lead, cria o chamado nariz de cera
em que as informações centrais não estão colocadas no início do texto, pois antes
se estabelece um gancho poético ou uma pequena reflexão para começar a contar a
história.
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7. Dessa forma, a repórter optou por fazer uma analogia entre os manifestantes dos
ataques de Novembro de 2005 e daqueles participantes do movimento estudantil de
68.
Assim, foi feita uma breve comparação entre os ideais e os jovens das épocas
distintas.
“Desta Vez, no lugar de intelectuais imberbes clamando por
mudanças nos costumes estão jovens excluídos dos subúrbios, em
geral descendentes de imigrantes de antigas colônias francesas na
África” (Istoé, 16.11.2005).
Um outro dado interessante adicionado foi a explicação sobre uma medida absurdo
adotada pelo governo francês para conter a revolta.
“O governo desencavou na semana passada uma lei de 1955,
promulgada durante a guerra da Argélia, antiga colônia francesa. (...)
Onde 25 regiões foram autorizadas a decretar estado de emergência
e toque de recolher( Istoé, 16.11.2005).
3. 1.2 Veja
Elementos retirados da matéria:
Título: Paris está em chamas,
Olho: Semana Marcada por confrontos em subúrbios da capital francesa põe em
evidência a dificuldade de integrar imigrantes,
2 fotos: ministro do interior Nicolas Sarkosy e policiais franceses em cena com um
carro queimado pelos rebeldes
2 páginas
Reportagem de Antônio Ribeiro, correspondente de Paris
O Lead, abertura da matéria, se preocupa em realçar as atitudes extremistas dos
manifestantes:
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8. “ Na Semana passada, grupos de jovens desempregados, na maioria
de origem árabe ou africana, transformaram os subúrbios de Paris em
Campo de Batalha. Eles depredaram escolas e estabelecimentos
comerciais, atearam fogo a centenas de carros e entraram em
confronto com a polícia e os bombeiros” ( Veja, 9 de novembro de
2005, Página 90)
Com isso deixou para colocar somente a alguns parágrafos depois as causas da
manifestação. Para os leitores mais apressados que se contentam em ler o lead
para entender a matéria, ficam somente com a imagem de destruição causada pelos
“desocupados” desempregados imigrantes e seus descendentes.
A Matéria apresenta o enfoque principal na argumentação que o caos se instaurou
na França por conta da imigração e por isso, a economia lá está “anêmica” (Veja,
9.11. 2005, página 91). Assim justifica que a solução para este caos é impedida pela
ação dos sindicalistas, no fragmento:
“Nesse cenário, as centrais sindicais francesas, na maioria atreladas
aos partidos de extrema esquerda, têm mostrado uma formidável
resistência a reformas que flexibilizam o mercado de trabalho e
fomentem a competitividade”
Medidas estas que prejudicam a qualidade de vida dos profissionais adquirida pelos
socialistas. Bem como, estas são políticas neo – liberais de privatizações, redução
da intervenção estatal e o desemprego para instituir a competitividade no mercado
de trabalho onde se cria a terceirização dos setores da empresa.
Logo, a França, idealizadora da revolução iluminista de 1789, vai de encontro a sua
tríade base de igualdade, fraternidade e liberdade.
Somente no segundo terço da matéria, aproximadamente, que a revista cita os
motivos de tanta revolta no país.
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9. “O vandalismo que amedronta a Periferia de Paris e que ameaça se
alastrar para outros pontos do país, teve início no dia 27 de outubro,
depois da morte de dois jovens africanos eletrocutados numa central
elétrica em que haviam se escondido – aparentemente para escapar
de uma batida policial” . ( Veja, 9.11.2005, Página 91)
A postura negativa e irônica da matéria, utiliza a ferramenta de palavras de dúvida/
incerteza como “ aparentemente”, ao passo que cria uma atmosfera de preconceito.
Confirmada também pelo uso de “jovens africanos” que não se sabe a ao certo a
origem real deles e nem se isto é artifício de mais discriminação para não usar
jovens ou jovens franceses. O que deixa claro a distinção entre o tratamento para
com aqueles que são moradores do subúrbio.
Para Finalizar o assunto, o repórter afirma a existência de uma disputa política e de
interesses na corrida presidencial que determinam a postura dos atuais: ministro do
interior, Nicolas Sarkozy que defende a ação mais dura da polícia na periferia, e do
primeiro - ministro Dominique Villepin, defensor do patriotismo econômico e autor
da frase : “Não existe situação milagrosa para a situação da periferia”. Enquanto,
Sarkozy afirma que os revoltosos são a “escória da sociedade”. O que gerou muita
polêmica.
“Apesar de Villepin e Sarkozy pertencerem a mesmo governo, é regra
um sabotar o outro. Ambos têm os olhos fixos nas eleições
presidenciais da primavera de 2007, nas quais, segundo a pesquisa,
são os favoritos. “ (Veja, 9.11.2005, página 91).
3.2. Televisão
O Discurso na mídia, em especial o do telejornalismo, adota algumas características
como:
“(...) utilizar constantemente algo que poderíamos chamar de
elementos de espetacularização, de dramatização: o rir, por exemplo
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10. no discurso publicitário, o discurso eufórico ou a tragédia no discurso
do noticiário. Fazer rir ou chorar. Em todo caso, expressar-se através
das emoções. Quando refletimos sobre esse discurso, que é um
discurso de massa, logo descobrimos que fala, na realidade tem
essas características: é aquela em que, em geral, dirigi – se as
crianças. Às crianças fala- se com simplicidade, brevemente e de
maneira emocional. De maneira geral, o discurso que recebemos é
infantilizante(Ramonet, Por Uma Outra Comunicação)”.
Assim, as matérias são produzidas com o objetivo de informar o leitor de maneira
clara e simples. Bem como, é feita a utilização das frases na ordem direta: sujeito +
verbo + predicado.
Outra característica importante é casar a imagem e a palavra (Nogueira, 2004). De
modo que o texto seja complemento da informação visual e não a repetição da
mesma.
Todos estes quesitos de padrão de qualidade ilustram a preocupação em tornar a
notícia mais acessível. Afinal, a prioridade do telejornal é informar seu público – alvo
sobre os principais acontecimentos do cotidiano.
Quando se pensa em um noticiário televisivo de alcance nacional e internacional
como é o caso do Jornal Nacional, da Rede Globo, é importante analisar a influência
deste para o modelo de telejornalismo adotado no país.
O JN não oferece apenas informações aos telespectadores, mas certa segurança de
estabilidade. Isto porque algumas emissoras não tem prioridade com o jornalismo
como a Globo tem, assim afirmou Carlos Henrique Schroeder em uma palestra
oferecida em comemoração aos 30 anos da Tv Gazeta.
Sendo assim, os telejornais são tirados do ar ou tem seus horários alterados o que
favorece o telespectador mudar de canal e se programar para assistir ao Jornal
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11. Nacional. Até porque a grade de horários é sempre a mesma, somente tem
alterações em plantões de notícia de emergência, pronunciamentos do governo e
propaganda eleitoral.
Logo existe praticamente um contrato social entre telespectadores e o Jornal
Nacional.
Os atuais 35 minutos de noticiário, no chamado horário nobre, não representam o
ideal para um telejornal de alcance nacional. Haja vista que as matérias acabam
sendo curtas, superficiais e muitas vezes beiram a pobreza de informações.
A Escolha deste horário das 20 horas para a apresentação do JN registra a
importância adquirida pelas novelas como fator de garantia de audiência. Uma pelo
fato deste momento ser aquele em que as famílias se reúnem m frente a televisão
para se informar, mas principalmente esperar a hora da novela.
Outro Fator é explicado por Dionísio Poli ( 15 anos JN, 1984):
“Durante a fase de consolidação da estratégia da já então Rede
Globo, o suporte das novelas era importante para o “jornal”. A
demanda efetiva de notícias, via televisão, era relativamente baixa o
jornal então se beneficiava, grandemente, das duas novelas”.
Jornal Nacional – O Caso Paris
Carros em fogo e depredados, policiais sem ação e jovens excluídos franceses em
protesto pelas medidas segregatórias do governo francês para com os imigrantes e
seus descendentes.
O País que proclamou, em 1789, os ideais de fraternidade, igualdade e fraternidade;
passa por uma crise fortíssima no setor social agravada pelo baixo desempenho de
sua economia ao longo dos últimos anos.
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12. Com isso, uma luta social antes velada, eclode após a morte de dois africanos
eletrocutados que fugiam de uma represália policial no bairro.
Para o mundo inteiro foi uma grande surpresa, pois rapidamente houve reação dos
jovens da periferia parisiense. Estes passaram a queimar carros à noite para
protestar sobre as péssimas condições de vida as quais eles estão submetidos.
O interessante desta situação é que a mídia francesa foi tão negativa aos protestos,
tratando – os como ataque dos rebeldes desocupados que os moradores da
periferia passaram a se recusar a falar com os repórteres franceses.
Assim, o correspondente da rede Globo, em Paris, só conseguiu ser ouvido pelos
moradores quando apresentou sua identificação de jornalista brasileiro.
A matéria foi muito informativa. Mostrou as condições miseráveis em que as
pessoas estão submetidas. São prédios com um ou dois cômodos, sem elevador ou
água. Foi difícil visualizar o interior do prédio porque estava tudo escuro pela
constante falta de energia.
Um dos jovens entrevistados confessou que mesmo na periferia, os imigrantes
sofrem preconceito e até nos mercadinhos da região, os donos não aceitam
contratar o pessoal dali. E entre os imigrantes e seus descendentes, a maior
problemática é a questão do desemprego.
Contudo somente no canal pago Globo News, os telespectadores tiveram acesso a
este tipo de informação. No Jornal Nacional, houve um recorte geral como números
de cidades em protesto, de carros queimados, jovens presos e também algumas
declarações feitas pelo Ministro do interior, Nicolas Sarkosy qeue chamou os
“rebeldes” da periferia de escória.
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13. O Fato do Globo News ser um canal de 24 horas de jornalismo favorece a questão
do tempo das matérias. No entanto, o padrão Globo/ Schroeder é muito forte o que
determina algumas características semelhantes em seus telejornais como a
preocupação com a organização do cenário (jornalistas e imagens de apoio), a
superficialidade nas matérias, pois não existe proposta de discussão da notícia e
sim o relato, imagens chocantes.
A abordagem jornalística sobre a violência é pobre em conteúdo. São apenas
relatos pontuais com doses de dramatização.
Assim, o tema não é tratado como fenômeno social. As fontes de informação são,
principalmente, a polícia ou algum cinegrafista amador que cede as imagens
inéditas de violência urbana.
As Organizações Não Governamentais e cientistas sociais são poucas vezes
inseridos nas matérias, como forma de criar comentários de especialistas.
Uma das situações que estão em processo de melhora é a redução do uso de
palavras preconceituosas e termos errados. Ainda insuficiente, mas apresenta
alguns avanços como a não utilizar mais a palavra “ delinqüentes”.
4. Discussão
A problemática de se discutir a violência no noticiário é a que:
“Jornalista não é policial, e precisa parar de agir como tal para evitar
correr riscos de vida”(Tatagiba, Suzana apud Farias, Juliana).
A apuração de notícias relacionadas a violência é ao mesmo tempo, instigador e
perigoso, principalmente porque este profissional se infiltra na vida das pessoas
como civil na tentativa de descobrir crimes. O Jornalista entra na cena do crime, sem
proteção de um segurança, colete a prova de balas ou qualquer ferramenta de
segurança.
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14. E desta forma, muitos profissionais são assassinados ao procurarem informações
mais aprofundadas. Talvez o que falte para o jornalista investigativo seja um curso
de segurança, auto defesa para garantir o mínimo de proteção no momento de
trabalho.
Por outro lado, o jornalista tem dificuldades em falar sobre violência urbana sem ser
tiro e número de mortos. No Caso Paris, uma crítica muito forte foi feita à postura
do profissional :
“ O problema do jornalista é que , na sua formação profissional , vê a
periferia como um jardim zoológico “ (Secretário Nacional do Partido
Socialista Francês e Ex- diretor Nacional de Direitos Humanos apud
Blog Fabiomalini).
Além disso, esta necessidade de mostrar o chocante como imagem da violência,
cria uma atmosfera de medo e pânico. E a mídia é uma das principais responsáveis
por isso, como afirma:
quot;A mídia é uma das mais contundentes formas de se propagar e
exaltar a violência” (o filósofo Robson Sávio Reis Souza- diretor geral
da Secretaria Adjunta de Direitos Humanos de Minas Gerais apud site
Comciência).
Ao passo que a discussão sobre este assunto é muito maniqueísta, luta entre bem o
mal. Sendo que os movimentos sociais são colocados como o lado mau da história:
Os bandidos e os mocinhos do jornal: No livro Jornalismo Canalha( Arbex jr,2003
cap 6), se discute sobe a satanização dos movimentos sociais, tendo como exemplo
a luta do movimento dos sem terra(MST). No caso estudado, uma das propostas
interessantes é colocar tudo com final feliz em que os atores sociais: sem
terra(bandidos), governo(conciliador, quase um juiz da paz) e os
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15. latifundiários(mocinhos) entram em acordo. Logo, bandidos na cadeia ou mortos
enquanto mocinhos e juiz da paz ficam em segurança.
Falar sobre favela também é uma situação delicada, pois muitas vezes existem
grupos que tentam melhorar as condições de vida dos moradores ou lutar pela
redução da influência do tráfico de drogas e são prejudicados pela ação agressiva
policial. Em seu Livro, Cidade Partida, Zuenir Ventura conta algumas histórias
colhidas durante os dez meses em que morou na Favela do Vidigal, como esta:
“ Um sociólogo Negro morador da Favela de Vigário geral e que viabilizou a estadia de
Ventura , Caio Ferraz liga querendo saber o telefone do secretário de Policia Civil, Nilo
Batista. Eles querem acabar com o nosso trabalho de pacificação, vai ter outra chacina,
dizia desesperado.
A responsabilidade de oferecer um retorno para os anseios da população, muitas vezes, fica
a cargo da mídia, pois não existe confiança nos órgãos de segurança.
[... ]A “Teoria da dissuasão” credita às organizações do sistema de
justiça criminal a maior parcela no controle da criminalidade, fazendo
o crime não compensar para aqueles indivíduos que escolheram
estrategicamente meios ilegais de ação.Isso equivale a definir o
mundo do crime como mercado análogo ao mercado econômico,
onde interagem criminosos e vítimas. O Estado pode intervir neste
mercado através de uma polícia preparada e eficiente, legislação
adequada e montagem de um complexo de prisões para receber os
deliquentes” . (Cláudio C Beato e Betânia Totino Peixoto, Há nada
certo. Políticas sociais e crime em espaços urbanos).
Logo, é fundamental a cobrança por políticas públicas mais fortes na área da educação,
saúde e segurança para dar condições mais plausíveis de sobrevivência para os cidadãos.
Quanto à questão da influência, a televisão é a mídia mais próxima da vida das pessoas. E
desde a década de 50, a informação é recebida por esta. Assim,
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16. “Para definir o que foram as duas primeiras décadas do
telejornalismo, de 50 e 60, há uma frase que é o resumo do que
sobre elas disseram os principais estudiosos dos meios de
comunicação de massa: “A guerra começou a entrar na casa das
pessoas “ (JN – 15 anos, pág 39)”.
E contato mais forte com o noticiário sobre violência também. Logo, o jornalista está
envolvido nesta trama de tragédias, cobranças, assassinatos e insegurança.
Assim, defende – se o melhor preparo para o jornalista atuar na área de violência por
meio de cursos de segurança, controle emocional, de palestras sobre sub- temas
relacionados a violência urbana, especialização e o principal, a reformulação da grade
curricular do curso de Jornalismo para dar mais condições ao futuro jornalista de
exercer com cidadania e mais cuidado a profissão social que escolheu.
5. Bibliografia
ARBEX JR, JOSÉ. Jornalismo Canalha. Ano 2003, São Paulo. Editora: Casa
Amarela
BEATO, CLAÚDIO C. E PEIXOTO, BETÂNIA TOTINO. Há nada certo. Políticas
sociais e crime em espaços urbanos. Prevenção da Violência – O papel das
cidades. Ano 2005, Rio de Janeiro. Editora: Civilização Brasileira.
ISTOÉ. Retrospectiva 2005. Edição:1889, ano: 2005 .
MEMÓRIA GLOBO. A notícia faz história – 35 anos de Jornal Nacional. Ano
2004, Rio de Janeiro. Editora Jorge Zahar.
RAMONET, IGNACIO. O poder midiático – O Poder da Comunicação. Ano 2003,
Rio de Janeiro. Editora: Record.
REDE GLOBO. 15 anos de história do Jornal Nacional. Ano 1984, Rio de Janeiro.
Editora Rio Gráfica.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, Biblioteca Central, Guia de
para normalização de referências: NBR: 6023:2004. 6ª edição.
VEJA. Retrospectiva 2005. Edição: 52, ano 38.2005
16
17. VEJA. Novembro 02 . Edição:44,ano 38.2005
VENTURA, ZUENIR. Cidade Partida . Ano 1994, São Paulo. Editora : Companhia
das Letras.
SITES:
http://www.comciencia.br/reportagens/violencia/vio06
http://fabiomalini.wordpress.com
ENTREVISTA:
SUZANA TATAGIBA - presidente do Sindicato dos Jornalistas do Espírito Santo.
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