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ESTUDOS DA
LÍNGUA
BRASILEIRA
DE SINAIS
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
Tatiane de Souza da Anhaia
didática
c o l e ç ã o
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
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Reitor
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Vice-Reitora de Graduação
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Vice-Reitor Administrativo
UPF Editora
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Graciela René Ormezzano
João Carlos Tedesco
Renata Holzbach Tagliari
Rosimar Serena Siqueira Esquinsani
Sergio Machado Porto
Zacarias Martin Chamberlain Pravia
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
Tatiane de Souza da Anhaia
2011
ESTUDOS DA
LÍNGUA
BRASILEIRA
DE SINAIS
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
Tatiane de Souza da Anhaia
didática
c o l e ç ã o
Copyright © Editora Universitária
Maria Emilse Lucatelli
Editoria de Texto
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Revisão de Emendas
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Produção da Capa
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Projeto gráfico e diagramação
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Desenhos
Este livro no todo ou em parte, conforme determinação legal, não pode ser reproduzido por
qualquer meio sem autorização expressa e por escrito do autor ou da editora. A exatidão das
informações e dos conceitos e opiniões emitidos, as imagens, tabelas, quadros e figuras são de
exclusiva responsabilidade dos autores.
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E-mail: editora@upf.br
À comunidade surda
pela trajetória da aprendizagem...
Sumário
Apresentação..................................................................................................8
1
Conhecer e reconhecer a diferença nas relações de aprendizagem..........10
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
2
Indagações iniciais........................................................................................12
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
Tatiane de Souza da Anhaia
3
“Ser surdo”...................................................................................................14
Ângela Mara Berlando Soares
Monique Giusti Reveilleau
4
Retrospectiva histórica da educação e da cultura surda.............................18
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
5
Língua de sinais............................................................................................22
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
6
Sinais básicos das libras................................................................................29
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
Tatiane de Souza da Anhaia
7
Perspectivas da educação de surdos ao longo da história
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Tatiane de Souza da Anhaia
8
Aquisição da linguagem pela criança surda................................................ 67
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
9
O tradutor/intérprete de língua de sinais...................................................74
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
10
Alteridade: constituição subjetiva do ser humano..................................... 77
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Referências...................................................................................................79
Sobre os autores........................................................................................... 81
8
Estudo da língua brasileira de sinais
Apresentação
Q
uando uma instituição como a UPF determina o cumprimen-
to de sua excelência na formação docente, busca contemplar
todos os espaços possíveis no eixo ensino-aprendizagem. Para
isso, a Divisão de Graduação lançou o edital para participação no pro-
jeto Série de Livros Didáticos. Nesse sentido, o colegiado da discipli-
na de Libras do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), e
profissionais vinculados ao Setor de Atenção ao Estudante (SAEs)1
dedicaram-se à produção desta obra, processo que se fez com muito
entusiasmo e enorme afinco.
Como toda língua, a língua brasileira de sinais (libras) é dinâ-
mica, reformula-se constantemente, possui estrutura gramatical. Por
esse motivo, a organização deste material teve o cuidado de propor um
desenvolvimento gradual em contexto, dirigido aos alunos e futuros
professores, em formato atual, acessível e prático. A equipe elaborou
com propriedade textos pertinentes e ilustrações detalhadas, conju-
gando suas performáticas, características, crenças e verdades.
Para aprender toda e qualquer língua, além de conhecer seus as-
pectos sintáticos, morfológicos ou fonológicos, é relevante integrar-se
à cultura inerente à mesma, pois só assim é possível assimilar a capa-
cidade de comunicação, a qual justifica a sua existência.
O resultado não poderia ser diferente, porque desde o início hou-
ve clareza no objetivo: desenvolver uma obra que preencha a lacu-
na no processo de formação dos futuros professores, ora acadêmicos
dos cursos de licenciatura, configurando-se como importante subsídio
para sua aprendizagem sobre as temáticas da surdez e da libras. Na
mesma medida, estende-se aos estudantes e professores dos demais
cursos de graduação e pessoas interessadas, que, com o acesso às in-
formações contidas na obra, têm a oportunidade de ampliar os conhe-
1
	 Setor da UPF que desenvolve programas e ações que garantem a acessibilidade
das pessoas com deficiência.
9
Estudo da língua brasileira de sinais
cimentos e ressignificar concepções acerca dos temas abordados, intervindo po-
sitivamente no processo de inclusão social e educacional.
Despertar interesse em aprender libras é uma das conquistas desse proje-
to pela simples razão de que o planejamento levou em conta a importância do
encantamento contido em toda linguagem. Dessa forma, esta obra apresenta
técnicas para que os aprendizes consigam compreender e utilizar de fato os co-
nhecimentos que a proposta oferece.
A equipe pensa e atua com muita seriedade e competência. Dessa manei-
ra, aprendendo a nos inserir no universo humano, podemos imaginar um mun-
do melhor. A linguagem humana, em sua abrangência e complexa diversidade,
nasce da necessidade de comunicação, de estabelecer as relações humanas e,
sobretudo, cidadãs.
Dora Angélica Segovia de Rodrigues
Mestra em Letras, Professora da área de Línguas Estrangeiras e docente nos
cursos de Letras e Secretariado Executivo da Universidade de Passo Fundo
10
Estudo da língua brasileira de sinais
1
Conhecer e reconhecer a diferença
nas relações de aprendizagem
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
P
ara que a aprendizagem aconteça, a relação entre os protago-
nistas é de grande relevância. Se partirmos da premissa de que
os sujeitos ora aprendem, ora ensinam, estabelecemos uma re-
lação de complementaridade, de troca, de interação. Entretanto, como
atingir esse ideal se os alunos são diferentes entre si, com muitas
peculiaridades? A heterogeneidade é característica das sociedades
porque o sujeito é, por natureza, singular, e nesse contexto nos depa-
ramos com a diversidade de modos de ser, de aprender, de construir o
conhecimento.
Nas relações de aprendizagem entre surdos e ouvintes, é fun-
damental conhecer a diferença, pois a partir dela compreendemos os
processos de ensinar e aprender. Noutros tempos nos contentávamos
com uma relação de ensino linear, como se as pessoas aprendessem no
mesmo tempo e de igual maneira, e insistíamos fortemente neste pa-
radigma, no qual prevalecia a padronização. Ao conhecer e reconhecer
a diferença, compreendendo-a como algo natural, não como déficit ou
desvantagem, abre-se espaço para novas concepções acerca da apren-
dizagem. Pozo (2002), na sua obra Aprendizes e mestres, enfatiza que
há novos cenários de aprendizagem, constituídos por novos perfis e
modalidades de aprender, tornando-se emergencial um novo perfil de
quem ensina e distintas possibilidades que viabilizem a aprendiza-
gem.
11
Estudo da língua brasileira de sinais
Segundo Humberto Maturana (2009), ensinar é criar um espaço de convi-
vência, sendo da competência do professor a condução do processo. Para isso, o
acolhimento do aluno é de extrema importância. Ao acolher o sujeito, acolhem-se
a dúvida, a curiosidade, a inquietação, quesitos necessários para que a aprendi-
zagem ocorra. Para aprender é essencial a constituição de um espaço propício
e fecundo, no qual a especificidade do sujeito seja respeitada e possam ocorrer
as relações de aprendizagem, nos vieses de ensinar e aprender. A constituição
desse espaço ocorre à medida que os sujeitos se envolvem e convivem de maneira
propositiva, questionando, duvidando, lidando com informações, materializando
a rede invisível de conexões das ideias, teorias, conceitos até chegar ao conheci-
mento e sua aplicabilidade.
Como protagonistas nas relações de aprendizagem, é importante lançar um
olhar sobre os modelos educacionais e os referenciais teóricos que interferem nas
concepções sobre a diferença entre surdos e ouvintes, seja nos aspectos culturais,
seja nos linguísticos, os quais nortearam as práticas sociais e educacionais ao
longo da história.
Santos enfatiza que é premente compreender que “[...] temos o direito a ser
iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes
quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igual-
dade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente
ou reproduza as desigualdades” (2003, p. 56).
Os processos de ensinar e aprender dos surdos são temas profícuos nas
instituições de ensino e nos diferentes espaços sociais, que pressupõem modifi-
cações profundas para que adquiram a dimensão e força de romper paradigmas
de incapacidade ou deficiência e, simultaneamente, (re-)constituir espaços e re-
lações que viabilizem a percepção das potencialidades do surdo e qualifiquem
sua aprendizagem.
12
Estudo da língua brasileira de sinais
2
Indagações iniciais
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
Tatiane de Souza da Anhaia
• Surdez é doença?
Não. A surdez priva o surdo de ouvir, porém não o impede de se co-
municar. A surdez pode ter causa congênita ou ser adquirida ao longo
da vida.
• Todo surdo é mudo?
São muito raros os casos em que o surdo é mudo. Mudez nem sempre
tem conexão com a surdez. “Surdo-mudo” é, provavelmente, a deno-
minação mais arcaica e incorreta sobre a surdez.
• O surdo consegue falar?
O surdo tem capacidade de oralizar, que é fazer uso de sua capacidade
fonadora por meio de exercícios fonoaudiológicos. Ao ser oralizado, o
surdo não passa a “ouvir”, mas tem na oralização uma estratégia de
comunicação com os ouvintes.
• O uso de aparelho auditivo é indicado para surdos?
Cada caso tem suas peculiaridades. Por isso, é essencial uma investi-
gação detalhada e a opção do surdo deve ser respeitada.
• É possível o surdo fazer leitura labial?
13
Estudo da língua brasileira de sinais
A leitura labial é uma estratégia utilizada por alguns surdos oralizados. É im-
portante salientar que nunca será possível ler na totalidade a sequência de
palavras pronunciadas e que, provavelmente, haverá perdas de elementos, in-
terferindo na compreensão do que foi dito.
• Como o surdo se comunica?
Os surdos podem utilizar diferentes modos de comunicação: expressões faciais
e corporais, escrita, indicações (apontamentos) do que deseja. Entretanto, é
importante salientar que a língua materna dos surdos é a língua de sinais.
• O que são línguas de sinais (LS)?
As línguas de sinais são sistemas linguísticos para a transmissão de ideias e
fatos, capazes de expressar conceitos abstratos. São utilizados pelas comunida-
des surdas como sua língua natural, sendo diferentes em cada país.
• Língua brasileira de sinais (libras):
A libras é a língua materna dos surdos do Brasil. Tem estrutura gramatical
própria, status de língua e é reconhecida como a segunda língua oficial do país
pela lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002.
Para saber mais, visite os sites e blogs
http://www.feneis.com.br
http://www.editora-arara-azul.com.br
http://www.filmeseducativos.com
http://www.vezdavoz.com.br
http://www.alfabetosurdo.com
http://www.legendanacional.com.br
http://www.deficienteonline.com.br
http://www.acessobrasil.org.br
http://www.dicionariolibras.com.br
http://www.inilibras.com.br
http://www.webartigos.com/articles/3639
http://ensinodelibras.blogspot.com
http://aprendolibras.blogspot.com
http://trabalhandocomsurdos.blogspot.com
http://www.contextualizandoalibras.blogspot.com
http://ensinandoeaprendendocomatiarose1.blogspot.com
http://anacarolinafrank.blogspot.com
www.tvararaazul.blogspot.com
14
Estudo da língua brasileira de sinais
3
“Ser surdo”
Ângela Mara Berlando Soares
Monique Giusti Reveilleau
A
presentamos algumas cenas para posterior análise e discus-
são. Os comentários partem da experiência de surdos e ou-
vintes ao se depararem com a condição da surdez:
Cena 1 - Encontrando um surdo pela primeira vez
As pessoas veem os surdos conversando em língua de sinais na
rua, nas escolas e em outros espaços e demonstram diversos senti-
mentos: algumas ficam impressionadas, outras curiosas ou, ainda,
compadecidas, com pena dos surdos, afinal eles não ouvem.
A verdade é que os ouvintes nem sempre entendem o que está
acontecendo e suas reações são diferentes, geralmente por falta de
informação.
15
Estudo da língua brasileira de sinais
Cena 2 - Surdos conversando em língua de sinais
É importante que a sociedade conheça o modo de vida dos surdos, que pos-
sui algumas peculiaridades, relacionadas a sua cultura e identidade. No entanto,
é preciso aceitar a diferença do sujeito surdo, assim como é importante aceitar a
diferença do ouvinte, compreendendo que todos têm capacidade de aprender, de
emitir sua opinião, de expressar seus desejos e se comunicar.
As cenas 3 e 4 representam situações vivenciadas por Monique Giusti Reveil­leau.
Cena 3 - Insistência em oralizar
“Quando eu era pequena, tinha mais ou menos 10 anos de idade, eu ficava
brava com Deus e queria saber: ‘Por que Ele fez isso comigo? Por que sou surda?’
Sofria muito, era muito nervosa, triste, e chorava muito porque minha fala não
era boa o bastante, as pessoas tentavam me entender, mas não conseguiam. Já
estava muito cansada de tanto falar.”1
1
	 Neste contexto, falar significa oralizar, que é a tentativa de reabilitação da fala por meio de
exercícios fonoaudiológicos
16
Estudo da língua brasileira de sinais
Cena 4 - Surdo e a língua de sinais
“Não sabia nada sobre surdez... Aos 13 anos, descobri que a língua de si-
nais existia e era a língua natural de surdos... Fiquei encantada e maravilhada.
Quando vi pela primeira vez a língua de sinais, percebi que existiam pessoas
iguais a mim. Era como outro mundo e a partir desse momento mudei minha
vida completamente... Meus olhos brilharam muito ao ver as mãos lindas se
comunicando.”
3.1 Entender a condição da surdez para perceber
as possibilidades
A maioria passa por situações semelhantes às das charges e a sociedade em
geral carece de informações claras sobre a surdez e suas implicações. Na tentativa
de “padronizar”, cometem-se erros, principalmente pela insistência de que o surdo
“fale” do mesmo modo como os ouvintes. São inúmeras situações constrangedoras
que interferem na construção da identidade do surdo, que é privado de se expres-
sar pela sua língua materna (língua de sinais) e forçado a utilizar a língua oral.
Entretanto, existem casos em que se respeita a diferença linguística e cul-
tural, inicialmente pelo grupo familiar, que se traduz pela aceitação da surdez,
pelo investimento na trajetória de aprendizagem do sujeito e no incentivo à cons-
trução de sua autonomia. Essas ações, tão simples, mas importantes, estendem-
-se para o contexto educacional e social do qual o surdo faz parte. O posiciona-
mento de Monique referenda o que salientamos anteriormente:
A minha família sempre me apoiou muito, principalmente minha mãe. Ela
sempre me acompanhou para fazer os temas de casa, trabalhos, estudar
para as provas, etc. Ficava o tempo todo comigo e o meu pai com os meus
dois irmãos porque era eu quem precisava mais ajuda. Hoje eu agradeço à
minha mãe, que sempre me incentivou a estudar...
17
Estudo da língua brasileira de sinais
Na escola tive muitas dificuldades, as pessoas não sabiam a importância da lín-
gua de sinais e a comunicação não acontecia. Depois de muitos anos, passei no
vestibular para o curso de Pedagogia – Anos Iniciais na UPF. Foi muita alegria,
principalmente porque eu e duas colegas surdas tivemos um tradutor/intérprete
de libras (TILS) pela primeira vez. Loreni Lucas dos Santos, a TILS, participou
de nossa formação profissional, possibilitando a comunicação e o acesso ao
conhecimento. Hoje sou pedagoga, professora de libras, casada, mãe de dois
filhos ouvintes, dedicada e realizada. Tudo o que eu consegui valeu a pena.
Desejo muito que outros surdos também lutem pelo seu futuro, sem sofrimen-
tos e sem preconceito, que sejam respeitados e aceitos pela sociedade. Por
isso, é importante nunca desistir dos seus sonhos!
18
Estudo da língua brasileira de sinais
4
Retrospectiva histórica da
educação e da cultura surda
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
P
retende-se, a partir da retrospectiva histórica sobre a educação
e cultura surda, buscar elementos para a compreensão do con-
texto da surdez, os quais permitirão analisar os processos de
inclusão social e o desenvolvimento educacional dos surdos na atuali-
dade. Para tanto, tomamos como base a pesquisa “Para uma cronolo-
gia da educação dos surdos”, realizada por Cabral (2001), professor de
educação especial de Portugal, que apresenta, em ordem cronológica,
os registros encontrados a respeito da história dos surdos no mundo.
4.1 Raízes do (pré)conceito
Consta que no antigo Egito do séc. XVI a.C. os egípcios acredita-
vam que não era possível educar as pessoas surdas. O notável filósofo
Sócrates, que viveu no século V a.C., afirmou que “os surdos têm que
usar o gesto e a pantomina”1
(Cabral, 2001), e Aristóteles teria conclu-
ído que, apesar de os surdos emitirem sons, seriam incapazes de falar,
razão por que não teriam a capacidade de fazer o uso da razão.
1
	 Pantomina – representação de ideias por meio de gestos, sem os recursos das
palavras, um modo de narrar com o corpo.
19
Estudo da língua brasileira de sinais
Durante os séculos X a IX a.C., as leis permitiam que os recém-nascidos com sinais de debilidade
ou algum tipo de má formação fossem lançados ao monte Taigeto (Grécia Antiga).
O imperador Justiniano, em 529 a.C. criou uma lei que impossibilitava os Surdos de celebrar con-
tratos, elaborar testamentos e até de possuir propriedades ou reclamar heranças (com exceção
dos surdos que conseguiam oralizar). (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_dos_surdos).
4.2 Protagonistas do início da mudança da história
Considerado um dos primeiros relatos comprovando que uma pessoa surda
pode ser educada foi o do holandês Rudolphus Agricola, filósofo, professor e con-
siderado modelo humanista. Em seu livro De inventione dialectica (1479), publi-
cou a experiência de ter ensinado uma criança surda a se comunicar oralmente
e a escrever. Dessa forma, provou a capacidade de uma pessoa surda expressar
seus pensamentos, suas emoções e opiniões. Era o início de uma influência posi-
tiva para a comunidade surda. No século seguinte, o médico Girolano Cardano
(1501-1576) apresentaria a teoria de que a audição e o uso da fala não são con-
dições para o desenvolvimento e compreensão das ideias e de que a surdez seria
uma barreira à aprendizagem, não uma condição mental (Cardano apub Soares,
2005, p. 17).
Seguindo a cronologia de Cabral surgiu o monge beneditino Pedro Ponce de
León (1520-1584), considerado um dos pioneiros na educação dos surdos e que
trabalhava com o método da datilologia,2
da escrita e do oralismo.
Ao longo dos séculos muitos foram os protagonistas de teorias a favor ou
contra o uso da língua de sinais, do oralismo, da datilologia. Surgiram várias
metodologias de ensino e suposições a respeito do desenvolvimento cognitivo das
pessoas surdas, técnicas para o treino da fala, juntamente com novas descober-
tas científicas acerca da fisiologia da audição, procedimentos clínicos na tenta-
tiva de reverter a surdez muitas vezes resultando na morte das pessoas surdas
submetidas a tais experimentos.
	
2
	 Datilologia – termo utilizado para o uso do alfabeto manual.
20
Estudo da língua brasileira de sinais
4.3 Fatos que marcaram um novo capítulo na história
Em 1760 Charles Michel de L’Épée, educador filantrópico francês, abriu a
primeira escola pública para surdos em Paris, a Institution Nationale des Sour-
ds-Muets à Paris (Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris). A partir de
então, os surdos passaram a receber uma formação com uma metodologia em si-
nais, desenvolvida pelo próprio L’Épée, que em 1776 publica um livro a respeito.
Nesse período os surdos passaram a atuar de maneira propositiva em diversos
países que adotaram o método de L’Éppé e, instruídos, começaram a trabalhar
como educadores das crianças surdas na aquisição da linguagem em sinais.
Pierre Desloges, um surdo que trabalhava como encadernador de livros,
revoltou-se diante das colocações do religioso abade Deschamps, o qual afirma
que a comunicação por sinais dos surdos não podia ser considerada uma língua
e, portanto, era inadequada para a educação das crianças surdas. Desloges, com
o objetivo de “defender minha língua contra as falsas acusações desse autor”
(Moody, 1987, apud Wilcox, 2005, p. 37), sentiu-se desafiado a escrever um livro,
Observações de um surdo-mudo (1779), explicando acerca das línguas de sinais
utilizadas pelos surdos e descrevendo a ordem dos enunciados sinalizados, suas
combinações e a precisão dos sinais. Foi essa uma tentativa empírica do jovem
surdo em suas observações de sistematizar a língua de sinais, o que certamente
deve ter causado um grande impacto na sociedade parisiense a respeito dos con-
ceitos cognitivos que na época se tinha sobre o surdo.
4.4 Congresso em Milão
A trajetória educacional do surdo foi fortemente marcada por uma impo-
sição cultural ouvintista.3
O ápice foi o Congresso de Milão em 1880, com a re-
solução de que a modalidade de ensino para os surdos passaria a ser a “oral”,
considerada pelos participantes como superior à língua de sinais. A partir de
então, os surdos que conseguiam “falar” eram considerados excepcionalmente
inteligentes e, em consequência, os que sinalizavam eram marginalizados e de-
preciados por seus mestres, famílias e sociedade. O processo educacional dos
surdos foi drasticamente comprometido pela imposição do método oralista, pois,
3
	 Os termos ouvintista, ouvintismo etc. são derivações de “ouvintização”, que, segundo a concepção
de Skliar, sugere “uma forma particular e específica de colonização dos ouvintes sobre os surdos.
Supõe representações práticas designificação, dispositivos pedagógicos, etc., em que os surdos
são vistos como sujeitos inferiores” (1999, p. 7).
21
Estudo da língua brasileira de sinais
ao contrário do que se pensava e se concluíra naquela época, essa imposição foi
de encontro às primeiras pesquisas, que apontavam o método oral/auditivo como
não sendo o canal de alcance da aprendizagem e significação do mundo dos sur-
dos e, sim, por definição natural, o canal visual/gestual.
4.5 Educação dos surdos no Brasil
Em 26 de setembro de 1857, por decisão de Dom Pedro II, foi aprovada a lei
de nº 939/1857, que dispôs verba para a criação do Imperial Instituto dos Sur-
dos-Mudos no Rio de Janeiro Brasil. O instituto iniciou com dez meninos surdos,
instruídos pelo professor surdo Hernest Huet na Língua de Sinais Francesa –
LSF. Em 1911, em razão da influência da Europa, o INES adotou a modalidade
educacional oralista, proibindo o uso da língua de sinais. Em 1957 o instituto
passou a ser chamado de Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES),4
como é conhecido atualmente.
Os surdos, oprimidos no passado pela sociedade, constituída majoritaria-
mente por ouvintes, carregam as marcas da história e das concepções que os
rotularam como incapazes, dependentes, desprovidos de potencialidades. Essas
ideias são confirmadas no cotidiano quando, em algumas situações, os surdos
permitem a opressão e não se posicionam diante das dificuldades, aceitando
ajuda ao invés da efetivação de seus direitos, especialmente do ser surdo, de ser
respeitado como minoria linguística e reconhecido como cidadão. Na mesma me-
dida, os ouvintes reforçam as concepções errôneas quando tendem a superprote-
ger ou favorecer o surdo ao invés de acreditar no seu potencial e na capacidade
de protagonizar a sua própria história e construir uma identidade autônoma.
4
	 Para saber mais acesse o site <http://www.ines.gov.br/Paginas/historico.asp>
22
Estudo da língua brasileira de sinais
5
Língua de sinais
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
A
língua de sinais utiliza a comunicação visuoespacial. Por
esse motivo, quase não se encontram registros da sua
historicidade,sendo difícil localizar e comprovar sua origem.
Os estudos linguísticos das línguas de sinais têm como marco
os trabalhos realizados pelo linguista escocês William C. Stokoe em
1957, docente do Departamento de Inglês do Gallaudet College, em
Washington, nos Estados Unidos.
Quando iniciou na Gallaudet, Stokoe desconhecia a língua de si-
nais americana (ASL). Nessa época os professores da instituição eram
ouvintes e ensinavam inglês aos alunos surdos; não havia aulas de
ASL, porque era desconsiderada como língua. Ao observar a diferença
entre a sinalização das palavras em inglês durante as aulas e a sina-
lização quando os surdos se comunicavam entre si, Stokoe percebeu
uma autonomia na comunicação sinalizada. Ao conseguir um finan-
ciamento do governo norte-americano, teve a possibilidade de desen-
volver pesquisas acerca das sinalizações produzidas pelos surdos fora
das aulas.
As conclusões de sua pesquisa demonstraram que a sinalização
não dependia de uma língua falada, no caso o inglês, e que seguia uma
gramática própria. Assim Stokoe publicou em 1960 seus estudos na
obra Language structure: an outline of the visual communication syste-
ms of the american deaf. A divulgação e a disseminação de seus estudos
revolucionaram a visão linguística, pois, ao mostrar que as línguas de
sinais são línguas naturais, concedeu-lhes o status de língua.
23
Estudo da língua brasileira de sinais
5.1 Organização neural da língua de sinais
Estudos desenvolvidos por Rodrigues (1993) sobre a organização neural da
linguagem no cérebro, do ponto de vista biológico, enfatizam que ocorre de forma
semelhante para línguas orais e línguas sinalizadas.
As pesquisas nesse campo fornecem elementos para que possamos com-
preender como ocorre a linguagem para o surdo. Tomando como base a análise
das testagens aplicadas em pacientes surdos com lesões cerebrais, Rodrigues
constatou que existe uma separação entre linguagem e funções visuoespaciais,
com forte evidência de que os aspectos gramaticais das línguas sinalizadas são
lateralizados para o hemisfério esquerdo do cérebro. A organização da lingua-
gem, tanto para um grupo de ouvintes como para um grupo de surdos, apresenta
semelhanças no período das primeiras aprendizagens.
O canal de comunicação “natural” é distinto quanto à predominância no re-
cebimento de estímulo para cada um desses grupos, ou seja, para o grupo de ou-
vintes é natural que a via de comunicação preferencial se dê pela audição e pela
fala, pois esta predomina no recebimento de estímulos, ao passo que no grupo
de surdos, pelo fato de não ouvir, passa naturalmente a predominar o canal vi-
suoespacial como principal via de comunicação. “[...] Essa maior habilidade para
discriminar e seguir estímulos, no caso dos movimentos das mãos, na periferia
do campo visual é uma grande vantagem para o surdo, a qual não é aproveitada
caso ele não utilize a língua de sinais” (Rodrigues, 1993, p. 16).
Nesse sentido, é imprescindível a estimulação do canal visuoespacial com
os bebês surdos, pois a aquisição da linguagem interfere no seu desenvolvimento
geral, especialmente no aspecto cognitivo.
5.2 Língua brasileira de sinais
Contrário ao modo como muitos definem a surdez [...] pessoas
surdas definem-se em termos culturais e lingüísticos.
Wrigley
A língua brasileira de sinais (libras) é a usada pela comunidade surda no
Brasil. A libras foi oficializada por meio da lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002.
Art. 1o
- É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasi-
leira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados.
Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de
comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora,
24
Estudo da língua brasileira de sinais
com estrutura gramatical própria, constitue um sistema lingüístico de transmissão
de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil (Decreto nº
5.626 de 22 de dez de 2005).
As línguas de sinais são basicamente produzidas pelas mãos e sua estru-
tura gramatical aporta os níveis linguístico, fonológico, morfológico, sintático e
o semântico. As expressões corporais e faciais também desempenham impor-
tantes funções gramaticais. Como qualquer outra língua, possui regionalismos,
dialetos, gírias e neologismos.
Elementos essenciais da gramática da libras
A - Alfabeto manual
São representações do alfabeto latino produzido com as mãos escrevendo no
ar, por meio da digitação manual chamada de “datilologia”, as quais juntando as
letras, formam uma palavra. É usado como empréstimo da língua nacional para
sinais que ainda não existem, como, por exemplo, de cidades, nomes de pessoas,
conceitos, entre outros. Por exemplo: Passo Fundo [P-A-S-S-O_F-U-N-D-O].
O alfabeto é característico de cada país. Confira o alfabeto da língua americana de sinais
<http://www.surdo.org.br/informacao.php?lg= pt&info=AlfaAmericano> e o da língua de sinais
espanhola <http://www.surdo.org.br/informacao.php?lg=pt&info=AlfaEspanhol>
25
Estudo da língua brasileira de sinais
26
Estudo da língua brasileira de sinais
B - Configurações
Na estrutura gramatical da libras as configurações de mãos (CM) são uni-
dades mínimas usadas na produção de um sinal.
27
Estudo da língua brasileira de sinais
Os sinais APRENDER e AMAR têm a mesma configuração de mão.
Aprender Amar
C - Ponto de articulação
São sinais produzidos no espaço (à frente, acima, abaixo, à esquerda e/ou à
direita do corpo), podendo tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço
neutro. Os sinais TRABALHAR e BRINCAR localizam-se no espaço neutro e os
sinais ESQUECER e APRENDER, na testa
Trabalhar Brincar Esquecer Aprender
D - Movimento
Os sinais podem ter um movimento ou não. O sinal cachorro-quente
não tem movimento, e os sinais FALAR e BRINCAR têm.
Cachorro-quente Falar Brincar
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Estudo da língua brasileira de sinais
E - Orientação/direcionalidade
Os sinais têm uma direção com relação aos parâmetros acima. Os ver-
bos IR e VIR, SUBIR e DESCER, ACENDER e APAGAR têm relação com a
direcionalidade.
F - Expressão facial e/ou corporal
Por serem extremamente visuais, as expressões faciais e corporais são mui-
to importantes nas línguas de sinais. A língua de sinais tem sentimento, emoção,
como ALEGRE e TRISTE. Segundo Quadros e Karnopp (2004), algumas expres-
sões marcam gramaticalmente as sentenças, como nos sinais COMO e AGORA.
Salientamos que todos os itens abordados são de grande relevância para o
aprendizado da libras, no entanto representam os elementos gramaticais bási-
cos. A libras, como as demais línguas, é dinâmica e evolui de acordo com a comu-
nicação que acontece na comunidade surda.
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Estudo da língua brasileira de sinais
6
Sinais básicos das libras
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Monique Giusti Reveilleau
Tatiane de Souza da Anhaia
Pronomes
EU		 TU/VOCÊ ELE/ELA
NÓS	 MEU/MINHA TEU/SEU/TUA/SUA
DELE/DELA
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Estudo da língua brasileira de sinais
QUE QUEM POR QUE/PORQUE
COMO QUANDO QUANTOS
ONDE MAS MAIS
COM/JUNTO JUNTO/PESSOAS
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Estudo da língua brasileira de sinais
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Estudo da língua brasileira de sinais
Cumprimentos, saudações e expressões
OI	 BEM/BOM BOM DIA
BOA TARDE BOA NOITE BOA AULA
bom FIM DE SEMANA
DESCULPE OBRIGADO DE NADA
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Estudo da língua brasileira de sinais
COM LICENÇA ENTENDEU ENTENDEU/NÃO
DE NOVO ATENÇÃO POR EXEMPLO
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Estudo da língua brasileira de sinais
Grupo familiar
FAMÍLIA MULHER HOMEM
MENINA MENINO MAMÃE
PAPAI FILHO (a)
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Estudo da língua brasileira de sinais
BEBÊ CRIANÇA IRMÃO (a)
PRIMO (a) VOVÓ/VOVÔ TIO (a)
PADRINHO/MADRINHA SOBRINHO (a) MARIDO/ESPOSA
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Estudo da língua brasileira de sinais
NAMORADO (a) CUNHADO (a) SOLTEIRO (a)
AMIGO (a) NOIVO (a)
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Estudo da língua brasileira de sinais
Marcação de tempo na libras
PASSADO AGORA FUTURO
ONTEM HOJE AMANHÃ
MANHÃ TARDE NOITE
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Estudo da língua brasileira de sinais
ANTES DEPOIS RÁPIDO
DEMORADO SEMPRE CEDO
ATRASADO TODOS OS DIAS FIM
NUNCA DIA SEMANA
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Estudo da língua brasileira de sinais
MÊS ANO MINUTO
irmão (ã)
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Estudo da língua brasileira de sinais
Dias da semana
DOMINGO SEGUNDA-FEIRA TERÇA-FEIRA
QUARTA-FEIRA QUINTA-FEIRA SEXTA-FEIRA
SÁBADO
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Estudo da língua brasileira de sinais
Estações do ano
VERÃO OUTONO INVERNO
PRIMAVERA
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Estudo da língua brasileira de sinais
Meses
JANEIRO FEVEREIRO MARÇO
ABRIL MAIO JUNHO
JULHO AGOSTO SETEMBRO
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Estudo da língua brasileira de sinais
OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO
VERBOS
ACEITAR ACORDAR AJUDAR
AMAR APRENDER BRINCAR
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Estudo da língua brasileira de sinais
BUSCAR COMPRAR COMUNICAR
CONHECER CONTINUAR CONVERSAR
COPIAR CORTAR DORMIR
ESCOLHER ESPERAR ESQUECER
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Estudo da língua brasileira de sinais
ESTUDAR FALAR FAZER
GOSTAR GOSTAR-NÃO LEMBRAR
LER MORRER OUVIR
PASSEAR PEDIR PERGUNTAR
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Estudo da língua brasileira de sinais
PODER PODER-NÃO PRECISAR
PROCURAR QUERER QUERER-NÃO
RESPEITAR RESPONDER SABER
SABER-NÃO TER TER-NÃO
Agosto
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Estudo da língua brasileira de sinais
TRABALHAR TROCAR VENDER
VER VIAJAR VIVER
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Estudo da língua brasileira de sinais
CORES
AMARELO AZUL BRANCO
LARANJA ROSA VERDE
VERMELHO PRETO ROXO
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Estudo da língua brasileira de sinais
ANIMAIS
CACHORRO CAVALO COELHO
COBRA ELEFANTE GATO
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Estudo da língua brasileira de sinais
LEÃO MACACO PÁSSARO
PORCO 	 TARTARUGA BOI
ALIMENTOS - BEBIDAS
ÁGUA AÇÚCAR ALFACE
ARROZ AZEITE BALA
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Estudo da língua brasileira de sinais
BATATA BOLACHA BOLO
CACHORRO-QUENTE CAFÉ CARNE
CEBOLA CERVEJA
CHIMARRÃO CHOCOLATE CHURRASCO
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Estudo da língua brasileira de sinais
FEIJÃO MASSA MEL
OVO PÃO PASTEL
PIPOCA PIZZA PRESUNTO
QUEIJO SAL SANDUÍCHE
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Estudo da língua brasileira de sinais
SOPA REFRIGERANTE VINHO
TOMATE
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Estudo da língua brasileira de sinais
Frutas
ABACATE ABACAXI BANANA
BERGAMOTA COCO FIGO
LARANJA LIMÃO MAÇÃ
MAMÃO MELÃO PÊSSEGO
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Estudo da língua brasileira de sinais
UVA MORANGO PERA
Contexto acadêmico
UPF PASSO FUNDO CASCA
CARAZINHO LAGOA VERMELHA PALMEIRA DAS MISSÕES
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Estudo da língua brasileira de sinais
SARANDI SOLEDADE FACULDADE
ALUNO/ESTUDANTE/ PROFESSOR SURDO
ACADÊMICO
OUVINTE AMIGO LÍNGUA DE SINAIS
LIBRAS TRADUTOR/ Setor de Atenção
INTÉRPRETE ao Estudante
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Estudo da língua brasileira de sinais
DEDO DE PROSA LABORATÓRIO BILÍNGUE
UPF IDIOMAS LIVRO CADERNO
CANETA LÁPIS BORRACHA
APONTADOR COLA TESOURA
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Estudo da língua brasileira de sinais
ESCOLA BANHEIRO
INTERVALO
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Estudo da língua brasileira de sinais
Cursos
CURSO 	 ADMINISTRAÇÃO AGRONOMIA
ARTES VISUAIS ARQUITETURA E 	 CIÊNCIA BIOLÓGICAS
URBANISMO
CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO CIÊNCIAS CONTÁBEIS CIÊNCIAS ECONÔMICAS
COMUNICAÇÃO SOCIAL E JORNALISMO DIREITO
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Estudo da língua brasileira de sinais
		 COMUNICAÇÃO SOCIAL	 	 EDUCAÇÃO FÍSICA
	 PUBLICIDADE E PROPAGANDA
ENGENHARIA ENGENHARIA ENGENHARIA
AMBIENTAL DE ALIMENTOS
ENGENHARIA CIVIL ENGENHARIA ENGENHARIA
ELÉTRICA MECÂNICA
ENFERMAGEM		 		 FARMÁCIA
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Estudo da língua brasileira de sinais
FÍSICA			 FISIOTERAPIA FONOAUDIOLOGIA
FILOSOFIA 		 GEOGRAFIA	 	 HISTÓRIA
LETRAS MATEMÁTICA MEDICINA
MÚSICA NUTRIÇÃO	 ODONTOLOGIA
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Estudo da língua brasileira de sinais
PEDAGOGIA PSICOLOGIA		 QUÍMICA
SECRETARIADO SERVIÇO SOCIAL
EXECUTIVO BILÍNGUE
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Estudo da língua brasileira de sinais
Cursos superiores de tecnologia
AGRONEGÓCIO ANÁLISE E COMÉRCIO EXTERIOR
		 DESENVOLVIMENTO
DE SISTEMAS
DESING DE DESING DE MODA DESING GRÁFICO
MOBILIÁRIO
ESTÉTICA E FABRICAÇÃO GESTÃO COMERCIAL
COSMÉTICA MECÂNICA
64
Estudo da língua brasileira de sinais
GESTÃO DE LOGÍSTICA PRODUÇÃO CÊNICA
RECURSOS HUMANOS
PRODUÇÃO DO SISTEMAS PARA
VESTUÁRIO INTERNET
65
Estudo da língua brasileira de sinais
7
Perspectivas da educação
de surdos ao
longo da história
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
Tatiane de Souza da Anhaia
A
trajetória educacional do surdo no âmbito mundial passou por
vários momentos históricos, que gradativamente ressignifica-
ram as concepções sobre surdez e educação de surdos. As dis-
tintas modalidades colaboraram nos processos de ensinar e aprender,
de modo que temos subsídios para implementar propostas educacio-
nais condizentes com a especificidade do surdo.
Os modelos que ao longo da história foram mais significativos são
descritos na sequência.
7.1 Oralismo
O oralismo é uma perspectiva educacional direcionada à reabili-
tação da fala. Dentre as várias metodologias desenvolvidas, a leitura
labial é a principal técnica aplicada. Os sons e palavras emitidas pelo
interlocutor são captadas pela leitura (interpretação) dos movimentos
de seus lábios. Recentes estudos comprovaram que mesmo o leitor la-
bial mais experiente consegue captar apenas em torno de 50% do que
a outra pessoa pronuncia.
66
Estudo da língua brasileira de sinais
7.2 Comunicação total
Com início na década de 1960, essa perspectiva de educação é uma combi-
nação do oralismo com a língua de sinais simultaneamente como uma alterna-
tiva de comunicação; também inclui aspectos linguísticos, como os gestos soltos,
leitura orofacial,1
alfabeto manual, leitura e escrita. A comunicação total tam-
bém prima por aproveitar resíduos auditivos que a pessoa possa ter, pelo uso
permanente de aparelhos auditivos. Essa modalidade também é conhecida como
“bimodalismo”, que é o uso da língua de sinais dentro da estrutura das línguas
faladas.
7.3 Bilinguismo
A modalidade bilíngue é uma perspectiva de ensino recente, que propõe a
aquisição da linguagem dos surdos por meio das duas línguas no contexto esco-
lar, tendo como pressuposto que o aluno surdo seja bilíngue, adquirindo a língua
materna, ou seja, língua de sinais como primeira língua, comprovadamente a
língua natural do surdo, e a língua oral oficial do país como segunda língua.
Nesta ideologia sugere-se que as crianças surdas tenham contato o mais cedo
possível com pessoas fluentes na língua de sinais.
7.4 Pedagogia surda
Esta perspectiva surge no viés da discussão que problematiza a melhor mo-
dalidade de ensino para a educação dos surdos. Estabelece uma educação para
o surdo a partir de uma visão de sua especificidade de aprendizagem, como es-
timulação em libras na aquisição do conhecimento pelo canal de recepção visuo-
espacial, o uso de recursos visuais, metodologia com didática que proporcione a
internalização do conhecimento e o respeito ao tempo diferenciado de aprendi-
zagem do surdo. A pedagogia surda propõe que a aprendizagem é significativa-
mente favorecida quando o surdo tem a oportunidade de estar constantemente
em contato com seus pares.
1
	 Leitura da articulação dos lábios.
67
Estudo da língua brasileira de sinais
8
Aquisição da linguagem pela
criança surda
Andréia Mendiola Marcon
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
A
aquisição da linguagem no ser humano constitui-se a partir
da interação, primeiramente com o grupo familiar e depois no
âmbito social. A criança constrói sua identidade interagindo e
se expressando por meio da língua.
De modo similar, a aquisição da linguagem pelo surdo também
se realiza por meio da interação com as pessoas e o meio do qual faz
parte. É essencial que essa interação aconteça na primeira língua da
criança surda (libras), a partir da qual os estímulos para a aquisição
da linguagem devem ocorrer. É importante que a estimulação para
a aquisição da linguagem ocorra desde a detecção da surdez, pois,
quanto mais cedo, maiores serão as possibilidades de desenvolver a
linguagem adequadamente. Nisso a família tem um papel de suma
importância.
Segundo Pettito e Marantette (1991, apud Quadros, 1997), “as
vocalizações são interrompidas nos bebês surdos assim como as pro-
duções manuais são interrompidas nos bebês ouvintes, pois o input
favorece o desenvolvimento de um dos modos de balbucia” (1997 p.
70). Nesse sentido, podemos compreender que tanto bebês ouvintes
quanto bebês surdos apresentam balbucio oral e manual até um de-
terminado tempo.
Para melhor compreensão do exposto apresento um quadro com-
parativo sobre a aquisição da língua entre crianças surdas e ouvintes:
68
Estudo da língua brasileira de sinais
AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
Período aproximado Criança ouvinte Criança surda
Primeiro a seis meses Balbucio manual e oral Balbucio manual e oral
Primeiro a seis meses Balbucio manual e oral Balbucio manual e oral
Dez meses Primeiras sílabas Apontamentos
Um ano Combinam palavras isoladas Apontamentos referentes si mesma.
Dois anos Aquisição de vocábulos pela fala Aquisição de sinais por meio visual
Três anos Desenvolvimento da fala Desenvolvimento dos sinais
Quadro 1 - Aquisição da linguagem
Dada essa contextualização, podemos verificar que o input na língua de
sinais é muito importante para o desenvolvimento linguístico da criança. A per-
cepção visual começa a ser forte fator para esta aquisição; por isso, hoje em dia
é premente que os pais de surdos se interessem pela língua de sinais, bem como
pelos aspectos relacionados à cultura surda.
Cabe ressaltar que nesse estágio a criança surda está atenta às expressões
faciais dos interlocutores, capta elementos que disponibilizam significados que
mais tarde serão agregados à língua de sinais na fase de aquisição. Outro fator
importante é a repetição dos sinais fazendo movimentos mais lentos; dessa for-
ma, pode-se trabalhar o “foco”, ou seja, a questão do olhar e da direcionalidade
do sinal com o bebê, proporcionando-lhe maior ênfase no seu input. Entretanto,
por volta de dois anos de idade a criança surda começa a fazer suas primeiras
combinações em língua de sinais e, por volta dos três, apresenta gradativa am-
pliação do vocabulário.
É importante salientar três aspectos fundamentais para a aquisição da lin-
guagem da criança surda:
a) Contato com a língua de sinais
Acredita-se que em todos os momentos a família e a escola devem proporcio-
nar o desenvolvimento integral da criança surda por meio da sua língua mater-
na, sendo importante que ela tenha contato diariamente com a língua de sinais
em todos os momentos de sua vida.
b) Contexto familiar
No mesmo sentido, é importante que a criança surda tenha clareza real do
seu contexto familiar, ou seja, que saiba de fato quais são os papéis exercidos
pelas pessoas que a rodeiam. Como exemplo, o papel do pai, da mãe, dos irmãos
e assim por diante.
69
Estudo da língua brasileira de sinais
c) Contexto espacial
A criança surda necessita de muitos estímulos para significar seu mundo;
então, não se pode deixar de lado o contexto espacial. A casa, seu local de refe-
rência, tem importante sentido; por essa razão, cabe instigar a curiosidade e o
aprendizado acerca dos nomes dos cômodos e espaços. É adequado perguntar ou
falar à criança sobre a estrutura da casa: quarto, cozinha, banheiro, sala, etc.;
salientar os objetos ou mobiliários que pertencem a cada local, sua utilidade, seu
significado. Essas ações, aparentemente simples, proporcionam à criança esta-
belecer relações e associações, ampliando o vocabulário e desenvolvendo uma
organização interna.
São inúmeras as possibilidades para promover e incentivar a aquisição da
linguagem da criança surda. Para tanto, a metodologia visual merece destaque,
pois a criança que é estimulada desde tenra idade obtém ganho no seu processo
de desenvolvimento cognitivo.
d) Interação com outras crianças
Deve se dar essencialmente com surdos, para que ocorra a aquisição da
língua e a construção da sua identidade.
e) Etiquetas com o nome dos objetos
A partir desta estratégia a criança surda associa palavras aos objetos e
atribui-lhes significados, finalidades; pode também usar palavras descritivas,
como cadeira pequena, cadeira grande, cama branca, armário azul.
f) Fotos da família
Ajudam a criança a associar quem faz parte de seu grupo familiar - mãe,
pai, irmãos, avô, avó, tio, tia, primos, padrinhos.
É fundamental compreender a importância de viabilizar essas situações
para a criança surda, pois, quanto mais informações claras e consistentes tiver,
maiores serão as possibilidades de construir o sentido do mundo. Com isso, a
criança começa a compreender o que de fato é significado (compreensão) em
relação ao significante (objeto ou algo). Neste viés a criança surda passa por um
período de transição, no qual o que antes tinha caráter lúdico – formas, tama-
nhos, cores – adquire um status de compreensão; assim, começa a estabelecer
relações acerca dos objetos e situações, que, à medida que se internalizam, ge-
ram valores cognitivos.
70
Estudo da língua brasileira de sinais
8.1 O processo de alfabetização
Ao nos referirmos à terminologia “alfabetização”, geralmente, a primeira
impressão está relacionada à apropriação dos códigos escritos. Entretanto, a
alfabetização de crianças surdas decorre de processos específicos da surdez e
da aquisição da língua de sinais. Quadros (2000, p. 3) aborda um conceito mais
amplo do termo, enfatizando que a alfabetização é “um processo que resulta da
interação com a língua e com o meio”.
Aaquisição da linguagem é primordial para a alfabetização da criança surda,
e nesse sentido o grupo familiar possui papel de grande importância, especial-
mente nos primeiros anos de vida da criança. Posteriormente, outros persona-
gens exercem papéis e cooperam para o desenvolvimento da criança, principal-
mente com o ingresso na escola e noutros espaços sociais.
Na fase escolar, período marcado pela aprendizagem formal e intencional,
a criança surda, por meio da língua de sinais, tem acesso às informações, esta-
belece relações e constrói significados. O professor, profissional com fluência na
língua de sinais, é protagonista da aprendizagem da criança surda. Neste caso,
o docente tem como desafio diário utilizar didática apropriada, proporcionando
condições para que a criança compreenda e construa o conhecimento a partir de
sua língua materna.
Na fase de alfabetização, a criança surda precisa ter acesso ao conhecimen-
to de forma eficaz, razão pela qual as propostas devem ser claras, concretas e
com recursos visuais. A internalização das informações ocorrerá na medida em
que o docente de libras estiver atento, pois o mundo desta criança tem uma co-
notação visual maior em razão da surdez.
É por meio da linguagem que a criança desenvolve o pensamento e outras
relações cognitivas. Por isso, precisa de aulas com distintos materiais visuais,
que sirvam para estimular e proporcionar maior propriedade na aquisição do co-
nhecimento por meio da língua de sinais. De acordo com Quadros, “[...] a criança
surda que está passando por um processo de alfabetização imersa nas relações
cognitivas estabelecidas através da Língua de Sinais para a organização do pen-
samento, naturalmente passa a registrar as relações de significação que estabe-
lece com o mundo” (2000, p. 11).
No processo de aprendizagem alguns objetivos metodológicos são impres-
cindíveis:
71
Estudo da língua brasileira de sinais
•	 explorar as funções do apontar para que a criança inicie e se habitue a
fazer relações;
•	 priorizar o “olhar”, especialmente trabalhando o foco, para que centre a
atenção na atividade que está desenvolvendo, e a visão periférica, am-
pliando as possibilidades de percepção;
•	 explorar movimentos dos sinais (movimento interno e externo);
•	 usar expressões faciais e corporais (interrogativo, positivo, negativo,
triste, feliz...);
•	 utilizar classificadores (inclui relações descritivas, como as formas de
objetos, pessoas e animais);
•	 desenvolver estratégias para resolução de problemas;
•	 estabelecer relações e associações diversas;
•	 ampliar constantemente o vocabulário;
•	 explorar do alfabeto manual e as configurações.
As crianças surdas que têm sua condição respeitada e são estimuladas no
contexto familiar e escolar, com ensino a partir da língua sinais nas diferentes
áreas do conhecimento, têm possibilidades de aprender tanto quanto as ouvin-
tes. A diferença linguística não pode ser, em nenhum momento, impeditiva para
seu desenvolvimento cognitivo, pois a inclusão social e educacional parte da
perspectiva de conhecer, reconhecer e valorizar a diferença.
8.2 Estratégias e recursos didáticos visuais
Existem inúmeros recursos visuais que enriquecem o ensino dos surdos e
que facilitam a aquisição da língua e o aprendizado. O aluno internaliza os con-
ceitos e constrói significados, sendo imprescindíveis os recursos visuais nesse
processo. Quadros (2000, p. 102-110) sugere algumas possibilidades:
•	 fichário: consiste em uma caixa repleta de fichas padronizadas, com fi-
guras e palavras, de tudo o que se possa imaginar, que podem ser utili-
zadas em qualquer momento de aula, conversa ou brincadeira. O intuito
é mostrar à criança “o nome das coisas” em português ou em libras;
•	 dicionário libras/português: são dicionários bilíngues, imprescindíveis
nas escolas e salas onde são desenvolvidas as propostas educacionais
para surdos. O dicionário deve ser usado pelo professor sempre que hou-
ver dúvidas, incentivando o aluno à pesquisa;
72
Estudo da língua brasileira de sinais
•	 Dicionário configuração de mão: a ideia apresentada aqui é a adaptação
deste modelo de dicionário em que a base da procura não seja a letra,
mas a configuração de mão. A partir da configuração, a criança encontra-
rá as páginas e nelas a figura, sinal e a palavra em língua portuguesa;
•	 Caixa de gravuras: consiste numa caixa contendo inúmeras gravuras,
ricas em informações e visualmente atrativas, que serão utilizadas de
diversas formas com o objetivo de desenvolver e explorar o pensamento
e a criatividade da criança, representando grande auxílio para estimular
a sua produção escrita;
• 	 Caixa com histórias em sequência: uma caixa com histórias em sequên­
cia, tendo o cuidado de ampliar gradativamente as possibilidades, o nú-
mero de cenas e a profundidade dos temas.
8.3 Estratégias de avaliação
O ato de avaliar pode se configurar como mais uma possibilidade de apren-
dizagem. Entretanto, o processo de avaliação do surdo requer o entendimento
sobre seu modo de aprender, como processa as informações, sistematiza o conhe-
cimento e expressa o que pensa e entende.
É importante compreender que a avaliação extrapola as dimensões soma-
tórias, classificatórias ou eliminatórias. Pode, sim, ser entendida como uma
oportunidade de rever, ressignificar, qualificar, ampliar ou aprimorar o que se
aprendeu. Para avaliar o aluno surdo, é essencial verificar, observar e analisar
todos os aspectos, estando atento às particularidades de cada aluno surdo. Skliar
(1988, apud Thoma, 2000) cita alguns requisitos pertinentes ao assunto:
•	 organização de um contexto comunicativo apropriado às características
particulares do sujeito a avaliar (cabe lembrar que a língua de sinais não
é um instrumento que utilizamos para ensinar ao surdo, mas implica
uma língua que carrega com ela uma cultura e significados);
•	 uma análise sobre o que o sujeito estaria pronto a conhecer ou já conhece
e com quais instrumentos culturais o faz de acordo com uma obtenção
prévia do meio que rodeia o aluno ou aluna surdo(a) (aqui penso que se
insere a questão de o professor verificar o conhecimento prévio do aluno
com base numa sondagem sobre o meio em que o surdo vive, o tipo de
comunicação que se dá no meio familiar e, até mesmo, a perspectiva dos
pais com relação ao seu filho);
73
Estudo da língua brasileira de sinais
•	 a valorização do desenvolvimento, tanto no que se refere que a criança
surda é capaz de resolver por si mesma, como ao nível de suas poten-
cialidades, em uma situação de coorientação e colaboração com pares
(lembra-se o que já foi afirmado quando ao nosso papel de medir a rela-
ção aluno-aluno);
•	 o registro de tudo aquilo que o adulto diz ou faz e que pode modificar,
criar obstáculos, atrasar e/ou adiantar o processo de desenvolvimento da
criança (o próprio processo de avaliação, que muitas vezes não é adequa-
do, cria esses obstáculos).
Outrossim, estão em fase de construção os processos de ensinar e aprender
e, consequentemente, o processo de avaliação. Não há modelos prontos, que de-
terminem a melhor forma de ensinar e avaliar; se houvesse, estaríamos negando
a diferença dos surdos entre si, pois não são uma “categoria” que aprende do
mesmo jeito e no mesmo tempo, ao contrário, precisam ser respeitadas as pe­
culiaridades enquanto minoria linguística.
O fomento de pesquisas na área da surdez é essencial para que tenhamos
mais elementos norteadores da pedagogia surda, que inclui os processos de en-
sinar, aprender e avaliar o surdo.
74
Estudo da língua brasileira de sinais
9
O tradutor/intérprete
de língua de sinais
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
O corpo do Outro está diante de mim, mas quanto
a ele, leva uma singular existência: entre mim que
penso e esse corpo, ou melhor, junto a mim, a meu
lado, ele é como uma réplica de mim mesmo [...].
(Merleau-Ponty, 2002, p. 167).
O
tradutor/intérprete de língua de sinais (TILS) é um profissio-
nal que faz a mediação linguística entre a língua de sinais e a
língua oral e vice-versa. De acordo com o decreto no
5.626, de
dezembro de 2005, no capítulo V, artigo 18:
Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste decreto, a
formação de tradutor e intérprete de libras - língua portuguesa, em
nível médio, deve ser realizada por meio de:
I - cursos de educação profissional;
II - cursos de extensão universitária; e
III - cursos de formação continuada promovidos por instituições
de ensino superior e instituições credenciadas por secreta-
rias de educação [...].
Entretanto, pelo fato de ser uma atividade em processo de lega-
lização, é comum pensar que pessoas bilíngues em língua de sinais e
língua oral são intérpretes, pois este profissional atua em diferentes
esferas, dentre as quais educação, saúde, justiça, religião, recreações,
eventos culturais, educacionais e esportivos, mercado de trabalho e
também no contexto familiar. No entanto, esse é um grande equívo-
75
Estudo da língua brasileira de sinais
co, pois a formação do profissional TILS tem uma sistemática específica, que
requer competência linguística, referencial e tradutória, ou seja, uma formação
adequada.
O TILS educacional tem um papel primordial para a comunidade surda,
pois garante a acessibilidade de comunicação a uma minoria linguística e via-
biliza a aprendizagem no âmbito escolar. A tradução/interpretação no contexto
educacional difere das demais modalidades de tradução, porque requer intera-
ção, necessária para que se perceba se a tradução foi efetiva e eficaz. Elencamos
alguns procedimentos específicos do TILS em sala de aula:
a)	ser imparcial na tradução/interpretação em contextos formais ou infor-
mais nos quais protagonizam alunos surdos, professores, colegas e fun-
cionários das instituições de ensino;
b)	manter uma postura ética com o aluno surdo e demais pessoas da insti-
tuição, fazendo urgir o papel de profissional; para tanto, não cabe fazer
comentários, emitir opinião sem ser solicitado, tampouco executar tare-
fas particulares, ainda que pertinentes às questões escolares, mas que
são de responsabilidade exclusiva do aluno;
c)	 primar pela discrição no modo de vestir-se, de posicionar-se no local onde
será feita a tradução/interpretação, pela pontualidade, pois, em razão
da visibilidade inerente ao trabalho TILS, todos esses aspectos são de
grande importância;
d)	 construir e firmar uma postura clara quanto à relação aluno surdo/intér-
prete/professor, clarificando os papéis de cada um. O professor perma-
nece com a responsabilidade do ensino; o TILS, com a incumbência de
traduzir; o aluno, a de ser protagonista da aprendizagem;
e)	 esclarecer aos profissionais da educação o modo da escrita do surdo, pois
o registro da libras ainda está em construção, razão pela qual ao escre-
ver o surdo apoia-se na língua portuguesa. Além desse fator, há que se
ressaltar o déficit histórico da sua formação escolar, que muitas vezes
compromete o processo de aprendizagem e seus resultados;
f)	 estabelecer junto ao professor uma relação de mútuo auxílio, com o pro-
pósito de verificar com antecedência algumas adaptações necessárias,
como:
•	 respeitar o tempo necessário para olhar para o intérprete, para o
professor; anotar as informações do quadro e olhar para os materiais
que o professor estiver utilizando em sala de aula;
•	 providenciar filmes legendados;
76
Estudo da língua brasileira de sinais
•	 manter pequena iluminação durante a projeção de filmes ou slides
para que surdo e intérprete tenham preservadas as condições neces-
sárias para a visualização da interpretação;
•	 enviar ao aluno surdo o material para leitura prévia, possibilitando-
-lhe sanar dúvidas de interpretação de texto e vocabulário;
•	 solicitar que quaisquer leituras sejam feitas em bom tom e ritmo
adequado, o que garantirá uma boa interpretação;
•	 esclarecer às pessoas que falem diretamente com o aluno surdo, não
com o intérprete; o aluno surdo saberá como proceder;
g)	pesquisar e aprofundar os conhecimentos referentes ao conteúdo a ser
interpretado, pois, quanto mais propriedade o TILS tiver acerca do tema,
maiores serão as possibilidades da tradução ser fidedigna.
Traduzir e interpretar no universo de surdos e ouvintes significa despir-se
das próprias concepções para dar espaço e condições para que a comunicação
aconteça. Rompe-se a barreira da comunicação com a atuação profissional do
tradutor/intérprete, que se compromete com esse fazer.
77
Estudo da língua brasileira de sinais
10
Alteridade: constituição subjetiva
do ser humano
Ângela Mara Berlando Soares
Cristine Fátima Pereira Luna
	 A pergunta que não quer calar: “Quem sou”?
A
s redes de relacionamentos virtuais – blogs, Orkut, Facebook,
Myspace, Twitter, Messenger, dentre outros – contêm a dilemáti-
ca indagação: “Quem sou?”. A pergunta nesses veículos de comu-
nicação é feita claramente ou aparece nas entrelinhas, com a sutil tentati-
va de esboçar um perfil, um pouco do que se é ou se pretende ser. O sujeito
que protagoniza a rede de comunicação virtual elabora um perfil pessoal,
social e profissional, que pode ser real ou apenas virtual, construindo uma
espécie de identidade. Os estilos escolhidos para a apresentação do perfil
são variados: dos poéticos aos filosóficos, dos mais jocosos e ousados aos
comuns, ao passo que outros são restritos apenas a uma interrogação“?”
A questão subjetiva das descrições que cada membro apresenta na
tentativa de responder a “Quem sou?” é de grande relevância, porque evi-
dencia a necessidade que o indivíduo possui de se mostrar ao outro como
único, diferente, verdadeiro, evidenciando a singularidade. A intenção
também pode ser demonstrar algo de si, “explicar-se” e causar algum im-
pacto que irá acionar no outro sua aceitação ou rejeição.
Com esse breve exemplo, pretendemos elucidar a seguinte questão: a
constituição do sujeito se dá a partir da relação que se estabelece com os
pares – os outros –, que são todas as pessoas do meio de relacionamento
ou com as quais nos deparamos no decorrer de nossas vidas. O outro, que
naturalmente é diferente, inscreve algo e interfere na formação da iden-
tidade e personalidade – que ocorre desde o nascimento –, provocando
emoções e sentimentos diversos, como admiração, indiferença, empatia,
78
Estudo da língua brasileira de sinais
repulsa, preconceito, incômodo, dentre outros. Assim, o olhar do outro é que huma-
niza o indivíduo.
Segundo Velho (1986), a noção de outro ressalta que a diferença constitui a vida
social, na medida em que esta se efetiva por meio das dinâmicas das relações sociais.
A diferença é, simultaneamente, a base da vida social e fonte permanente de tensão
e conflito. Assim, a opinião do outro provoca reações, razão por que é importante
salientar que no contexto da surdez o grupo familiar tem papel fundamental, pois os
primeiros registros que o bebê surdo tem são decisivos no processo de constituição de
sua personalidade e refletirão em toda a sua vida; será inscrito, desde tenra idade, se
é um ser capaz ou incapaz, apto ou inapto, competente ou incompetente.
Esse processo adquire dimensão maior à medida que se ampliam as relações
sociais – com outros familiares, no ambiente escolar, na sociedade em geral. O surdo,
como qualquer outro indivíduo, constrói a sua historicidade a partir do olhar do outro,
como explica Ciampa: “[...] cada indivíduo reconhece no outro um ser humano e é
assim reconhecido por ele – sozinhos certamente não poderemos ver reconhecida nos-
sa humanidade, consequentemente não nos reconhecemos como humanos. Ter uma
identidade humana é ser identificado e identificar-se como humano!” (1998, p. 8).
As relações sociais estão imbuídas de significado e a construção da identidade
do sujeito depende – ou decorre – do ponto de vista do outro, da opinião, tornando
possível sua formação individual. Bakhtin1
2(1999), ao escrever diversos ensaios so-
bre o tema, afirma que o eu só existe em diálogo com os outros, e sem esta relação é
impossível ou improvável definir-se ou constituir-se. O processo de autocompreensão
ocorre por meio da alteridade, isto é, pela aceitação e percepção dos valores que o
outro atribui, que ocorre desde o nascimento e se estende na sequência da sua vida.
Para Arruda, “a diferença aparece como o contorno mais saliente e intrigante
da alteridade. Sinuoso, ele tanto pode afastar como aproximar. O desenho do outro,
mais que um retrato, talvez seja um holograma: uma projeção em movimento, e
como tal, um pedaço de mim, prestes a esvaecer. A representação aplaca instantane-
amente o conteúdo perturbador do outro, trabalhando-o. Torna-se assim, a diferença
incorporada, dando forma ao holograma”. (1998, p. 17).
O outro torna-se imprescindível, pois delimita e constrói o espaço de atuação
do sujeito no mundo, representando o sujeito ideológico. Nessa perspectiva, “quem
sou” depende de como o outro me percebe, e nesta relação é que se experimenta a
possibilidade do acabamento, da completude, de complementaridade.
Essa é a razão de se investir na capacidade, pois, respeitando a condição de
surdez, maiores serão as possibilidade de aprendizagem e de uma vida autônoma.
1
	 Bakhtin (1895-1975) linguista com reconhecimento a partir da década de 90, quando alcançou
um grande prestígio; atualmente, é considerado um dos autores mais referenciados na teoria
da alteridade.
79
Estudo da língua brasileira de sinais
Referências
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Niemeyer, 1992.
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10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais -
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80
Estudo da língua brasileira de sinais
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WILCOX, Sherman; WILCOX, Phyllis Perrin. Aprender a ver. Trad. de Tarcísio de Arantes
Leite. Rio de Janeiro: Arara Azul, 2005.
81
Estudo da língua brasileira de sinais
Sobre os autores
Andréia Mendiola Marcon: mestranda em Letras, especialista em Libras, pedagoga,
tradutora/intérprete de Libras da Universidade de Passo Fundo.
Ângela Mara Berlando Soares: mestra em Educação, psicopedagoga clínica e ins-
titucional, especialista em Educação Especial e Formação de Profissionais Integra-
dores, coordenadora do Setor de Atenção ao Estudante da Universidade de Passo
Fundo.
Cristine Fátima Pereira Luna: graduanda do curso Letras Libras Bacharelado da
Universidade Federal de Santa Catarina, tradutora/intérprete de Libras da Universi-
dade de Passo Fundo. Docente nos cursos de Capacitação para tradutor/intérprete
de Libras.
Monique Giusti Reveilleau: pedagoga, especialista em Educação Especial, docente
na disciplina de Libras da Universidade de Passo Fundo.
Tatiane de Souza da Anhaia: pedagoga, especialista em Educação Especial, gradu-
anda do curso Letras Libras Licenciatura da Universidade Federal de Santa Catari-
na, docente na disciplina de Libras da Universidade de Passo Fundo.

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Conhecendo a diferença na aprendizagem

  • 1. ESTUDOS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna Monique Giusti Reveilleau Tatiane de Souza da Anhaia didática c o l e ç ã o
  • 2. UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO José Carlos Carles de Souza Reitor Neusa Maria Henriques Rocha Vice-Reitora de Graduação Leonardo José Gil Barcellos Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Lorena Terezinha Geib Vice-Reitora de Extensão e Assuntos Comunitários Agenor Dias de Meira Júnior Vice-Reitor Administrativo UPF Editora Carme Regina Schons Editora CONSELHO EDITORIAL Altair Alberto Fávero Alvaro Della Bona Ana Carolina Bertoletti de Marchi Andrea Poleto Oltramari Carme Regina Schons Cleiton Chiamonti Bona Elci Lotar Dickel Fernando Fornari Graciela René Ormezzano João Carlos Tedesco Renata Holzbach Tagliari Rosimar Serena Siqueira Esquinsani Sergio Machado Porto Zacarias Martin Chamberlain Pravia
  • 3. Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna Monique Giusti Reveilleau Tatiane de Souza da Anhaia 2011 ESTUDOS DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna Monique Giusti Reveilleau Tatiane de Souza da Anhaia didática c o l e ç ã o
  • 4. Copyright © Editora Universitária Maria Emilse Lucatelli Editoria de Texto Sabino Gallon Revisão de Emendas Alisson Gampert Spanemberg] Produção da Capa Sirlete Regina da Silva Projeto gráfico e diagramação Mario Geovani dos Santos Desenhos Este livro no todo ou em parte, conforme determinação legal, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização expressa e por escrito do autor ou da editora. A exatidão das informações e dos conceitos e opiniões emitidos, as imagens, tabelas, quadros e figuras são de exclusiva responsabilidade dos autores. Editora UPF afiliada à Associação Brasileira das Editoras Universitárias ISBN – 978-85-7515-463-2 UPF EDITORA Campus I, BR 285 - Km 171 - Bairro São José Fone/Fax: (54) 3316-8373 CEP 99001-970 - Passo Fundo - RS - Brasil Home-page: www.upf.br/editora E-mail: editora@upf.br
  • 5. À comunidade surda pela trajetória da aprendizagem...
  • 6. Sumário Apresentação..................................................................................................8 1 Conhecer e reconhecer a diferença nas relações de aprendizagem..........10 Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna 2 Indagações iniciais........................................................................................12 Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna Monique Giusti Reveilleau Tatiane de Souza da Anhaia 3 “Ser surdo”...................................................................................................14 Ângela Mara Berlando Soares Monique Giusti Reveilleau 4 Retrospectiva histórica da educação e da cultura surda.............................18 Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna 5 Língua de sinais............................................................................................22 Cristine Fátima Pereira Luna Monique Giusti Reveilleau
  • 7. 6 Sinais básicos das libras................................................................................29 Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna Monique Giusti Reveilleau Tatiane de Souza da Anhaia 7 Perspectivas da educação de surdos ao longo da história Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna Tatiane de Souza da Anhaia 8 Aquisição da linguagem pela criança surda................................................ 67 Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna 9 O tradutor/intérprete de língua de sinais...................................................74 Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna 10 Alteridade: constituição subjetiva do ser humano..................................... 77 Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna Referências...................................................................................................79 Sobre os autores........................................................................................... 81
  • 8. 8 Estudo da língua brasileira de sinais Apresentação Q uando uma instituição como a UPF determina o cumprimen- to de sua excelência na formação docente, busca contemplar todos os espaços possíveis no eixo ensino-aprendizagem. Para isso, a Divisão de Graduação lançou o edital para participação no pro- jeto Série de Livros Didáticos. Nesse sentido, o colegiado da discipli- na de Libras do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), e profissionais vinculados ao Setor de Atenção ao Estudante (SAEs)1 dedicaram-se à produção desta obra, processo que se fez com muito entusiasmo e enorme afinco. Como toda língua, a língua brasileira de sinais (libras) é dinâ- mica, reformula-se constantemente, possui estrutura gramatical. Por esse motivo, a organização deste material teve o cuidado de propor um desenvolvimento gradual em contexto, dirigido aos alunos e futuros professores, em formato atual, acessível e prático. A equipe elaborou com propriedade textos pertinentes e ilustrações detalhadas, conju- gando suas performáticas, características, crenças e verdades. Para aprender toda e qualquer língua, além de conhecer seus as- pectos sintáticos, morfológicos ou fonológicos, é relevante integrar-se à cultura inerente à mesma, pois só assim é possível assimilar a capa- cidade de comunicação, a qual justifica a sua existência. O resultado não poderia ser diferente, porque desde o início hou- ve clareza no objetivo: desenvolver uma obra que preencha a lacu- na no processo de formação dos futuros professores, ora acadêmicos dos cursos de licenciatura, configurando-se como importante subsídio para sua aprendizagem sobre as temáticas da surdez e da libras. Na mesma medida, estende-se aos estudantes e professores dos demais cursos de graduação e pessoas interessadas, que, com o acesso às in- formações contidas na obra, têm a oportunidade de ampliar os conhe- 1 Setor da UPF que desenvolve programas e ações que garantem a acessibilidade das pessoas com deficiência.
  • 9. 9 Estudo da língua brasileira de sinais cimentos e ressignificar concepções acerca dos temas abordados, intervindo po- sitivamente no processo de inclusão social e educacional. Despertar interesse em aprender libras é uma das conquistas desse proje- to pela simples razão de que o planejamento levou em conta a importância do encantamento contido em toda linguagem. Dessa forma, esta obra apresenta técnicas para que os aprendizes consigam compreender e utilizar de fato os co- nhecimentos que a proposta oferece. A equipe pensa e atua com muita seriedade e competência. Dessa manei- ra, aprendendo a nos inserir no universo humano, podemos imaginar um mun- do melhor. A linguagem humana, em sua abrangência e complexa diversidade, nasce da necessidade de comunicação, de estabelecer as relações humanas e, sobretudo, cidadãs. Dora Angélica Segovia de Rodrigues Mestra em Letras, Professora da área de Línguas Estrangeiras e docente nos cursos de Letras e Secretariado Executivo da Universidade de Passo Fundo
  • 10. 10 Estudo da língua brasileira de sinais 1 Conhecer e reconhecer a diferença nas relações de aprendizagem Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna P ara que a aprendizagem aconteça, a relação entre os protago- nistas é de grande relevância. Se partirmos da premissa de que os sujeitos ora aprendem, ora ensinam, estabelecemos uma re- lação de complementaridade, de troca, de interação. Entretanto, como atingir esse ideal se os alunos são diferentes entre si, com muitas peculiaridades? A heterogeneidade é característica das sociedades porque o sujeito é, por natureza, singular, e nesse contexto nos depa- ramos com a diversidade de modos de ser, de aprender, de construir o conhecimento. Nas relações de aprendizagem entre surdos e ouvintes, é fun- damental conhecer a diferença, pois a partir dela compreendemos os processos de ensinar e aprender. Noutros tempos nos contentávamos com uma relação de ensino linear, como se as pessoas aprendessem no mesmo tempo e de igual maneira, e insistíamos fortemente neste pa- radigma, no qual prevalecia a padronização. Ao conhecer e reconhecer a diferença, compreendendo-a como algo natural, não como déficit ou desvantagem, abre-se espaço para novas concepções acerca da apren- dizagem. Pozo (2002), na sua obra Aprendizes e mestres, enfatiza que há novos cenários de aprendizagem, constituídos por novos perfis e modalidades de aprender, tornando-se emergencial um novo perfil de quem ensina e distintas possibilidades que viabilizem a aprendiza- gem.
  • 11. 11 Estudo da língua brasileira de sinais Segundo Humberto Maturana (2009), ensinar é criar um espaço de convi- vência, sendo da competência do professor a condução do processo. Para isso, o acolhimento do aluno é de extrema importância. Ao acolher o sujeito, acolhem-se a dúvida, a curiosidade, a inquietação, quesitos necessários para que a aprendi- zagem ocorra. Para aprender é essencial a constituição de um espaço propício e fecundo, no qual a especificidade do sujeito seja respeitada e possam ocorrer as relações de aprendizagem, nos vieses de ensinar e aprender. A constituição desse espaço ocorre à medida que os sujeitos se envolvem e convivem de maneira propositiva, questionando, duvidando, lidando com informações, materializando a rede invisível de conexões das ideias, teorias, conceitos até chegar ao conheci- mento e sua aplicabilidade. Como protagonistas nas relações de aprendizagem, é importante lançar um olhar sobre os modelos educacionais e os referenciais teóricos que interferem nas concepções sobre a diferença entre surdos e ouvintes, seja nos aspectos culturais, seja nos linguísticos, os quais nortearam as práticas sociais e educacionais ao longo da história. Santos enfatiza que é premente compreender que “[...] temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igual- dade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades” (2003, p. 56). Os processos de ensinar e aprender dos surdos são temas profícuos nas instituições de ensino e nos diferentes espaços sociais, que pressupõem modifi- cações profundas para que adquiram a dimensão e força de romper paradigmas de incapacidade ou deficiência e, simultaneamente, (re-)constituir espaços e re- lações que viabilizem a percepção das potencialidades do surdo e qualifiquem sua aprendizagem.
  • 12. 12 Estudo da língua brasileira de sinais 2 Indagações iniciais Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna Monique Giusti Reveilleau Tatiane de Souza da Anhaia • Surdez é doença? Não. A surdez priva o surdo de ouvir, porém não o impede de se co- municar. A surdez pode ter causa congênita ou ser adquirida ao longo da vida. • Todo surdo é mudo? São muito raros os casos em que o surdo é mudo. Mudez nem sempre tem conexão com a surdez. “Surdo-mudo” é, provavelmente, a deno- minação mais arcaica e incorreta sobre a surdez. • O surdo consegue falar? O surdo tem capacidade de oralizar, que é fazer uso de sua capacidade fonadora por meio de exercícios fonoaudiológicos. Ao ser oralizado, o surdo não passa a “ouvir”, mas tem na oralização uma estratégia de comunicação com os ouvintes. • O uso de aparelho auditivo é indicado para surdos? Cada caso tem suas peculiaridades. Por isso, é essencial uma investi- gação detalhada e a opção do surdo deve ser respeitada. • É possível o surdo fazer leitura labial?
  • 13. 13 Estudo da língua brasileira de sinais A leitura labial é uma estratégia utilizada por alguns surdos oralizados. É im- portante salientar que nunca será possível ler na totalidade a sequência de palavras pronunciadas e que, provavelmente, haverá perdas de elementos, in- terferindo na compreensão do que foi dito. • Como o surdo se comunica? Os surdos podem utilizar diferentes modos de comunicação: expressões faciais e corporais, escrita, indicações (apontamentos) do que deseja. Entretanto, é importante salientar que a língua materna dos surdos é a língua de sinais. • O que são línguas de sinais (LS)? As línguas de sinais são sistemas linguísticos para a transmissão de ideias e fatos, capazes de expressar conceitos abstratos. São utilizados pelas comunida- des surdas como sua língua natural, sendo diferentes em cada país. • Língua brasileira de sinais (libras): A libras é a língua materna dos surdos do Brasil. Tem estrutura gramatical própria, status de língua e é reconhecida como a segunda língua oficial do país pela lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Para saber mais, visite os sites e blogs http://www.feneis.com.br http://www.editora-arara-azul.com.br http://www.filmeseducativos.com http://www.vezdavoz.com.br http://www.alfabetosurdo.com http://www.legendanacional.com.br http://www.deficienteonline.com.br http://www.acessobrasil.org.br http://www.dicionariolibras.com.br http://www.inilibras.com.br http://www.webartigos.com/articles/3639 http://ensinodelibras.blogspot.com http://aprendolibras.blogspot.com http://trabalhandocomsurdos.blogspot.com http://www.contextualizandoalibras.blogspot.com http://ensinandoeaprendendocomatiarose1.blogspot.com http://anacarolinafrank.blogspot.com www.tvararaazul.blogspot.com
  • 14. 14 Estudo da língua brasileira de sinais 3 “Ser surdo” Ângela Mara Berlando Soares Monique Giusti Reveilleau A presentamos algumas cenas para posterior análise e discus- são. Os comentários partem da experiência de surdos e ou- vintes ao se depararem com a condição da surdez: Cena 1 - Encontrando um surdo pela primeira vez As pessoas veem os surdos conversando em língua de sinais na rua, nas escolas e em outros espaços e demonstram diversos senti- mentos: algumas ficam impressionadas, outras curiosas ou, ainda, compadecidas, com pena dos surdos, afinal eles não ouvem. A verdade é que os ouvintes nem sempre entendem o que está acontecendo e suas reações são diferentes, geralmente por falta de informação.
  • 15. 15 Estudo da língua brasileira de sinais Cena 2 - Surdos conversando em língua de sinais É importante que a sociedade conheça o modo de vida dos surdos, que pos- sui algumas peculiaridades, relacionadas a sua cultura e identidade. No entanto, é preciso aceitar a diferença do sujeito surdo, assim como é importante aceitar a diferença do ouvinte, compreendendo que todos têm capacidade de aprender, de emitir sua opinião, de expressar seus desejos e se comunicar. As cenas 3 e 4 representam situações vivenciadas por Monique Giusti Reveil­leau. Cena 3 - Insistência em oralizar “Quando eu era pequena, tinha mais ou menos 10 anos de idade, eu ficava brava com Deus e queria saber: ‘Por que Ele fez isso comigo? Por que sou surda?’ Sofria muito, era muito nervosa, triste, e chorava muito porque minha fala não era boa o bastante, as pessoas tentavam me entender, mas não conseguiam. Já estava muito cansada de tanto falar.”1 1 Neste contexto, falar significa oralizar, que é a tentativa de reabilitação da fala por meio de exercícios fonoaudiológicos
  • 16. 16 Estudo da língua brasileira de sinais Cena 4 - Surdo e a língua de sinais “Não sabia nada sobre surdez... Aos 13 anos, descobri que a língua de si- nais existia e era a língua natural de surdos... Fiquei encantada e maravilhada. Quando vi pela primeira vez a língua de sinais, percebi que existiam pessoas iguais a mim. Era como outro mundo e a partir desse momento mudei minha vida completamente... Meus olhos brilharam muito ao ver as mãos lindas se comunicando.” 3.1 Entender a condição da surdez para perceber as possibilidades A maioria passa por situações semelhantes às das charges e a sociedade em geral carece de informações claras sobre a surdez e suas implicações. Na tentativa de “padronizar”, cometem-se erros, principalmente pela insistência de que o surdo “fale” do mesmo modo como os ouvintes. São inúmeras situações constrangedoras que interferem na construção da identidade do surdo, que é privado de se expres- sar pela sua língua materna (língua de sinais) e forçado a utilizar a língua oral. Entretanto, existem casos em que se respeita a diferença linguística e cul- tural, inicialmente pelo grupo familiar, que se traduz pela aceitação da surdez, pelo investimento na trajetória de aprendizagem do sujeito e no incentivo à cons- trução de sua autonomia. Essas ações, tão simples, mas importantes, estendem- -se para o contexto educacional e social do qual o surdo faz parte. O posiciona- mento de Monique referenda o que salientamos anteriormente: A minha família sempre me apoiou muito, principalmente minha mãe. Ela sempre me acompanhou para fazer os temas de casa, trabalhos, estudar para as provas, etc. Ficava o tempo todo comigo e o meu pai com os meus dois irmãos porque era eu quem precisava mais ajuda. Hoje eu agradeço à minha mãe, que sempre me incentivou a estudar...
  • 17. 17 Estudo da língua brasileira de sinais Na escola tive muitas dificuldades, as pessoas não sabiam a importância da lín- gua de sinais e a comunicação não acontecia. Depois de muitos anos, passei no vestibular para o curso de Pedagogia – Anos Iniciais na UPF. Foi muita alegria, principalmente porque eu e duas colegas surdas tivemos um tradutor/intérprete de libras (TILS) pela primeira vez. Loreni Lucas dos Santos, a TILS, participou de nossa formação profissional, possibilitando a comunicação e o acesso ao conhecimento. Hoje sou pedagoga, professora de libras, casada, mãe de dois filhos ouvintes, dedicada e realizada. Tudo o que eu consegui valeu a pena. Desejo muito que outros surdos também lutem pelo seu futuro, sem sofrimen- tos e sem preconceito, que sejam respeitados e aceitos pela sociedade. Por isso, é importante nunca desistir dos seus sonhos!
  • 18. 18 Estudo da língua brasileira de sinais 4 Retrospectiva histórica da educação e da cultura surda Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna P retende-se, a partir da retrospectiva histórica sobre a educação e cultura surda, buscar elementos para a compreensão do con- texto da surdez, os quais permitirão analisar os processos de inclusão social e o desenvolvimento educacional dos surdos na atuali- dade. Para tanto, tomamos como base a pesquisa “Para uma cronolo- gia da educação dos surdos”, realizada por Cabral (2001), professor de educação especial de Portugal, que apresenta, em ordem cronológica, os registros encontrados a respeito da história dos surdos no mundo. 4.1 Raízes do (pré)conceito Consta que no antigo Egito do séc. XVI a.C. os egípcios acredita- vam que não era possível educar as pessoas surdas. O notável filósofo Sócrates, que viveu no século V a.C., afirmou que “os surdos têm que usar o gesto e a pantomina”1 (Cabral, 2001), e Aristóteles teria conclu- ído que, apesar de os surdos emitirem sons, seriam incapazes de falar, razão por que não teriam a capacidade de fazer o uso da razão. 1 Pantomina – representação de ideias por meio de gestos, sem os recursos das palavras, um modo de narrar com o corpo.
  • 19. 19 Estudo da língua brasileira de sinais Durante os séculos X a IX a.C., as leis permitiam que os recém-nascidos com sinais de debilidade ou algum tipo de má formação fossem lançados ao monte Taigeto (Grécia Antiga). O imperador Justiniano, em 529 a.C. criou uma lei que impossibilitava os Surdos de celebrar con- tratos, elaborar testamentos e até de possuir propriedades ou reclamar heranças (com exceção dos surdos que conseguiam oralizar). (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_dos_surdos). 4.2 Protagonistas do início da mudança da história Considerado um dos primeiros relatos comprovando que uma pessoa surda pode ser educada foi o do holandês Rudolphus Agricola, filósofo, professor e con- siderado modelo humanista. Em seu livro De inventione dialectica (1479), publi- cou a experiência de ter ensinado uma criança surda a se comunicar oralmente e a escrever. Dessa forma, provou a capacidade de uma pessoa surda expressar seus pensamentos, suas emoções e opiniões. Era o início de uma influência posi- tiva para a comunidade surda. No século seguinte, o médico Girolano Cardano (1501-1576) apresentaria a teoria de que a audição e o uso da fala não são con- dições para o desenvolvimento e compreensão das ideias e de que a surdez seria uma barreira à aprendizagem, não uma condição mental (Cardano apub Soares, 2005, p. 17). Seguindo a cronologia de Cabral surgiu o monge beneditino Pedro Ponce de León (1520-1584), considerado um dos pioneiros na educação dos surdos e que trabalhava com o método da datilologia,2 da escrita e do oralismo. Ao longo dos séculos muitos foram os protagonistas de teorias a favor ou contra o uso da língua de sinais, do oralismo, da datilologia. Surgiram várias metodologias de ensino e suposições a respeito do desenvolvimento cognitivo das pessoas surdas, técnicas para o treino da fala, juntamente com novas descober- tas científicas acerca da fisiologia da audição, procedimentos clínicos na tenta- tiva de reverter a surdez muitas vezes resultando na morte das pessoas surdas submetidas a tais experimentos. 2 Datilologia – termo utilizado para o uso do alfabeto manual.
  • 20. 20 Estudo da língua brasileira de sinais 4.3 Fatos que marcaram um novo capítulo na história Em 1760 Charles Michel de L’Épée, educador filantrópico francês, abriu a primeira escola pública para surdos em Paris, a Institution Nationale des Sour- ds-Muets à Paris (Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris). A partir de então, os surdos passaram a receber uma formação com uma metodologia em si- nais, desenvolvida pelo próprio L’Épée, que em 1776 publica um livro a respeito. Nesse período os surdos passaram a atuar de maneira propositiva em diversos países que adotaram o método de L’Éppé e, instruídos, começaram a trabalhar como educadores das crianças surdas na aquisição da linguagem em sinais. Pierre Desloges, um surdo que trabalhava como encadernador de livros, revoltou-se diante das colocações do religioso abade Deschamps, o qual afirma que a comunicação por sinais dos surdos não podia ser considerada uma língua e, portanto, era inadequada para a educação das crianças surdas. Desloges, com o objetivo de “defender minha língua contra as falsas acusações desse autor” (Moody, 1987, apud Wilcox, 2005, p. 37), sentiu-se desafiado a escrever um livro, Observações de um surdo-mudo (1779), explicando acerca das línguas de sinais utilizadas pelos surdos e descrevendo a ordem dos enunciados sinalizados, suas combinações e a precisão dos sinais. Foi essa uma tentativa empírica do jovem surdo em suas observações de sistematizar a língua de sinais, o que certamente deve ter causado um grande impacto na sociedade parisiense a respeito dos con- ceitos cognitivos que na época se tinha sobre o surdo. 4.4 Congresso em Milão A trajetória educacional do surdo foi fortemente marcada por uma impo- sição cultural ouvintista.3 O ápice foi o Congresso de Milão em 1880, com a re- solução de que a modalidade de ensino para os surdos passaria a ser a “oral”, considerada pelos participantes como superior à língua de sinais. A partir de então, os surdos que conseguiam “falar” eram considerados excepcionalmente inteligentes e, em consequência, os que sinalizavam eram marginalizados e de- preciados por seus mestres, famílias e sociedade. O processo educacional dos surdos foi drasticamente comprometido pela imposição do método oralista, pois, 3 Os termos ouvintista, ouvintismo etc. são derivações de “ouvintização”, que, segundo a concepção de Skliar, sugere “uma forma particular e específica de colonização dos ouvintes sobre os surdos. Supõe representações práticas designificação, dispositivos pedagógicos, etc., em que os surdos são vistos como sujeitos inferiores” (1999, p. 7).
  • 21. 21 Estudo da língua brasileira de sinais ao contrário do que se pensava e se concluíra naquela época, essa imposição foi de encontro às primeiras pesquisas, que apontavam o método oral/auditivo como não sendo o canal de alcance da aprendizagem e significação do mundo dos sur- dos e, sim, por definição natural, o canal visual/gestual. 4.5 Educação dos surdos no Brasil Em 26 de setembro de 1857, por decisão de Dom Pedro II, foi aprovada a lei de nº 939/1857, que dispôs verba para a criação do Imperial Instituto dos Sur- dos-Mudos no Rio de Janeiro Brasil. O instituto iniciou com dez meninos surdos, instruídos pelo professor surdo Hernest Huet na Língua de Sinais Francesa – LSF. Em 1911, em razão da influência da Europa, o INES adotou a modalidade educacional oralista, proibindo o uso da língua de sinais. Em 1957 o instituto passou a ser chamado de Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES),4 como é conhecido atualmente. Os surdos, oprimidos no passado pela sociedade, constituída majoritaria- mente por ouvintes, carregam as marcas da história e das concepções que os rotularam como incapazes, dependentes, desprovidos de potencialidades. Essas ideias são confirmadas no cotidiano quando, em algumas situações, os surdos permitem a opressão e não se posicionam diante das dificuldades, aceitando ajuda ao invés da efetivação de seus direitos, especialmente do ser surdo, de ser respeitado como minoria linguística e reconhecido como cidadão. Na mesma me- dida, os ouvintes reforçam as concepções errôneas quando tendem a superprote- ger ou favorecer o surdo ao invés de acreditar no seu potencial e na capacidade de protagonizar a sua própria história e construir uma identidade autônoma. 4 Para saber mais acesse o site <http://www.ines.gov.br/Paginas/historico.asp>
  • 22. 22 Estudo da língua brasileira de sinais 5 Língua de sinais Cristine Fátima Pereira Luna Monique Giusti Reveilleau A língua de sinais utiliza a comunicação visuoespacial. Por esse motivo, quase não se encontram registros da sua historicidade,sendo difícil localizar e comprovar sua origem. Os estudos linguísticos das línguas de sinais têm como marco os trabalhos realizados pelo linguista escocês William C. Stokoe em 1957, docente do Departamento de Inglês do Gallaudet College, em Washington, nos Estados Unidos. Quando iniciou na Gallaudet, Stokoe desconhecia a língua de si- nais americana (ASL). Nessa época os professores da instituição eram ouvintes e ensinavam inglês aos alunos surdos; não havia aulas de ASL, porque era desconsiderada como língua. Ao observar a diferença entre a sinalização das palavras em inglês durante as aulas e a sina- lização quando os surdos se comunicavam entre si, Stokoe percebeu uma autonomia na comunicação sinalizada. Ao conseguir um finan- ciamento do governo norte-americano, teve a possibilidade de desen- volver pesquisas acerca das sinalizações produzidas pelos surdos fora das aulas. As conclusões de sua pesquisa demonstraram que a sinalização não dependia de uma língua falada, no caso o inglês, e que seguia uma gramática própria. Assim Stokoe publicou em 1960 seus estudos na obra Language structure: an outline of the visual communication syste- ms of the american deaf. A divulgação e a disseminação de seus estudos revolucionaram a visão linguística, pois, ao mostrar que as línguas de sinais são línguas naturais, concedeu-lhes o status de língua.
  • 23. 23 Estudo da língua brasileira de sinais 5.1 Organização neural da língua de sinais Estudos desenvolvidos por Rodrigues (1993) sobre a organização neural da linguagem no cérebro, do ponto de vista biológico, enfatizam que ocorre de forma semelhante para línguas orais e línguas sinalizadas. As pesquisas nesse campo fornecem elementos para que possamos com- preender como ocorre a linguagem para o surdo. Tomando como base a análise das testagens aplicadas em pacientes surdos com lesões cerebrais, Rodrigues constatou que existe uma separação entre linguagem e funções visuoespaciais, com forte evidência de que os aspectos gramaticais das línguas sinalizadas são lateralizados para o hemisfério esquerdo do cérebro. A organização da lingua- gem, tanto para um grupo de ouvintes como para um grupo de surdos, apresenta semelhanças no período das primeiras aprendizagens. O canal de comunicação “natural” é distinto quanto à predominância no re- cebimento de estímulo para cada um desses grupos, ou seja, para o grupo de ou- vintes é natural que a via de comunicação preferencial se dê pela audição e pela fala, pois esta predomina no recebimento de estímulos, ao passo que no grupo de surdos, pelo fato de não ouvir, passa naturalmente a predominar o canal vi- suoespacial como principal via de comunicação. “[...] Essa maior habilidade para discriminar e seguir estímulos, no caso dos movimentos das mãos, na periferia do campo visual é uma grande vantagem para o surdo, a qual não é aproveitada caso ele não utilize a língua de sinais” (Rodrigues, 1993, p. 16). Nesse sentido, é imprescindível a estimulação do canal visuoespacial com os bebês surdos, pois a aquisição da linguagem interfere no seu desenvolvimento geral, especialmente no aspecto cognitivo. 5.2 Língua brasileira de sinais Contrário ao modo como muitos definem a surdez [...] pessoas surdas definem-se em termos culturais e lingüísticos. Wrigley A língua brasileira de sinais (libras) é a usada pela comunidade surda no Brasil. A libras foi oficializada por meio da lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Art. 1o - É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasi- leira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora,
  • 24. 24 Estudo da língua brasileira de sinais com estrutura gramatical própria, constitue um sistema lingüístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil (Decreto nº 5.626 de 22 de dez de 2005). As línguas de sinais são basicamente produzidas pelas mãos e sua estru- tura gramatical aporta os níveis linguístico, fonológico, morfológico, sintático e o semântico. As expressões corporais e faciais também desempenham impor- tantes funções gramaticais. Como qualquer outra língua, possui regionalismos, dialetos, gírias e neologismos. Elementos essenciais da gramática da libras A - Alfabeto manual São representações do alfabeto latino produzido com as mãos escrevendo no ar, por meio da digitação manual chamada de “datilologia”, as quais juntando as letras, formam uma palavra. É usado como empréstimo da língua nacional para sinais que ainda não existem, como, por exemplo, de cidades, nomes de pessoas, conceitos, entre outros. Por exemplo: Passo Fundo [P-A-S-S-O_F-U-N-D-O]. O alfabeto é característico de cada país. Confira o alfabeto da língua americana de sinais <http://www.surdo.org.br/informacao.php?lg= pt&info=AlfaAmericano> e o da língua de sinais espanhola <http://www.surdo.org.br/informacao.php?lg=pt&info=AlfaEspanhol>
  • 25. 25 Estudo da língua brasileira de sinais
  • 26. 26 Estudo da língua brasileira de sinais B - Configurações Na estrutura gramatical da libras as configurações de mãos (CM) são uni- dades mínimas usadas na produção de um sinal.
  • 27. 27 Estudo da língua brasileira de sinais Os sinais APRENDER e AMAR têm a mesma configuração de mão. Aprender Amar C - Ponto de articulação São sinais produzidos no espaço (à frente, acima, abaixo, à esquerda e/ou à direita do corpo), podendo tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro. Os sinais TRABALHAR e BRINCAR localizam-se no espaço neutro e os sinais ESQUECER e APRENDER, na testa Trabalhar Brincar Esquecer Aprender D - Movimento Os sinais podem ter um movimento ou não. O sinal cachorro-quente não tem movimento, e os sinais FALAR e BRINCAR têm. Cachorro-quente Falar Brincar
  • 28. 28 Estudo da língua brasileira de sinais E - Orientação/direcionalidade Os sinais têm uma direção com relação aos parâmetros acima. Os ver- bos IR e VIR, SUBIR e DESCER, ACENDER e APAGAR têm relação com a direcionalidade. F - Expressão facial e/ou corporal Por serem extremamente visuais, as expressões faciais e corporais são mui- to importantes nas línguas de sinais. A língua de sinais tem sentimento, emoção, como ALEGRE e TRISTE. Segundo Quadros e Karnopp (2004), algumas expres- sões marcam gramaticalmente as sentenças, como nos sinais COMO e AGORA. Salientamos que todos os itens abordados são de grande relevância para o aprendizado da libras, no entanto representam os elementos gramaticais bási- cos. A libras, como as demais línguas, é dinâmica e evolui de acordo com a comu- nicação que acontece na comunidade surda.
  • 29. 29 Estudo da língua brasileira de sinais 6 Sinais básicos das libras Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna Monique Giusti Reveilleau Tatiane de Souza da Anhaia Pronomes EU TU/VOCÊ ELE/ELA NÓS MEU/MINHA TEU/SEU/TUA/SUA DELE/DELA
  • 30. 30 Estudo da língua brasileira de sinais QUE QUEM POR QUE/PORQUE COMO QUANDO QUANTOS ONDE MAS MAIS COM/JUNTO JUNTO/PESSOAS
  • 31. 31 Estudo da língua brasileira de sinais
  • 32. 32 Estudo da língua brasileira de sinais Cumprimentos, saudações e expressões OI BEM/BOM BOM DIA BOA TARDE BOA NOITE BOA AULA bom FIM DE SEMANA DESCULPE OBRIGADO DE NADA
  • 33. 33 Estudo da língua brasileira de sinais COM LICENÇA ENTENDEU ENTENDEU/NÃO DE NOVO ATENÇÃO POR EXEMPLO
  • 34. 34 Estudo da língua brasileira de sinais Grupo familiar FAMÍLIA MULHER HOMEM MENINA MENINO MAMÃE PAPAI FILHO (a)
  • 35. 35 Estudo da língua brasileira de sinais BEBÊ CRIANÇA IRMÃO (a) PRIMO (a) VOVÓ/VOVÔ TIO (a) PADRINHO/MADRINHA SOBRINHO (a) MARIDO/ESPOSA
  • 36. 36 Estudo da língua brasileira de sinais NAMORADO (a) CUNHADO (a) SOLTEIRO (a) AMIGO (a) NOIVO (a)
  • 37. 37 Estudo da língua brasileira de sinais Marcação de tempo na libras PASSADO AGORA FUTURO ONTEM HOJE AMANHÃ MANHÃ TARDE NOITE
  • 38. 38 Estudo da língua brasileira de sinais ANTES DEPOIS RÁPIDO DEMORADO SEMPRE CEDO ATRASADO TODOS OS DIAS FIM NUNCA DIA SEMANA
  • 39. 39 Estudo da língua brasileira de sinais MÊS ANO MINUTO irmão (ã)
  • 40. 40 Estudo da língua brasileira de sinais Dias da semana DOMINGO SEGUNDA-FEIRA TERÇA-FEIRA QUARTA-FEIRA QUINTA-FEIRA SEXTA-FEIRA SÁBADO
  • 41. 41 Estudo da língua brasileira de sinais Estações do ano VERÃO OUTONO INVERNO PRIMAVERA
  • 42. 42 Estudo da língua brasileira de sinais Meses JANEIRO FEVEREIRO MARÇO ABRIL MAIO JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO
  • 43. 43 Estudo da língua brasileira de sinais OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO VERBOS ACEITAR ACORDAR AJUDAR AMAR APRENDER BRINCAR
  • 44. 44 Estudo da língua brasileira de sinais BUSCAR COMPRAR COMUNICAR CONHECER CONTINUAR CONVERSAR COPIAR CORTAR DORMIR ESCOLHER ESPERAR ESQUECER
  • 45. 45 Estudo da língua brasileira de sinais ESTUDAR FALAR FAZER GOSTAR GOSTAR-NÃO LEMBRAR LER MORRER OUVIR PASSEAR PEDIR PERGUNTAR
  • 46. 46 Estudo da língua brasileira de sinais PODER PODER-NÃO PRECISAR PROCURAR QUERER QUERER-NÃO RESPEITAR RESPONDER SABER SABER-NÃO TER TER-NÃO Agosto
  • 47. 47 Estudo da língua brasileira de sinais TRABALHAR TROCAR VENDER VER VIAJAR VIVER
  • 48. 48 Estudo da língua brasileira de sinais CORES AMARELO AZUL BRANCO LARANJA ROSA VERDE VERMELHO PRETO ROXO
  • 49. 49 Estudo da língua brasileira de sinais ANIMAIS CACHORRO CAVALO COELHO COBRA ELEFANTE GATO
  • 50. 50 Estudo da língua brasileira de sinais LEÃO MACACO PÁSSARO PORCO TARTARUGA BOI ALIMENTOS - BEBIDAS ÁGUA AÇÚCAR ALFACE ARROZ AZEITE BALA
  • 51. 51 Estudo da língua brasileira de sinais BATATA BOLACHA BOLO CACHORRO-QUENTE CAFÉ CARNE CEBOLA CERVEJA CHIMARRÃO CHOCOLATE CHURRASCO
  • 52. 52 Estudo da língua brasileira de sinais FEIJÃO MASSA MEL OVO PÃO PASTEL PIPOCA PIZZA PRESUNTO QUEIJO SAL SANDUÍCHE
  • 53. 53 Estudo da língua brasileira de sinais SOPA REFRIGERANTE VINHO TOMATE
  • 54. 54 Estudo da língua brasileira de sinais Frutas ABACATE ABACAXI BANANA BERGAMOTA COCO FIGO LARANJA LIMÃO MAÇÃ MAMÃO MELÃO PÊSSEGO
  • 55. 55 Estudo da língua brasileira de sinais UVA MORANGO PERA Contexto acadêmico UPF PASSO FUNDO CASCA CARAZINHO LAGOA VERMELHA PALMEIRA DAS MISSÕES
  • 56. 56 Estudo da língua brasileira de sinais SARANDI SOLEDADE FACULDADE ALUNO/ESTUDANTE/ PROFESSOR SURDO ACADÊMICO OUVINTE AMIGO LÍNGUA DE SINAIS LIBRAS TRADUTOR/ Setor de Atenção INTÉRPRETE ao Estudante
  • 57. 57 Estudo da língua brasileira de sinais DEDO DE PROSA LABORATÓRIO BILÍNGUE UPF IDIOMAS LIVRO CADERNO CANETA LÁPIS BORRACHA APONTADOR COLA TESOURA
  • 58. 58 Estudo da língua brasileira de sinais ESCOLA BANHEIRO INTERVALO
  • 59. 59 Estudo da língua brasileira de sinais Cursos CURSO ADMINISTRAÇÃO AGRONOMIA ARTES VISUAIS ARQUITETURA E CIÊNCIA BIOLÓGICAS URBANISMO CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO CIÊNCIAS CONTÁBEIS CIÊNCIAS ECONÔMICAS COMUNICAÇÃO SOCIAL E JORNALISMO DIREITO
  • 60. 60 Estudo da língua brasileira de sinais COMUNICAÇÃO SOCIAL EDUCAÇÃO FÍSICA PUBLICIDADE E PROPAGANDA ENGENHARIA ENGENHARIA ENGENHARIA AMBIENTAL DE ALIMENTOS ENGENHARIA CIVIL ENGENHARIA ENGENHARIA ELÉTRICA MECÂNICA ENFERMAGEM FARMÁCIA
  • 61. 61 Estudo da língua brasileira de sinais FÍSICA FISIOTERAPIA FONOAUDIOLOGIA FILOSOFIA GEOGRAFIA HISTÓRIA LETRAS MATEMÁTICA MEDICINA MÚSICA NUTRIÇÃO ODONTOLOGIA
  • 62. 62 Estudo da língua brasileira de sinais PEDAGOGIA PSICOLOGIA QUÍMICA SECRETARIADO SERVIÇO SOCIAL EXECUTIVO BILÍNGUE
  • 63. 63 Estudo da língua brasileira de sinais Cursos superiores de tecnologia AGRONEGÓCIO ANÁLISE E COMÉRCIO EXTERIOR DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DESING DE DESING DE MODA DESING GRÁFICO MOBILIÁRIO ESTÉTICA E FABRICAÇÃO GESTÃO COMERCIAL COSMÉTICA MECÂNICA
  • 64. 64 Estudo da língua brasileira de sinais GESTÃO DE LOGÍSTICA PRODUÇÃO CÊNICA RECURSOS HUMANOS PRODUÇÃO DO SISTEMAS PARA VESTUÁRIO INTERNET
  • 65. 65 Estudo da língua brasileira de sinais 7 Perspectivas da educação de surdos ao longo da história Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna Tatiane de Souza da Anhaia A trajetória educacional do surdo no âmbito mundial passou por vários momentos históricos, que gradativamente ressignifica- ram as concepções sobre surdez e educação de surdos. As dis- tintas modalidades colaboraram nos processos de ensinar e aprender, de modo que temos subsídios para implementar propostas educacio- nais condizentes com a especificidade do surdo. Os modelos que ao longo da história foram mais significativos são descritos na sequência. 7.1 Oralismo O oralismo é uma perspectiva educacional direcionada à reabili- tação da fala. Dentre as várias metodologias desenvolvidas, a leitura labial é a principal técnica aplicada. Os sons e palavras emitidas pelo interlocutor são captadas pela leitura (interpretação) dos movimentos de seus lábios. Recentes estudos comprovaram que mesmo o leitor la- bial mais experiente consegue captar apenas em torno de 50% do que a outra pessoa pronuncia.
  • 66. 66 Estudo da língua brasileira de sinais 7.2 Comunicação total Com início na década de 1960, essa perspectiva de educação é uma combi- nação do oralismo com a língua de sinais simultaneamente como uma alterna- tiva de comunicação; também inclui aspectos linguísticos, como os gestos soltos, leitura orofacial,1 alfabeto manual, leitura e escrita. A comunicação total tam- bém prima por aproveitar resíduos auditivos que a pessoa possa ter, pelo uso permanente de aparelhos auditivos. Essa modalidade também é conhecida como “bimodalismo”, que é o uso da língua de sinais dentro da estrutura das línguas faladas. 7.3 Bilinguismo A modalidade bilíngue é uma perspectiva de ensino recente, que propõe a aquisição da linguagem dos surdos por meio das duas línguas no contexto esco- lar, tendo como pressuposto que o aluno surdo seja bilíngue, adquirindo a língua materna, ou seja, língua de sinais como primeira língua, comprovadamente a língua natural do surdo, e a língua oral oficial do país como segunda língua. Nesta ideologia sugere-se que as crianças surdas tenham contato o mais cedo possível com pessoas fluentes na língua de sinais. 7.4 Pedagogia surda Esta perspectiva surge no viés da discussão que problematiza a melhor mo- dalidade de ensino para a educação dos surdos. Estabelece uma educação para o surdo a partir de uma visão de sua especificidade de aprendizagem, como es- timulação em libras na aquisição do conhecimento pelo canal de recepção visuo- espacial, o uso de recursos visuais, metodologia com didática que proporcione a internalização do conhecimento e o respeito ao tempo diferenciado de aprendi- zagem do surdo. A pedagogia surda propõe que a aprendizagem é significativa- mente favorecida quando o surdo tem a oportunidade de estar constantemente em contato com seus pares. 1 Leitura da articulação dos lábios.
  • 67. 67 Estudo da língua brasileira de sinais 8 Aquisição da linguagem pela criança surda Andréia Mendiola Marcon Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna A aquisição da linguagem no ser humano constitui-se a partir da interação, primeiramente com o grupo familiar e depois no âmbito social. A criança constrói sua identidade interagindo e se expressando por meio da língua. De modo similar, a aquisição da linguagem pelo surdo também se realiza por meio da interação com as pessoas e o meio do qual faz parte. É essencial que essa interação aconteça na primeira língua da criança surda (libras), a partir da qual os estímulos para a aquisição da linguagem devem ocorrer. É importante que a estimulação para a aquisição da linguagem ocorra desde a detecção da surdez, pois, quanto mais cedo, maiores serão as possibilidades de desenvolver a linguagem adequadamente. Nisso a família tem um papel de suma importância. Segundo Pettito e Marantette (1991, apud Quadros, 1997), “as vocalizações são interrompidas nos bebês surdos assim como as pro- duções manuais são interrompidas nos bebês ouvintes, pois o input favorece o desenvolvimento de um dos modos de balbucia” (1997 p. 70). Nesse sentido, podemos compreender que tanto bebês ouvintes quanto bebês surdos apresentam balbucio oral e manual até um de- terminado tempo. Para melhor compreensão do exposto apresento um quadro com- parativo sobre a aquisição da língua entre crianças surdas e ouvintes:
  • 68. 68 Estudo da língua brasileira de sinais AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM Período aproximado Criança ouvinte Criança surda Primeiro a seis meses Balbucio manual e oral Balbucio manual e oral Primeiro a seis meses Balbucio manual e oral Balbucio manual e oral Dez meses Primeiras sílabas Apontamentos Um ano Combinam palavras isoladas Apontamentos referentes si mesma. Dois anos Aquisição de vocábulos pela fala Aquisição de sinais por meio visual Três anos Desenvolvimento da fala Desenvolvimento dos sinais Quadro 1 - Aquisição da linguagem Dada essa contextualização, podemos verificar que o input na língua de sinais é muito importante para o desenvolvimento linguístico da criança. A per- cepção visual começa a ser forte fator para esta aquisição; por isso, hoje em dia é premente que os pais de surdos se interessem pela língua de sinais, bem como pelos aspectos relacionados à cultura surda. Cabe ressaltar que nesse estágio a criança surda está atenta às expressões faciais dos interlocutores, capta elementos que disponibilizam significados que mais tarde serão agregados à língua de sinais na fase de aquisição. Outro fator importante é a repetição dos sinais fazendo movimentos mais lentos; dessa for- ma, pode-se trabalhar o “foco”, ou seja, a questão do olhar e da direcionalidade do sinal com o bebê, proporcionando-lhe maior ênfase no seu input. Entretanto, por volta de dois anos de idade a criança surda começa a fazer suas primeiras combinações em língua de sinais e, por volta dos três, apresenta gradativa am- pliação do vocabulário. É importante salientar três aspectos fundamentais para a aquisição da lin- guagem da criança surda: a) Contato com a língua de sinais Acredita-se que em todos os momentos a família e a escola devem proporcio- nar o desenvolvimento integral da criança surda por meio da sua língua mater- na, sendo importante que ela tenha contato diariamente com a língua de sinais em todos os momentos de sua vida. b) Contexto familiar No mesmo sentido, é importante que a criança surda tenha clareza real do seu contexto familiar, ou seja, que saiba de fato quais são os papéis exercidos pelas pessoas que a rodeiam. Como exemplo, o papel do pai, da mãe, dos irmãos e assim por diante.
  • 69. 69 Estudo da língua brasileira de sinais c) Contexto espacial A criança surda necessita de muitos estímulos para significar seu mundo; então, não se pode deixar de lado o contexto espacial. A casa, seu local de refe- rência, tem importante sentido; por essa razão, cabe instigar a curiosidade e o aprendizado acerca dos nomes dos cômodos e espaços. É adequado perguntar ou falar à criança sobre a estrutura da casa: quarto, cozinha, banheiro, sala, etc.; salientar os objetos ou mobiliários que pertencem a cada local, sua utilidade, seu significado. Essas ações, aparentemente simples, proporcionam à criança esta- belecer relações e associações, ampliando o vocabulário e desenvolvendo uma organização interna. São inúmeras as possibilidades para promover e incentivar a aquisição da linguagem da criança surda. Para tanto, a metodologia visual merece destaque, pois a criança que é estimulada desde tenra idade obtém ganho no seu processo de desenvolvimento cognitivo. d) Interação com outras crianças Deve se dar essencialmente com surdos, para que ocorra a aquisição da língua e a construção da sua identidade. e) Etiquetas com o nome dos objetos A partir desta estratégia a criança surda associa palavras aos objetos e atribui-lhes significados, finalidades; pode também usar palavras descritivas, como cadeira pequena, cadeira grande, cama branca, armário azul. f) Fotos da família Ajudam a criança a associar quem faz parte de seu grupo familiar - mãe, pai, irmãos, avô, avó, tio, tia, primos, padrinhos. É fundamental compreender a importância de viabilizar essas situações para a criança surda, pois, quanto mais informações claras e consistentes tiver, maiores serão as possibilidades de construir o sentido do mundo. Com isso, a criança começa a compreender o que de fato é significado (compreensão) em relação ao significante (objeto ou algo). Neste viés a criança surda passa por um período de transição, no qual o que antes tinha caráter lúdico – formas, tama- nhos, cores – adquire um status de compreensão; assim, começa a estabelecer relações acerca dos objetos e situações, que, à medida que se internalizam, ge- ram valores cognitivos.
  • 70. 70 Estudo da língua brasileira de sinais 8.1 O processo de alfabetização Ao nos referirmos à terminologia “alfabetização”, geralmente, a primeira impressão está relacionada à apropriação dos códigos escritos. Entretanto, a alfabetização de crianças surdas decorre de processos específicos da surdez e da aquisição da língua de sinais. Quadros (2000, p. 3) aborda um conceito mais amplo do termo, enfatizando que a alfabetização é “um processo que resulta da interação com a língua e com o meio”. Aaquisição da linguagem é primordial para a alfabetização da criança surda, e nesse sentido o grupo familiar possui papel de grande importância, especial- mente nos primeiros anos de vida da criança. Posteriormente, outros persona- gens exercem papéis e cooperam para o desenvolvimento da criança, principal- mente com o ingresso na escola e noutros espaços sociais. Na fase escolar, período marcado pela aprendizagem formal e intencional, a criança surda, por meio da língua de sinais, tem acesso às informações, esta- belece relações e constrói significados. O professor, profissional com fluência na língua de sinais, é protagonista da aprendizagem da criança surda. Neste caso, o docente tem como desafio diário utilizar didática apropriada, proporcionando condições para que a criança compreenda e construa o conhecimento a partir de sua língua materna. Na fase de alfabetização, a criança surda precisa ter acesso ao conhecimen- to de forma eficaz, razão pela qual as propostas devem ser claras, concretas e com recursos visuais. A internalização das informações ocorrerá na medida em que o docente de libras estiver atento, pois o mundo desta criança tem uma co- notação visual maior em razão da surdez. É por meio da linguagem que a criança desenvolve o pensamento e outras relações cognitivas. Por isso, precisa de aulas com distintos materiais visuais, que sirvam para estimular e proporcionar maior propriedade na aquisição do co- nhecimento por meio da língua de sinais. De acordo com Quadros, “[...] a criança surda que está passando por um processo de alfabetização imersa nas relações cognitivas estabelecidas através da Língua de Sinais para a organização do pen- samento, naturalmente passa a registrar as relações de significação que estabe- lece com o mundo” (2000, p. 11). No processo de aprendizagem alguns objetivos metodológicos são impres- cindíveis:
  • 71. 71 Estudo da língua brasileira de sinais • explorar as funções do apontar para que a criança inicie e se habitue a fazer relações; • priorizar o “olhar”, especialmente trabalhando o foco, para que centre a atenção na atividade que está desenvolvendo, e a visão periférica, am- pliando as possibilidades de percepção; • explorar movimentos dos sinais (movimento interno e externo); • usar expressões faciais e corporais (interrogativo, positivo, negativo, triste, feliz...); • utilizar classificadores (inclui relações descritivas, como as formas de objetos, pessoas e animais); • desenvolver estratégias para resolução de problemas; • estabelecer relações e associações diversas; • ampliar constantemente o vocabulário; • explorar do alfabeto manual e as configurações. As crianças surdas que têm sua condição respeitada e são estimuladas no contexto familiar e escolar, com ensino a partir da língua sinais nas diferentes áreas do conhecimento, têm possibilidades de aprender tanto quanto as ouvin- tes. A diferença linguística não pode ser, em nenhum momento, impeditiva para seu desenvolvimento cognitivo, pois a inclusão social e educacional parte da perspectiva de conhecer, reconhecer e valorizar a diferença. 8.2 Estratégias e recursos didáticos visuais Existem inúmeros recursos visuais que enriquecem o ensino dos surdos e que facilitam a aquisição da língua e o aprendizado. O aluno internaliza os con- ceitos e constrói significados, sendo imprescindíveis os recursos visuais nesse processo. Quadros (2000, p. 102-110) sugere algumas possibilidades: • fichário: consiste em uma caixa repleta de fichas padronizadas, com fi- guras e palavras, de tudo o que se possa imaginar, que podem ser utili- zadas em qualquer momento de aula, conversa ou brincadeira. O intuito é mostrar à criança “o nome das coisas” em português ou em libras; • dicionário libras/português: são dicionários bilíngues, imprescindíveis nas escolas e salas onde são desenvolvidas as propostas educacionais para surdos. O dicionário deve ser usado pelo professor sempre que hou- ver dúvidas, incentivando o aluno à pesquisa;
  • 72. 72 Estudo da língua brasileira de sinais • Dicionário configuração de mão: a ideia apresentada aqui é a adaptação deste modelo de dicionário em que a base da procura não seja a letra, mas a configuração de mão. A partir da configuração, a criança encontra- rá as páginas e nelas a figura, sinal e a palavra em língua portuguesa; • Caixa de gravuras: consiste numa caixa contendo inúmeras gravuras, ricas em informações e visualmente atrativas, que serão utilizadas de diversas formas com o objetivo de desenvolver e explorar o pensamento e a criatividade da criança, representando grande auxílio para estimular a sua produção escrita; • Caixa com histórias em sequência: uma caixa com histórias em sequên­ cia, tendo o cuidado de ampliar gradativamente as possibilidades, o nú- mero de cenas e a profundidade dos temas. 8.3 Estratégias de avaliação O ato de avaliar pode se configurar como mais uma possibilidade de apren- dizagem. Entretanto, o processo de avaliação do surdo requer o entendimento sobre seu modo de aprender, como processa as informações, sistematiza o conhe- cimento e expressa o que pensa e entende. É importante compreender que a avaliação extrapola as dimensões soma- tórias, classificatórias ou eliminatórias. Pode, sim, ser entendida como uma oportunidade de rever, ressignificar, qualificar, ampliar ou aprimorar o que se aprendeu. Para avaliar o aluno surdo, é essencial verificar, observar e analisar todos os aspectos, estando atento às particularidades de cada aluno surdo. Skliar (1988, apud Thoma, 2000) cita alguns requisitos pertinentes ao assunto: • organização de um contexto comunicativo apropriado às características particulares do sujeito a avaliar (cabe lembrar que a língua de sinais não é um instrumento que utilizamos para ensinar ao surdo, mas implica uma língua que carrega com ela uma cultura e significados); • uma análise sobre o que o sujeito estaria pronto a conhecer ou já conhece e com quais instrumentos culturais o faz de acordo com uma obtenção prévia do meio que rodeia o aluno ou aluna surdo(a) (aqui penso que se insere a questão de o professor verificar o conhecimento prévio do aluno com base numa sondagem sobre o meio em que o surdo vive, o tipo de comunicação que se dá no meio familiar e, até mesmo, a perspectiva dos pais com relação ao seu filho);
  • 73. 73 Estudo da língua brasileira de sinais • a valorização do desenvolvimento, tanto no que se refere que a criança surda é capaz de resolver por si mesma, como ao nível de suas poten- cialidades, em uma situação de coorientação e colaboração com pares (lembra-se o que já foi afirmado quando ao nosso papel de medir a rela- ção aluno-aluno); • o registro de tudo aquilo que o adulto diz ou faz e que pode modificar, criar obstáculos, atrasar e/ou adiantar o processo de desenvolvimento da criança (o próprio processo de avaliação, que muitas vezes não é adequa- do, cria esses obstáculos). Outrossim, estão em fase de construção os processos de ensinar e aprender e, consequentemente, o processo de avaliação. Não há modelos prontos, que de- terminem a melhor forma de ensinar e avaliar; se houvesse, estaríamos negando a diferença dos surdos entre si, pois não são uma “categoria” que aprende do mesmo jeito e no mesmo tempo, ao contrário, precisam ser respeitadas as pe­ culiaridades enquanto minoria linguística. O fomento de pesquisas na área da surdez é essencial para que tenhamos mais elementos norteadores da pedagogia surda, que inclui os processos de en- sinar, aprender e avaliar o surdo.
  • 74. 74 Estudo da língua brasileira de sinais 9 O tradutor/intérprete de língua de sinais Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna O corpo do Outro está diante de mim, mas quanto a ele, leva uma singular existência: entre mim que penso e esse corpo, ou melhor, junto a mim, a meu lado, ele é como uma réplica de mim mesmo [...]. (Merleau-Ponty, 2002, p. 167). O tradutor/intérprete de língua de sinais (TILS) é um profissio- nal que faz a mediação linguística entre a língua de sinais e a língua oral e vice-versa. De acordo com o decreto no 5.626, de dezembro de 2005, no capítulo V, artigo 18: Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste decreto, a formação de tradutor e intérprete de libras - língua portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional; II - cursos de extensão universitária; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por secreta- rias de educação [...]. Entretanto, pelo fato de ser uma atividade em processo de lega- lização, é comum pensar que pessoas bilíngues em língua de sinais e língua oral são intérpretes, pois este profissional atua em diferentes esferas, dentre as quais educação, saúde, justiça, religião, recreações, eventos culturais, educacionais e esportivos, mercado de trabalho e também no contexto familiar. No entanto, esse é um grande equívo-
  • 75. 75 Estudo da língua brasileira de sinais co, pois a formação do profissional TILS tem uma sistemática específica, que requer competência linguística, referencial e tradutória, ou seja, uma formação adequada. O TILS educacional tem um papel primordial para a comunidade surda, pois garante a acessibilidade de comunicação a uma minoria linguística e via- biliza a aprendizagem no âmbito escolar. A tradução/interpretação no contexto educacional difere das demais modalidades de tradução, porque requer intera- ção, necessária para que se perceba se a tradução foi efetiva e eficaz. Elencamos alguns procedimentos específicos do TILS em sala de aula: a) ser imparcial na tradução/interpretação em contextos formais ou infor- mais nos quais protagonizam alunos surdos, professores, colegas e fun- cionários das instituições de ensino; b) manter uma postura ética com o aluno surdo e demais pessoas da insti- tuição, fazendo urgir o papel de profissional; para tanto, não cabe fazer comentários, emitir opinião sem ser solicitado, tampouco executar tare- fas particulares, ainda que pertinentes às questões escolares, mas que são de responsabilidade exclusiva do aluno; c) primar pela discrição no modo de vestir-se, de posicionar-se no local onde será feita a tradução/interpretação, pela pontualidade, pois, em razão da visibilidade inerente ao trabalho TILS, todos esses aspectos são de grande importância; d) construir e firmar uma postura clara quanto à relação aluno surdo/intér- prete/professor, clarificando os papéis de cada um. O professor perma- nece com a responsabilidade do ensino; o TILS, com a incumbência de traduzir; o aluno, a de ser protagonista da aprendizagem; e) esclarecer aos profissionais da educação o modo da escrita do surdo, pois o registro da libras ainda está em construção, razão pela qual ao escre- ver o surdo apoia-se na língua portuguesa. Além desse fator, há que se ressaltar o déficit histórico da sua formação escolar, que muitas vezes compromete o processo de aprendizagem e seus resultados; f) estabelecer junto ao professor uma relação de mútuo auxílio, com o pro- pósito de verificar com antecedência algumas adaptações necessárias, como: • respeitar o tempo necessário para olhar para o intérprete, para o professor; anotar as informações do quadro e olhar para os materiais que o professor estiver utilizando em sala de aula; • providenciar filmes legendados;
  • 76. 76 Estudo da língua brasileira de sinais • manter pequena iluminação durante a projeção de filmes ou slides para que surdo e intérprete tenham preservadas as condições neces- sárias para a visualização da interpretação; • enviar ao aluno surdo o material para leitura prévia, possibilitando- -lhe sanar dúvidas de interpretação de texto e vocabulário; • solicitar que quaisquer leituras sejam feitas em bom tom e ritmo adequado, o que garantirá uma boa interpretação; • esclarecer às pessoas que falem diretamente com o aluno surdo, não com o intérprete; o aluno surdo saberá como proceder; g) pesquisar e aprofundar os conhecimentos referentes ao conteúdo a ser interpretado, pois, quanto mais propriedade o TILS tiver acerca do tema, maiores serão as possibilidades da tradução ser fidedigna. Traduzir e interpretar no universo de surdos e ouvintes significa despir-se das próprias concepções para dar espaço e condições para que a comunicação aconteça. Rompe-se a barreira da comunicação com a atuação profissional do tradutor/intérprete, que se compromete com esse fazer.
  • 77. 77 Estudo da língua brasileira de sinais 10 Alteridade: constituição subjetiva do ser humano Ângela Mara Berlando Soares Cristine Fátima Pereira Luna A pergunta que não quer calar: “Quem sou”? A s redes de relacionamentos virtuais – blogs, Orkut, Facebook, Myspace, Twitter, Messenger, dentre outros – contêm a dilemáti- ca indagação: “Quem sou?”. A pergunta nesses veículos de comu- nicação é feita claramente ou aparece nas entrelinhas, com a sutil tentati- va de esboçar um perfil, um pouco do que se é ou se pretende ser. O sujeito que protagoniza a rede de comunicação virtual elabora um perfil pessoal, social e profissional, que pode ser real ou apenas virtual, construindo uma espécie de identidade. Os estilos escolhidos para a apresentação do perfil são variados: dos poéticos aos filosóficos, dos mais jocosos e ousados aos comuns, ao passo que outros são restritos apenas a uma interrogação“?” A questão subjetiva das descrições que cada membro apresenta na tentativa de responder a “Quem sou?” é de grande relevância, porque evi- dencia a necessidade que o indivíduo possui de se mostrar ao outro como único, diferente, verdadeiro, evidenciando a singularidade. A intenção também pode ser demonstrar algo de si, “explicar-se” e causar algum im- pacto que irá acionar no outro sua aceitação ou rejeição. Com esse breve exemplo, pretendemos elucidar a seguinte questão: a constituição do sujeito se dá a partir da relação que se estabelece com os pares – os outros –, que são todas as pessoas do meio de relacionamento ou com as quais nos deparamos no decorrer de nossas vidas. O outro, que naturalmente é diferente, inscreve algo e interfere na formação da iden- tidade e personalidade – que ocorre desde o nascimento –, provocando emoções e sentimentos diversos, como admiração, indiferença, empatia,
  • 78. 78 Estudo da língua brasileira de sinais repulsa, preconceito, incômodo, dentre outros. Assim, o olhar do outro é que huma- niza o indivíduo. Segundo Velho (1986), a noção de outro ressalta que a diferença constitui a vida social, na medida em que esta se efetiva por meio das dinâmicas das relações sociais. A diferença é, simultaneamente, a base da vida social e fonte permanente de tensão e conflito. Assim, a opinião do outro provoca reações, razão por que é importante salientar que no contexto da surdez o grupo familiar tem papel fundamental, pois os primeiros registros que o bebê surdo tem são decisivos no processo de constituição de sua personalidade e refletirão em toda a sua vida; será inscrito, desde tenra idade, se é um ser capaz ou incapaz, apto ou inapto, competente ou incompetente. Esse processo adquire dimensão maior à medida que se ampliam as relações sociais – com outros familiares, no ambiente escolar, na sociedade em geral. O surdo, como qualquer outro indivíduo, constrói a sua historicidade a partir do olhar do outro, como explica Ciampa: “[...] cada indivíduo reconhece no outro um ser humano e é assim reconhecido por ele – sozinhos certamente não poderemos ver reconhecida nos- sa humanidade, consequentemente não nos reconhecemos como humanos. Ter uma identidade humana é ser identificado e identificar-se como humano!” (1998, p. 8). As relações sociais estão imbuídas de significado e a construção da identidade do sujeito depende – ou decorre – do ponto de vista do outro, da opinião, tornando possível sua formação individual. Bakhtin1 2(1999), ao escrever diversos ensaios so- bre o tema, afirma que o eu só existe em diálogo com os outros, e sem esta relação é impossível ou improvável definir-se ou constituir-se. O processo de autocompreensão ocorre por meio da alteridade, isto é, pela aceitação e percepção dos valores que o outro atribui, que ocorre desde o nascimento e se estende na sequência da sua vida. Para Arruda, “a diferença aparece como o contorno mais saliente e intrigante da alteridade. Sinuoso, ele tanto pode afastar como aproximar. O desenho do outro, mais que um retrato, talvez seja um holograma: uma projeção em movimento, e como tal, um pedaço de mim, prestes a esvaecer. A representação aplaca instantane- amente o conteúdo perturbador do outro, trabalhando-o. Torna-se assim, a diferença incorporada, dando forma ao holograma”. (1998, p. 17). O outro torna-se imprescindível, pois delimita e constrói o espaço de atuação do sujeito no mundo, representando o sujeito ideológico. Nessa perspectiva, “quem sou” depende de como o outro me percebe, e nesta relação é que se experimenta a possibilidade do acabamento, da completude, de complementaridade. Essa é a razão de se investir na capacidade, pois, respeitando a condição de surdez, maiores serão as possibilidade de aprendizagem e de uma vida autônoma. 1 Bakhtin (1895-1975) linguista com reconhecimento a partir da década de 90, quando alcançou um grande prestígio; atualmente, é considerado um dos autores mais referenciados na teoria da alteridade.
  • 79. 79 Estudo da língua brasileira de sinais Referências AGRÍCOLA, Rodolphus (1479). De inventione dialectica (philosophy). Tübingen: Niemeyer, 1992. BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 12. ed. São Paulo: Hu- citec, 1999. _______. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2000. BRASÍLIA. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras. Brasília, 2005. _______. Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Brasília, 2000. BRITO, Lucinda Ferreira. Por uma gramática de línguas de sinais. Rio de Janei- ro: Tempo Brasileiro, 1995. CABRAL, Eduardo. Para uma cronologia na educação dos surdos. Disponível em: <http://www.sj.ifsc.edu.br/~nepes/docs/midiateca_artigos/historia_educacao_sur- dos/texto59.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2010. CEIA, Carlos. Alteridade. Disponível em: <http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/ verbetes/A/alteridade.htm>. Acesso em: 6 nov. 2009. EMMOREY, K.; BELLUGI, U.; KLIMA, E. Organização neural da língua de si- nais. In: MOURA, M. C.; LODI, A. C.; PEREIRA, M. C. (Ed.). Língua de sinais e educação do surdo. São Paulo: Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, 1993. FARACO, Carlos Alberto. Linguagem e diálogo: as idéias lingüísticas do círculo de Bakhtin. Curitiba: Criar, 2003. FELIPE, Tânia; MONTEIRO, Myrna. Libras em contexto. Curso básico. Brasília: Ministério da Educação, 2001. FERREIRA-BRITO, Lucinda. Integração social e educação de surdos. Rio de Ja- neiro: Babel, 1993. ______. Por uma gramática de línguas de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; UFRJ, 1995. KARNOPP, Lodenir; QUADROS, Ronice Muller de. Educação infantil para sur- dos. In: ROMAN, Eunilda Dias; STEYER, Vivian Edite (Org.). Acriança de 0 a 6 anos e a educação infantil: um retrato Multifacetado, 2001. MATURANA, Humberto. Apostila do curso Biologia del Conocer. Facultad de Ciencias, Universidad de Chile, 1990.
  • 80. 80 Estudo da língua brasileira de sinais PERLIN, Gladis; MIRANDA, Wilson. Surdos: o narrar e a política. Estudos Surdos – Revista de Educação e Processos Inclusivos, Florianópolis, UFSC, n. 5, 2003. ______. Identidades surdas. In: SKLIAR, C. (Org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998. PINHEIRO, Petrilson Alan. Bakhtin e as identidades sociais: uma possível construção de conceitos. Disponível em: <http://www.filologia.org.br/revista/40/bakhtin%20e%20as%20 identidades%20sociais.pdf>. Acesso em: 6 nov. 2009. POZO, Juan Ignácio. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Trad. de Ernani Rosa. – Porto Alegre: Artmed, 2002. QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de Educação Especial, 2004. _______. Alfabetização e o ensino da língua de sinais. Canoas: Textura, 2000. QUADROS, R. M.; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de sinais brasileira: estudos linguís- ticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. QUADROS, R. M.; SCHIMIEDT, Magali L. P. Idéias para ensinar português para alunos surdos. Brasília: MEC/SEESP, 2006. RODRIGUES, N. Organização neural da linguagem. In: MOURA, M. C.; LODI, A. C.; PE- REIRA, M. C. (Ed.). Língua de sinais e educação do surdo. São Paulo: Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, 1993. ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 1961. SACKS, Oliver. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. Trad. de Laura Teixeira Mot- ta. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. SANTOS, B. de S. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. SOARES, Maria Aparecida Leite. A educação do surdo no Brasil. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 2005. VELHO, Gilberto. Subjetividade e sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986. ______. Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. 6. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. WIKIPÉDIA. Conceito de alteridade. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Alterida- de>. Acesso em: 28 nov. 2009. ______.Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/ wiki/Instituto_Nacional_de_Surdos-Mudos_de_Paris>. Acesso em: 6 de nov. 2009. WILCOX, Sherman; WILCOX, Phyllis Perrin. Aprender a ver. Trad. de Tarcísio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Arara Azul, 2005.
  • 81. 81 Estudo da língua brasileira de sinais Sobre os autores Andréia Mendiola Marcon: mestranda em Letras, especialista em Libras, pedagoga, tradutora/intérprete de Libras da Universidade de Passo Fundo. Ângela Mara Berlando Soares: mestra em Educação, psicopedagoga clínica e ins- titucional, especialista em Educação Especial e Formação de Profissionais Integra- dores, coordenadora do Setor de Atenção ao Estudante da Universidade de Passo Fundo. Cristine Fátima Pereira Luna: graduanda do curso Letras Libras Bacharelado da Universidade Federal de Santa Catarina, tradutora/intérprete de Libras da Universi- dade de Passo Fundo. Docente nos cursos de Capacitação para tradutor/intérprete de Libras. Monique Giusti Reveilleau: pedagoga, especialista em Educação Especial, docente na disciplina de Libras da Universidade de Passo Fundo. Tatiane de Souza da Anhaia: pedagoga, especialista em Educação Especial, gradu- anda do curso Letras Libras Licenciatura da Universidade Federal de Santa Catari- na, docente na disciplina de Libras da Universidade de Passo Fundo.