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Aula 2 – Aristides Quintiliano, Papiro de Hibeh, Filodemo
                    e Sexto Empírico

Tratados de Música na Antigüidade

1. Aristoxeno de Taranto,
Elementa Harmonica, Elementa Rhythmica (fragmentario IV a.C.)

2. Teofrasto, De Musica (1 longo fragmento, IV a.C.)

3. Filodemo de Gadara (fragmentário, I a.C.)

4. Plutarco, De Musica, II d.C.

5. Claudio Ptolomeo, Harmonica, II d.C.

6. Porfírio, in Ptolemaei Harmonica Commentarium, III d.C.

7. Aristides Quintiliano, De Musica, II–IV d.C.

Manuais sobre Música na Antigüidade

1. Euclides, Sectio Canonis IV–IIIa.C. (?)

2. Cleonides, Isagoge, II – III d.C.

3. Nicomaco de Gerasa, Harmonicum Enchiridion, II d.C.

4. Bacchio, Isagoge Dataz. Incerta

5. Gaudencio, Isagoge, II–IV d.C. (?)

6. Alipio, Isagoge, IV d.C. (?)

7. Anonyma de musica scripta Bellermanniana II – V d.C.


Aristides Quintiliano (séc. II d. C. – data provável)

Tratado De Musica

Objetivos:
- oferecer uma visão totalizadora da música grega e transmitir notícias
concretas sobre a prática musical.
    - não pretende ser original e com freqüência se ampara nos Antigos.
    - tenta organizar em uma unidade, toda a pluralidade de significados
       que a música tinha entre os gregos.
    - busca nexo comum nas diversas manifestações que ele considera
       musical.
- a interpretação que sustenta é platônica: a música reflete as leis musicais
que constituem o universo inteiro, por isso o estudo das relações intrínsecas
que regem a arte musical permitirá extrair essas leis universais. A unidade
estrutural do musical está fundamentada na unidade do cosmos: a música é
o que reúne os opostos e os harmoniza mediante instâncias intermediárias.

   -   recuperação do prestígio que a música possuía entre os filósofos
       antigos.

   -   vantagem da música sobre as outras artes e também sobre os entes
       desse mundo, está na “incorporeidade” de sua matéria: a música é
       feita com sons que são apenas movimentos ordenados, ou melhor,
       números.

   -   se esse movimento (o som), ao se aplicar leis racionais, produz o
       fenômeno musical (paradigma da beleza artística nesse mundo), não
       será difícil inferir essas mesmas leis na ordem/beleza do universo, na
       própria beleza.

   -   música: modelo para construir o mundo, ficará impresso em todos os
       âmbitos do ser. Ela oferece a imagem do todo, se converte em uma
       arte educativa, ou seja, guia a ação para a vida e é uma arte prática
       que produz prazer.

Importância do Conceito de Mélos

Johannes Lohmann (Mousiké et Lógos: contributions à la philosophie et à
la théorie musicale grecque, Editions T.E.R., 1989) procura demonstrar
que mélos[1] - o singular do plural homérico “melea”, “os membros do
corpo”, da qual provém “melodia” -, é uma palavra na qual são pensadas,
ao mesmo tempo, a constituição do corpo e uma determinada estrutura de
articulação melódica. Neste sentido, mélos está sendo empregado como um
tipo de “coletivo” (assim como épos, “palavra”, para toda a poesia lírica),
para indicar “o mundo articulado dos sons”.

[1] Cf. BAILLY(ibid:1247): “1)membro, articulação, tanto para homens
como animais (primeiramente só no plural Ilíada) - os membros e as partes
- membros ou partes; 2) os membros, os corpos inteiros - 3) membro de
uma frase musical, de onde canto ritmado com arte (por oposição à metron,
palavra versificada, métrica); 3)canto com acompanhamento de música,
definido como uma junção, de onde melodia - com medida, cadência,
ajustamento; 4) por extensão, palavra que repetimos sem cessar; 5) poesia
lírica, por oposição à poesia épica ou dramática”;

“o conceito de mélos significa a abstração que é a estrutura ‘melódica’ da
palavra humana (...) uma coloração involuntária do que é dito
espontaneamente, que está no reino da percepção dos sons pelos ouvidos,
como a cor está para o mundo visual”

Este conceito exprime também o fato de que a teoria musical grega sempre
postulou que cada “modo” tem por sua natureza, ou deveria ter, um certo
éthos. Esta identidade entre uma forma musical e um certo estado anímico,
encontra sua expressão na etimologia de mélos, pois nesta palavra são
pensados simultaneamente uma constituição corporal e uma determinada
estrutura da articulação melódica.

“a estrutura melódica é perfeitamente idêntica a uma determinada maneira
de pensar e sentir, cujos sons manifestam ao exterior por sua acústica; da
mesma forma, a palavra (em sua acústica) apresenta, consoante a
concepção grega, um sentido pensado, de modo que funcione como o nome
deste”

De Musica (A. Quintiliano) – Guia para a leitura do capítulo II.

Livro II – A educação mediante a música.
Discussão geral: 1-6
1 – Questões sobre o tema. O objeto da música, a alma
2 – Doutrina sobre a dualidade da alma atribuída aos antigos. Partes da
alma.
3 – Tipos de aprendizagem em relação com as duas partes da alma:
filosofia e música. A música como meio natural de educar na infância
4 – Caráter universal da ação da música. Causas de sua eficácia educativa.
Causas de sua eficácia educativa e superioridade com respeito às outras
artes: autenticidades de suas imitações. Uso da música para correção ética
entre os antigos. Utilização da música nas diversas atividades humanas. As
paixões que conduzem o canto segundo os antigos.
5 – A música como terapia das paixões para os antigos. Paixões, partes da
alma e estilos de terapia musical. Predisposição segundo o sexo e idade de
acordo com diferentes tipos de melodias
6 – Regulamentação da música para os antigos: os nómoi; perigos da falta
de educação musical e má educação musical; uso dos méle educativos e os
relaxado....A música e o estado: capacidade destrutiva e constitutiva.
 - Análise dos elementos da ação musical (7 a 16)
- A música instrumental e a alma: 17-19
17 – Argumentos sobre a ação da música instrumental na alma: a alma
como harmonia de números, e afinidade entre a constituição física da alma
e dos instrumentos.
18 – Atuação do instrumento musical na alma por meio da ressonância
simpática. Relação dos instrumentos de cordas e sopros com as regiões
etéreas e aéreas do cosmos e a natureza anímica: mito de Apolo e Marsias.
19 – Atribuição de cada tipo de música instrumental a um deus mitológico.
Superioridade da música de corda sobre a de sopro.

1 – Questões sobre o tema. O objeto da música, a alma

Examinar se é ou não possível educar por meio da música, se isso é de
alguma utilidade ou não, se se pode educar a todos ou somente a alguns,
se se deve fazer com apenas um tipo de composição melódica ou com mais
de uma, e junto com isso, se as música rechaçadas para a educação
também podem ser usadas ou se é possível haver algum benefício derivado
delas.

Primeiro lugar: ALMA (concepção chave)
(música – número – alma – cosmos)
Críticas – Papiro de Hibeh (século IV a. C.)

   -   Autor anônimo e circunstâncias da redação desconhecidas

   -   Três frentes de ataque:

1) direciona-se a certos tipos de músicos práticos que se proclamavam
experts, mas cujas observações teóricas denunciam sua ignorância;

2) questiona determinadas teorias que atribuem um éthos aos modos
musicais, associando caracteres particulares às melodias e seus efeitos no
caráter humano;

3) orienta-se aos especialistas na ciência harmônica, apontando a falácia
existente entre suas bases teóricas, carentes de uma sistematização
precisa, e a performance musical.

Texto do Papiro de Hibeh

“Muitas vezes fiquei surpreso, ó cidadãos, com as construções de certas
pessoas que não pertencem às atividades de [vossa área de competência],
sem que vocês percebam. Em suas próprias palavras, elas se definem como
‘harmonistas’[1]; e julgam [várias canções] e confrontam umas às outras,
condenam algumas, aleatoriamente, e sem razão, elogiam outras. (...). Elas
também dizem que algumas melodias fazem as pessoas disciplinadas,
outras prudentes, outras justas, outras valorosas ou covardes, não
compreendendo que o gênero cromático não pode tornar covarde, nem o
enarmônico valoroso a quem o emprega em sua música. (...) Com relação a
chamada ‘harmônica’, a qual dizem ter bom conhecimento, elas não têm
nada a dizer, mas deixam-se embargar pelo entusiasmo: e acompanham
erroneamente o ritmo, batendo no banco no qual se sentam,
simultaneamente ao som do psalterion[2]. Elas não hesitam em declarar
abertamente que certas melodias possuem uma função [peculiarmente
característica] de louro, outras de hera[3]...”

[1] Harmonikoi, estudantes da harmoniké, ou seja, de análise teórica das
estruturas musicais.
[2] Instrumento de corda tocado com os dedos.
[3] BARKER (1984, p. 185, nota 13):”O louro é associado a Apolo e a hera a
Dionísios. A classificação reflete a diferença entre o estilo mais sóbrio e
circunspecto e a música que é emocional e extásica”.

Críticas - Filodemo de Gadara (século I a. C.)

- Epicurista

Epicurismo: sistema filosófico ensinado por Epicuro de Samos, filósofo
ateniense (séc. IV a.C.). Propunha uma vida de contínuo prazer como chave
para a felicidade, esse era o objetivo de seus ensinamentos morais. A
finalidade dessa filosofia não era teórica, mas sim bastante prática. Para
isso fundamentava-se em uma teoria do conhecimento empirista, em uma
física atomista e em uma ética hedonista.

       -   Visão mais pragmática da música

       -   Enfatiza aspectos técnicos–musicais e mecânico-sensíveis da escuta

- Música pertence ao domínio da prática e é separada do campo racional e
reflexivo

Frentes de ataque de Filodemo (W. Tatarkiewicz (I, 1979: 259):

 I)        contra a asserção segundo a qual existiria uma relação específica
           entre música e alma, sustentando que o efeito da música sobre a
           alma não é diferente daquele da arte culinária;
II)         contra a pressuposta relação da música com a divindade, porque os
           estados de êxtase conseguidos através da escuta musical são
           facilmente explicáveis;
III)       contra os seus pressupostos efeitos morais e sua capacidade de
           reforçar ou enfraquecer a virtude;
IV)         contra o seu poder de exprimir ou representar alguma coisa, em
           particular, os caracteres”.

Demarcação entre a música e a poesia

“Pois eu escutei pessoas (...) surpresas com o fato de que seja o compositor
de música instrumental aquele que nós consideramos como músicos[1]
(...), ou que refutemos o qualificativo de músico a Píndaro, a Simônides e a
todos os poetas líricos” (...) “Acrescento ainda que, se Píndaro e Simônides
foram músicos, eles foram também poetas, e que se como músicos
compuseram [obras] desprovidas de significado, foi como poetas que, em
compensação, compuseram seus textos e que (...).”

[1] D. DELATTRE (op. cit.: 373, nota 4) assinala que nesta passagem o termo
‘músico’ é tomado na acepção proposta por A. Bélis, ou seja, o termo designa
literalmente “compositor de árias instrumentais”. E continua (idem, ibidem): “De
todo modo, Filodemo reserva o nome (menos nobre) de músico para aqueles que
só se ocupam dos materiais (infra-racionais), áloga, sem tocar no domínio do lógos
(identificado na ocorrência com o texto poético); quanto a apelação de poeta, este
pode designar para ele seja o autor do texto poético, seja o autor do texto poético
que igualmente tenha composto a melodia desde que, como Píndaro ou Simônides,
um mesmo artista tem uma dupla competência”.

Comentário de D. Delattre

“em outros termos, a linha demarcatória que Filodemo traça entre poesia e
música[1] é justamente aquela que separa a ordem do lógos – da razão, do
discurso, do racional – da ordem do álogon – daquilo que é desprovido de
razão, do irracional”.

[1] Aristoxeno já havia esboçado esta distinção em seu tratado: “para o músico, a
exatidão da percepção tem quase valor de princípio: é impossível àquele cuja
percepção é deficiente se explicar corretamente sobre fatos que ele jamais
percebeu” (BÉLIS, 1986, p. 194); ou ainda: “a compreensão da música depende de
duas faculdades, da sensação e da memória; é necessário perceber o [som]
presente e se lembrar do [som] passado; não há nenhum outro meio de
compreender os fenômenos musicais”(BÉLIS, idem, p. 204).


Críticas - Sexto Empírico (última metade do séc. II d. C.)

Médico e cético grego

Ceticismo: doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir
nenhuma certeza a respeito da verdade, o que resulta em um procedimento
intelectual de dúvida permanente e na abdicação, por inata incapacidade,
de uma compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real.

Obra: Adversus Mathematicus – contra os mathematikoi (os que eram
encarregados de ensinar as disciplinas derivadas da chamada enkyklios
paideia) – artes liberais.

Sexto Empírico (Adversus mathematicus)
Objetivo:

   1. Obra ataca as disciplinas liberais e não os dogmas e opiniões das
      distintas escolas filosóficas

   2. Procura atestar que toda afirmação pode ser contraposta com
      argumentos de igual peso, o que leva à suspensão do juízo.

   3. Procura demonstrar a inapreensibilidade dos princípios que
      conformam as disciplinas liberais

   4. Provar a completa inutilidade prática de tais estudos.

Três formas de se compreender o termo música:

   1. Ciência que se ocupa da melodia, notas, criação dos ritmos, etc
   2. Prática instrumental
   3. Sentido mais amplo – termo harmonioso – usa-se mesmo que a
      referência seja a um pintor (inspirado nas Musas)

Objetivo: refutação do primeiro sentido

Dois caminhos de demonstração:

1. música não é necessária para a felicidade, demonstração de que suas
   afirmações são duvidosas e seus argumentos podem ser rebatidos

2. pressupostos questionáveis naufragariam a música como um todo

Argumentos em defesa da música:
•    música é igual à filosofia – pois pode influenciar e alterar os
             comportamentos (sedução persuasiva)
   •    música incita ao combate e à tranqüilidade (teoria do éthos)
   •    músicos sãos fiéis guardiões e conselheiros das mulheres
   •    músico tem a alma em harmonia (Platão)
   •    música antiga era necessária na disciplina
   •    poesia é útil para a vida e a música adorna pelas melodias e a torna
       cantável, música também será útil

Refutações dos argumentos apresentados:

   •    música não podem influenciar pessoas (teoria do éthos) o som
       perturba mais do que incita a qualquer coisa
   •    o éthos não existe também porque o que ele faz de fato é distrair a
       pessoa daquilo que o incomoda
   •     os músicos parecem ter mais ação sobre as pessoas do que os
       filósofos
   •    não parece ser útil para a vida, visto que poesia também não é útil
   •    não é corretivo das paixões


Principal argumento contra a música é que, se ela é de utilidade, é porque:

   •    o que entende música desfruta mais do que o leigo
   •    a virtude só pode ser obtida por uma pessoa que passou pelo ensino
       musical
   •    os elementos da música são os mesmos da ciência ou dos
              assuntos filosóficos
   •    o universo é governado pela harmonia e assim, precisamos dos
       teoremas da música para a compreensão do todo
   •    certas melodias imprimem um caráter na alma

Segundo tipo de refutação: sobre os princípios da música
(argumentos de natureza técnica)

“Dado que a música é a ciência do afinado e desafinado, do que é ritmico e
do que não é, se demonstramos que nem as melodias e nem os ritmos são
coisas existentes, evidentemente teremos estabelecido que tampouco a
música tem alguma realidade”

Som – assim como as cores, o doce e o amargo, são objetos da percepção

Este pode ser grave ou agudo; quando emitido pela voz, sem que haja
desvio da percepção para o grave ou agudo, chama-se nota.

Nota (definição dos músicos): nota é a queda de um som musical em uma
única tensão

Tipos de notas: homófonas e não homófonas; dissonantes e consonantes;
intervalos consonantes e dissonantes.
Todo intervalo tem seus fundamentos nas notas, assim como o seu caráter
(éthos) (certo tipo de melodia)

Melodias: gênero cromático, enarmônico e diatônico
Conclusão: toda a teoria da melodia se baseia apenas nas notas;
se estas forem abolidas da música, não restará nada.

Podemos dizer que existem notas?

Notas são sons – segundo os dogmáticos, os sons são inexistentes;
para os cirenaicos, só existem afecções; Demócrito e Platão suprimiram
ram todo objeto sensível (assim, o som também está suprimido)

Se existe som, ele é corpóreo ou incorpóreo; para os peripatéticos
não é corpóreo, para os estoicos não é incorpóreo
Conclusão– o som não existe

Outros argumentos: se não existe alma, tampouco existem os sentidos,
visto que esses são parte dela; se não existem os sentidos, tampouco
existem os objetos sensíveis, pois sua realidade se concebe em relação
àqueles. E se não existem objetos sensíveis, tampouco existe o som, visto
que pertence à classe de objetos sensíveis. Assim, o som não existe.

Outro ponto: provar a inexistência da música em virtude da produção do
ritmo.

Ritmo: sistema formado por pés (ársis e thésis)
Pés: formado de tempos

“Se o tempo é algo, é algo limitado ou ilimitado. Porém limitado não é, pois
neste caso estaremos dizendo que houve uma vez um tempo em que o
tempo não existia e haverá algum momento em que o tempo não existirá;
tampouco é ilimitado, pois há um tempo passado e um futuro, e sem
nenhum desses dois tempos existe, então o tempo é limitado, e se ambos
existem então, tanto o passado como o futuro existirão no presente, o que
é absurdo. E está claro que o composto de coisas inexistentes é inexistente;
mas o tempo, ao estar composto do passado, que já não é, e do futuro, que
todavia não é, será inexistente”

Conclusão: o tempo não é nada, tampouco os pés, os ritmos e a ciência dos
ritmos.

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Aula sobre tratados musicais

  • 1. Aula 2 – Aristides Quintiliano, Papiro de Hibeh, Filodemo e Sexto Empírico Tratados de Música na Antigüidade 1. Aristoxeno de Taranto, Elementa Harmonica, Elementa Rhythmica (fragmentario IV a.C.) 2. Teofrasto, De Musica (1 longo fragmento, IV a.C.) 3. Filodemo de Gadara (fragmentário, I a.C.) 4. Plutarco, De Musica, II d.C. 5. Claudio Ptolomeo, Harmonica, II d.C. 6. Porfírio, in Ptolemaei Harmonica Commentarium, III d.C. 7. Aristides Quintiliano, De Musica, II–IV d.C. Manuais sobre Música na Antigüidade 1. Euclides, Sectio Canonis IV–IIIa.C. (?) 2. Cleonides, Isagoge, II – III d.C. 3. Nicomaco de Gerasa, Harmonicum Enchiridion, II d.C. 4. Bacchio, Isagoge Dataz. Incerta 5. Gaudencio, Isagoge, II–IV d.C. (?) 6. Alipio, Isagoge, IV d.C. (?) 7. Anonyma de musica scripta Bellermanniana II – V d.C. Aristides Quintiliano (séc. II d. C. – data provável) Tratado De Musica Objetivos: - oferecer uma visão totalizadora da música grega e transmitir notícias concretas sobre a prática musical. - não pretende ser original e com freqüência se ampara nos Antigos. - tenta organizar em uma unidade, toda a pluralidade de significados que a música tinha entre os gregos. - busca nexo comum nas diversas manifestações que ele considera musical.
  • 2. - a interpretação que sustenta é platônica: a música reflete as leis musicais que constituem o universo inteiro, por isso o estudo das relações intrínsecas que regem a arte musical permitirá extrair essas leis universais. A unidade estrutural do musical está fundamentada na unidade do cosmos: a música é o que reúne os opostos e os harmoniza mediante instâncias intermediárias. - recuperação do prestígio que a música possuía entre os filósofos antigos. - vantagem da música sobre as outras artes e também sobre os entes desse mundo, está na “incorporeidade” de sua matéria: a música é feita com sons que são apenas movimentos ordenados, ou melhor, números. - se esse movimento (o som), ao se aplicar leis racionais, produz o fenômeno musical (paradigma da beleza artística nesse mundo), não será difícil inferir essas mesmas leis na ordem/beleza do universo, na própria beleza. - música: modelo para construir o mundo, ficará impresso em todos os âmbitos do ser. Ela oferece a imagem do todo, se converte em uma arte educativa, ou seja, guia a ação para a vida e é uma arte prática que produz prazer. Importância do Conceito de Mélos Johannes Lohmann (Mousiké et Lógos: contributions à la philosophie et à la théorie musicale grecque, Editions T.E.R., 1989) procura demonstrar que mélos[1] - o singular do plural homérico “melea”, “os membros do corpo”, da qual provém “melodia” -, é uma palavra na qual são pensadas, ao mesmo tempo, a constituição do corpo e uma determinada estrutura de articulação melódica. Neste sentido, mélos está sendo empregado como um tipo de “coletivo” (assim como épos, “palavra”, para toda a poesia lírica), para indicar “o mundo articulado dos sons”. [1] Cf. BAILLY(ibid:1247): “1)membro, articulação, tanto para homens como animais (primeiramente só no plural Ilíada) - os membros e as partes - membros ou partes; 2) os membros, os corpos inteiros - 3) membro de uma frase musical, de onde canto ritmado com arte (por oposição à metron, palavra versificada, métrica); 3)canto com acompanhamento de música, definido como uma junção, de onde melodia - com medida, cadência, ajustamento; 4) por extensão, palavra que repetimos sem cessar; 5) poesia lírica, por oposição à poesia épica ou dramática”; “o conceito de mélos significa a abstração que é a estrutura ‘melódica’ da palavra humana (...) uma coloração involuntária do que é dito espontaneamente, que está no reino da percepção dos sons pelos ouvidos, como a cor está para o mundo visual” Este conceito exprime também o fato de que a teoria musical grega sempre postulou que cada “modo” tem por sua natureza, ou deveria ter, um certo éthos. Esta identidade entre uma forma musical e um certo estado anímico,
  • 3. encontra sua expressão na etimologia de mélos, pois nesta palavra são pensados simultaneamente uma constituição corporal e uma determinada estrutura da articulação melódica. “a estrutura melódica é perfeitamente idêntica a uma determinada maneira de pensar e sentir, cujos sons manifestam ao exterior por sua acústica; da mesma forma, a palavra (em sua acústica) apresenta, consoante a concepção grega, um sentido pensado, de modo que funcione como o nome deste” De Musica (A. Quintiliano) – Guia para a leitura do capítulo II. Livro II – A educação mediante a música. Discussão geral: 1-6 1 – Questões sobre o tema. O objeto da música, a alma 2 – Doutrina sobre a dualidade da alma atribuída aos antigos. Partes da alma. 3 – Tipos de aprendizagem em relação com as duas partes da alma: filosofia e música. A música como meio natural de educar na infância 4 – Caráter universal da ação da música. Causas de sua eficácia educativa. Causas de sua eficácia educativa e superioridade com respeito às outras artes: autenticidades de suas imitações. Uso da música para correção ética entre os antigos. Utilização da música nas diversas atividades humanas. As paixões que conduzem o canto segundo os antigos. 5 – A música como terapia das paixões para os antigos. Paixões, partes da alma e estilos de terapia musical. Predisposição segundo o sexo e idade de acordo com diferentes tipos de melodias 6 – Regulamentação da música para os antigos: os nómoi; perigos da falta de educação musical e má educação musical; uso dos méle educativos e os relaxado....A música e o estado: capacidade destrutiva e constitutiva. - Análise dos elementos da ação musical (7 a 16) - A música instrumental e a alma: 17-19 17 – Argumentos sobre a ação da música instrumental na alma: a alma como harmonia de números, e afinidade entre a constituição física da alma e dos instrumentos. 18 – Atuação do instrumento musical na alma por meio da ressonância simpática. Relação dos instrumentos de cordas e sopros com as regiões etéreas e aéreas do cosmos e a natureza anímica: mito de Apolo e Marsias. 19 – Atribuição de cada tipo de música instrumental a um deus mitológico. Superioridade da música de corda sobre a de sopro. 1 – Questões sobre o tema. O objeto da música, a alma Examinar se é ou não possível educar por meio da música, se isso é de alguma utilidade ou não, se se pode educar a todos ou somente a alguns, se se deve fazer com apenas um tipo de composição melódica ou com mais de uma, e junto com isso, se as música rechaçadas para a educação também podem ser usadas ou se é possível haver algum benefício derivado delas. Primeiro lugar: ALMA (concepção chave) (música – número – alma – cosmos)
  • 4. Críticas – Papiro de Hibeh (século IV a. C.) - Autor anônimo e circunstâncias da redação desconhecidas - Três frentes de ataque: 1) direciona-se a certos tipos de músicos práticos que se proclamavam experts, mas cujas observações teóricas denunciam sua ignorância; 2) questiona determinadas teorias que atribuem um éthos aos modos musicais, associando caracteres particulares às melodias e seus efeitos no caráter humano; 3) orienta-se aos especialistas na ciência harmônica, apontando a falácia existente entre suas bases teóricas, carentes de uma sistematização precisa, e a performance musical. Texto do Papiro de Hibeh “Muitas vezes fiquei surpreso, ó cidadãos, com as construções de certas pessoas que não pertencem às atividades de [vossa área de competência], sem que vocês percebam. Em suas próprias palavras, elas se definem como ‘harmonistas’[1]; e julgam [várias canções] e confrontam umas às outras, condenam algumas, aleatoriamente, e sem razão, elogiam outras. (...). Elas também dizem que algumas melodias fazem as pessoas disciplinadas, outras prudentes, outras justas, outras valorosas ou covardes, não compreendendo que o gênero cromático não pode tornar covarde, nem o enarmônico valoroso a quem o emprega em sua música. (...) Com relação a chamada ‘harmônica’, a qual dizem ter bom conhecimento, elas não têm nada a dizer, mas deixam-se embargar pelo entusiasmo: e acompanham erroneamente o ritmo, batendo no banco no qual se sentam, simultaneamente ao som do psalterion[2]. Elas não hesitam em declarar abertamente que certas melodias possuem uma função [peculiarmente característica] de louro, outras de hera[3]...” [1] Harmonikoi, estudantes da harmoniké, ou seja, de análise teórica das estruturas musicais. [2] Instrumento de corda tocado com os dedos. [3] BARKER (1984, p. 185, nota 13):”O louro é associado a Apolo e a hera a Dionísios. A classificação reflete a diferença entre o estilo mais sóbrio e circunspecto e a música que é emocional e extásica”. Críticas - Filodemo de Gadara (século I a. C.) - Epicurista Epicurismo: sistema filosófico ensinado por Epicuro de Samos, filósofo ateniense (séc. IV a.C.). Propunha uma vida de contínuo prazer como chave para a felicidade, esse era o objetivo de seus ensinamentos morais. A finalidade dessa filosofia não era teórica, mas sim bastante prática. Para
  • 5. isso fundamentava-se em uma teoria do conhecimento empirista, em uma física atomista e em uma ética hedonista. - Visão mais pragmática da música - Enfatiza aspectos técnicos–musicais e mecânico-sensíveis da escuta - Música pertence ao domínio da prática e é separada do campo racional e reflexivo Frentes de ataque de Filodemo (W. Tatarkiewicz (I, 1979: 259): I) contra a asserção segundo a qual existiria uma relação específica entre música e alma, sustentando que o efeito da música sobre a alma não é diferente daquele da arte culinária; II) contra a pressuposta relação da música com a divindade, porque os estados de êxtase conseguidos através da escuta musical são facilmente explicáveis; III) contra os seus pressupostos efeitos morais e sua capacidade de reforçar ou enfraquecer a virtude; IV) contra o seu poder de exprimir ou representar alguma coisa, em particular, os caracteres”. Demarcação entre a música e a poesia “Pois eu escutei pessoas (...) surpresas com o fato de que seja o compositor de música instrumental aquele que nós consideramos como músicos[1] (...), ou que refutemos o qualificativo de músico a Píndaro, a Simônides e a todos os poetas líricos” (...) “Acrescento ainda que, se Píndaro e Simônides foram músicos, eles foram também poetas, e que se como músicos compuseram [obras] desprovidas de significado, foi como poetas que, em compensação, compuseram seus textos e que (...).” [1] D. DELATTRE (op. cit.: 373, nota 4) assinala que nesta passagem o termo ‘músico’ é tomado na acepção proposta por A. Bélis, ou seja, o termo designa literalmente “compositor de árias instrumentais”. E continua (idem, ibidem): “De todo modo, Filodemo reserva o nome (menos nobre) de músico para aqueles que só se ocupam dos materiais (infra-racionais), áloga, sem tocar no domínio do lógos (identificado na ocorrência com o texto poético); quanto a apelação de poeta, este pode designar para ele seja o autor do texto poético, seja o autor do texto poético que igualmente tenha composto a melodia desde que, como Píndaro ou Simônides, um mesmo artista tem uma dupla competência”. Comentário de D. Delattre “em outros termos, a linha demarcatória que Filodemo traça entre poesia e música[1] é justamente aquela que separa a ordem do lógos – da razão, do discurso, do racional – da ordem do álogon – daquilo que é desprovido de razão, do irracional”. [1] Aristoxeno já havia esboçado esta distinção em seu tratado: “para o músico, a exatidão da percepção tem quase valor de princípio: é impossível àquele cuja percepção é deficiente se explicar corretamente sobre fatos que ele jamais
  • 6. percebeu” (BÉLIS, 1986, p. 194); ou ainda: “a compreensão da música depende de duas faculdades, da sensação e da memória; é necessário perceber o [som] presente e se lembrar do [som] passado; não há nenhum outro meio de compreender os fenômenos musicais”(BÉLIS, idem, p. 204). Críticas - Sexto Empírico (última metade do séc. II d. C.) Médico e cético grego Ceticismo: doutrina segundo a qual o espírito humano não pode atingir nenhuma certeza a respeito da verdade, o que resulta em um procedimento intelectual de dúvida permanente e na abdicação, por inata incapacidade, de uma compreensão metafísica, religiosa ou absoluta do real. Obra: Adversus Mathematicus – contra os mathematikoi (os que eram encarregados de ensinar as disciplinas derivadas da chamada enkyklios paideia) – artes liberais. Sexto Empírico (Adversus mathematicus) Objetivo: 1. Obra ataca as disciplinas liberais e não os dogmas e opiniões das distintas escolas filosóficas 2. Procura atestar que toda afirmação pode ser contraposta com argumentos de igual peso, o que leva à suspensão do juízo. 3. Procura demonstrar a inapreensibilidade dos princípios que conformam as disciplinas liberais 4. Provar a completa inutilidade prática de tais estudos. Três formas de se compreender o termo música: 1. Ciência que se ocupa da melodia, notas, criação dos ritmos, etc 2. Prática instrumental 3. Sentido mais amplo – termo harmonioso – usa-se mesmo que a referência seja a um pintor (inspirado nas Musas) Objetivo: refutação do primeiro sentido Dois caminhos de demonstração: 1. música não é necessária para a felicidade, demonstração de que suas afirmações são duvidosas e seus argumentos podem ser rebatidos 2. pressupostos questionáveis naufragariam a música como um todo Argumentos em defesa da música:
  • 7. música é igual à filosofia – pois pode influenciar e alterar os comportamentos (sedução persuasiva) • música incita ao combate e à tranqüilidade (teoria do éthos) • músicos sãos fiéis guardiões e conselheiros das mulheres • músico tem a alma em harmonia (Platão) • música antiga era necessária na disciplina • poesia é útil para a vida e a música adorna pelas melodias e a torna cantável, música também será útil Refutações dos argumentos apresentados: • música não podem influenciar pessoas (teoria do éthos) o som perturba mais do que incita a qualquer coisa • o éthos não existe também porque o que ele faz de fato é distrair a pessoa daquilo que o incomoda • os músicos parecem ter mais ação sobre as pessoas do que os filósofos • não parece ser útil para a vida, visto que poesia também não é útil • não é corretivo das paixões Principal argumento contra a música é que, se ela é de utilidade, é porque: • o que entende música desfruta mais do que o leigo • a virtude só pode ser obtida por uma pessoa que passou pelo ensino musical • os elementos da música são os mesmos da ciência ou dos assuntos filosóficos • o universo é governado pela harmonia e assim, precisamos dos teoremas da música para a compreensão do todo • certas melodias imprimem um caráter na alma Segundo tipo de refutação: sobre os princípios da música (argumentos de natureza técnica) “Dado que a música é a ciência do afinado e desafinado, do que é ritmico e do que não é, se demonstramos que nem as melodias e nem os ritmos são coisas existentes, evidentemente teremos estabelecido que tampouco a música tem alguma realidade” Som – assim como as cores, o doce e o amargo, são objetos da percepção Este pode ser grave ou agudo; quando emitido pela voz, sem que haja desvio da percepção para o grave ou agudo, chama-se nota. Nota (definição dos músicos): nota é a queda de um som musical em uma única tensão Tipos de notas: homófonas e não homófonas; dissonantes e consonantes; intervalos consonantes e dissonantes.
  • 8. Todo intervalo tem seus fundamentos nas notas, assim como o seu caráter (éthos) (certo tipo de melodia) Melodias: gênero cromático, enarmônico e diatônico Conclusão: toda a teoria da melodia se baseia apenas nas notas; se estas forem abolidas da música, não restará nada. Podemos dizer que existem notas? Notas são sons – segundo os dogmáticos, os sons são inexistentes; para os cirenaicos, só existem afecções; Demócrito e Platão suprimiram ram todo objeto sensível (assim, o som também está suprimido) Se existe som, ele é corpóreo ou incorpóreo; para os peripatéticos não é corpóreo, para os estoicos não é incorpóreo Conclusão– o som não existe Outros argumentos: se não existe alma, tampouco existem os sentidos, visto que esses são parte dela; se não existem os sentidos, tampouco existem os objetos sensíveis, pois sua realidade se concebe em relação àqueles. E se não existem objetos sensíveis, tampouco existe o som, visto que pertence à classe de objetos sensíveis. Assim, o som não existe. Outro ponto: provar a inexistência da música em virtude da produção do ritmo. Ritmo: sistema formado por pés (ársis e thésis) Pés: formado de tempos “Se o tempo é algo, é algo limitado ou ilimitado. Porém limitado não é, pois neste caso estaremos dizendo que houve uma vez um tempo em que o tempo não existia e haverá algum momento em que o tempo não existirá; tampouco é ilimitado, pois há um tempo passado e um futuro, e sem nenhum desses dois tempos existe, então o tempo é limitado, e se ambos existem então, tanto o passado como o futuro existirão no presente, o que é absurdo. E está claro que o composto de coisas inexistentes é inexistente; mas o tempo, ao estar composto do passado, que já não é, e do futuro, que todavia não é, será inexistente” Conclusão: o tempo não é nada, tampouco os pés, os ritmos e a ciência dos ritmos.