2. Classe
de
2018
Não teria sido difícil prever que 2017 seria um ano complicado. Assistimos a
políticos levantando a mão para dar ordens como já não ocorria há muito
tempo. Vivemos o desgaste do conceito da verdade. Desde os pavores da
incursão da Rússia e de seus soldados informáticos nas campanhas políticas
até ao uso do conceito de "notícia falsa" que serviu para que as pessoas de
todos os grupos se desqualificassem mutuamente.
Não restam dúvidas sobre a tensão crescente em que vivemos. O pavor nos
acompanhará em 2018 e influenciará muitas de nossas decisões. Por isso, a
necessidade de procurarmos espaços de segurança e tranquilidade seja
talvez uma das maiores oportunidades para as marcas.
Ainda que as condições sejam adversas e muitas decisões fundamentais
sejam tomadas no novo ano, esperemos que acabe sobressaindo o otimismo
com relação ao futuro. Que 2018 seja um ano com grandes ideias, inovações
úteis e o progresso indiscutível que os avanços tecnológicos nos oferecem.
Esperemos que transformem a maneira como nos relacionamos, conectamos-
nos e compramos.
Queremos agradecer às quase 30 mil pessoas que leram e compartilharam as
Tendências de 2017. Muitos dos temas descritos naquele documento
permanecem atuais e são material adicional de inspiração para empresas e
marcas. Esperamos que esse documento seja um guia útil e um resumo
valioso da nossa realidade e das oportunidades que advêm para as pessoas e
para as marcas neste novo ano.
Feliz 2018 para todos!
3. Os 8 de2018
QUE MEDO
NA OBSCURIDADE
CUIDE BEM DE VOCÊ
ANONIMATO SOCIAL
TOTALMENTE LÍQUIDO
LIMPEZA PROFUNDA
LIVRE CIRCULAÇÃO
VEM PARA CÁ
4. QUE MEDO
Faz muito tempo que o mundo não tinha tantas razões para ter medo. Desde os ataques terroristas ao
pavor de uma crise econômica global, o cidadão enfrenta uma profunda incerteza em 2018. Surgirão
novos medos alimentados, em parte, pela teoria da conspiração e, por outro lado, pelo pavor natural
gerado pela novidade de alguns avanços tecnológicos.
De acordo com um estudo recente da CNN, 70%
dos norte-americanos consideram como provável
ou muito provável que ocorram atentados
terroristas nas próximas semanas. Essa é a
percentagem mais alta registrada desde o evento
de 11 de setembro. Vamos ouvir os cenários
tenebrosos de um ataque da Coreia do Norte,
bem como as represálias pelas decisões de
Trump com relação ao Oriente Médio. Algumas
pessoas preveem que, com o final do Estado
Islâmico, muitos membros possam se juntar à Al
Qaeda. Uma das figuras que poderia se tornar o
novo pesadelo mundial é Hamza, o filho de
Osama Bin Laden.
Surgirão novos medos como, por exemplo, os que
falam do impacto de ataques desenvolvidos por
"hackers" na infraestrutura. O The Economist
declara que é provável que ocorram ataques a
infraestruturas essenciais, como os serviços
públicos. Ainda que muitos acabem não causando
danos físicos diretos às pessoas, servirão para
enfraquecer a confiança, humilhar os governos e
afetar as economias.
Na esfera dos delitos informáticos, estaremos
mais cientes dos perigos associados ao uso da
nossa informação pública. Nem as empresas de
grande porte ou as pequenas empresas ficarão
isentas dos riscos que os ataques cibernéticos
causam. Ficaremos assustados com o acesso que
os "hackers" possam ter à nossa vida, inclusive ao
nosso corpo, através de dispositivos médicos
como os marca-passos. A revista Wired alertava
há alguns meses sobre estes perigos. O que
aconteceria, por exemplo, se o dispositivo médico
que mantém a vida de um paciente no hospital
fosse controlado por um "hacker" enquanto não
fosse pago um "resgate"?
Por último, existem os medos que surgem
associados à economia. Após dez anos da famosa
crise de 2008, o pavor de uma recessão
aparecerá em diversos locais. Vamos acompanhar
muitas discussões sobre quais devem ser os
mecanismos para garantir que uma crise
econômica não ocorra num futuro próximo.
A polaridade entre a esquerda e a direita será o
combustível dessa discussão. O medo de que,
devido a uma má decisão política, outros países
caiam na situação precária do socialismo
venezuelano, por exemplo, será o contraponto dos
que parecem desconfiar cada vez mais do
capitalismo. Aproximadamente 75% dos
britânicos, por exemplo, consideram que agora é
hora de transformar as empresas de serviços
públicos em estatais. Todas essas visões
encherão de pavor o cidadão, que se sentirá entre
a espada e a parede.
PARA AS MARCAS…
No ano passado, vimos marcas que criaram mensagens quase políticas demonstrando visões muito controversas sobre
a inclusão, polarização ou mudança climática, e com isso influenciaram a opinião pública e a mídia. Podem continuar a
apresentar suas convicções em 2018, mas as suas mensagens deveriam passar pelo crivo da esperança. Agora está na
hora de as marcas oferecerem tranquilidade e segurança ao cidadão. O consumidor não quer mais polêmicas ou
confrontos. Espera, com ilusão, poder começar a se despedir de todos esses pavores.
REFERÊNCIAS:
http://bit.ly/fearterrorism
http://bit.ly/terroralqaeda
http://bit.ly/hackinginfrast
http://bit.ly/medicdevicerisk
http://bit.ly/nacionalizbrexit
http://bit.ly/brandscontrov
5. NA OBSCURIDADE
No mundo da "pós-verdade", o cidadão desenvolveu seu próprio mecanismo de defesa: duvidar de tudo.
Ninguém é confiável o suficiente, e nenhuma fonte parece suficientemente séria. Não existe político,
marca, celebridade ou meio de comunicação que seja totalmente credível. Quando se caminha pelo
mundo em meio à obscuridade, o risco de ser precipitado a julgar é cada vez maior.
As dúvidas sobre a interferência russa nas eleições
presidenciais dos Estados Unidos e em outros
processos eleitorais em todo o mundo acabaram
por colocar em dúvida as eleições democráticas,
que sempre tiveram grande credibilidade, pelo
menos nos países desenvolvidos. Agora, os
cidadãos não sabem em que acreditar. Um estudo
realizado pela Mintel demonstrou que, logo após a
eleição de Trump (em novembro de 2016),
aproximadamente 61% dos norte-americanos
disseram estar na expectativa, em um misto de
otimismo e incerteza. Mas em julho de 2017, este
número caiu para 47% e, como consequência, a
maioria tinha se posicionado numa atitude
pessimista.
As redes sociais, que tinham conquistado a
confiança que algumas mídias tradicionais
perderam, assistiriam à redução da sua
credibilidade e os cidadãos começaram a
questionar o que havia por trás de seus algoritmos
e dos interesses que pudesse ter quem as
controlava. Zuckerberg, particularmente (que será
visto cada vez mais como uma figura política),
estará sob escrutínio devido grande poder que uma
rede como o Facebook tem nos processos eleitorais
e na formação da opinião pública. Livros como o de
Siva Vaidhyanathan, que fala sobre o dano que o
Facebook causou à democracia, e que será
publicado no segundo semestre desse ano, ajudará
a aumentar esse sentimento de desconfiança.
Os políticos continuarão perdendo credibilidade. Há
pouco tempo, um estudo realizado pela Havas em
37 países constatou que cerca de 69% dos
cidadãos acreditam que é muito difícil que um
político que não minta nem engane consiga se
eleger. É por isto que veremos empresários,
celebridades e visionários procurando se lançar na
política devido à escassez evidente, em diversas
regiões geográficas, de líderes carismáticos que
tenham a capacidade de mostrar um caminho claro.
No ano passado, assistimos à perda da reputação
de celebridades tradicionais e com elevada
credibilidade. O julgamento rápido e implacável da
opinião pública também estará presente em 2018.
O que ocorreu com Weinstein no setor
cinematográfico será visto em muitos outros
setores. Vamos escutar muito sobre iniciativas
como AllVoices, uma ferramenta on-line para relatar
o assédio sexual. Nessa luta desesperada para
levar alguma luz ao mundo obscuro do cidadão,
muitos inocentes poderão cair. Fará parte daquela
sensação que nos faz pensar que vivemos em um
mundo onde qualquer forma de transparência é um
grande consolo.
PARA AS MARCAS…
Há muitos anos temos falado sobre a crescente importância das bitcoins e o impacto que terão em muitos aspectos da
nossa vida. Em 2018, esses sistemas de pagamento continuarão saindo da "obscuridade" atual. Assistiremos a casos
como o da Lockchain, uma plataforma para realizar reservas, pagamentos de hotéis e faturas de viagens usando um
sistema descentralizado de "blockchain". Muitas marcas poderão colocar sua capacidade inovadora à prova, ao
validarem sistemas de pagamento que eliminam intermediários e que se ajustam melhor à relação que os consumidores
têm hoje com o dinheiro.
REFERÊNCIAS:
http://bit.ly/minteltrust
http://bit.ly/antisocialmed
http://bit.ly/mindsetsage
http://bit.ly/compallvoices
http://bit.ly/lockchainpayments
6. CUIDE BEM DE VOCÊ
Existe uma expressão que aparece em diversos relatórios de tendências, os millennials de todo o mundo
falam e é uma das buscas mais recorrentes de 2017, inclusive no Google: Autocuidado. Enquanto o mundo
lá fora está cada vez mais hostil, cheio de perigos e com menos situações em que se possa confiar, o
interesse e as ferramentas para cuidarmos de nós próprios multiplicarão como nunca antes.
O cidadão de 2018 sabe que o bem-estar
depende exclusivamente dele. Num estudo da
Nielsen, cerca de 60% dos norte-americanos
reconheceram que, ao escolher os alimentos que
consomem, pensam na prevenção de doenças
como um dos principais critérios. Não existe outro
momento na história em que os consumidores
tenham tanta informação sobre a saúde, o bem-
estar e tantas ferramentas para se cuidarem. De
acordo com o estudo anual de tendências do
Facebook, a expressão "introspecção" aparece 48
vezes mais em conversas, e o uso do termo
"meditação" triplicou ao longo do último ano.
A melhoria pessoal e o desejo de nos explorarmos
mentalmente nos fará viver "viagens interiores",
conforme definido pela Trendwatching.
Assistiremos ao crescimento da conversa sobre
meditação, religião e tudo o que as pessoas
possam usar para cuidarem de si mesmas. Entre
os aplicativos mais bem-sucedidos do ano em iOS
surgem Headspace e Calm, que tiveram
atualizações significativas que aumentaram a sua
popularidade.
Como parte desse cuidado pessoal, as pessoas
vão parar de assistir às notícias que geram
ansiedade. Ao enfrentar momentos políticos ou
sociais de grande tensão, as pessoas vão tentar
evitar, ocultar ou excluir das redes sociais tudo o
que cause desconforto. Na verdade, a iniciativa
chamada Positive.News, uma revista que publica
apenas informações positivas e inspiradoras, tem
crescido de forma muito pertinente em públicos de
diversas regiões geográficas.
Os jogos de vídeo e a realidade virtual terão um
papel importante no cuidado e na melhoria
pessoal. As investigações constatam que os jogos
em dispositivos móveis podem ajudar no
tratamento de dores crônicas, bem como em
situações de estresse pós-traumático. É
interessante referir o caso do Sea Hero Quest, um
jogo disponível em realidade virtual com o qual
serão coletados dados de milhões de pessoas,
que serão utilizados para o estudo e o diagnóstico
precoces da doença de Alzheimer e demência.
Mas a inovação para o cuidado pessoal não
chegará exclusivamente através de dispositivos
tecnológicos tradicionais. Está começando a
crescer a popularidade das marcas de roupa com
ajudas sensoriais, como da Fun And Function,
para crianças com necessidades especiais e para
pais que queiram oferecer tranquilidade e
acompanhar seus filhos através das roupas. Está
na hora de cuidarmos bem de nós.
PARA AS MARCAS…
Para os gerentes de marca obcecados com oferecer mais velocidade como a única forma de interpretar a conveniência,
está na hora de pensar no segmento de consumidores com um estilo de vida mais tranquilo. Tesco, a cadeia britânica
de supermercados, oferece agora uma forma de pagamento "relaxada" para pessoas que apreciam o momento da
compra e que gostam de fazer as coisas ao seu próprio ritmo. Esta ideia responde ao crescente número de
consumidores que atualmente associa o conceito de autocuidado com evitar o estresse e as pressões da vida
contemporânea.
REFERÊNCIAS:
http://bit.ly/freshfoodcons
http://bit.ly/facebooktrends17
http://bit.ly/appsselfcare
http://bit.ly/positivenewsmag
http://bit.ly/ptsdvideogames
http://bit.ly/dementiavideog
http://bit.ly/funandfunctionbrand
http://bit.ly/tescoslowlane
7. ANONIMATO SOCIAL
Sem sequer pensarmos que estamos a nos aproximar do final das redes sociais, o que é inegável é que
estamos entrando em uma etapa em que o anonimato nos atrai mais que a publicação aberta e empolgada de
outras épocas. Esse será um ano em que ficaremos em dúvida entre o gosto de aparecer e as vantagens de
viver nos bastidores. Isto não quer dizer que passaremos despercebidos, pois a tecnologia vai nos identificar e
traçar o nosso perfil como nunca antes.
Ainda que não seja novidade falar de uma
desintoxicação das redes sociais, todos os que se
sentem oprimidos por mostrar muito ou perder muito
tempo lendo as novidades agora poderão comprar um
kit chamado "digital detox" (desintoxicação digital).
Esta ferramenta promete, em apenas uma semana,
recuperar o controle da presença digital e das
informações pessoais que muitos aplicativos,
navegadores e redes armazenam e, eventualmente,
usam.
Nas previsões do ano passado, observamos como as
pessoas estavam usando muito mais as plataformas
de mensagens diretas como WhatsApp, em vez das
plataformas públicas e abertas como o Twitter. Em
2018, esse movimento é enfatizado e começaremos a
assistir às desvantagens de compartilhar tanto, com
tanta dedicação e de maneira tão pública. A Vice fala
sobre o crescimento do conceito de Finstagram ou
Finsta, uma segunda conta "fake" no Instagram que
algumas pessoas abrem e que é muito mais autêntica,
compartilhada apenas com os amigos mais próximos.
Essa ideia de sermos mais cuidadosos com o que
publicamos nas redes sociais também chega às
plataformas dedicadas à procura de parceiros(as),
onde circulam frequentemente de forma indiscriminada
fotos ou informações íntimas dos usuários. Em
meados do ano passado, a Bumble abriu um espaço
físico em Nova Iorque, EUA, chamado The Hive, onde
as pessoas podem ir para conhecer possíveis
candidatos. O Virtual Dating é um reality show onde os
casais vivem personalidades virtuais, procurando
descobrir se uma relação também funcionaria na vida
real.
A procura por uma presença mais anônima chegará ao
local de trabalho. Blendor é um aplicativo para
recrutamento e para o processo de seleção de
potenciais funcionários com base exclusivamente no
mérito. É impossível selecionar o sexo ou as variáveis
demográficas do candidato. Isto com a finalidade de
realizar um recrutamento o mais neutro possível.
No ano anterior, assinalamos o auge que seria
alcançado pelos robôs como ajudantes das marcas
para melhorar o atendimento ao cliente. Com um
crescimento exponencial, os "bots" continuarão
acompanhando a nossa vida em 2018, talvez
ocupando o espaço dos nossos amigos das redes
sociais. Replika é um "bot" que sabe do que
gostamos, conhece nosso temperamento, valores e
aspirações de forma que poderia se converter num
reflexo perfeito de cada um de nós e assim
materializar o sonho dos que querem um "amigo
imaginário" que os entenda e que converse num nível
de entendimento e discernimento perfeitos.
PARA AS MARCAS…
Para muitas empresas, a obsessão pelos dados fez com que coletassem a maior quantidade possível de informação
sobre os seus consumidores. E ainda que, na maioria dos casos, realizem essa coleta cumprindo as normas legais e
obtendo o consentimento dos usuários, 2018 poderia ser o ano em que os consumidores começam a recompensar e
valorizar as marcas que sejam proativas na racionalização das informações que coletam. É possível gerar uma
proximidade emocional e preferência dos usuários ao demonstrar uma preocupação genuína pela transparência e sobre
como os dados serão utilizados.
REFERÊNCIAS:
http://bit.ly/kitdatdetox
http://bit.ly/finstavice
http://bit.ly/bumblehub
http://bit.ly/virtualrealitydate
http://bit.ly/recruitmentblendoor
http://bit.ly/replikabot
8. TOTALMENTE LÍQUIDO
Em 2018 continuaremos vendo como as categorias deixam de existir no mundo. Apesar de não ser algo novo,
veremos mais exemplos de como mudar rapidamente de um lado para o outro fará parte da nossa vida
cotidiana. O compromisso não existe, porque é possível ser e não ser ao mesmo tempo. Mudar de ideia com
relação a uma decisão tomada será natural num mundo em que "o líquido" está mais presente do que nunca.
O direito de não assumir compromissos tem sido
alimentado há muito anos, pela facilidade que
temos para viver simultaneamente no mundo
real e virtual sem precisar abandonar nenhum
dos dois. Somos, ao mesmo tempo, sujeito e
objeto na criação dos conteúdos. Talvez o
melhor exemplo seja Mosaic, a série de mistério
da HBO que estreia no início do ano e na qual,
como público, temos o controle de como vai
ocorrer o processo de investigação de um
assassinato, uma função que até agora estava
reservada exclusivamente ao roteirista ou ao
diretor.
A inexistência de gêneros e categorias tem muito
a ver com a tese apresentada pelo livro recém-
publicado Mostly Straight, que fala dos homens
que definem sua orientação sexual como fluída
ou flexível. A Alemanha é o primeiro país
desenvolvido a criar o gênero "neutro" para as
pessoas que não se sentem definidas pelo
masculino ou pelo feminino. Não muito longe
existe o conceito de "flexitariano", usado cada
vez mais pelas pessoas para se afastarem das
estereotipadas categorias de "vegetariano" ou
"carnívoro. Projetos neste mesmo sentido, como
o Remote Year, demonstram que é possível
trabalhar e ser turista ao mesmo tempo.
O robô e o ser humano como duas instâncias
totalmente diferentes é um conceito em vias de
extinção. Ainda que pareça um filme de ficção
científica, em 2018 ouviremos falar sobre as
interfaces cérebro-computador. O Facebook
informou que está trabalhando em um projeto de
um dispositivo não-invasivo que detecta os
sinais cerebrais e os traduz em palavras,
escritas numa tela. Elon Musk, por sua vez, está
trabalhando no Neuralink, descrito pela Wired
Magazine como uma "simbiose através da qual o
sensorial e as experiências emocionais de uma
pessoa se unem numa realidade assistida por
máquinas".
Muitos reconhecem hoje que a melhor maneira
de fazer com que os "bots" funcionem a serviço
do cliente é, por exemplo, através da
combinação da inteligência artificial com seres
humanos. Dice Adam Levene, fundador da Hero,
uma plataforma de comércio eletrônico:
"Estamos percebendo que um robô sozinho não
consegue lidar com as comunicações, nem um
ser humano sozinho. Apenas a combinação
mágica dos dois consegue fazer isso". Esse é o
espírito do mundo líquido em que será cada vez
mais difícil estabelecer onde termina o ser
humano e onde começa a máquina.
PARA AS MARCAS…
Um exemplo muito revelador sobre o futuro das transações é o aplicativo Curve, criado no Reino Unido e através do
qual é possível mudar de cartão de crédito que queremos usar para pagar a compra depois de concluída a transação.
Decisões que até agora parecia que seria necessária uma "máquina do tempo" para poder alterar, agora são flexíveis
porque os consumidores se acostumaram a poder modificar tudo, e que o fato de assumir compromissos inapagáveis
já não faz parte da vida.
REFERÊNCIAS:
http://bit.ly/mosaicseries
http://bit.ly/mostlystraightbook
http://bit.ly/remoteyearidea
http://bit.ly/neuralinkmusk
http://bit.ly/curvemodify
9. LIMPEZA PROFUNDA
Há alguns anos, afirmar que quem tem menos coisas é mais feliz soaria como um voto de pobreza de
uma comunidade religiosa. Mas, em 2018, é possível dizer isso, além de ser muito atrativo como estilo
de vida. As pessoas entenderão cada vez mais os benefícios de ter menos coisas na vida e de dizer,
como temos afirmado há muito tempo, que as experiências são a nova riqueza.
Chegou a hora de questionarmos o verdadeiro
sentido da palavra "proprietário". Depois de
conviver muitos anos com a economia de
compartilhamento, aprendemos que não ter carro
não é ser pobre, mas sim porque o contrário
implica uma grande riqueza: não precisar se
preocupar com os gastos, impostos, manutenção
e dívidas que envolvem ser proprietário. Há
pouco tempo, a Ikea desenvolveu um estudo
global em mais de 20 países sobre a vida em
casa. A primeira das incríveis constatações é que
27% das pessoas pensam que a sociedade está
pressionando as pessoas a viverem de uma
maneira mais minimalista, e quase 50%
disseram que os sentimentos em relação ao
excesso de objetos é a principal causa de
conflitos no lar. Talvez a constatação mais
interessante do estudo é que as pessoas têm
aprendido a priorizar, ficando com menos
objetos, mas com os quais realmente são
considerados valiosos.
Walker Smith, da Kantar Futures, disse que
existem quatro palavras que resumem
perfeitamente o que as pessoas querem hoje,
"Live Large. Carry Little" (Viver bem com pouco).
Ou seja, queremos viver ao máximo sem ter as
complicações geradas por ter muitos objetos. E
isto se aplica a pessoas e empresas. O caso
mais claro deste último ponto são os
empresários tradicionais com sede própria que
estão mudando para ambientes compartilhados
de "co-working", onde além de outras
importantes vantagens, sentem-se leves, ágeis e
sem a carga causada pela administração do
imóvel ou do mobiliário.
Ser proprietário não será tanto considerado
como uma carga se for possível compartilhar.
Vale a pena mencionar o interessante modelo de
negócio criado pela Loftium, uma empresa que
oferece parte do valor de um imóvel se o
proprietário se comprometer a dedicar uma área
da casa para alugar através da Airbnb e
compartilhar os lucros obtidos.
A limpeza de tudo o que sobra não será apenas
física. Sentimos que precisamos de mais espaço
para pensar e aprender. O auge dos podcasts
como forma de ficar atualizado se agrega ao
crescimento das plataformas de e-learning. Hoje,
todos precisamos "desaprender" muitas coisas
para adquirir novos conhecimentos e
habilidades.
PARA AS MARCAS…
Cabe questionar se a limpeza profunda também afetará as marcas e sua comunicação. Um exemplo que serve como
inspiração é a FAB, um local de moda e tendências criado e administrado pela L’Oreal, onde a presença da marca é
praticamente inexistente e onde são incluídas mensagens que também podem beneficiar marcas concorrentes. Ocorre
algo semelhante com o Nowness, o espaço de Louis Vuitton dedicado à moda e à arte, onde a marca surge apenas de
maneira esporádica em alguns conteúdos. Será que hoje a presença de muitas marcas é demasiado invasiva? Parece
muito polêmico pensar que, para alcançar proximidade e confiança, talvez seja necessário aplicar uma "limpeza
profunda" na comunicação das marcas.
REFERÊNCIAS:
http://bit.ly/Ikeadeclutter
http://bit.ly/livelargecarrylittle
http://bit.ly/coworkingcompanies
http://bit.ly/loftiumsharespace
http://bit.ly/learningpodcasts
http://bit.ly/fabloreal
http://bit.ly/nownesslv
10. LIVRE CIRCULAÇÃO
Faz alguns anos que temos falado sobre um mundo sem fronteiras. Criar experiências fluidas e "sem fricções"
tem ocorrido muito como propósito em fóruns e discussões empresariais. Os modelos de negócios que
oferecem tarifas fixas continuarão presentes este ano, para lembrar que não precisamos limitar o nosso
consumo. O crescimento exponencial dos objetos conectados à internet fará com que seja cada vez mais fácil
nos movimentarmos pelo mundo.
A loja da Amazon onde não existem caixas
registradoras e os produtos que são carregados na
conta do usuário de maneira automática foi notícia já
há mais de um ano. Mas este formato criado em
Seattle continua sendo exclusivo para os
funcionários da Amazon. Enquanto isso, a Walmart
está experimentando uma loja física sem caixas nem
filas para pagar, igual à HiperCity na Índia e a
Taobao, o gigante chinês de vendas on-line. Este
último abriu algumas lanchonetes onde o sistema
faz a leitura do telefone do usuário ao entrar, pode
pegar o que precisa e recebe imediatamente a fatura
no telefone.
Cada vez mais teremos dispositivos que detectam
as nossas necessidades e farão com que tudo flua
sem a nossa intervenção. Calculamos que, até
2025, 64% dos consumidores estarão interessados
em serviços de reposição automática de produtos
através de serviços como os oferecidos pela
Amazon.
O iPhone X, lançado em 2017, colocou em primeiro
plano o tópico de reconhecimento facial. Esta será a
nova chave que permitirá que possamos nos
movimentar pelo mundo. Além de diversas
utilizações em controles de segurança, as marcas
vão popularizar esta forma de conhecer, atender ou
encaminhar mensagens específicas aos seus
clientes. Veremos também utilizações divertidas,
como um bar no Reino Unido que desenvolveu um
sistema de reconhecimento facial que consegue
identificar os hipsters para permitir seu acesso,
barrando o resto dos humanos.
Esse mundo sem fricções também inclui relações de
compra contínuas com quem, até agora, tínhamos
apenas contatos esporádicos. Mitch Lowe, um dos
cofundadores da Netflix, lançou há uns meses um
cartão que permite adquirir uma assinatura para
acessar salas de cinema através do pagamento de
uma tarifa fixa mensal. Neste mesmo sentido,
Forward é um serviço médico contínuo que funciona
como uma assinatura que analisa permanentemente
a nossa saúde, de maneira preventiva e assistencial.
A tecnologia que permite a livre circulação das
pessoas também chegará às empresas, onde os
funcionários terão formas mais simples para verificar
a identidade. Interessante o caso de uma empresa
do Wisconsin, EUA, que propôs a seus funcionários
inserir chips no corpo para eliminar a necessidade
de usar crachás de identidade ou senhas para
acessar os equipamentos informáticos e os serviços
da empresa. Dois terços dos funcionários aceitaram
a proposta, sem qualquer problema. Parece que nos
empolgamos cada vez mais com a livre circulação
em todas as esferas da vida.
PARA AS MARCAS…
Será cada vez mais difícil de traçar fronteiras entre os setores. A McKinsey disse que a concorrência será cada vez
mais entre ecossistemas e não entre setores, o que fará com que seja muito difícil estabelecer quem são os verdadeiros
concorrentes de uma marca. Em 2018, vamos refletir muito sobre o futuro do "retail" (varejo) e sua verdadeira utilidade
para as marcas. Veremos marcas líderes redefinindo seu ambiente competitivo, o que inclui, em muitos casos, assumir
uma relação transacional direta com o consumidor, eliminando os sistemas tradicionais de distribuição.
REFERÊNCIAS:
http://bit.ly/walmartcashier
http://bit.ly/cashierlesscafe
http://bit.ly/autoreplenamazon
http://bit.ly/facialrecogn
http://bit.ly/moviepasssubscr
http://bit.ly/forwardmedical
http://bit.ly/winsconsinchip
http://bit.ly/ecosystemsmck
11. VEM PARA CÁ
Não é a primeira vez que falamos sobre o auge do local. Nem é a primeira vez que assistimos à
controvérsia gerada pela globalização como resultado de um mundo cada vez mais conectado.
Redescobrir os elementos próprios de cada cultura é um tema que estará muito presente neste novo ano.
As marcas verão oportunidades para se inspirarem nas culturas locais e exportar energia criativa a partir
de cada canto do planeta.
Em 2018, ouviremos ainda mais sobre a
importância das culturas locais num momento em
que os nacionalismos surgem com força no mundo,
e em que a globalização atua como tendência e
contratendência ao mesmo tempo. Ray Kurtzwell
disse que o estado-nação está ficando irrelevante,
pois estamos construindo uma cultura global com
um sistema financeiro e jurídico que faz com que
as nações, ainda que continuem sendo poderosas,
percam cada vez mais a sua força. O auge das
bitcoins parece a evidência mais clara que reforça
este argumento.
O entendimento e o respeito pelas culturas locais é
um tema cada vez mais crítico para as empresas
multinacionais. A iniciativa chamada Conflict
Kitchen, criada em Pittsburg, EUA, desenvolve
espaços temporais nos quais é possível provar
alimentos de países com os quais os Estados
Unidos está em conflito. A Starbucks inaugurou, em
junho de 2017, a que poderia ter sido a mais
polêmica de suas lojas, em uma rua historicamente
protegida de Quioto, Japão. Entretanto, o respeito
pelas tradições, a arquitetura e a decoração têm
dado um exemplo da convivência harmônica local
ou global ao mundo. Em junho do ano anterior, a
Nike anunciou a transformação de toda sua
estrutura organizacional, passando de produtos
globais para produtos locais, projetados em doze
diferentes cidades ao redor do mundo.
Talvez um dos territórios onde mais se discute o
valor do global em contraposição ao local é o
mundo dos conteúdos. Os especialistas preveem
que em 2018 o gasto total em entretenimento e
mídia no mundo alcançará dois quatrilhões de
dólares, impulsionado principalmente pelo
desenvolvimento das plataformas de vídeo on-line.
Este crescimento é devido à capacidade que esse
setor tem alcançado para transmitir suas séries
exclusivas para todos os cantos do mundo.
Entretanto, em regiões como Ásia e Oriente Médio,
a Netflix e a Amazon Prime já descobriram que o
seu crescimento depende da geração de conteúdo
local.
Um dos principais pontos fortes da Amazon (que é
o novo grande concorrente de orçamentos
publicitários em 2018) é o conhecimento sobre os
consumidores e a capacidade de chegar a mais
lugares no mundo. Compreender os interesses e
as tendências locais de compra permitirá gerar
dados que serão muito pertinentes para os
anunciantes.
PARA AS MARCAS…
Enquanto os consumidores (particularmente os millennials) valorizam mais as experiências culturais locais, muitas
marcas continuam dedicadas ao desenvolvimento de mensagens e experiências idênticas em todos os lugares do
mundo. O local não deveria ser considerado, sob nenhuma circunstância, como um obstáculo à eficiência, mas como
uma fonte inesgotável de ideias e iniciativas para o crescimento das marcas.
REFERÊNCIAS:
http://bit.ly/kurzweillnations
http://bit.ly/Netflixmiddleeast
http://bit.ly/conflictkitchenidea
http://bit.ly/starbuckskyoto
http://bit.ly/nikelocal12
http://bit.ly/amazonadvertising
13. Vice-Presidente de Planejamento Estratégico da DDB
Latina, divisão DDB Worldwide, que inclui América Latina,
Espanha e o mercado hispânico nos EUA; escreve
regularmente para seu blog https://juanisaza.com/
Mora e trabalha em Miami.
Relatórios anteriores estão disponíveis no site:
www.slideshare.net/juanisaza
Este documento pode ser reproduzido totalmente ou
parcialmente, desde que a fonte e link para o site sejam
citados.
www.slideshare.net/juanisaza
Ilustrado por: Pablo Dávila
Facebook: https://www.facebook.com/juanisazaplanner/
Twitter: @juanisaza / Instagram: @juanisaza